Week of Jan 8th

  • Solenidade da Epifania do Senhor - Ano A

    Solenidade da Epifania do Senhor - Ano A


    8 de Janeiro, 2023

    ANO A
    SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR

    Tema do Domingo da Epifania

    A liturgia deste domingo celebra a manifestação de Jesus a todos os homens... Ele é uma "luz" que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra. Cumprindo o projecto libertador que o Pai nos queria oferecer, essa "luz" incarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva.
    A primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de Jahwéh, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo.
    No Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os "magos" do oriente, representantes de todos os povos da terra... Atentos aos sinais da chegada do Messias, procuram-n'O com esperança até O encontrar, reconhecem n'Ele a "salvação de Deus" e aceitam-n'O como "o Senhor". A salvação rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um dom que Deus oferece a todos os homens, sem excepção.
    A segunda leitura apresenta o projecto salvador de Deus como uma realidade que vai atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos - a comunidade de Jesus.

    LEITURA I - Is 60,1-6

    Leitura do Livro de Isaías

    Levanta-te e resplandece, Jerusalém,
    porque chegou a tua luz
    e brilha sobre ti a glória do Senhor.
    Vê como a noite cobre a terra
    e a escuridão os povos.
    Mas sobre ti levanta-Se o Senhor,
    e a sua glória te ilumina.
    As nações caminharão à tua luz
    e os reis ao esplendor da tua aurora.
    Olha ao redor e vê:
    todos se reúnem e vêm ao teu encontro;
    os teus filhos vão chegar de longe
    e as tuas filhas são trazidas nos braços.
    Quando o vires ficarás radiante,
    palpitará e dilatar-se-á o teu coração,
    pois a ti afluirão os tesouros do mar,
    a ti virão ter as riquezas das nações.
    Invadir-te-á uma multidão de camelos,
    de dromedários de Madiã e Efá.
    Virão todos os de Sabá;
    hão-de trazer ouro e incenso
    e proclamando as glórias do Senhor.

    AMBIENTE

    Aos capítulos 56-66 do Livro de Isaías, convencionou-se chamar "Trito-Isaías. Trata-se de um conjunto de textos cuja proveniência não é totalmente consensual... Para alguns, são textos de um profeta anónimo, pós-exílico, que exerceu o seu ministério em Jerusalém após o regresso dos exilados da Babilónia, nos anos 537/520 a.C.; para a maioria, trata-se de textos que provêm de diversos autores pós-exílicos e que foram redigidos ao longo de um arco de tempo relativamente longo (provavelmente, entre os sécs. VI e V a.C.). De qualquer forma, estamos na época a seguir ao Exílio e numa Jerusalém em reconstrução... As marcas do passado ainda se notam nas pedras calcinadas da cidade; os judeus que se estabeleceram na cidade são ainda poucos; a pobreza dos exilados faz com que a reconstrução seja lenta e muito modesta; os inimigos estão à espreita e a população está desanimada... Sonha-se, no entanto, com esse dia futuro em que vai chegar Deus para trazer a salvação definitiva ao seu Povo. Então, Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa, o Templo será reconstruído e Deus habitará para sempre no meio do seu Povo.
    O texto que nos é proposto é uma glorificação de Jerusalém, a cidade da luz, a "cidade dos dois sóis" (o sol nascente e o sol poente: pela sua situação geográfica, a cidade é iluminada desde o nascer do dia até ao pôr do sol).

    MENSAGEM

    Inspirado, sem dúvida, pelo sol nascente que ilumina as belas pedras brancas das construções de Jerusalém e faz a cidade transfigurar-se pela manhã (e brilhar no meio das montanhas que a rodeiam), o profeta sonha com uma Jerusalém muito diferente daquela que os retornados do Exílio conhecem; essa nova Jerusalém levantar-se-á quando chegar a luz salvadora de Deus, que dará à cidade um novo rosto. Nesse dia, Jerusalém vai atrair os olhares de todos os que esperam a salvação. Como consequência, a cidade será abundantemente repovoada (com o regresso de muitos "filhos" e "filhas" que, até agora, assustados pelas condições de pobreza e de instabilidade, ainda não se decidiram a regressar); além disso, povos de toda a terra - atraídos pela promessa do encontro com a salvação de Deus - convergirão para Jerusalém, inundando-a de riquezas (nomeadamente incenso, para o serviço do Templo) e cantando os louvores de Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes linhas:

    • Como pano de fundo deste texto (e da liturgia deste dia) está a afirmação da eterna preocupação de Deus com a vida e a felicidade desses homens e mulheres a quem Ele criou. Sejam quais forem as voltas que a história dá, Deus está lá, vivo e presente, acompanhando a caminhada do seu Povo e oferecendo-lhe a vida definitiva. Esta "fidelidade" de Deus aquece-nos o coração e renova-nos a esperança... Caminhamos pela vida de cabeça levantada, confiando no amor infinito de Deus e na sua vontade de salvar e libertar o homem.

    • É preciso, sem dúvida, ligar a chegada da "luz" salvadora de Deus a Jerusalém (anunciada pelo profeta) com o nascimento de Jesus. O projecto de libertação que Jesus veio apresentar aos homens será a luz que vence as trevas do pecado e da opressão e que dá ao mundo um rosto mais brilhante de vida e de esperança. Reconhecemos em Jesus a "luz" libertadora de Deus? Estamos dispostos a aceitar que essa "luz" nos liberte das trevas do egoísmo, do orgulho e do pecado? Será que, através de nós, essa "luz" atinge o mundo e o coração dos nossos irmãos e transforma tudo numa nova realidade?

    • Na catequese cristã dos primeiros tempos, esta Jerusalém nova, que já "não necessita de sol nem de lua para a iluminar, porque é iluminada pela glória de Deus", é a Igreja - a comunidade dos que aderiram a Jesus e acolheram a luz salvadora que Ele veio trazer (cf. Ap 21,10-14.23-25). Será que nas comunidades cristãs e nas comunidades religiosas brilha a luz libertadora de Jesus? Elas são, pelo seu brilho, uma luz que atrai os homens? As nossas desavenças e conflitos, a nossa falta de amor e de partilha, os nossos ciúmes e rivalidades, não contribuirão para embaciar o brilho dessa luz de Deus que devíamos reflectir?

    • Será que na nossa Igreja há espaço para todos os que buscam a luz libertadora de Deus? Os irmãos que têm a vida destroçada, ou que não se comportam de acordo com as regras da Igreja, são acolhidos, respeitado
    s e amados? As diferenças próprias da diversidade de culturas são vistas como uma riqueza que importa preservar, ou são rejeitadas porque ameaçam a uniformidade?

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 71 (72)

    Refrão: Virão adorar-Vos, Senhor, todos os povos da terra.

    Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar
    e a vossa justiça ao filho do rei.
    Ele governará o vosso povo com justiça
    e os vossos pobres com equidade.

    Florescerá a justiça nos seus dias
    e uma grande paz até ao fim dos tempos.
    Ele dominará de um ao outro mar,
    do grande rio até aos confins da terra.

    Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes,
    os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas.
    Prostrar-se-ão diante dele todos os reis,
    todos os povos o hão-de servir.

    Socorrerá o pobre que pede auxílio
    e o miserável que não tem amparo.
    Terá compaixão dos fracos e dos pobres
    e defenderá a vida dos oprimidos.

    LEITURA II - Ef 3,2-3a.5-6

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

    Irmãos:
    Certamente já ouvistes falar
    da graça que Deus me confiou a vosso favor:
    por uma revelação,
    foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo.
    Nas gerações passadas,
    ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens
    como agora foi revelado pelo Espírito Santo
    aos seus santos apóstolos e profetas:
    os gentios recebem a mesma herança que os judeus,
    pertencem ao mesmo corpo
    e participam da mesma promessa,
    em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.

    AMBIENTE

    A Carta aos Efésios (cuja autoria paulina alguns discutem por questões de linguagem, de estilo e de teologia) apresenta-se como uma "carta de cativeiro", escrita por Paulo da prisão (os que aceitam a autoria paulina desta carta discutem qual o lugar onde Paulo está preso, nesta altura, embora a maioria ligue a carta ao cativeiro de Paulo em Roma entre 61/63).
    É, de qualquer forma, uma apresentação sólida de uma catequese bem elaborada e amadurecida. A carta (talvez uma "carta circular", enviada a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor) parece apresentar uma espécie de síntese do pensamento paulino.
    O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo que o autor chama "o mistério": trata-se do projecto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos "últimos tempos", tornado presente no mundo pela Igreja.
    Na parte dogmática da carta (cf. Ef 1,3-3,19), Paulo apresenta a sua catequese sobre "o mistério": depois de um hino que põe em relevo a acção do Pai, do Filho e do Espírito Santo na obra da salvação (cf. Ef 1,3-14), o autor fala da soberania de Cristo sobre os poderes angélicos e do seu papel de cabeça da Igreja (cf. Ef 1,15-23); depois, reflecte sobre a situação universal do homem, mergulhado no pecado e afirma a iniciativa salvadora e gratuita de Deus em favor do homem (cf. Ef 2,1-10); expõe, ainda, como é que Cristo - realizando "o mistério" - levou a cabo a reconciliação de judeus e pagãos num só corpo, que é a Igreja (cf. 2,11-22)... O texto que nos é proposto vem nesta sequência: nele, Paulo apresenta-se como testemunha do "mistério" diante dos judeus e diante dos pagãos (cf. Ef 3,1-13).

    MENSAGEM

    A Paulo, apóstolo como os Doze, também foi revelado "o mistério". É esse "mistério" que Paulo aqui desvela aos crentes da Ásia Menor... Paulo insiste que, em Cristo, chegou a salvação definitiva para os homens; e essa salvação não se destina exclusivamente aos judeus, mas destina-se a todos os povos da terra, sem excepção. Paulo é, por chamamento divino, o arauto desta novidade... Percebemos, assim, porque é que Paulo se fez o grande arauto da "boa nova" de Jesus entre os pagãos...
    Agora, judeus e gentios são membros de um mesmo e único "corpo" (o "corpo de Cristo" ou Igreja), partilham o mesmo projecto salvador que os faz, em igualdade de circunstâncias com os judeus, "filhos de Deus" e todos participam da promessa feita por Deus a Abraão (cf. Gn 12,3) - promessa cuja realização Cristo levou a cabo.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:

    • A perspectiva de que Deus tem um projecto de salvação para oferecer ao seu Povo - já enunciada na primeira leitura - tem aqui novos desenvolvimentos. A primeira novidade é que Cristo é a revelação e a realização plena desse projecto. A segunda novidade é que esse projecto não se destina apenas "a Jerusalém" (ao mundo judaico), mas é para ser oferecido a todos os povos, sem excepção.

    • A Igreja, "corpo de Cristo", é a comunidade daqueles que acolheram "o mistério". Nela, brancos e negros, pobres e ricos, ucranianos ou moldavos - beneficiários todos da acção salvadora e libertadora de Deus - têm lugar em igualdade de circunstâncias. Temos, verdadeiramente, consciência de que é nesta comunidade de crentes que se revela hoje no mundo o projecto salvador que Deus tem para oferecer a todos os homens? Na vida das nossas comunidades transparece, realmente, o amor de Deus? As nossas comunidades são verdadeiras comunidades fraternas, onde todos se amam sem distinção de raça, de cor ou de estatuto social?

    • Destinatários, todos, do mistério, somos "filhos de Deus" e irmãos uns dos outros. Essa fraternidade implica o amor sem limites, a partilha, a solidariedade... Sentimo-nos solidários com todos os irmãos que partilham connosco esta vasta casa que é o mundo? Sentimo-nos responsáveis pela sorte de todos os nossos irmãos, mesmo aqueles que estão separados de nós pela geografia, pela diversidade de culturas e de raças?

    ALELUIA - Mt 2,2

    Aleluia. Aleluia

    Vimos adorar a sua estrela no Oriente
    e viemos adorar o Senhor.

    EVANGELHO - Mt 2,1-12

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

    Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia,
    nos dias do rei Herodes,
    quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente.
    «Onde está - perguntaram eles –
    o rei dos judeus que acaba de nascer?
    Nós vimos a sua estrela no Oriente
    e viemos adorá-l'O».
    Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado
    e, com ele, toda a cidade de Jerusalém.
    Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo
    e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias.
    Eles responderam:
    «Em Belém da Judeia,
    porque assim está escrito pelo profeta:
    'Tu, Belém, terra de Judá,
    n&atil
    de;o és de modo nenhum a menor
    entre as principais cidades de Judá,
    pois de ti sairá um chefe,
    que será o Pastor de Israel, meu povo'».
    Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos
    e pediu-lhes informações precisas
    sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela.
    Depois enviou-os a Belém e disse-lhes:
    «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino;
    e, quando O encontrardes, avisai-me,
    para que também eu vá adorá-l'O».
    Ouvido o rei, puseram-se a caminho.
    E eis que a estrela que tinham visto no Oriente
    seguia à sua frente
    e parou sobre o lugar onde estava o Menino.
    Ao ver a estrela, sentiram grande alegria.
    Entraram na casa,
    viram o Menino com Maria, sua Mãe,
    e, caindo de joelhos,
    prostraram-se e adoraram-n'O.
    Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes:
    ouro, incenso e mirra.
    E, avisados em sonhos
    para não voltarem à presença de Herodes,
    regressaram à sua terra por outro caminho.

    AMBIENTE

    O episódio da visita dos magos ao menino de Belém é um episódio simpático e terno que, ao longo dos séculos, tem provocado um impacto considerável nos sonhos e nas fantasias dos cristãos... No entanto, convém recordar que estamos, ainda, no âmbito do "Evangelho da Infância"; e que os factos narrados nesta secção não são a descrição exacta de acontecimentos históricos, mas uma catequese sobre Jesus e a sua missão... Por outras palavras: Mateus não está, aqui, interessado em apresentar uma reportagem jornalística que conte a visita oficial de três chefes de estado estrangeiros à gruta de Belém; mas está interessado, recorrendo a símbolos e imagens bem expressivos para os primeiros cristãos, em apresentar Jesus como o enviado de Deus Pai, que vem oferecer a salvação de Deus aos homens de toda a terra.

    MENSAGEM

    A análise dos vários detalhes do relato confirma que a preocupação do autor (Mateus) não é de tipo histórico, mas catequético.
    Notemos, em primeiro lugar, a insistência de Mateus no facto de Jesus ter nascido em Belém de Judá (cf. vers. 1.5.6.7). Para entender esta insistência, temos de recordar que Belém era a terra natal do rei David e que era a Belém que estava ligada a família de David. Afirmar que Jesus nasceu em Belém é ligá-lo a esses anúncios proféticos que falavam do Messias como o descendente de David que havia de nascer em Belém (cf. Mi 5,1.3; 2 Sm 5,2) e restaurar o reino ideal de seu pai. Com esta nota, Mateus quer aquietar aqueles que pensavam que Jesus tinha nascido em Nazaré e que viam nisso um obstáculo para O reconhecerem como o Messias libertador.
    Notemos, em segundo lugar, a referência a uma estrela "especial" que apareceu no céu por esta altura e que conduziu os "magos" para Belém. A interpretação desta referência como histórica levou alguém a cálculos astronómicos complicados para concluir que, no ano 6 a.C., uma conjunção de planetas explicaria o fenómeno luminoso da estrela refulgente mencionada por Mateus; outros andaram à procura de um cometa que, por esta época, devia ter sulcado os céus do antigo Médio Oriente... Na realidade, é inútil procurar nos céus a estrela ou cometa em causa, pois Mateus não está a narrar factos históricos. Segundo a crença popular da época, o nascimento de um personagem importante era acompanhado da aparição de uma nova estrela. Também a tradição judaica anunciava o Messias como a estrela que surge de Jacob (cf. Nm 24,17). Ora, é com estes elementos que a imaginação de Mateus, posta ao serviço da catequese, vai inventar a "estrela". Mateus está, sobretudo, interessado em fornecer aos cristãos da sua comunidade argumentos seguros para rebater aqueles que negavam que Jesus era esse Messias esperado.
    Temos, ainda, as figuras dos "magos". A palavra grega "mágos" usada por Mateus abarca um vasto leque de significados e é aplicada a personagens muito diversas: mágicos, feiticeiros, charlatães, sacerdotes persas, propagandistas religiosos... Aqui, poderia designar astrólogos mesopotâmios, em contacto com o messianismo judaico. Seja como for, esses "magos" representam, na catequese de Mateus, esses povos estrangeiros de que falava a primeira leitura (cf. Is 60,1-6), que se põem a caminho de Jerusalém com as suas riquezas (ouro e incenso) para encontrar a luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade santa. Jesus é, na opinião de Mateus e da catequese da Igreja primitiva, essa "luz".
    Além de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma paradigmática, duas atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o Povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os "magos" do oriente (que são pagãos) O adoram; Herodes e Jerusalém "ficam perturbados" diante da notícia do nascimento do menino e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem em Jesus o seu salvador.
    Mateus anuncia, desta forma, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu Povo; mas vai ser acolhido pelos pagãos, que entrarão a fazer parte do novo Povo de Deus. O itinerário seguido pelos "magos" reflecte a caminhada que os pagãos percorreram para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais (estrela), percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para o encontrar, perguntam aos judeus - que conhecem as Escrituras - o que fazer, encontram Jesus e adoram-n'O como "o Senhor". É muito possível que um grande número de pagano-cristãos da comunidade de Mateus descobrisse neste relato as etapas do seu próprio caminho em direcção a Jesus.

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar as seguintes questões:

    • Em primeiro lugar, meditemos nas atitudes das várias personagens que Mateus nos apresenta em confronto com Jesus: os "magos", Herodes, os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo... Diante de Jesus, o libertador enviado por Deus, estes distintos personagens assumem atitudes diversas, que vão desde a adoração (os "magos"), até à rejeição total (Herodes), passando pela indiferença (os sacerdotes e os escribas: nenhum deles se preocupou em ir ao encontro desse Messias que eles conheciam bem dos textos sagrados). Identificamo-nos com algum destes grupos? Não é fácil "conhecer as Escrituras", como profissionais da religião e, depois, deixar que as propostas e os valores de Jesus nos passem ao lado?

    • Os "magos" são apresentados como os "homens dos sinais", que sabem ver na "estrela" o sinal da chegada da libertação... Somos pessoas atentas aos "sinais" - isto é, somos capazes de ler os acontecimentos da nossa história e da nossa vida à luz de Deus? Procuramos perceber nos "sinais" que aparecem no nosso ca
    minho a vontade de Deus?

    • Impressiona também, no relato de Mateus, a "desinstalação" dos "magos": viram a "estrela", deixaram tudo, arriscaram tudo e vieram procurar Jesus. Somos capazes da mesma atitude de desinstalação, ou estamos demasiado agarrados ao nosso sofá, ao nosso colchão especial, à nossa televisão, à nossa aparelhagem? Somos capazes de deixar tudo para responder aos apelos que Jesus nos faz através dos irmãos?

    • Os "magos" representam os homens de todo o mundo que vão ao encontro de Cristo, que acolhem a proposta libertadora que Ele traz e que se prostram diante d'Ele. É a imagem da Igreja - essa família de irmãos, constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O reconhecem como o seu Senhor.

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Solenidade da Epifania do Senhor, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa...

    2. HONRAR AS DIFERENTES CULTURAS.
    A Solenidade da Epifania tem a sua plena significação quando as comunidades honram as diferentes culturas que as compõem e dão lugar às expressões litúrgicas dos vários países: danças, cânticos, instrumentos de música, objectos, vestes... Uma proposta, entre outras: proclamar as leituras em diferentes línguas.

    3. BILHETE DE EVANGELHO.
    Nos passos dos Magos... Como os Magos, ponhamo-nos a caminho. Não sabemos exactamente o que será a aventura. Tenhamos confiança. Como eles, ergamos os olhos. A luz vem de Deus, deixemo-nos iluminar. Como eles, procuremos, não tenhamos demasiadas certezas. Tenhamos somente convicções, descubramos os sinais de uma presença. Como eles, ofereçamos presentes: o da oração, o do respeito de todo o homem. Procuremos agradar a Deus e aos irmãos. Como eles, aceitemos começar um novo caminho. Deixemo-nos interpelar por Deus e pelo seu Evangelho, pelos homens e mulheres deste tempo.

    4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Deus de luz, erguemos os nossos olhos para Ti, cheios de admiração; nós Te bendizemos, porque a tua glória ergueu-se sobre nós, arrancaste-nos das trevas e colocas-nos de pé, a caminho da nova Jerusalém.
    Nós Te pedimos por todos os povos da terra que ainda vivem nas trevas e pelas pessoas que conhecemos e que procuram o fim do túnel.

    No final da segunda leitura:
    Pai de todos os homens, nós Te bendizemos pela revelação do teu mistério, pela promessa que Tu destinas a todos os povos e pela herança à qual tanta desejas associá-los, na tua luz.
    Nós Te pedimos por todos os missionários que partiram para longe a anunciar esta Boa Nova pela palavra e pelos actos.

    No final do Evangelho:
    Nosso Pai, único rei digno deste nome, nós Te louvamos pelos sinais que nos guiam para Ti e, sobretudo, pelo teu Filho Jesus, estrela que está sempre presente, em todos os instantes das nossas vidas.
    Nós Te pedimos pela tua Casa, que é a tua Igreja, e por todas as suas comunidades: que o teu Filho Jesus nos guie, através da nova estrela que é o teu Espírito presente nas nossas vidas.

    5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística IV.

    6. PALAVRA EXPLICADA 1: A CASA IGREJA.
    O Evangelho da Epifania precisa que os Magos entraram na casa. Esta palavra aparece muitas vezes nos Evangelhos. Jesus entrou em muitas casas. É na casa que Ele celebrou a Última Ceia (Mt 26,18), que Se manifestou aos discípulos e que partiu o pão, em Emaús. É ainda numa casa que os apóstolos receberam o Espírito Santo, no dia de Pentecostes. As primeiras comunidades cristãs reuniam-se nas casas para partir o pão, em Jerusalém, em Corinto, em Troas e noutros lugares (Act 1,3; 2,46; 20,7-12; 1Cor 11,19). Pelas saudações de Paulo, no final das suas cartas, sabemos que os cristãos punham as suas casas à disposição para reunir a Igreja de Deus: Gaio em Corinto (Rom 16,23); Áquila e Prisca em Éfeso (Rom 16,5; 1Cor 16,19). Durante os dois primeiros séculos, os cristãos não tinham outros locais para as suas assembleias dominicais senão as casas particulares. Consideravam-se, em cada localidade, como uma família.

    7. PALAVRA EXPLICADA 2: SÃO GREGÓRIO E O CANTO.
    O Papa São Gregório I (590-604) não interveio muito pela criação de instituições litúrgicas, porque tudo estava já organizado. Mas foi um pastor devotado, numa altura em que toda a Itália sofria duras provas. Nos séculos seguintes, o nome de Gregório serviu de referência para valorizar tudo o que vinha de Roma, em particular os livros litúrgicos. Quanto ao canto gregoriano, o seu qualificativo provém de legendas do século IX, que apresentavam o Papa Gregório como o autor dos cantos da missa, que teria composto por inspiração do Espírito Santo. Os pintores e os autores de miniaturas ilustraram a cena, apresentando o Papa na sua sala de trabalho, com a pomba do Espírito Santo perto da orelha. Esta ilustração contribuiu muito pouco para vulgarizar a atribuição do canto gregoriano ao Papa. De facto, no repertório gregoriano, os textos das orações provêm de livros compilados na época carolíngia. As anotações musicais só aparecem nestes livros a partir do século XI. Antes, as melodias eram transmitidas por tradição oral.

    8. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    Audácia missionária. Assembleias dominicais cada vez mais diminutas... Vocações sacerdotais e religiosas cada vez mais raras... Não reduzamos a Missão aos nossos problemas! A Estrela que se levanta na escuridão brilha para todos os povos da terra e convida-nos à audácia missionária. Que iniciativa poderíamos tomar - em comunidade paroquial, em comunidade religiosa, em equipa litúrgica - para nos abrirmos para além de nós mesmos?

     

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador: P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • Festa do Baptismo do Senhor - Ano A

    Festa do Baptismo do Senhor - Ano A


    9 de Janeiro, 2023

    O Batismo de Jesus no rio Jordão assinala o termo da sua vida de silêncio e obscuridade e inaugura o seu ministério público, anunciando e preparando o seu Batismo "na morte" (Lc 12, 50; Mc 10, 38).

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 42,1-4.6-7

    Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».

    O texto que escutamos pertence ao "Livro da Consolação" do Deutero-Isaías (cf. Is 40-55) e consta de duas partes que falam da eleição do "Servo" e da sua missão. A "ordenação" do "Servo" realiza-se através do dom do Espírito. Animado por esse Espírito, o "Servo" irá levar "a justiça às nações". A figura misteriosa e enigmática do "Servo" apresenta evidentes pontos de contacto com a figura de Jesus... Os primeiros cristãos irão utilizar os cânticos do "Servo" para justificar o sofrimento e o aparente fracasso humano de Jesus. Ele é esse "eleito de Deus", que recebeu a plenitude do Espírito, que veio ao encontro dos homens com a missão de trazer a justiça e a paz definitivas, que sofreu e morreu para ser fiel a essa missão, que o Pai lhe confiou.
    Segunda leitura: Atos dos Apóstolos 10, 34-46

    Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz aceção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele».
    Os "Atos dos Apóstolos" são uma catequese sobre a "etapa da Igreja", isto é, sobre a forma como os discípulos assumiram o continuaram o projeto salvador do Pai e o levaram - após a partida de Jesus deste mundo - a todos os homens. O nosso texto de hoje está integrado na primeira parte dos "Atos", onde se apresenta a difusão do Evangelho dentro das fronteiras palestinianas, por ação de Pedro e dos Doze. Insere-se numa perícopa que descreve a atividade missionária de Pedro na planície junto da orla mediterrânica da Palestina. Em concreto, o texto propõe-nos o testemunho e a catequese de Pedro em Cesareia, em casa do centurião romano Cornélio. Convocado pelo Espírito (cf. At 10,19-20), Pedro entra em casa de Cornélio, expõe-lhe o essencial da fé e batiza-o, bem como a toda a sua família (cf. At 10,23b-48). O episódio é importante porque Cornélio é o primeiro pagão a cem por cento a ser admitido ao cristianismo por um dos Doze: significa que a vida nova, que nasce de Jesus, se destina a todos os homens. No seu discurso, Pedro começa por reconhecer que a proposta de salvação oferecida por Deus e trazida por Cristo é universal e se destina a todas as pessoas, sem distinção de qualquer tipo (vv. 34-36). Israel foi o primeiro recetor da Palavra de Deus; mas Cristo veio trazer a "boa nova da paz" (salvação) a todos os homens que aceitem a proposta e adiram a Jesus.
    Evangelho: Marcos 1, 7-11

    Naquele tempo, Jesus chegou da Galileia e veio ter com João Baptista ao Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se, dizendo: «Eu é que preciso de ser batizado por Ti, e Tu vens ter comigo?». Jesus respondeu-lhe: «Deixa por agora; convém que assim cumpramos toda a justiça». João deixou então que Ele Se aproximasse. Logo que Jesus foi batizado, saiu da água. Então, abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».

    A mensagem de João Baptista estava centrada na urgência da conversão e incluía um rito de purificação pela água. Na perspetival do Precursor, os homens deviam arrepender-se; e foi para os chamar ao arrependimento que ele batizou na água. Para João, recusar a conversão, significava ser destruído pela cólera de Deus. Que sentido faz Jesus apresentar-se a João para receber este "batismo" de purificação, de arrependimento e de perdão dos pecados? Para Mateus, o batismo é um momento privilegiado da manifestação de Jesus aos homens: antes de começar a sua atividade, Jesus define-Se e apresenta-Se... O diálogo entre João e Jesus (vv. 14-15) explica porque é que Jesus vem ao encontro de João para ser batizado... Pela resposta de Jesus, fica claro que o seu batismo é um passo necessário para que se cumpra o desígnio salvador de Deus, isto é, a sua vontade. Jesus apresenta-Se como "Filho", que cumpre rigorosa e absolutamente a vontade do Pai. Ao receber este batismo de penitência e de perdão dos pecados, do qual não precisava, porque Ele não conheceu o pecado, Jesus solidarizou-Se com o homem pecador, assumiu a sua condição, para percorrer com eles o caminho da libertação. Era esse o projeto do Pai, que Jesus cumpriu integralmente.
    Meditatio
    A liturgia da Festa do Batismo de Jesus tem como cenário de fundo o projeto salvador de Deus. No batismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projeto do Pai, Ele fez-Se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, para que pudéssemos chegar à vida em plenitude. A primeira leitura anuncia um misterioso "Servo", escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim... Investido do Espírito de Deus, Ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses não são os esquemas de Deus. No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o Filho/"Servo" enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude. A segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projeto de salvação; por isso, Ele "passou pelo mundo fazendo o bem" e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.
    No episódio do batismo, Jesus aparece como o Filho amado, que o Pai enviou ao encontro dos homens para os libertar e para os inserir numa dinâmica de comunhão e de vida nova. Nessa cena revela-se, portanto, a preocupação de Deus e o imenso amor que Ele nos dedica... É bonita esta história de um Deus que envia o próprio Filho ao mundo, que pede a esse Filho que Se solidarize com as dores e limitações dos homens, e que, através da ação do Filho, reconcilia os homens consigo e fá-los chegar à vida em plenitude. O que nos é pedido é que correspondamos ao amor do Pai, acolhendo a sua oferta de salvação e seguindo Jesus no amor, na entrega, no dom da vida. Ora, no dia do nosso batismo, comprometemo-nos com esse projeto... Temos renovado diariamente o nosso compromisso e percorrido, com coerência, esse caminho que Jesus nos veio propor? A celebração do batismo do Senhor leva-nos até Jesus que assume plenamente a sua condição de "Filho" e que Se faz obediente ao Pai, cumprindo integralmente o projeto do Pai de dar vida ao homem. É esta mesma atitude de obediência radical, de entrega incondicional, de confiança absoluta que eu assumo na minha relação com Deus? O projeto de Deus é, para mim, mais importante de que os meus projetos pessoais ou do que os desafios que o mundo me faz? O episódio do batismo de Jesus coloca-nos frente a frente com um Deus que aceitou identificar-Se com o homem, partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de oferecer ao homem um caminho de liberdade e de vida plena. Eu, filho deste Deus, aceito ir ao encontro dos meus irmãos mais desfavorecidos e estender-lhes a mão? Partilho a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, sofro na alma as suas dores, aceito identificar-me com eles e participar dos seus sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena? Não tenho medo de me sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso contribuir para os promover e para lhes dar mais dignidade e mais esperança? No batismo, Jesus tomou consciência da sua missão (essa missão que o Pai lhe confiou), recebeu o Espírito e partiu em viagem pelos caminhos poeirentos da Palestina, a testemunhar o projeto libertador do Pai. Eu, que no batismo aderi a Jesus e recebi o Espírito que me capacitou para a missão, tenho sido uma testemunha séria e comprometida desse programa em que Jesus Se empenhou e pelo qual Ele deu a vida?
    Oratio

    Pai santo, "nas águas do Jordão, realizastes prodígios admiráveis, para manifestar o mistério do novo Batismo: do céu fizestes ouvir uma voz para que o mundo acreditasse que o vosso Verbo estava no meio dos homens; pelo Espírito Santo, que desceu em figura de pomba, consagrastes Cristo vosso Servo com o óleo da alegria, para que os homens O reconhecessem como o Messias enviado a anunciar a boa nova aos pobres" Por isso, vos louvamos, bendizemos e damos graças e, com os Anjos e os Santos do Céu, proclamamos a vossa glória. Ámen. (cf. Prefácio da festa)
    Contemplatio

    O batismo do Salvador é o último ato da sua longa preparação de trinta anos. Já é publicamente oferecido ao seu Pai na Circuncisão e na Apresentação no Templo, vem ainda oferecer-se nas margens do Jordão. João Baptista, como profeta autorizado de Deus, chama os Israelitas para o batismo de penitência, para os preparar para o reino do Messias. Jesus não tem necessidade do batismo, tal como não tinha necessidade da Circuncisão nem da Apresentação nem do resgate no Templo. Mas vem como vítima e como reparador. Assume sobre si a responsabilidade dos nossos pecados. Quer cumprir toda a lei antiga, que era uma lei de purificação e de preparação. Recebeu o batismo, não para si, mas pelos homens seus irmãos. É mergulhado na água como símbolo de morte e de ressurreição. O seu batismo simboliza e anuncia a sua morte real e a sua ressurreição, enquanto que o nosso exprime somente uma morte espiritual para o pecado e a ressurreição para a vida sobrenatural. S. João queria opor-se ao batismo de Jesus, que nada tem a purificar, mas Jesus responde-lhe que deve cumprir toda a justiça, e entende com isto a justa expiação das nossas faltas. Que viva impressão de sofrimento, mas também de amor pelo seu Pai e por nós o Coração de Jesus deve ter sentido nesta morte simbólica! Que lição de penitência, de caridade, de dedicação! (Leão Dehon, OSP 3, p. 219).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Este é o meu Filho bem-amado: escutai-O!" (Mc 9, 6).
    ------

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Terça-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Terça-feira


    10 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 2, 5-12

    Deus não submeteu aos anjos o mundo futuro de que falamos. 6Mas alguém, em certo lugar, atesta, dizendo: Que é o homem, para que te recordes dele, ou o filho do homem para que cuides dele? 7Fizeste-o por um pouco inferior aos anjos, coroaste-o de honra e de glória, 8submeteste tudo aos seus pés.Ora, ao submeter-lhe tudo, nada deixou que não lhe estivesse sujeito. Contudo, ainda não vemos que tudo lhe esteja sujeito. 9Vemos, porém, Jesus, que foi feito por um pouco inferior aos anjos, coroado de glória e de honra, por causa da morte que sofreu, a fim de que, pela graça de Deus, experimentasse a morte em favor de todos. 10Convinha, com efeito, que aquele por quem e para quem existem todas as coisas, querendo levar muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio dos sofrimentos, o autor da sua salvação. 11De facto, tanto o que santifica, como os que são santificados, provêm todos de um só; razão pela qual não se envergonha de lhes chamar irmãos, 12dizendo: Anunciarei o teu nome aos meus irmãos, no meio da assembleia te louvarei.

    O autor da Carta aos Hebreus, depois de mostrar a superioridade de Cristo relativamente aos anjos e a todos os poderes inferiores a Deus, realça, nesta perícopa, a sua condição humana. Cristo é o Filho de Deus, superior aos anjos, mas é também o Jesus da história, Aquele que sofreu e morreu. O autor contempla a união entre os dois aspectos à luz do Sl 8, 46, e aproveita para anunciar o desígnio redentor de Deus. Esse desígnio passa pelo esvaziamento do Filho, que por amor se torna participante da natureza humana - inferior à dos anjos, mas também objecto das bênçãos divinas (cf. vv. 5-8) - até às extremas consequências do sofrimento e da morte, em favor de todos.
    Assim se revela a maravilhosa «justiça de Deus» (v. 10): o Criador e Fim de todas as coisas julgou tão importante o homem que o quis atrair à comunhão filial Consigo. Para isso, tornou-se solidário connosco no Filho Unigénito, enviado para nos levar à «glória», ao «mundo futuro» (vv. 5-10). Deus realiza a nossa santificação através do amor humilde de Jesus, que se entrega para nos poder chamar «irmãos» e anunciar-nos o Pai.

    Evangelho: Marcos 1, 21-28

    Jesus e os discípulos entraram em Cafarnaúm. Chegado o sábado, Jesus veio à sinagoga e começou a ensinar. 22E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei. 23Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espírito maligno, que começou a gritar: 24«Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.» 25Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» 26Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. 27Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!» 28E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

    A pessoa de Jesus causava impacto no meio do povo, que se dava conta de que Ele não se limitava a explicar os profetas anteriores, mas que se apresentava, também Ele, como profeta, investido de um poder que lhe vinha de Deus: ensinava com autoridade e curava os doentes. O ensino de Jesus era verdadeiramente eficaz.
    Marcos gosta de apresentar Jesus como Mestre: desde o começo do seu evangelho, Jesus é Aquele que ensina. Depois vêm os encontros com o «espírito maligno» (v. 23). Qual é a postura de Jesus diante da crença popular nos demónios? Sabemos quanto horror causavam no homem primitivo as doenças mentais, e sobretudo a epilepsia. O comportamento desses doentes dava a entender que estavam «possessos», que tinha entrado neles outra pessoa, o «espírito maligno». Por isso, o doente mental ou epiléptico, era um ser execrável, que devia ser afastado a golpes e com torturas de toda a espécie.
    Jesus tem o poder do Reino de Deus e usa-o desde o princípio para evangelizar e para libertar o homem a todos os níveis, também corporal, e de tudo quanto o «possui» e oprime, sem a preocupação de o interpretar.Com duas breves ordens liberta do demónio o possesso: é o seu primeiro milagre e tem um valor programático. Para Marcos, Jesus veio trazer o Reino de Deus, vencendo o poder de Satanás. A missão de Cristo é um confronto, até à morte e até à ressurreição, com o mal. Os exorcistas hebreus usavam longos ritos e complicadas fórmulas para expulsar os demónios. Jesus, com uma só palavra, cala o demónio e devolve ao homem a sua dignidade. Por isso, cresce o espanto das multidões, que se interrogam: «Que é isto?» v. 27)

    Meditatio

    Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, como nos ensinam as Escrituras. Nos primeiros tempos da Igreja, insistia-se em que era verdadeiro Deus. Depois da heresia de Ário, realçou-se que era verdadeiro homem. Mas a Igreja sempre insistiu sobre as duas naturezas, a divina e a humana, numa só pessoa, a do Filho único de Deus. A carta aos Hebreus sublinha os dois aspectos. O texto que escutamos hoje insiste no humano: «Que é o homem, para que te recordes dele, ou o filho do homem para que cuides dele? Fizeste-o por um pouco inferior aos anjos, coroaste-o de honra e de glória, submeteste tudo aos seus pés» (vv. 6-8).
    Jesus é o homem ideal. N´Ele, a vocação do homem ao domínio do universo, realiza-se perfeitamente. O Génesis diz-nos que Deus constituiu o homem senhor de todas as criaturas. Mas, no estado actual das coisas, não é possível realizar perfeitamente essa vocação. Só Cristo, pela sua morte e ressurreição, alcançou uma humanidade renovada e pode ter autoridade sobre toda a criação. «Autoridade» significa capacidade de fazer «crescer» (do latim: augere) os outros. Essa autoridade vem-lhe, não por ser superior ao anjos, mas por ter aceitado o desígnio de Deus, obedecendo até à morte e morte de cruz: «Vemos Jesus, que foi feito por um pouco inferior aos anjos, coroado de glória e de honra, por causa da morte que sofreu» (v. 9), escreve o autor da Carta aos Hebreus. Jesus é amor que deu a vida para nos libertar e unir a Si. Assumiu a fragilidade da nossa natureza porque, só carregando sobre Si o peso esmagador do nosso mal, Deus podia salvar-nos. Jesus usou para connosco uma com-paixão sem reservas. Foi com uma luta de morte que venceu o autor do pecado, causa do sofrimento e da morte. A sua vitória apresenta-se como uma completa derrota. Mas foi assim que nos santificou e nos reconduziu à sua própria origem, ao Pai.
    O aniquilamento de Jesus confunde-nos e interroga-nos. A indiferença não é possível. Jesus vem iluminar as nossas trevas, e introduzir-nos na verdade. Podemos rebelar-nos e tentar sufocar a sua voz com o ruído que levamos dentro de nós. Mas tamb&ea
    cute;m podemos fazer silêncio, acolher a Palavra que tem autoridade para nos libertar da nossa maldade e da nossa preguiça, porque desceu a resgatar-nos pagando as respectivas consequências. Deus tornou-se companheiro do sofrimento e da morte do homem para o conduzir, livre, à salvação, à glória, ao abraço do amor.
    A obediência ao Pai explica toda a vida de Jesus: «Pai..., Eu Te glorifiquei..., realizando a obra que Me confiaste... Consagro-Me (sacrifico-Me) por eles...» (Jo 17, 1.4.19). Faz tudo de modo tão completo e perfeito que a última palavra na cruz será: «Tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito» (Jo 19, 30).
    Por isso é que Paulo pode elevar o seu hino a Cristo: «Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus. Mas despojou-Se a Si mesmo tomando a condição de servo, tornando-Se semelhante aos homens. Tido pelo aspecto como homem, humilhou-Se a Si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz. Por isso é que Deus O exaltou...» (Fil 2, 6-9).
    Na obediência de Jesus, observamos os seguintes aspectos fundamentais: reconhecimento de Deus-Pai como o Absoluto; comunhão profunda com o Pai de Quem tudo recebeu e a Quem tudo entrega, por amor; esta oferta, por amor, ao Pai, é também oferta por amor aos homens; é despojamento amoroso que O leva à máxima glorificação (cf. Fl 2, 9-11).
    Assim, também nós, seguindo a Cristo, e permitindo ao Espírito despojar-nos, esvaziar-nos de tudo aquilo que não é Cristo, para o transformar n´Ele, tornamo-nos participantes da perfeição de Cristo e da Sua glorificação.

    Oratio

    Senhor Jesus, manifesta em nós a tua «autoridade» a tua capacidade de nos fazer crescer. Revela-nos a tua doutrina e abre-nos o coração às Escrituras, como fizeste com os discípulos de Emaús. Desmascara o mal que ainda existe em nós. É certo que o Baptismo nos libertou do demónio. Mas ainda há em nós muita coisa má: espírito de discórdia, espírito de vã complacência, espírito de egoísmo... Que a tua presença em nós desmascare estas situações e as expulse. Que saibamos seguir-te no caminho da obediência humilde e amorosa até à Cruz, e assim participarmos também da tua glória. Amen.

    Contemplatio

    A vocação ao apostolado é um acto do beneplácito divino (Heb 5, 4). É o Pai quem separa do mundo aqueles que destina ao sacerdócio e que os dá ao Filho (Jo 17, 6). Não é o padre que escolhe Jesus; mas é Jesus Cristo quem escolhe o padre e o coloca na sua Igreja, para que aí cresça em ciência, em santidade, em zelo, e que aí produza um fruto duradouro (Jo 15, 16). Nosso Senhor reza longamente antes de chamar os seus apóstolos. Rezemos a Deus como Ele, para que envie dignos operários para a sua vinha. A vocação impõe sacrifícios. É preciso deixar tudo e tomar a sua cruz para seguir Jesus. Acontece mesmo que a vocação encontra na família oposições que é preciso vencer (Lc 14, 26). Os apóstolos deixaram tudo imediatamente para seguirem Jesus. A sua generosidade é uma garantia de salvação e de glória (2Pd 1,10). Deve fortalecer-se a própria vocação pela oração, pelo estudo da boa doutrina e pelas obras santas (2Tes 2). Estejamos nas mãos de Deus para toda a boa obra segundo a sua vontade e o seu apelo. (Leão Dehon, OSP 4, p. 147).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Jesus foi coroado de glória e de honra,
    por causa da morte que sofreu» (Heb 2, 9).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Quarta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Quarta-feira


    11 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 2, 14-18

    Uma vez que os filhos dos homens têm a mesma carne e o mesmo sangue, também Jesus partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, 15e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão. 16Ele, de facto, não veio em auxílio dos anjos, mas veio em auxílio da descendência de Abraão. 17Por isso, Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. 18É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que são postos à prova.

    O autor da Carta aos Hebreus aprofunda o significado da solidariedade de Cristo connosco, explorando o âmbito da misericórdia divina. Jesus assumiu plenamente a realidade humana, marcada pela fragilidade e pela morte, por causa do pecado. Embora não tenha conhecido pecado (cf. 4, 5), Jesus tomou sobre si as consequências dele. Assim libertou a humanidade - sujeita ao domínio do demónio, artífice do pecado e da morte - não a partir de fora dela, ou do alto, mas a partir de dentro dela: uma libertação "imposta" não seria verdadeira e eficaz. O Filho, pelo contrário, tornou-se participante da nossa condição, para que pudéssemos participar da sua! Bom samaritano, inclinou-se sobre quem precisava dos seus cuidados: não os anjos, mas a raça de Abraão (v. 16), isto é, todos quantos peregrinam na fé por este vale de lágrimas.
    Uma vez que esta semelhança de Cristo connosco nos resgata do pecado, Ele cumpre perfeitamente a função sacerdotal: Ele é o verdadeiro sumo sacerdote, «misericordioso» para com os homens - de quem conhece por experiência pessoal o sofrimento - e «fiel» nas coisas que se referem a Deus, porque foi enviado pelo Pai para nossa salvação.

    Evangelho: Marcos 1, 29-39

    Naquele tempo, 29Jesus saiu da sinagoga e foi para casa de Simão e André, com Tiago e João. 30A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. 31Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. 32À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, 33e a cidade inteira estava reunida junto à porta. 34Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam quem Ele era. 35De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração. 36Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. 37E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.» 38Mas Ele respondeu-lhes: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» 39E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios.

    A vida pública de Jesus é extremamente ocupada. Mas o Senhor não deixa de dar atenção às pessoas concretas que encontra. Para Ele, cada pessoa é única. É o que vemos no primeiro milagre, depois do primeiro exorcismo (vv. 30ss.). Rompendo com o estilo dos rabinos, na sua relação com as mulheres, o Senhor aproxima-se da sogra de Pedro, toma-a pela mão, cura-a e, maior novidade ainda, deixa-se servir por ela. A Misericórdia inverte todos os parâmetros das relações sociais. Ao aproximar-se da sogra de Pedro, «levanta-a», tomando-a pela mão. Com a ternura desse gesto, Jesus restitui-lhe a saúde, mas também a capacidade de servir, isto é, de amar com humildade. A notícia espalha-se e Jesus vê-se sobrecarregado de trabalho. Concluído o repouso sabático, rodeia-o uma multidão de carenciados. E a Misericórdia chega a todos como braço do rio de graça que Deus suscitou no mundo.
    Depois de um dia cheio de trabalho e de êxitos apostólicos, Jesus não se deixa levar pelo entusiasmo do povo, mas refugia-se no deserto para se encontrar a sós com o Pai e orar, isto é, beber, também Ele, no rio da graça do Pai, para a poder derramar sobre todos. A sua oração, solitária e prolongada, é o segredo que anima o seu ministério, porque O mantém em relação com o Pai e na fidelidade ao seu projecto. Saiu do seio do Pai para manifestar o seu rosto aos homens. Por isso, continua a sua peregrinação no meio de nós, alargando os confins do Reino e vencendo as forças do mal.

    Meditatio

    A Carta aos Hebreus afirma que Jesus é «um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus» (v. 17). É «fiel» pela relação única que existe entre Ele e Deus. É «misericordioso» para com os homens, particularmente para com os pecadores, porque veio tirar os pecados, veio dar aos homens a vitória nas provações, «porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova» e,por isso «pode socorrer os que são postos à prova» (v. 18). Segundo a carta aos Hebreus, o objectivo da vida de Jesus na terra é levar à perfeição, no seu coração, a abertura aos outros, a misericórdia, a união com Deus, que o torna «fiel».
    A carta aos Hebreus apresenta-nos uma nova concepção do sacerdócio. Enquanto, no Antigo Testamento, se acentuava a separação - o sacerdote era separado dos homens para estar da parte de Deus -, Jesus, Sumo Sacerdote, pôs-Se ao nosso lado, assumindo a nossa carne e o nosso sangue, com os nossos sofrimentos, as nossas provações, a nossa morte, para nos poder ajudar como somos e estamos. Ele alcança misericórdia pela sua união com Deus. É a grande revelação da Encarnação.
    O evangelho que escutamos evidencia estas duas dimensões da vida de Jesus na terra: a sua misericórdia e a sua união com Deus. Revela-se primeiro a sua misericórdia. O Senhor aproxima-se de todas as misérias, de todos os sofrimentos, para lhes levar remédio. Esse remédio começa por ser a compaixão e o interesse. Jesus deixa que os doentes lhe tomem todo o tempo: «À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto à porta» (v. 32). Toma os doentes pela mão: é o seu corpo que comunica a cura de Deus.
    Mas Jesus também se retira do meio das multidões. Logo de madrugada, vai para «um lugar solitário» (v. 35), a fim de rezar. É a outra dimensão da sua existência humana, a busca do Pai. Ele deve tratar das coisas do Pai, deve estar unido a Deus e, por isso, reza demoradamente. Todavia, o desejo da união com Deus não Lhe impede de Se entregar aos outros. Quando vêm procurá-l´O, não diz: «deixem-me em paz, porque devo rezar». Pelo contrário ordena: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim» (v. 38). A oração aumenta-Lhe a
    misericórdia e a bondade, porque vai procurá-las no coração do Pai, fonte do amor que deve transmitir aos homens.
    Tudo isto nos conforta: o Senhor está sempre perto de nós no sofrimento e nas dificuldades. Com Ele, estas situações não são obstáculo mas meios para nos unirmos cada vez mais a Ele e ao Pai, e para irmos ao encontro dos irmãos que sofrem.
    A nossa comunidade-comunhão está reunida à volta do Sumo Sacerdote, que também é vítima, Cristo Jesus. Em força do Baptismo, participamos do sacerdócio de Cristo e do Seu estado de vítima (cf. Heb 10, 14). Nós, oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus, participamos de modo especial, como testemunhas do sacerdócio e do sacrifício de Cristo na Igreja e no mundo, pelo nosso carisma e pela nossa profissão religiosa (cf. Cst 22.24).
    Cristo, sacerdote e vítima é o centro da nossa comunidade-comunhão, que nos faz sentir, segundo o desejo e a oração de Cristo uma só coisa: «que sejam uma só coisa» (Jo 17, 21), é o Espírito de amor, o Espírito Santo, que realiza a promessa de Jesus: «Ele há-de ensinar-vos todas as coisas e há-de recordar-vos tudo aquilo que eu vos disse» (Jo 14, 26); «Há-de guiar-vos para a verdade perfeita... Ele há-de glorificar-me, porque tomará do que é Meu e vo-lo anunciará» (Jo 16, 13-14).

    Oratio

    Ó Jesus, Sumo Sacerdote fiel e misericordioso, dá-me a graça de compreender que as dificuldades, que tantas vezes me fazem desanimar, são excelentes ocasiões para renovar a minha confiança, porque Tu as acompanhas com uma graça, que me permite unir-me à tua gloriosa Paixão, e me torna atento e sensível ao sofrimento dos irmãos. Faz-me compreender que, unindo-me à tua Paixão, posso ajudar os que sofrem, e ser solidário com quem está no sofrimento, e unir-me verdadeiramente a Ti, que quiseste sofrer com todos os que sofrem e com os pecadores. Amen.

    Contemplatio

    Observai também o tempo e o lugar da oração. Reza-se melhor de manhã, na calma e no silêncio. Ninguém reza com fruto senão fazendo valer os méritos de Nosso Senhor. Rezamos utilmente se nos dirigirmos ao Coração de Jesus. Apresentar o Coração de Jesus ao seu Pai, é fazer valer um talismã que é todo-poderoso. «Tudo o que pedirdes ao meu Pai em meu nome, disse Nosso Senhor, ser-vos-á concedido». Em meu nome, quer dizer «pelos meus méritos, pelo amor que meu Pai tem por mim, pela consideração que tem pelo meu Coração, pela minha oração, pelo meu amor, pelos meus sofrimentos...» Se as vossas orações concordarem com os desejos do Coração de Jesus serão vitoriosas. Marta dizia a Jesus: «Sei que tudo o que pedirdes a Deus Ele vo-lo concede». Vamos ter com Deus pelo Coração de Jesus e ao Coração de Jesus por Maria, ser-nos-ão todo-poderosos. (Leão Dehon, OSP 4, p. 70s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Jesus pode socorrer os que são postos à prova» (cf. Heb 2, 18).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Quinta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Quinta-feira


    12 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Quinta-feira

    Primeira leitura: Hebreus 3, 7-14

    Irmãos, 7como diz o Espírito Santo: Hoje, se escutardes a sua voz, 8não endureçais os vossos corações, como no tempo da revolta, no dia da tentação no deserto, 9quando os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, depois de verem as minhas obras, 10durante quarenta anos. Por isso me indignei contra esta geração e disse: 'Erram sempre no seu coração; não conheceram os meus caminhos.' 11Assim, jurei na minha ira: 'Não entrarão no meu repouso.' 12Tende cuidado, irmãos, que não haja em nenhum de vós um coração mau, a ponto de a incredulidade o afastar do Deus vivo. 13Exortai-vos, antes, uns aos outros, cada dia, enquanto dura a proclamação do «hoje», a fim de que não se endureça nenhum de vós, enganado pelo pecado. 14De facto, tornamo-nos companheiros de Cristo, desde que mantenhamos firme até ao fim a confiança inicial.

    No texto que hoje escutamos, o autor da Carta aos Hebreus, aborda o tema da fidelidade. Cristo é fiel, é a personificação da fidelidade de Deus. Os cristãos, discípulos de Cristo, devem ser fiéis. Efectivamente, o Espírito Santo continua a falar «hoje» para nos ajudar a viver de acordo com a vontade de Deus. Mas, tal como o antigo povo de Deus, no deserto, podemos «endurecer os corações» (v. 8) e seguir caminhos errados, excluindo-nos da comunhão com Deus, isto é, do seu «repouso» (v. 11). O autor previne os destinatários da sua carta contra uma tal atitude interior. Efectivamente, «os pais» do antigo Israel, caíram na obstinação e na incredulidade, mesmo depois de terem visto as obras de Deus (cf. v. 9). Se Deus ficou desgostoso com o povo, que recebera a Lei das mãos de Moisés, quanto mais o ficará com aqueles que endurecem o coração depois de terem encontrado a Cristo, muito superior a Moisés, uma vez que é Filho de Deus. Nos últimos dias, que começaram com a vinda de Cristo, notavam-se sinais de desobediência e de incredulidade, que podiam levar à privação dos bens últimos vinculados à pessoa de Cristo. Daí a frequência do tema na catequese dos primeiros cristãos (cf. 1 Cor 10, 1s.). Os cristãos devem renovar, cada dia, a sua fidelidade, e ajudar-se uns aos outros nessa renovação.

    Evangelho: Marcos 1, 40-45

    Naquele tempo, 40um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» 41Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» 42Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. 43E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: 44«Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» 45Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.

    Marcos ajuda-nos a perceber, cada vez melhor, a personalidade de Jesus. Depois de O apresentar como Aquele que anuncia e inaugura o Reino da Vida (v. 39), oferece-nos o episódio do leproso, considerado um «morto vivo», segundo a Lei, por causa do apodrecimento antecipado da sua carne. Como o contacto com os mortos tornava o homem impuro, os leprosos deviam ser afastados das povoações, excluídos da comunhão com o povo de Deus: «Impuro! Impuro!» gritava o leproso, à distância, para que ninguém dele se aproximasse (cf. Lev 13, 45).
    Mas o nosso leproso sabe que existe algo de mais sagrado que a própria Lei, e que pode confiar. Por isso, atreve-se a aproximar-se de Jesus. E Jesus, indo mais além do que a Lei, acolhe-o e toca-o com a mão (v. 41), restituindo-o à sua dignidade. As leis só obrigam na medida em que concorrem para o bem do homem. É um tema que irá repetir-se ao longo do segundo evangelho e em Paulo.
    Operada a cura, Jesus manda ao leproso que não faça publicidade dela, mas se apresente aos sacerdotes para que o reintegrem na comunidade. O objectivo da cura não era fazer publicidade apologética, mas reintegrar o marginalizado. A salvação já não se encontra na separação e na marginalização, mas na reintegração porque, com Jesus, entrou no mundo o próprio poder salvífico de Deus, que se põe do lado dos pobres e dos últimos da sociedade dos homens. A nova sociedade inaugurada por Jesus não marginaliza ninguém, não separa, não exclui, porque Jesus aboliu o sistema que separava o puro do impuro tal como o entendia o mundo judaico. O cristão é um homem livre para Deus e para os outros. A Igreja deve estar na linha da frente para que a liberdade se torne real para todos os homens.

    Meditatio

    «Hoje, se escutardes a sua voz, não endureçais os vossos corações» (v. 7-8). Tal como Israel, tal como os primeiros judeo-cristãos, também nós contemplámos as maravilhas de Deus, e também nós corremos o risco de «endurecer» os nossos corações, preferindo escutar outras vozes, que não a voz de Deus. A voz do Senhor não é, em primeiro lugar, uma voz que ordena, mas uma voz que promete. Não podemos fechar o coração às promessas de Deus, como fizeram os Israelitas quando estavam às portas de Terra prometida. Os exploradores trazem notícias sobre a prosperidade da Terra, sobre os seus habitantes e as suas cidades. Deus diz-lhe «É vossa, Eu vo-la dou!» Mas os Israelitas não quiseram escutar a voz de Deus, preferindo a voz da incredulidade: «É demasiadamente belo para ser verdade; Deus não no-la dá; não conseguiremos tomar posse dela», pensavam. Os exploradores, depois de terem descrito as maravilhas da terra, ajudaram à incredulidade do povo, afirmando: «Não podemos atacar esse povo, porque é mais forte do que nós... a terra que atravessámos para a explorar é terra que devora os seus habitantes e todo o povo que nela vimos é gente de grande estatura. Até lá vimos os gigantes, filhos de Anac, da raça dos gigantes; parecíamos gafanhotos diante deles e eles assim nos consideravam.»(Nm 13, 31ss.). O povo fiou-se mais nos exploradores do que em Deus e revoltou-se: «Antes tivéssemos morrido na terra do Egipto ou mesmo neste deserto. Porque nos fez sair o Senhor para esta terra a fim de nos matar à espada? As nossas mulheres e as nossas crianças serão humilhadas. Não nos seria melhor voltar para o Egipto?» (Nm 14, 2ss.). Deste modo, os Israelitas tentaram a Deus, irritaram-n´O com a sua incredulidade, afastaram-se d´Ele, não acreditaram na promessa.
    O autor da Carta aos Hebreus evoca estes acontecimento para nos exortar: «Tende cuidado, irmãos, que não haja em nenhum de vós um coração mau, a ponto de a incredulidade o afastar do Deus vivo. Exortai-vos, antes, uns aos outros, cada dia, enquanto dura a proclamação do «hoje», a fim de que não se endure
    ça nenhum de vós, enganado pelo pecado»(v. 12-13), isto é, por esta outra voz que sempre insinua em nós que não é possível acreditar na promessa de Deus, que é uma promessa irreal, demasiadamente difícil de realizar, que Deus não está realmente disposto a dar-nos o que está escrito no Evangelho. Efectivamente, nós somos «participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho» (Ef 3, 6). Já não é Moisés que vai à nossa frente, mas Cristo. Com Ele realizamos o nosso êxodo, atravessamos o deserto e avistamos a Terra Prometida. Há que permanecer firmes na fé, para não incorrermos na ira divina e ouvirmos o terrível juramento: «Não entrarão no meu repouso» (v. 11). Esta ameaça divina é, afinal, um gesto de amor com que pretende libertar-nos de tudo aquilo que em nós é medo. As reais dificuldades da vida não devem induzir-nos à incredulidade. Pelo contrário, permaneçamos cheios de alegria e, nas dificuldades, façamos como o leproso do evangelho: aproximemo-nos do Senhor e digamos-Lhe: «Se queres, podes curar-me!» (v. 40).
    A esperança de sermos firmes na fé e na fidelidade ao Senhor e às suas promessas, baseia-se na própria fidelidade do Senhor para connosco. Toda a história da salvação está centrada na fidelidade de Deus ao Seu amor pelos homens. Em Jesus, nós contemplamos esta fidelidade encarnada, que se dá a nós até à morte de cruz (cf. Fl 2, 6-8), que se faz nosso alimento e nossa bebida na Eucaristia (cf. 1 Cor 11, 23-29) e pede a resposta da nossa fidelidade. Devemos converter-nos continuamente a esta fidelidade de amor. Deste modo, testemunhamos que Jesus é para nós «o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6), é a «Pedra angular» (1 Pe 2, 6) da nossa fé, é a razão de ser da nossa existência: «Para mim viver é Cristo» (Fl 1, 21), especialmente para nós Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus, «porque, com um só sacrifício (oblação), (Cristo) tornou perfeitos (como sacerdotes e vítimas) para sempre os que foram santificados» (Heb 10, 14).

    Oratio

    Senhor Jesus, venho a Ti, leproso como tantos leprosos, que, antes de mais nada, precisam de reencontrar a vontade de ser curados, a vontade de redescobrir a beleza da vida, ainda que marcada por tantos sofrimentos e provações. Vem, Salvador do mundo, suprir, com a tua firme vontade de salvação, a minha crónica indecisão. Se quiseres, podes curar-me. Toca-me apenas com a tua mão, com a tua santíssima humanidade, pronuncia a tua palavra: Quero! Sê curado! Suscita no meu coração, e em todo o meu ser, a gratidão, a alegria, o cântico da vida nova, o hino da salvação. Amen.

    Contemplatio

    O bom Salvador quis aceitar este suplício dos escravos. É a humilhação suprema. Isaías tem razão ao dizer: Já não tem beleza, é desprezado e o último dos homens; semelhante a um leproso, a um homem maldito por Deus e ferido pela Providência (Is 53,2). Como Job, está coberto de chagas dos pés à cabeça. Que mais podia fazer para se humilhar, para reparar a glória ultrajada de seu Pai? No meio de tão cruéis tormentos, que paciência! Não abre a boca, a não ser para emitir alguns gemidos queixosos. É como um carneiro que se leva ao matadouro, diz Isaías, ou como um cordeiro que se tosquia. É a paciência mesma. Muito mais, aceita o seu suplício com alegria, por causa dos efeitos que deles espera. É a glória do seu Pai que será restaurada, é a salvação dos homens, que todos pecaram pela sensualidade e pela idolatria dos seus corpos. Este suplício tinha nos desígnios de Deus uma importância particular. Era a cena da sua Paixão que deveria ser voluntariamente reproduzida pelas almas fervorosas ao longo dos séculos. Nosso Senhor entregava-se à flagelação, para que mais tarde, a seu exemplo, os fiéis se impusessem a flagelação em espírito de penitência. Não somente sofria a flagelação pela nossa salvação, mas santificava-a, fazia dela como que um acumulador de graças, que agiria até ao fim do mundo. O seu divino Coração amava este suplício reparador. Tomava a maior parte dos sofrimentos para si e merecia-nos a graça de o imitarmos um pouco. Não deixemos perder estas graças, ofereçamos a Nosso Senhor algumas penitências voluntárias em união com a sua flagelação. (Leão Dehon, OSP 3, p. 337s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Senhor, se quiseres, podes purificar-me» (Mc 1, 40).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Sexta-feira

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Sexta-feira


    13 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Sexta-feira

    Primeira leitura: Hebreus 4, 1-5.11

    Irmãos, 1embora permanecendo a promessa de entrar no seu repouso, temamos que algum de vós seja considerado excluído. 2Porque, a nós como a eles, foi anunciada a Boa-Nova; porém, a eles, a palavra escutada não valeu de nada, pois não permaneceram unidos na fé aos que a tinham escutado. 3Quanto a nós, os que acreditámos, entraremos no descanso, como Ele disse: Tal como jurei na minha ira, não entrarão no meu repouso.No entanto, as suas obras estavam realizadas desde a fundação do mundo, 4pois diz-se em qualquer parte, a propósito do sétimo dia: Deus repousou no sétimo dia, de todas as suas obras; 5e ainda, neste passo: Não entrarão no meu repouso. 11Apressemo-nos, então, a entrar nesse repouso para que ninguém caia no mesmo tipo de desobediência.

    O nosso texto continua a tratar o tema da fidelidade. Enquanto dura o «hoje», há que não deixar endurecer o coração, afastando-se de Deus pela incredulidade. Este afastamento era uma tentação permanente, não só para os cristãos que tinham vindo do judaísmo, mas para todos os que tinham recebido a revelação final e a luz em Cristo e através de Cristo. Voltar à incredulidade equivalia a quebrar relações com Deus, a pecar contra a luz (cf. 6, 4-6), a recusar percorrer o único caminho que pode levar à luz e à vida, ao «repouso» de Deus (v. 5). A promessa feita a Israel continua válida para os crentes em Cristo, mas a «boa nova» anunciada por Deus deve ser acolhida na fé. Este acolhimento é uma opção dinâmica que exige compromisso perseverante, a nível pessoal, uma vez que a fé na Palavra é sempre inovada e traduzida na vivência pessoal (v. 3), mas também a nível eclesial, porque é na comunidade dos crentes que a Palavra é transmitida. Se assim for, o povo de Deus pode caminhar na unidade rumo à meta indicada pelo Senhor.

    Evangelho: Marcos 2, 1-12

    Dias depois, tendo Jesus voltado a Cafarnaúm, ouviu-se dizer que estava em casa. 2Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, e anunciava-lhes a Palavra. 3Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. 4Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico. 5Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.» 6Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações: 7«Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?» 8Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações? 9Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te, pega no teu catre e anda'? 10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, 11Eu te ordeno - disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.» 12Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»

    A «palavra», em Jesus, consiste em «falar» e em «fazer». As curas que realiza são «palavra». Marcos, depois de nos dizer que Jesus «anunciava a palavra» (v. 2), oferece-nos um exemplo concreto da sua «palavra actuante».
    Quatro homens conduzem a Jesus um paralítico. Esta iniciativa contrasta com o imobilismo dos escribas «sentados», a tentarem surpreender Jesus em alguma palavra ou gesto contra a Lei. O foco da narrativa que ouvimos está nas palavras: «para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados...». O milagre confirma a palavra de Jesus, o seu poder de reconciliação dos homens com Deus. A atenção é deslocada de um mal físico para um mal mais profundo, o pecado, que paralisa o homem, impedindo-o de avançar segundo o projecto de Deus. Os escribas compreendem o alcance das palavras de Jesus. Mas não estão dispostos a aceitar uma tal «blasfémia», porque só Deus pode perdoar os pecados. Jesus reage reforçando a sua afirmação: «Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, Eu te ordeno: levanta-te» (vv. 10-11). O milagre é sinal do poder de Jesus.
    A cura do paralítico é uma síntese da palavra pregada por Jesus. O reino de Deus está próximo, porque Deus decidiu oferecer o seu perdão aos homens, em Jesus. Esse perdão introduz o homem todo, corpo e espírito, na salvação. Mas, como pode aproximar-se de Jesus quem está amarrado por «laços de morte» (Sl 114, 3)? Só com a ajuda de outros que, salvos pela misericórdia de Deus, se dispõem a ajudar os irmãos.

    Meditatio

    A fé é um caminho para o repouso de Deus. É talvez um caminho difícil. Percorremo-lo no deserto. Mas a Terra Prometida está diante de nós. Há que enfrentar o cansaço e o sofrimento, sem desanimar. Espera-nos o Coração de Deus, onde encontrará repouso o nosso próprio coração.
    Mas tudo isto não é só futuro. Os que acreditamos, podemos entrar, desde já, no repouso de Deus (cf. v. 3): «Nessa esperança temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu», diz ainda o autor da Carta aos Hebreus (6, 19). A «âncora segura» é a fé. Temos a esperança de que havemos de ser recompensados pelos nossos esforços de fidelidade, mas, na fé, vemos, já agora, os dons de Deus. O cristão sabe que, no meio das dificuldades, das preocupações, dos sofrimentos da vida, Deus nos convida a «entrar no seu repouso», a estar com Ele em paz, tranquilos e alegres.
    O evangelho mostra-nos a eficácia imediata da fé: «Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados» (v. 5). O Senhor não disse: «serão perdoados», mas «estão perdoados», por causa da fé daqueles homens. A fé alcança o dom de Deus, mesmo que as circunstâncias pareçam contrárias. A fé é posse antecipada das coisas que se esperam.
    Também nós, tantas vezes, paralíticos do espírito, inertes aos estímulos da graça ou amarrados por compromissos stressantes, talvez assumidos para encher, pelo activismo, o nosso vazio interior, nos sentimos incapazes de dar um passo em frente. Mas a Palavra de Deus encoraja-nos a permanecer unidos às testemunhas da fé, e a deixar-nos conduzir na obediência. A confiança na comunhão eclesial é já um passo, muito importante, no caminho da fé. Ainda que nos sintamos impotentes, amarrados pelos laços do pecado, a Palavra de Deus mostra-nos como é decisivo de
    ixar-nos conduzir a Cristo pela fé dos irmãos. A experiência do perdão vai repor-nos em marcha.
    Quando celebramos a Eucaristia, escutamos as palavras: «Felizes os convidados para a ceia do Senhor». A ceia do Senhor, em certo sentido, está no futuro, é o banquete celeste. Mas noutro sentido, em cada eucaristia, já participamos na fé nesse banquete celeste, no amor de Deus, na paz de Deus. Em cada momento e em cada situação do nosso dia, podemos escutar o convite do Senhor: «Entra no meu repouso». E é sempre possível entrar nesse repouso. No episódio dos três jovens lançados à fornalha ardente (Dn 3, 1ss), diz-se que, por entre as chamas, soprava «uma brisa matinal» (Dn 3, 50) e que, no martírio, estavam como que no céu. Por isso, cantavam: «Bendito e louvado sejas, Senhor, Deus dos nossos pais! Que o teu nome seja glorificado pelos séculos!» (Dn 3, 28).

    Oratio

    Senhor Jesus, obrigado por teres sido solidário com a minha miséria. Obrigado pelo olhar misericordioso que lançaste sobre mim, paralisado no meu pecado. Obrigado pela palavra que eu não procurava, mas me quiseste dirigir para me reconduzires à vida: «Filho, os teus pecados estão perdoados» (v. 5). Obrigado pela liberdade nova, que desfez as cadeias que mantinham inerte o meu coração e me deu um impulso antes desconhecido. Obrigado pela alegria da fé que suscitaste em mim. Obrigado pela solidariedade dos irmãos que me conduziram até junto de Ti. Ensina-me a ser também solidário com todos os pecadores, para que Te cheguem a Ti e encontrem a misericórdia, o amor, a vida em abundância e em paz. Amen.

    Contemplatio

    «Se alguém me ama e guarda a minha palavra, diz ainda Nosso Senhor, meu Pai amá-lo-á e faremos nele a nossa morada... Aquele que me ama e que o prova observando os meus mandamentos, será amado por meu Pai, e eu amá-lo-ei e manifestar-me-ei a ele... E então compreendereis que estou em meu Pai, e sentireis que estou em vós e vós em mim». Ó admirável união! «Estareis unidos a mim, diz Nosso Senhor, pela vida da graça, pelos sentimentos do coração e pelo acordo das vontades... Estarei unido a vós pela influência das minhas luzes e das minhas direcções, pela consolação da minha presença sensível e do meu amor». Posso, portanto, viver no Coração de Jesus e Jesus quer viver no meu coração: «Vós em mim e eu em vós», diz-nos. Ó divino Coração de Jesus, sede daqui em diante a minha morada. Em vós rezarei eficazmente, em vós pedirei conselho sem medo de me enganar, em vós contemplarei o modelo de todas as virtudes. Sei o meio de habitar em vós, é conformar-me à minha regra e a todas as vossas vontades. Agora, posso dizer com David: «Como são amáveis os vossos tabernáculos, ó meu Deus!... Um dia de repouso e de vida sobrenatural na vossa casa, isto é, no vosso Coração, vale mais que mil anos passados entre os pecadores». (Leão Dehon, OSP 3, p. 452).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Os que acreditámos, entraremos no descanso» (Heb 4, 3).

  • Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Sábado

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Sábado


    14 de Janeiro, 2023

    Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Hebreus 4, 12-16

    Irmãos, a palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração. 13Não há nenhuma criatura oculta diante dele, mas todas as coisas estão a nu e a descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas.14Uma vez que temos um grande Sumo Sacerdote que atravessou os céus, Jesus, o Filho de Deus, conservemos firme a fé que professamos. 15De facto, não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, excepto no pecado. 16Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna.

    O texto apresenta-nos duas considerações. Depois de ter prometido o «repouso», para os que forem fiéis, o autor apresenta-nos a garantia de que essa promessa irá realizar-se. Essa garantia é a Palavra de Deus, «viva e eficaz» (v. 12), porque o próprio Deus está operante nela. A presença e a acção de Deus na Palavra, torna-a penetrante, capaz de conhecer os mais recônditos segredos do coração humano. Mesmo quando pretendemos enganar-nos a nós mesmos, e aos outros, Deus não se deixa enganar. A Palavra de Deus tem poder para nos desmascarar e iluminar, para que, «vendo-nos» com o próprio olhar do Senhor, possamos «re-ver-nos», porque a Ele «devemos prestar contas» (v. 13).
    Depois desta primeira consideração, o autor retoma o tema de Jesus «Sumo Sacerdote misericordioso» (v. 14), a que já acenou em 2, 17s. Até agora, o autor explicou o alcance do termo «misericordioso». Agora prepara novos desenvolvimentos sobre o sacerdócio de Cristo.
    Estas duas considerações referem-se a uma só mensagem: somos chamados a caminhar com santo temor orientados pela Palavra de Deus, e, ao mesmo tempo, com total confiança, pois Cristo, constituído sacerdote em nosso favor, experimentou a nossa fragilidade e pode compadecer-se plenamente connosco. Por isso, conscientes da nossa fragilidade e do nosso pecado, podemos aproximar-nos com grande confiança do «trono da graça» (v. 16).

    Evangelho: Marcos 2, 13-17

    Naquele tempo, 13Jesus saiu de novo para a beira-mar. Toda a multidão ia ao seu encontro, e Ele ensinava-os. 14Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me.» E, levantando-se, ele seguiu Jesus. 15Depois, quando se encontrava à mesa em casa dele, muitos cobradores de impostos e pecadores também se puseram à mesma mesa com Jesus e os seus discípulos, pois eram muitos os que o seguiam. 16Mas os doutores da Lei do partido dos fariseus, vendo-o comer com pecadores e cobradores de impostos, disseram aos discípulos: «Porque é que Ele come com cobradores de impostos e pecadores?» 17Jesus ouviu isto e respondeu: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»

    Jesus vem arrancar o homem do mal, do pecado, como vimos nos episódios precedentes. A perícopa de hoje mostra-nos a perfeita liberdade com que Jesus se conduz e age, e pode partilhar connosco. O mestre dá atenção à «gente» (´am há-rets, em hebraico), isto é, aqueles que não observavam a Lei segundo a interpretação rigorista, o que chocava os mestres de Israel. Estes chamavam «pecadores» a essa «gente» não só devido a eventuais culpas morais, mas também pelo facto de não observarem rigorosamente a Lei e os costumes dos fariseus. Nesse sentido, também Jesus era um «pecador»: não obrigava os discípulos aos rituais de purificação antes das refeições (7, 1-5) e recusava a casuística farisaica sobre o sábado (2, 23-28).
    Levi, «sentado no posto de cobrança» (v. 14) a cumprir o seu odioso ofício, é considerado pecador, porque se contamina no contacto com os pagãos. Jesus, não tendo em conta a contaminação ritual, partilha com ele a refeição, símbolo de comunhão de vida. A sua «excessiva» liberdade choca os guardiães de Lei. Mas Jesus não pretende justificar a transgressão da Lei. Apenas quer partilhar a vida com quem ainda não se decidiu por romper com o pecado, para lhe dar a força e a graça de fazer essa opção. É por isso que vai ao encontro do homem onde ele se encontra, fazendo-se próximo, irmão, comensal com os pecadores. Aqueles que se sentem justos não compreendem que o médico divino se ponha ao serviço dos irmãos doentes e derrame misericórdia sobre os miseráveis. A maior doença do homem é, sem dúvida, o pecado. Por isso, é que Jesus vai ao encontro dos pecadores.

    Meditatio

    A mensagem da liturgia hodierna pode resumir-se em duas ou três palavras: verdade e misericórdia, que levam à liberdade. «A palavra de Deus é viva, eficaz», diz-nos o autor da Carta aos Hebreus. Essa palavra é Jesus, que conhece o mais íntimo do nosso coração, e nos convida: «Segue-me!». A sua palavra é «mais afiada que uma espada de dois gumes» porque, com a verdade, penetra a nossa mentira e com a misericórdia corta o nosso orgulho. Na verdade, Jesus faz-nos tomar consciência da nossa condição de pecadores, mas, logo de seguida, envolve-nos no manto da sua compaixão, reveste-nos de santidade. Quantas vezes nos sentimos amarrados por maus hábitos e por inclinações para o mal, que não queremos admitir ou travestimos de virtudes. Podemos mentir a nós mesmos, e aos outros, mas não mentimos ao Senhor, a quem deveremos «prestar contas» (v. 13). Todavia, o juiz verdadeiro vem sentar-se à mesa connosco. Se Lhe quisermos abrir o coração e a casa, a sua liberdade liberta-nos, a sua plenitude de vida fará de nós ressuscitados, a sua amizade tornar-se-à em nós fonte de alegria para muitos.
    Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça»(v. 16), onde Cristo está sentado junto ao Pai e nos prepara um lugar, pois nos quer participantes no banquete eterno, na festa da misericórdia. O Médico encarregou-se das nossas enfermidades, e «pelas suas chagas fomos curados» (Is 52, 5). Para isso, aceita aproximar-se dos pecadores e comer com eles, enfrentado as duras críticas dos fariseus e dos escribas. A autoridade, que Lhe vem do facto de ser «um grande Sumo Sacerdote que atravessou os céus» (v. 14), é posta ao serviço dos pecadores. Os fariseus não recorriam à misericórdia de Jesus porque julgavam não precisar dela. Mas nós, cristãos, reconhecemos essa necessidade e, por isso, aproximamo-nos d´Ele para alcançarmos «misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna» (v. 16). O Pe. Dehon recebeu o dom e a graça de fazer esta experiência de mi
    sericórdia e de graça, alcançada no Coração de Jesus. Dessa experiência nasceu um típico estilo de vida dehoniano. Devemos reflectir frequentemente sobre ele e converter-nos sempre a ele, para também nós experimentarmos essa misericórdia e essa graça, e as podermos partilhar com os irmãos pecadores.

    Oratio

    Senhor, ilumina o meu coração com a tua Palavra. Penetra as profundidades do meu ser. Põe à luz da minha consciência a minha realidade mais profunda de pecador, que tantas vezes procuro ignorar ou camuflar. Passa pela minha vida e olha-me sentado, amarrado aos meus interesses egoístas. Se não me despertares, se não me atraíres para Ti, não sairei desta situação. Arranca-me das insídias do Mal. Vem partilhar a mesa do meu dia a dia e dá-me confiança. Lembra-me que intercedes por mim diante do Pai e que, um dia, serei chamado a sentar-me Contigo no banquete eterno, festa dos pecadores perdoados, festa do Amor que salva. Amen.

    Contemplatio

    O que há nesta tropa que avança contra Jesus Cristo? Há, em primeiro lugar, soldados romanos, archeiros. Obedecem cega e brutalmente às ordens que lhes são dadas. Não compreendem todo o carácter odioso nem prevêem as consequências. Estão impressionados pelo carácter insólito desta prisão. Há lacaios dos fariseus, excitados pelos seus mestres e que vão por causa de um salário. Há também alguns bandidos para o que for preciso, recrutados pelos sectários. Por trás deles, caminham vergonhosamente alguns sacerdotes e fariseus, os mais rancorosos, os cabecilhas, que estão lá para encorajar e apoiar todo o bando. Jesus Cristo encontra sempre os mesmos inimigos: o ódio sectário, os inconscientes e a turba imoral. O Coração de Jesus é mesmo assim misericordioso para com todos. Quer deixar no seu coração uma semente de conversão. Derruba os soldados, mas levanta-os e impede-os de fazer violência aos apóstolos. Proíbe a estes servir-se das suas armas e cura Malco. Não é os soldados que ele repreende, mas os seus cabecilhas, os sacerdotes e os fariseus. Entrega-se nas mãos dos soldados e dos guardas, como um cordeiro sem defesa. A sua doçura deveria desarmá-los. Recordar-se-ão mais tarde e alguns sem dúvida estarão entre os convertidos, como o centurião do calvário. (Leão Dehon, OSP 3, p. 283s).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Aproximemo-nos confiantes do trono da graça» (Heb 4, 16).

plugins premium WordPress