Week of Dez 5th

  • 02º Domingo do Advento - Ano A

    02º Domingo do Advento - Ano A


    4 de Dezembro, 2022

    ANO A
    2.º DOMINGO DO ADVENTO

    Tema do 2.º Domingo do Advento
    A liturgia deste domingo convida-nos a despir esses valores efémeros e egoístas a que, às vezes, damos uma importância excessiva e a realizar uma revolução da nossa mentalidade, de forma a que os valores fundamentais que marcam a nossa vida sejam os valores do "Reino".

    Na primeira leitura, o profeta Isaías apresenta um enviado de Jahwéh, da descendência de David, sobre quem repousa a plenitude do Espírito de Deus; a sua missão será construir um reino de justiça e de paz sem fim, de onde estarão definitivamente banidas as divisões, as desarmonias, os conflitos.

    No Evangelho, João Baptista anuncia que a concretização desse "Reino" está muito próxima... Mas, para que o "Reino" se torne realidade viva no mundo, João convida os seus contemporâneos a mudar a mentalidade, os valores, as atitudes, a fim de que nas suas vidas haja lugar para essa proposta que está para chegar... "Aquele que vem" (Jesus) vai propor aos homens um batismo "no Espírito Santo e no fogo" que os tornará "filhos de Deus" e capazes de viver na dinâmica do "Reino".

    A segunda leitura dirige-se àqueles que receberam de Jesus a proposta do "Reino": sendo o rosto visível de Cristo no meio dos homens, eles devem dar testemunho de união, de amor, de partilha, de harmonia entre si, acolhendo e ajudando os irmãos mais débeis, a exemplo de Jesus.

     

    LEITURA I - Is 11, 1-10

    Leitura do Livro de Isaías
    Naquele dia,
    sairá um ramo do tronco de Jessé
    e um rebento brotará das suas raízes.
    Sobre ele repousará o espírito do Senhor:
    espírito de sabedoria e de inteligência,
    espírito de conselho e de fortaleza,
    espírito de conhecimento e de temor de Deus.
    Animado assim do temor de Deus,
    não julgará segundo as aparências,
    nem decidirá pelo que ouvir dizer.
    Julgará os infelizes com justiça
    e com sentenças retas os humildes do povo.
    Com o chicote da sua palavra atingirá o violento
    e com o sopro dos seus lábios exterminará o ímpio.
    A justiça será a faixa dos seus rins
    e a lealdade a cintura dos seus flancos.
    O lobo viverá com o cordeiro
    e a pantera dormirá com o cabrito;
    o bezerro e o leãozinho andarão juntos
    e um menino os poderá conduzir.
    A vitela e a ursa pastarão juntamente,
    suas crias dormirão lado a lado;
    e o leão comerá feno como o boi.
    A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra
    e o menino meterá a mão na toca da víbora.
    Não mais praticarão o mal nem a destruição
    em todo o meu santo monte:
    o conhecimento do Senhor encherá o país,
    como as águas enchem o leito do mar.
    Nesse dia, a raiz de Jessé surgirá como bandeira dos povos;
    as nações virão procurá-la e a sua morada será gloriosa.

    AMBIENTE

    A primeira leitura apresenta-nos um poema que alimenta o sonho do regresso a essa época ideal do reinado de David e que dá fôlego à corrente messiânica.

    Não é claro o enquadramento histórico em que este oráculo aparece. Para alguns autores, contudo, este poema (e outros semelhantes) surge na fase final da atividade profética de Isaías...

    Quando o rei Ezequias atingiu a maioridade e começou a dirigir os destinos de Judá (por volta de 714 a.C.), preocupou-se em consolidar uma frente anti-assíria (a potência que, nessa época, ameaçava os países da zona), com o Egipto, a Fenícia e a Babilónia. Isaías condenou essas iniciativas... Elas significavam um colocar a confiança e a esperança no poder de exércitos estrangeiros, negligenciando o poder de Jahwéh: eram, portanto, um grave sinal de infidelidade ao Deus de Judá. Essas iniciativas, na opinião do profeta, não poderiam conduzir senão à ruína da nação... De facto, as previsões funestas de Isaías realizaram-se quando Senaquerib invadiu Judá, cercou Jerusalém e obrigou Ezequias a submeter-se ao poderio assírio (701 a.C.).

    Por essa altura, desiludido com a política dos reis de Judá, o profeta teria começado a sonhar com um tempo novo, sem armas e sem guerras, de justiça e de paz sem fim. Tal "reino" só poderia surgir da iniciativa de Jahwéh (os reis humanos de há muito que se haviam revelado incapazes de conduzir o Povo em direção a um futuro de paz); e o instrumento de Jahwéh na implementação desse "reino" seria, na opinião do profeta, um descendente de David. Este texto será, talvez, dessa época em que a profecia e o sonho de um mundo melhor se combinam.

    MENSAGEM
    Na primeira parte do poema (vers. 1-5), o profeta apresenta a personagem que será o instrumento de Deus na realização desse "reino" de justiça e de paz...

    Em primeiro lugar, o profeta anuncia que esse instrumento de Deus virá "da raiz de Jessé". Jessé era o pai de David; portanto, ele será da descendência de David (o que nos liga à promessa feita por Deus a David - cf. 2 Sm 7) e, presumivelmente, fará voltar esse tempo ideal de bem-estar, de abundância e de paz que o Povo de Deus conheceu durante o reinado ideal de David.

    Em segundo lugar, essa personagem será animada pelo Espírito de Deus ("ruah Jahwéh"). É o mesmo Espírito que ordenou o universo na aurora da criação (cf. Gn 1,2), que animou os heróis carismáticos de Israel (cf. Jz 3,10; 6,34; 11,29), que inspirou os profetas (cf. Nm 11,17; 1 Sm 10,6.10; 19,20; 2 Sm 23,2; 2 Re 2,9; Mi 3,8; Is 48,16; 61,1; Zac 7,12). Esse Espírito confere a esse enviado de Deus as virtudes eminentes dos seus antepassados: sabedoria e inteligência como Salomão, espírito de conselho e de fortaleza como David, espírito de conhecimento e de temor de Deus como os patriarcas e profetas (aos seis dons aqui enunciados, a tradução grega dos "Setenta" acrescentará a "piedade": é esta a origem da nossa lista dos sete dons do Espírito Santo).

    Da plenitude dos carismas brota o exercício da justiça e a construção de um "reino" onde os direitos dos mais pobres são respeitados e onde os oprimidos conhecerão a liberdade e a paz. Desse "reino" serão excluídas, definitivamente, a injustiça, a mentira, a opressão... Tal será o "reino" que o "messias" virá inaugurar.

    Na segunda parte do oráculo (vers. 6-9), o profeta apresenta - recorrendo a imagens muito belas - o quadro desse mundo novo que o "Messias" vai instaurar. A revolta do homem contra Deus (cf. Gn 3) havia introduzido no mundo fatores de desequilíbrio que quebraram a harmonia entre o homem e a natureza (cf. Gn 3,17-19), entre o homem e o seu irmão (cf. Gn 4)... Mas agora o "Messias" trará a paz e, dessa forma, cumprir-se-á o projeto inicial que Deus tinha para o mundo e para o homem: os animais selvagens e os animais domésticos viverão em harmonia (o lobo e o cordeiro; a pantera e o cabrito, o bezerro e o leão; a vaca e o urso) e todos eles estarão submetidos ao homem (representado pela criança - isto é, o homem na sua fragilidade máxima). A própria serpente (o animal que despoletou a desarmonia universal, ao estar na origem do afastamento do homem do Deus criador) comungará desta harmonia e desta paz sem fim: é a superação total do desequilíbrio, do conflito, da divisão que o pecado do homem introduziu no mundo.

    Destruídas as inimizades, superadas as desarmonias, o homem viverá em paz, em comunhão total com o seu Deus (vers. 9). No primeiro paraíso, o homem escolheu ser adversário de Deus e escolheu viver no orgulho e na autossuficiência; agora, por ação do "Messias", ele regressou à comunhão com o seu criador e passou a viver no "conhecimento de Deus". É o regresso ao paraíso original.

    ATUALIZAÇÃO
    Para a reflexão, considerar as seguintes questões:

    ¨  Para nós, cristãos, Jesus Cristo é o "Messias" que veio tornar realidade o sonho do profeta. Ele iniciou esse "reino" novo de justiça, de harmonia, de paz sem fim... Cheio do Espírito de Deus, Ele passou pelo mundo convidando os homens a tornarem-se "filhos de Deus" e a viverem no amor, na partilha, no dom da vida... Nós, seguidores de Jesus, temos dado um contributo efetivo para que o "Reino" se torne realidade no mundo?

     

    ¨  A Igreja deve ser o sinal vivo desse "reino" novo de justiça e de paz... É isso que acontece? Ela tem anunciado - com palavras e com gestos - o projeto de Jesus? As nossas comunidades cristãs e religiosas dão testemunho de harmonia, de entendimento, de amor sem limites?

    ¨  Que a realidade do "Reino" se concretize ou não, depende também daquilo que faço ou não faço. Em termos pessoais: o que é que, nas minhas atitudes, nos meus comportamentos, é contratestemunho e impede o nascimento do "Reino" da felicidade e da paz?

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 71 (72)

    Refrão: Nos dias do Senhor nascerá a justiça e a paz para sempre.

    Ó Deus, dai ao rei o poder de julgar
    e a vossa justiça ao filho do rei.
    Ele governará o vosso povo com justiça
    e os vossos pobres com equidade.

    Florescerá a justiça nos seus dias
    e uma grande paz até ao fim dos tempos.
    Ele dominará de um ao outro mar,
    do grande rio até aos confins da terra.

    Socorrerá o pobre que pede auxílio
    e o miserável que não tem amparo.
    Terá compaixão dos fracos e dos pobres
    e defenderá a vida dos oprimidos.

    O seu nome será eternamente bendito
    e durará tanto como a luz do sol;
    nele serão abençoadas todas as nações,
    todos os povos da terra o hão-de bendizer.

     

    LEITURA II - Rom 15, 4-9

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
    Irmãos:

    Tudo o que foi escrito no passado
    foi escrito para nossa instrução,
    a fim de que, pela paciência e consolação que vêm das Escrituras,
    tenhamos esperança.
    O Deus da paciência e da consolação vos conceda
    que alimenteis os mesmos sentimentos uns para com os outros,
    segundo Cristo Jesus,
    para que, numa só alma e com uma só voz,
    glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.
    Acolhei-vos, portanto, uns aos outros,
    como Cristo vos acolheu,
    para glória de Deus.
    Pois Eu vos digo que Cristo Se fez servidor dos judeus,
    para mostrar a fidelidade de Deus
    e confirmar as promessas feitas aos nossos antepassados.
    Por sua vez, os gentios dão glória a Deus pela sua misericórdia,
    como está escrito:
    «Por isso eu Vos bendirei entre as nações
    e cantarei a glória do vosso nome».

    AMBIENTE
    A Carta aos Romanos - já o dissemos no passado domingo - é uma carta de reconciliação, endereçada aos romanos, mas dirigida a toda a Igreja fundada por Jesus. Pretende - numa altura em que fundos culturais diversos e sensibilidades diferentes dividiam os cristãos vindos do judaísmo e os cristãos vindos do paganismo - afastar o perigo da divisão da Igreja e levar todos os crentes (judeo-cristãos e pagano-cristãos) a redescobrir a unidade da fé e a igualdade fundamental de todos diante de Deus. Desde que optaram por Cristo e receberam o batismo, todos receberam o dom de Deus, tiveram acesso à salvação e tornaram-se irmãos, chamados a viver no amor.

    O texto que nos é proposto pertence à segunda parte da carta. Nessa parte (que vai de Rm 12,1 a 15,13), Paulo exorta os cristãos a viver no amor; em concreto, dá aos cristãos algumas indicações de carácter prático acerca do comportamento que devem assumir para com os irmãos.

    MENSAGEM
    O texto que nos é apresentado como segunda leitura tem de ser entendido no contexto mais amplo de uma perícope que vai de 15,1 a 15,13. Literariamente, esta perícope está construída na base de dois parágrafos simétricos (cf. Rm 15,1-6 e 15,7-13) que apresentam uma mesma sequência e uma mesma organização: a) exortação; b) motivação cristológica; c) iluminação a partir da Escritura; d) súplica final.

    Na primeira parte da perícope (cf. Rm 15,1-6), Paulo exorta os cristãos a vencer qualquer tipo de egoísmo e de autossuficiência e a dar as mãos aos mais débeis e necessitados (a); como motivo para este comportamento, Paulo apresenta o exemplo de Cristo, que não procurou seguir um caminho de facilidade, mas escolheu o amor e o dom da vida (b); este comportamento que Paulo pede aos cristãos (e é aqui que começa o texto de hoje) é aquele que a Escritura - que foi escrita para nossa instrução - nos sugere (c); e, finalmente, Paulo pede ao "Deus da perseverança e da consolação" que dê aos cristãos de Roma a harmonia, a fim de que louvem a Deus com um só coração e uma só alma (d).

    Na segunda parte da perícope (cf. Rm 15,7-13), Paulo começa por exortar os crentes a não fazerem discriminações, mas a acolherem todos (a); como motivo para este comportamento, Paulo aponta o exemplo de Cristo, que acolheu todos os homens (b); e Paulo justifica o que disse atrás com o exemplo da Escritura (e é neste ponto que termina o trecho que a liturgia nos propõe como segunda leitura), citando explicitamente vários textos do Antigo Testamento (c); finalmente, Paulo pede ao "Deus da esperança" que cumule os crentes "de alegria e de paz, na fé" (d).

    O mais importante de tudo isto é a mensagem fundamental que sobressai nesta dupla estrutura: a comunidade deve viver em harmonia, acolhendo e ajudando os mais fracos, sem discriminar nem excluir ninguém, no amor e na partilha. Cristo é o exemplo que os membros da comunidade devem ter sempre diante dos olhos... Convém também não esquecer que o ser capaz de viver deste jeito é um dom de Deus, dom que os crentes devem pedir em todos os momentos ao Pai.

    ATUALIZAÇÃO
    Refletir as seguintes questões:

    ¨  A comunidade cristã, como rosto visível de Cristo no mundo, tem de ser o lugar do amor, da partilha fraterna, da harmonia, do acolhimento. No entanto, com bastante frequência encontramos comunidades onde os irmãos estão divididos: criticam os outros de forma avulsa, tomam atitudes agressivas que afastam os mais débeis, discriminam aqueles que não entram na sua "panelinha", estão aferrados ao poder e fazem tudo para dominar os outros e para afirmar a sua superioridade... Isto acontece na minha comunidade? Eu tenho algumas responsabilidades nessa situação? O que posso fazer para mudar as coisas?

    ¨  Convém não esquecer que a conversão à harmonia, à partilha com os mais pobres, ao amor fraterno, ao dom da vida é algo exigente, que não pode ser feito contando apenas com a boa vontade do homem; mas é algo que só pode ser feito com a força e com a ajuda de Deus... Lembro-me de pedir a Deus a sua ajuda para vencer o meu egoísmo e a minha autossuficiência e para amar verdadeiramente os meus irmãos? Estou disposto a ir ao seu encontro e a deixar que Ele converta o meu coração e a minha vida?

     

    ALELUIA - Lc 3, 4.6

    Aleluia. Aleluia.

    Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas
    e toda a criatura verá a salvação de Deus.

     

    EVANGELHO - Mt 3, 1-12

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
    Naqueles dias,
    apareceu João Baptista a pregar no deserto da Judeia, dizendo:
    «Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus».
    Foi dele que o profeta Isaías falou, ao dizer:
    «Uma voz clama no deserto:
    'Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas'».
    João tinha uma veste tecida com pelos de camelo
    e uma cintura de cabedal à volta dos rins.
    O seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre.
    Acorria a ele gente de Jerusalém,
    de toda a Judeia e de toda a região do Jordão;
    e eram batizados por ele no rio Jordão,
    confessando os seus pecados.
    Ao ver muitos fariseus e saduceus que vinham ao seu batismo,
    disse-lhes:
    «Raça de víboras,
    quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?
    Praticai ações
    que se conformem ao arrependimento que manifestais.
    Não penseis que basta dizer:
    'Abraão é o nosso pai',
    porque eu vos digo:
    Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão.
    O machado já está posto à raiz das árvores.
    Por isso, toda a árvore que não dá fruto
    será cortada e lançada ao fogo.
    Eu batizo-vos com água,
    para vos levar ao arrependimento.
    Mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu
    e não sou digno de levar as suas sandálias.
    Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo.
    Tem a pá na sua mão:
    há de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro.
    Mas a palha, queimá-la-á num fogo que não se apaga».

     

    AMBIENTE
    Depois do Evangelho da Infância (cf. Mt 1-2), Mateus apresenta a figura que prepara os homens para acolher Jesus: João Baptista.

    João foi o guia carismático de um movimento de cariz popular, que anunciava a proximidade do juízo de Deus. Vivia no deserto de Judá, nas margens do rio Jordão. A sua mensagem estava centrada na urgência da conversão, pois o "juízo de Deus" estava iminente; incluía um rito de purificação pela água, um rito muito frequente, aliás, entre alguns grupos judeus da época. É possível que João estivesse, de alguma forma, relacionado com essa comunidade essénia que estava instalada em Qûmran: o tema do juízo de Deus e os rituais de purificação pela água faziam parte do dia a dia da comunidade essénia.

    Segundo a mais antiga tradição cristã, Jesus esteve muito relacionado com o movimento de João nos inícios da sua vida pública e alguns discípulos de João tornaram-se, a partir de certa altura, discípulos de Jesus (cf. Jo 1,35-42).

    Os primeiros cristãos identificaram João com o mensageiro anunciado em Is 40,3 e com Elias (2 Re 1,8) que, segundo a tradição judaica, anunciaria a chegada do Messias (Mt 11,14; 17,11; Mal 3,23-24 ou, noutras versões, 4,5-6). Nesta interpretação, João seria o precursor que vem preparar o caminho e Jesus o Messias, enviado por Deus para anunciar o reinado de Jahwéh.

     

    MENSAGEM
    Nesta primeira apresentação do Baptista, há vários fatores que nos interessa pôr em relevo: a figura, a mensagem, as reações ao anúncio e a comparação entre o batismo de João e o batismo de Jesus.

    A figura do Baptista é uma figura que, por si só, nos questiona e interpela. João aparece ligado ao deserto (o lugar das privações, do despojamento, mas também o lugar tradicional do encontro entre Jahwéh e Israel) e não ao Templo ou aos sítios "in" onde se reúne a sociedade seleta de Jerusalém; usa "uma veste tecida com pelos de camelo e uma cintura de cabedal à volta dos rins" (é dessa forma que se vestia, também, Elias - cf. 2 Re 1,8), não as roupas finas, com pregas cuidadosamente estudadas, dos sacerdotes da capital; a sua alimentação frugal (de "gafanhotos e mel silvestre") está em profundo contraste com as iguarias finas que enchem as mesas da classe dirigente... João é, portanto, um homem que - não só com palavras, mas também com a sua própria pessoa - questiona um certo jeito de viver, voltado para as coisas, para os bens materiais, para o "ter". Convida a uma conversão, a uma mudança de valores, a esquecer o supérfluo, para dar atenção ao essencial.

    O que é que João prega? Mateus resume o anúncio de João numa frase: "convertei-vos ("metanoeite"), porque está perto o Reino dos céus" (vers. 2). O verbo grego (metanoéo) aqui utilizado tem, normalmente, o sentido de "mudar de mentalidade"; mas aqui deve ser visto na perspetiva do Antigo Testamento, isto é, como um apelo a um retorno incondicional ao Deus da Aliança.

    Porque é que esta "conversão" é tão urgente? Porque o "Reino dos céus" está perto. Muito provavelmente, João ligava a vinda iminente do "Reino" ao "juízo de Deus", que iria destruir os maus e inaugurar, com os bons, um mundo novo (por isso, fala da "cólera que está para vir" - vers. 7; e acrescenta: "o machado já está posto à raiz das árvores. Por isso, toda a árvore que não dá fruto será cortada e lançada ao fogo" - vers. 10). A conversão era urgente, na perspetiva de João, pois aproximava-se a intervenção justiceira de Deus na história humana; quem não estivesse do lado de Deus seria aniquilado... É uma perspetiva muito em voga em certos ambientes apocalípticos da época, nomeadamente na teologia dos essénios de Qûmran.

    Quem são os destinatários desta mensagem? Aparentemente, é uma mensagem destinada a todos. Mateus fala da "gente que acorria de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região do Jordão" e que era batizada "por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados" (vers. 5-6).

    No entanto, Mateus faz uma referência especial aos fariseus e saduceus, para quem João tem palavras duríssimas: "raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Praticai ações que se conformem ao arrependimento que manifestais. Não penseis que basta dizer: «Abraão é nosso pai»..." (vers. 7-9). Trata-se de pessoas que "à cautela" ou por curiosidade vêm ao encontro de João; no entanto, sentem que o "juízo de Deus" não os atingirá porque eles são filhos de Abraão, são membros privilegiados do Povo eleito e estão do lado dos bons: Deus não terá outro remédio senão salvá-los, quando vier para julgar o mundo e condenar os maus. João avisa que não há salvação assegurada obrigatoriamente a quem tem o nome inscrito nos registos do povo eleito: é preciso viver em contínua conversão e fazer as obras de Deus: "toda a árvore que não dá fruto, será cortada e lançada ao fogo" (vers. 10).

    Neste texto aparece também, em relevo, um rito praticado por João. Consistia na imersão na água do rio Jordão das pessoas que aderiam a esse apelo à conversão. Era, aliás, um rito praticado em certos ambientes judaicos para significar a purificação do coração (nos ambiente essénios, os banhos quotidianos expressavam o esforço em direção a uma vida pura e a aspiração à graça purificadora)... O batismo de João significava o arrependimento, o perdão dos pecados e a agregação ao "resto de Israel", subtraído à ira de Deus.

    No entanto, João avisa: "aquele que vem depois de mim (...) batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo" (vers. 11). De facto, o batismo de Jesus vai muito além do batismo de João: confere a quem o recebe a vida de Deus (Espírito) e torna-o "filho de Deus"; além disso, implica uma incorporação na Igreja (a comunidade dos que aderiram à proposta de salvação que Cristo trouxe) e a participação ativa na missão da Igreja (cf. At 2,1-4). Não significa, apenas, o arrependimento e o perdão dos pecados; significa um quadro de vida completamente novo, uma relação de filiação com Deus e de fraternidade com Jesus e com todos os outros batizados.

     

    ATUALIZAÇÃO
    A reflexão pode partir dos seguintes dados:

    ¨  A questão dominante que o Evangelho de hoje nos apresenta é a da conversão. Não é possível acolher "aquele que vem" se o nosso coração estiver cheio de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de preocupação com os bens materiais... É preciso, portanto, uma mudança da nossa mentalidade, dos nossos valores, dos nossos comportamentos, das nossas atitudes, das nossas palavras; é preciso um despojamento de tudo o que rouba espaço ao "Senhor que vem". Estou disposto a esta mudança, para que no meu coração haja lugar para Jesus? O que é que, prioritariamente, deve mudar na minha vida?

    ¨  A figura de João Baptista obriga-nos a questionar as nossas prioridades e valores fundamentais. Ele não se apresenta de "smoking", pois a sua prioridade não é brilhar em alguma festa do jet-set; nem usa gravata e camisa de seda, pois a sua prioridade não é impressionar os chefes ou mostrar que é um homem de sucesso em termos de ganhos anuais; nem petisca pratos delicados com molhos esquisitos e nomes franceses, pois a sua prioridade não é a satisfação de apetites físicos; nem promete bem-estar e riqueza aos seus interlocutores, pois a sua prioridade não é receber aplausos das massas; nem busca o apoio da hierarquia civil ou religiosa, pois a sua prioridade não é o triunfo, as honras, o poder... João Baptista é alguém para quem a prioridade é o anúncio do "Reino dos céus". Ora, o "Reino" é despojamento, simplicidade, amor total, partilha, dom da vida... São esses valores que ele procura anunciar, com palavras e com atitudes. E quanto a mim, quais são os valores que me fazem "correr"? Quais são as minhas prioridades? Os meus valores são os valores do "Reino" ou são esses valores efémeros e fúteis a que a civilização ocidental dá tanta importância, mas que não trazem nada de duradouro e de verdadeiro à vida dos homens?

    ¨  O texto evangélico deixa claro que não chega ser "filho de Abraão" para ter acesso à salvação que Jesus veio oferecer, mas é preciso viver uma vida de fidelidade a Deus. Quer dizer: não chega ter o nome inscrito no livro de registos de batismo da paróquia, nem ter casado na Igreja, nem ter posto os filhos na catequese e aparecer lá para tirar fotografias na festa da primeira comunhão (o estatuto do "cristão não praticante" faz tanto sentido como um círculo quadrado); mas é preciso uma conversão séria, empenhada, nunca acabada ao "Reino" e aos seus valores e uma vida coerente com a fé que escolhemos quando fomos batizados.

    ¨  João deixa claro que receber o batismo de Jesus é receber o batismo do Espírito... Equivale a aceitar ser "filho de Deus", a viver em comunhão com Deus, no amor e na partilha com os irmãos que caminham ao nosso lado. É esse o caminho que eu procuro, dia a dia, percorrer?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2.º DOMINGO DO ADVENTO
    (algumas são adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao 2.º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. PRESTAR ATENÇÃO À VIRGEM MARIA.

    A proximidade da Solenidade da Imaculada Conceição, a celebrar nesta semana, cujo dogma foi proclamado a 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX, pode convidar-nos hoje a uma atenção particular à Virgem Maria. Esta atenção pode ser expressa por uma decoração mais cuidada de uma imagem da Virgem. Mas ao longo da celebração, ou talvez no final da missa, algumas crianças podem levar um ramo de flores e/ou algumas lamparinas acesas que colocam aos pés da imagem, enquanto a assembleia canta um cântico a Nossa Senhora com tonalidade do Advento ou alguém lê uma oração ou um poema.

    3. JOÃO BAPTISTA, PROFETA-PERCURSOR.

    João Baptista é, em cada ano, uma grande figura deste tempo do Advento. Falamos bastante dele, mas será que o conhecemos bem? Na preparação da liturgia, pode-se comunicar melhor como João Baptista tem um verdadeiro lugar de charneira entre o Antigo e o Novo Testamento. Pode ser uma maneira de sublinhar, nas celebrações destes domingos, a iminência da vinda de Cristo, a iminência do Reino. As admonições e algumas intenções da oração dos fiéis podem ser redigidas nesse sentido. Ou ainda, porque não viver de perto esta celebração com João Baptista? Ele pode ser mencionado no início do rito penitencial, no início do credo, no início do "Cordeiro de Deus" (foi João Baptista que assim designou Jesus).

    4. BILHETE DE EVANGELHO.

    Aos homens à procura de um coração novo, Deus dá uma terra nova. Jesus veio para falar de novidade: "Convertei-vos! Acreditai na Boa Nova!" Temos necessidade de ouvir palavras novas (ternura, amor, perdão, solidariedade, respeito...) que façam calar as palavras antigas (violência, ódio, vingança, indiferença, racismo...). Temos necessidade de ver gestos novos (assinatura de paz, reconciliação, dom, partilha...) que façam desaparecer os gestos antigos (declaração de guerra, rancor, crispação, egoísmo...). Preparar-se para o Natal... não será dispor-se a falar uma linguagem nova e a fazer novas ações? Essa poderá ser a nossa maneira de acolher Aquele que vem fazer todas as coisas novas. Mas não as fará sem nós...

    5. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Bendito sejas, nosso Pai, por nos teres enviado e dado o teu Filho Jesus. N'Ele reconhecemos a plenitude do teu Espírito: sabedoria, discernimento, conselho, fortaleza, conhecimento e piedade.
    Nós Te pedimos pela nossa terra: que o conhecimento de Jesus lhe obtenha a paz, realizando o tempo em que o lobo habitará com o cordeiro.

    No final da segunda leitura:
    Nós Te bendizemos pelo dom dos livros santos que lemos nas nossas assembleias e pelo dom do teu Filho, que Se fez servidor da nossa humanidade e nos acolheu, apesar dos nossos pecados.
    Nós Te pedimos por todas as comunidades cristãs: faz com que estejamos de acordo e vivamos em comunhão segundo o teu Espírito Santo.

    No final do Evangelho:
    Nós Te damos graças por João Baptista, o precursor, pelos apelos à conversão e pelo batismo no Espírito, que nos incorporou no teu Filho.
    Abrimos as mãos para Ti e pedimos-Te ainda por nós mesmos: pelo teu Espírito, produz nos nossos corações os frutos que esperas.

     

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

    Pode-se escolher a Oração Eucarística II, pois relaciona-se mais explicitamente com os textos da liturgia da Palavra de hoje...

     

    7. PALAVRA EXPLICADA 1: ESCRITURAS OU LIVROS SAGRADOS.

    No início da segunda leitura deste domingo, o apóstolo refere-se às Escrituras, que se poderiam denominar também Livros Sagrados. Tais referências são frequentes no Novo Testamento. Assim, Jesus podia mesmo dizer que as Escrituras  dão testemunho d'Ele (Jo 5,39) e os evangelistas apresentam, muitas vezes, as suas palavras e os seus atos como o cumprimento das Escrituras (Mt 1,22; 2,15; etc.). Trata-se aqui dos Livros que os cristãos consideram como constituindo o Antigo Testamento (expressão empregue pelo apóstolo Paulo, 2 Cor 3,14) e aos quais juntaram progressivamente os escritos que constituem o Novo Testamento. O catálogo dos livros reconhecidos, que se chama o Cânon (ou regra) das Escrituras, foi estabelecido pela prática litúrgica. Dito de outro modo, eram considerados como Livros Sagrados aqueles que poderiam ser lidos nas assembleias das sinagogas, para os judeus (como Isaías em Lc 4,17), ou nas igrejas, para os cristãos (primeira menção em 1 Ts 5,27).

     

    8. PALAVRA EXPLICADA 2: FILHOS DE ABRAÃO.

    Na Oração Eucarística I, recordamos que a Deus Lhe agradou "acolher o sacrifício do nosso pai Abraão". Assim, como cristãos, reconhecemo-nos filhos de Abraão. Este título refere-se à Aliança que Deus fez com Abraão, prometendo-lhe uma descendência inumerável (Gen 15,1-6). Ora, Abraão e a sua mulher Sara, estéril até essa altura, eram de idade avançada (Gen 18,9-15). O nascimento do seu filho, Isaac, foi para eles um dom inesperado de Deus. Em seguida, Deus recusou que este filho Lhe fosse oferecido em sacrifício (Gen 22,11-18). Isaac foi, pois, reconhecido como o filho da promessa e Abraão como o pai dos crentes, porque tinha dado a Deus a sua plena confiança (Gen 15,6). Isso foi amplamente comentado nos escritos do Novo Testamento, para demonstrar que a verdadeira descendência de Abraão não vinha da geração física, mas da fé: são filhos de Abraão todos aqueles que dão a Deus a sua confiança sem reservas; é por esta fé que são justificados por Deus e não em razão dos seus próprios atos (Rom 4, etc.).

     

    9. ATENÇÃO ÀS CRIANÇAS: A MARAVILHOSA HISTÓRIA CONTADA POR ISAÍAS.

    A primeira leitura deste domingo é uma página profética muito bela. Se houver oportunidade de passar algum tempo com as crianças durante a liturgia da Palavra, pode-se utilizar algumas linguagens mais adaptadas: explicar às crianças que Isaías representa aqui a felicidade que Jesus nos traz (harmonia, paz, reconciliação para toda a criação); com as cartas de jogo que representam diversos animais, pode-se ver os que podem estar juntos ou não (por exemplo, um lobo e um cordeiro juntos, o que pode acontecer?); depois, descobrimos que, em Jesus, a felicidade é possível. O que Isaías imagina para os animais pode acontecer também com as pessoas, se elas quiserem...

     

    10. PALAVRA PARA O CAMINHO.

    Convertei-vos! Um sonho muito belo este de Isaías! No estado atual do mundo, como imaginar a sua realização? A chave é-nos dada por João: "Convertei-vos!" Reconhecer o nosso pecado! Deixar o fogo do Espírito queimar-nos e transformar-nos! É a partir de cada um de nós que começa o mundo novo. É a partir do coração novo de cada um de nós que o mundo poderá ter um novo coração! Mais uma semana para rezar e praticar a conversão! Mãos à obra!

     

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    Proposta para
    Escutar, Partilhar, Viver e Anunciar a Palavra nas Comunidades Dehonianas
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • Solenidade da Imaculada Conceição - Ano A

    Solenidade da Imaculada Conceição - Ano A


    8 de Dezembro, 2022

    ANO A
    SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA
    Padroeira de Portugal e Moçambique

    Tema da Solenidade da Imaculada Conceição

    Na Solenidade da Imaculada Conceição somos convidados a equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo.
    A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher, um projeto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
    A primeira leitura mostra, recorrendo à história mítica de Adão e Eva, o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência... Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.
    O Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu "sim" total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo.

    LEITURA I - Gen 3, 9-15.20

    Leitura do Livro do Génesis

    Depois de Adão ter comido da árvore,
    o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?»
    Ele respondeu:
    «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
    e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
    Disse Deus:
    «Quem te deu a conhecer que estavas nu?
    Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
    Adão respondeu:
    «A mulher que me destes por companheira
    deu-me do fruto da árvore e eu comi».
    O Senhor Deus perguntou à mulher:
    «Que fizeste?»
    E a mulher respondeu:
    «A serpente enganou-me e eu comi».
    Disse então o Senhor Deus à serpente:
    «Por teres feito semelhante coisa,
    maldita sejas entre todos os animais domésticos
    e entre todos os animais selvagens.
    Hás de rastejar e comer do pó da terra
    todos os dias da tua vida.
    Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
    entre a tua descendência e a descendência dela.
    Esta te esmagará a cabeça
    e tu a atingirás no calcanhar».
    O homem deu à mulher o nome de 'Eva',
    porque ela foi a mãe de todos os viventes.

    AMBIENTE

    O relato jahwista de Gn 2,4b-3,24 sobre as origens da vida e do pecado, ao qual pertence o texto que hoje nos é proposto como primeira leitura, é, de acordo com a maioria dos comentadores, um texto do séc. X a.C., que deve ter aparecido em Judá na época do rei Salomão. Apresenta-se num estilo exuberante e vivo e parece ser obra de um catequista popular, que ensina recorrendo a imagens sugestivas, coloridas e fortes.
    Não podemos, de forma nenhuma, ver neste texto uma reportagem jornalística de acontecimentos passados na aurora da humanidade. A finalidade do autor não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Jahwéh e que na origem do mal e do pecado estão as opções erradas do homem. Trata-se, portanto, de uma página de catequese.
    Esta longa reflexão sobre as origens da vida e do mal que desfeia o mundo está estruturada num esquema tripartido, com duas situações claramente opostas e uma realidade central que aparece como charneira e ao redor da qual giram a primeira e a terceira parte...
    Na primeira parte (cf. Gn 2,4b-25), o autor descreve a criação do paraíso e do homem; apresenta a criação de Deus como um espaço ideal de felicidade, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão total com o criador e com as outras criaturas.
    Na segunda parte (cf. Gn 3,1-7), o autor descreve o pecado do homem e da mulher; mostra como as opções erradas do homem introduziram na comunhão do homem com Deus e com o resto da criação fatores de desequilíbrio e de morte.
    Na terceira parte (cf. Gn 3,8-24), o autor apresenta o homem e a mulher confrontados com o resultado das suas opções erradas e as consequências que daí advieram, quer para o homem, quer para o resto da criação.
    Na perspetiva do catequista jahwista, Deus criou o homem para a felicidade... Então, pergunta ele, como é que hoje conhecemos o egoísmo, a injustiça, a violência que desfeiam o mundo? A resposta é: algures na história humana, o homem que Deus criou livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu na criação boa de Deus dinamismos de sofrimento e de morte.
    O nosso texto pertence à terceira parte do tríptico. Os personagens intervenientes são Deus, que "passeia no jardim à brisa do dia" (vers. 8a), Adão e Eva, que se esconderam de Deus por entre o arvoredo do jardim (vers. 8b).

    MENSAGEM

    A nossa leitura começa com a "investigação" de Deus... Antes de proferir a sua acusação, Deus - o acusador e juiz - investiga, descobre e estabelece os factos.
    Primeira pergunta feita por Deus ao homem: "onde estás?" A resposta do homem é já uma confissão da sua culpabilidade: "ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me" (vers. 9-10). A vergonha e o medo são sinal de uma perturbação interior, de uma rutura com a anterior situação de inocência, de harmonia, de serenidade e de paz. Como é que o homem chegou a esta situação? Evidentemente, desobedecendo a Deus e percorrendo caminhos contrários àqueles que Deus lhe havia proposto. A resposta do homem trai, portanto, o seu segredo e a sua culpa.
    Depois desta constatação, a segunda pergunta feita por Deus ao homem é meramente retórica: "terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira de comer?" (vers. 11). A árvore em causa, a "árvore do conhecimento do bem e do mal", significa o orgulho, a autossuficiência, o prescindir de Deus e das suas propostas, o querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, o pôr-se a si próprio em lugar de Deus, o reivindicar autonomia total em relação ao criador. A situação do homem, perturbado e em rutura, é já uma resposta clara à pergunta de Deus... É evidente que o homem "comeu da árvore proibida", isto é, escolheu um caminho de orgulho e de autossuficiência em relação a Deus. Daí a vergonha e o medo.
    Ao defender-se, o homem acusa a mulher e, ao mesmo tempo, acusa veladamente o próprio Deus pela situação em que está: "a mulher que me deste por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi" (vers. 12). Adão representa essa humanidade que, mergulhada no egoísmo e na autossuficiência, esqueceu os dons de Deus e vê em Deus um adversário; por outro lado, a resposta de Adão mostra, igualmente, uma humanidade que quebrou a sua unidade e se instalou na cobardia, na falta de solidariedade, no ódio. Escolher caminhos contrários aos de Deus não pode senão conduzir a uma vida de rutura com Deus e com os outros irmãos.
    Vem, depois, a "defesa" da mulher: "a serpente enganou-me e eu comi" (vers. 13). Entre os povos cananeus, a serpente estava ligada aos rituais de fertilidade e de fecundidade. Os israelitas deixavam-se fascinar por esses cultos e, com frequência, abandonavam Jahwéh para seguir os rituais religiosos dos cananeus e assegurar, assim, a fecundidade dos campos e dos rebanhos. Na época em que o autor jahwista escreve, a serpente era, pois, o "fruto proibido", que seduzia os crentes e os levava a abandonar a Lei de Deus. A "serpente" é, neste contexto, um símbolo literário de tudo aquilo que afastava os israelitas de Jahwéh. A resposta da "mulher" confirma tudo aquilo que até agora estava sugerido: é verdade, a humanidade que Deus criou prescindiu de Deus, ignorou as suas propostas e enveredou por outros caminhos. Achou, no seu egoísmo e autossuficiência, que podia encontrar a verdadeira vida à margem de Deus, prescindindo das propostas de Deus.
    Diante disto, não são precisas mais perguntas. Está claramente definida a culpa de uma humanidade que pensou poder ser feliz em caminhos de egoísmo e de autossuficiência, totalmente à margem dos caminhos que foram propostos por Deus.
    Que tem Deus a acrescentar? Pouco mais, a não ser condenar como falsos e enganosos esses cultos e essas tentações que seduziam os israelitas e os colocavam fora da dinâmica da Aliança e dos mandamentos (vers. 14-15). O nosso catequista jahwista sabe que a serpente é um animal miserável, que passa toda a sua existência mordendo o pó da terra. O autor vai servir-se deste dado para pintar, plasticamente, a condenação radical de tudo aquilo que leva os homens a afastar-se dos caminhos de Deus e a enveredar por caminhos de egoísmo e de autossuficiência.
    O que é que significa a inimizade e a luta entre a "descendência" da mulher e a "descendência" da serpente? Provavelmente, o autor jahwista está apenas a dar uma explicação etiológica (uma "etiologia" é uma tentativa de explicar o porquê de uma determinada realidade que o autor conhece no seu tempo, a partir de um pretenso acontecimento primordial, que seria o responsável pela situação atual) para o facto de a serpente inspirar horror aos humanos e de toda a gente lhe procurar "esmagar a cabeça"; mas a interpretação judaica e cristã viu nestas palavras uma profecia messiânica: Deus anuncia que um "filho da mulher" (o Messias) acabará com as consequências do pecado e inserirá a humanidade numa dinâmica de graça.
    Atenção: o autor sagrado não está a falar de um pecado cometido nos primórdios da humanidade pelo primeiro homem e pela primeira mulher; mas está a falar do pecado cometido por todos os homens e mulheres de todos os tempos... Ele está apenas a ensinar que a raiz de todos os males está no facto de o homem prescindir de Deus e construir o mundo a partir de critérios de egoísmo e de autossuficiência. Não conhecemos bem este quadro?

    ATUALIZAÇÃO

    • Um dos mistérios que mais questiona os nossos contemporâneos é o mistério do mal... Esse mal que vemos, todos os dias, tornar sombria e deprimente essa "casa" que é o mundo, vem de Deus, ou vem do homem? A Palavra de Deus responde: o mal nunca vem de Deus... Deus criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para imprimirmos à nossa existência uma dinâmica de vida, de felicidade, de realização plena.

    • O mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, do nosso egoísmo e autossuficiência. Quando o homem escolhe viver orgulhosamente só, ignorando as propostas de Deus e prescindindo do amor, constrói cidades de egoísmo, de injustiça, de prepotência, de sofrimento, de pecado... Quais os caminhos que eu escolho? As propostas de Deus fazem sentido e são, para mim, indicações seguras para a felicidade, ou prefiro ser eu próprio a fazer as minhas escolhas, à margem das propostas de Deus?

    • O nosso texto deixa também claro que prescindir de Deus e caminhar longe dele leva o homem ao confronto e à hostilidade com os outros homens e mulheres. Nasce, então, a injustiça, a exploração, a violência. Os outros homens e mulheres deixam de ser irmãos para passarem a ser ameaças ao próprio bem-estar, à própria segurança, aos próprios interesses. Como é que eu me situo face aos meus irmãos? Como é que eu me relaciono com aqueles que são diferentes, que invadem o meu espaço e interesses, que me questionam e interpelam?

    • O nosso texto ensina, ainda, que prescindir de Deus e dos seus caminhos significa construir uma história de inimizade com o resto da criação. A natureza deixa de ser, então, a casa comum que Deus ofereceu a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar algo que eu uso e exploro em meu proveito próprio, sem considerar a sua dignidade, beleza e grandeza. O que é que a criação de Deus significa para mim: algo que eu posso explorar de forma egoísta, ou algo que Deus ofereceu a todos os homens e mulheres e que eu devo respeitar e guardar com amor?

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 97 (98)

    Refrão: Cantai ao Senhor um cântico novo:
    o Senhor fez maravilhas.

    Cantai ao Senhor um cântico novo,
    pelas maravilhas que Ele operou.
    A sua mão e o seu santo braço
    Lhe deram a vitória.

    O Senhor deu a conhecer a salvação,
    revelou aos olhos das nações a sua justiça.
    Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
    em favor da casa de Israel.

    Os confins da terra puderam ver
    a salvação do nosso Deus.
    Aclamai o Senhor, terra inteira,
    exultai de alegria e cantai.

    LEITURA II - Ef 1, 3-6.11-12

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

    Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
    que do alto dos Céus nos abençoou
    com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.
    N'Ele nos escolheu, antes da criação do mundo,
    para sermos santos e irrepreensíveis,
    em caridade, na sua presença.
    Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade,
    a fim de sermos seus filhos adotivos, por Jesus Cristo,
    para louvor da sua glória
    e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho.
    Em Cristo fomos constituídos herdeiros,
    por termos sido predestinados,
    segundo os desígnios d'Aquele que tudo realiza
    conforme a decisão da sua vontade,
    para sermos um hino de louvor da sua glória,
    nós que desde o começo esperámos em Cristo.

    AMBIENTE

    A cidade de Éfeso, capital da Província romana da Ásia, estava situada na costa ocidental da Ásia Menor. O seu importante porto e a sua numerosa população, faziam dela uma cidade florescente. Paulo passou em Éfeso na sua segunda viagem missionária (cf. At 18,19-21) e, durante a sua terceira viagem missionária, fez de Éfeso o quartel-general, a partir do qual evangelizou toda a zona ocidental da Ásia Menor.
    A Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma "carta circular" enviada a várias igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo está na prisão (em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60.
    Alguns veem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente. O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo que o autor chama "o mistério": trata-se do projeto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos "últimos tempos", tornado presente no mundo pela Igreja.
    O texto que nos é hoje proposto aparece no início da carta. É parte de um hino litúrgico que deve ter circulado nas comunidades cristãs antes de ser enxertado aqui por Paulo. Este hino dá graças pela ação do Pai (cf. Ef 1,3-6), do Filho (cf. Ef 1,7-12) e do Espírito Santo (cf. Ef 1,13-14) no sentido de oferecer aos homens a salvação.

    MENSAGEM

    A ação de graças dirige-se a Deus, pois Ele é a fonte última de todas as graças concedidas aos homens. Essas graças atingiram os homens através do Filho, Jesus Cristo.
    Qual é então, segundo este hino, a ação do Pai?
    O Pai, no seu amor, elegeu-nos desde sempre, "antes da criação do mundo". Elegeu-nos para quê? A resposta é: "para sermos santos e irrepreensíveis". A palavra "santo" indica a situação de alguém que foi separado do mundo e consagrado a Deus, para o serviço de Deus; a palavra "irrepreensível" era usada para falar das vítimas oferecidas em sacrifício a Deus, que deviam ser imaculadas e sem defeito... Significa, pois, uma santidade, isto é, uma consagração a Deus verdadeira e radical.
    Além de nos eleger, o Pai predestinou-nos "para sermos seus filhos adotivos". Através de Cristo, o Pai ofereceu-nos a sua vida e integrou-nos na sua família na qualidade de filhos. O fim desta ação de Deus é o louvor da sua glória.
    "Eleição" e "adoção como filhos" resultam do imenso amor de Deus pelos homens, um amor que é gratuito, incondicional e radical.
    E Jesus Cristo, o Filho, que papel teve neste processo?
    Nos vers. 7-10, que, no entanto, a liturgia deste dia não conservou, o autor do hino refere-se ao sangue derramado de Cristo e ao seu significado redentor. A morte de Jesus na cruz é o sinal evidente do espantoso amor de Deus pelos homens; e dessa forma, Deus ensinou-nos a viver no amor, no amor total e radical. Através de Cristo, Deus derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos o seu projeto de salvação, que o hino chama "o mistério", e que consiste em levar-nos a uma identificação plena com Jesus, na sua ilimitada capacidade de amar e de dar vida, a uma unidade e harmonia totais com Jesus. Identificando-nos com Cristo e ensinando-nos a viver no amor total e radical, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros e com a própria natureza. Da ação redentora de Cristo nasceu, pois, um Homem Novo, capaz de um novo tipo de relacionamento com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a criação, não marcado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela autossuficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida.
    Dessa forma, e voltamos agora a retomar o texto que a liturgia deste dia nos propõe, em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros da salvação, conforme o projeto de Deus preparado desde toda a eternidade em nosso favor (vers. 11-12).

    ATUALIZAÇÃO

    • O nosso texto afirma, de forma clara, que Deus tem um projeto de vida plena e total para os homens, um projeto que desde sempre esteve na mente de Deus. É muito importante termos isto em conta: não somos um acidente de percurso na evolução inexorável do cosmos, mas somos atores principais de uma história de amor que o nosso Deus sempre sonhou e que Ele quis escrever e viver connosco... No meio das nossas desilusões e dos nossos sofrimentos, da nossa finitude e do nosso pecado, dos nossos medos e dos nossos dramas, não esqueçamos que somos filhos amados de Deus, a quem Ele oferece continuamente a vida definitiva, a verdadeira felicidade.

    • De acordo com o nosso texto, Deus "elegeu-nos... para sermos santos e irrepreensíveis". Já vimos que "ser santo" significa ser consagrado para o serviço de Deus. O que é que isto implica em termos concretos? Entre outras coisas, implica tentar descobrir o plano de Deus, o projeto que Ele tem para cada um de nós e concretizá-lo dia a dia com verdade, fidelidade e radicalidade. No meio das solicitações do mundo e das exigências da nossa vida profissional, social e familiar, temos tempo para Deus, para dialogar com Ele e para tentar perceber os seus projetos e propostas? E temos disponibilidade e vontade de concretizar as suas propostas, mesmo quando elas não são conciliáveis com os nossos interesses pessoais?

    • O nosso texto afirma, ainda, a centralidade de Cristo nesta história de amor que Deus quis viver connosco... Jesus veio ao nosso encontro, cumprindo com radicalidade a vontade do Pai e oferecendo-se até à morte para nos ensinar a viver no amor. Como é que assumimos e vivemos essa proposta de amor que Jesus nos apresentou? Aprendemos com Ele a amar sem exceção e com radicalidade?

    ALELUIA - cf. Lc 1, 28

    Aleluia. Aleluia.

    Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,
    bendita sois Vós entre as mulheres.

    EVANGELHO - Lc 1, 26-38

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
    a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
    a uma Virgem desposada com um homem chamado José.
    O nome da Virgem era Maria.
    Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo:
    «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
    Ela ficou perturbada com estas palavras
    e pensava que saudação seria aquela.
    Disse-lhe o Anjo:
    «Não temas, Maria,
    porque encontraste graça diante de Deus.
    Conceberás e darás à luz um Filho,
    a quem porás o nome de Jesus.
    Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
    O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
    reinará eternamente sobre a casa de Jacob
    e o seu reinado não terá fim».
    Maria disse ao Anjo:
    «Como será isto, se eu não conheço homem?».
    O Anjo respondeu-lhe:
    «O Espírito Santo virá sobre ti
    e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
    Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
    E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
    e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
    porque a Deus nada é impossível».
    Maria disse então:
    «Eis a escrava do Senhor;
    faça-se em mim segundo a tua palavra».

    AMBIENTE

    O texto que nos é hoje proposto pertence ao "Evangelho da Infância" na versão de Lucas. De acordo com os biblistas atuais, os textos do "Evangelho da Infância" pertencem a um género literário especial, chamado homologese. Este género não pretende ser um relato jornalístico e histórico de acontecimentos; mas é, sobretudo, uma catequese destinada a proclamar certas realidades salvíficas: que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o "Deus connosco". Desenvolve-se em forma de narração e recorre às técnicas do midrash haggádico, uma técnica de leitura e de interpretação do texto sagrado usada pelos rabbis judeus da época de Jesus. A homologese utiliza e mistura tipologias (factos e pessoas do Antigo Testamento, encontram a sua correspondência em factos e pessoas do Novo Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) para fazer avançar a narração e para explicitar determinada catequese sobre Jesus. O Evangelho que nos é hoje proposto deve ser entendido a esta luz: não interessa, pois, estar aqui à procura de factos históricos; interessa, sobretudo, perceber o que é que a catequese cristã primitiva nos ensina, através destas narrações, sobre Jesus.
    A cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a norte da Palestina, à volta do Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus uma terra longínqua e estranha, em permanente contacto com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que "da Galileia não pode vir nada de bom". Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica e, portanto, de acordo com a mentalidade judaica, completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação.
    Maria, a jovem de Nazaré que está no centro deste episódio, era "uma virgem desposada com um homem chamado José". O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os "esponsais"); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimónias do matrimónio propriamente dito)... Entre os "esponsais" e o rito do matrimónio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante os "esponsais", os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da "prometida" como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27)... E a união entre os dois "prometidos" só podia dissolver-se com a fórmula jurídica do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de "prometidos": ainda não tinham celebrado o matrimónio, mas já tinham celebrado os "esponsais".

    MENSAGEM

    Depois da apresentação do "ambiente" do quadro, Lucas apresenta o diálogo entre Maria e o anjo.
    A conversa começa com a saudação do anjo. Na boca deste, são colocados termos e expressões com ressonância vétero-testamentária, ligados a contextos de eleição, de vocação e de missão. Assim, o termo "ave" (em grego, "kaire") com que o anjo se dirige a Maria é mais do que uma saudação: é o eco dos anúncios de salvação à "filha de Sião", uma figura fraca e delicada que personifica o Povo de Israel, em cuja fraqueza se apresenta e representa essa salvação oferecida por Deus e que Israel deve testemunhar diante dos outros povos (cf. 2 Re 19,21-28; Is 1,8;12,6; Jer 4,31; Sof 3,14-17). A expressão "cheia de graça" significa que Maria é objeto da predileção e do amor de Deus. A outra expressão "o Senhor está contigo" é uma expressão que aparece com frequência ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento (cf. Ex 3,12 - vocação de Moisés; Jz 6,12 - vocação de Gedeão; Jer 1,8.19 - vocação de Jeremias) e que serve para assegurar ao "chamado" a assistência de Deus na missão que lhe é pedida. Estamos, portanto, diante do "relato de vocação" de Maria: a visita do anjo destina-se a apresentar à jovem de Nazaré uma proposta de Deus. Essa proposta vai exigir uma resposta clara de Maria.
    Qual é, então, o papel proposto a Maria no projeto de Deus?
    A Maria, Deus propõe que aceite ser a mãe de um "filho" especial... Desse "filho" diz-se, em primeiro lugar, que ele se chamará "Jesus". O nome significa "Deus salva". Além disso, esse "filho" é apresentado pelo anjo como o "Filho do Altíssimo", que herdará "o trono de seu pai David" e cujo reinado "não terá fim". As palavras do anjo levam-nos a 2 Sm 7 e à promessa feita por Deus ao rei David através das palavras do profeta Nathan. Esse "filho" é descrito nos mesmos termos em que a teologia de Israel descrevia o "messias" libertador. O que é proposto a Maria é, pois, que ela aceite ser a mãe desse "messias" que Israel esperava, o libertador enviado por Deus ao seu Povo para lhe oferecer a vida e a salvação definitivas.
    Como é que Maria responde ao projeto de Deus?
    A resposta de Maria começa com uma objeção... A objeção faz sempre parte dos relatos de vocação do Antigo Testamento (cf. Ex 3,11; 6,30; Is 6,5; Jer 1,6). É uma reação natural de um "chamado", assustado com a perspetiva do compromisso com algo que o ultrapassa; mas é, sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus que, apesar da fragilidade e das limitações dos "chamados", faz deles instrumentos da sua salvação no meio dos homens e do mundo.
    Diante da "objeção", o anjo garante a Maria que o Espírito Santo virá sobre ela e a cobrirá com a sua sombra. Este Espírito é o mesmo que foi derramado sobre os juízes (Oteniel - cf. Jz 3,10; Gedeão - cf. Jz 6,34; Jefté - cf. Jz 11,29; Sansão - cf. Jz 14,6), sobre os reis (Saul - cf. 1 Sm 11,6; David - cf. 1 Sm 16,13), sobre os profetas (cf. Maria, a profetisa irmã de Aarão - cf. Ex 15,20; os anciãos de Israel - cf. Nm 11,25-26; Ezequiel - cf. Ez 2,1; 3,12; o Trito-Isaías - cf. Is 61,1), a fim de que eles pudessem ser uma presença eficaz da salvação de Deus no meio do mundo. A "sombra" ou "nuvem" leva-nos, também, à "coluna de nuvem" (cf. Ex 13,21) que acompanhava a caminhada do Povo de Deus em marcha pelo deserto, indicando o caminho para a Terra Prometida da liberdade e da vida nova. A questão é a seguinte: apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela, fazer-se presente no mundo para oferecer a salvação a todos os homens.
    O relato termina com a resposta final de Maria: "eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra". Afirmar-se como "serva" significa, mais do que humildade, reconhecer que se é um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com tudo o que ela implica, pois, no Antigo Testamento, ser "servo do Senhor" é um título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que Ele reservou para o seu serviço e que Ele enviou ao mundo com uma missão (essa designação aparece, por exemplo, no Deutero-Isaías - cf. Is 42,1; 49,3; 50,10; 52,13; 53,2.11 - em referência à figura enigmática do "servo de Jahwéh"). Desta forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projeto de Deus.

    ATUALIZAÇÃO

    • A liturgia deste dia afirma, de forma clara e insofismável, que Deus ama os homens e tem um projeto de vida plena para lhes oferecer. Como é que esse Deus cheio de amor pelos seus filhos intervém na história humana e concretiza, dia a dia, essa oferta de salvação? A história de Maria de Nazaré, bem como a de tantos outros "chamados", responde, de forma clara, a esta questão: é através de homens e mulheres atentos aos projetos de Deus e de coração disponível para o serviço dos irmãos que Deus atua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu amor, que Ele convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. Já pensámos que é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus se torna presente no mundo e transforma o mundo?

    • Outra questão é a dos instrumentos de que Deus se serve para realizar os seus planos... Maria era uma jovem mulher de uma aldeia obscura dessa "Galileia dos pagãos" de onde não podia "vir nada de bom". Não consta que tivesse uma significativa preparação intelectual, extraordinários conhecimentos teológicos, ou amigos poderosos nos círculos de poder e de influência da Palestina de então... Apesar disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel primordial na etapa mais significativa na história da salvação. A história vocacional de Maria deixa claro que, na perspetiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância ou a visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das suas qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus.

    • Diante dos apelos de Deus ao compromisso, qual deve ser a resposta do homem? É aí que somos colocados diante do exemplo de Maria... Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um "sim" total e incondicional. Naturalmente, ela tinha o seu programa de vida e os seus projetos pessoais; mas, diante do apelo de Deus, esses projetos pessoais passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário. Na atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho, mas há uma entrega total nas mãos de Deus e um acolhimento radical dos caminhos de Deus. O testemunho de Maria é um testemunho questionante, que nos interpela fortemente... Que atitude assumimos diante dos projetos de Deus: acolhemo-los sem reservas, com amor e disponibilidade, numa atitude de entrega total a Deus, ou assumimos uma atitude egoísta de defesa intransigente dos nossos projetos pessoais e dos nossos interesses egoístas?

    • É possível alguém entregar-se tão cegamente a Deus, sem reservas, sem medir os prós e os contras? Como é que se chega a esta confiança incondicional em Deus e nos seus projetos? Naturalmente, não se chega a esta confiança cega em Deus e nos seus planos sem uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus. Maria de Nazaré foi, certamente, uma mulher para quem Deus ocupava o primeiro lugar e era a prioridade fundamental. Maria de Nazaré foi, certamente, uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente n'Ele. No meio da agitação de todos os dias, encontro tempo e disponibilidade para ouvir Deus, para viver em comunhão com Ele, para tentar perceber os seus sinais nas indicações que Ele me dá dia a dia?

    SUGESTÃO PARA REFLEXÃO NA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO

    Ler e refletir a Nota Pastoral dos Bispos Portugueses:
    "Na celebração do 150º aniversário da definição dogmática da Imaculada Conceição"
    (Conferência Episcopal Portuguesa, Fátima, 11 de novembro de 2004)

    1. Desde os primórdios da sua história, Portugal soube sempre acolher-se ao regaço da Mãe de Jesus. Como povo em crescimento e em busca da consolidação de fronteiras, dedicou, desde os primeiros tempos da sua história, uma terna e filial afeição à Virgem Maria que escolhera como sua Senhora.
    De entre as inúmeras invocações, com que a Ela se dirige, sobressai, desde muito cedo, no horizonte de um culto sempre crescente, a da Imaculada Conceição. No Calendário de Salisbury, adotado pelo primeiro bispo de Lisboa reconquistada, Gilberto Hastings (1147-1166), já figurava a referência ao mistério de Maria Imaculada.
    À medida que Portugal se consolidava e se expandia pelo mundo, a veneração e devoção à sua Senhora ia aumentando. No século XVII, o culto de Maria, no Mistério da sua Imaculada Conceição, fazia parte da cultura nacional. Sinais disso, entre muitos outros, são: a consagração de Portugal a Maria Imaculada, a entrega da coroa real à imagem da Senhora da Conceição de Vila Viçosa, pelo Rei D. João IV, e o juramento a que se obrigou o corpo docente da Universidade de Coimbra - de defender e ensinar que Maria fora concebida sem pecado
    No dia 8 de Dezembro de 1854, Pio IX, depois de ter consultado o episcopado do mundo inteiro, declarou solenemente, fazendo apelo à autoridade suprema do seu magistério: "A doutrina segundo a qual a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante da sua conceição, foi por especial privilégio de Deus Omnipotente, com vista aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano, preservada imune de toda a mácula do pecado original, é revelada por Deus e deve por isso ser acreditada por todos os fieis, firmemente e com constância" (Bula Ineffabilis Deus - 08-12-1854).
    Esta definição dogmática, nada acrescentou à fé e devoção do povo português, mas contribuiu, e muito, para as confirmar e robustecer. Prova disso, foi o dinamismo suscitado entre os fiéis de Portugal, no sentido de erguer um monumento nacional que assinalasse a definição de Pio IX. Em 1869 concluía-se esse primeiro monumento, no Sameiro, seguindo-se-lhe a construção dum santuário dedicado à Imaculada Conceição de Maria, cuja imagem foi coroada solenemente há cem anos.
    A Conferência Episcopal Portuguesa, tendo tudo isto presente, quer associar-se às celebrações da Igreja Universal, que assinalam os 150 anos da definição do dogma com o objetivo de estimular os cristãos a um maior aprofundamento desta verdade de fé; e espera, com esta nota, poder contribuir para uma maior veneração d'Aquela que foi redimida de um modo original, pelos méritos do nosso único Salvador, Jesus Cristo.

    2. A iconografia da Imaculada pode ser motivo fecundo de meditação. As alusões bíblicas e teológicas são uma fonte de catequese de longo alcance.
    O dragão pisado pela Virgem lembra antes de mais o mítico Leviatã (Is 27,1; Sl 74,14), monstro marinho que na Bíblia evoca a resistência das águas primordiais ao poder criador e redentor de Deus. Na mesma tradição, esse triunfo de Deus sobre a antiga serpente tem concretização histórica na anunciada vitória da descendência de Eva: "ela esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar" (Gn 3,9-15). Ecos desse combate cósmico percorrem as visões do Apocalipse e estão presentes no sinal aparecido no céu de "uma mulher vestida de Sol, tendo a Lua debaixo dos seus pés e coroada de doze estrelas" (Ap 12,1-6.15-17).
    A descendência de Eva e a mulher do Apocalipse personificam o povo de Deus de que nascerá a seu tempo o Messias, o Emanuel, Deus connosco.
    Para a Tradição cristã, esses símbolos enraízam na história. Assim, os Padres da Igreja não cessam de apelidar a Mãe de Jesus de Nova Eva, Filha de Sião, Aquela que, na sua plenitude de graça, realiza o que em Eva estava prefigurado. Não por mérito próprio, mas como a mais perfeitamente redimida ou como diz o Vaticano II: "remida de modo mais sublime" (LG 53), Maria agiganta-se, aos nossos olhos como verdadeiramente "cheia de graça".

    3. Segundo o testemunho de Lucas, a maternidade de Maria implicou um ato livre de fé, mais decisivo para a história pública da salvação do que a fé de Abraão ou a Aliança do Sinai.
    Ato de confiante aceitação, tornou-o possível a ação prévia da graça divina, como recorda o Anjo na sua saudação: "Salve, ó cheia da graça, o Senhor está contigo" (Lc 1,28). Na linguagem dos teólogos, a obediência na fé, sem a qual Maria não seria a Mãe de Deus, é pura graça do mesmo Deus.
    Sem a graça divina, a razão e a liberdade humanas permanecem irremediavelmente fechadas em si mesmas, envolvidas por sombras e desejos de uma humanidade pecadora. A jovem de Nazaré abriu caminho à salvação de todos por um ato de desprendimento pessoal: uma resposta arriscada, mas livre e graciosa, ao apelo de Deus para ser Mãe do Salvador. A resposta nasceu de um chamamento, cuja radicalidade e liberdade plena, no caso especial de Maria, a fé cristã assinala, fazendo-as remontar ao primeiro momento da sua existência, o momento da sua Conceição Imaculada.

    4. Todos pecámos em Adão; e todos fomos redimidos e salvos em Cristo (cf. Rm 5,17-18).
    A nossa salvação aconteceu graças aos méritos de Jesus Cristo, que por nós se entregou como Redentor dos pecados que contraímos. A salvação de Maria foi igualmente alcançada mercê da Redenção de seu Filho que Lhe aplicou os seus méritos, preservando-a de contrair o pecado.
    Santo Agostinho, na senda de São Paulo, confirma que todos pecaram "exceto a Virgem Santa Maria, a respeito da Qual, pela honra do Senhor, não é permitido que qualquer questão se levante relacionada com o pecado" (De Natura et Gratia, c. 42).
    O pecado tolda a consciência e endurece o coração. Cheia de graça, Maria, concebida sem pecado, sofre com redobrada violência, a Paixão e Morte de seu Filho, consequência dos pecados dos homens. Bem avisava Simeão que uma espada lhe atravessaria a alma. Tudo isto, aliás, é sentido e vivido pelo povo fiel que encontra, no Coração Imaculado de Maria, um refúgio de Mãe, sempre disponível para acolher as alegrias e tristezas dos filhos e filhas de Deus. Mas o sentido da fé faz-nos ainda descobrir, em Maria, uma outra dimensão de vida: Ela, que não foi tocada pelo pecado, tem uma especial sensibilidade de afeto maternal para com aqueles que pecam; intercede por eles e acompanha-os, de perto, para que se convertam e vivam como verdadeiros filhos de Deus.

    5. Meditar no mistério da Imaculada Conceição de Maria há de levar-nos, antes de mais, ao apreço pelo mistério amoroso da ação redentora de seu divino Filho. Tal Redenção refulge, esplendorosamente, na pessoa de Maria, primeira redimida. Nela se revela a delicadeza da Providência divina que chama cada homem e cada mulher a colaborar na obra da salvação de todos: antes de mais, pelo exercício de uma grande radicalidade e liberdade interior, inspiradas nos apelos de Deus e enraizados no dom gratuito do seu amor; depois, pela correspondência a esse dom, na total fidelidade à nossa filiação divina que Maria, como Mãe, quer tornar cada vez mais sólida em nós.
    A Rosa de Ouro que o Santo Padre oferece, tão carinhosa e paternalmente, ao Santuário do Sameiro, aí ficará como marca indelével de uma presença simbólica do Sumo Pontífice e do seu amor devocional a Nossa Senhora.
    Queira Deus que um tal gesto papal se transforme num permanente apelo, para todos os portugueses, no sentido de cultivarmos e mantermos sempre viçosas as rosas do nosso amor a Maria. Que ela não nos deixe murchar a fé e a devoção que tantos séculos de história construíram no coração das gentes desta praia lusitana.

    Que Maria Santíssima, nossa Mãe Imaculada, olhe para Portugal e por Portugal bem como por toda a humanidade, nos difíceis caminhos da paz.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

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