Week of Set 25th

  • 26º Domingo do Tempo Comum - Ano C

    26º Domingo do Tempo Comum - Ano C


    25 de Setembro, 2022

    ANO C

    26º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 26º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia deste domingo propõe-nos, de novo, a reflexão sobre a nossa relação com os bens deste mundo... Convida-nos a vê-los, não como algo que nos pertence de forma exclusiva, mas como dons que Deus colocou nas nossas mãos, para que os administremos e partilhemos, com gratuidade e amor.
    Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia violentamente uma classe dirigente ociosa, que vive no luxo à custa da exploração dos pobres e que não se preocupa minimamente com o sofrimento e a miséria dos humildes. O profeta anuncia que Deus não vai pactuar com esta situação, pois este sistema de egoísmo e injustiça não tem nada a ver com o projecto que Deus sonhou para os homens e para o mundo.
    O Evangelho apresenta-nos, através da parábola do rico e do pobre Lázaro, uma catequese sobre a posse dos bens... Na perspectiva de Lucas, a riqueza é sempre um pecado, pois supõe a apropriação, em benefício próprio, de dons de Deus que se destinam a todos os homens... Por isso, o rico é condenado e Lázaro recompensado.
    A segunda leitura não apresenta uma relação directa com o tema deste domingo... Traça o perfil do "homem de Deus": deve ser alguém que ama os irmãos, que é paciente, que é brando, que é justo e que transmite fielmente a proposta de Jesus. Poderíamos, também, acrescentar que é alguém que não vive para si, mas que vive para partilhar tudo o que é e que tem com os irmãos?
    LEITURA I - Am 6,1a.4-7

    Leitura da Profecia de Amós

    Eis o que diz o Senhor omnipotente:
    «Ai daqueles que vivem comodamente em Sião
    e dos que se sentem tranquilos no monte da Samaria.
    Deitados em leitos de marfim,
    estendidos nos seus divãs,
    comem os cordeiros do rebanho
    e os vitelos do estábulo.
    Improvisam ao som da lira
    e cantam como David as suas próprias melodias.
    Bebem o vinho em grandes taças
    e perfumam-se com finos unguentos,
    mas não os aflige a ruína de José.
    Por isso, agora partirão para o exílio à frente dos deportados
    e acabará esse bando de voluptuosos».

    AMBIENTE

    Continuamos com Amós, o profeta de Técua, de quem já falámos no passado domingo. Estamos em meados do séc. VIII a.C. (por volta de 762 a.C.), no reino do Norte (Israel). As conquistas de Jeroboão II criaram bem-estar, riqueza, prosperidade; no entanto, a situação de desafogo não beneficia toda a nação, mas um grupo privilegiado (no qual podemos incluir os nobres, os cortesãos, os militares, os grandes latifundiários e os comerciantes sem escrúpulos). Nasce, assim, uma classe dirigente poderosa, cada vez mais rica, que vive instalada no luxo, que explora os pobres e que, apoiada por juízes corruptos, comete ilegalidades e prepotências... Do outro lado, estão os pobres, vítimas inocentes e silenciosas de um sistema que gera injustiça, miséria, sofrimento, opressão. É neste contexto que o "profeta da justiça social" vai fazer ouvir a sua denúncia profética.
    O texto que hoje nos é proposto pertence ao género literário dos "ais" (vers. 1). Começa com uma interjeição ("hwy") que é, habitualmente, usada em lamentações fúnebres. A palavra corresponde ao grito com que as carpideiras acompanham o cortejo fúnebre... É o terceiro "ai" de Amós; os outros dois aparecem em Am 5,7 (a propósito da justiça e dos tribunais) e em Am 5,18 (a propósito do culto). Os profetas utilizam, normalmente, esta palavra como introdução a um oráculo que anuncia o castigo: indica que certas pessoas ou grupos se encontram às portas da morte por causa dos seus pecados.

    MENSAGEM

    Quem são os destinatários da mensagem que Amós propõe neste texto? Quem são esses que se encontram às portas da morte por causa dos seus pecados?
    Trata-se da classe dirigente, rica e indolente, que vive comodamente nos palácios da capital, que esbanja em luxos, que vive numa eterna festa; trata-se desses parasitas que se deitam "em leitos de marfim", que comem alimentos seleccionados, que bebem vinhos raros em excesso, que usam perfumes importados, que se divertem ouvindo música e compondo canções. O mais grave (este texto não o diz directamente, mas a ideia está sempre presente na denúncia de Amós) é que todo este luxo e esbanjamento resultam da exploração dos mais pobres e das rapinas e prepotências cometidas contra os fracos. De resto, esta classe rica e indolente vive egoisticamente mergulhada no seu mundo cómodo e não se preocupa minimamente com a miséria e o sofrimento que aflige os seus irmãos. Os pobres trabalham duramente, numa existência cheia de dores, trabalhos e misérias, para sustentarem a indolência e o luxo da classe dirigente. Deus pode aceitar que esta situação se prolongue indefinidamente?
    É evidente que Deus não está disposto a pactuar com isto. A classe dominante da Samaria está a infringir gravemente os mandamentos da "aliança" e Deus não aceita ser cúmplice daqueles que mantêm um elevado nível de vida à custa do sangue e das lágrimas dos pobres. Por isso, o castigo chegará em forma de exílio numa terra estrangeira (o profeta refere-se à queda da Samaria nas mãos dos assírios de Salamanasar V, em 721 a.C., e à partida da classe dirigente para o cativeiro na Assíria).

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão e partilha, considerar as seguintes questões:

    • O quadro pintado por Amós descreve, em pormenor, situações bem conhecidas de todos nós... Pensemos nas festas do jet-set e nas quantias gastas em roupas, em jóias, em perfumes, por aqueles que as frequentam; pensemos nas quantias gastas em noites de jogatana por gente que paga miseravelmente aos seus operários; pensemos nos governantes que malbaratam os dinheiros públicos e que nem sequer vão a tribunal porque há sempre uma maneira de fazer com que o crime prescreva... E, por contraste, pensemos nos operários que arriscam a vida em obras perigosas, porque o patrão não quis gastar uns trocos com sistemas de segurança; pensemos naqueles que ganham salários mínimos, trabalhando duramente para enriquecer um patrão prepotente e sem escrúpulos, mas que ao fim do mês não têm dinheiro para pagar o infantário dos filhos; pensemos nos trabalhadores clandestinos que não recebem o salário ao fim do mês, porque o patrão desapareceu sem pagar; pensemos naqueles que recebem pensões de miséria e que vivem em condições infra-humanas porque a sua magra reforma mal dá para pagar os medicamentos... Um cristão pode conformar-se com estes contrastes? Que podemos fazer? Como reivindicar, com coragem profética, um mundo mais parecido com o projecto de Deus?

    • Convém, também, aplicarmos o questionamento que a mensagem de Amós exige a nós próprios... Muito provavelmente, não frequentamos as festas do jet-set, nem usamos dinheiros públicos para pagar os nossos divertimentos e esbanjamentos... Mas, numa escala muito menor, não teremos os mesmos vícios que Amós denuncia nesta classe rica e ociosa? Não nos deixamos, às vezes, arrastar pelo desejo de ter, comprando coisas supérfluas e impondo sacrifícios à família para pagar as nossas manias de grandeza? Não gastamos, às vezes, de forma descontrolada, para pagar os nossos pequenos vícios, sem pensar nas necessidades daqueles que dependem de nós? E os religiosos e religiosas com voto de pobreza não gastam, às vezes, de forma supérflua, esquecendo que vivem das ofertas generosas de pessoas que têm menos do que eles?
    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 145 (146)

    Refrão 1: Ó minha alma, louva o Senhor.

    Refrão 2: Aleluia.

    O Senhor faz justiça aos oprimidos,
    dá pão aos que têm fome
    e a liberdade aos cativos.

    O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
    o Senhor levanta os abatidos,
    o Senhor ama os justos.

    O Senhor protege os peregrinos,
    ampara o órfão e a viúva
    e entrava o caminho aos pecadores.

    O Senhor reina eternamente.
    O teu Deus, ó Sião,
    é Rei por todas as gerações.
    LEITURA II - 1 Tim 6,11-16

    Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo

    Caríssimo:
    Tu, homem de Deus, pratica a justiça e a piedade,
    a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão.
    Combate o bom combate da fé,
    conquista a vida eterna, para a qual foste chamado
    e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé
    perante numerosas testemunhas.
    Ordeno-te na presença de Deus,
    que dá a vida a todas as coisas,
    e de Cristo Jesus,
    que deu testemunho da verdade diante de Pôncio Pilatos:
    guarda este mandamento sem mancha
    e acima de toda a censura,
    até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo,
    a qual manifestará a seu tempo
    o venturoso e único soberano,
    Rei dos reis e Senhor dos senhores,
    o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível,
    que nenhum homem viu nem pode ver.
    A Ele a honra e o poder eterno. Amen.

    AMBIENTE

    Continuamos a reflectir a Primeira Carta a Timóteo. Timóteo é esse cristão natural de Listra, filho de pai grego e de mãe judeo-cristã que acompanhou algumas das viagens missionárias de Paulo, a quem Paulo confiou a coordenação pastoral das igrejas da Ásia e que, segundo a tradição, foi o primeiro bispo da Igreja de Éfeso. O autor (que se apresenta como Paulo, embora a atribuição desta carta ao apóstolo seja - como já vimos nos domingos anteriores - bastante problemática) traça, para edificação de Timóteo, o retrato do "homem de Deus".
    O contexto das "cartas pastorais" coloca-nos, presumivelmente, nos inícios do séc. II d.C., numa altura em que as heresias - nomeadamente de tipo gnóstico - começam a incomodar os cristãos. Embora continue a discutir-se o "ambiente" em que as cartas pastorais aparecem, o certo é que se trata de uma época em que a comunidade cristã começa a sofrer a influência de "falsos mestres", que difundem doutrinas estranhas (o autor da carta traça o quadro dos "falsos mestres": são orgulhosos, ignorantes, discutem questões sem importância, fomentam a inveja, a discórdia, os insultos, as suspeitas injustas, as invejas e ciúmes e estão preocupados com as questões do lucro - cf. 1 Tim 6,4-6)... Neste "ambiente", é importante sublinhar as características do verdadeiro discípulo, através de quem a verdadeira fé é transmitida.

    MENSAGEM

    Como deve ser, então, na perspectiva do autor deste texto, o "homem de Deus"?
    O verdadeiro "homem de Deus" (que Timóteo deve representar) tem de distinguir-se por uma vida santa, enraizada na fé e no amor aos irmãos. Em concreto, o "homem de Deus" deve cultivar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a doçura. Tem de ser paciente e manso, diante das dificuldades que o serviço apostólico levanta. Deve guardar "o mandamento do Senhor" - isto é, a verdade da fé que lhe foi transmitida pela tradição apostólica. No que diz respeito ao perfil do "homem de Deus", tudo se resume no amor para com os irmãos, no entusiasmo pelo ministério e na capacidade de transmitir a verdadeira doutrina, herdada dos apóstolos.
    O texto termina com um hino litúrgico, que apresenta Deus como o Senhor dos senhores, o único soberano, aquele que possui a imortalidade, a glória e o poder universal... Trata-se de uma solene doxologia que provém, sem dúvida, do repertório das orações usadas nas sinagogas judaicas do mundo grego e que apresenta Deus em contraste com os falsos deuses e com os títulos humanos atribuídos a reis e imperadores.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão e a partilha, ter em conta os seguintes dados:

    • O retrato aqui esboçado do "homem de Deus" define os traços do verdadeiro crente: ele é alguém que vive com entusiasmo a sua fé, que ama os irmãos (que trata todos com doçura, com paciência, com mansidão) e que dá testemunho da verdadeira doutrina de Jesus, sem se deixar seduzir e desviar pelas modas ou pelos interesses próprios. Identificamo-nos com este modelo?

    • A proposta que aqui é feita a Timóteo deve, sobretudo, caracterizar a vida daqueles que têm responsabilidades na animação das comunidades cristãs. Os animadores das nossas comunidades são, efectivamente, pessoas cheias de amor, de mansidão, de paciência, de capacidade de doar a vida e de servir os irmãos? São pessoas que transmitem, com fidelidade e coerência, o projecto de Jesus, ou são pessoas que transmitem doutrinas próprias, condicionadas pelos seus interesses? Na vida e no testemunho dos animadores das nossas comunidades, nota-se a vontade de dar um verdadeiro testemunho de Jesus e da sua proposta de salvação, ou nota-se a busca de privilégios, de títulos e de honras sociais?
    ALELUIA - 2 Cor 8,9

    Aleluia. Aleluia.

    Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre,
    para nos enriquecer na sua pobreza.
    EVANGELHO - Lc 16,19-31

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos fariseus:
    «Havia um homem rico,
    que se vestia de púrpura e linho fino
    e se banqueteava esplendidamente todos os dias.
    Um pobre, chamado Lázaro,
    jazia junto do seu portão, coberto de chagas.
    Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico,
    mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas.
    Ora sucedeu que o pobre morreu
    e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão.
    Morreu também o rico e foi sepultado.
    Na mansão dos mortos, estando em tormentos,
    levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado.
    Então ergueu a voz e disse:
    'Pai Abraão, tem compaixão de mim.
    Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo
    e me refresque a língua,
    porque estou atormentado nestas chamas'.
    Abraão respondeu-lhe:
    'Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida
    e Lázaro apenas os males.
    Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado,
    enquanto tu és atormentado.
    Além disso, há entre nós e vós um grande abismo,
    de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós,
    ou daí para junto de nós,
    não poderia fazê-lo'.
    O rico insistiu:
    'Então peço-te, ó pai,
    que mandes Lázaro à minha casa paterna
    – pois tenho cinco irmãos –
    para que os previna,
    a fim de que não venham também para este lugar de tormento'.
    Disse-lhe Abraão:
    'Eles têm Moisés e os Profetas.
    Que os oiçam'.
    Mas ele insistiu:
    'Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles,
    arrepender-se-ão'.
    Abraão respondeu-lhe:
    'Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas,
    mesmo que alguém ressuscite dos mortos,
    não se convencerão'.

    AMBIENTE

    A leitura que hoje nos é proposta apresenta mais uma etapa do "caminho de Jerusalém". A história do rico e do pobre Lázaro é um texto exclusivo de Lucas. Não é possível dizer se se trata de uma parábola procedente de uma fonte desconhecida, ou se é uma criação do próprio Lucas... De qualquer forma, trata-se de uma catequese (desenvolvida ao longo de todo o capítulo 16 do Evangelho segundo Lucas) em que se aborda o problema da relação entre o homem e os bens deste mundo. Jesus dirige-Se, aqui, aos fariseus (cf. Lc 16,14), como representantes de todos aqueles que amam o dinheiro e vivem em função dele.

    MENSAGEM

    A parábola tem duas partes.
    Na primeira (vers. 19-26), Lucas apresenta os dois personagens fundamentais da história, segundo um cliché literário muito comum na literatura bíblica: um rico que vive luxuosamente e que celebra grandes festas e um pobre, que tem fome, vive miseravelmente e está doente. No entanto, a morte dos dois muda radicalmente a situação. O que é que, verdadeiramente, está aqui em causa?
    Atentemos nos dois personagens... Do rico diz-se, apenas, que se vestia de púrpura e linho fino, e que dava esplêndidas festas. De resto, não se diz se ele era mau ou bom, se frequentava ou não o templo, se explorava os pobres ou se era insensível ao seu sofrimento (aparentemente, isso não é decisivo para o desfecho); no entanto, quando morreu, foi para um lugar de tormentos. Do pobre Lázaro diz-se, apenas, que jazia ao portão do rico, que estava coberto de chagas, que desejava saciar-se das migalhas que caíam da mesa do rico e que os cães vinham lamber-lhe as chagas; quando morreu, Lázaro foi "levado pelos anjos ao seio de Abraão" (quer dizer, a um lugar de honra no festim presidido por Abraão. Trata-se do "banquete do Reino", onde os eleitos se juntarão - de acordo com o imaginário judaico - com os patriarcas e os profetas); não se diz, no entanto, se Lázaro levou na terra uma vida exemplar ou se cometeu más acções, se foi um modelo de virtudes ou foi um homem carregado de defeitos, se trabalhava duramente ou se foi um parasita que não quis fazer nada para mudar a sua triste situação...
    Nesta história, não parecem ser as acções boas ou más cometidas neste mundo pelos personagens (a história não faz qualquer referência a isso) que decidem a sorte deles no outro mundo. Então, porque é que um está destinado aos tormentos e outro ao "banquete do Reino"?
    A resposta só pode ser uma: o que determina a diferença de destinos é a riqueza e a pobreza. O rico conhece os "tormentos" porque é rico; o pobre conhece o "banquete do Reino" porque é pobre. Mas então, a riqueza será pecado? Aqueles que acumularam riquezas sem defraudar ninguém serão culpados de alguma coisa? Ser rico equivale a ser mau e, portanto, a estar destinado aos "tormentos"?
    Na perspectiva de Lucas, a riqueza - legítima ou ilegítima - é sempre culpada. Os bens não pertencem a ninguém em particular (nem sequer àqueles que trabalharam duramente para se apossar de uma fatia gorda dos bens que Deus colocou no mundo); mas são dons de Deus, postos à disposição de todos os seus filhos, para serem partilhados e para assegurarem uma vida digna a todos... Quem se apossa - ainda que legitimamente - desses bens em benefício próprio, sem os partilhar, está a defraudar o projecto de Deus. Quem usa os bens para ter uma vida luxuosa e sem cuidados, esquecendo-se das necessidades dos outros homens, está a defraudar os seus irmãos que vivem na miséria. Nesta história, Jesus ensina que não somos donos dos bens que Deus colocou nas nossas mãos, ainda que os tenhamos adquirido de forma legítima: somos apenas administradores, encarregados de partilhar com os irmãos aquilo que pertence a todos. Esquecer isto é viver de forma egoísta e, por isso, estar destinado aos "tormentos".
    Na segunda parte do nosso texto (vers. 27-31), insiste-se em que a Escritura - na qual os fariseus eram peritos - apresenta o caminho seguro para aprender e assumir a atitude correcta em relação aos bens. O rico ficou surdo às interpelações da Palavra de Deus ("Moisés e os Profetas") e isso é que decidiu a sua sorte: ele não quis escutar as interpelações da Palavra e não se deixou transformar por ela. O versículo final (vers. 31) expressa perfeitamente a mensagem contida nesta segunda parte: até mesmo os milagres mais espectaculares são inúteis, quando o homem não acolheu no seu coração a Palavra de Deus. Só a Palavra de Deus pode fazer com que o homem corrija as opções erradas, saia do seu egoísmo, aprenda a amar e a partilhar.
    A história que nos é proposta é uma ilustração das bem-aventuranças e dos "ais" de Lc 6,20-26... Anuncia-se, desta forma, que o projecto de Deus passa por um "Reino" de fraternidade, de amor e de partilha. Quem recusa esse projecto e escolhe viver fechado no seu egoísmo e auto-suficiência (os ricos), não pode fazer parte desse mundo novo de fraternidade que Deus quer propor aos homens (a imagem dos "tormentos", contudo, não deve se levada demasiado a sério: faz parte do folclore oriental e das imagens que os pregadores da época utilizavam para impressionar as pessoas e levá-las a modificar radicalmente o seu comportamento).

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e partilha podem partir das seguintes questões:

    • Talvez a catequese que o Evangelho de hoje nos apresenta nos pareça, à partida, demasiado radical: não temos o direito de ser ricos, de gozar os bens que conquistámos honestamente? No entanto, convém termos consciência de que cerca de um quarto da humanidade tem nas mãos cerca de 80% dos recursos disponíveis do planeta; e que três quartos da humanidade têm de contentar-se com os outros 20% dos recursos. Isto é justo? É justo que várias dezenas de milhares de crianças morram diariamente por causa da fome e de problemas relacionados com a subnutrição, enquanto o primeiro mundo destrói as colheitas para que o excesso de produção não obrigue a baixar os preços? É justo que se gastem em festas sociais quantias que davam para construir uma dúzia de escolas ou meia dúzia de hospitais num país do quarto mundo?

    • O Vaticano II afirma: "Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos (...). Sejam quais forem as formas de propriedade, conforme as legítimas instituições dos povos e segundo as diferentes e mutáveis circunstâncias, deve-se sempre atender a este destino universal dos bens. Por esta razão, quem usa desses bens, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si, mas também aos outros. De resto, todos têm o direito de ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias" (Gaudium et Spes, 69).

    • Como me situo face aos bens? Vejo os bens que Deus me concedeu como "meus, muito meus, só meus", ou como dons que Deus depositou nas minhas mãos para eu administrar e partilhar, mas que pertencem a todos os homens?

    • Por muito pobres que sejamos, devemos continuamente interrogar-nos para perceber se não temos um "coração de rico" - isto é, para perceber se a nossa relação com os bens não é uma relação egoísta, açambarcadora, exclusivista (há "pobres" cujo sonho é, apenas, levar uma vida igual à dos ricos). E não esqueçamos: é a Palavra de Deus que nos questiona continuamente e que nos permite a mudança de um coração egoísta para um coração capaz de amar e de partilhar.
    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 26º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. ORAÇÃO DOS FIÉIS INSPIRADA NO SALMO.
    Pode-se fazer a oração dos fiéis inspirada no Salmo de hoje: "Senhor, faz justiça aos oprimidos, aos famintos dá o pão, protege os estrangeiros...".

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
    No final da primeira leitura:
    "Bendito sejas, Deus de justiça e Pai dos pobres, porque abres os olhos dos profetas aos sinais dos tempos. Nos excessos da fortuna e do bem-estar, Tu fazes-nos ler os anúncios de revoltas e de desordens.
    Nós Te pedimos pela nossa terra e pela nossa sociedade, cujas riquezas estão tão mal distribuídas. Nós Te pedimos perdão pelos nossos próprios excessos".

    No final da segunda leitura:
    "Soberano único e bem-aventurado, Rei dos reis e Senhor dos senhores, que possuis a imortalidade, nós Te damos graças porque dás vida a todas as coisas e nós Te bendizemos pelo teu Filho Jesus, que se manifestará no tempo fixado.
    Nós Te pedimos: guarda-nos irrepreensíveis e justos, na fé e no amor, na perseverança e na doçura".

    No final do Evangelho:
    "Pai dos pobres e defensor dos oprimidos, nós Te bendizemos pelos profetas que nos envias, quando deixamos os caminhos da justiça, e pela glória que reservas àqueles que os homens desprezam.
    Presos nas redes de uma sociedade que produz tantos pobres, nós Te pedimos: ilumina-nos com o teu Espírito, conduz-nos nos caminhos da justiça".

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Durante a sua vida, o rico de quem ignoramos o nome conheceu uma certa felicidade, enquanto que o pobre Lázaro conheceu a infelicidade. A felicidade nesta terra é efémera pois está ligada às riquezas. A infelicidade é provisória porque a verdadeira riqueza será dada. Então, é preciso que a morte intervenha para que cada um encontre o seu verdadeiro lugar e a justiça seja feita: o pobre é elevado, ele que tinha sido rebaixado, ele a quem os cães vinham lamber as chagas. Quanto ao rico, é enterrado, ele que trazia vestes de luxo e fazia festins sumptuosos. São os pobres que são exaltados porque esperam a consolação de Deus. São os ricos que são enterrados, porque procuram a sua própria consolação.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    Eis ainda uma parábola sobre a má riqueza. Notemos, em primeiro lugar, que é a única parábola em que Jesus dá um nome a um dos protagonistas da história que inventa. O pobre chama-se Lázaro. Este nome, em hebraico, significa "Deus socorreu". É bem isto que Jesus fez pelo seu amigo. O rico, esse, é descrito com todo o fausto que o rodeava: vestidos luxuosos, festins sumptuosos e quotidianos. Mas não tem nome. Ele é "o rico". Aos olhos de Deus, os que ocupam o primeiro lugar são os pobres. Vamos mais longe. Uma frase é central no relato: "Lázaro bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas". Uma frase muito próxima da parábola do filho pródigo, quando o filho mais novo lamenta não poder comer as bolotas dos porcos. O filho mais novo simboliza, sem dúvida, o homem pecador fechado na sua solidão. O pobre Lázaro, esse, é vítima do pecado do rico, mas o resultado é o mesmo: não são vistos por ninguém. Ninguém lhes dá atenção. Só os cães vêm lamber as chagas do pobre. Temos aí uma descrição muito realista do que são muitas vezes as nossas relações. "O rico" é um nome anónimo. As nossas relações não são muitas vezes anónimas? Mesmo com os nossos mais próximos, não acontece, por vezes, que não os vemos verdadeiramente, a ponto de esquecer simplesmente de lhes dizer bom dia, de estar atentos a eles. A indiferença é verdadeiramente um pecado que pode matar. Nomeando o pobre Lázaro, Jesus recorda-nos, ao contrário, que, para Ele e para o seu Pai, cada ser humano é olhado como único. Jesus veio compensar o olhar vazio e anónimo do rico. Veio socorrer todos os pobres - é o sentido do nome de Lázaro! Mais ainda que Moisés e os profetas, é Jesus que devemos escutar, para agir como Ele.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística I, que faz alusão a Abraão (primeira leitura)...

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO...
    E nós hoje? As palavras de Amós atingem sem compaixão aqueles que não se preocupam com o desastre de Israel. Lucas põe em cena um homem rico fechado no luxo, que não tem mesmo qualquer olhar para o pobre Lázaro que está à sua porta. E nós hoje? Ricos ou não, diante de todos os desastres do mundo, temos um olhar diferente para com todos os "Lázaros" da nossa sociedade ou ficamo-nos por um simples relance no ecrã da televisão? Ouvimos os golpes discretos à nossa porta? Ou serão somente cães a dar-lhes assistência?
    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehnianos.org - www.dehonianos.org

  • S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, Arcanjos

    S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, Arcanjos


    29 de Setembro, 2022

    No século V, já se celebrava em Roma, a 29 de Setembro, o aniversário da dedicação de uma basílica em honra do Arcanjo S. Miguel. Depois da reforma litúrgica recomendada pelo Concílio Vaticano II, acrescentou-se a memória de outros Arcanjos e de "todas as potências incorpóreas".

    Honrando os Arcanjos, exaltemos o poder de Deus, Criador do mundo visível e invisível, pois - como diz o Prefácio da Missa de hoje - "resulta em glória para Vós a honra que prestamos a eles como criaturas dignas de Vós; e a sua inefável beleza, Vós mostrais como sois grande e digno de ser amado sobre todas as coisas". S. Miguel é um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.

    Lectio

    Primeira leitura: Daniel 7, 9-10.13s.

    Eu estava a olhar, quando foram preparados uns tronos, e um Ancião sentou-se. Branco como a neve era o seu vestuário, e os cabelos da cabeça eram como de lã pura; o trono era feito de chamas, com rodas de fogo flamejante. 10Corria um rio de fogo que jorrava da parte da frente dele. Mil milhares o serviam, dez mil miríades lhe assistiam.O tribunal reuniu-se em sessão e foram abertos os livros. 11Eu olhava. Por causa do ruído das palavras arrogantes que o chifre proferia, esse animal foi morto e o seu corpo desfeito e atirado às chamas do fogo. 12Quanto aos outros animais, também lhes foi tirado o poderio; no entanto, a duração da sua vida foi-lhes fixada a um tempo e uma data. 13Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. 14Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído.

    A perícopa que escutamos hoje é tirada do chamado Apocalipse de Daniel (Capítulos 7-12). Ao profeta é concedida a visão dos eventos futuros (vv. 1-8) e, sobretudo, a participação no juízo de Deus sobre eles e sobre toda a história (vv. 9s.). Para além das aparências, os poderosos deste mundo não são nada; o Senhor é o único e verdadeiro rei (v. 9s.). Serve-O uma imensa corte de anjos que também O assiste na realização do seu desígnio. O profeta pode mesmo entrever esse desígnio: aparece-lhe um "Homem" de origem divina a quem Deus confia a soberania universal, um poder eterno e o seu próprio reino que as forças do mal jamais poderão destruir (v. 14). O «Filho do homem» é, pois, o centro e o fim do projeto de Deus acerca da história. Mas a sua realização - agora antecipada na profecia - acontecerá no tempo estabelecido e com a cooperação dos anjos.
    Evangelho João 1, 47-51

    Naquele tempo, Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» 48Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» 49Respondeu Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!» 50Retorquiu-lhe Jesus: «Tu crês por Eu te ter dito: 'Vi-te debaixo da figueira'? Hás-de ver coisas maiores do que estas!» 51E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.

    Há uma visão da realidade que vai além da imediata perceção. É o que nos revela Jesus no texto que escutamos hoje: «Vem e vê», dissera Filipe a Natanael. E Jesus, ao ver Natanael aproximar-se, exclama: «Vi (à letra) um israelita...». O seu ver é um conhecimento profundo do homem e da sua história. É deste ser visto/conhecido que nasce a abertura à fé e a disponibilidade para o seguimento (v. 49). Só então Jesus pode prometer ao discípulo a entrada numa visão da realidade semelhante à que Ele mesmo tem: «Maiores coisas do que estas hás-de ver!» ... «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo pelo Filho do Homem.» (vv. 50s.). O discípulo poderá compreender a imensa profundidade do mistério de Cristo que abrange o cosmos e dá sentido à história, e a cujo serviço cooperam miríades de anjos.
    O mundo transcendente de Deus - o céu - está agora aberto: em Jesus, Filho do homem, Deus desce ao meio dos homens e os homens podem subir até Deus. Os anjos são ministros deste «admirável comércio», desta inesperada comunhão.

    Meditatio

    Os anjos são seres misteriosos. O profeta Daniel também fala deles misteriosamente no texto que hoje escutamos na primeira leitura. Nós costumamos representá-los como homens de rosto suave e doce. Mas, na Sagrada Escritura, aparecem, muitas vezes como seres terríveis, que incutem temor, porque são manifestação do poder e da santidade de Deus, e nos ajudam a adorá-lo dignamente. Na visão de Daniel, o mais importante não são os Anjos, mas o "ser semelhante a um filho de homem" (v. 13), que é introduzido até ao trono de Deus, e a quem são "dadas soberania, glória e realeza" (v. 14), e a quem "as gentes de todas as línguas" servem (v. 14).
    O evangelho também nos mostra os Anjos subirem e descerem ao serviço do Filho do homem.
    Os Anjos estão, portanto, ao serviço do Filho do homem, isto é, de Jesus de Nazaré. A nossa adoração é, pois, dirigida a Deus e ao Filho de Deus.
    Todos nós entramos num projeto sonhado por Deus. Mergulhados num cosmos animado por invisíveis presenças que, tal como nós, participam no projeto de Deus, somos construtores de uma história que tem Cristo no centro e no fim. A caminhada avança na luta, com conflito implacável com as forças do mal que, todavia, jamais poderão destruir o reino que Deus confiou ao Filho do homem. O combate durará até ao fim dos tempos, tendo à frente, na primeira linha, os santos anjos de Deus: os arcanjos, guiados por Miguel, e todas as criaturas espirituais fiéis ao Senhor.
    Esta realidade que os nossos olhos não sabem ver foi-nos revelada para que, pela fé, esperança e caridade, combatamos o bom combate e apressemos a realização do reino de Deus. Se oferecermos o nosso humilde contributo, receberemos um olhar interior puro. Então contemplaremos a Misericórdia que abriu os céus e veio morar entre nós para nos abrir o caminho para o Pai onde, com os anjos, partilharemos a sua intimidade. Ele revelou-nos o mistério do homem para que, com os anjos, aprendemos a ir ao encontro dos irmãos. Introduziu-nos no seu Reino, para que, tornados voz de todas as criaturas, cantemos eternamente, com o coro angélico, a glória de Deus.

    Oratio

    Ó santo arcanjo Miguel, tão amigo do Coração de Jesus e tão amado por Ele, ajudai-me a fazê-lo reinar na sociedade e nas almas. Protegei particularmente os amigos e os apóstolos do Sagrado Coração. Terei gosto em vos invocar muitas vezes durante o dia, com Maria, José e S. João, para que me leveis ao Coração de Jesus. (Leão Dehon OSP 4, p. 298s.).
    Anjo glorioso, S. Gabriel, ensinai-me a bem servir a Jesus e a Maria. O que amais, são oshomens de desejo, assim o dissestes a Daniel. Pedi por mim a Jesus e a Maria, para que eu seja um homem de desejo. Unir-me-ei particularmente a vós para dizer a Ave Maria, e saudar o Coração de Jesus na sua Incarnação. (Leão Dehon OSP 3, p. 303).
    Arcanjo S. Rafael, vinde em nossa ajuda nas horas de medo e nas horas de doença. Tomai-nos pela mão e conduzi-nos pelo caminho certo e seguro da salvação.

    Contemplatio

    O anjo Gabriel veio a Nazaré e cumpriu o mistério que tomou o nome da Anunciação. Saudou Maria com estas palavras celestes que nós chamamos a saudação angélica: Eu vos saúdo, ó cheia de graça, o Senhor está convosco, bendita sois entre todas as mulheres.
    S. Gabriel é o anjo de Jesus e de Maria, o seu mensageiro, o seu camareiro. É o anjo da redenção, o anjo do Sagrado Coração... Ensinou-nos a bela saudação a Maria, que repetimos tantas vezes por dia. Unamo-nos muitas vezes a ele. Digamos com ele a saudação angélica... Anunciando a incarnação, foi o primeiro a saudar o Sagrado Coração de Jesus no seio de Maria. (Leão Dehon, OSP 3, p. 302s.)
    S. Miguel é o anjo de Jesus, o anjo da Igreja, e deve ser o anjo do Coração de Jesus, o porta-estandarte do Sagrado Coração... (Leão Dehon, OSP 4, p 298).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    «Quem como Deus?»

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    S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, Arcanjos (29 Setembro)

  • S. Teresa do Menino Jesus, Virgem

    S. Teresa do Menino Jesus, Virgem


    1 de Outubro, 2022

    Santa Teresa do Menino Jesus nasceu em Alençon, França, em 1873. É a filha mais nova dos Beatos Luís Martin e Célia Guérin, casal cristão exemplar. Aos 15 anos, Teresa entrou no Carmelo de Lisieux. A vida de clausura e de contemplação, a vivência da infância espiritual, não a impediram de ser missionária. Pelo contrário, viveu de modo extraordinário o ideal de Santa Teresa de Ávila: "Vim para salvar almas e sobretudo a fim de rogar pelos sacerdotes". A entrega de amor fê-la vítima de amor. Faleceu aos 24 anos de idade, em 1897. Pio XI canonizou-a em 1925, proclamando-a Padroeira das Missões.

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 66, 10-14

    Alegrai-vos com Jerusalém, rejubilai com ela, vós todos que a amais; regozijai-vos com ela, vós todos os que estáveis de luto por ela. 11Como criança amamentando-se ao peito materno, ficareis saciados com o seu seio reconfortante, e saboreareis as delícias do seu peito abundante. 12Porque, assim diz o Senhor: «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações, como uma torrente transbordante. Os seus filhinhos serão levados ao colo, e acariciados sobre os seus regaços. 13Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei; em Jerusalém sereis consolados. 14Ao verdes isto, os vossos corações pulsarão de alegria, e os vossos ossos retomarão vigor,como a erva fresca. A mão do Senhor há-de manifestar-se aos seus servos, e a sua ira aos seus inimigos.

    Jerusalém foi consolada por Deus, fonte de toda a consolação. Agora é chamada a oferecer essa mesma consolação, como mãe generosa, aos filhos das suas entranhas. O profeta especifica essas consolações, que não são promessas vãs ou retórica vazia, mas paz e segurança a todos os níveis. Acabaram-se os tempos das tensões e das guerras, acabaram-se as ameaças dos inimigos. A cidade santa está em paz, dom de Deus, e pode oferecê-la aos seus habitantes. Aliás a Nova Jerusalém identifica-se com Javé, que, pela sua presença e pelo seu espírito, atrairá todos os povos para lhes oferecer a paz e a consolação definitivas.

    Evangelho: Mateus 18, 1-5

    Naquela hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» 2Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles 3e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. 4Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. 5Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.

    Ao dizer estas palavras, Jesus parece pensar na humildade das crianças, que não têm pretensões, que têm consciência de ser crianças e aceitam a sua pequenez, a sua impotência e a necessidade que têm dos pais para sobreviver. Na relação com Deus, estas palavras têm ainda mais sentido: que é o homem diante d´Ele?
    A humildade é necessária particularmente aos dirigentes da comunidade cristã pelo que eles são - bem pouca coisa - e pelo que são os outros, - filhos de Deus.

    Meditatio
    Os pensamentos de Deus são bem diferentes dos nossos, tal como os seus caminhos são distantes dos nossos. Os nossos pensamentos vêm do orgulho; os pensamentos de Deus vêm da humildade. Os nossos caminhos são esforço para nos tornarmos grandes; os caminhos de Deus conduzem à pequenez. Como quem quer ir para o Norte deve caminhar em direção oposta ao Sul, assim, para avançar nos caminhos de Deus devemos tomar a direção oposta ao nosso orgulho.
    Teresa tinha grandes ambições: queria ser simultaneamente contemplativa e ativa, apóstola, doutora, missionária e mártir. Aliás, parecia-lhe pouco um só martírio e desejava-os todos. Acabou por descobrir que, no coração da Igreja, é o amor que tudo anima e move. Então, escreve: "Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações e que o Amor é tudo!... E, num transporte de alegria delirante, exclamei: encontrei finalmente a minha vocação; a minha vocação é o Amor! No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor, assim serei tudo, assim o meu sonho será realizado." E, enquanto, no seu tempo, muitas pessoas fervorosas se ofereciam a Deus como vítimas da sua justiça, Teresa preferiu entregar-se ao seu Amor Misericordioso. Descobrira esse amor ao meditar na parábola do filho pródigo ou, melhor dizendo, do pai misericordioso. Dizia a santa de Lisieux: "Deus infinitamente Misericordioso, que se dignou perdoar com tanta bondade os pecados do filho pródigo, não será também justo comigo, que estou sempre a seu lado?" Para Teresa, Deus manifesta-se justo exatamente na sua misericórdia e no seu perdão a quem deles necessita. A Justiça de Deus é Amor e Misericórdia. Foi aceitando a sua pequenez e pobreza, e acolhendo e caminhando no amor misericordioso de Deus que ela chegou à Santidade.
    Como escreveu o P. Dehon: "A união íntima a Cristo na sua oblação e imolação de amor é-nos confirmada pela sua predileção pela oferta como vítima "ao Amor misericordioso" de Santa Teresa de Lisieux. "Nascemos do espírito de Santa Margarida Maria, aproximando-nos do da Ir. Teresa". Seguidamente o Pe. Dehon transcreve a fórmula com que a santa se ofereceu como vítima ao Amor misericordioso. Depois, conclui: "Com a Ir. Teresa, abandonamo-nos completamente à vontade divina" (Diário XLV, 53.55-56: Abril de 1925).
    A descoberta do Deus Misericordioso foi o ponto mais importante do Caminho Espiritual de Teresa do Menino Jesus. Essa perceção levou-a a dar-se conta da sua missão na Terra: anunciar que Deus não é Castigador, mas Misericordioso. Esta confiança na Misericórdia de Deus, tomou, transformou e entreteceu toda a sua vida e tornou-se o grande motor do que fez e disse até ao fim dos seus dias. Como vemos há uma forte semelhança e quase identidade entre a experiência espiritual e a missão do P. Dehon e de Santa Teresa.

    Oratio

    Ó Cristo Senhor, Tu nos escolheste e chamaste ao teu serviço pelo grande Amor que tens a Deus Pai e aos teus irmãos. Foste tu quem nos escolheu e não nós a Ti. Faz, pois, com que possamos, hoje, segundo o desígnio da tua chamada, dar frutos de salvação ao mundo, pelo qual nos oferecemos, como pessoas e como comunidade. Aviva em nós o espírito do Pe. Dehon, o qual, por teu amor, não se cansava de trabalhar para que toda a humanidade fosse, um dia, recapitulada em Ti. Torna-nos um testemunho vivo do teu amor na Igreja. Ámen.

    Contemplatio

    O Pai de misericórdia que nos ama ternamente chama-nos. Chama-nos seus filhinhos. Descreveu-se com complacência na parábola do filho pródigo. Eu sou este filho pródigo, que viveu, se não na luxúria, pelo menos na vaidade e na inutilidade. Volto para o meu Pai, hesitante, tímido, temeroso, mas ele está lá, que me acolhe com amor. O seu coração bate fortemente no seu peito. Deseja-me com ardor, observa, procura. E se regresso, atira-se ao meu pescoço e aperta-me contra si, coração contra coração. E chama os seus servos, os seus anjos, para me darem tudo o que perdi. Nada falta: o manto de outrora, o anel de nobreza, os sapatos, e o vitelo gordo para a festa. O Coração de Jesus está emocionado; os seus olhos choram de ternura, mas sorriem de alegria: «Alegremo-nos, diz o bom Mestre, este filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado». (Leão Dehon, OSP 3, p. 653).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor" (Santa Teresa do Menino Jesus).

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    S. Teresa do Menino Jesus, Virgem (01 Outubro)

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