Week of Nov 13th

  • XXXIII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    14 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 1,1-4; 2, 1-5ª
    1Revelação de Jesus Cristo. Deus encarregou-o de manifestar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer e que Ele comunicou pelo anjo que enviou ao seu servo João, 2o qual atesta que tudo o que viu é Palavra de Deus e testemunho de Jesus Cristo. 3Feliz o que lê e os que escutam a mensagem desta profecia e põem em prática o que nela está escrito, porque o tempo está próximo. 4João saúda as sete igrejas da província da Ásia: graça e paz da parte daquele que é, que era e que há-de vir, da parte dos sete espíritos que estão diante do seu trono. 1Ao anjo da igreja de Éfeso, escreve: «Isto diz o que tem na mão direita as sete estrelas, o que caminha no meio dos sete candelabros de ouro: 2'Conheço as tuas obras, as tuas fadigas e a tua constância. Sei também que não podes tolerar os malvados e que puseste à prova os que se dizem apóstolos - mas não o são - e os achaste mentirosos; 3tens constância, sofreste por causa de mim e não perdeste a coragem. 4No entanto, tenho uma coisa contra ti: abandonaste o teu primitivo amor. 5Lembra-te, pois, donde caíste, arrepende-te e torna a proceder como ao princípio.
    O livro do Apocalipse apresenta, logo no seu começo, algumas chaves para a sua leitura. Usando-as, podemos perceber a sua mensagem de esperança e entrar na bem-aventurança que promete (v. 3). «Apocalipse» quer dizer «revelação». Essa revelação abre-nos o horizonte da salvação em Cristo. João encerra, com este livro, o seu ministério de evangelista, conduzindo-nos a um melhor conhecimento de Jesus, do seu mistério de morte e ressurreição, da sua vitória sobre o Maligno, e sobre o grande evento que será a sua última vinda. Por isso: «Feliz o que lê e os que escutam a mensagem desta profecia e põem em prática o que nela está escrito» (v. 3). A revelação gera bem-aventurança, de que podemos usufruir desde já. Mas é preciso escutar e pôr em prática o que nela está escrito (v. 3). Trata-se de uma bem-aventurança que é simultaneamente dom de Deus e resultado de empenhamento pessoal.
    «Graça e paz» (v. 4): o Apocalipse foi escrito para que possamos acolher a graça que vem do alto e a paz que Jesus nos oferece. A graça e a paz são dons para cada um dos crentes, mas também para as comunidades cristãs, as igrejas a quem João escreve. A salvação é diálogo e encontro pessoal com o Senhor, mas também vínculo de comunhão entre as comunidades dos crentes.

    Evangelho: Lucas 18, 35-43
    Naquele tempo: 35Quando se aproximavam de Jericó, estava um cego sentado a pedir esmola à beira do caminho. 36Ouvindo a multidão que passava, perguntou o que era aquilo. 37Disseram-lhe que era Jesus de Nazaré que ia a passar. 38Então, bradou: «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!» 39Os que iam à frente repreendiam-no, para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» 40Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Quando o cego se aproximou, perguntou-lhe: 41«Que queres que te faça?» Respondeu: «Senhor, que eu veja!» 42Jesus disse-lhe: «Vê. A tua fé te salvou.» 43Naquele mesmo instante, recobrou a vista e seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, ao ver isto, deu louvores a Deus.
    Lucas situa o episódio da cura do cego nos arrabaldes de Jericó. Lá irá situar também o episódio de Zaqueu. Jericó, tal como Jerusalém, era uma cidade importante para o evangelista, porque evocava acontecimentos notáveis da história de Israel.
    Há semelhanças entre os episódios da cura do cego e do encontro com Zaqueu: Jesus dá atenção ao cego, que jaz à beira da estrada (v. 40), mas a multidão tenta fazê-lo calar (v. 39ª); Jesus chama Zaqueu, que estava empoleirado no sicómoro (19, 5); a multidão murmura quando Ele se deixa acolher na casa de Zaqueu (19, 7).
    O cego começa por chamar a Jesus «Filho de David» (v. 38) e pede-lhe «misericórdia»; depois, chama-o «Senhor» (v. 41) e pede-lhe um milagre. Há um amadurecimento da sua fé. Jesus fora-lhe apresentado apenas como «Jesus de Nazaré» (v. 37); mas ele acaba por reconhecê-lo como Messias e Senhor.
    No final, depois de ter recebido o dom da vista, ouvirá Jesus dizer-lhe: «A tua fé te salvou» (v. 42). Só a fé nos permite reconhecer o mistério.

    Meditatio
    O livro do Apocalipse foi escrito para ensinar os cristãos a ver as coisas como Deus as vê. A Igreja passava por grandes tribulações. Os cristãos eram perseguidos e mortos. A prometida vitória de Cristo parecia estar a ser negada pelos factos. O apóstolo João tenta reanimar a fé das comunidades, e dar-lhes confiança. Para isso, escreve a Revelação.
    O evangelho mostra-nos o itinerário de fé do cego de Jericó, um itinerário que somos chamados a percorrer na actual situação da Igreja e do mundo em que vivemos, onde também não faltam tribulações. O cego, sentado à beira do caminho, apercebe-se da presença de Jesus e grita duas vezes: «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!» (vv. 38 e 39). Queria uma cura completa: da cegueira física e da cegueira espiritual, porque tinha intuído a verdadeira identidade de Jesus. E Jesus, como verdadeiro mestre, começa um diálogo, que parte da sua necessidade física, para chegar ao dom da fé: «Que queres que te faça?» (v. 41).
    Jesus de Nazaré, efectivamente, veio para salvar o homem todo, o homem considerado na inseparável unidade da sua pessoa. É importante restituir-lhe a vista dos olhos, mas é igualmente importante habilitá-lo a reconhecer o mistério d´Aquele que está diante dele.
    A fé do cego de Jericó manifesta-se imediatamente em duas opções de vida: começa a seguir Jesus e a louvar a Deus. A oração de louvor manifesta os sentimentos que lhe vão na alma, ao sentir-se curado. E quer que todos participem desses sentimentos. E quer seguir Jesus, Aquele que o libertou da cegueira espiritual, Aquele que se revelou a ele como Messias e Senhor.
    E temos um itinerário de fé completo: do dom recebido ao dom comunicado. Foi o itinerário do cego de Jericó, e deve ser o nosso. Um itinerário que havemos de percorrer seguindo Jesus.
    Do "dom da fé" ao testemunho da fé. As nossas Constituições apontam para este itinerário: Do "dom da fé": Na Igreja, «recebemos o dom da fé que dá fundamento à nossa esperança; uma fé que orienta a nossa vida e nos inspira a deixar tudo para seguir a Cristo» (Cst 9), ao dom de nós mesmos: «Animando, assim, tudo o que somos, fazemos e sofremos pelo serviço do Evangelho, o nosso amor, pela participação na obra de reconciliação, cura a humanidade, reúne-a no Corpo de Cristo e consagra-a para Glória e Alegria de Deus» (Cst 25; cf. Cst 21). Da fé, ao seguimento e ao apostolado, como resposta ao amor de Deus manifestado em Cristo, salvador da humanidade. Foi esta "a experiência de fé do P. Dehon"; e deve ser essa "a nossa experiência de fé" dehoniana: «Contemplando o Coração de Cristo, símbolo privilegiado desse amor, somos fortalecidos na nossa vocação. Com efeito, somos chamados a inserir-nos nesse movimento de amor redentor, doando-nos aos irmãos, com e como Cristo. «Nisto conhecemos o amor: Ele deu a vida por nós. Também nós devemos dar a vida pelos irmãos» (1 Jo 3,16)» (Cst 21).

    Oratio
    Senhor, quero pedir-te, hoje, a graça que Te pedia o cego de Jericó. Tem compaixão de mim. Ilumina-me para que Te veja a Ti, meu Salvador, veja a vontade do Pai, veja o seu amor e me deixe conduzir pelo Espírito Santo. Que jamais as tribulações da vida e do mundo me façam desanimar e perder a esperança. Que, em todos os momentos e situações, me dê conta da tua presença ao longo do caminho, para que me reanime no amor, na fé e no fervor inicial. «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!». Faz que eu veja para Te seguir, para Te servir, para cantar o teu amor e servir os meus irmãos. Amen.

    Contemplatio
    Jesus ia da Galileia para Jerusalém pelas margens do Jordão. Prediz aos apóstolos a sua paixão, citando-lhes Isaías e os salmos. Não compreendem. Eram ainda muito terrestres! Acreditavam num reino temporal do Messias.
    Jesus pensava consigo mesmo: «São uns cegos, hei-de curá-los um dia». Quer fazer-lhes compreender que são cegos, porque não compreendem as suas palavras e não acreditam n' Ele. E para os ajudar a entrar nestes pensamentos, pára junto de um cego, à porta de Jericó. Fá-lo falar, excita a sua fé, depois cura-o. /185
    Alguns, sem dúvida, os mais esclarecidos, compreenderam ou suspeitaram o seu pensamento.
    Eu sou, infelizmente, como os apóstolos e como o cego de Jericó. Jesus diz-me a sua bondade, a sua paixão, e todo o amor do seu divino coração por mim. Não compreendo ou quase nada. Não o amo ou quase nada. Senhor, curai a minha cegueira. Recordai-me ainda os vossos sofrimentos. Fostes entregue aos gentios, escarnecido, flagelado, desprezado. Condenaram-vos à morte. E os grandes aniversários destes acontecimentos vão voltar. Sacudi a minha inércia, ó Jesus, acendei no meu coração o fogo do vosso amor. Suplico-vos humildemente, instantemente, filialmente (Leão Dehon, OSP 3, p. 184s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Feliz o que lê e os que escutam» (Ap 1, 3)
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXXIII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    15 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 3, 1-6. 14-22
    1Ao anjo da igreja de Sardes, escreve: «Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas: 'Conheço as tuas obras; tens fama de estar vivo, mas estás morto. 2Sê vigilante e fortifica aquilo que está a morrer, pois não encontrei perfeitas as tuas obras, diante do meu Deus. 3Recorda, portanto, o que recebeste e ouviste. Guarda-o e arrepende-te. Pois se não estiveres vigilante, virei como um ladrão, sem que saibas a que hora virei ter contigo. 4No entanto, tens em Sardes algumas pessoas que não mancharam as suas vestes; esses caminharão comigo, vestidos de branco, pois são dignos disso. 5Assim, o que vencer andará vestido com vestes brancas e não apagarei o seu nome do livro da Vida, mas o darei a conhecer diante de meu Pai e dos seus anjos.' 6Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» 14Ao anjo da igreja de Laodiceia, escreve: «Isto diz o Ámen, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da Criação de Deus: 15Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. 16Assim, porque és morno - e não és frio nem quente - vou vomitar-te da minha boca. 17Porque dizes: 'Sou rico, enriqueci e nada me falta' - e não te dás conta de que és um infeliz, um miserável, um pobre, um cego, um nu - 18aconselho-te a que me compres ouro purificado no fogo, para enriqueceres, vestes brancas para te vestires, a fim de não aparecer a vergonha da tua nudez e, finalmente, o colírio para ungir os teus olhos e recobrares a vista. 19Aos que amo, eu os repreendo e castigo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. 20Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.' 21Ao que vencer, farei que se sente comigo no meu trono, assim como Eu venci e estou sentado com meu Pai, no seu trono. 22Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.»
    Escutamos hoje duas das sete cartas enviadas por João às sete igrejas. Podemos escutá-las como dirigidas a nós, uma vez que, como as igrejas a que foram destinadas, também estamos empenhados em viver o Evangelho que acolhemos.
    As cartas deixam-nos entrever vários tipos de comunidades cristãs: umas espiritualmente mortas, outras apenas tépidas, outras que correm o risco de perder o sentido de novidade trazido pela fé em Cristo e, finalmente, outras fechadas em falsas seguranças. Estas situações prolongaram-se ao longo dos séculos, e todos temos de admitir que pertencemos a alguma.
    A leitura das sete cartas dá-nos a estrutura de fundo que a todas caracteriza: todas são convidadas a escutar Aquele que é a palavra, Aquele cuja mensagem é a salvação. A todas é dito: «Conheço as tuas obras», para indicar que, não só cada um dos crentes, mas também as comunidades são um livro aberto para o Senhor. Segue-se a exortação à vigilância e à coragem, para afastar as ameaças que pendem sobre a vida espiritual da comunidade, seja para as renovar no seu empenhamento cristão.

    Evangelho: Lucas 19, 1-10
    Naquele tempo: 1Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. 2Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos. 3Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. 4Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali. 5Quando chegou àquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.» 6Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus, cheio de alegria. 7Ao verem aquilo, murmuravam todos entre si, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um pecador. 8Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais.» 9Jesus disse-lhe: «Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão; 10pois, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.»
    Ao entrar em Jericó, Jesus encontra-se com Zaqueu, homem rico e chefe de publicanos (vv. 1s.). É útil darmos atenção ao itinerário de fé deste homem. «Procurava ver Jesus» (v. 3), mas não conseguia, seja devido à sua pequena estatura, seja à distância psicológica e espiritual que o afastava do Senhor. Mas era um homem à procura... Pelo que lemos no evangelho, procurava Jesus. Mas Jesus também procurava Zaqueu para lhe satisfazer o desejo. O encontro de ambos torna-se um momento de graça: «Hoje tenho de ficar em tua casa...Hoje veio a salvação a esta casa» (vv. 5.9). O termo "hoje" mostra-nos a realização da missão de Jesus, mas também a abertura de Zaqueu à salvação. A abertura ao hoje de Deus, a capacidade de se dar conta da sua presença no "hoje" da humanidade, é o segredo de quem está realmente disposto a seguir Jesus, que «veio pro¬curar e salvar o que estava perdido» (v. 10). Por isso, é oferecida a todos a oportunidade de O ver, de se encontrar com Ele, de O reconhecer como verdadeiramente é.

    Meditatio
    «O Filho do Homem veio pro¬curar e salvar o que estava perdido» A Palavra de hoje mostra-O em acção para salvar o homem e a comunidade.
    Jesus detém-se em casa do pecador Zaqueu que, depois de O ter reconhecido, O recebeu, cheio de alegria, sem dar ouvidos às murmurações daqueles que o apontavam como «um pecador». A sua alegria vinha do dom gratuito e inesperado que o Senhor lhe fazia. E Zaqueu acabou por mostrar-se um "bom pecador", isto é, um pecador que reconhece a sua condição e se abre ao dom da salvação. Decidiu dar metade dos seus bens aos pobres e, àqueles a quem defraudou, restituiu quatro vezes mais. A sua fé mostrou-se eficaz: não demorou a traduzir-se em decisões concretas e em gestos de benevolência para com o próximo, especialmente para com os pobres. Como sabemos, a fé que não se concretiza em obras, não é autêntica, não é credível, não é caminho de salvação.
    As comunidades cristãs, a que se dirige João, deixam muito a desejar por causa do seu comportamento. O Apóstolo não pode calar-se e alerta-as para a necessidade de traduzir em gestos concretos e credíveis a fé que professam publicamente. O primeiro gesto a praticar é eliminar da vida comunitária tudo o que possa comprometer a sanidade espiritual; o segundo é cultivar com alegria e sentido de responsabilidade o dom da fé. E João não deixa de apontar o prémio reservado a todos aqueles que, com Jesus e como Jesus, poderão vir a ser reconhecidos "vencedores".
    As nossas Constituições recomendam «o encontro frequente com o Senhor na oração, a conversão permanente ao Evangelho e a disponibilidade de coração e de atitudes», «para acolher o Hoje d
    e Deus" (Cst 144). Este Hoje de Deus salvador está personificado em Jesus: «Hoje nasceu para vós na cidade de David um Salvador» (Lc 2, 11); «Hoje - diz Jesus na sinagoga de Nazaré - cumpriu-se esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir» (Lc 4, 21); «Hoje tenho de ficar em tua casa» - diz Jesus a Zaqueu (Lc 19, 5); e ainda «Hoje a salvação entrou nesta casa» (Lc 19, 9); «Hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43), promete Jesus ao bom ladrão. Hoje é Jesus, é a salvação: «Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre» (Heb 13, 8).
    A este Hoje de Deus, a Jesus, devemos responder com o nosso "sim" de amor; é o nosso "fiat" à salvação, à verdade, à vida, ao bem, à santidade. «Nestas palavras: Ecce venio... Ecce ancilla... encerram-se toda a nossa vocação, a nossa finalidade, o nosso dever, as nossas promessas» (DE I. 3) (Cst 6).
    «Acolher o hoje de Deus" é reconhecer e acreditar «no amor que Deus nos tem» (1 Jo 4,16), especialmente em «Cristo (que) é o Senhor, no qual o Pai nos manifestou o seu amor... presente no mundo para o salvar» (Cst 9).

    Oratio
    Senhor Jesus, que vieste salvar o que estava perdido, desce a nossa casa. Enche-nos de alegria e faz-nos tomar consciência do dom gratuito que é a salvação. Então, de coração dilatado, gritaremos a todos que a alegria é possível, que Tu no-la deste e que todos são chamados a recebê-la. Narraremos aos nossos irmãos as tuas maravilhas e testemunhá-las-emos sendo generosos com todos: com os que o merecem e com os que o não merecem. Faz-nos compreender que continua a ser assim que, hoje, nos procuras e salvas e que é também assim que, hoje, nos chamas a procurar e a salvar quantos andam perdidos e, consciente ou inconscientemente, Te procuram. Dá-nos a graça de estarmos atentos aos dons que, hoje, generosamente repartes connosco e faz-nos generosos portadores de salvação para quantos, hoje, viermos a encontrar. Amen.

    Contemplatio
    Zaqueu desejava ver Jesus, mas o desejo de Jesus em ver Zaqueu e ganhá-lo para a fé não era menos vivo. Ele mesmo nos diz: «o Filho do Homem veio pro-curar e salvar o que estava perdido». Jesus deteve-se e ergueu os olhos para o sicómoro: «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa». O olhar de Jesus é suave e penetrante. Zaqueu fica profundamente impressionado. «Desce depressa», diz-lhe Jesus. O Salvador tem pressa de se encontrar com esta alma e de ganhá-la. «Hoje tenho de ficar em tua casa», diz Jesus. É preciso, é uma ordem, Jesus quere-o, é uma graça eficaz que oferece ao pobre publicano. É preciso, hoje mesmo, sem demora e o mais rapidamente possível. Jesus não quer fazer-lhe uma visita superficial. «tenho de ficar em tua casa», diz-lhe; Jesus ficará lá, comerá e dormirá. Poderão conversar longamente. Zaqueu está arrebatado, e desce cheio de alegria, apressa-se, aproxima-se de Jesus, condu-l´O a sua casa.
    É assim que Jesus vem às nossas almas. Leva-lhe a alegria e a paz. Escuta o que a nossa alma quer dizer-Lhe, inflama-a, encoraja-a, comunica-lhe os mais generosos desígnios.
    A nossa alma deve escutar, corresponder. Deve, por isso, estar recolhida e atenta às luzes e às inspirações da graça. Deixar-se-á tocar, sem demora, hoje mesmo. Dar-se-á generosamente e alegremente. Estará disposta às mais generosas resoluções, aos mais corajosos sacrifícios.
    Para nós, as visitas de Jesus são frequentes: vem na súplica, na oração, e, sobretudo, na sagrada comunhão, na leitura espiritual. Estejamos sempre atentos aos apelos de Jesus, às suas iniciativas e solicitações» (Leão Dehon, OSP 4, p. 198s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Eis que estou à porta e bato» (Ap 3, 20).
    | Fernando Fonseca, scj |

  • S. Gertrudes, Virgem

    S. Gertrudes, Virgem


    16 de Novembro, 2022

    Santa Gertrudes nasceu no dia 6 de Janeiro de 1256, festa da Epifania, mas nada se sabe dos seus pais, nem do lugar do seu nascimento. Entrou no mosteiro com cinco anos, em 1261, como era costume naquela época, para a formação e o estudo. Ali transcorreu toda a sua existência. Adquiriu vasta cultura e entregou-se à vida contemplativa. Foi uma das maiores místicas da Idade Média. As suas obras estão na base da difusão do culto do Sagrado Coração de Jesus. É uma das padroeiras da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.
    Lectio
    Primeira leitura: Efésios 3, 14-19

    Irmãos: Eu dobro os joelhos diante do Pai, 15do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: 16que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; 17que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, 18para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... 19a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus.

    Depois de ter anunciado as maravilhas de Deus, Paulo irrompe numa oração vibrante de amor. Ajoelha diante do Pai, origem de toda a paternidade no céu e na terra (v. 15), e pede-lhe que os Efésios sejam fortificados interiormente pelo Espírito Santo (v. 16). No fundo, pede para eles uma fé robusta, para que Cristo habite nos seus corações e, desse modo, cresça neles o sinal típico de pertença a Cristo: a caridade. O Apóstolo sabe que, só quando estiverem «enraizados e alicerçados no amor» (v. 17), em comunhão com os outros crentes, serão capazes de compreender «a largura, o comprimento, a altura e a profundidade» daquele amor que ultrapassa todas as categorias humanas (v. 18). Assim é porque é de Deus e só com a força de Deus podemos realizar a nossa vocação: receber «a plenitude de Deus» (v. 19). Com entusiasmo, Paulo louva a Deus porque é capaz de realizar maravilhas muito maiores do que possamos pensar e desejar. Sentimos em todo o texto que o conhecimento do mistério de Deus não é fruto do nosso esforço intelectual, mas de amor admirado, que brota de uma atitude profundamente interior e contemplativa.
    Evangelho: da féria ou do Comum
    Meditatio

    Santa Gertrudes, a Grande, é uma das místicas mais famosas... Com a sua vida e pensamento, ela incidiu de modo singular sobre a espiritualidade cristã. É uma mulher extraordinária, dotada de particulares talentos naturais e de excecionais dons de graça, de humildade profundíssima e de zelo ardente pela salvação do próximo, de íntima comunhão com Deus na contemplação e de prontidão no socorro aos necessitados...
    Entra no mosteiro com cinco anos, em 1261, como era costume naquela época, para a formação e o estudo. Ali transcorre toda a sua existência... Gertrudes é uma estudante extraordinária... Fascinada pelo saber, dedica-se ao estudo profano com fervor e tenacidade, alcançando êxitos escolares para além de qualquer expectativa... A literatura, a música, o canto e a arte da miniatura conquistam-na; tem uma índole forte, decidida, imediata e impulsiva; diz com frequência que é negligente; reconhece os seus defeitos e pede humildemente perdão pelos mesmos. Com humildade, pede conselhos e orações pela sua conversão. Há características do seu temperamento e defeitos que a acompanham até ao fim, a ponto de causar admiração a certas pessoas que se interrogam como o Senhor a prefere tanto. Como estudante, passa a consagrar-se totalmente a Deus na vida monástica e, durante vinte anos, não acontece nada de extraordinário: o estudo e a oração são a sua atividade principal... A 27 de Janeiro de 1281, poucos dias antes da festa da Purificação da Virgem, por volta da hora das Completas, à noite, o Senhor ilumina as suas densas trevas. Com suavidade e docilidade, acalma a inquietação que a angustia. Gertrudes vê nessa inquietação como que um dom do próprio Deus, «para abater aquela torre de vaidade e de curiosidade que, apesar do nome e do hábito de religiosa, eu ia erguendo com a minha soberba, para assim encontrares o modo para me mostrar a tua salvação» (Ibid., II, 1, p. 87). Gertrudes tem a visão de um jovem que a leva a superar o enredo de espinhos que oprime a sua alma, guiando-a pela mão. Naquela mão, «o traço precioso daquelas chagas que ab-rogaram todos os atos de acusação dos nossos inimigos» (Ibid., II, 1, p. 89), reconhece Aquele que, na Cruz, nos salvou com o seu sangue, Jesus.
    A partir daquele momento, a sua vida de íntima comunhão com o Senhor intensifica-se... mesmo quando, doente, não podia ir ao coro...A sua biógrafa indica dois rumos daquela que poderíamos definir uma sua particular «conversão»: nos estudos, com a passagem radical dos estudos humanísticos profanos para os teológicos e, na observância monástica, com a passagem da vida que ela define negligente para a vida de oração intensa e mística, com um ardor missionário extraordinário. O Senhor, que a tinha escolhido desde o seio materno e desde criança a tinha levado a participar no banquete da vida monástica, chama-a com a sua graça «das coisas externas para a vida interior e das ocupações terrenas para o amor das realidades espirituais». Gertrudes compreende que está distante dele, na região da dissemelhança, como ela diz com Santo Agostinho; que se tinha dedicado com demasiada avidez aos estudos liberais, à sabedoria humana, descuidando a ciência espiritual, privando-se do gosto da verdadeira sabedoria; agora é conduzida para o monte da contemplação, onde deixa o homem velho para se revestir do novo. Gertrudes transforma tudo isto em apostolado: dedica-se a escrever e divulgar a verdade de fé com clareza e simplicidade, graça e persuasão, servindo a Igreja com amor e fidelidade, a ponto de ser útil e agradável aos teólogos e às pessoas piedosas. Resta-nos pouco desta sua intensa atividade, também por causa das vicissitudes que levaram à destruição do mosteiro de Helfta. Além do Arauto do amor divino ou das Revelações, dispomos ainda dos Exercícios espirituais, uma joia rara da literatura mística espiritual... Orientada para a comunhão sem fim, conclui a sua vicissitude terrena no dia 17 de Novembro de 1301, ou 1302, com cerca de 46 anos. (Extratos da catequese do Santo Padre Bento XVI, na Praça de S. Pedro, a 6 de Outubro de 2010).

    Oratio

    Rezemos com Santa Gertrudes: "Ó Jesus, Tu que me és imensamente querido, está sempre comigo, para que o meu coração permaneça contigo e o teu amor persevere comigo, sem possibilidade de separação, e o meu trânsito seja abençoado por ti, de tal modo que o meu espírito, livre dos vínculos da carne, possa encontrar repouso imediatamente em ti. Amém! (Exercícios Espirituais).
    Contemplatio

    «Eu vos adoro, vos saúdo e vos bendigo, ó doce Senhor Jesus Cristo, agradecendo-vos pelo amor com o qual vós quisestes, para nos resgatar, vós o Criador de todas as coisas, ser agarrado pelos homens, ligado, arrastado, pisado aos pés, batido, coberto de escarros, flagelado, coroado de espinhos, condenado, carregado com a cruz, despojado, crucificado, para morrer da mais amarga das mortes e ser traspassado com a lança. E em união com este mesmo amor, ofereço-vos as minhas indignas orações, suplicando-vos pelos méritos da vossa santíssima paixão e da vossa morte, que vos digneis lavar inteiramente e apagar todos os meus pecados com os quais as almas pelas quais eu rezo se macularam, por pensamentos, por palavras ou por ações. Conjuro-vos a oferecer a Deus Pai, por todas as penas nas quais estas almas incorreram perante a vossa justiça, todas as penas e as dores, os méritos e as ações do vosso corpo coberto de feridas e da vossa alma abismada de dores. Assim seja». (Oração de Santa Gertrudes citada pelo Leão Dehon, in OSP 4, p. 425s.).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Cristo, pela fé, habite nos vossos corações" (Ef 3, 17).

     

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    S. Gertrudes, Virgem (16 de Novembro)

    XXXIII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    16 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 4, 1-11
    1Depois disto, tive outra visão: havia uma porta aberta no céu e a voz que eu ouvira ao princípio, como se fosse de trombeta, falava comigo, dizendo: «Sobe aqui e vou mostrar-te o que deve acontecer depois disto.» 2Imediatamente, fui arrebatado em espírito: vi um trono no céu e sobre o trono havia alguém sentado. 3O que estava sentado era, no aspecto, semelhante à pedra de jaspe e de sardónica e uma auréola, de aspecto semelhante à esmeralda, rodeava o trono. 4Formando um círculo à volta do trono, vi que havia vinte e quatro tronos e sobre eles estavam sentados vinte e quatro anciãos vestidos de branco e com coroas de ouro na cabeça. 5Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões; sete lâmpadas de fogo ardiam diante do trono de Deus, as quais são os sete espíritos de Deus. 6Diante do trono havia também uma espécie de mar de vidro, transparente como cristal. No meio do trono e à volta do trono havia ainda quatro seres viventes cobertos de olhos por diante e por detrás: 7o primeiro vivente era semelhante a um leão; o segundo era semelhante a um touro; o terceiro tinha uma face semelhante à de um homem e o quarto era semelhante a uma águia em voo. 8Os quatro seres viventes tinham cada um seis asas cobertas de olhos por fora e por dentro. E não cessavam de cantar, de dia e de noite:«Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso, o que era, o que é e que há-de vir.» 9E, sempre que os seres viventes dão glória, honra e acção de graças ao que está sentado no trono e que vive pelos séculos dos séculos, 10os vinte e quatro anciãos prostram-se diante do que está sentado no trono e adoram ao que vive para sempre; e, lançando as suas coroas diante do trono, aclamam: 11«Digno és, Senhor e nosso Deus, de receber a glória, a honra e a força; porque criaste todas as coisas, por tua vontade foram criadas e existem.»
    Por meio de alguns símbolos, familiares a quem conhece o Antigo Testamento, João constrói um cenário que tem no centro um trono de glória. Nesse trono, senta-se o Eterno, o Criador de todas as coisas (v. 2). Diante d´Ele desenrola-se uma espécie de procissão e eleva-se um hino de louvor e de acção de graças. Todos os elementos descritivos servem para centrar a atenção de todos, também a nossa, n´Aquele que se senta no trono, porque Ele é Deus que devemos adorar. Com esta visão, o apóstolo João quer introduzir-nos, quer introduzir a assembleia que celebra os santos mistérios, na liturgia celeste, modelo de toda a liturgia terrestre.
    As várias aclamações que sobem para o Eterno, «o Senhor Todo-Poderoso» (v. 8), conservam todo o seu valor, hoje como ontem. Em primeiro lugar o «Santo, santo, santo» dirigido Àquele «que era, que é e que há-de vir». Esta expressão cronológica sintetiza toda a história da humanidade que, visitada por Deus, se torna história da salvação. O outro hino de louvor, com que termina a leitura, reconhece n´Aquele que se senta no trono o Criador de todas as coisas.

    Evangelho: Lucas 19, 11-28
    Naquele tempo, 11disse Jesus uma parábola, por estar perto de Jerusalém e por eles pensarem que o Reino de Deus ia manifestar se imediatamente. 12Disse, pois:«Um homem nobre partiu para uma região longínqua, a fim de tomar posse de um reino e em seguida voltar. 13Chamando dez dos seus servos, entregou-lhes dez minas e disse-lhes: 'Fazei render a mina até que eu volte.' 14Mas os seus concidadãos odiavam-no e enviaram uma embaixada atrás dele, para dizer: 'Não queremos que ele seja nosso rei.' 15Quando voltou, depois de tomar posse do reino, mandou chamar os servos a quem entregara o dinheiro, para saber o que tinha ganho cada um deles. 16O primeiro apresentou-se e disse: 'Senhor, a tua mina rendeu dez minas.' 17Respondeu-lhe: 'Muito bem, bom servo; já que foste fiel no pouco, receberás o governo de dez cidades.' 18O segundo veio e disse: 'Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.' 19Respondeu igualmente a este: 'Recebe, também tu, o governo de cinco cidades.' 20Veio outro e disse: 'Senhor, aqui tens a tua mina que eu tinha guardado num lenço, 21pois tinha medo de ti, que és homem severo, levantas o que não depositaste e colhes o que não semeaste.' 22Disse-lhe ele: 'Pela tua própria boca te condeno, mau servo! Sabias que sou um homem severo, que levanto o que não depositei e colho o que não semeei; 23então, porque não entregaste o meu dinheiro ao banco? Ao regressar, tê-lo-ia recuperado com juros.' 24E disse aos presentes: 'Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem dez minas.' 25Responderam-lhe: 'Senhor, ele já tem dez minas!' 26Digo-vos Eu: A todo aquele que tem, há-de ser dado, mas àquele que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado. 27Quanto a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os cá e degolai-os na minha presença.» 28Dito isto, Jesus seguiu para diante, em direcção a Jerusalém.
    Nesta página do seu evangelho, Lucas quer ensinar-nos o que significa ser discípulos, e introduz o episódio do rei recusado. O primeiro ensinamento desenvolve o que já vem das páginas anteriores: o que é ser discípulo. O episódio do rei recusado introduz o tema das páginas seguintes. Mas importa dar atenção ao início desta parábola (v. 11), em que Lucas quer ilustrar o tema da iminência escatológica, ligando-se assim não só ao evento histórico da entrada de Jesus em Jerusalém, mas também com a questão «quando virá o reino de Deus» (cf. Lc 17, 20).
    Do cruzamento de todos estes motivos, resulta uma interpretação múltipla e diferenciada da própria palavra, onde também se notam alguns retoques pessoais do evangelista. Por exemplo, a menção a «uma região longínqua» (v. 12), para onde foi o rei, é uma alusão ao longo espaço de tempo que ainda nos separa da segunda vinda de Jesus. Mais adiante, Lucas voltará a alertar-nos para possíveis erros de avaliação do tempo desse regresso (21, 8). Outro pormenor lucano tem a ver com a necessidade de fazer render as minas. Se o Senhor tarda em vir, também é certo que virá como juiz: importa ter frutos para Lhe apresentar, quando vier. Isto vale também para nós, hoje.

    Meditatio
    João usa diversos símbolos do Antigo Testamento, sobretudo de Ezequiel e de Isaías, mas também do livro do Êxodo, para falar de realidades espirituais difíceis de exprimir. Os quatro seres viventes são um símbolo tomado de Ezequiel que, quando descreve a glória de Deus, fala dos querubins, seres complexos que, com os seus quatro rostos (um de homem, outro de leão, outro de touro e outro de águia) representam todas as forças vivas da criação. Deus dispõe de todas essas forças e de todos os séculos da história humana. O
    s vinte e quatro anciãos representam o Antigo e Novo Testamento. O cântico de louvor «Santo, santo, santo é o Senhor» é o cântico dos serafins escutado por Isaías (cf. Is 6, 3).
    João descreve, pois, uma liturgia poderosa e evocadora da grandeza e da glória de Deus, para nos dar a alegria de participar nessa liturgia celeste. Somos chamados a receber a revelação do reino de Deus, a exultar com o pensamento de que Deus é omnipotente, dominador do céu e da terra, e a render-lhes as nossas homenagens, com todas as nossas forças, sabendo que jamais O louvaremos de modo adequado. Em Cristo, o nosso louvor será perfeito, como nos dirá João na página seguinte do Apocalipse.
    O evangelho diz-nos que o discípulo é chamado a ser «servo bom e fiel». Não se trata de uma bondade comum ou de uma fidelidade genérica. A bondade manifesta-se na disponibilidade. A fidelidade, na obediência. São duas atitudes fundamentais do ideal evangélico que Jesus nos apresenta. São a espiritualidade própria do discípulo. Fidelidade e bondade são as duas faces da mesma medalha, são dois aspectos da mesma personalidade, qualificada não pelas suas qualidades morais, mas pelo dom de graça recebido e pelo desejo constante de viver segundo a vontade do Mestre.
    Ao contrário de Mateus, que qualifica o servo como "preguiçoso", Lucas qualifica-o como "desobediente". É um pormenor que só se descobre na comparação dos sinópticos. Fazendo essa comparação, cada discípulo poderá treinar-se a seguir os evangelistas pelas pistas que lhe são próprias e organizar as diversas peças do único retrato de Jesus. Nesta parábola, Jesus convida os discípulos a vencer toda a forma de medo e a alimentar total confiança em Deus.
    Cada um de nós recebeu as suas minas ou os seus talentos que há-de fazer render e de que há dar contas. Deus ama-nos, tem confiança em nós, estima-nos, deu-nos uma missão a realizar na vida. Também eu hei-de uma justa confiança em mim mesmo, porque, se assim não for, não posso revelar os meus dotes, não posso pôr a render os talentos que Deus me deu, não posso agir e produzir e fecho-me em si mesmo, triste, na minha árida esterilidade. Espero que também os irmãos me ajudem com a sua confiança e estima a revelar-me e a valorizar os meus talentos, tal como eu fraternalmente os ajudarei a revelar-se, a terem confiança em si mesmos, a valorizar os seus talentos. Daqui a importância da comunidade religiosa onde se cultiva a "caridade" como «esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser com a ajuda do nosso apoio fraterno» (Cst 64).

    Oratio
    Senhor Jesus, usaste uma parábola, certamente inspirada num acontecimento do tempo em que viveste, para nos dizer: «Pensai bem: os homens actuam assim; mas, quando vos opuserdes a Deus, correreis riscos ainda maiores».
    Faz-nos compreender que esses riscos não existem porque Deus seja cruel, mas porque, sendo Deus, o homem acaba por destruir-se a si mesmo quando se Lhe opõe.
    Faz-nos também compreender que, antes da vinda do reino de Deus, há um longo caminho a percorrer e que não podemos esperá-lo ociosos, se quisermos a recompensa. Dá-nos imaginação, disponibilidade e força para fazer render os dons que nos deste, e ajudarmos os outros a fazer o mesmo. Os dons recebidos podem não ser muitos; mas a recompensa será enorme, porque os nossos pequenos esforços atrairão a tua generosidade divina. Amen.

    Contemplatio
    Nosso Senhor fez muitas vezes afirmar a sua fidelidade por meio dos profetas: «Deus é fiel nos seus caminhos» (Sl 144). Quis repetir essa afirmação no começo da sua vida pública, no sermão da montanha: «O céu e a terra passarão, mas nem um só jota das profecias e figuras ficará por cumprir» (Mt 5, 18). No momento da Paixão, não está preocupado em tudo cumprir até ao fim? Depois da Ceia, disse ao seu Pai: «Foi fiel a toda a minha missão» (Jo 17) ... Sejamos fiéis, se quisermos ouvir um dia a sentença: «Vem, servo bom e fiel, a uma fidelidade será recompensada, entra na alegria do Senhor» (Mt 25).
    Nosso Senhor fará por nós o que Deus pedia na Antiga Lei: «Se tiveres um servo fiel, que seja tratado como teu sangue (sicut anima tua); trata-o como irmão» (Sir 34). Mas nós já não somos servos mas amigos: Jam non dixi servos, sed amicos... (Jo 15). Isto aplica-se particularmente aos sacerdotes. É sobretudo deles que Jesus espera a fidelidade que convém aos amigos. Se formos fiéis, o olhar amante de Jesus não nos abandonará: Oculi meia d fideles terrae ut sedeant mecum (Sl 100). Seremos a sua consolação e a sua alegria: «Nada se pode comparar a um amigo fiel, um amigo fiel é o remédio para as penas da vida» (Sir 6, 15).
    Depois de tudo o que Jesus fez por nós, depois das provas de amizade que o seu divino Coração nos deu, especialmente na Paixão, ma sagrada Eucaristia, na nossa vocação privilegiada, não tem ele direito a contar que sejamos para Ele amigos fiéis?» (Pe. Dehon, OSP 4, p. 498s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Santo, santo, santo, Senhor Deus omnipotente» (Ap 4, 8).
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXXIII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    18 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 10, 8-11
    8Depois, a voz do céu, que eu tinha ouvido antes, falou-me de novo: «Vai, toma o livro aberto da mão do anjo que está de pé sobre o mar e sobre a terra.» 9Aproximei-me do anjo e pedi-lhe para me entregar o livrinho. Ele disse-me: «Toma e come-o. Ele vai amargar-te nas entranhas, mas, na tua boca, será doce como mel.» 10Tomei o livrinho das mãos do anjo e comi-o: na minha boca era doce como mel; mas, depois de o comer, as minhas entranhas encheram-se de amargura. 11Depois, disseram-me: «É necessário que continues a profetizar contra muitos povos, nações, línguas e reinos.»
    João escuta uma voz que o convida a tomar o livro e a devorá-lo (vv. 8s.). Ao executar a ordem, experimenta simultaneamente doçura e amargura (v. 10). Estamos perante um símbolo muito claro da missão profética de João, e de cada um de nós. A Palavra, que também está sigilada no grande livro, quer tornar-se voz que chega a cada um de nós, nos interpela e responsabiliza como ouvintes e testemunhas. Ninguém pode desprezá-la ou desconhecê-la: o baptismo fundamenta em nós o direito e o dever do apostolado entendido como "serviço" à Palavra.
    Doçura na boca e amargura nas vísceras: esta imagem faz-nos compreender o drama de quem, não só está consciente do direito de escutar a Palavra, mas também do dever de a testemunhar. O verdadeiro profeta partilha o destino da Palavra, d´Aquele que é a Palavra, um destino pascal de sofrimento e de alegria, de trevas e de luz, de morte e de vida. A ordem final: «É necessário que continues a profetizar» (v. 11) diz-nos que a missão profética não é opcional, mas um dever daquele que acolheu a Palavra.

    Evangelho: Lucas 19, 45-48
    Naquele tempo, 45Jesus, entrando no templo, começou a expulsar os vendedores. 46E dizia-lhes: «Está escrito: A minha casa será casa de oração; mas vós fizestes dela um covil de ladrões.» 47Ensinava todos os dias no templo, e os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, assim como os chefes do povo, procuravam matá-lo. 48Não sabiam, porém, como proceder, pois todo o povo, ao ouvi-lo, ficava suspenso dos seus lábios.
    Lucas começa por referir a palavra de Jesus contra os vendedores. Depois apresenta um resumo dos episódios que marcaram os últimos dias de Jesus na terra.
    «Está escrito: A minha casa será casa de oração», diz Jesus (v. 45). Jesus não reza só no templo, e chega a criticar o apego às instituições religiosas vistas apenas em perspectiva materialista. Mas o templo, enquanto casa de Deus, tem de ser respeitado, e não pode ser usado para outros fins que não sejam o culto de Deus. O templo não pode tornar-se «um covil de ladrões» (v. 46). «Está escrito»: não são apenas as profecias que determinam o comportamento de Jesus, mas é também o comportamento de Jesus que realiza em plenitude as profecias. A luz que ilumina os gestos de Jesus vem da sua mensagem profética, mas sobretudo da sua consciência messiânica.
    «Os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, assim como os chefes do povo, procuravam matá-lo» (v. 47): os poderosos permanecem na sua cegueira diante de Jesus e das suas palavras. Mas o povo simples, que reconhece a necessidade de um Salvador e de um Mestre, está suspenso dos seus lábios (v. 48).

    Meditatio
    O evangelho de hoje apresenta-nos Jesus que, sendo manso e humilde coração (cf. Mt 11, 29), usa de violência para que se possa servir a Deus em santidade e justiça, e fazer da Sua casa uma casa de oração. Temos de aceitar esta imagem de Jesus e, por conseguinte, aceitar que o Evangelho seja anunciado e seja vivido de modos diferentes sem pretender que todos tenham as mesmas atitudes e orientações espirituais. O Espírito pode sugerir que a apresentação e o anúncio do Evangelho varie conforme as circunstâncias. No texto que escutamos hoje, Jesus é tomado pelo zelo da casa de Deus: «Está escrito: A minha casa será casa de oração; mas vós fizestes dela um covil de ladrões!».
    Neste episódio, Jesus liberta o templo de Deus para que se possa servir a Deus em santidade e justiça, fazer da casa de Deus uma casa de oração. Mas, templo de Deus não é só o de Jerusalém: é a sociedade, é toda a pessoa, que deve ser libertada do inimigo para poder servir a Deus em santidade e justiça. Os cristãos em geral, e os evangelizadores em particular, podem sentir-se impelidos a intervenções fortes em vista do respeito pelas pessoas e pelas sociedades. Não é fácil julgar essas intervenções, estando fora das situações em que acontecem. Se há o perigo de ser imprudentes, também há o perigo de ficar calados, quando é necessário intervir contra a injustiça e a opressão.
    Há ligação entre a missão profética de que fala a primeira leitura e a casa de oração de que fala o evangelho. A Palavra de Deus é dom a comunicar aos outros por meio da profecia, e dom a assimilar pessoalmente no colóquio íntimo e amoroso com Deus, que é a oração. São dois aspectos de uma única experiência espiritual, e dois momentos de um único ministério. A missão profética amadurece na oração; a oração leva a sentir a necessidade de evangelizar. A liturgia da Palavra é um convite diário a não separarmos o que, no projecto de Deus, deve permanecer unido. Jesus manifesta claramente a união entre a oração e a missão. A oração precede, acompanha e prolonga-se em relação às suas actividades missionárias e de bem-fazer. Por isso, tem força e coragem para denunciar situações de injustiça, acatando as consequências. A sua morte não é fruto do acaso. Sabe o que O espera. Por isso, a sua oração perene se intensifica, à medida que se aproxima a sua hora.
    É um direito e dever da Igreja proclamar a justiça e denunciar a injustiça. Este é um direito e um dever também nosso, religiosos dehonianos, porque «participantes na missão da Igreja» (Cst P II, A., § 4). Todavia a Igreja, além de mistério, é instituição humana (como o é, de resto, também a nossa Congregação) feita de homens muito imperfeitos e pecadores. É precisa uma «contínua reforma» (UR 6), purificação, conversão. Precisamos de uma "«conversão permanente ao Evangelho» (Cst 144) para o podermos anunciar com a força do Espírito. Precisamos do diálogo permanente com o Senhor.

    Oratio
    Senhor Jesus, o Evangelho revela-nos que a tua personalidade é mais rica e complexa do que às vezes imaginamos. És manso e humilde; mas sabes expulsar os vendilhões do templo. Ajuda-me a aceitar essa tua imagem e, com ela, o
    facto do Evangelho ser vivido e anunciado de modos diferentes, sem ter a pretensão que todos tenham os mesmos sentimentos, as mesmas orientações espirituais. Ajuda-nos a ser dóceis à voz do Espírito para realizarmos sempre, com força e suavidade, a tua obra, e todos possam servir a Deus em santidade e justiça. Amen.

    Contemplatio
    O nosso divino Sacerdote veio a este mundo para a glória do seu Pai, pelo seu reino, pelo estabelecimento e dilatação do seu império; mas porque tudo isto não pode realizar-se senão conquistando-lhe almas, não há no seu Coração de sacerdote senão um mesmo amor: o amor do triunfo do seu Pai e o amor da salvação das almas. Toda a sua vida tende para este fim. Reza, sofre, trabalha, oferece-se como vítima pela glória de seu Pai e pela salvação das almas. Exclama: «Vim lançar fogo à terra e que desejo eu, senão que a terra se abrase?» É o fogo do amor de benevolência, são os ardores do seu zelo pela honra do seu Pai, é a ardente caridade que o consome pelas almas. É preciso absolutamente que o seu Pai triunfe e que as almas sejam resgatadas e salvas: está tudo aí. Os trinta e três anos da sua vida foram todos preenchidos desta paixão interior, que se manifesta particularmente nos dias da sua vida pública.
    Com que terna afeição fala de seu Pai e dos direitos que tem à nossa fidelidade! Como quer ganhar almas para o seu serviço! Como se apaga a si mesmo, para que todos se voltem para este Pai bem amado! «Não faleis da minha bondade, diz, só Deus é bom» (Lc 18).
    Morre para satisfazer ao seu Pai reparando a sua glória, e para salvar as nossas almas arrancando-as ao seu inimigo.
    Enfim, virá o dia em que este doce triunfador, que será vencedor, porque é vítima como nos ensinou Santo Agostinho, Victor quia victima, se submeter todas as almas que devem compor o seu corpo místico. «Então virá o fim, diz S. Paulo; o Filho entregará a sua conquista a Deus e ao Pai, e o Filho se submeterá Ele mesmo (na sua Humanidade e na qualidade de sacerdote e de Hóstia eterna) Àquele que lhe terá tudo submetido, de modo que Deus seja tudo em todos» (1Cor 15).
    É o temo da missão do Filho. Como se vê, este Filho incarnado, este Sacerdote consagrado ao Altíssimo, não separa nunca no seu Coração, nas suas obras, na sua imolação, no seu triunfo, o seu Pai, cuja glória é o fim de tudo, e as almas, cuja salvação é a matéria desta glória. (Leão Dehon, OSP 2, p. 593s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Toma o livro e come-o; deves ainda profetizar» (Ap 10, 9-11).
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXXIII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares


    19 de Novembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXXIII Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Apocalipse 11, 4-12
    4Estas duas testemunhas são as duas oliveiras e os dois candelabros que estão diante do Senhor da terra. 5Se alguém quiser fazer-lhes mal, sairá fogo da sua boca para devorar os seus inimigos; deste modo, se alguém tentar fazer-lhes mal, morrerá certamente. 6Eles têm o poder de fechar o céu para que a chuva não caia no tempo da sua profecia. E têm, igualmente, o poder de mudar as águas em sangue, de modo a provocar na terra toda a espécie de flagelos, sempre que o desejem fazer. 7E, quando terminarem de dar testemunho, a Besta que sobe do Abismo lutará contra eles, vencê-los-á e dar-lhes-á a morte. 8Os seus cadáveres ficarão na praça da grande cidade, que se chama, simbolicamente, Sodoma e Egipto, precisamente onde o seu Senhor foi crucificado. 9E, durante três dias e meio, homens de vários povos, tribos, línguas e nações contemplarão os seus cadáveres e não permitirão que sejam sepultados. 10Os habitantes da terra se felicitarão pela sua morte, farão festa e se presentearão mutuamente; porque eles, os dois profetas, tinham sido um tormento para a humanidade. 11Mas, depois desses três dias e meio, um sopro de vida, enviado por Deus entrou neles: puseram-se de pé e um grande terror caiu sobre os que os viram. 12Então, as duas testemunhas ouviram uma voz forte que vinha do céu e lhes dizia: 'Subi para aqui'. E eles subiram ao céu numa nuvem, à vista dos seus inimigos.
    As duas testemunhas (v. 4) simbolizam todos os que receberam a missão profética e, por isso, estão disponíveis para anunciar a Boa Nova. Essas testemunhas têm a protecção de Deus e d´Ele recebem poderes extraordinários em ordem à evangelização que o Espírito Santo torna fecunda. São instrumentos nas mãos de Deus, ao serviço da humanidade. Por isso são dignos de veneração e hão-de participar na glória de Deus. A única condição para isso é que sigam o mesmo caminho que o mestre, Jesus, percorreu. Passarão pela experiência dolorosa da perseguição e da morte: «a Besta que sobe do Abismo» (v. 7) poderá cantar vitória, ainda que provisoriamente. «Sodoma e o Egipto» (v. 7) exultarão pela morte destas duas testemunhas e pelo triunfo provisório das forças do mal contra o Cordeiro. Mas «depois de três dias e meio» a situação inverter-se-á: as testemunhas hão-de ressuscitar por causa do sopro de vida que Deus fará entrar neles (cf. v. 11) e todos sentirão grande terror. O mistério pascal realiza-se também na sua vida: a vida do Mestre é a sua vida; a sua vitória e participação na vitória de Jesus. Ressuscitarão e «subiram ao céu» (v. 12), onde está Jesus. O triunfo das testemunhas atinge a meta que é a comunhão eterna com o Pai, depois da comunhão terrena com Jesus.

    Evangelho: Lucas 20, 27-40
    Naquele tempo, 27Aproximaram-se alguns saduceus, que negam a ressurreição, e interrogaram-no: 28«Mestre, Moisés prescreveu-nos que, se morrer um homem deixando a mulher, mas não tendo filhos, seu irmão casará com a viúva, para dar descendência ao irmão. 29Ora, havia sete irmãos: o primeiro casou-se e morreu sem filhos; 30o segundo, 31depois o terceiro, casaram com a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram sem deixar filhos. 32Finalmente, morreu também a mulher. 33Ora bem, na ressurreição, a qual deles pertencerá a mulher, uma vez que os sete a tiveram por esposa?» 34Jesus respondeu-lhes: «Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se; 35mas aqueles que forem julgados dignos da vida futura e da ressurreição dos mortos não se casam, sejam homens ou mulheres, 36porque já não podem morrer: são semelhantes aos anjos e, sendo filhos da ressurreição, são filhos de Deus. 37E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça, quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob. 38Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; pois, para Ele, todos estão vivos.» 39Tomando, então, a palavra, alguns doutores da Lei disseram: «Mestre, falaste bem.» 40E já não se atreviam a interrogá-lo sobre mais nada.
    A pergunta dos saduceus manifesta uma mentalidade materialista e fechada à lógica do céu. Não se trata de levar ou não a mulher para a outra vida. A vida depois da morte será algo de completamente novo e inesperado. Jesus fala de imortalidade, coisa que não podemos experimentar desde já e que deve ser considerada um dom preciosos da vontade divina. As relações interpessoais na vida eterna serão de outra ordem: não nos fecharemos na relação com uma pessoa, mas estaremos abertos a todos e a Deus. Finalmente Jesus afirma que os ressuscitados serão «semelhantes aos anjos». Não se trata de uma expressão de desprezo pelo matrimónio, mas da afirmação de que a vida eterna será diferente da vida deste mundo: mais próxima de Deus a quem louvaremos e serviremos, como fazem os anjos.
    Os vv. 39 e 40 mostram-nos que entre os escribas também havia pessoas que apreciavam a doutrina de Jesus, mas não tinham coragem para ser coerentes até às últimas consequências, isto é, até comprometer-se com Ele.

    Meditatio
    O mundo quer-nos fechados, prisioneiros e escravos da sua finitude. Mas leituras de hoje abrem-nos os horizontes de outro mundo e de outra forma de vida. Levam-nos a meditar na vida eterna. A resposta de Jesus à objecção dos saduceus é um golpe de asa que nos ergue para o alto: «Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se; 35mas, aqueles que forem julgados dignos da vida futura e da ressurreição dos mortos não se casam, sejam homens ou mulheres, 36*porque já não podem mor¬rer: são semelhantes aos anjos e, sendo filhos da ressurreição, são filhos de Deus» (vv. 34-36). Somos chamados a outra forma de existência que começa desde já, na união com Deus, para continuar na eternidade.
    Há, pois, que purificar as nossas ideias sobre o modo de vida que nos espera em Deus. Sobre isso, o evangelho sugere-nos mais o silêncio do que o palavreado superficial. É fácil cair em discursos banais sobre o paraíso, tanto em sentido negativo como em sentido positivo. Como os saduceus, corremos o risco de reduzir a vida eterna às proporções da vida terrena, ainda que aumentadas. Deus quer surpreender-nos com «coisas novas», ou melhor, com «novos céus e nova terra». O que sabemos ao certo é que a vida eterna será uma páscoa plena e definitiva, participação na Páscoa de Jesus. Como as «duas testemunhas» do Apocalipse, sabemos que a Páscoa é um acontecimento extraordinário que abre o céu e a terra e marca definitivamente a nossa vida. Chegaremos à vida eterna pela ressurreição, que &ea
    cute; participação na ressurreição de Cristo, participação na sua vitória sobre a morte.
    São estes os pensamentos que hão guiar a nossa vida, e não os do mundo. A ressurreição é o nosso horizonte definitivo, uma vez que somos «filhos da ressurreição e filhos de Deus» (v. 36).
    Como religiosos, damos um testemunho público e profético da transcendência do Reino de Deus e, ao mesmo tempo, da incarnação deste Reino na história concreta do mundo: «A nossa profissão dos conselhos evangélicos, vivida em comunidade, é a primeira expressão da nossa vida apostólica: testemunha a presença de Cristo e anuncia o advento do Reino de Deus» (Cst 60) e ainda : «Na nossa maneira de ser e de agir, pela participação na construção da cidade terrena e na edificação do Corpo de Cristo, devemos testemunhar eficazmente que é o Reino de Deus e a sua justiça que se devem procurar antes de tudo e acima de tudo» (Cst 38).
    Para que o nosso carisma religioso seja um "carisma profético" (Cst 27), isto é, um sinal profético, não é suficiente professar os conselhos evangélicos; é preciso vivê-los na vida fraterna de uma comunidade, onde os religiosos se ajudem uns aos outros a reviver Cristo casto, pobre e obediente. Uma tal comunidade é sinal e testemunho do transcendente e escondido Reino de Deus: «testemunha a presença de Cristo e anuncia o advento do Reino de Deus» (Cst 60)

    Oratio
    Obrigado, Senhor, pela palavra de consolação e esperança que, hoje, me diriges. Obrigado pelos mensageiros do teu Evangelho que levam aos cinco continentes a mesma consolação e esperança. Obrigado porque, em cada momento histórico, alertam a tua Igreja para a missão de evangelizar que lhe confiaste. Obrigado por todos aqueles que, para serem fiéis no testemunho, engrossaram as fileiras dos teus mártires. Obrigado por todos aqueles que, em todos os países, línguas, povos e culturas, louvam o teu nome. Obrigado por aqueles que, escutando o teu chamamento e respondendo com generosidade e alegria, hão-de continuar a servir a Igreja e o mundo, evangelizando e promovendo todos os povos da terra. Assiste-os com a tua presença, guia-os com o teu conselho e fortalece-os com o teu Espírito. Amen.

    Contemplatio
    O que vale mais do que o cêntuplo dos bens terrestres, é o céu, é a vida eterna.
    É a vida com Deus, a posse de Deus. Isso vale mais do que todas as honras, do que todas as riquezas, do que todas as alegrias.
    Os padres e os religiosos possuirão Deus e possui-lo-ão mais intimamente que os simples fiéis. Foi a eles como aos apóstolos que Nosso Senhor disse: «Vós que deixastes tudo por minha causa, sentar-vos-eis sobre tronos para julgar os outros homens».
    A vossa glória, ó padres, será em proporção às vossas renúncias. Haverá para vós como que um paraíso especial, uma união maior com o Salvador, um cêntuplo no céu, como tivestes um cêntuplo sobre a terra.
    Os Padres da Igreja e os doutores não hesitam em aplicar esta promessa de Nosso Senhor aos padres e aos religiosos.
    Julgarão o mundo, diz S. Gregório, porque lhe serão superiores pelo seu desapego; porque planam como águias na contemplação do céu e no desprezo da terra; porque são os mestres e os doutores da verdade e terão de julgar se o mundo viveu segundo a sua doutrina; porque tendo sido julgados pelo mundo e desprezados pelos insensatos, julgarão por sua vez a loucura do mundo (Mor., 26).
    Ó padres, como esta promessa é estimulante! Vós sereis no céu amigos especiais do Salvador, amigos íntimos. Vivereis mais próximos d' Ele que o comum dos eleitos, se verdadeiramente tiverdes vivido como padres sobre a terra.
    Que mais poderoso estímulo Jesus vos poderia dar? (Leão Dehon, OSP, p. 625).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Semeia-se num corpo corruptível e ressuscita-se incorruptível» (cf. 1 Cor 15, 42).
    | Fernando Fonseca, scj |

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