Week of Jun 22nd

  • XII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    20 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XII Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Reis 17, 5-8.13-15ª.18

    Naqueles dias, 5Salmanasar invadiu todo o país e pôs cerco a Samaria, durante três anos. 6No ano nono do reinado de Oseias, o rei da Assíria conquistou a Samaria e deportou os israelitas para a Assíria. Estabeleceu-os em Hala, nas margens do Habor, rio de Gozan, e nas cidades da Média. 7Isto aconteceu porque os filhos de Israel pecaram contra o Senhor, seu Deus, que os tirara do Egipto e libertara da opressão do Faraó, rei dos egípcios. Adoraram outros deuses 8e seguiram os costumes das nações que o Senhor expulsara da frente dos filhos de Israel, e os que foram introduzidos pelos reis de Israel. 13O Senhor admoestara Israel e Judá pela boca dos seus profetas e videntes: «Desviai-vos dos vossos maus caminhos, guardai os meus mandamentos e preceitos, observai fielmente a lei que prescrevi a vossos pais e que vos transmiti pelos meus servos, os profetas.» 14Mas eles não o quiseram ouvir, e endureceram o seu coração, imitando seus pais, que se tornaram infiéis ao Senhor, seu Deus. 15Desprezaram os seus preceitos e a aliança que Ele estabeleceu com os seus pais, e as advertências que lhes tinha feito. 18Então, o Senhor indignou-se profundamente contra os filhos de Israel e lançou-os para longe da sua face. Só ficou a tribo de Judá.

    Os reinos de Israel e de Judá, depois da morte de Eliseu (2 Rs 13, 14ss.), passaram por diversas vicissitudes, num crescendo de dificuldades que irão culminar com a deportação para Babilónia (2 Rs 12-16). A tomada de Samaria, capital de Israel (722), pelo rei da Assíria, depois de três anos de cerco, suscita nos autores deuteronomistas uma reflexão sapiencial. Submetem a história a um exame e concluem que, sobretudo a partir da monarquia, o povo, com os reis à cabeça, se precipitava para a ruína, devido à sua infidelidade a Deus, que era cada vez maior. O texto litúrgico, para não ser demasiadamente longo, corta vários versículos intermédios, e também os 19 a 23. Mas o texto integral mostra bem a gravidade do cisma religioso e do sincretismo em que Israel mergulhou. À infidelidade do povo, não podia não corresponder a recusa de Deus.
    Salmanasar V (726-722) pôs cerco a Samaria no ano nono de Osias (732-724), que não se mostrara um vassalo fidedigno. Sargão II acabará por conquistar a cidade em 722.

    Evangelho: Mateus 7, 1-5

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1«Não julgueis, para não serdes julgados; 2pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos. 3Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não vês a trave que está na tua vista? 4Como ousas dizer ao teu irmão: 'Deixa-me tirar o argueiro da tua vista', tendo tu uma trave na tua? 5Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás melhor para tirar o argueiro da vista do teu irmão.»»

    Na base dos provérbios que o evangelho hoje nos apresente, e noutros semelhantes, está o princípio da retribuição, que se apoia numa norma de paridade: o mesmo que fizeres aos outros, te farão a ti. Desperta-nos a atenção o passivo dos verbos: «sereis julgados», «sereis medidos». Estamos perante o chamado passivo divino. O sujeito destes verbos é Deus. Na forma activa, diríamos: Deus vos julgará, vos medirá. Sendo assim, trata-se de uma verdadeira ameaça. Quem pode resistir ao julgamento ou à medida de Deus?
    Se virmos bem, Jesus não nos proíbe julgar e medir os outros, mas ensina-nos como fazê-lo. A medida do juízo divino será igual à que usarmos nos nossos julgamentos humanos. Na antiguidade, a medida com que se media a cessação de um bem, era a mesma que assegurava a sua restituição. Os rabinos, por sua vez, ensinavam que Deus Se servia de um duplo critério de juízo: a justiça e a bondade.
    O convite a não julgar forma como que uma espécie de refrão no Novo Testamento. O próprio Cristo Se apresenta como aquele que não vem julgar, mas salvar (Jo 3, 7; cf. Jo 8, 11; Lc 23, 34). Paulo também nos previne contra o risco de fazermos julgamentos: «ao julgares o outro, a ti próprio te condenas» (Rm 2, 1).

    Meditatio

    O juízo de Deus pode demorar. Mas não faltará. A catástrofe das tribos do reino do Norte é consequência do juízo de Deus, motivado pela infidelidade à Aliança, apesar dos repetidos avisos dos profetas. Há, pois, que temer o juízo de Deus.
    O evangelho ensina-nos a não julgar os outros, deixando esse encargo a Deus, ou a julgá-los como gostaríamos nós mesmos de ser julgados: «Não julgueis, para não serdes julgados; pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos» (vv. 1-2).
    A nossa única preocupação em relação ao próximo há-de ser ajudá-lo. Tarefa difícil, uma vez que, muito frequentemente, temos de julgar, de discernir o que é bom e o que é mau. Mas o nosso julgamento há-de limitar-se aos actos, e não às intenções. Só Deus, que sonda os corações, pode condenar ou justificar alguém.
    Quando nos pomos a julgar os outros, facilmente pecamos. É - para usar as palavras de Jesus - como se puséssemos uma trave na vista. Assim faziam os fariseus, que orgulhosamente se julgavam diferentes dos outros, e mesmo superiores. Criticavam as acções dos outros e não viam o egoísmo e a soberba que lhes enchia o coração, a pesada trave que os separava dos outros, e de Deus.
    Facilmente somos tentados a julgar os outros. Mas Deus convida-nos à misericórdia e à solidariedade: «Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo», escreve Paulo aos gálatas (6, 2). Quando estamos dispostos a fazer isto, que o Apóstolo recomenda, não criticamos: ajudamos.
    Escrevem as nossas Constituições, ao tratarem da relação entre os confrades: «Membros de Cristo, fiéis ao seu premente convite do Sint unum - «Que todos sejam um» - (Jo 17, 21), levam fraternamente os fardos uns dos outros, numa mesma vida comum» (Cst 8). O Vaticano II falou eficazmente da vida comum, apelando para o exemplo da primitiva Igreja de Jerusalém (cf. Act 2, 42; 4, 32), para a doutrina de Paulo acerca do respeito mútuo (cf. Rm 12, 10) e para o carregar os fardos uns dos outros (cf. Gl 6, 2), fazendo o elogio da caridade derramada pelo Espírito no coração dos fiéis, entre os quais estão os religiosos, (cf. Rm 5, 5), que torna a comunidade cristã, e a comunidade religiosa, por si mesmas apostólicas (cf. PC 15).

    Oratio

    Senhor Jesus, converte-me, transforma-me, e dá-me aquele espírito de caridade e humildade, que é condição para crescer em santidade e ajudar os outros nesse mesmo crescimento. Ajuda-me a ser misericordioso com todos, e a não julgar ninguém. Se tiver de j
    ulgar, mostra-me, antes, se não sou semelhante àquele que julgo, para que não reprove nos outros o que antes devo reprovar em mim.
    Ajuda-me a rezar, para poder receber os dons da tua graça, e derramá-los sobre os meus irmãos. Amen.

    Contemplatio

    Os fariseus observavam a lei por hipocrisia, para serem vistos e por interesse, com um espírito de crítica e de difamação pelos outros. Nosso Senhor dá-nos por modelo as disposições do seu próprio coração, sempre tão humilde e tão caridoso. Por isso, nos diz: Fugi do espírito de crítica e de censura. Não julgueis e não sereis julgados. Perdoai e sereis perdoados. Não procureis uma palha no olho do próximo quando tendes uma trave no vosso. Finalmente, tomai os meios necessários para bem observardes a lei. Rezai e pedi a Deus o fervor e a perfeição. - Sede misericordiosos para com o próximo, e Deus sê-lo-á a vosso respeito. - Praticai a mortificação exterior e interior. Entrai pela porta estreita. O caminho do céu pede sacrifícios. Subi-o com constância e coragem. (Leão Dehon, OSP4, p. 28s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra
    «Não julgueis, para não serdes julgados» (Mt 7, 1).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    21 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XII Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Reis 19, 9b,-11.14-21.31-35ª.36

    Naqueles dias 9Senaquerib, rei da Assíria, enviou de novo mensageiros a Ezequias para lhe dizer: 10«Isto direis a Ezequias, rei de Judá: não te deixes enganar pelo teu Deus, no qual puseste a tua confiança, pensando que Jerusalém não será entregue nas mãos do rei da Assíria. 11Ouviste dizer como os reis da Assíria trataram todos os países e os devastaram. Só tu é que irias escapar? 14Ezequias recebeu a carta das mãos dos mensageiros, leu-a, depois foi ao templo, e abriu-a diante do Senhor. 15E orou diante dele, dizendo: «Senhor, Deus de Israel, que estás sentado sobre os querubins, só Tu és o Deus de todos os reinos da terra. Tu fizeste os céus e a terra. 16Inclina, Senhor, os teus ouvidos e ouve! Abre, Senhor, os teus olhos e vê! Ouve, Senhor, a mensagem que Senaquerib mandou, para blasfemar contra o Deus vivo! 17É verdade, Senhor, que os reis da Assíria destruíram as nações, devastaram os seus territórios, 18e atiraram ao fogo os seus deuses, pois eles não eram deuses, eram apenas objectos feitos pelas mãos do homem, objectos de madeira e de pedra. Por isso, foram destruídos. 19Mas Tu, Senhor, nosso Deus, salva-nos agora das mãos de Senaquerib, a fim de que todos os povos da Terra saibam que Tu, o Senhor, és o único Deus.» 20Isaías, filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Eu ouvi a oração que me fizeste a respeito de Senaquerib, rei da Assíria. 21Eis o oráculo que o Senhor pronunciou contra ele: "A virgem, filha de Sião, despreza-te e escarnece de ti; atrás de ti meneia a cabeça a filha de Jerusalém. 31De Jerusalém surgirá um resto, e do monte de Sião sobreviventes. Fará tudo isto o zelo do Senhor. 32Portanto, eis o que diz o Senhor sobre o rei da Assíria: Ele não entrará nesta cidade, nem atirará flechas contra ela, não a rodeará de escudos, nem a cercará de trincheiras. 33Mas voltará pelo caminho por onde veio, sem entrar na cidade - oráculo do Senhor! 34Pois defenderei esta cidade e salvá-la-ei por amor de mim e de David, meu servo.» 35Nessa mesma noite, o anjo do Senhor apareceu no acampamento dos assírios e feriu cento e oitenta e cinco mil homens. 36Senaquerib, rei da Assíria retirou-se, retomou o caminho de sua terra e ficou em Nínive.»

    A narrativa bíblica prossegue, falando da massiça imigração de cinco estirpes estrangeiras e idólatras (os famosos «cinco maridos» de Jo 4, 18) para a Samaria. Esta imigração provocou um forte sincretismo: «Aqueles povos adoraram o Senhor, mas honraram ao mesmo tempo os seus ídolos. Ainda hoje, os seus filhos e os seus netos procedem como fizeram os seus pais» (2 Rs 17, 41). O mesmo não acontecia em Judá, onde reinava Ezequias, piedoso javista (716-681), que conseguiu salvar Jerusalém, aceitando a vassalagem perante a Assíria (2 Rs 18, 13ss.). Mas, em Jerusalém, era forte a reacção anti-Assíria, que contando com o apoio do Egipto.
    O nosso texto litúrgico refere a carta do rei da Assíria, Senaquerib (704-681), com ameaças a Ezequias. Isaías, profeta fortemente apaixonado por Jerusalém, a cidade onde nascera, intervém com um longo cântico que inclui um oráculo divino (vv. 21-24, aqui reduzido), e anuncia a derrota de Senaquerib: uma peste, ou alguma insurreição em Nínive, obriga-o a levantar o cerco. O povo interpreta o facto como um milagre, confirmando a sua crença na inviolabilidade da cidade, por causa do templo, onde se mostrava presente a Glória de Deus.

    Evangelho: Mateus 7, 6.12-14

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 6«Não deis as coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para não acontecer que as pisem aos pés e, acometendo-vos, vos despedacem.» 12«Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas.» 13«Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. 14Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!».»

    Mateus apresenta-nos dois provébios de difícil compreensão, por várias razões: vêm logo depois de Jesus nos ter proibido julgar os outros e nos ter mandado aplicar a medida com moderação, compreensão e perdão; não encontramos provérbios paralelos na literatura judaica que nos ajudem a compreender estes; apenas lemos no Talmud: «não entregueis a um pagão as palavras da Lei» e «não coloqueis coisas santas em lugares impuros», mas não ajudam muito no nosso caso. Os sacrifícios oferecidos no templo eram chamados «santos»; as pérolas, sob o ponto de vista comercial, eram preciosas. As palavras «santo» e «pérolas» provavelmente indicavam o Evangelho, a Boa Nova. Os «cães» e os «porcos», por sua vez, não eram os pagãos, como alguns dizem, mas todas aqueles que, pagãos ou não, desprezavam a Boa Nova, tal como os porcos desprezam as pérolas.
    O evangelista aponta, depois, a regra de ouro: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (v.12). Este princípio encontra-se noutras religiões, nomeadamente no judaísmo. Mas com uma diferença: no judaísmo é formulado negativamente: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a Ti» É uma diferença importante, porque, «não fazer» é sempre algo negativo. Mas a maior diferença é que Jesus eleva essa regra a princípio universal.
    Depois, Jesus cita os provérbios das duas portas e do dois caminhos, usados entre os moralistas da época para indicar o caminho da virtude, estreito e difícil, e o do vício, espaçoso e fácil. Mas Jesus introduz uma mudança: a porta e o caminho estreitos, da renúncia, do seguimento, da cruz, levam à vida; a porta e o caminho espaçosos, da satisfação dos apetites desordenados, levam à perdição. Há que escolher.

    Meditatio

    Perante o assédio do forte exército do rei da Assíria, à sua capital, o piedoso rei de Judá Ezequias desabafa a sua aflição junto do Senhor, no templo de Jerusalém. O Senhor escuta-o, e manda o profeta Isaías avisá-lo da próxima libertação: «Oráculo do Senhor - proclama o profeta em nome de Deus -: defenderei esta cidade e salvá-la-ei por amor de mim e de David, meu servo» (v. 34). Nessa mesma noite, o Anjo do Senhor flagela o acampamento dos assírios, que levantam o cerco a Jerusalém. Assim se revela a misericórdia de Deus para com a sua cidade e para com o seu povo.
    No evangelho, Jesus diz-nos que a salvação é difícil, que não se che
    ga a ela por caminhos espaçosos e cómodos, mas entrando pela «porta estreita» (v. 14).
    Vivemos a Nova Aliança. Jesus é a porta para a salvação. E não há outra! «Em verdade, em verdade vos digo- diz Jesus -: Eu sou a porta das ovelhas... Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem» (Jo 10, 7.9). Uma porta estreita, porque o nosso Deus é um Deus crucificado e não há lugar a compromissos, se O quisermos seguir. Uma porta estreita, mas que leva à vida, por um caminho estreito, onde Ele caminha connosco, onde, Ele próprio, se faz «caminho». Caminhando com Ele, as asperezas da viagem não nos estreitam o coração, mas dilatam-no, como aconteceu com os discípulos de Emaús.
    Segundo a expressão do Directório Espiritual dos Sacerdotes do Coração de Jesus (n. 9), Cristo é «Aquele que nos precedeu neste caminho, que o tornou praticável e que deixou atrás de Si, como sinais dos Seus passos, pegadas sangrentas. Tal é a nossa vocação». Foi essa a experiência de fé do Pe. Dehon, que teve como lemas da sua vida: «Ecce venio... - «Eis-me aqui» (Heb 10,7: «Domine, quid me vis facere? - Senhor, que queres que eu faça?» (Act 9, 6); «Fiat! - Faça-se!». É também essa a experiência de fé que somos chamados a fazer: «O caminho de Cristo é o nosso caminho», dizem as Constituições (n. 12). É o caminho dos dehonianos, o caminho que corresponde ao nosso carisma. Mas não é exclusivo. Se somos chamados a vivê-lo com particular consciência e empenho, é para estimularmos todos os nossos irmãos a percorrê-lo, sob a orientação e com apoio do Espírito Santo. Efectivamente, todos os cristãos são chamados a seguir a Cristo, no seu caminho do abandono à vontade do Pai, e da oblação de amor ao mesmo Pai, pelos irmãos.

    Oratio

    Senhor Jesus, dá-me a tua graça, para que possa percorrer com agilidade e satisfação o caminho que Tu mesmo percorreste, sem descer a compromissos nem cair na mediocridade. Faz-me chegar ao porto da salvação e à vida gloriosa do céu, depois de percorrer, com coragem e persistência o caminho estreito da justiça e da caridade, e de entrar pela porta da penitência. Que o meu coração lance raizes, não na terra mas no céu, de modo que seja encontrado fiel nos frutos das boas obras, mais do que na folhagem das palavras. Dá-me a graça de cumprir fiel e generosamente a vontade do Pai. Amen.

    Contemplatio

    «Vós permanecestes comigo», diz-lhes Jesus. Apressa-se a louvar a constância que eles mostraram, seguindo-o com perseverança através das dificuldades do apostolado e das contradições dos escribas e dos fariseus. Acaba de os repreender por causa dos seus desejos ambiciosos, levanta-os e mostra-lhes o céu... «Porque permanecestes comigo, estareis sentados sobre tronos».
    Meu Deus, quero permanecer convosco. «Que os outros procurem em vez de vós tudo o que quiserem; nada me agrada nem me agradará senão vós, ó meu Deus, que sois a minha esperança e que deveis ser a minha beatitude, em toda a eternidade» (Imitação, l. 3, c.31).
    Permaneçamos com Nosso Senhor, não apenas pelo estado de graça, que é o essencial, mas também pela união interior, a união habitual do coração e da vontade, como convém a amigos do Sagrado Coração.
    A recompensa é bela: partilhar o reino de Nosso Senhor. Todos os fiéis terão parte nele, mas Nosso Senhor concederá uma intimidade particular àqueles que tiverem sido os amigos do seu Coração. (Leão Dehon, OSP3, p. 424).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Entrai pela porta estreita» (Mt 7, 13).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    22 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XII Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Reis 22, 8-13; 23, 1-3

    Naqueles dias, O Sumo Sacerdote Hilquias disse ao escriba Chafan: «Encontrei no templo do Senhor o Livro da Lei.» Hilquias entregou este livro ao escriba Chafan, 9o qual, depois de o ler, foi ter com o rei e prestou-lhe contas da missão que lhe fora confiada: «Teus servos juntaram o dinheiro que se encontrava na casa do Senhor e entregaram-no aos encarregados do templo do Senhor.» 10E acrescentou:«O Sumo Sacerdote Hilquias entregou-me um livro.» E leu-o na presença do rei. 11Ao ouvir as palavras do Livro da Lei do Senhor, o rei rasgou as suas vestes 12e ordenou ao sacerdote Hilquias, a Aicam, filho de Chafan, a Acbor, filho de Miqueias, ao escriba Chafan e ao seu oficial Asaías: 13«Ide e consultai o Senhor acerca de mim, do povo e de todo o Judá, sobre o conteúdo deste livro, que acaba de ser descoberto. A cólera do Senhor deve ser grande contra nós, porque nossos pais não obedeceram às palavras deste livro, nem puseram em prática o que nele se nos prescreve.» 1O rei mandou vir à sua presença todos os anciãos de Judá e de Jerusalém, 2e subiu ao templo do Senhor com todos os homens de Judá e todos os habitantes de Jerusalém, sacerdotes, profetas e todo o povo, pequenos e grandes. Leu, então, diante de todos, as palavras do Livro da Aliança, descoberto no templo do Senhor. 3Pondo-se de pé sobre o estrado, o rei renovou a aliança na presença do Senhor, comprometendo-se a seguir o Senhor, a observar os seus mandamentos, as suas instruções e os seus preceitos, com todo o seu coração e com toda a sua alma, e a cumprir todas as palavras da aliança contidas neste livro. Todo o povo concordou com esta aliança.

    Ezequias, que Isaías curou milagrosamente (2 Rs 1, 11; cf. Is 36-38), sucedeu a Manassés (687-642), em cujo reinado se chegou ao ponto de perder o Livro da aliança (2 Rs 23, 2.21), em que se reivindicava um só Deus e um só templo. A apostasia generalizou-se. A crueldade do «ímpio Manassés» levou-o a mandar serrar em dois o profeta Isaías. Sucedeu-lhe Josias (640-609), bisneto de Ezequias. Durante o seu reinado foi reencontrado o Livro da Lei. A descoberta desse livro ecoava como denúncia da infidelidade do povo. E a profetisa Hulda anunciava o consequente castigo (2 Rs 22, 14-20). Então o rei mandou ler o Livro e renovar a aliança, como já acontecera no Sinai (Ex 24, 7s.) e em Siquém (Js 24, 25-27), e convocar uma solene celebração da páscoa. Uma menor pressão da Assíria permitiu a Josias prosseguir a reforma (2 Rs 23, 4-30).

    Evangelho: Mateus 7, 15-20

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5«Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. 16Pelos seus frutos, os conhecereis. Porventura podem colher-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? 17Toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá maus frutos. 18A árvore boa não pode dar maus frutos nem a árvore má, dar bons frutos. 19Toda a árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo. 20Pelos frutos, pois, os conhecereis.»

    Jesus não impôs a selecção dos seus seguidores. O convite é para todos. Por isso, a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, compõe-se de «bons e de maus». Naturalmente, não tardaram a surgir dificuldades na comunidade, e impôs-se o discernimento ou distinção dos espíritos.
    Na Igreja, povo de Deus, surgiram profetas que gozaram de grande estima, mas também falsos profetas. Havia que saber distingui-los. O critério para essa distinção era o fruto que produziam. A imagem da árvore encontra-se noutros textos bíblicos, por exemplo, em Is 61, 3, Jr 2, 21, Mt 15, 3, Jo 15, 1-8. A árvore boa dá bons frutos; a árvore má dá maus frutos.

    Meditatio

    Ao ouvir a leitura do Livro do Deuteronómio, Josias verificou que, ele e o seu povo, estavam a ser infiéis a Deus. E prometeu solenemente aderir de alma e coração às palavras da Aliança: «Pondo-se de pé sobre o estrado, o rei renovou a aliança na presença do Senhor, comprometendo-se a seguir o Senhor, a observar os seus mandamentos, as suas instruções e os seus preceitos, com todo o seu coração e com toda a sua alma, e a cumprir todas as palavras da aliança contidas neste livro. (2 Rs 23, 3). O povo seguiu o exemplo do rei: «Todo o povo concordou com esta aliança» (2 Rs 23, 3).
    No Salmo responsorial, que hoje rezamos, manifesta-se o desejo de ser guiados no caminho do Senhor: «Ensinai-me, Senhor, o caminho dos vossos decretos para ser fiel até ao fim. Dai-me entendimento para guardar a vossa lei e para a cumprir de todo o coração» (Sl 118 (119), 33-34). Quando se ama alguém, procura-se conhecer a sua vontade e cumpri-la. A busca da vontade de Deus, e o seu cumprimento, são o caminho para a verdadeira felicidade do homem. Foi esse o caminho seguido por Jesus: «faço sempre aquilo que lhe agrada» (Jo 8, 29; «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou» (Jo 9, 4). As nossas Constituições caracterizam Jesus, por duas atitudes: a sua obediência ao Pai e a sua solidariedade para com os homens, no cumprimento da missão que o mesmo Pai lhe confiou: «ao Pai e pelos homens» (Cst 6).
    S. Agostinho compreendeu a importância de fazer a vontade de Deus, de seguir o caminho que Ele nos traça. Por isso, rezava: «Afasta os meus olhos das coisas vãs, faz-me viver no teu caminho». As «coisas vãs» não são sempre más. Podem mesmo ser boas. Mas não o são, se nos afastam do caminho do Senhor, do cumprimento da sua vontade.
    No evangelho, Jesus recomenda-nos que não nos fixemos nas aparências das pessoas e das suas acções. Oferece-nos até um critério de discernimento: «Pelos seus frutos, os conhecereis» (v. 16). Há, pois, que avaliá-las pelos «frutos» que produzem. Paulo indica alguns desses frutos: «o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio» (Gl 5, 22-23); «o Reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 17); «o fruto da luz está em toda a espécie de bondade, justiça e verdade» (Ef 5, 9).

    Oratio

    Senhor, hoje quero rezar-te inspirado pelo teu servo Pe. Dehon. Permanece em mim, para que eu permaneça em Ti. Tu és a videira, eu a vara. Separado de Ti, não produzo frutos. Morro. Unido a Ti, recebo a seiva viva, que é o teu Espírito, que produzirá em mim os seus doze frutos. Mantém-me unido a Ti na graça santificante, na recordação assídua da tua presença, na meditação dos teus mistérios. Quero permanecer no teu coração. Lá está toda a minha vida e a minha felicidade. Amen.

    Contemplatio

    Os apóstolos nas suas epís
    tolas comentam estas palavras de Nosso Senhor. S. João é mais difícil de seguir no Apocalipse; mas S. Paulo, S. Pedro, S. Tiago descrevem-nos as seitas que reinam nos nossos dias.
    «Fica sabendo - diz S. Paulo - que, nos últimos dias, surgirão tempos difíceis. As pessoas tornar-se-ão egoístas, interesseiras, arrogantes, soberbas, blasfemas, desrespeitadoras dos pais, ingratas, ímpias, sem coração, implacáveis, caluniadoras, descontroladas, desumanas e inimigas do bem, traidoras, insolentes, orgulhosas e mais amigas dos prazeres do que de Deus. Conservarão uma aparência de piedade, mas negarão a sua essência... (2 Tm 3, 1ss.). Os nossos sectários estão lá, ingratos, são-no todos. Gostam de se dizer respeitadores da religião e trabalham para a destruírem. São desumanos nas suas perseguições. São ímpios e sensuais na sua vida privada, ambicionam todos os cargos públicos. Deus nos guarde do seu veneno. (Leão Dehon, OSP 4, p. 571).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Mostrai-nos, Senhor, o caminho da vossa lei» (Sl 118 (119), 33).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • S. João Baptista

    S. João Baptista

    23 de Junho, 2022

    João Batista, além da Virgem Maria, é o único santo de quem a Liturgia celebra o nascimento para a terra. João, como "Precursor" de Jesus teve, de fato, um papel único na História da Salvação. Filho de Zacarias e de Isabel, a sua vida não desabrochou por iniciativa humana, mas por dom de Deus a dois pais de idade avançada e, por isso, já sem possibilidade de gerar filhos. Situado na charneira entre o Antigo e o Novo Testamento, como Precursor, João é considerado profeta de um e outro Testamento. O paralelismo estabelecido por Lucas entre a infância de Jesus e de João Batista levou a Liturgia a celebrar o nascimento de ambos: o de Jesus no solstício de Inverno e o de João no solstício de Verão.

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 49, 1-6

    Povos de Além-Mar, escutai-me: povos de longe, prestai atenção. Quando ainda estava no ventre materno, o Senhor chamou-me, quando ainda estava no seio da minha mãe, pronunciou o meu nome.2Fez da minha palavra uma espada afiada, escondeu-me na concha da sua mão. Fez da minha mensagem uma seta penetrante, guardou-me na sua aljava.3Disse-me: «Israel, tu és o meu servo, em ti serei glorificado. 4Eu dizia a mim mesmo: "Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças." Porém, o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompensa. 5E agora o Senhor declara-me que me formou desde o ventre materno, para ser o seu servo, para lhe reconduzir Jacob, e para lhe congregar Israel. Assim me honrou o Senhor. O meu Deus tornou-se a minha força. 6Disse-me: «Não basta que sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob, e reunires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra.

    Como o Servo de Javé, João Baptista foi chamado a uma especial missão, desde que foi concebido o seio de sua mãe. Como Ele, recebeu um nome, um chamamento e uma revelação. Como Ele, teve que enfrentar a dureza e o sofrimento no desempenho da missão. Por isso, o nosso texto, retirado dos "Cânticos do Servo de Javé" adequa-se a João Baptista. O verdadeiro profeta realiza a missão, confiando unicamente n´Aquele que o escolheu, chamou e enviou. E só d´Ele espera recompensa.

    Segunda leitura: Atos 13, 22-26

    Naqueles dias, Paulo falou deste modo: Deus concedeu aos filhos de Israel David como rei, e a seu respeito deu este testemunho: 'Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.' 23Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus. 24João preparou a sua vinda, anunciando um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. 25Quase a terminar a sua carreira, João dizia: 'Eu não sou quem julgais; mas vem, depois de mim, alguém cujas sandálias não sou digno de desatar.' 26Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que de entre vós são tementes a Deus, a nós é que foi dirigida a palavra de salvação.

    O discurso de Paulo em Antioquia, com explícita referência a João Batista, mostra a importância que o profeta tinha na primitiva comunidade cristã. Paulo refere-se também a David. David e João foram dois profetas que, de modo diferente, e em tempos distintos, prepararam a vinda do Messias: David recebeu a promessa do Messias; João preparou a vinda do mesmo, pregando um batismo de penitência.
    Impressiona, nesta página, a clareza com que João identifica Jesus, e se define a si mesmo. É este o primeiro dever do verdadeiro profeta.

    Evangelho: Lucas 1, 57-66.80

    Naquele tempo, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 58Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela.59Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» 62Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.»E todos se admiraram. 64Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.80Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel.

    O paralelismo estabelecido por Lucas, ao narrar a infância do Batista e a de Jesus é rico sob os pontos de vista literário e teológico. O nascimento de João preanuncia o de Jesus. João, ainda no ventre materno, anuncia um outro Menino. O nome de João é prelúdio do de Jesus. O extraordinário evento da maternidade de Isabel prepara outro, o da maternidade de Maria. A missão de João faz-nos pregustar a de Jesus. Trata-se de uma única missão, em dois tempos; dois tempos de uma única história que se desenrola em ritmos alternos mas sincronizados. Não devemos contrapor a missão do Batista e a de Jesus.

    Meditatio

    A festa do nascimento de João Batista leva-nos a pensar no amor preveniente de Deus e na importância das suas preparações para o acolhermos devidamente e com fruto. Deus prepara o nascimento de João: um anjo anuncia a Zacarias que a sua mulher, idosa e estéril, vai ter um filho, cujo nascimento alegrará a muitos; inesperadamente, o nome da criança não é Zacarias, mas João, cujo significado é: "Deus faz graça"; João é enviado a preparar os caminhos do Senhor, o "ano de graça" do Senhor, a vinda de Jesus. Como o agricultor prepara o terreno antes de lhe lançar a semente, assim Deus prepara os tempos e os corações para receberem os seus dons. É por isso que havemos de viver vigilantes, de estar atentos à ação de Deus em nós e nos outros, para a sabermos discernir no meio dos acontecimentos humanos e nas mais variadas situações da nossa vida. João ajuda-nos a estarmos atentos a Jesus e ao que Ele quer fazer em nós e no nosso mundo. João acreditou e indicou Jesus aos que o seguiam: "depois de mim, virá alguém maior do que eu... Eis o Cordeiro de Deus!"
    Por todas estas razões, a festa de hoje é um dia de alegria para a Igreja. E, todavia, João foi um profeta austero, que pregou a penitência com uma linguagem pouco amável: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de conversão e não vos iludais a vós mesmos, dizendo: 'Temos por pai a Abraão!'" (Mt 3, 7-8). O profeta exortava a uma penitência que se torna alegria, alegria da purificação, alegria da vinda do Senhor.
    A missão de João Batista é, de certo modo, a missão de todo o crente: preparar a vinda do Senhor, o que é mais do que simplesmente anunciar. É preciso por ao serviço de Jesus não só as nossas palavras, mas também a nossa vida toda.

    Oratio

    S. João Batista, glorioso Precursor de Jesus, verdadeiro amigo do Esposo, ensinai-me o espírito de penitência e o amor da pureza para alcançar uma união, cada vez maior, com Jesus, o Salvador, e com Maria, sua Mãe. Ensinai-me a viver essa união em todos os momentos da minha vida, incluindo o meu apostolado em que procuro preparar, como vós, os caminhos do Senhor. Que a minha ternura por Jesus se torne, cada vez mais, semelhante à vossa. Ámen.

    Contemplatio

    João ainda não nascera quando Jesus e Maria vão visitá-lo à Judeia. Estremece no seio de sua mãe. É abençoado e santificado pela presença de Jesus e pela visita de Maria. É um amigo para Jesus, di-lo ele mesmo: «O amigo do esposo, diz, alegra-se quando escuta a voz do seu amigo, é por isso que hoje estou alegre» (Jo 3, 29). Quando Jesus menino volta do Egipto, visita o seu pequeno amigo passando pela Judeia. Cada ano, nos dias de Páscoa, estão juntos em Jerusalém. Reencontram-se no Jordão. S. João conhece a missão do seu amigo e parente, proclama a sua missão: «Eis, diz, o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo». Pregam um ao outro, mas S. João envia os seus discípulos a Cristo. Recebe as suas graças de Jesus e conduz as almas a Jesus. Tal deve ser a nossa união com Jesus e Maria. Maria dar-nos-á Jesus. Sede amigos para Jesus pela vossa assiduidade, pelo vosso afeto, pela vossa confiança. Conduzamos-lhe as almas, não procuremos em nada reter a sua afeição por nós, admiremos nisto o desapego de S. João. Ide a Jesus, diz a todos, nada sou senão uma voz que prega no deserto, não sou digno de desatar os seus sapatos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 689).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Profeta do Altíssimo,
    irás à sua frente a preparar os seus caminhos" (Lc 1, 76).

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    S. João Baptista (24 Junho)

    XII Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XII Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    23 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XII Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Reis 24, 8-17

    8Joiaquin tinha dezoito anos quando começou a reinar, e reinou três meses em Jerusalém. 9Fez o mal aos olhos do Senhor, tal como o seu pai. 10Foi nesse tempo que os homens de Nabucodonosor, rei da Babilónia, vieram sobre Jerusalém e a sitiaram. 11Nabucodonosor chegou à cidade, quando as suas tropas a sitiavam. 12Joiaquin, rei de Judá, saiu ao encontro do rei da Babilónia, com sua mãe, com os altos funcionários, com os oficiais e com os eunucos; e o rei da Babilónia prendeu-o. Isto aconteceu no oitavo ano do reinado de Nabucodonosor. 13E como o Senhor tinha anunciado, Nabucodonosor levou dali todos os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, e quebrou todos os objectos de ouro que Salomão, rei de Israel, fizera para o santuário do Senhor. 14Levou cativa toda a corte de Jerusalém, todos os chefes e todos os notáveis, ao todo dez mil, com todos os ferreiros e artífices; deixou apenas os pobres do país. 15Deportou Joiaquin de Jerusalém para a Babilónia, com a sua mãe, as suas mulheres, os eunucos do rei e os grandes do país. 16Todos os homens de valor, aptos para a guerra, em número de sete mil, os ferreiros e os artífices, em número de mil, o rei da Babilónia levou-os cativos para a Babilónia. 17Em lugar de Joiaquin, o rei da Babilónia nomeou rei seu tio Matanias, cujo nome mudou para Sedecias.

    Entretanto, a Assíria, que se aliou ao Egipto, para fazer frente ao expansionismo babilónio, diminuiu a sua ameaça sobre Jerusalém. Mas surgiu a ameaça da própria Babilónia. Tendo caído Nínive, capital da Assíria (612), Nabucodonosor tornou-se rei da Babilónia (605). Na Primavera de 598, apoderou-se do fraco reino de Joiaquim, expugnando Jerusalém, e procedendo a uma primeira deportação, que envolveu o profeta Daniel. Sedecias substituiu o fraco Joiaquim como rei de Judá (598-587). É nesta época que actua o profeta Jeremias (cf. Jr 22, 13-17).
    Como sempre acontece, o autor sagrado liga os dramas do povo à sua infidelidade à aliança (cf. v. 9). O profeta de Anatot em vão tinha apelado à conversão. O mal do povo tornou-se tão grande, que Jeremias chegou a perder as esperanças (Jr 5, 1-3).

    Evangelho: Mateus 7, 21-29

    Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21«Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. 22Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos, em teu nome que expulsámos os demónios e em teu nome que fizemos muitos milagres?' 23E, então, dir-lhes-ei: 'Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.'» 24«Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. 26Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína.» 28Quando Jesus acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com os seus ensinamentos, 29porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade e não como os doutores da Lei.

    Ao concluir o Sermão da Montanha, Jesus previne contra a presunção de se salvar apenas pela invocação do nome divino, ou em virtude de acções carismáticas, sem as acompanhar com uma vida coerente, com a prática da caridade, ainda que sejam expressão da própria fé. Não se pode ficar pelo «dizer»; há que «fazer». Notemos também que a referência, no juízo final, será sempre Cristo: «me dirão», «minhas palavras» (cf. Mt 25). Também é significativa a acentuação de «muitos»: «muitos me dirão...». «Então, dir-lhes-ei»: no texto original, lê-se: «Então declararei», numa clara alusão ao «dia do Senhor», ao dia do juízo. Quando Cristo declara que não conhece (como na parábola das virgens insensatas: Mt 25, 12) tais «tais praticantes da iniquidade» (cf. Mt 13, 14; 24, 12), onde encontramos o mesmo termo), utiliza a fórmula judaica de excomunhão do mestre, que implicava uma suspensão temporária do discípulo.
    O Sermão da Montanha repõe o esquema de bênçãos e maldições diante das quais era colocado o povo da Aliança (Lv 26, Dt 28) e termina com a expressão «e grande foi a sua ruína» (Mt 7, 27), que contrasta com as palavras de abertura: «Felizes...» (Mt 5, 2ss.). Notemos também o paralelismo escondido nas palavras «rocha» (Cristo) e «casa» (Igreja).
    Finalmente, Cristo fala de duas maneiras de escutar a Palavra: de modo superficial e descomprometido, ou de modo atento e eficaz. Fala também das consequências de escutar de um ou de outro modo.

    Meditatio

    Estamos a viver o tempo comum da Liturgia. Enquanto o tempo do Advento ao Pentecostes representa o tempo de Jesus, em que Ele realiza historicamente a nossa redenção, o tempo comum representa o tempo da Igreja, porque nele se constrói a mesma Igreja, Corpo de Cristo, que continua no mundo a obra salvífica de Jesus e prolonga a sua incarnação. É neste tempo que os homens são chamados a entrar na Igreja pelo baptismo, e a crescer nela pelos sacramentos e pelo empenhamento pessoal até alcançarem a plena estatura de Cristo, o estado de adultos na fé. É, pois, o nosso tempo, em que havemos de construir o nosso destino eterno, o tempo para nos realizarmos como homens e como cristãos.
    Jesus fala deste tempo com a imagem da casa, que pode ser construída sobre a rocha ou sobre a areia. A imagem é clara e eficaz. Enquanto a primeira resiste aos ventos e às enxurradas, a segunda fica reduzida a um monte de ruínas. Ambos os construtores conheceram Jesus e ouviram a sua palavra. Mas, enquanto um a põe em prática, o outro não. Um faz a vontade do Pai. O outro limita-se a dizer: «Senhor! Senhor!» (v. 22).
    O evangelho de hoje apela para a coerência da nossa vida de cristãos. Com estas parábolas, Jesus não nos deixa ilusões. A porta do Reino só se abre para aqueles que fizeram a vontade do Pai. A rocha representa essa vontade. Sobre ela, pode construir-se uma casa bonita, acolhedora e forte.
    A vontade de Deus não é algo de abstracto, porque se «fez carne» e, em certo sentido, se materializou em Jesus Cristo. Por isso, Paulo escreve: «estais edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus» (Ef 2, 20). Pedro também fala de Jesus como pedra angular (1 Pe 2, 5-6). Construir sobre a rocha quer dizer construir a própria vida sobre Jesus, sobre a
    sua Palavra, sobre a sua Pessoa.
    «Escutamos com frequência a Palavra de Deus», dizem as nossas Constituições (n. 77). Sublinhamos a expressão «com frequência». Não se trata só da escuta da palavra de Deus na Missa ou noutras celebrações; trata-se de acolher, na nossa vida, a Palavra, o Verbo eterno de Deus feito carne, conforme a exortação do Pai na Transfiguração: «Este é o Meu Filho muito amado, em Quem pus as minhas complacências: Escutai-O» (Mt 17, 5).
    Este convite à "escuta" já estava expresso na famosa «shemá» («escuta...»), com que o piedoso israelita manifestava a Deus a sua fé, a adesão da sua vontade e a oblação da sua própria vida, cumprindo a Palavra de Deus: «Escuta, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda as tuas forças. Estes mandamentos que hoje te imponho, serão gravados no teu coração. Ensiná-los-ás aos teus filhos...» (Dt 6, 4-7).
    Assim Deus Se revelava a na vida do piedoso israelita como Javé («Eu sou aquele que sou» Ex 3, 14), isto é, como presente na vida como libertador, como guia, como salvador. A presença da Palavra era a presença da Pessoa. Com maior razão tudo isto se realiza em Jesus, que é a Palavra, o Verbo de Deus feito carne: «Quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha...» (Mt 7, 24). "Rocha", "Rochedo" são as imagens típicas de Deus, que exprimem solidez, segurança e, portanto, fé, adesão completa: «Deus é a rocha da minha defesa...» (Sl 62(61), 3): «Vós sois, meu Deus, a rocha da minha salvação...» (Sl 89(88), 27). É como dizer: o Senhor é o meu «amem», a minha segurança, a minha salvação. É assim que Cristo é chamado no Apocalipse: «Assim diz o Amem, a Testemunha fiel...» (3, 14) e Paulo: «Por meio de Jesus Cristo sobe até Deus o nosso Amem» (2 Cor 1, 20).

    Oratio

    Senhor, ouço falar muito de carismas, de dons extraordinários. Acredito que Tu os distribuis generosamente para a construção da tua Igreja. Mas precisamos que nos ajudes a discerni-los, para sabermos quais são verdadeiros e quais o não são. De facto, como hoje nos ensinas, não basta dizer «Senhor! Senhor!», nem profetizar ou realizar milagres em teu nome. É preciso fazer a vontade do Pai, mesmo com sacrifício. Sem isso, os carismas mais clamorosos, que poderiam significar uma especial relação Contigo, apenas servem para alimentar o orgulho de quem os possui. A verdadeira rocha é a fé na Palavra de Deus: quanto mais for profunda, mais segura estará a nossa casa. Senhor, ajuda-me a construir sobre Ti todos os meus projectos, toda a minha vida. Amen.

    Contemplatio

    «Não são aqueles que se contentam em escutar a lei que são justos aos olhos de Deus, mas somente aqueles que a praticam que serão justificados» - (Rom 2, 13). - «Guardemos fielmente o que ouvimos, com medo que não sejamos como canais onde a água corre. Porque se a lei antiga dada pelos anjos permaneceu firme, e se toda a transgressão e toda a desobediência recebeu o castigo que merecia, como escaparemos nós se formos negligentes a respeito da doutrina de salvação, anunciada por Nosso Senhor mesmo e confirmada por aqueles que a escutaram da sua boca.
    Deus mesmo sancionou o seu testemunho com milagres, por prodígios, por diferentes efeitos do seu poder, e pelos dons do Espírito Santo, que Ele distribui como quer» (Heb 2, 1).
    Nosso Senhor quis, portanto, desde o começo da sua vida apostólica nos precaver contra as ilusões da fé sem as obras. Cumpramos tudo o que a fé nos pede, segundo a nossa vocação: todos os nossos deveres de estado, todos os nossos deveres de piedade, as virtudes cristãs em toda a sua delicadeza e as obras de misericórdia, que são a característica da vida cristã.
    Jesus mostra-nos o verdadeiro cristão em acção na parábola do Samaritano, e ameaça-nos com a sua condenação no juízo se não tivermos cumprido as obras de misericórdia. (Leão Dehon, OSP4, p. 100s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «O homem sábio constrói a sua casa sobre a rocha» (Mt 7, 24).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XII Semana – Sexta-feira – Tempo Comum – Anos Pares

    XII Semana – Sexta-feira – Tempo Comum – Anos Pares


    24 de Junho, 2022

    Tempo Comum – Anos Pares
    XII Semana – Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Reis 25, 1-12

    1No nono ano do reinado de Sedecias, no dia dez do décimo mês, Nabucodonosor marchou com todo o seu exército contra Jerusalém. Acampou diante da cidade e levantou trincheiras em redor dela. 2O cerco da cidade durou até ao décimo primeiro ano do reinado de Sedecias. 3No nono dia do quarto mês, como a cidade se visse apertada pela fome e a população não tivesse mantimentos, 4abriu-se uma brecha na muralha da cidade. Então o rei e todos os homens de guerra fugiram de noite pela porta que está entre os dois muros, junto do jardim do rei. Entretanto, os caldeus cercavam a cidade. Os fugitivos tomaram o caminho da planície do Jordão, 5mas o exército dos caldeus perseguiu o rei e alcançou-o na planície de Jericó. Então as tropas, que o acompanhavam, abandonaram-no e dispersaram-se. 6O rei Sedecias foi preso e conduzido a Ribla, diante do rei da Babilónia, que pronunciou a sentença contra ele. 7Degolou os filhos na presença de Sedecias, furou-lhe os olhos e levou-o para a Babilónia, ligado com duas cadeias de bronze. 8No sétimo dia do quinto mês, no décimo nono ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Babilónia, Nebuzaradan, chefe da guarda e servo do rei da Babilónia entrou em Jerusalém. 9Incendiou o templo do Senhor, o palácio real e todas as casas da cidade, começando pelas casas dos mais importantes de Jerusalém. 10E as tropas que acompanhavam o chefe da guarda, destruíram o muro que cercava Jerusalém. 11Nebuzaradan, chefe da guarda, levou cativos para Babilónia, os que restavam da população da cidade, os que já se tinham rendido ao rei da Babilónia e o resto da população. 12O chefe da guarda só deixou ali alguns pobres para cultivarem as vinhas e os campos.

    O rei Sedecias convenceu-se que afastaria a ameaça babilónia aliando-se ao Egipto. Jeremias opôs-se a essa política. E o tempo deu-lhe razão. Nabucodonosor mandou cercar Jerusalém. O cerco durou 18 meses. A cidade acabou por capitular (587) e foi saqueada e destruída, com o seu templo (cf. vv. 13-17, omitidos no texto litúrgico). Começou o exílio em Babilónia, e passará meio século, até que Ciro venha decretar o seu fim (538). Enquanto Ezequiel se juntou a Jeremias para predizer a ruína de Jerusalém, o deutero-Isaías juntar-se-á aos deportados para lhes incutir coragem e esperança. Os três profetas anunciam um novo êxodo, uma nova aliança e um novo templo para o «resto de Israel».
    Depois da queda de Samaria (722) e da queda de Jerusalém (587), a nação israelita perdeu a sua independência, passando sucessivamente pela dominação dos babilónios, dos persas, dos gregos e dos romanos.

    Evangelho: Mateus 8, 1-4

    1Ao descer do monte, seguia-o uma enorme multidão. 2Foi, então, abordado por um leproso que se prostrou diante dele, dizendo-lhe: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» 3Jesus estendeu a mão e tocou-o, dizendo: «Quero, fica purificado!» No mesmo instante, ficou purificado da lepra. 4Jesus, porém, disse-lhe: «Vê, não o digas a ninguém; mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés preceituou, para que lhes sirva de testemunho.»

    Depois de apresentar Jesus como Messias da palavra, no Sermão da Montanha, Mateus dá início a uma nova secção, onde nos apresenta o Messias das obras, o taumaturgo que vai ao encontro daqueles que sofrem. Os milagres de Jesus são prova da verdade das suas palavras.
    O evangelho de hoje apresenta-nos três milagres, que aconteceram em Cafarnaúm, onde Cristo teve a sua primeira casa, durante a missão pelas povoações das margens do mar de Tiberíades. Jesus actua em favor de pessoas atingidas pela desgraça, sem se importar com as normas de precaução e defesa previstas na Lei: toca o leproso, entra em casa de um pagão, aperta a mão de uma mulher doente, pessoas marginalizadas pela sociedade hebraica do tempo.
    O leproso pede para ser «purificado», pois sabia que a sua doença era considerada fruto do pecado e expressão de impureza legal. É por isso que Jesus manda o leproso ao sacerdote, que tem de verificar a cura. O gesto do leproso, que chama a Jesus «Senhor» e se prostra diante dele, significa simultaneamente reconhecimento da divindade e beijo da sua imagem. Não esqueçamos que este texto foi escrito depois da ressurreição, e à luz do mistério pascal. Encontramo-lo noutras páginas de Mateus (2, 2.8; 9, 18; 15, 25; 20, 20; 28, 9.17).

    Meditatio

    A primeira leitura relata a queda de Jerusalém: matanças, destruições, incêndios. Nem o templo escapa às chamas. O povo é morto, ou deportado com o seu rei. E a Bíblia explica a razão de tudo isto: o povo, infiel a Deus, é por Ele rejeitado.
    As atrocidades descritas talvez não mexam muito connosco. Pensamos: eram povos pouco evoluídos. E ficamos tranquilos. Mas, se abrirmos os olhos para o que, se passa no nosso mundo, verificamos que ainda há muito que mudar na humanidade. São tantos os episódios de crueldade humana, no mundo de hoje! É o que sai do coração dos homens, quando não são fiéis a Deus!
    O evangelho mostra-nos que a lei é para cumprir. Por isso, Jesus manda o leproso mostrar-se aos sacerdotes. Mas o bem da pessoa e, sobretudo, a graça, vão mais além do que a lei. Por isso, Jesus não hesita em estender mão, e em tocar no leproso para lhe transmitir uma energia que o recria. O leproso, o centurião e a sogra de Pedro, de quem nos falará o evangelho de amanhã, representam as camadas sociais consideradas à margem pelo mundo judaico: os doentes incuráveis, os pagãos e as mulheres. Mas, para nós, hoje, além dos doentes incuráveis, podem representar todos os pobres e fracos das nossas sociedades, tantas vezes esquecidos, postos de parte, maltratados pelos poderes estabelecidos.
    Admiramos a fé, a coragem e a extrema coerência de tantos homens e mulheres dos nossos dias que, animados pela sua fé, se dedicam a confortar e a ajudar tantos milhões de pessoas, vítimas de calamidades naturais, de guerras, de graves situações de pobreza e falta de desenvolvimento. Santos apóstolos, missionários, numerosos leigos cooperaram para o progresso de povos inteiros, não só como fundadores de escolas, hospitais, obras sociais, ensinando artes e ofícios, mas também dando Cristo como verdade, como amor, como perdão. É uma civilização do amor que se está a construir, e que vai transformando os homens «penetrados por aquele sopro de vida que provém de Cristo» (RH, 18).
    A história humana, frequentemente tão esquálida, lenta e tortuosa, cheia de regressões, por vezes tão envolvente e tumultuosa nos seus cursos e biblioteca, é vivificada por um frémito secreto que a impele para metas que nos são propostas pelo Evangelho. São metas de verdade, de justiça, de bondade, de amor (cf. Cst 36-39): é a meta-Cristo, o ponto ómega do univ
    erso, segundo Teilhard de Chardin. A própria “fronteira da morte”, perante a qual o homem não pode senão afastar-se aterrorizado, a gritar e a chorar, como aconteceu em relação à filha de Jairo (cf. Mc 5, 38-40), é ultrapassada e podemos apontar ao mundo uma esperança que mais ninguém, senão Cristo, pode dar: uma certeza de vida e de nobreza, não só para a alma, mas também para o corpo: todo o homem é imortal por causa das sementes de imortalidade em nós semeadas pela redenção operada por Cristo. É a fé de Paulo: como Cristo ressuscitou, também nós ressuscitaremos (cf. 1 Cor 15). Esta é «a mais alta afirmação do homem: a afirmação do corpo que o Espírito vivifica!… Esta é a resposta a todos os “materialismos” da nossa época. São eles que fazem nascer tantas formas de insaciabilidade no coração humano…» (RH, 18).

    Oratio

    Senhor, quão numerosas e grandes são as situações de injustiça, os escândalos, os conflitos que cobrem de sangue a face da terra. Os meios de comunicação social todos os dias me mostram alguns. Não posso alegar desconhecimento. Por isso, nada me resta senão tornar-me solidário, conforme as minhas possibilidades. Posso implorar-te misericórdia e paz, praticar a verdade no amor, e unir-me a todos os homens de boa vontade para criar uma nova mentalidade no mundo. Inspira-me, Senhor, e dá-me generosidade para fazer tudo o que esteja ao meu alcance em favor da justiça e da caridade no mundo. Amen.

    Contemplatio

    Nosso Senhor perdoa, Ele mesmo, muitas vezes, os pecados, antes de dar o poder aos seus apóstolos. O seu Coração é infinitamente misericordioso. Como não perdoaria ao arrependido? Será uma necessidade do seu Coração deixar-nos este sacramento do perdão.
    Madalena arrependida aos pés de Jesus e Jesus perdoando à Madalena representam bem o sacramento da penitência: «Muitos pecados lhe são perdoados, diz o Salvador, porque muito amou», porque muito chorou, elevando o seu arrependimento à perfeição da caridade.
    A mulher adúltera está confundida e arrependida ao mesmo tempo, Nosso Senhor diz-lhe: «Eu não te condeno, vai e não peques mais».
    Zaqueu tem um profundo pesar por todas as suas exacções e pela sua avareza: «Darei, diz, a metade dos meus bens aos pobres; e àqueles que enganei, darei o quádruplo». Jesus perdoa-lhe: «Hoje, diz, esta casa recebeu a graça da salvação».
    O mais tocante exemplo de perdão é o concedido por Nosso Senhor a S. Pedro. O apóstolo renegou o seu bom Mestre, nas circunstâncias mais penosas para Jesus. O Salvador lança-lhe, ao passar, um olhar de doce censura e de misericórdia, o apóstolo chora, Jesus perdoa-lhe e prepara-se para lhe dar todos os seus privilégios.
    O bom ladrão faz um acto de contrição sobre a cruz: «Nós, diz, somos atingidos justamente, mas este Justo?…». Jesus diz-lhe: «Hoje estarás comigo no paraíso».
    O paralítico simbolizava o pecador que já não sabe agir sobrenaturalmente. Jesus cura-o, perdoa-lhe e diz-lhe: «Vai e não peques mais».
    O leproso também simboliza o pecador. Jesus cura-o e diz-lhe: «Vai, mostra-te ao sacerdote». Assim é na confissão, o pecador mostra-se ao padre e Jesus cura-o. (Leão Dehon, OSP4, p. 218).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Senhor, se quiseres, podes purificar-me» (Mt 8, 2).

    | Fernando Fonseca, scj |

  • XII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares

    XII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares


    25 de Junho, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares
    XII Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Lamentações 2,2.10-14.18-19

    2O Senhor arrasou, sem piedade, todas as moradas de Jacob. E, em seu furor, arruinou as fortificações da capital de Judá. Lançou por terra e amaldiçoou o reino e os seus príncipes. 10Os anciãos da cidade de Sião sentam-se por terra, emudecidos. Lançam cinza sobre as suas cabeças, vestem-se de saco. As virgens de Jerusalém inclinam a cabeça para a terra. 11Os meus olhos derretem-se em lágrimas; fremem as minhas entranhas. Por terra derrama-se o meu fígado, por causa da ruína do meu povo, enquanto vão desfalecendo os meninos e as crianças de peito nas ruas da cidade. 12Onde haverá pão e vinho? - perguntam eles às mães, enquanto, como feridos de morte, iam desfalecendo nas praças da cidade, exalando o seu último suspiro no regaço materno. 13A que coisa te hei-de assemelhar? A que te comparar ó Jerusalém? A que te igualarei, para te consolar, ó jovem capital de Sião? É imensa como o mar a tua ruína; quem poderá curar-te? 14Os teus profetas vaticinaram-te apenas coisas falsas e loucas. Não te revelaram as tuas iniquidades, a fim de mudar o teu destino. Anunciaram-te apenas oráculos falsos e enganadores. 18Clama com o coração ao Senhor, ó muralha da cidade de Sião! Faz correr em torrente as tuas lágrimas noite e dia! Não te dês descanso, não cessem os teus olhos de chorar! 19Levanta-te, grita durante a noite, no começo das vigílias; derrama o teu coração como a água perante a face do Senhor. Ergue para Ele as mãos, pela vida dos teus filhos que desfalecem de fome por todos os recantos das ruas.

    A página do livro das Lamentações, que hoje escutamos, é a melhor reflexão sobre o sentido dos eventos narrados nos Livros dos Reis. O livro das Lamentações é atribuído a Jeremias, profeta que viveu os momentos dramáticos do cerco, da queda e da destruição de Jerusalém, da partida do povo para Babilónia. O nosso texto, bastante resumido para o uso litúrgico, é uma dolorosa meditação sobre o exílio, sobre a responsabilidade dos falsos profetas e das práticas idólatras, no desastre que atingiu a cidade de Deus e o seu templo. Tudo isto leva ao arrependimento e à súplica. O afastamento da pátria simboliza dramaticamente o afastamento de Deus, esse Deus que domina a história e que, por meio dos seus mensageiros, lhe revela o sentido e o significado. Depois de recordar a infausta sorte do rei, dos sacerdotes e profetas, dos velhos e dos novos, o cântico dirige-se a Sião, recorda-lhe os enganos de que foi vítima e convida-a a chorar a sua sorte.

    Evangelho: Mateus 8, 5-17

    Naquele tempo, 5entrando Jesus em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos: 6«Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.» 7Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» 8Respondeu-lhe o centurião:«Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. 9Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: 'Vai', e ele vai; a outro: 'Vem', e ele vem; e ao meu servo: 'Faz isto', e ele faz.» 10Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé! 11Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu, 12ao passo que os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.» 13Disse, então, Jesus ao centurião: «Vai, que tudo se faça conforme a tua fé.» Naquela mesma hora, o servo ficou curado. 14Entrando em casa de Pedro, Jesus viu que a sogra dele jazia no leito com febre. 15Tocou-lhe na mão, e a febre deixou-a. E ela, levantando-se, pôs-se a servi-lo. 16Ao entardecer, apresentaram-lhe muitos possessos; e Ele, com a sua palavra, expulsou os espíritos e curou todos os que estavam doentes, 17para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores.

    Este milagre, narrado por Mateus, também se encontra em Lucas e em João, com algumas diferenças. Enquanto Mateus fala da cura de um filho-servo (pais), Lucas da cura de um servo (dûlos) e João da cura de um filho (hyiós). Na realidade trata-se de um prodígio onde confluem o poder taumatúrgico de Cristo, que actua de modo imediato («naquela mesma hora»), mesmo à distância, e a fé do centurião elogiada pelo Mestre. Esta situação oferece a Cristo ocasião para estigmatizar a falta de fé dos seus conterrâneos e descrever as tristes consequências da mesma. As expressões «choro e ranger de dentes» são idiomáticas, indicando a enorme desespero daqueles que, no castigo, reconhecem as suas culpas. A cena do centurião é como que um prelúdio da missão ou anúncio do Evangelho aos pagãos.
    Jesus detém-se em Cafarnaúm, na casa de Pedro, cuja sogra estava doente com febre. E Jesus toma a iniciativa de a curar, - caso único em Mateus -, tocando-lhe, como fizera com o leproso. Uma vez curada, a mulher põe-se a servir, tornando-se a primeira «diaconisa» da história cristã.
    Os últimos versículos sintetizam a obra de Cristo em favor dos endemoninhados e dos doentes. Mateus aproveita para fazer uma releitura de Is 53, 4: enquanto o profeta fala de sofrimentos e dores, o evangelista fala de enfermidades e doenças. Trata-se de uma expiação libertadora, fruto da solidariedade de Cristo com os homens.

    Meditatio

    Ao descrever a situação de Jerusalém, destruída e devastada pelos babilónios, o Livro das Lamentações revela a causa profunda dessa catástrofe: «Os teus profetas vaticinaram-te apenas coisas falsas e loucas. Não te revelaram as tuas iniquidades, a fim de mudar o teu destino. Anunciaram-te apenas oráculos falsos e enganadores» (v. 14). Também nós preferimos, muitas vezes, ouvir palavras falsas e enganadoras, discursos retóricos e lisonjeiros, mais do que admoestações e chamadas de atenção. Alimentam as nossas ilusões, é certo. Mas é preferível ouvir palavras que nos revelem as nossas faltas e nos incitem à mudança de vida. Os falsos profetas também pregaram o que os habitantes de Jerusalém, particularmente os seus chefes, queriam ouvir, em vez de lhes denunciarem as faltas. Mas os verdadeiros profetas, como Jeremias, não se cansavam de avisar a cidade para os perigos a que podia levar a inobservância da Lei na justiça, e a falta de solidariedade. Ninguém os escutava.
    Acontece o mesmo no nosso mundo de hoje. Quando o Papa lembra a doutrina da Igreja sobre a moral, sobre o respeito pela vida desde o seu início até ao seu fim natural, sobre o respeito pelo amor, pela fidelidade, ou até sobre o uso do dinheiro, sobre os perigos do
    capitalismo, muitas vezes se ouvem reacções negativas. Muita gente prefere discursos que não incomodem, que não ameacem os egoísmos instalados, mas que levam a grandes catástrofes.
    O evangelho mostra-nos Jesus que não se inibe de contactar com leprosos, pagãos e mulheres, coisa imprópria para um rabi. Mas se Deus, em Jesus, assumiu um corpo humano, foi para comunicar com o corpo do homem. O Senhor intervém por causa da fé do doente (no caso do leproso), ou da comunidade (no caso da sogra de Pedro). Mas o maior elogia vai para a fé na sua palavra, manifestada por um pagão. Até àquele momento, ninguém em Israel tinha manifestado tanta fé.
    O Senhor continua a tocar-nos na Eucaristia, mas também nos toca pela força da sua Palavra. Que impacto tem a Palavra na cura da minha pessoa?
    O Pe. Dehon convida-nos a sermos profetas do amor e servidores da reconciliação (cf. Cst 7). Como ele, e no seu "seguimento", "em comunhão com a vida da Igreja, queremos contribuir para instaurar o reino da justiça e da caridade cristã no mundo (cf. Souvenirs XI). Para isso, há que denunciar corajosamente todas as injustiças, em primeiro lugar, as cometidas contra Deus, não Lhe reconhecendo o lugar a que tem direito, nem respeitando a sua lei. Mas há apontar também as inúmeras injustiças contra as pessoas e, por vezes, até contra povos inteiros. Há que fazer o que estiver ao nosso alcance para aliviar o sofrimento de tantos irmãos e irmãs, e para que lhes se feita justiça. A solidariedade é um sinal dos tempos muito sentido, tanto pelos crentes como pelos não crentes. Há que praticá-la e promovê-la em favor de todos os explorados e oprimidos, particularmente pelos povos que estão em vias de desenvolvimento, pelos que sofrem a fome, pelas vítimas das guerras crónicas, ou das catástrofes e calamidades naturais (Cf. A.A., n. 14).

    Oratio

    Senhor, Tu carregaste sobre Ti os nossos males e as nossas doenças, porque só se redime o que se assume. Tu queres restituir ao género humano a beleza e a saúde com que saiu das mãos do Criador. Renova o dom do teu Espírito, para que sejam reparados em mim os efeitos do pecado. Uma vez reparado, dá-me a graça de cooperar Contigo na obra de cura e de redenção que estás a realizar no mundo. Amen.

    Contemplatio

    A perfeição da fé, diz S. João, é crer no amor de Nosso Senhor por nós (Jo 4, 16). Tal era a lei do bom centurião.
    A fé deve ser esclarecida, não pede, no entanto, um luxo exagerado de provas. Os judeus pediam sempre novos prodígios para acreditarem. Jesus censura-os por isso (Jo 4, 48). O centurião soube que Jesus curava muitos doentes com uma bondade extrema, isso lhe basta.
    A fé deve ser confiante e firme. Assim foi a do centurião. Não duvida, tem confiança, insiste, sabe que Jesus pode curar à distância.
    A fé deve estar penetrada de humildade. O nosso oficial não ousa ir ele mesmo ter com Jesus, envia um ancião da sinagoga, depois um vizinho. Não se julga digno que Jesus entre debaixo do seu tecto.
    A fé fortifica-se no meio das provas. Nosso Senhor com frequência provou a fé por meio de uma primeira recusa, como aconteceu com a mulher cananeia.
    É preciso confessar a própria fé e não ter vergonha. O centurião fez isto de um modo magnífico, ele que era estrangeiro e pagão e que admirava os judeus pela vivacidade da sua fé. (Leão Dehon, OSP4, p. 166).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Senhor, diz uma só palavra e o meu servo será curado» (Mt 8, 8).

    | Fernando Fonseca, scj |

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