Week of Jun 19th

  • 12º Domingo do Tempo Comum – Ano C

    12º Domingo do Tempo Comum – Ano C


    19 de Junho, 2022

    ANO C
    12º DOMINGO DO TEMPO COMUM

    Tema do 12º Domingo do Tempo Comum

    A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus: quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus, que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer da própria vida um dom generoso aos outros.
    O Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz. “Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de doação, de amor total.
    A primeira leitura apresenta-nos um misterioso profeta “trespassado”, cuja entrega trouxe conversão e purificação para os seus concidadãos. Revela, pois, que o caminho da entrega não é um caminho de fracasso, mas um caminho que gera vida nova para nós e para os outros. João, o autor do Quarto Evangelho, identificará essa misteriosa figura profética com o próprio Cristo.
    A segunda leitura reforça a mensagem geral da liturgia deste domingo, insistindo que o cristão deve “revestir-se” de Jesus, renunciar ao egoísmo e ao orgulho e percorrer o caminho do amor e do dom da vida. Esse caminho faz dos crentes uma única família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude.

    LEITURA I – Zac 12,10-11;13,1

    Leitura da Profecia de Zacarias

    Eis o que diz o Senhor:
    «Sobre a casa de David e os habitantes de Jerusalém
    derramarei um espírito de piedade e de súplica.
    Ao olhar para Mim, a quem trespassaram,
    lamentar-se-ão como se lamenta um filho único,
    chorarão como se chora o primogénito.
    Naquele dia, haverá grande pranto em Jerusalém,
    como houve em Hadad-Rimon, na planície de Megido.
    Naquele dia, jorrará uma nascente para a casa de David
    e para os habitantes de Jarusalém,
    a fim de lavar o pecado e a impureza.

    AMBIENTE

    Como o livro de Isaías, o livro de Zacarias não pode ser atribuído a um só e mesmo profeta. Só os capítulos 1-8 podem ser atribuídos a esse Zacarias, filho de Baraquias (cfr. Zac 1,1.7), que actuou em Jerusalém no pós-exílio e teve um papel preponderante na reconstrução do Templo (estamos à volta de 520 a.C.).
    Os capítulos 9-14 parecem ser uma outra colecção de textos, que provêm de um, ou mais provavelmente de vários autores tardios; costuma falar-se deste conjunto de textos usando a designação “Deutero-Zacarias”.
    A época em que os textos do Deutero-Zacarias apareceram também é muito discutida (a partir das referências históricas do livro, é possível deduzir todas as épocas, desde o séc. VIII até ao séc. II a.C.). No entanto, a opinião mais difundida actualmente é a que situa a redacção destes capítulos em finais do séc. IV e durante o séc. III a.C. (o ambiente parece revelar a época posterior às vitórias de Alexandre da Macedónia).
    O texto que nos é proposto integra uma colecção que vai de 12,1 a 14,21. Essa colecção apresenta-nos um mosaico de temas diversos, embora unidos por uma certa expectativa messiânica. Depois do anúncio da intervenção definitiva de Deus na pessoa de um rei/messias que, na humildade, procurará instaurar o reino ideal (cf. Zac 9,9-10) e da referência a um “pastor” enigmático que virá apascentar o rebanho de Deus (cf. Zac 11,4-17), os textos apresentam-nos um conjunto de oráculos que se referem à salvação e glória de Jerusalém. É nesse enquadramento que podemos situar o nosso texto.

    MENSAGEM

    O profeta começa por anunciar a efusão de um espírito de piedade e de súplica sobre a casa de David e os habitantes de Jerusalém: esse espírito irá provocar uma transformação interior que colocará toda a gente na órbita de Deus, numa atitude de confiança e de abertura a Deus.
    Tal acção resultará da actividade profética de um misterioso “trespassado”. Primeiro, o autor identifica-o com Deus (“olharão para mim”, a quem trespassaram”); mas, logo a seguir, a frase distingue de novo Deus e o misterioso personagem evocado. O “’ly” (“para mim”) significa, provavelmente, que o próprio Deus Se sente atingido pela morte infligida ao seu enviado.
    Quem é este personagem? Há quem o identifique com o rei Josias, morto em Meggido em combate contra os egípcios (cf. 2 Re 23,29-30); há, também, quem diga que esta figura se inspira no sumo sacerdote Onias III (cf. 2 Mac 4,34) ou em Simão Macabeu (cf. 1 Mac 16,11-17; se este personagem fosse Simão Macabeu, teríamos de colocar a redacção deste texto na segunda metade do séc. II a.C.). Pode, ainda, ser um qualquer profeta cujo nome desconhecemos… De qualquer forma, trata-se de um mártir inocente e anónimo, por cuja morte os habitantes de Jerusalém se tornaram responsáveis. A figura que melhor ilumina esta passagem ainda é a do “servo sofredor” de Is 53, mesmo se os termos utilizados são bastante diferentes. Como acontece com o “servo de Jahwéh”, o sacrifício deste mártir inocente é fonte de transformação dos corações (cf. Zac 12,10) e de purificação (cf. Zac 13,1): a contemplação dessa vítima inocente iniciará no Povo um processo de arrependimento e de purificação.
    A repetida evocação de David neste contexto (cf. Zac 12,7-8.10.12; 13,1) liga este personagem com a promessa messiânica.
    João, o autor do Quarto Evangelho, verá em Jesus, morto na cruz e com o coração trespassado pela lança do soldado, a concretização da figura aqui evocada (cf. Jo 19,37).

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar, na reflexão, os seguintes dados:

    ¨ Esta figura do “trespassado” faz-nos pensar em todos os “profetas” que lutam pela justiça e pela verdade e que são torturados, vilipendiados, massacrados por causa do seu testemunho incómodo. A identificação do “trespassado” com o próprio Deus diz-nos que o profeta nunca está só e perdido face ao ódio do mundo, mas que Deus está sempre do seu lado; diz-nos, também, que é de Deus que brota a missão profética, mesmo quando ela incomoda e questiona os homens.

    ¨ Fomos constituídos profetas no momento da nossa opção por Cristo (Baptismo). Como se tem “cumprido” a nossa missão profética? Na fidelidade e no empenho, ou na preguiça e no comodismo? No medo que paralisa, ou na inquebrantável
    confiança no Deus que está ao nosso lado?

    ¨ Como acolhemos a interpelação e o questionamento dos outros profetas que Deus envia ao nosso encontro? Com desprezo e arrogância, com frieza e indiferença? Ou com a convicção de que é o próprio Deus que, através deles, nos interpela?

    ¨ Este texto garante-nos que o sofrimento por causa do testemunho profético não é em vão. Do testemunho profético – mesmo quando “cumprido” na dor, na dificuldade, no fracasso aos olhos do mundo – resultará sempre a transformação dos corações, a conversão e, portanto, o nascimento de um mundo novo.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 62 (63)

    Refrão: A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.

    Senhor, sois o meu Deus: desde a autora Vos procuro.
    A minha alma tem sede de Vós.
    Por Vós suspiro,
    como terra árida, sequiosa, sem água.

    Quero contemplar-Vos no santuário,
    para ver o vosso poder e a vossa glória.
    A vossa graça vale mais que a vida:
    por isso os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores.

    Assim Vos bendirei toda a minha vida
    e em vosso louvor levantarei as mãos.
    Serei saciado com saborosos manjares
    e com vozes de júbilo Vos louvarei.

    Porque Vos tornastes o meu refúgio,
    exulto à sombra das vossas asas.
    Unido a Vós estou, Senhor,
    a vossa mão me serve de amparo.

    LEITURA II – Gal 3, 26-29

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas

    Irmãos:
    Todos vós sois filhos de Deus
    pela fé em Jesus Cristo,
    porque todos vós, que fostes baptizados em Cristo,
    fostes revestidos de Cristo.
    Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre,
    não há homem nem mulher;
    todos vós sois um só em Cristo Jesus.
    Mas, se pertenceis a Cristo,
    sois então descendência de Abraão,
    herdeiros segundo a promessa.

    AMBIENTE

    Continuamos a ler essa carta enviada aos habitantes da região central da Ásia Menor (Galácia), onde se discute se Cristo basta para chegar à salvação ou são precisas também as obras da Lei. Já sabemos que, para Paulo, só Cristo salva; por isso, os gálatas são convidados a fazer “ouvidos de mercador” às exigências dos “judaizantes” e a não se preocuparem com a circuncisão, nem com outras exigências da Lei de Moisés.
    Este texto, em concreto, aparece na segunda parte da Carta aos Gálatas (cf. Gal 3,1-6,18), em que Paulo apresenta uma reflexão sobre o cristão e a liberdade. Nos versículos anteriores, Paulo comparara a Lei a um “carcereiro” (cf. Gal 3,23) e a um “pedagogo” greco-romano (cf. Gal 3,24). Estas duas imagens são bem elucidativas: o carcereiro da época era, com muita frequência, exemplo de crueldade; e o pedagogo (geralmente um escravo pouco instruído que acompanhava a criança à escola e a mantinha disciplinada) também não era muito apreciado e evocava a imagem de reprimendas e castigos. É verdade, considera Paulo (cf. Gal 3,25), que é melhor ser conduzido pela mão do que perder-se no caminho; mas seria uma estupidez aspirar a viver sempre no cárcere ou considerar como um ideal ser sempre conduzido pela mão, sem experimentar a liberdade.

    MENSAGEM

    Aos gálatas, tentados a voltar à escravidão da Lei, Paulo recorda a experiência libertadora que resultou da sua adesão a Cristo.
    Pelo Baptismo, os crentes foram “revestidos de Cristo” e tornaram-se “filhos de Deus”. Dizer que os crentes foram “revestidos de Cristo” significa que entre os baptizados e Cristo se estabeleceu uma relação que não é apenas exterior, mas que toca o âmago da existência: pelo Baptismo, os cristãos assumiram a existência do próprio Cristo e tornaram-se, como Ele, pessoas que renunciaram à vida velha do egoísmo e do pecado, para viverem a vida nova da entrega a Deus e do amor aos irmãos. Em todos os crentes circula, agora, a vida do próprio Cristo; essa vida veste-os completamente, da cabeça aos pés.
    A primeira consequência que daqui resulta é que os cristãos são livres: eles receberam de Cristo uma vida nova e não estão mais sujeitos à escravatura do egoísmo, do pecado e da morte.
    A segunda consequência que daqui resulta é que os cristãos são iguais. Identificados com Cristo (porque todos – judeus e não judeus, homens e mulheres – foram revestidos da mesma vida), não há qualquer diferença ou discriminação quanto à raça, ou ao sexo; todos são “filhos”, com igual direito quanto à herança (todos são filhos do mesmo Pai e todos têm acesso, em Cristo, à mesma vida plena). A “salvação” que Cristo trouxe significa a igualdade fundamental de todos.
    A questão é esta: depois de experimentar isto, os gálatas estarão dispostos a ser, outra vez, escravos?

    ACTUALIZAÇÃO

    Considerar, para a reflexão, as seguintes linhas:

    ¨ O cristão é, fundamentalmente, aquele que se “revestiu de Cristo”. Que significa isto, em concreto? Que assinamos um documento no qual nos comprometemos a viver como baptizados? Que respeitamos apenas as leis e orientações da hierarquia? Que nos comprometemos somente a ir à missa ao domingo, a ir a Fátima uma vez por ano e a rezar o terço de vez em quando? Ou significa que assumimos o compromisso de viver como Cristo, de assumir os seus valores, de fazer da nossa vida um dom de amor, de nos entregarmos até à morte para construir um mundo de justiça e de paz para todos?

    ¨ Para os judeus, contemporâneos de Jesus e de Paulo de Tarso, os pagãos e as mulheres eram gente discriminada. “Dou-te graças, Deus altíssimo – diz uma célebre oração rabínica – porque não me fizeste pagão, escravo ou mulher”. Paulo proclama, neste texto, que, a partir da nossa identificação com Cristo, toda a discriminação entre os homens e, sobretudo entre os cristãos, carece de sentido. A Igreja soube tirar as consequências deste facto? Como acolhemos os estrangeiros, os discriminados, os divorciados, os homossexuais, os drogados, as mulheres? Como filhos iguais do mesmo Deus, ou como irmãos “coitados”, que é preciso tolerar e tratar com caridade mas que não são iguais nem têm a mesma dignidade dos outros?

    ALELUIA – Jo 10,27

    Aleluia. Aleluia.

    As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor;
    Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me.

    EVANGELHO – Lc 9,18-24

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Um dia, Jesus orava sozinho,
    estando com Ele apenas os discípulos.
    Então perguntou-lhes:
    «Quem dizem as multidões que Eu sou?»
    Eles responderam:
    «Uns, João Baptista; outros, que és Elias;
    e outros, que és um dos antigos
    profetas que ressuscitou».
    Disse-lhes Jesus:
    «E vós, quem dizeis que Eu sou?»
    Pedro tomou a palavra e respondeu:
    «És o Messias de Deus».
    Ele, porém, proibiu-lhes severamente
    de o dizerem fosse a quem fosse
    e acrescentou:
    «O Filho do homem tem de sofrer muito,
    ser rejeitado pelos anciãos,
    pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas;
    tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia».
    Depois, dirigindo-Se a todos, disse:
    «Se alguém quiser vir comigo,
    renuncie a si mesmo,
    tome a sua cruz todos os dias e siga-Me.
    Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la;
    mas quem perder a sua vida por minha causa,
    salvá-la-á».

    AMBIENTE

    Estamos na fase final da etapa da Galileia. Jesus passou algum tempo a apresentar o seu programa e a levar a Boa Nova aos pobres, aos marginalizados, aos oprimidos (cf. Lc 4,16-21). À volta d’Ele, foi-se formando um grupo de “testemunhas”, que apreciaram a sua actuação e que se juntaram a esse sonho de criar um mundo novo, de justiça, de liberdade e de paz para todos. Agora, antes de começar a etapa decisiva da sua caminhada nesta terra (o “caminho” para Jerusalém, onde Jesus vai concretizar a sua entrega de amor), os discípulos são convidados a tirar as suas conclusões acerca do que viram, ouviram e testemunharam. Quem é este Jesus, que se prepara para cumprir a etapa final de uma vida de entrega, de dom, de amor partilhado? E os discípulos estarão dispostos a seguir esse mesmo caminho de doação e de entrega da vida ao “Reino”?

    MENSAGEM

    A cena de hoje começa com a indicação da oração de Jesus (vers. 18). É um dado típico de Lucas que põe sempre Jesus a rezar antes de um momento fundamental (cf. Lc 5,16; 6,12; 9,28-29; 10,21; 11,1; 22,32.40-46; 23,34). A oração é o lugar do reencontro de Jesus com o Pai; depois de rezar, Jesus tem sempre uma mensagem importante – uma mensagem que vem do Pai – para comunicar aos discípulos. A questão importante que, no contexto do episódio de hoje, Jesus tem a comunicar, tem a ver com a questão: “quem é Jesus?”
    A época de Jesus foi uma época de crise profunda para o Povo de Deus; foi, portanto, uma época em que o sofrimento gerou uma enorme expectativa messiânica. Asfixiado pela dor que a opressão trazia, o Povo de Deus sonhava com a chegada desse libertador anunciado pelos profetas – um grande chefe militar que, com a força das armas, iria restaurar o império de seu pai David e obrigar os romanos opressores a levantar o jugo de servidão que pesava sobre a nação. Na época apareceram, aliás, várias figuras que se assumiram como “enviados de Deus”, criaram à sua volta um clima de ebulição, arrastaram atrás de si grupos de discípulos exaltados e acabaram, invariavelmente, chacinados pelas tropas romanas. Jesus é também um destes demagogos, em quem o Povo vê cristalizada a sua ânsia de libertação?
    Aparentemente, Jesus não é considerado pelas multidões “o messias”: o Povo identifica-o, preferentemente, com Elias, o profeta que as lendas judaicas consideravam estar junto de Deus, reservado para o anúncio do grande momento da libertação do Povo de Deus (vers. 19); talvez a sua postura e a sua mensagem não correspondessem àquilo que se esperava de um rei forte e vencedor.
    Os discípulos, no entanto, companheiros de “caminho” de Jesus, deviam ter uma perspectiva mais elaborada e amadurecida. De facto, é isso que acontece; por isso, Pedro não tem dúvidas em afirmar: “Tu és o messias de Deus” (vers. 20). Pedro representa aqui a comunidade dos discípulos – essa comunidade que acompanhou Jesus, testemunhou os seus gestos e descobriu a sua ligação com Deus. Dizer que Jesus é o “messias” significa reconhecer nele esse “enviado” de Deus, da linha davídica, que havia de traduzir em realidade essas esperanças de libertação que enchiam o coração de todos.
    Jesus não discorda da afirmação de Pedro. Ele sabe, no entanto, que os discípulos sonhavam com um “messias” político, poderoso e vitorioso e apressa-se a desfazer possíveis equívocos e a esclarecer as coisas: Ele é o enviado de Deus para libertar os homens; no entanto, não vai realizar essa libertação pelo poder das armas, mas pelo amor e pelo dom da vida (vers. 22). No seu horizonte próximo não está um trono, mas a cruz: é aí, na entrega da vida por amor, que Ele realizará as antigas promessas de salvação feitas por Deus ao seu Povo.
    A última parte do texto (vers. 23-24) contém palavras destinadas aos discípulos: aos de ontem, de hoje e de amanhã. Todos são convidados a seguir Jesus, isto é, a tomar – como Ele – a cruz do amor e da entrega, a derrubar os muros do egoísmo e do orgulho, a renunciar a si mesmo e a fazer da vida um dom. Isto não deve acontecer em circunstâncias excepcionais, mas na vida quotidiana (“tome a sua cruz todos os dias”). Desta forma fica definida a existência cristã.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão, considerar os seguintes elementos:

    ¨ O Evangelho de hoje define a existência cristã como um “tomar a cruz” do amor, da doação, da entrega aos irmãos. Supõe uma existência vivida na simplicidade, no serviço humilde, na generosidade, no esquecimento de si para se fazer dom aos outros. É esse o “caminho” que eu procuro percorrer?

    ¨ Na sociedade em geral e na Igreja em particular, encontramos muitos cristãos para quem o prestígio, as honras, os postos elevados, os tronos, os títulos são uma espécie de droga de que não prescindem e a que não podem fugir. Frequentemente, servem-se dos carismas e usam as tarefas que lhe são confiadas para se auto-promover, gerando conflitos, rivalidades, ciúmes e mal-estar. À luz do “tomar a cruz e seguir Jesus”, que sentido é que isto fará? Como podemos, pessoal e comunitariamente, lidar com estas situações? Podemos tolerá-las – em nós ou nos outros? Como é possível usar bem os talentos que nos são confiados, sem nos deixarmos tentar pelo prestígio, pelo poder, pelas honras? Tem alguma importância, à luz do que Jesus aqui ensina, que a Igreja apareça em lugar proeminente nos acontecimentos sociais e mundanos e que exija tratamentos de privilégio?

    ¨ Quem é Jesus, para nós? É alguém que conhecemos das fórmulas do catecismo ou dos livros de teologia, sobre quem sabemos dizer coisas que aprendemos nos livros? Ou é alguém que está no centro da nossa existência, cujo “caminho” tem um real impacto no nosso dia a dia, cuja vida circula em nós e nos transforma, com quem dialogamos, com quem nos identificamos e a quem amamos?

    ¨ É na oração que eu procuro perceber a vontade de Deus e encontrar o caminho do amor e do dom da vida? Nos momentos das decisões importantes da mi
    nha vida, sinto a necessidade de dialogar com Deus e de escutar o que Ele tem para me dizer?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 12º DOMINGO DO TEMPO COMUM
    (em parte adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 12º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. A CRUZ EM DESTAQUE E A FÉ EM DIÁLOGO.
    “…Tome a sua cruz todos os dias e siga-Me…” Durante a celebração, pode-se pôr em destaque a cruz. Se houver cruz processional, pode ser colocada no espaço de entrada da igreja; assim, ao chegarem, os fiéis olharão logo de início para cruz. De seguida, como habitualmente, a cruz irá à frente na procissão de entrada; ou, como alternativa, pode permanecer na entrada e ser levada após o Evangelho.
    “…E vós, quem dizeis que Eu sou?…” Como eco à questão de Jesus, a profissão de fé pode ser a mesma do ritual da Confirmação, dialogada sob a forma de pergunta/resposta.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    “Pai, erguemos os olhos para a imagem do teu Filho na cruz e, no seu lado trespassado, descobrimos a relação vital entre a sua Páscoa e o nosso baptismo. Nós Te damos graças pela salvação que assim Ele nos concedeu.
    Nós Te pedimos pelas vítimas inocentes de todas as violências da nossa terra. Venha sobre nós e em nós o teu Espírito de paz”.

    No final da segunda leitura:
    “Pai, nós Te damos graças pelo nosso baptismo e confirmação: pela água e pela unção fomos revestidos de Cristo, pertencemos-Lhe e n’Ele formamos um só povo.
    Nós Te pedimos pelas nossas comunidades, que as classes sociais e as clivagens de toda a espécie podem levar à divisão. Que o teu Espírito nos mantenha sempre unidos”.

    No final do Evangelho:
    “Cristo Jesus, benditas sejas. Com o Apóstolo Pedro nós confessamos: Tu és o Messias de Deus. Nós Te damos graças pelo caminho que tomaste.
    Nós Te pedimos: que o teu Espírito sustente a nossa fé, no meio das dúvidas que tantas vezes nos assaltam”.

    4. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    A Oração Eucarística II sublinha bem a liberdade de Cristo face à Paixão, anunciada no Evangelho de hoje: “no momento em que ia ser entregue e entrar livremente na sua paixão…”

    5. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    “E vós, quem dizeis que Eu sou?” Jesus põe-nos esta questão a nós, hoje. Que dizemos nós d’Ele, diante de Deus, no mais secreto do nosso ser? Que dizemos nós d’Ele, em família, aos nossos filhos, aos nossos amigos, aos nossos irmãos…? Quando a ocasião se apresenta (no nosso trabalho, nas nossas relações sociais…), ousamos anunciar claramente quem somos ou temos receio de dizer que somos de Cristo?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

  • S. João Baptista

    S. João Baptista

    23 de Junho, 2022

    João Batista, além da Virgem Maria, é o único santo de quem a Liturgia celebra o nascimento para a terra. João, como "Precursor" de Jesus teve, de fato, um papel único na História da Salvação. Filho de Zacarias e de Isabel, a sua vida não desabrochou por iniciativa humana, mas por dom de Deus a dois pais de idade avançada e, por isso, já sem possibilidade de gerar filhos. Situado na charneira entre o Antigo e o Novo Testamento, como Precursor, João é considerado profeta de um e outro Testamento. O paralelismo estabelecido por Lucas entre a infância de Jesus e de João Batista levou a Liturgia a celebrar o nascimento de ambos: o de Jesus no solstício de Inverno e o de João no solstício de Verão.

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 49, 1-6

    Povos de Além-Mar, escutai-me: povos de longe, prestai atenção. Quando ainda estava no ventre materno, o Senhor chamou-me, quando ainda estava no seio da minha mãe, pronunciou o meu nome.2Fez da minha palavra uma espada afiada, escondeu-me na concha da sua mão. Fez da minha mensagem uma seta penetrante, guardou-me na sua aljava.3Disse-me: «Israel, tu és o meu servo, em ti serei glorificado. 4Eu dizia a mim mesmo: "Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças." Porém, o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompensa. 5E agora o Senhor declara-me que me formou desde o ventre materno, para ser o seu servo, para lhe reconduzir Jacob, e para lhe congregar Israel. Assim me honrou o Senhor. O meu Deus tornou-se a minha força. 6Disse-me: «Não basta que sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob, e reunires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra.

    Como o Servo de Javé, João Baptista foi chamado a uma especial missão, desde que foi concebido o seio de sua mãe. Como Ele, recebeu um nome, um chamamento e uma revelação. Como Ele, teve que enfrentar a dureza e o sofrimento no desempenho da missão. Por isso, o nosso texto, retirado dos "Cânticos do Servo de Javé" adequa-se a João Baptista. O verdadeiro profeta realiza a missão, confiando unicamente n´Aquele que o escolheu, chamou e enviou. E só d´Ele espera recompensa.

    Segunda leitura: Atos 13, 22-26

    Naqueles dias, Paulo falou deste modo: Deus concedeu aos filhos de Israel David como rei, e a seu respeito deu este testemunho: 'Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.' 23Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus. 24João preparou a sua vinda, anunciando um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. 25Quase a terminar a sua carreira, João dizia: 'Eu não sou quem julgais; mas vem, depois de mim, alguém cujas sandálias não sou digno de desatar.' 26Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que de entre vós são tementes a Deus, a nós é que foi dirigida a palavra de salvação.

    O discurso de Paulo em Antioquia, com explícita referência a João Batista, mostra a importância que o profeta tinha na primitiva comunidade cristã. Paulo refere-se também a David. David e João foram dois profetas que, de modo diferente, e em tempos distintos, prepararam a vinda do Messias: David recebeu a promessa do Messias; João preparou a vinda do mesmo, pregando um batismo de penitência.
    Impressiona, nesta página, a clareza com que João identifica Jesus, e se define a si mesmo. É este o primeiro dever do verdadeiro profeta.

    Evangelho: Lucas 1, 57-66.80

    Naquele tempo, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 58Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela.59Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» 62Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.»E todos se admiraram. 64Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.80Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel.

    O paralelismo estabelecido por Lucas, ao narrar a infância do Batista e a de Jesus é rico sob os pontos de vista literário e teológico. O nascimento de João preanuncia o de Jesus. João, ainda no ventre materno, anuncia um outro Menino. O nome de João é prelúdio do de Jesus. O extraordinário evento da maternidade de Isabel prepara outro, o da maternidade de Maria. A missão de João faz-nos pregustar a de Jesus. Trata-se de uma única missão, em dois tempos; dois tempos de uma única história que se desenrola em ritmos alternos mas sincronizados. Não devemos contrapor a missão do Batista e a de Jesus.

    Meditatio

    A festa do nascimento de João Batista leva-nos a pensar no amor preveniente de Deus e na importância das suas preparações para o acolhermos devidamente e com fruto. Deus prepara o nascimento de João: um anjo anuncia a Zacarias que a sua mulher, idosa e estéril, vai ter um filho, cujo nascimento alegrará a muitos; inesperadamente, o nome da criança não é Zacarias, mas João, cujo significado é: "Deus faz graça"; João é enviado a preparar os caminhos do Senhor, o "ano de graça" do Senhor, a vinda de Jesus. Como o agricultor prepara o terreno antes de lhe lançar a semente, assim Deus prepara os tempos e os corações para receberem os seus dons. É por isso que havemos de viver vigilantes, de estar atentos à ação de Deus em nós e nos outros, para a sabermos discernir no meio dos acontecimentos humanos e nas mais variadas situações da nossa vida. João ajuda-nos a estarmos atentos a Jesus e ao que Ele quer fazer em nós e no nosso mundo. João acreditou e indicou Jesus aos que o seguiam: "depois de mim, virá alguém maior do que eu... Eis o Cordeiro de Deus!"
    Por todas estas razões, a festa de hoje é um dia de alegria para a Igreja. E, todavia, João foi um profeta austero, que pregou a penitência com uma linguagem pouco amável: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de conversão e não vos iludais a vós mesmos, dizendo: 'Temos por pai a Abraão!'" (Mt 3, 7-8). O profeta exortava a uma penitência que se torna alegria, alegria da purificação, alegria da vinda do Senhor.
    A missão de João Batista é, de certo modo, a missão de todo o crente: preparar a vinda do Senhor, o que é mais do que simplesmente anunciar. É preciso por ao serviço de Jesus não só as nossas palavras, mas também a nossa vida toda.

    Oratio

    S. João Batista, glorioso Precursor de Jesus, verdadeiro amigo do Esposo, ensinai-me o espírito de penitência e o amor da pureza para alcançar uma união, cada vez maior, com Jesus, o Salvador, e com Maria, sua Mãe. Ensinai-me a viver essa união em todos os momentos da minha vida, incluindo o meu apostolado em que procuro preparar, como vós, os caminhos do Senhor. Que a minha ternura por Jesus se torne, cada vez mais, semelhante à vossa. Ámen.

    Contemplatio

    João ainda não nascera quando Jesus e Maria vão visitá-lo à Judeia. Estremece no seio de sua mãe. É abençoado e santificado pela presença de Jesus e pela visita de Maria. É um amigo para Jesus, di-lo ele mesmo: «O amigo do esposo, diz, alegra-se quando escuta a voz do seu amigo, é por isso que hoje estou alegre» (Jo 3, 29). Quando Jesus menino volta do Egipto, visita o seu pequeno amigo passando pela Judeia. Cada ano, nos dias de Páscoa, estão juntos em Jerusalém. Reencontram-se no Jordão. S. João conhece a missão do seu amigo e parente, proclama a sua missão: «Eis, diz, o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo». Pregam um ao outro, mas S. João envia os seus discípulos a Cristo. Recebe as suas graças de Jesus e conduz as almas a Jesus. Tal deve ser a nossa união com Jesus e Maria. Maria dar-nos-á Jesus. Sede amigos para Jesus pela vossa assiduidade, pelo vosso afeto, pela vossa confiança. Conduzamos-lhe as almas, não procuremos em nada reter a sua afeição por nós, admiremos nisto o desapego de S. João. Ide a Jesus, diz a todos, nada sou senão uma voz que prega no deserto, não sou digno de desatar os seus sapatos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 689).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Profeta do Altíssimo,
    irás à sua frente a preparar os seus caminhos" (Lc 1, 76).

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    S. João Baptista (24 Junho)

  • Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – Ano C

    Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – Ano C


    24 de Junho, 2022

    ANO C
    SOLENIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

    Tema da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

    A liturgia deste dia convida-nos a contemplar a bondade, a ternura e a misericórdia de Deus pelos homens – por todos os homens, sem exceção. Como imagem privilegiada para exprimir esta realidade, a Palavra de Deus utiliza a figura do Pastor: Deus é o Pastor que, com amor, cuida do seu rebanho.
    A primeira leitura apresenta Deus como um “bom pastor” (contraposto aos líderes de Israel, os “maus pastores” que conduziram o Povo por caminhos de egoísmo e de morte), cuja preocupação fundamental é o bem-estar do seu rebanho; nesse contexto, o profeta anuncia a obra do Pastor/Deus: libertação do rebanho/Povo, o êxodo para a terra da liberdade, a condução do rebanho para “pastagens excelentes” e os cuidados amorosos que o Pastor dispensará a cada uma das suas ovelhas.
    A segunda leitura lembra-nos que o amor de Deus se derrama continuamente sobre os homens. A prova cabal desse imenso amor é Jesus Cristo, o Filho que o Pai enviou ao nosso encontro para nos libertar do egoísmo e do pecado e que deu a própria vida para que o projeto de amor do Pai se concretizasse e atingisse a humanidade inteira.
    O Evangelho retoma a imagem do Deus/Pastor, cujo amor se derrama, de forma especial, sobre as ovelhas feridas e perdidas do rebanho. Dessa forma, sugere-se que o Pastor/Deus não só não exclui ninguém da sua proposta de salvação – nem sequer aqueles que, pelas suas atitudes “politicamente incorretas” são marginalizados pelos outros homens – mas até tem um “fraco” especial pelos excluídos: são precisamente esses os destinatários privilegiados do amor de Deus.

    LEITURA I – Ez 34,11-16

    Leitura da Profecia de Ezequiel

    Eis o que diz o Senhor Deus:
    «Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas
    e hei de encontrá-las.
    Como o pastor que vigia o rebanho,
    quando estiver no meio das ovelhas que andavam tresmalhadas,
    assim Eu cuidarei das minhas ovelhas,
    para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram
    num dia de nevoeiro e de trevas.
    Arrancá-las-ei de entre os povos
    e as reunirei dos vários países,
    para as reconduzir à sua própria terra.
    Apascentá-las-ei nos montes de Israel,
    nas ribeiras e em todos os lugares habitados do país.
    Eu as apascentarei em boas pastagens
    e terão as suas devesas nos altos montes de Israel.
    Descansarão em férteis devesas
    e encontrarão pasto suculento sobre as montanhas de Israel.
    Eu apascentarei o meu rebanho,
    Eu o farei repousar, diz o Senhor Deus.
    Hei de procurar a ovelha que anda perdida
    e reconduzir a que anda tresmalhada.
    Tratarei a que estiver ferida,
    darei vigor à que andar enfraquecida
    e velarei pela gorda e vigorosa.
    Hei de apascentar com justiça».

    AMBIENTE

    Ezequiel, o “profeta da esperança”, integrou essa primeira leva de exilados que, em 597 a.C., Nabucodonosor enviou para a Babilónia. Foi na Babilónia que ele se sentiu chamado por Deus e foi entre os exilados que ele desenvolveu a sua missão profética (entre 592 e 571 a.C., aproximadamente).
    Numa primeira fase (entre 592 e 586 a.C.), a mensagem que Ezequiel se propõe transmitir procura desfazer as falsas esperanças dos exilados (apostados em regressar rapidamente a Judá) e anuncia um novo castigo para Jerusalém: não somos nós que vamos regressar rapidamente à nossa terra – diz o profeta; os que estão em Jerusalém e que continuam a trilhar caminhos de pecado e de infidelidade a Jahwéh é que virão ao nosso encontro, no Exílio.
    Numa segunda fase (entre 586 e 571 a.C.), a mensagem de Ezequiel vai ser, sobretudo, uma mensagem de salvação, destinada a consolar os exilados e a alimentar a esperança num futuro novo de felicidade e de paz.
    O texto que nos é proposto pertence a esta segunda fase. Depois de denunciar a responsabilidade dos dirigentes da nação (os “maus pastores”) na catástrofe nacional (cf. Ez 34,1-10), o profeta anuncia uma nova fase da história, na qual o próprio Deus vai apascentar o seu Povo.
    A ideia de apresentar Deus como um pastor que apascenta o seu Povo não é original: os sumérios, os babilónios e os egípcios aplicavam esta imagem quer aos deuses, quer aos homens; e em Israel é uma imagem que, com frequência, se aplica a Deus (cf. Sal 23; 80; Jr 23,1-8).

    MENSAGEM

    O tema fundamental deste texto é, portanto, a apresentação de Deus como um “bom pastor”, que cuida com amor do rebanho que é o seu Povo.
    O nosso texto começa por apresentar a iniciativa de Deus, que “em pessoa” vem ao encontro do Povo escravizado (vers. 11: “Eu próprio tomarei cuidado das minhas ovelhas”). Apesar do pecado do Povo, Deus não abandonou o seu rebanho: até no Exílio os membros do Povo continuam a ser, para Deus, “as minhas ovelhas”.
    Qual é o objetivo de Deus ao vir ao encontro das suas ovelhas? É libertá-las da escravidão, reuni-las e conduzi-las de regresso à terra prometida (vers. 12-13b). Tudo isto é descrito segundo o esquema do êxodo: saída e entrada. Deus quer repetir a maravilhosa iniciativa libertadora do êxodo do Egipto, trazendo novamente o seu Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade.
    Com a chegada dos exilados à terra da liberdade, estará terminada a ação de Deus? Não. Mesmo depois de as ovelhas terem reencontrado a sua terra, o pastor (Deus) continuará a dispensar-lhes os seus cuidados… As imagens utilizadas (vers. 13c-15) sublinham, por um lado, a abundância de vida, por outro lado, a tranquilidade e a paz que Deus Se propõe dar – em todos os momentos – ao seu “rebanho”.
    A ação salvadora e amorosa de Deus concretizar-se-á, ainda, na solicitude com que Ele tratará as ovelhas perdidas, desgarradas, feridas, enfermas (vers. 16). Aí manifestar-se-á a “justiça” de Deus que é amor, solicitude, ternura, misericórdia para com os mais pobres, marginalizados e débeis.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:

    • Dizer que Deus é o “bom pastor” implica falar de um Deus com o coração cheio de amor, que em todos os instantes está presente nos caminhos da nossa história, luta ao nosso lado contra tudo o que oprime e escraviza, aponta horizontes de esperança àqueles que andam perdidos, cuida de todos aqueles que a vida magoou e feriu, oferece a todos a vida e a salvação. Neste dia do Coração de Jesus, somos convidados a contemplar o amor e a ternura do Pastor/Deus que se derramam sobre todos os homens e, de forma especial, sobre os pobres, os oprimidos, os excluídos.

    • A imagem do “bom pastor” é posta, nesta leitura, em contraste com os “maus pastores” (os líderes), os quais, procurando apenas “apascentar-se a si próprios”, conduziram o Povo e a nação
    por caminhos de egoísmo e de morte… Convida-nos a não colocar a nossa esperança e a nossa segurança em mãos humanas, pois só Deus é o “bom pastor” em quem podemos encontrar a vida em plenitude.

    • Há aqui, também, um convite implícito a todos aqueles que têm responsabilidades na sociedade, na Igreja, na comunidade: que o serviço da autoridade seja exercido com solicitude e amor, não para nos servirmos a nós próprios, mas para servirmos os irmãos que Deus nos confiou. Que nos nossos gestos não haja egoísmo e prepotência, mas sim a presença efetiva e concreta do amor de Deus.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22 (23)

    Refrão: O Senhor é meu pastor: nada me faltará.

    O Senhor é meu pastor: nada me falta.
    Leva-me a descansar em verdes prados,
    conduz-me às águas refrescantes
    e reconforta a minha alma.

    Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome.
    Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
    não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:
    o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.

    Para mim preparais a mesa
    à vista dos meus adversários;
    com óleo me perfumais a cabeça
    e meu cálice transborda.

    A bondade e a graça hão de acompanhar-me
    todos os dias da minha vida
    e habitarei na casa do Senhor
    para todo o sempre.

    LEITURA II – Rom 5,5b-11

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos

    Irmãos:
    O amor de Deus foi derramado em nossos corações
    pelo Espírito Santo que nos foi dado.
    Quando ainda éramos fracos,
    Cristo morreu pelos ímpios no tempo determinado.
    Dificilmente alguém morrerá por um justo;
    por um homem bom,
    talvez alguém tivesse a coragem de morrer.
    Mas Deus prova assim o seu amor para connosco:
    Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores.
    E agora, que fomos justificados pelo seu sangue,
    com muito maior razão
    seremos por Ele salvos da ira divina.
    Se, na verdade, quando éramos inimigos,
    fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,
    com muito maior razão, depois de reconciliados,
    seremos salvos pela sua vida.
    Mais ainda: também nos gloriamos em Deus,
    por Nosso Senhor Jesus Cristo,
    por quem alcançámos agora a reconciliação.

    AMBIENTE

    Quando escreve aos Romanos, Paulo prepara-se para deixar Corinto e para regressar a Jerusalém, no termo da sua terceira viagem missionária (ano 57 ou 58). Ele sente que terminou a sua missão na Ásia e pretende, agora, dirigir o seu esforço missionário para Ocidente. Por outro lado, Paulo está preocupado com a ameaça que pesa sobre a Igreja: ela corre o risco de se dividir em duas comunidades, uma judeo-cristã, outra pagano-cristã… Mais do que para a comunidade de Roma, é uma carta para todas as comunidades cristãs, onde Paulo – em tom sereno e didático – expõe as questões fundamentais que o preocupam. Sublinhando a unidade da revelação, a unidade do Antigo Testamento e do Evangelho, as promessas feitas a Israel e o papel do antigo Povo de Deus na história da salvação, Paulo demonstra que judeus e pagãos, reconciliados por Cristo, têm lugar nessa comunidade fraterna que é a Igreja.
    O texto que nos é proposto está incluído na parte dogmática da carta (cf. Rm 1,18-11,36), onde Paulo procura dizer que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente. Depois de esclarecer que ninguém tem méritos superiores aos outros, porque todos – judeus e pagãos – são pecadores (cf. Rom 1,18-3,20), Paulo ensina que é a “justiça” de Deus que dá a vida a todos, sem distinção (cf. Rm 3,21-5,11).

    MENSAGEM

    O texto começa com uma referência ao amor de Deus, “derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo” (vers. 5). Aqui refere-se algo de essencial na nossa experiência religiosa: o cristão não é um “pobre coitado”, que se tornou escravo de fórmulas e de ritos e que vive prisioneiro de uma moral pré-histórica ou de uma hierarquia centralizadora; mas é, fundamentalmente, alguém a quem Deus ama… Nunca será demais insistir nesta evidência: Deus ama-nos. É essa a grande “boa notícia” que Paulo quer propor a todos os homens.
    A prova desse amor é essa história incrível de Jesus de Nazaré, o Filho, a quem o Pai enviou ao mundo para “justificar” esses homens mergulhados numa história de egoísmo e de pecado e para os reconciliar definitivamente consigo. Paulo convida-nos a reparar nesse facto espantoso: Deus, o Pai, não passou a amar-nos quando nos convertemos; amou-nos desde sempre e, por isso, enviou o Filho ao nosso encontro “quando éramos ainda pecadores” (vers. 8). É claro que agora, salvos pelo sangue de Jesus, inseridos numa dinâmica de vida nova, temos ainda mais razões para esperar que Deus nos ame e continue a derramar sobre nós a sua vida (vers. 9-10). Esta é a raiz da nossa esperança.
    Que significa dizer que fomos “justificados” e “reconciliados” com Deus pelo sangue de Jesus (vers. 9-11)? Significa que o Pai exigiu a morte do Filho em nosso lugar, a fim de nos poder perdoar as nossas faltas? Não. Significa que o Pai tinha um projeto de vida e de salvação para nós e que enviou o Filho ao nosso encontro para nos apresentar esse projeto… A morte do Filho foi o resultado do confronto do projeto libertador do Pai com o ódio, o egoísmo, a opressão que dominavam o mundo… Mas, se esse projeto foi cumprido – apesar das resistências – até ao dom da vida do Filho, isso demonstra a imensidão do amor de Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    Para a reflexão, considerar as seguintes linhas:

    • Já o dissemos, mas não é demais repeti-lo: o cristão não é um “pobre coitado” nem um “pobre idealista” que, com os olhos no céu, luta contra moinhos de vento, condenado ao fracasso e à irrisão; o cristão é alguém que tem consciência do amor de Deus e que, com o coração cheio de alegria e de esperança, sente a necessidade de testemunhar aos homens – com palavras e com gestos – esse amor. Sentimos, verdadeiramente, que a nossa vocação é o encontro com o Deus/amor e o testemunho, diante dos homens, desse amor libertador?

    • A consciência do amor de Deus dá-nos a coragem de enfrentar o mundo e de, no seguimento de Jesus, fazer da vida um dom de amor. O cristão não teme o confronto com a injustiça, com a perseguição, com a morte: tudo isso é secundário, perante o Deus que nos ama e que nos desafia a amar sem medida. Enfrente quem enfrentar, o que importa ao crente é ser, no mundo, um sinal vivo do amor de Deus. A nossa vida de encontro com quem nos cruzamos todos os dias, nos caminhos deste mundo, é testemunho e sinal vivo do amor de Deus que nos enche o coração?

    ALELUIA – Mt 11,291b

    Aleluia. Aleluia.

    Tomai o meu jugo sobre vós, diz o senhor,
    e aprendei de Mim,
    que sou manso e humilde de coração.

    (Ou Jo 10,14):
    Eu sou o bom pastor, diz o Senhor:
    conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-Me.

    EVANGELHO – Lc 15,3-7

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naquele tempo,
    disse Jesus aos fariseus e aos escribas a seguinte parábola:
    «Quem de vós, que possua cem ovelhas
    e tenha perdido uma delas,
    não deixa as outras noventa e nove no deserto,
    para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar?
    Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros
    e, ao chegar a casa,
    chama os amigos e vizinhos e diz-lhes:
    ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’.
    Eu vos digo:
    Assim haverá mais alegria no Céu
    por um só pecador que se arrependa,
    do que por noventa e nove justos,
    que não precisam de arrependimento».

    AMBIENTE

    A história que, hoje, Lucas nos conta deve ser colocada no contexto do “caminho para Jerusalém”, quer dizer, nessa caminhada “espiritual”, durante a qual Jesus prepara os discípulos para serem, após a sua partida para o Pai, as testemunhas do “Reino” no meio dos homens. Em várias lições, Jesus revela aos discípulos o ser do Pai e apresenta-lhes os valores fundamentais do “Reino”; na lição de hoje, Jesus apresenta uma catequese que revela o amor e a misericórdia do Pai.
    Todo o capítulo 15 é dedicado a mostrar a força do amor de Deus. Em três parábolas, Jesus desenvolve o tema da busca e do encontro do que estava perdido, para mostrar o amor e a solicitude de Deus para com todos, nomeadamente para com os pecadores e os marginais. Trata-se de um tema muito caro ao evangelista Lucas.
    A “parábola da ovelha perdida” aqui apresentada aparece também em Mateus (cf. Mt 18,12-14); mas, enquanto que em Mateus ela é aplicada à responsabilidade dos chefes da Igreja no que diz respeito aos “pequenos” das suas comunidades, em Lucas a parábola serve para ilustrar a misericórdia de Deus e o seu cuidado para com os pecadores: não há dúvida que o sentido de Lucas deve estar muito mais próximo do sentido original com que Jesus contou esta história.
    Para percebermos cabalmente o que está aqui em causa, é importante termos em conta o “enquadramento” em que a parábola nos aparece. Tudo começa com uma observação dos escribas e fariseus que, vendo como os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para O ouvir, comentaram: “este homem acolhe os pecadores e come com eles”. Para os fariseus, era absolutamente escandaloso manter contactos com um pecador notório. Na época, um cobrador de impostos não podia fazer parte da comunidade farisaica; não podia ser juiz, nem prestar testemunho em tribunal sendo, para efeitos judiciais, equiparado ao escravo; estava também privado de certos direitos cívicos, políticos e religiosos… Jesus vai demonstrar, àqueles que o criticam, que a lógica dos fariseus (criadora de exclusão e de marginalidade) está em oposição à lógica de Deus.

    MENSAGEM

    A parábola do pastor que abandona noventa e nove ovelhas no deserto para ir à procura de uma que se perdeu e que, chegado a casa, convoca os amigos e vizinhos para celebrar o achamento da ovelha perdida, é uma parábola estranha, se olharmos para ela com critérios de coerência e de lógica. Faz sentido abandonar noventa e nove ovelhas por causa de uma? E faz sentido esse espalhafato diante dos amigos e dos vizinhos, por causa de um facto tão banal para um pastor como é o reencontrar uma ovelha que se extraviou do grupo? Ora, são precisamente nesses exageros e nessas reações desproporcionadas que transparece a mensagem essencial da parábola.
    Os relatos evangélicos põem, com frequência, Jesus em contacto com gente reprovável, apontada a dedo pela sociedade, como os cobradores de impostos e as mulheres de má vida. É impossível que os discípulos tenham inventado isto: ninguém da comunidade cristã primitiva estaria interessado em atribuir a Jesus um comportamento “politicamente incorreto”, se isso não correspondesse à realidade histórica. Não há dúvida: Jesus deu-Se com gente duvidosa, com pessoas a quem os “justos” preferiam evitar, com pessoas que eram anatematizadas e marginalizadas por causa dos seus comportamentos escandalosos, atentatórios da moral pública. Certamente não foram os discípulos a inventar para Jesus o injurioso apelativo de “comilão e bêbedo, amigo de publicanos e de pecadores (Mt 11,19; cf. 15,1-2). Porque é que Jesus se dava com essas pessoas?
    Porque, na perspetiva de Lucas, Jesus é o amor de Deus que Se faz pessoa e que vem ao encontro dos homens – de todos os homens – para os libertar da sua miséria e para lhes apresentar essa realidade de vida nova que é o projeto do “Reino”. A solicitude de Jesus para com os pecadores mostra-lhes que Deus os ama, que Deus não os rejeita, que Deus os convida a fazer parte da sua família e a integrar a comunidade do “Reino”. É que o projeto de salvação de Deus não é um condomínio fechado, com seguranças fardados para evitar a entrada de indesejáveis; mas é uma proposta universal, onde todos os homens e mulheres têm lugar, porque todos – maus e bons – são filhos queridos e amados do Pai/Deus. A lógica de Deus é sempre dominada pelo amor.
    A “parábola da ovelha perdida” pretende, precisamente, dar conta desta realidade. A atitude desproporcionada de “deixar as noventa e nove ovelhas no deserto para ir ao encontro da que estava perdida” sublinha a imensa preocupação de Deus por cada homem que se afasta da comunidade da salvação e o “inqualificável” amor de Deus por todos os homens que necessitam de libertação. O “pôr a ovelha aos ombros” significa o cuidado e a solicitude de Deus, que trata com amor e com cuidados de Pai os filhos feridos e magoados; a alegria desmesurada do “pastor” significa a felicidade imensa de Deus sempre que o homem reentra no caminho da felicidade e da vida plena.
    Jesus anuncia, aqui, a salvação de Deus oferecida aos pecadores, não porque estes se tornaram dignos dela mediante as suas boas obras, mas porque o próprio Deus Se solidariza com os excluídos e marginalizados e lhes oferece a salvação. Encontramos aqui o cumprimento da profecia de Ezequiel que nos foi apresentada na primeira leitura: Deus vai assumir-Se (através de Jesus) como o Bom Pastor, que cuidará com amor de todas as ovelhas e, de forma especial, das desencaminhadas e perdidas.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:

    • Antes de mais, o que está em causa na leitura que nos é proposta é a apresentação do imenso amor de Deus. Deus ama de forma desmesurada cada mulher e cada homem. É esta a primeira coisa que nos deve “tocar” ao celebrarmos
    o Coração de Jesus. Interiorizamos suficientemente esta certeza, deixamos que ela marque a nossa vida e condicione as nossas opções?

    • O amor de Deus dirige-se, de forma especial, aos pequenos, aos marginalizados, aos necessitados de salvação. Os pobres e débeis que encontramos nas ruas das nossas cidades ou à porta das igrejas das nossas paróquias encontram nos “profetas do amor” a solicitude maternal e paternal de Deus? Apesar do imenso trabalho, do cansaço, do “stress”, dos problemas que nos incomodam, somos capazes de “perder” tempo com os pequenos, de ter disponibilidade para acolher e escutar, de “gastar” um sorriso com esses excluídos, oprimidos, sofredores, que encontramos todos os dias e para os quais temos a responsabilidade de tornar real o amor de Deus?

    • Tornar o amor de Deus uma realidade viva no mundo significa lutar objetivamente contra tudo o que gera ódio, injustiça, opressão, mentira, sofrimento… Inquieto-me, realmente, frente a tudo aquilo que desfeia o mundo? Pactuo (com o meu silêncio, indiferença, cumplicidade) com os sistemas que geram injustiça, ou esforço-me ativamente por destruir tudo o que é uma negação do amor de Deus?

    • As nossas comunidades (cristãs e religiosas) são espaços de acolhimento e de hospitalidade, oásis do amor de Deus, não só para os amigos e confrades, mas também para os pobres, os marginalizados, os sofredores que buscam em nós um sinal de amor, de ternura e de esperança?

    ANEXO: LEITURA PARA MEDITAÇÃO.

    “Meus caríssimos filhos! Deixo-vos o mais maravilhoso de todos os tesouros: o Coração de Jesus!”
    Com estas palavras, o Padre João Leão Dehon inicia o testamento espiritual que legou aos Sacerdotes do Coração de Jesus e a todos os que querem centrar a sua vida no Coração de Jesus.
    A Igreja mergulha as suas raízes em Cristo, no seu Coração, no Amor que transforma os corações e as sociedades. A Igreja deve lutar pela partilha, pelo amor, pelas condições justas de trabalho, pela habitação para todos… A Igreja aponta para o reino do Coração de Jesus que deve começar nos indivíduos, penetrar nas famílias e envolver toda a sociedade.
    “É necessário que o culto do Coração de Jesus, começado na vida mística nas almas, desça e penetre na vida social dos povos. Ele trará o soberano remédio para os males cruéis do nosso mundo moral” (Padre Dehon, Obras Sociais I, 3).
    O Coração de Jesus foi a força interior que moveu continuamente o Padre Dehon. Como homem de Igreja no seu tempo, contribuiu para que o Coração de Jesus reinasse nas almas e nas sociedades. Sonhou com isso, lutou por esse projeto, tentou que ele se tornasse realidade. Fê-lo pela contemplação, pelo silêncio interior, pela intensa vida contemplativa. Fê-lo também pela ação apostólica, pela luta social.
    Aponta o Coração de Jesus como caminho do homem, como caminho da Igreja, como caminho da sociedade.
    O Padre Dehon torna-se arauto do reino do Coração de Jesus, como resposta às interrogações do coração humano. Conversão pessoal e justiça social: os alicerces do reino assentam na prática destas dimensões.
    Bebendo da fonte que é o Coração de Jesus, o Padre Dehon pratica a contemplação na ação e a ação na contemplação. Só assim faz sentido o ser e o agir da Igreja, na atenção constante ao homem. Como diz um dos seus discípulos hoje:
    “O que faltava era arregaçar as mangas. O problema da sua Igreja não eram ideias ou diretivas; era fé na pessoa humana e coragem de mudar o que devia ser mudado… Era preciso mergulhar na política para mudar a Sociedade, mas antes disso era urgente tornar o coração humano semelhante ao de Jesus!” (Padre Zezinho, Por causa de um certo reino, 26).
    O amor de Deus vivo torna-se presente no amor do Coração de Cristo: o Coração de Jesus como aquele que nos chama e nos congrega em Igreja. Nas palavras iluminadas do Padre Dehon:
    “O Coração de Jesus é o sol que nos ilumina através da sua Igreja, esta Igreja que Jesus concebeu na atenção do seu Coração por nós, que ele adquiriu e fundou pelo sangue do seu Coração. O Coração de Jesus aparece no seio da Igreja como o astro que tudo ilumina, tudo anima e tudo vivifica” (Padre Dehon, Obras Espirituais I, 504).
    A Igreja é gerada no Coração de Jesus, a Igreja procura espalhar o reino do Coração de Jesus nas almas e na sociedade, a Igreja luta pela promoção dos valores do Reino, como a vida, a dignidade, o bem, a verdade, a justiça, o amor, a paz…, a Igreja constrói a civilização do Amor!
    O Padre Dehon não é único nesta luta, é certo. Mas, no seu tempo, a grande novidade da sua proposta está na insistência, sem cessar e sem se cansar, da reflexão e das ações tendentes a construir o reino do Coração de Jesus na sociedade. Está convicto da fidelidade ao Coração de Jesus, como autêntico profeta que tem a coragem de ir contra a corrente. Isto num mundo que se regulava quase exclusivamente (tal como hoje!) pelas leis da economia e da finança. O Padre Dehon anuncia o caminho radical do Evangelho e do Coração de Jesus:
    “Só o Coração de Jesus pode dar à terra a caridade perdida. Só ele reconquistará o coração das massas, o coração dos operários, o coração da juventude. Esta nova conquista dos corações começou manifestamente com o Sagrado Coração” (Padre Dehon, Obras Sociais I, 5).
    O Venerável Padre Dehon termina o seu testamento espiritual, escrito em 1914, com uma oração centrada no Coração de Jesus:
    “Ofereço uma vez mais e consagro a minha vida e a minha morte ao Sagrado Coração de Jesus, por seu amor e segundo todas as suas intenções. Tudo por vosso amor, ó Coração de Jesus!”

    [Construir a civilização do amor. Espiritualidade dehoniana para os tempos atuais. Col. Estudos Dehonianos 1, Lisboa 2007, 27-29]

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

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