Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Quinta-feira

1 de Junho, 2023

Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Quinta-feira

Lectio

Primeira leitura: Ben Sirá 42, 15-26 (gr. 15-25)

Relembrarei, agora, as obras do Senhor e anunciarei o que vi. Pelas palavras do Senhor foram realizadas as suas obras e segundo a sua vontade realizou-se o seu decreto. 16O Sol que brilha contempla todas as coisas; a obra do Senhor está cheia da sua glória. 17Os santos do Senhor não têm capacidade para contar todas as suas maravilhas, que o Senhor omnipotente solidamente estabeleceu, a fim de que subsistam na sua glória. 18Ele sonda o abismo e o coração humano, e penetra os seus pensamentos mais subtis. Realmente, o Senhor conhece toda a ciência e contempla os sinais dos tempos futuros. 19Anuncia o passado e o futuro e descobre os vestígios das coisas ocultas. 20Nenhum pensamento lhe escapa, não se esconde dele uma só palavra. 21Dispôs em ordem os grandes feitos da sua sabedoria. Ele que existe antes de todos os séculos e para sempre. Nada se lhe pode acrescentar nem diminuir, nem necessita do conselho de ninguém. 22Quão amáveis são todas as suas obras! E todavia não podemos ver delas mais que uma centelha. 23Estas obras vivem e subsistem para sempre e, em tudo o que é preciso, todas lhe obedecem. 24Todas as coisas vão aos pares, uma corresponde à outra, e Ele nada fez incompleto. 25Uma contribui para o bem da outra, e quem se saciará de contemplar a sua glória?

O autor sagrado celebra a glória de Deus na natureza. O termo hebraico kabod, glória, remete-nos para algo de pesado, que se torna visível. A natureza manifesta a glória do Criador: «Os céus proclamam a glória de Deus», diz o Sl 19, 2.
No Génesis, Deus cria o mundo pela sua palavra: Ele diz e tudo é feito. O nosso autor recolhe esta tradição bíblica e afirma: «Pelas palavras do Senhor foram realizadas as suas obras e segundo a sua vontade realizou-se o seu decreto» (v. 15). Depois de se referir ao sol, como o mais maravilhoso representante da criação, o autor sagrado contempla a sabedoria que tudo regula e celebra a omnisciência divina. Pressentimos o Sl 139: «Senhor, Tu examinaste-me e conheces-me, sabes quando me sento e quando me levanto; à distância conheces os meus pensamentos. Vês-me quando caminho e quando descanso; estás atento a todos os meus passos. Ainda a palavra me não chegou à boca, já Tu, Senhor, a conheces perfeitamente».
Quanto ao homem, é bem pouco o que conhece da criação. Pensemos nos mistérios do microcosmos ou do macrocosmos, que tentamos perscrutar, mas de que ainda conhecemos tão pouco. Mas o que conhecemos já é mais do que suficiente para glorificar o Criador. O autor sublinha a estabilidade das coisas e louva a Deus por isso.

Evangelho: Marcos 10, 46-52

Naquele tempo, quando Jesus ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. 47E ouvindo dizer que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!» 48Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» 49Jesus parou e disse: «Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te.» 50E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus. 51Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» «Mestre, que eu veja!» – respondeu o cego. 52Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!» E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.

Quando Jesus passa por Jericó, um mendigo cego, chamado Bartimeu, procura ir ao encontro dele, apesar da oposição de muitos que rodeiam o Senhor. Mas Jesus apercebe-se da situação, manda chamá-lo e dialoga com ele. O cego dirige-se ao Senhor com a mesma palavra que Maria usou na manhã da páscoa: «Rabbuni», «Meu mestre» (v. 51; cf. Jo 20, 16). Esta expressão traduz estima, afecto. Jesus restitui a vista ao cego e atribui a cura à sua fé. De facto, o cego, uma vez curado, põe-se a seguir Jesus.
Ao contar este episódio, pouco depois do terceiro anúncio da paixão, o evangelista quer esclarecer o que se entende por fé e o que implica seguir Jesus. Tal como aquele pobre homem, o discípulo deve ser um alguém que reza com perseverança, que invoca Jesus nas dificuldades, recebe encorajamento, vai ao seu encontro, deixa-se interrogar por Ele, deixa que lhe abra os olhos e O segue pelo caminho. Temos aqui um bom documento sobre a pedagogia da fé.

Meditatio

A primeira leitura ensina-nos a ver mais além da beleza e da magnificência da Criação, para chegarmos ao mistério que ela esconde. Tudo o que existe é fruto da palavra de Deus e do seu amor providente que tudo mantém, regula e faz viver. A profissão da nossa fé começa pelo atributo de Deus Criador: «Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra». O Criador é Pai; a Criação é, sobretudo, obra do seu amor.
Como o cego Bartimeu, peçamos ao Senhor que nos abra os olhos para contemplarmos a beleza e a grandeza da criação e, por ela, chegarmos ao Criador, que é nosso Pai. A oração insistente do cego de Jericó fez-lhe recuperar a vista e, sobretudo, levou-o a descobrir a identidade profunda d´Aquele que o curou, levou-o à fé: «ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho» (v. 52).
Ver a luz é um enorme dom de Deus, que os homens sempre apreciaram. Nas antigas literaturas, ver era quase sinónimo de vida. O que mais assustava os antigos, quando pensavam na morte, era não poder ver a luz, era permanecer na região das trevas. Agradeçamos ao Senhor o dom da vista, que nos permite contemplar as suas obras. Mas peçamos também a luz da fé, para O louvarmos por elas: «Vai, a tua fé te salvou!» (v. 52).
O melhor comentário a esta frase do evangelho é a palavra de Jesus: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12). O cego que segue Jesus encontrou a verdadeira luz, a luz da vida. É o que já dizia o Sábio, ao recordar que só o Altíssimo conhece a ciência. Nós vemos as coisas, mas, se não estivermos unidos ao Senhor, vemo-las de modo superficial: «o Senhor conhece toda a ciência e contempla os sinais dos tempos futuros. Anuncia o passado e o futuro e descobre os vestígios das coisas ocultas.Nenhum pensamento lhe escapa» (vv. 18-20).
É na luz de Cristo que vemos a luz. Permaneçamos abertos à sua luz, para sermos pessoas iluminadas. Peçamos-Lhe que nos faça ver, cada vez mais, a sua luz, para louvarmos o Pai com todo o coração e atrairmos todos à sua luz.
A Criação é reflexo do Criador, manifesta a sua glória. Isto acontece particularmente no homem criado «à imagem e semelhança» de Deus, e chamado a ser à imagem e semelhança de «Cristo, imagem do Deus invisível» (Cl 1, 15). Assim, a «glória de Deus que refulge no rosto de Cristo» (2 Cor 4, 6) refulge também no noss
o rosto, irradia da nossa vida. Transformados à imagem de Cristo, devemos viver e comportar-nos como Ele, como filhos de Deus: «Resplandeça a vossa luz diante dos homens…, vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus» (Mt 5, 6).

Oratio

Senhor, faz-me ver a minha cegueira ou pelo menos, as cataratas que me impedem de ver com clareza as tuas obras e descobrir nelas o teu mistério. Faz-me admirar as obras do teu amor, para ser, cada vez mais, um poeta que canta a vida e admira o céu, espelho da tua beleza e do teu amor. As tuas obras são imensas. A todos dás alimento. Manda o teu Espírito para que renove a face da terra e transforme o meu coração à imagem do Coração do teu Filho, Jesus Cristo. E hei-de bendizer o teu nome, agora e para sempre. Amen.

Contemplatio

Deus é artista. O artista tem um ideal cuja recordação influencia todas as suas obras. A arte grega tinha alguns modelos escolhidos, obras-primas dos seus grandes mestres, que eram chamados tipos e cânones e que eram sempre imitados. Um músico tem um tema principal, sobre o qual executa variações. Deus tinha o seu ideal, o seu cânone, o seu tema principal, o Coração de Jesus, e para encontrar bela a sua criação, colocou por toda a parte o selo do Coração de Jesus. Mas na criação, depois do seu Cristo, objecto de todas as suas infinitas complacências, depois dos seus anjos, imagens espirituais do Verbo, Deus quis os corações humanos, fracas imitações do Coração de Jesus, que adquirem valor pela sua semelhança e a sua união a este divino Coração. Os corações humanos hão-de agradar a Deus se fizerem eco ao Coração de Jesus, se forem animados pela sua graça, pela sua vida sobrenatural, se forem como Ele inspirados, conduzidos, vivificados pelo Espírito Santo. Aqui está então o programa, o ideal da minha vida. Como é elevado, como é belo! «Deus viu que a sua obra era bela». (Leão Dehon, OSP 4, p. 514s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
criador do céu e da terra» (Símbolo Niceno-Constantinopolitano).

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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj

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