3ª Semana - Segunda-feira - Páscoa

15 de Abril, 2024

3ª Semana - Segunda-feira

Lectio

Primeira leitura: Actos 6, 8-15

Naqueles dias, Estêvão, cheio de graça e força, fazia extraordinários milagres e prodígios entre o povo. 9Ora, alguns membros da sinagoga, chamada dos libertos, dos cireneus, dos alexandrinos e dos da Cilícia e da Ásia, vieram para discutir com Estêvão; 10mas era-lhes impossível resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. 11Subornaram, então, uns homens para dizerem: «Ouvimo-lo proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus.» 12Provocaram, assim, a ira do povo, dos anciãos e dos escribas; depois, surgindo-lhe na frente, arrebataram-no e levaram-no ao Sinédrio. 13Aí, apresentaram falsas testemunhas que declararam:
«Este homem não cessa de falar contra este Lugar Santo e contra a Lei, 14pois ouvimo-lo afirmar que Jesus, o Nazareno, destruiria este lugar e mudaria as regras que Moisés nos legou.» 15Todos os membros do Sinédrio tinham os olhos fixos nele e viram que o seu rosto era como o rosto de um Anjo.

Lucas, até este momento, centrou a sua atenção no grupo dos Apóstolos. Agora centra-a no grupo dos diáconos e particularmente em Estêvão. Este diácono apresenta as mesmas características do Apóstolos: prega, faz milagres, está cheio de graça e de poder, ou seja, é particularmente favorecido pela assistência divina, o que lhe permite pregar o Evangelho e realizar os prodígios que acompanham essa pregação.
A acção de Estêvão provoca um conflito idêntico ao que tinha provocado a
acção dos Apóstolos. Mas há uma diferença: o conflito surge entre o diácono e o grupo dos judeus mais abertos, procedentes da Diáspora. Estêvão mostra-se excessivamente aberto e radical, mesmo para os «progressistas». A sinagoga dos libertos era constituída por descendentes dos judeus que foram levados escravos para Roma por Pompeu (63 a.C.) e que, tendo sido libertos, se tinham inserido num bairro da cidade. Também para eles a pregação de Estêvão era radical, porque atacava o Templo e as tradições mosaicas. As acusações contra ele tinham algum fundamento.
Mas os olhares que se fixam nele acabam por descobrir um particular resplendor, semelhante ao do anjo que indica a presença de Deus, semelhante ao rosto de Moisés, quando desce do Sinai, depois de se encontrar com Deus. Para Lucas, Estêvão é uma testemunha escolhida por Deus para dar a conhecer a sua vontade.

Evangelho: João 6, 22-29

Depois de Jesus ter saciado cinco mil homens, os seus discípulos viram-n'O a caminhar sobre as águas. No dia seguinte, a multidão que ficara do outro lado do lago reparou que ali não estivera mais do que um barco, e que Jesus não tinha entrado no barco com os seus discípulos, mas que estes tinham partido sozinhos.
23Entretanto, chegaram outros barcos de Tiberíades até ao lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando viu que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, a multidão subiu para os barcos e foi para Cafarnaúm à procura de Jesus. 25Ao encontrá-lo no outro lado do lago, perguntaram-lhe: «Rabi,

quando chegaste cá?» 26Jesus respondeu-lhes:«Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-me, não por terdes visto sinais miraculosos, mas porque comestes dos pães e vos saciastes. 27Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará; pois a este é que Deus, o Pai, confirma com o seu selo.» 28Disseram-lhe, então: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» 29Jesus respondeu-lhes: «A obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou.»

Temos impressão de que os acontecimentos narrados por João apenas servem para dar realce aos ensinamentos de Jesus. Isso é, em parte, verdade. De facto, João introduz, aqui e ali, notas e glosas cuja única finalidade é levar o leitor a tomar a sério a narrativa, que não é inventada, mas que corresponde à realidade. No nosso texto encontramos uma dessas notas. A multidão está em Cafarnaúm e dirige ao Mestre uma pergunta cujo objectivo é apenas satisfazer a curiosidade: «Rabi, quando chegaste cá?» (v. 25). Jesus não responde, mas revela à multidão as verdadeiras intenções que a levaram a procurá-l´O. Afinal, seguem a Jesus por causa do pão material que lhes deu, sem se preocuparem em compreender o sinal dado pelo Profeta.
Diante da cegueira espiritual daquela gente, Jesus proclama a diferença entre o pão material e corruptível, e o pão que «perdura e dá a vida eterna» (v. 27). Há que passar das preocupações meramente materiais aos horizontes da fé e do Espírito, a que apenas a sua pessoa dá acesso. Jesus possui o selo do Espírito e o dinamismo divino do amor. Os seus interlocutores perguntam: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» (v. 28). Esta pergunta revela mais um equívoco: não se trata de cumprir novas observâncias ou realizar novas obras. A única coisa necessária é aderir ao plano de Deus, isto é, «crer naquele que Ele enviou» (v. 29).

Meditatio

O livro dos Actos diz-nos que Estêvão, «cheio de graça e força, fazia extraordinários milagres e prodígios entre o povo» (Act 6, 8). O seu entusiasmo leva- o a fazer uma primeira tentativa de inculturação do cristianismo entre os judeus provenientes da Diáspora, de língua e cultura grega. Mas também entre eles, em princípio mais abertos, havia conservadores que procuravam defender-se de influências estranhas ao judaísmo. Por isso, Estêvão tem o mesmo destino de Jesus: é recusado. O seu martírio produz importantes frutos, não só entre os judeus de língua grega, mas também entre os próprios gregos.
Estêvão é um provocador. Mas a sua provocação vem de uma sabedoria superior, é fruto de uma particular compreensão do plano de Deus, que previa o anúncio do Evangelho, não só em Jerusalém, mas «até aos confins da terra». O Espírito serve-se do seu carácter entusiasta e aguerrido. Perde porque actua numa sociedade intolerante. Mas o Evangelho acaba por ganhar e percorrer o mundo.
João, ao recordar a multiplicação dos pães, refere um pormenor significativo:
o facto do Senhor ter dado graças (v. 23). O sinal da multiplicação dos pães está ligado à oração de bênção e de acção de graças feita por Jesus. Na última ceia, terá a mesma atitude.
Havemos de aprender com o Senh
or a dar graças pelo que já temos, quando nos esforçamos por multiplicar o pão. Um modo muito concreto é partilhar, em nome de Deus, o que temos com os mais carenciados. Quando fazemos isso, é como se multiplicássemos o que damos, porque o nosso não é um dom simplesmente humano, mas um dom da generosidade de Deus.
Também não podemos deixar de dar atenção ao equívoco dos seus interlocutores, que Jesus acaba por desfazer: «Que havemos nós de fazer para

realizar as obras de Deus?» (v. 28). Os judeus pensavam que, para alcançarem a salvação, tinham de cumprir novas observâncias ou realizar novas obras. Mas Jesus afirma claramente que a única coisa necessária é aderir ao plano de Deus, isto é,
«crer naquele que Ele enviou» (v. 29).
Como nos tempos de Estêvão, também hoje, o nosso esforço evangelizador há- de ter em conta a inculturação, isto é, a compreensão do pensamento, da linguagem, do sentir, das atitudes que assumem, dos juízos de valor que fazem os homens, as mulheres, os jovens de hoje acerca dos grandes problemas da vida e da morte. Isso poderá não ser suficiente para que a Palavra de Deus seja aceite. Mas, sem esse esforço, ela não será acolhida nem cumprida. É por essa razão que as Constituições nos lembram que a nossa vida religiosa é continuamente interpelada pelas provações e procuras da Igreja e do mundo (cf. n. 144).
Finalmente, o cristão, e com maior razão o Sacerdote do Coração de Jesus, dão glória a Deus por meio da oração de louvor e de acção de graças, muitas vezes esquecida. Mas é, sobretudo, por meio da vida, particularmente pela prática da caridade, que devemos ser uma oração de louvor e de acção de graças para Deus.

Oratio

Obrigado, Senhor, pelas testemunhas corajosas e «imprudentes» que continuas a enviar à tua Igreja. Obrigado pelos profetas incómodos. Uns e outros sacodem adversários e amigos, dentro e fora dos nossos ambientes, provocam a difusão do evangelho em meios onde não pareceria possível penetrar.
Dá-nos coragem para enfrentarmos decididamente incompreensões e mal- entendidos, por causa do teu nome. Dá-nos força para nos lançarmos a caminhos não andados, porque o teu evangelho há-de chegar «aos confins da terra». Amen.

Contemplatio

Nosso Senhor começa por uma censura paternal; quer elevar a alma dos seus discípulos para horizontes superiores: «Vós procurais-me e seguis-me, diz-lhes, porque comestes dos pães e fostes saciados... Trabalhai, não pelo alimento que perece, mas por aquele que permanece até à vida eterna. Aquele, o Filho do homem vo-lo dará, porque foi ele quem o Pai marcou com o seu selo».
– «Que trabalho é preciso fazer?», perguntam. - Jesus explica-lhes que deverão fortificar-se na fé na sua missão, para se tornarem aptos a compreenderem o mistério dos seus dons. - «Mas, replicam, que prodígios fazeis para nos determinarmos a acreditar na vossa missão? É verdade que multiplicastes os pães, mas os nossos pais viram coisas bem mais maravilhosas, receberam o maná do céu durante quarenta anos». - «Na verdade, retoma Jesus, Moisés não vos deu o verdadeiro pão do céu. É o meu Pai quem vo-lo apresenta, porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e que dá a vida ao mundo». - Eles não compreenderam nada, no entanto foram tocados pela graça divina e responderam: «Senhor, dai-nos sempre deste pão».
Senhor, eu também vos digo: Dai-me sempre deste pão, estou ávido dele. Quero dele alimentar-me constantemente (Leão Dehon, OSP OSP 4, p. 229).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«A obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou» (Jo 6, 29).

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