12º Domingo do Tempo Comum - Ano B [atualizado]


23 de Junho, 2024

ANO B

12.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 Tema do 12.º Domingo do Tempo Comum

A vida pode ter momentos assustadores, momentos de inquietação e de crise em que perdemos o pé e sentimos que nos afundamos. Onde está Deus, nesses momentos? Ele “importa-se” connosco? A liturgia deste 12.º domingo comum garante-nos: Deus não abandona nem ignora os filhos e filhas que criou; Ele ampara-os com amor fiel, vigilante e criador. Ele vai sempre ao nosso lado, cuidando de nós, em cada passo da viagem da vida.

Na primeira leitura Deus revela-se a um crente chamado Job como o Senhor que domina o mar e conhece os segredos do universo e da vida. Nada na criação lhe é indiferente: Ele cuida de todos os seres criados com amor de pai e de mãe. Ao homem resta entregar-se nas mãos desse Deus omnipotente e cheio de amor, com humildade e com total confiança.

No Evangelho, Marcos propõe-nos uma catequese sobre a presença tranquilizadora e pacificadora de Jesus na viagem que a Igreja e os discípulos vão fazendo pela história. Com Jesus no barco, os discípulos estarão sempre aptos a enfrentar todo o tipo de tempestades; com Jesus no comando, eles sabem que a meta final da viagem não pode deixar de ser o porto seguro onde os espera a Vida verdadeira.

A segunda leitura Paulo convida-nos a olhar para a cruz e a contemplar o amor de Jesus expresso na entrega total da sua vida ao projeto do Pai em favor dos homens. Deus enviou o seu Filho para caminhar connosco e nos ensinar a viver no amor. É precisamente isso que move Paulo no seu apostolado: ele considera que a sua missão é dar testemunho desse amor, a fim de que todos os que escutam a Boa nova de Jesus possam viver como pessoas novas, libertas do egoísmo que escraviza e mata.

 

LEITURA I – Job 38,1.8-11

O Senhor respondeu a Job do meio da tempestade, dizendo:
«Quem encerrou o mar entre dois batentes,
quando ele irrompeu do seio do abismo,
quando Eu o revesti de neblina
e o envolvi com uma nuvem sombria,
quando lhe fixei limites e lhe tranquei portas e ferrolhos?
E disse-lhe:
‘Chegarás até aqui e não irás mais além,
aqui se quebrará a altivez das tuas vagas’».

 

CONTEXTO

O Livro de Job é um clássico da literatura universal, não só pela sua extraordinária beleza literária, mas também pelas questões que aborda e que tocam o âmago da existência humana. A história de Job serve de pretexto para refletir sobre alguns dos grandes desafios que se colocam aos homens de todas as épocas, nomeadamente a questão do sofrimento do justo inocente, a situação do homem diante de Deus e a atitude de Deus face ao homem.

Apresenta-nos a história de um homem bom e justo (Job), repentinamente atingido por um vendaval de desgraças que lhe rouba a riqueza, a família e a própria saúde. No corpo central do livro (cf. Job 3,1-37,24), Job interroga-se acerca da origem do sofrimento que o atingiu e do papel de Deus no seu drama pessoal. Alguns dos amigos de Job procuram responder às suas questões, apresentando as explicações dadas pela teologia oficial: o sofrimento é sempre o resultado do pecado do homem; assim, se Job está a sofrer, é porque pecou… Com a veemência que vem de uma consciência em paz, Job recusa conclusões tão simplistas e demonstra a falência da doutrina oficial para explicar o seu drama pessoal. Com um apurado sentido crítico, Job vai desmontando os dogmas fundamentais da fé de Israel e recusando esse Deus “contabilista” que Se limita a registar as ações boas e más do homem para lhe pagar em conformidade. Deus não pode ser isso; e o caso concreto de Job prova-o.

Rejeitada a explicação tradicional para o drama do sofrimento, Job dirige-se diretamente àquele que lhe pode fornecer as respostas: o próprio Deus. No seu discurso, muito crítico, cruzam-se a animosidade, a violência, as queixas, o inconformismo, a dúvida, a revolta, com a esperança, a fé e a confiança em Deus. Quando, finalmente, Deus enfrenta Job, recorda-lhe o seu lugar de criatura, limitada e finita; mostra-lhe como só Ele conhece as leis que regem o universo e a vida, mostra-lhe a sua preocupação e o seu amor com cada ser criado; convida-o a não se pôr em bicos de pés, a ocupar o seu lugar de criatura e a não pôr em causa os desígnios de Deus para o mundo, já que esses desígnios ultrapassam infinitamente a capacidade de compreensão e de entendimento de qualquer criatura. Deus tem uma lógica, um plano, um projeto que ultrapassa infinitamente aquilo que cada homem (também Job) poderá entender.

A história termina com Job a perceber o seu lugar, a reconhecer a transcendência de Deus e a incompreensibilidade dos seus projetos, a entregar-se nas mãos de Deus com humildade e confiança.

O texto que nos é proposto faz parte do discurso com que Deus responde a Job (cf. Job 38,1-40,2). Nesse discurso, Deus coloca a Job uma série de questões sobre a terra, o mar, os grandes mistérios da natureza e da vida; a finalidade não é obter respostas de Job, mas levá-lo a perceber os seus limites, a sua ignorância, a sua incapacidade para entender o mistério insondável de Deus e os projetos que Deus tem para o mundo e para os homens.

 

MENSAGEM

O nosso texto começa por apresentar Javé a responder a Job “do meio da tempestade” (vers. 1). É o quadro habitual das teofanias (cf. Ex 19,16). Serve para emoldurar a manifestação aos homens do Deus todo-poderoso, o soberano de toda a terra. É esse o ponto de partida: Job deve estar ciente de que Aquele que lhe vai falar é o Deus omnipotente, o Senhor do universo e da História, cuja grandeza e mistério ultrapassa infinitamente a capacidade de compreensão do homem.

Portanto, Deus manifesta-se a Job e fala com ele. O objetivo dessa manifestação, mais do que responder às questões de Job, é fazê-lo perceber a insensatez das suas críticas. Depois de se apresentar como o grande arquiteto que construiu a terra (cf. Job 38,4-7), Javé descreve aquilo que fez em relação ao mar.

As antigas lendas mesopotâmicas sobre a criação apresentavam as “águas salgadas” (representadas pela deusa Tiamat) como um monstro criador do caos e da desordem; na sua luta para organizar o cosmos, Marduk, o deus mesopotâmico da ordem, lutou contra o mar e, com muito esforço, venceu-o e pôs-lhe limites.

O Povo bíblico foi, naturalmente, influenciado pelos mitos de criação mesopotâmicos; por isso, sempre viu no mar uma realidade assustadora, indomável, orgulhosa, desordenada, onde residiam os poderes caóticos que o homem não conseguia controlar… Mas aqui Deus descreve, de forma muito pacífica e muito bela, a forma como lidou com essa força ameaçadora que Marduk teve tanta dificuldade em controlar: logo que o mar saiu “do seio materno” (“irrompeu do seio do abismo” – vers. 8), Deus tratou-o como um recém-nascido, com cuidados e carícias, vestindo-o de neblina e colocando-lhe uma faixa de nuvens (vers. 9); depois, para que ele ao crescer não se tornasse força indomável, “encerrou-o entre dois batentes” (vers. 8) e “fixou-lhe os limites” (vers. 10). O mar, controlado e tratado com amor, é um testemunho do poder supremo de Deus; mostra o domínio perfeito de Deus sobre toda a criação.

Ao recordar a Job a sua ação criadora sobre o mar, Javé apresenta-Se, antes de mais, intocável na sua transcendência e majestade; e mostra, depois, que tem para a criação um plano estável, amadurecido, consolidado, irrevogável… Quem é Job para pôr em causa os desígnios desse Deus criador que, com a sua Palavra, controlou o mar? Job é convidado a aceitar que um Deus de quem depende toda a criação, que até submete o mar, que cuida da criação com cuidados de mãe, sabe o que está a fazer e tem uma solução para os problemas e dramas do homem… O homem, na sua situação de criatura finita e limitada, é que nem sempre consegue ver e perceber o alcance e o sentido último do projeto de Deus.

Só Deus tem todas as respostas, só Deus conhece os segredos do universo e da vida. Ao homem, finito e limitado, resta entregar-se nas mãos desse Deus omnipotente e cheio de amor, adorá-l’O e louvá-l’O, confiar na sua sabedoria, ver n’Ele a sua esperança e a sua salvação.

 

INTERPELAÇÕES

  • Convivemos diariamente com realidades que são, para nós, fonte de inquietação: o terrorismo e a violência mergulham-nos num clima de ansiedade e de medo; as doenças, novas e velhas, geram angústia e sofrimento; as catástrofes naturais obrigam-nos a tomar consciência da nossa fragilidade e impotência diante das forças da natureza; as injustiças e arbitrariedades provocam revolta e descontentamento social; o desmoronamento de velhas estruturas políticas e sociais trazem insegurança e anarquia… E nós, movendo-nos neste cenário, sentimo-nos confusos e desorientados. Porque não existe ordem e harmonia no nosso mundo? Então, viramo-nos para Deus e atiramos-Lhe as nossas perguntas ou lançamos-Lhe à cara as nossas certezas. Por vezes, criticamos a sua indiferença face aos dramas do mundo; outras vezes, sentimos a tentação de Lhe mostrar, de forma clara e lógica, como é que Ele devia atuar para que o mundo fosse mais ordenado e harmonioso… Pomo-nos em bicos de pés, como se nos quiséssemos colocar no lugar de Deus e dar-Lhe lições. Estamos conscientes da omnipotência de Deus e dos nossos limites, enquanto seres humanos frágeis e limitados? Assumimos com humildade o nosso lugar de criaturas que não conseguem abarcar a grandeza e o sentido pleno dos projetos que Deus tem para o mundo e para os homens?
  • Na verdade, o Deus que criou tudo o que existe, que estabeleceu as leis que regem o universo, que conhece os segredos de cada uma das suas criaturas, que cuida de cada ser com cuidados de pai e de mãe, que mil vezes manifestou na história o seu amor e a sua bondade, não pode ignorar os problemas do homem, ou deixar que a humanidade chegue a um beco sem saída. Ele tem um projeto coerente, maduro, estável, irrevogável para o mundo e para os homens; Ele conduz-nos, através das armadilhas da história, ao encontro da realização plena, da Vida definitiva. Esta certeza deve colorir o nosso caminho de todos os dias com as cores da esperança. Somos homens e mulheres de esperança?
  • Mergulhados no mistério insondável desse Deus omnipotente, por vezes desconcertante e incompreensível, resta-nos entregarmo-nos nas suas mãos com humildade e confiança. Há desafios que Deus nos coloca e que parecem não fazer sentido à luz de uma lógica puramente humana; há caminhos que Deus nos aponta que subvertem absolutamente as nossas certezas e os nossos projetos pessoais ou comunitários; há situações da nossa vida para as quais não encontramos respostas nem sentido… Atrevemo-nos a saltar confiadamente para os braços de Deus, acreditando que Ele não nos deixa cair? É assim a nossa fé?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 106 (107)

Refrão 1: Dai graças ao Senhor,
porque é eterna a sua misericórdia.

Refrão 2: Cantai ao Senhor, porque é eterno o seu amor.

Os que se fizeram ao mar em seus navios,
a fim de labutar na imensidão das águas,
esses viram os prodígios do Senhor
e as suas maravilhas no alto mar.

À sua palavra, soprou um vento de tempestade,
que fez encapelar as ondas:
subiam até aos céus, desciam até ao abismo,
lutavam entre a vida e a morte.

Na sua angústia invocaram o Senhor
e Ele salvou-os da aflição.
Transformou o temporal em brisa suave
e as ondas do mar amainaram.

Alegraram-se ao vê-las acalmadas,
e Ele conduziu-os ao porto desejado.
Graças ao Senhor pela sua misericórdia,
pelos seus prodígios em favor dos homens.

 

LEITURA II – 2 Coríntios 5,14-17

Irmãos:
O amor de Cristo nos impele,
ao pensarmos que um só morreu por todos
e que todos, portanto, morreram.
Cristo morreu por todos,
para que os vivos deixem de viver para si próprios,
mas vivam para Aquele que morreu e ressuscitou por eles.
Assim, daqui em diante,
já não conhecemos ninguém segundo a carne.
Ainda que tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne,
agora já não O conhecemos assim.
Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura.
As coisas antigas passaram: tudo foi renovado.

 

CONTEXTO

Na Primeira Carta aos Coríntios, Paulo tinha criticado alguns membros da comunidade por viverem de forma pouco condizente com os valores cristãos. Ora, a crítica de Paulo provocara uma reação extremada de algumas pessoas da comunidade e uma campanha organizada no sentido de desacreditar o apóstolo. É provável que essa campanha tenha sido instigada por missionários itinerantes procedentes das comunidades cristãs da Palestina, que se consideravam representantes dos Doze e que minimizavam o trabalho apostólico de Paulo (afirmavam, inclusive, que Paulo era inferior aos outros apóstolos, por não ter convivido com Jesus enquanto Ele andou pela Palestina com os seus discípulos). Paulo, informado de tudo, dirigiu-se apressadamente para Corinto e teve um violento confronto com os seus detratores. Depois, retirou-se para Éfeso. Tito, amigo de Paulo, fino negociador e hábil diplomata, partiu para Corinto, a fim de tentar compor as coisas.

Paulo, entretanto, partiu para Tróade. Foi aí que reencontrou Tito, regressado de Corinto. As notícias trazidas por Tito eram animadoras: o diferendo fora ultrapassado e os coríntios estavam, outra vez, em comunhão com Paulo.

Reconfortado, Paulo escreveu novamente aos coríntios, fazendo uma tranquila apologia do seu apostolado e apresentando os princípios que sempre nortearam o seu ministério apostólico. Juntou ainda, nesse escrito, um apelo a que os coríntios colaborassem numa coleta em favor dos pobres da Igreja de Jerusalém, que por essa altura viviam com bastante dificuldade. Além da ajuda económica, esse gesto solidário pretendia fomentar a unidade e a comunhão entre as Igrejas. Esse escrito é a nossa Segunda Carta de Paulo aos Coríntios. Estamos nos anos 56/57.

O texto que nos é proposto como segunda leitura neste décimo segundo domingo comum integra a primeira parte da Carta (cf. 2 Cor 1,3-7,16), onde Paulo analisa as suas relações com a comunidade de Corinto e explica os valores que ele sempre procurou seguir enquanto missionário e testemunha de Jesus.

 

MENSAGEM

O que é que realmente “move” Paulo? Qual a razão do seu ministério? Porque é que Paulo – que até nem conheceu o Jesus histórico, como os Doze – insiste em anunciá-lo? Paulo não estará a extravasar as suas funções?

Paulo fez a experiência do amor de Cristo e deixou-se tocar por esse amor. Descobriu que “Cristo morreu por todos”, fazendo da sua vida um dom de amor. Cristo não viveu para si próprio, nunca pôs os seus interesses pessoais acima do plano salvador que o Pai lhe tinha confiado; mas deu a sua vida, até às últimas consequências, para mudar as nossas vidas e para nos oferecer a salvação de Deus. A sua entrega na cruz é a expressão mais alta de um amor total e incondicional.

Quem olha para a cruz não pode deixar de sentir-se interpelado pelo exemplo de amor que Cristo deixou; e, contemplando o exemplo de Jesus, aprende a não viver fechado em si mesmo, de forma egocêntrica, mas a viver com o coração aberto a Deus e aos irmãos (vers. 15). É esta “boa nova” que absorve Paulo completamente e que ele sente que deve testemunhar a todos os seus irmãos.

Com franqueza, Paulo admite que, no passado, entendeu Cristo “à maneira humana” e não percebeu que a sua doação até à morte era expressão de um amor ilimitado; mas, depois de se ter encontrado com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, Paulo passou a entender Cristo e a ver as coisas de forma diferente (vers. 16). Desde esse momento, nunca deixou de dar testemunho do amor de Jesus.

Paulo quer anunciar – por mandato de Cristo – que a adesão a Cristo faz desaparecer o homem velho do egoísmo e do pecado e faz surgir uma nova criatura (vers. 17). A palavra grega aqui utilizada por Paulo (“ktisis”) pode significar “criação”, “criatura” ou “humanidade”. O cristão, que aderiu a Cristo, é uma nova criatura, o membro de uma nova humanidade. Identificado com Cristo, torna-se um Homem novo, um Homem que vive por amor e que caminha ao encontro da Vida plena e verdadeira, da salvação definitiva.

Paulo conheceu o amor de Cristo e tornou-se uma nova criatura; e não deixará nunca de dar testemunho disto diante do mundo inteiro.

 

INTERPELAÇÕES

  • Paulo convida-nos a olhar para a cruz e a contemplar o amor de Jesus. A cruz não pode apenas ser um enfeite de ouro que trazemos ao pescoço; mas tem de ser um programa de vida, um programa que o próprio Jesus nos deixou. Aquele Homem que está na cruz, que ama sem medida e que se dá completamente – até à última gota de sangue – para mudar as nossas vidas convida-nos a repensar o nosso estilo de vida, os nossos modelos de construção do mundo, os nossos valores… O “amor até ao extremo” que Jesus mostra na cruz é uma violenta denúncia da nossa indiferença diante dos desprezados, dos marginalizados, dos que não têm condições para viver com dignidade; o despojamento total de Jesus na cruz, por amor, questiona a nossa apatia diante de tantos nossos irmãos que não têm pão, nem casa, nem acesso à instrução ou à saúde; a entrega de Jesus “por todos” põe em causa o nosso egoísmo diante de tantos e tantos irmãos que olhamos sem ver e que todos os dias deixamos abandonados e perdidos nas estradas da vida… Quando contemplamos a cruz de Jesus, o que é que vemos? O que é que sentimos? O amor de Jesus de que a cruz fala tão eloquentemente, inspira-nos a amar, a cuidar, a salvar os nossos irmãos?
  • O objetivo de Deus é fazer aparecer o Homem Novo e a Nova Humanidade. Aos homens, é pedido que aceitem a proposta de Deus, que aceitem renunciar à vida velha do egoísmo e da escravidão e que aceitem nascer, livres e transformados, para o amor que nos torna livres. Como é que acolhemos esta proposta de Deus? Ela conta alguma coisa para nós?
  • Paulo, depois de ter encontrado Jesus, de ter aderido à sua proposta e de ter feito a experiência da liberdade e da Vida nova, tornou-se testemunha, diante dos homens, do projeto salvador e libertador de Deus para os homens. Cada homem e cada mulher que se encontra com Jesus e que faz a mesma experiência de Paulo, tem de tornar-se arauto das propostas de Deus e de anunciar aos seus irmãos, com gestos concretos, essa oferta de Vida nova e verdadeira que Deus nos faz. Nós, os que somos “de Jesus”, somos testemunhas, com palavras e gestos concretos, da Vida nova e da salvação de Deus?

 

ALELUIA – Lucas 7,16

Aleluia. Aleluia.

Apareceu entre nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo.

 

EVANGELHO – Marcos 4,35-41

Naquele dia, ao cair da tarde,
Jesus disse aos seus discípulos:
«Passemos à outra margem do lago».
Eles deixaram a multidão
e levaram Jesus consigo na barca em que estava sentado.
Iam com Ele outras embarcações.
Levantou-se então uma grande tormenta
e as ondas eram tão altas que enchiam a barca de água.
Jesus, à popa, dormia com a cabeça numa almofada.
Eles acordaram-n’O e disseram:
«Mestre, não Te importas que pereçamos?»
Jesus levantou-Se,
falou ao vento imperiosamente e disse ao mar:
«Cala-te e está quieto».
O vento cessou e fez-se grande bonança.
Depois disse aos discípulos:
«Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?»
Eles ficaram cheios de temor e diziam uns para os outros:
«Quem é este homem,
que até o vento e o mar Lhe obedecem?»

 

CONTEXTO

Jesus está junto do Mar da Galileia (cf. Mc 4,1), talvez ao lado da cidade de Cafarnaum. Acabou de apresentar à multidão que o rodeia o seu anúncio, em parábolas, sobre o Reino de Deus (cf. Mc 4,2-34). Com o dia a terminar (“ao entardecer”), Jesus decidiu passar “à outra margem”. Do ponto de vista geográfico, a “outra margem” do Mar da Galileia é o território pagão da “Decápole”: era o nome dado a uma região situada na Palestina oriental, que se estendia desde Damasco, ao norte, até Filadélfia, ao sul. As “dez cidades” (“Decápole”) situadas nesse território (Damasco, Filadélfia, Rafana, Beth Shean, Gadara, Hipos, Diom, Pela, Gerasa e Canata) formavam uma confederação, constituída após a conquista da Palestina pelos romanos, no ano 63 a.C.. Eram cidades de cultura grega, não sujeitas às leis judaicas. Estavam sob a administração direta do legado romano da Síria. Os judeus consideravam os habitantes da “Decápole” como pagãos, que viviam completamente à margem dos caminhos da salvação.

O episódio que Marcos nos narra, no Evangelho deste domingo, passa-se durante a travessia do “Mar da Galileia”. Na realidade, o designado “Mar da Galileia” não é um “mar”, mas antes um lago de água doce, alimentado sobretudo pelas águas do rio Jordão, com cerca de 12 quilómetros de largura e 21 quilómetros de comprimento. As tempestades que se levantavam neste “mar”, causadas pelo cruzamento dos ventos que vêm do Mar Mediterrâneo com os ventos que vêm do deserto, podiam aparecer subitamente e ser especialmente violentas.

Para entendermos melhor o que está em causa no episódio que hoje Marcos nos propõe, convém ter presente o que dissemos na primeira leitura a propósito do que o “mar” significava para a mentalidade judaica: era uma realidade assustadora, indomável, orgulhosa, desordenada, onde residiam os poderes caóticos que o homem não conseguia controlar e onde estavam os poderes maléficos que queriam destruir os homens… Só Deus, com o seu poder e majestade, podia pôr limites ao mar, dar-lhe ordens e libertar os homens dessas forças descontroladas do caos que o mar encerrava.

Mais do que uma crónica fiel de uma viagem de Jesus com os discípulos através do Mar da Galileia, a narração que Marcos nos apresenta deve ser vista como uma página de catequese. Usando elementos com uma forte carga simbólica (o mar, o barco, a tempestade, a noite, o sono de Jesus), Marcos apresenta-nos uma reflexão sobre a comunidade dos discípulos em marcha pela história. Marcos escreve numa época em que a Igreja de Jesus enfrenta sérias “tempestades” (perseguição de Nero, problemas internos causados pela diferença de perspetivas entre judeo-cristãos e pagano-cristãos, dificuldades sentidas pelas comunidades em encontrar o caminho para o futuro…); e propõe-se, com a sua narrativa, apresentar aos crentes indicações sobre a forma de viverem a sua fé e o seu compromisso com Jesus.

 

MENSAGEM

Reparemos, em primeiro lugar, no cenário em que Marcos nos situa: no mar, ao anoitecer (vers. 35). Situar o barco com Jesus e os discípulos “no mar”, é colocá-los num ambiente hostil, adverso, perigoso, caótico, rodeados pelas forças que lutam contra Deus e contra a felicidade do homem. Por outro lado, a “noite” é o tempo das trevas, da falta de luz; aparece como elemento ligado com o medo, com o desânimo, com a falta de perspetivas. O “mar” e a “noite” definem uma realidade de dificuldade, de hostilidade, de incompreensão, de “sombras”. Muitas vezes é esse o “cenário” das nossas “viagens”.

No “barco” vão Jesus e os discípulos (vers. 36). O “barco” é, na catequese cristã, o símbolo da comunidade de Jesus (a Igreja) que navega pela história. Jesus está no “barco”, mas são os discípulos que se encarregam da navegação, pois é a eles que é confiada a tarefa de conduzir a comunidade pelo mar da vida.

O “barco” dirige-se “para a outra margem” (vers. 35b), ao encontro das terras dos pagãos. Marcos alude aqui, muito provavelmente, à missão da comunidade cristã, convidada por Jesus a ir ao encontro dos homens e mulheres de todas as raças e culturas para lhes levar Jesus e a sua proposta libertadora.

Durante a travessia, Jesus “dorme” (vers. 38). O sono tranquilo de Jesus pode significar a paz e a serenidade que Ele pretende transmitir aos seus discípulos ao longo da “viagem” que faz com eles. Mas também pode querer dizer que os discípulos, ao longo da “viagem”, têm por vezes a sensação de que estão sós, abandonados à sua sorte e que Jesus não está com eles ou não se importa com eles. A “ausência” de Jesus nunca será realidade: Ele próprio garantiu aos discípulos que estaria sempre com eles “até ao fim dos tempos” (cf. Mt 28,20). Talvez seja o ativismo frenético dos discípulos que não lhes dá espaço para repararem em Jesus, que vai à popa, no lugar de comando do barco.

A “tempestade” (vers. 37) significa as dificuldades que o mundo opõe à missão dos discípulos. É provável que Marcos estivesse a pensar numa “tempestade” concreta, talvez a perseguição de Nero aos cristãos de Roma, durante a qual foram mortos Pedro e Paulo, bem como muitos outros cristãos (anos 64-68); mas a “tempestade” refere-se também a todos os momentos de crise, de perseguição, de hostilidade que os discípulos terão de enfrentar ao longo do seu caminho histórico, até ao fim dos tempos.

Jesus, respondendo ao apelo dos discípulos, acalma a fúria do mar e do vento, com a sua Palavra imperiosa e dominadora (vers. 39). Já dissemos atrás que, na teologia judaica, só Deus era capaz de dominar o mar e as forças hostis que se albergavam no mar. Jesus aparece assim, como o Deus que acompanha a difícil caminhada dos discípulos pelo mundo e que cuida deles no meio das dificuldades e da hostilidade do mundo.

Depois de acalmar o mar e o vento, Jesus dirige-Se aos discípulos e repreende-os pela sua falta de fé (vers. 40: “porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?”). Os discípulos, depois do caminho feita com Jesus, já deviam saber que Ele nunca está ausente, nem alheado da vida da sua comunidade. Eles não podem esquecer que, sejam quais forem as circunstâncias, Jesus vai com eles no mesmo “barco” e que, por isso, nada têm a temer. A comunidade de Jesus tem de estar consciente de que Jesus está sempre presente e que, portanto, as tempestades da história não poderão impedi-la de concretizar no mundo a missão que lhe foi confiada.

O nosso texto termina com o “temor” dos discípulos e a pergunta que eles fazem uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (vers. 41). O “temor” define o estado de espírito do homem diante da divindade. No universo bíblico, este “temor” não apresenta carácter de pânico ou de medo servil, mas encerra um misterioso poder de atração que se traduz em obediência, entrega, confiança, entusiasmo. Tal atitude positiva deriva da experiência que o crente israelita tem de Deus: Javé é um Deus presente, que guia o seu Povo com uma solicitude paternal e maternal. Por isso, o crente, se por um lado tem consciência da omnipotência de Deus, por outro lado sabe que pode confiar incondicionalmente n’Ele e entregar-se nas suas mãos. A resposta à questão (“quem é este?”) já está, portanto, dada: o “temor” dos discípulos significa que eles reconhecem que Jesus é o Deus presente no meio dos homens, e a quem os homens são convidados a aderir, a confiar, a obedecer com total entrega.

É com esse Jesus – o Deus que está ao nosso lado em cada metro do caminho e que nos ajuda a enfrentar todas as tempestades, todas as crises, todos os medos – que viajamos. Ele vai à popa do nosso barco, ao comando. Com Ele viajamos tranquilos, ainda que o barco não pare de balouçar nas ondas da vida.

 

INTERPELAÇÕES

  • A imagem de um barco onde os discípulos viajam, na companhia de Jesus, é uma bela e feliz imagem da Igreja. Há vinte e um séculos que a comunidade de Jesus viaja pela história; ao longo desta longa e atribulada viagem tem-se confrontado, permanentemente, com impérios hostis, com projetos contrários, com ideologias desafiantes, com a incompreensão do mundo… De vez em quando, ou por imperícia dos marinheiros, ou por falhas na navegação, ou porque as borrascas são especialmente violentas, parece que o barco de Jesus perdeu o rumo e vai naufragar… Mas Jesus vai nele, cuidando de tudo, presidindo a tudo e transmitindo aos discípulos que o acompanham a sua serenidade e a sua paz. Confiamos em Jesus e sentimos que Ele é mais forte do que todos os ventos e marés que temos de enfrentar? Viajamos tranquilos, com a certeza de que o barco de Jesus chegará a bom porto? Vemos e entendemos a Igreja como uma comunidade fraterna que avança na história conduzida por Jesus?
  • Esta imagem de uma viagem onde Jesus também vai poderá servir-nos para ler, ainda, as nossas “viagens” pessoais, durante as quais temos de enfrentar medos, conflitos, perseguições, incompreensões e vicissitudes de todo o tipo. Em certos momentos da “viagem” podemos enfrentar uma tremenda solidão, um medo paralisante, um desânimo angustiante, e perder a noção da presença de Jesus ao nosso lado. Perguntamo-nos, então, se Deus nos abandonou e se Jesus, o nosso companheiro de viagem, adormeceu e nos deixou entregues à nossa sorte… Ora, o Evangelho deste domingo garante-nos que Jesus nunca abandona os seus. O que talvez necessitemos é de tomar verdadeira consciência da presença d’Ele ao nosso lado. Na “viagem” da nossa vida encontramos tempo, espaço e disponibilidade para nos sentarmos ao lado de Jesus, para falarmos com Ele, para escutarmos as suas palavras, para acolhermos a paz que Ele nos oferece, ou só temos olhos e ouvidos para a voz do vento, o rugido do mar, a fúria da tempestade, o tumulto ensurdecedor de um mundo que nos rouba a paz?
  • Jesus convida os discípulos convida os discípulos a entrarem no barco com Ele e a irem até “à outra margem”, ao território dos pagãos que ainda não escutaram a Boa notícia da salvação de Deus. A comunidade que nasce de Jesus é uma comunidade missionária, cuja tarefa é ir ao encontro dos homens e mulheres prisioneiros do egoísmo e do pecado para lhes apresentar a Boa Nova da salvação. A “outra margem” de que Marcos fala no seu Evangelho é hoje qualquer lugar onde haja homens e mulheres abandonados, feridos, injustiçados, que necessitam de se encontrar com a proposta libertadora de Jesus; a “outra margem” é qualquer lugar onde haja pessoas que são violentadas nos seus direitos e na sua dignidade e que precisam que lhes seja aberta a porta da esperança; a outra margem é esse mundo indiferente e hostil que olha com desconfiança o testemunho que damos sobre Jesus, mas que necessita de se encontrar com a proposta de salvação de Deus. Estamos conscientes de que fazemos parte de uma Igreja “missionária”, que não se limita a celebrar liturgias solenes dentro de igrejas ou catedrais imponentes, mas que é enviada por Jesus às periferias da vida para aí testemunhar a salvação de Deus?
  • “Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?” – pergunta Jesus aos discípulos… Não, se eles estão com medo, é porque não confiam incondicionalmente em Jesus. Além disso, eles ainda estão na fase em que, diante das dificuldades, acham que a solução é pedir a Deus que faça uma intervenção milagrosa para os livrar dos perigos. Ainda não chegaram àquele “estado” (que é o da verdadeira fé), que os leva a dizer: “Senhor, entregamo-nos nas tuas mãos de Pai; que a tua vontade se realize, pois estamos disponíveis para a aceitar, seja ela qual for. Faça-se a tua vontade, cumpra-se o teu projeto”. Como é e como se expressa a nossa fé? Enfrentamos as crises da vida com total confiança no amor de Deus, dispostos a acolher com o coração em paz a vontade de Deus?
  • A intervenção de Jesus provoca o “temor” dos discípulos. No contexto do relato evangélico que escutamos neste domingo, o “temor” não significa o medo que paralisa, mas significa o reconhecimento de que Jesus é o Deus presente no meio dos homens e a quem os homens são convidados a aderir, a confiar, a obedecer com total entrega. Este “temor” é um “temor” bom, que é caminho para a fé. Também nós, como os discípulos que iam naquele barco, temos o coração tomado por esse santo “temor” que nos leva confiar totalmente em Jesus e a segui-l’O no caminho do amor até ao extremo, no caminho do dom da vida?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 12.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 12.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

 

2. BILHETE DE EVANGELHO.

Seria para repousar? Seria para propor aos seus Apóstolos uma forma de retiro? O facto é que Jesus convida os seus discípulos a passar para a outra margem. A travessia do lago não é de repouso, levanta-se uma tempestade violenta e os Apóstolos estão aterrorizados. Sabem que não estão sozinhos no barco. Eles, os especialistas do lago, admiram-se com o sono de Jesus. Estão perdidos, então despertam Jesus, Ele que veio salvar os que estavam perdidos. Ele vai manifestar, então, que tem autoridade sobre todas as forças da morte, dá uma ordem: “Silêncio! Cala-te!” E fez-se uma grande calmaria. Os Apóstolos, naquele dia, não passaram apenas para a outra margem… Passaram do medo à confiança, graças ao “Passador” que tinha embarcado com eles. Nunca esqueçamos de fazer subir Cristo para o nosso barco, para passarmos com Ele…

 

3. À ESCUTA DA PALAVRA.

Jesus no barco da nossa vida. “Ao cair da tarde…” Toda a cena da tempestade acalmada desenrola-se durante a noite. É o momento em que todas as forças do mal podem agir com toda a impunidade. O barco está “no mar”, o lugar onde residem as forças demoníacas. Enfim, a palavra de Jesus ao vento e ao mar – “acalma-te!” – significa também “exorcizar”. Dito de outro modo, Marcos quer fazer-nos compreender que, para além da brusca tempestade, os discípulos – e todos os homens – são confrontados a um combate bem mais profundo e dramático: o combate contra o mal, não somente o mal “natural”, mas sobretudo o mal que habita e trabalha no coração dos homens. Os apóstolos, ultrapassados pela violência da tempestade, simbolizam os homens ultrapassados pelo poder do mal, que parece vencer, ainda e sempre. Para vencer o mal, é preciso recorrer a um poder maior. Felizmente que Jesus está lá! Ele dispõe do poder divino! Sim, mas Ele dorme tão profundamente que as enormes vagas não o fazem despertar. O seu sono torna-se, pois, a imagem da sua morte. Tudo parece perdido: “Mestre, estamos perdidos!” Jesus acaba por “despertar”. Ora, a palavra é a mesma que Marcos empregará para dizer a Ressurreição de Jesus: “Ele despertou de entre os mortos”. Podemos, pois, compreender o sentido mais profundo deste milagre da tempestade acalmada. Jesus veio ao coração da nossa história, desceu até ao fundo do mistério do mal que se desencadeia, ainda e sempre, foi até entrar no sono da morte violenta, que os homens esvaziaram de toda a traça de amor, onde parece que não se ouve mais nada, onde o próprio Deus parece dormir, indiferente aos males dos homens: “Mestre, isto não Te diz nada?” Mas Deus, em Jesus, respeitando infinitamente a nossa liberdade, só podia fazer uma coisa: juntar-se às nossas vidas, esconder-se nas nossas tempestades e nas nossas mortes, para aí colocar a sua presença, mais forte que todas as trevas. Só após a vitória aparente da morte é que Ele manifestará o poder da sua Ressurreição. O que Ele nos pede hoje é de crer, de Lhe dar a nossa confiança: “Porque ter medo?” Com Ele na nossa vida, as forças do mal não terão a última palavra.

 

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

As palavras da nossa fé. No domingo, é importante professar a nossa fé com o Credo da Igreja, para marcar a nossa pertença ao Povo de Deus que nos transmitiu estas palavras. Mas, nesta semana, se pudermos viver uma partilha à volta da questão “quem é Jesus para nós?”, poderemos tentar compor uma profissão de fé que retome o essencial desta partilha.

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

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