VIII Semana – Quinta-feira – Tempo Comum – Anos Pares
30 de Maio, 2024
Tempo Comum – Anos Pares
VIII Semana – Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: 1 Pedro 2, 2-5.9-12
Caríssimos, 2como crianças recém-nascidas, ansiai pelo leite espiritual, não adulterado, para que ele vos faça crescer para a salvação, 3se é que já saboreastes como o Senhor é bom. 4Aproximando-vos dele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus, 5também vós – como pedras vivas – entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo. 9Vós, porém, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido em propriedade, a fim de proclamardes as maravilhas daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável; 10a vós que outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia. 11Caríssimos, rogo-vos que, como estrangeiros e peregrinos, vos abstenhais dos desejos carnais, que combatem contra a alma. 12Tende entre os gentios um comportamento exemplar, de modo que, ao acusarem-vos de malfeitores, vendo as vossas boas obras, acabem por dar glória a Deus no dia da sua visita.
Pedro, para falar da nossa salvação, usou as categorias nascimento, regeneração, vida nova. Agora recorre a outra imagem cheia do sentido e da riqueza que lhe dava o ambiente cultural grego e judaico donde provinha: a criança cujo alimento é ainda o leite materno. Os que foram regenerados pela ressurreição (1, 3), pela Palavra viva e eterna do Evangelho (2, 23), são «como crianças recém-nascidas» (v. 2). A misericórdia do Pai regenera, não só no momento em que faz surgir em nós a vida de Cristo, mas durante todo o tempo que vivemos nele. O cristão é permanentemente regenerado em Cristo, Verbo do Pai, que, na vida trinitária, está sempre em geração. O baptismo faz-nos renascer em Cristo uma vez e para sempre. É o que Pedro afirma repetidas vezes nestas homilias baptismais.
A mesma Palavra que nos regenera, também nos alimenta e faz crescer para a salvação. É um alimento semelhante ao leite genuíno e sadio. Jesus é Palavra viva; quando se saboreia a sua bondade, não se quer outro alimento. Jesus é a Pedra viva, escolhida e preciosa, posta pelo Pai como pedra angular da casa espiritual que constrói nele e por ele, para que se torne comunidade sacerdotal que lhe oferece sacrifícios agradáveis; quem a recusar, tropeça nela. Os baptizados caminham, avançam nele, quando se deixam constituir, construir, como pedras vivas, para a realização do desígnio do Pai em Jesus Cristo.
Evangelho: Marcos 10, 46-52
Naquele tempo, 46quando Jesus ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. 47E ouvindo dizer que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!» 48Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» 49Jesus parou e disse: «Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te.» 50E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus. 51Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» «Mestre, que eu veja!» – respondeu o cego. 52Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!» E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.
Quando Jesus passa por Jericó, um mendigo cego, chamado Bartimeu, procura ir ao encontro dele, apesar da oposição de muitos que rodeiam o Senhor. Mas Jesus apercebe-se da situação, manda chamá-lo e dialoga com ele. O cego dirige-se ao Senhor com a mesma palavra que Maria usou na manhã da páscoa: «Rabbuni», «Meu mestre» (v. 51; cf. Jo 20, 16). Esta expressão traduz estima, afecto.
Jesus restitui a vista ao cego e atribui a cura à sua fé. De facto, o cego, uma vez curado, põe-se a seguir Jesus.
Ao contar este episódio, pouco depois do terceiro anúncio da paixão, o evangelista quer esclarecer o que se entende por fé e o que implica seguir Jesus. Tal como aquele pobre homem, o discípulo deve ser um alguém que reza com perseverança, que invoca Jesus nas dificuldades, recebe encorajamento, vai ao seu encontro, deixa-se interrogar por Ele, deixa que lhe abra os olhos e O segue pelo caminho. Temos aqui um bom documento sobre a pedagogia da fé.
Meditatio
A nossa vida de cristãos há-de ser um perene louvor Àquele que nos chamou das trevas para a sua luz admirável, como nos recomenda Pedro. O evangelho ilustra o caso concreto de alguém que, pela misericórdia do Senhor, recuperou a vista. E Pedro acrescenta: «outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia» (v. 10). O cego implorou com coragem e perseverança a misericórdia de Jesus: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!» (v. 47). E ninguém o conseguiu calar.
Este episódio acontece em Jericó. Jesus está para chegar a Jerusalém e, em breve, começará a sua paixão, o caminho da cruz, que o conduzirá à ressurreição. O cego, uma vez curado, põe-se a segui-lo, no caminho da oblação, que irá consumar-se no Calvário. Pedro sugere-nos uma atitude semelhante: «Aproximando-vos dele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus, também vós – como pedras vivas – entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo» (vv. 4-5).
A cura do cego Bartimeu é toda uma cena em movimento, que vai da adoração, à cura, à oferta. É o movimento que encontramos na eucaristia. Começamos por implorar misericórdia: «Senhor, tende piedade de nós»; somos iluminados pela palavra; unimo-nos à oblação de Cristo. É também a dinâmica da vida cristã, dinâmica de oferta e de acção de graças em que a nossa vida, unida à de Cristo, se pode e deve tornar «eucaristia», uma eucaristia perene.
Este texto petrino é central na doutrina do sacerdócio de toda a Igreja, o chamado sacerdócio comum dos fiéis. Sabemos a importância que estes textos têm na espiritualidade dehoniana. A experiência de vida teologal no Pe. Dehon, é descrita com duas expressões significativas: é «adesão a Cristo, nascida do mais íntimo do coração» (Cst. 5) (que) «se exprime e concentra no sacrifício eucarístico, transformando toda a sua vida numa missa permanente» (Cst. 5). O Pe. Dehon, iluminado por uma fé, que
o leva a aderir cordialmente a Jesus, procura viver, em todos os momentos da sua vida, o acto mais sublime da oblação de Cristo ao Pai pelos homens, a missa, «o grande acto do dia, o holocausto do perfeito amor, o sacrifício reparador por excelência» (DSP, parte V, parágrafo 4).
Oratio
Senhor, que a minha vida se torne, cada vez mais, uma oferta de acção de graças ao Pai, uma eucaristia permanente. Para isso, abre-me os olhos da fé viva, para que saiba reconhecer os seus dons, as maravilhas que Ele realizou e continua a realizar. Muitas vezes, os meus olhos estão mais atentos para ver o que é obscuro do que para admirar a tua luz. «Abre os meus olhos, Senhor, às maravilhas do teu amor», para que a minha vida se torne oblação amorosa de tudo quanto me deste e vais dando cada dia. Que tudo quanto eu fizer, por palavras ou por obras, seja realizado em teu nome, dando graças, Contigo e por Ti, no Espírito Santo, a Deus Pai. Amen.
Contemplatio
O adorável sacrifício dos nossos altares é o dom por excelência do Coração de Jesus e do seu amor. É, no dizer de S. Francisco de Sales, o centro da religião, o coração da devoção, a alma da piedade, o mistério inefável que contém o abismo da caridade divina e pelo qual Deus nos comunica com suprema liberalidade as suas graças e benefícios.
O Santo Sacrifício da Missa é, para todos os Sacerdotes do Coração de Jesus, o grande acto do dia, o holocausto de perfeito amor e o sacrifício reparador por excelência.
Os Sacerdotes do Coração de Jesus, ao celebrar a Eucaristia, e os que não são padres, ao participar nela, compenetrar-se-ão com amor dos sentimentos e das intenções do Coração de Jesus. Unirão a oferta do seu coração à do Coração divino de Jesus para a maior glória de Deus e para a salvação das almas.
Os Sacerdotes do Coração de Jesus terão gosto em celebrar Missas reparadoras. Procurarão também que os benfeitores as mandem celebrar, com fundações apropriadas. Celebrarão ao menos uma por mês em reparação de todas as Missas sacrílegas que entristecem profundamente o Coração do seu bom Mestre (DSP n. 128).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Vós entrais na construção de um edifício espiritual,
em função de um sacerdócio santo» (1 Pe 2, 5).
| Fernando Fonseca, scj |