XIV Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


11 de Julho, 2024

Tempo Comum - Anos Pares
XIV Semana - Quinta-feira

Lectio

Primeira leitura: Oseias 11, 1-4. 8c-9

1Quando Israel era ainda menino,Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. 2Mas, quanto mais os chamei, mais eles se afastaram; ofereceram sacrifícios aos ídolos de Baal e queimaram oferendas a estátuas. 3Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. 4Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer. O meu coração dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas entranhas. 9Não desafogarei o furor da minha cólera, não voltarei a destruir Efraim; porque sou Deus e não um homem, sou o Santo no meio de ti, e não me deixo levar pela ira.

Estamos diante de um dos mais importantes textos em ordem à revelação de Deus-Amor. O melhor comentário seria a contemplação silenciosa e reconhecida dos intensos e manifestos sentimentos paternais de Deus. Mas diremos breves palavras, na esperança de não perturbar excessivamente a amorosa contemplação dos nossos leitores.
Depois de nos ter falado de um Deus-Esposo (Os 2), o profeta fala-nos de Deus como Pai extremamente terno, que recorda ao filho, Israel, os tempos remotos em que, arrancando-o da escravidão do Egipto, o conduziu suavemente pela mão. O povo repetidas vezes tombava na idolatria. Mas Deus estava sempre ao seu lado, para o retomar nos braços e lhe manifestar amor, com expressões que tocavam as mais íntimas cordas da humana sede de ser amado, procurando persuadi-lo sobre a força, a fidelidade e a misericórdia desse amor pelo homem.
No texto, que escutamos, transparece uma tal vontade de salvação da parte de Deus, que ultrapassa, em muito, a sua indignação pelo pecado do homem. Deus conhece a fragilidade do coração humano, um «coração incircunciso», um «coração endurecido», incapaz de corresponder ao amor de Deus. Só quando for alcançado e penetrado pelo Espírito, pode tornar-se um «coração de carne», capaz de amar a Deus e nele, os irmãos (cf. Ez 36, 26s.). Só o «rugido» de Javé, isto é, a sua palavra viva e eficaz, fará voltar Israel, com a docilidade de um passarinho e a obediência de uma pomba à voz do dono. Deus, se castiga e corrige, é sempre para salvar.

Evangelho: Mateus 10, 7-15

Naquele tempo, disse Jesus aos seus Apóstolos: 7«Ide e proclamai que o Reino do Céu está perto. 8Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça. 9Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; 10nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o trabalhador merece o seu sustento. 11Em qualquer cidade ou aldeia onde entrardes, procurai saber se há nela alguém que seja digno, e permanecei em sua casa até partirdes. 12Ao entrardes numa casa, saudai-a. 13Se essa casa for digna, a vossa paz desça sobre ela; se não for digna, volte para vós. 14Se alguém não vos receber nem escutar as vossas palavras, ao sair dessa casa ou dessa cidade, sacudi o pó dos vossos pés. 15Em verdade vos digo: No dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e de Gomorra do que para aquela cidade.»

Os discípulos devem anunciar a presença do Reino, tal como fizera João Baptista (cf. Mt 3, 2) e, sobretudo, Jesus (4, 17). Quem acreditar que o Reino é o Senhor, e viver como Ele, torna-se "sinal" da sua presença e pode realizar curas, ressuscitar mortos, curar leprosos, expulsar demónios (v. 8). O mais importante é estar conscientes das forças divinas que nos enchem, graças à paixão, morte e ressurreição de Cristo. Recebemos de graça. Podemos projectar a nossa vida pessoal e comunitária sobre a gratuidade.
O conteúdo da pregação dos discípulos está expresso nas afirmações relativas à paz. Os judeus saudavam-se desejando-se mutuamente a paz. Mas, aqui, há algo mais. É atribuída à paz a mesma eficácia que tem a Palavra de Deus. Onde se deseja a paz, acontece a paz. Esta paz equivale ao reino de Deus, a Cristo, nossa paz (cf. Mc 5, 34; Rm 5, 1; Ef 2, 14). Anunciar a paz é anunciar a Cristo e tudo o que Ele significa para o homem.
O missionário deve avançar "desarmado": «Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado» (vv. 9-10). Sabe que tem direito ao sustento (v. 10; cf. Lc 10, 7), à recompensa. Mas contenta-se com o necessário. Permanecerá junto de quem for digno de acolhê-lo (v. 11). Levará consigo o sinal distintivo, que é a paz. Quem a acolhe, acolhe o reino de Deus e todas as suas promessas de bênção. Quem não a acolhe, exclui-se de tudo. Por isso, tem sentido «sacudir o pó dos pés» (cf. v. 14), gesto de quem, ao entrar em Israel, deixava para trás a terra dos infiéis. Tal como Sodoma e Gomorra, foram arrasadas por não terem acolhido os enviados de Deus (Gn 19, 24ss.), assim também acontecerá àqueles que não acolherem o irmão e, portanto, o reino.

Meditatio

Nada de mais tranquilizante para o nosso espírito agitado e dividido que a certeza de um Pai, que nos ergue da nossa pequenez e da nossa fragilidade, para nos apertar ternamente contra o seu rosto cheio de amor e misericórdia. Esse, Abbá do Céu, retira-nos dos vários Egiptos de escravidão, onde nos retêm o nosso «fazer» frenético, que nos faz esquecê-l´O. Mas Ele não nos esquece. Ele sabe esperar com paciência, porque deseja a vida e não a morte do homem, a paz e não a discórdia. Há que tomar consciência, não só intelectualmente, mas também existencialmente, de que Deus cuida de nós. Se assim não for, caímos no desconforto, na angústia, e até no sentimento de traição, quando formos provados pelo sofrimento, pelas dificuldades da vida. Quando se faz a experiência de que Deus é «Deus e não homem», a paz e a serenidade impregnam-nos o coração e a vida, até às suas raízes mais profundas. A certeza de que Deus é amor, nos ama e cuida de nós, leva-nos a tomar a atitude de que nos fala Jesus no evangelho: «Recebestes de graça, dai de graça» (Mt 10, 8). É pois na gratuidade que devemos dirigir-nos aos irmãos para lhe oferecer a paz, para lhes anunciar o reino de Deus, que é a luz, o sentido e a alegria da nossa vida. «Ide..., proclamai..., curai..., ao entrar numa casa saudai-a...» Anúncio de salvação, acção de cura, saudação e desejo de paz. Mas tudo isto pode ser recusado. Ainda nessa circunstância, o discípulo não há-de perder a paz: «Se essa casa não for digna, vossa paz volte para vós», isto é, permanecei em paz. Filhos da paz, h
avemos de comunicá-la. Isso é possível porque a paz não é um sentimento nosso ou obra nossa, mas tem fundamento no dom de Jesus, o Espírito Santo.
O Coração de Cristo é a manifestação suprema da ternura e da misericórdia de Deus. A espiritualidade que decorre da contemplação do Trespassado coloca-nos «no coração do Evangelho» e impele-nos a inserir-nos «no coração do mundo» sedento de amor, de paz, de alegria, de fraternidade, que só a descoberta de Cristo pode satisfazer plenamente: «Ele é o homem perfeito... Pela Sua Encarnação... o próprio Filho de Deus uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos de homem, pensou com mente de homem, actuou com vontade de homem, amou com coração de homem... Ele é o Redentor do homem!», escreveu João Paulo II (Redemptor Hominis, n. 8). Só dando Cristo ao mundo, somos «profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens... em Cristo» (Cst 7). É isto que o Pe. Dehon espera dos seus religiosos.

Oratio

Senhor Jesus, toma posse do meu coração, tantas vezes presa fácil de depressões, de euforias, de ansiedade. Que a experiência do teu amor terno de pai e de mãe, manifestado no teu Coração trespassado, me faça sentir a tua presença todos os dias da minha vida, para me libertar dos Egiptos e dos destroços de uma vida superficial e naturalista. Só Tu podes fazer de mim um dom perene, generoso e gratuito aos irmãos. Só Tu podes fazer de mim um missionário da paz, um arauto do Reino. Que eu Te saiba dar aos meus irmãos, para ser profeta do amor e servidor da reconciliação. Amen.

Contemplatio

Há uma luta que é de todos os dias, o demónio não repousa. Mas há dias mais difíceis, dias de provas e de combates; é para esses dias, que é preciso estarem armados com a espada.
Jesus adverte os seus apóstolos para que estejam preparados, especialmente para o dia seguinte, o grande dia da sua Paixão, para também para o futuro, para a luta espiritual que deve fazer deles suas sangrentas testemunhas e os vencedores do mundo.
«Noutras vezes, diz o Salvador, enviei-vos sem bolsa e sem cajado, mas hoje digo-vos: se alguém tem uma bolsa, que a tome, e se não tem, que venda a sua capa para comprar uma espada». Os apóstolos tomam as coisas no sentido literal: «Temos aqui duas espadas, dizem». Ora bem, diz o Salvador, e não tem tempo para lhes explicar o sentido alegórico das suas palavras, que Judas já está lá com o seu bando.
É evidentemente uma espada espiritual que Jesus nos quer ver preparar. E qual será esta arma invencível? Uma só, o amor do Salvador, o amor do Sagrado Coração. Como o diz S. Paulo, só o amor nos pode manter indissoluvelmente unidos a Cristo. «Quem poderá separar-nos de Cristo, se o amarmos ardentemente? Nada, nem a tribulação, nem a angústia, nem a fome, nem a espoliação, nem os perigos, nem as perseguições, nem a espada. Alcançaremos sempre a vitória pelo amor daquele que nos amou tanto» (Rm 8, 35) (Leão Dehon, OSP 4, p. 425s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Ide e proclamai que o Reino do Céu está perto» (Mc 10, 7).

| Fernando Fonseca, scj |

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