Week of Out 10th

  • XXVIII Semana -Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana -Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    10 de Outubro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Gálatas 4, 22-24.26-27.31-5,1
    Irmãos: 22Como está escrito, Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da mulher livre. 23Mas, enquanto o da escrava foi gerado segundo a carne, o da mulher livre foi gerado por causa da promessa. 24Isto está dito em alegoria; pois elas representam duas alianças: uma, a do monte Sinai, foi a que gerou para a escravidão; essa é Agar. 26Mas a Jerusalém do alto é livre; essa é a nossa mãe, 27pois está escrito:Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz; rejubila e grita, tu que não sentes as dores de parto; pois são muitos os filhos da abandonada, mais do que os daquela que tem marido! 31Por isso, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da mulher livre. 1Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes, e não vos sujeiteis outra vez ao jugo da escravidão.
    Depois de se ter apresentado, para defender o evangelho que prega, Paulo repreende aqueles que se deixam seduzir pela doutrina dos judaizantes, defensores da circuncisão e da lei moisaica. A justificação não vem da Lei, mas da graça de Cristo. O Apóstolo antecipa um tema que desenvolverá na carta aos Romanos. Na alegoria das duas mulheres que geram filhos a Abraão, são confrontadas a economia da Lei e a economia da Fé. Agar, que é escrava, gera o seu filho na escravidão da carne; a antiga Aliança, representada por Agar, é um jugo de escravidão. Sara, a mulher livre, gera Isaac, o filho da promessa: em Cristo, tornámo-nos filhos de Deus, tornámo-nos livres porque nele a promessa foi plenamente realizada. Tendo por horizonte as duas mulheres, estão duas montanhas, também elas simbólicas: por detrás de Agar, divisa-se o Sinai, onde, no meio de relâmpagos e trovões, Moisés recebeu as tábuas da Lei. Sobre essa Lei é que se fundou a antiga Aliança entre Deus e o seu povo. Deus foi fiel ao seu amor, comparado ao do esposo pela esposa; mas o povo, em breve se esqueceu da promessa de cumprir a Lei, tornando-se semelhante a uma esposa infiel. Por detrás de Sara, brilha o monte de Sião, a cidade de Jerusalém que «qual noiva adornada para o seu esposo» (Ap 21, 2) para conduzir a Deus os filhos da Nova Aliança. A «Jerusalém do alto» (Gl 4, 26) pode alegrar-se porque regenerou muitos filhos para a vida nova em Cristo.

    Evangelho: Lucas 11, 29-32
    Naquele tempo, 29Como as multidões afluíssem em massa à volta de Jesus, Ele começou a dizer:«Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas.
    30Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração. 31A rainha do Sul há-de levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão! 32Os ninivitas hão-de levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é maior do que Jonas.»
    Jesus prossegue a viagem para Jerusalém, onde vai consumar o seu mistério pascal. Lucas põe-lhe na boca uma série de ensinamentos, exortações, respostas e repreensões. No texto de hoje, Jesus repreende uma multidão desse povo de cabeça dura, que tem dificuldade em acolher a Palavra de Deus. O povo pede sinais que garantam a autenticidade daquele Messias. Que sinal? Esta multidão é muito semelhante aos ninivitas que não eram capazes de distinguir a mão direita da mão esquerda; é muito semelhante aos pagãos, que há pouco chegaram à fé, e aos quais Lucas se dirige; é muito semelhante a nós, que andamos sempre à busca de coisas extraordinárias e imediatas.
    Jesus responde falando de juízo e de condenação. Mas, ao lembrar a salvação de Jonas, símbolo da sua morte e ressurreição, Jesus acentua a misericórdia salvífica de Deus. Essa misericórdia foi oferecida aos ninivitas em troca da sua conversão, e à rainha do Sul pela busca generosa da sabedoria. Aos Judeus e Gregos é pedido um espírito aberto: «Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 28). Esta bem-aventurança contrasta ainda mais com as palavras de juízo e de condenação. Só é julgado e condenado quem recebeu o tesouro da palavra revelada e, permanecendo escravo de uma falsa fidelidade à Lei, não sabe reconhecer os sinais da presença do Salvador. São também para quem não sabe aceitar a dura linguagem da cruz e não ousa esperar a ressurreição.

    Meditatio
    Aparentando tratar de problemas do passado, as leituras de hoje oferecem-nos uma mensagem actual. De facto, é sempre actual a tentação de nos agarrarmos a ideias fixas sobre as propostas de Deus e sobre as condições para nos justificarmos diante d´Ele. Mas Deus quer respostas livres e atitudes de confiança filial. Se, quase sempre, nos é necessário exercitar a fé e acreditar para além das evidências, somente a certeza de que Deus nos ama, acima de todas as nossas expectativas, é capaz de rasgar os horizontes reduzidos do legalismo e do lucro. É triste que, passados dois mil anos, desde que Jesus Cristo nos ofereceu um sinal bem mais eloquente e eficaz que o de Jonas, ainda se corra à busca de sinais e de provas em astrólogos, cartomantes, bruxas ou nas fantasias de seitas pseudo-religiosas. Parece bem mais simples acreditar no amor e abandonar-se como filhos nos braços do Pai.
    No evangelho de S. João, o sinal, mais do que uma prova, é uma luz lançada sobre o mistério da Pessoa e da Missão de Jesus, por meio de realidades simbólicas naturais (água, pão, videira, vinho, luz, etc.) e de realidades bíblicas (serpente de bronze, maná, rocha, etc.), e por meio de acontecimentos, factos e gestos de Jesus (caminhar sobre as águas, unção em Betânia, lava-pés, coroação de espinhos, divisão das vestes, transfixão do Lado...).
    «O testemunho de João, por meio destes sinais, visa a natureza íntima de Jesus, que estes sinais fazem conhecer. Por meio deles, o Evangelista refere-se directamente ao segredo do ser de Jesus, ao mistério da Sua Pessoa» (De la Potterie, La Verité en S. Jean, Rome 1977, I, 80).
    No universo dos sinais, para além do sinal eminente da Ressurreição, e das aparições do Ressuscitado, temos, em S. João, o sinal da Transfixão do Lado, que é o último sinal da vida de Jesus. Não foi Jesus que o realizou, porque já tinha exalado o último suspiro (Jo 19, 30), mas foi um soldado; misteriosamente, foi o Pai que abriu no Seu Corpo, o «lugar da presença e da manifestação de Deus no meio dos homens especialmente no brotar do sangue e da água.
    Lemos nas Constituições: «Sequiosos de intimidade com o Senhor, procuramos os sinais da sua presença na vida dos homens, onde actua o seu amor salvador» (n. 28). Queremos e devemos descobrir «os sinais da sua presença» (Cst. 28) também em homens que não são "dos nossos": «Mestre, vimos alguém a expulsar demónios em Teu nome, sem que nos siga, e proibimos-lho». Assim fala João a Jesus (Mc 9, 38), e Jesus responde: «Não lho proibais... Quem não é contra nós é por nós» (Mc 9, 39-40). Pode até acontecer que os mais afastados sejam os mais próximos do Senhor. Assim aconteceu na vida de Jesus: Nicodemos e os judeus de Jerusalém são entusiastas dos sinais que Jesus realiza, acreditam n´Ele e reconhecem-n´O como enviado de Deus, e todavia não chegam à fé perfeita e Jesus não Se fia neles, porque sabe o que há no coração do homem (cf. Jo 2, 23-25; 3, 1-10). Chegam, pelo contrário, à fé os desprezados, os cismáticos samaritanos: «Este é, na verdade, o salvador do mundo» (Jo 4, 42) e mais ainda o pagão funcionário real, que acredita à palavra de Jesus: «Vai, o teu filho está salvo. Aquele homem acreditou na palavra de Jesus e pôs-se a caminho» (Jo 4, 50). O seu filho estava verdadeiramente curado: «Acreditou ele e toda a sua família» (Jo 4, 53).
    Pois bem, onde actua o "amor que salva" de Jesus, também nós queremos estar presentes, unidos «no seu amor pelo Pai e pelos homens» (Cst. 17), especialmente pelos pequenos e pelos pobres (Cst. 28), porque «Cristo se identificou» com eles (Cst. 28; cf. Mt 25, 40

    Oratio
    Senhor Jesus Cristo, Tu és o verdadeiro Filho da promessa, o Filho livre que nos tornas livres. Quero pedir-Te, hoje, a tua graça, para que possa crescer na liberdade, seguir-Te e acreditar em Ti, que és o Sinal enviado pelo Pai, para nos manifestar o seu amor. Que eu saiba dispensar todos os outros sinais, fixando-me só n´Aquele que o Pai nos quis dar: Tu mesmo, Crucificado de Lado aberto e ressuscitado para nossa justificação. Que na união contigo eu saiba também descobrir os sinais da tua presença na vida dos homens e do mundo. Amen.

    Contemplatio
    Como Nosso Senhor é bom e condescendente! Vendo-os ainda hesitantes, pede-lhes de comer, para bem os certificar acerca da sua presença material e real. Oferecem-lhe peixe grelhado e mel. Come com eles. Então deixam-se convencer, e a alegria sucede à perturbação. Dirige-lhes apenas uma censura paterna: «Depois de tantos testemunhos, porque é que não acreditaram! Porque estais na dúvida e no medo? Como sois lentos para acreditar!».
    Entregam-se então à efusão da alegria e da piedade filial! Começam a compreender as profecias.
    Alegremo-nos com eles. Bendigamos a Providência que permitiu as suas dúvidas e a sua lentidão em acreditar. Quiseram provas, sinais peremptórios da ressurreição do Salvador, tocaram nas suas chagas, comeram com ele. As suas dúvidas aproveitam para a nossa fé.
    Se tivessem sido mais fáceis em acreditar, teríamos podido pôr em dúvida a sua prudência. Teríamos podido suspeitar que se tivessem deixado seduzir pela sua imaginação e de tomarem os seus desejos por realidades. Ah! Mas não foi isto que aconteceu. Não tinham sequer imaginação. Mostraram-se cépticos e positivistas. Foram obrigados a renderem-se, apesar disso, à evidência do milagre. Eles permanecem para nós as testemunhas irrecusáveis do grande facto sobre o qual repousa a credibilidade do Evangelho.(Leão Dehon, OSP 3, p. 385s.)

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Foi para a liberdade que Cristo nos libertou.» (Gal 5, 1)
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXVIII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    11 de Outubro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Gálatas 5, 1-6
    Irmãos: 1Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes, e não vos sujeiteis outra vez ao jugo da escravidão. 2Reparai, sou eu, Paulo, que vo-lo digo: se vos circuncidardes, Cristo de nada vos servirá. 3Uma vez mais o atesto a todo o homem que se circuncida: fica obrigado a cumprir toda a Lei. 4Tornastes-vos uns estranhos para Cristo, vós os que pretendeis ser justificados pela Lei; abandonastes a graça. 5Porque nós, é em virtude da fé, pelo Espírito, que aguardamos a justiça que esperamos. 6Pois, em Cristo, nem a circuncisão vale alguma coisa, nem a incircuncisão, mas sim a fé que actua pelo amor.
    Paulo acentua vivamente a liberdade oferecida por Cristo e alerta os Gálatas para o perigo de voltarem «ao jugo da escravidão» (v. 1) da Lei. Não propõe a transgressão da Lei ou a sua revogação. Também Jesus não veio para revogar a Lei ou a sua mais pequena expressão, uma vez que está inscrita no coração do homem e na lei de Moisés. O que Jesus e Paulo afirmam é que não devemos agarrar-nos à observância de prescrições meramente exteriores, nem absolutizar o que foi prescrito como simples preparação para as fortes exigências do Evangelho. «A Lei e os Profetas subsistiram até João; a partir de então, é anunciada a Boa-Nova do Reino de Deus, e cada qual esforça se por entrar nele» (Lc 16, 16).
    A liberdade verdadeira consiste em se deixar conduzir pelo Espírito de Cristo, abrindo-se a uma vida nova, já não sujeita aos ritos judaicos, mas fundamentada na «fé que actua por meio da caridade» (Gl 5, 6). «Foi para a liberdade que Cristo nos libertou» (v. 1): só em Cristo a Lei encontra pleno significado; só a fé n´Ele nos dá segurança e nos permite perseverar na graça. Voltar à circuncisão é separar-se de Cristo, da sua graça e do seu amor. Para nós, hoje, o perigo é agarrar-nos a práticas exteriores ou procurar vãs seguranças que nos afastem da esperança na justificação que só a fé nos permite esperar.
    Evangelho: Lucas 11, 37-41
    Naquele tempo, 37depois de Jesus ter acabado de falar, um fariseu convidou-o para almoçar na sua casa; Ele entrou e pôs-se à mesa. 38O fariseu admirou-se de que Ele não se tivesse lavado antes da refeição. 39O Senhor disse-lhe: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade. 40Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? 41Antes, dai esmola do que possuís, e para vós tudo ficará limpo.
    Em casa de um fariseu, Jesus continua o discurso sobre a honestidade de pensamento e sobre a pureza das intenções. Jesus fala e comporta-se com total liberdade, parecendo mesmo provocar o espanto e o desprezo do fariseu. Atira-se contra o formalismo e a vaidade de quem se pensa justo só porque cumpre pontualmente os ritos.
    A propósito da purificação do copo e do prato, Jesus fala da pureza do coração do homem. A higiene evangélica exige a exclusão da ganância e do egoísmo, que geram «rapina e maldade» (v. 39). O que garante a pureza do coração é a caridade. Da caridade vem a generosidade, que sabe dar esmolas, quando reconhece ter recebido tudo de Deus (v. 41). Confronte o texto paralelo de Mateus (7, 15.21-23), onde Jesus dá mais explicações sobre a pureza do coração.

    Meditatio
    Tanto a primeira leitura como o evangelho nos dizem que a única coisa verdadeiramente importante é apoiar-nos em Jesus pela fé. A fonte da caridade não está em nós, mas em Jesus, fonte da vida, do bem, da caridade que nos arranca do egoísmo e nos leva a dar-nos aos outros, "purificados" pelo amor. Os Mandamentos da Lei de Deus, e todas as leis e prescrições - incluindo as da Igreja - têm sentido e valor na medida em que nos chamam a atenção para as más inclinações e para os instintos perversos que se escondem dentro de nós. Mas não são eles que definem ou realizam o grau de pureza a que a santidade de Deus nos chama e deseja de nós. A raiz do pecado desenvolve-se dentro de nós, ainda que Deus nos tenha feito bons e nos queira tais. Por isso, não serve para nada, e é mesmo nocivo, confiar-nos a uma fiel observância fingida, a um perfeccionismo exterior. O mais importante é permanecermos unidos a Cristo, para sermos alimentados pelo seu Espírito, que em nós produz os seus frutos, a começar pela caridade. É o Espírito de Cristo que nos permite pôr em acção «a fé que actua por meio da caridade», para darmos «em esmola o que temos dentro», e queimarmos na caridade tudo quanto acabaria por apodrecer, se ficasse encerrado no egoísmo. Só então «tudo estará limpo». Só então poderemos receber «da fé a justificação que esperamos».
    A verdadeira pureza de coração não vem de ritos exteriores, mas da união a Cristo e da vivência da fé e da caridade. S. João aponta essa regra na sua Primeira Carta, onde encontramos óptimo fundamento para uma verdadeira espiritualidade e mística da acção. "Conhecemos" verdadeiramente Deus, fazemos d´Ele experiência de vida e vivemos em comunhão com Ele, «se observarmos os Seus mandamentos...» Mas o seu mandamento é que acreditemos no nome do Seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros (cf. 1 Jo 3, 22-23). A vivência da fé torna consistente e autêntica a observância. A observância centra-se no mandamento do amor. Só se amarmos os irmãos (por meio do nosso apostolado e da acção social) o amor de Deus é perfeito em nós. «Ninguém jamais viu a Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o Seu amor é perfeito em nós» (1 Jo 4, 12). A circularidade do amor é completa. Como podes dizer que amas a Deus que não vês, se não amas o irmão que vês? (cf. 1 Jo 4, 20). Assim realizamos, com autenticidade, toda a Lei e os Profetas, o amor de Deus e o amor do próximo.

    Oratio
    Senhor, faz-me compreender que, o que verdadeiramente conta, é «a fé que actua por meio da caridade», é estar unido a Ti, apoiar-me em Ti. Faz-me compreender que a nascente da caridade não está em mim, mas em Ti, no teu Coração aberto. Livra-me da ilusão de pretender amar só por mim, porque, só Tu és a fonte da vida, do bem, do amor. Só Tu me arrancas ao egoísmo, para me dar aos outros, «puro» pelo amor.
    Peço-te para mim, e para todos os meus irmãos, o grande dom da fé, que faz de Ti o grande fundamento da nossa vida e a transforma pela caridade, que já nos foi dada e que o Espírito torna operante em nós. Amen.

    Contemplatio
    Se amais Nosso Senhor, os pensamentos e as intenções do vosso espírito terão principalmente por objecto tudo o que lhe concerne. Ocupar-vos-eis de boamente d' Ele, d' Ele falareis com prazer. Haveis de alimentar em vós a sua santa presença. Afastareis todo o pensamento inútil, e considerareis como tais os que vos dissipam e vos desviam d' Ele, seja que vos afectem vivamente, seja que mais não façam senão divertir-vos.
    Se O amais sinceramente, os desejos e os sentimentos do vosso coração ser-lhe-ão consagrados; não consentireis nada no vosso coração que o partilhe; não vos agarrareis a nada contra a vontade de Nosso Senhor, a nada que enfraqueça ou que mantenha desocupado em vós o hábito da santa caridade, a nada que não contribua para afirmá-lo e aumentá-lo. Observai estes três graus: o primeiro inspira-vos aversão por todo o apego mau ou perigoso; o segundo afasta-vos de todo o apego frívolo e inútil; o terceiro eleva-vos até a santificar pela caridade todo o apego legítimo e permitido.
    Se amais sinceramente a Nosso Senhor, não formareis nenhum projecto que não tenda directa ou indirectamente ao seu reino e à sua glória. Não fareis nenhuma acção que possa desagradar-lhe; pelo contrário, procurareis não fazer nenhuma que não tenha por objecto senão agradar-lhe. Pode o amor divino estar em vós, se não for senhor de tudo, se não regular e governar tudo, se tudo não partir dele como do seu princípio e a ele não regressar como o seu fim? Diz o Salvador: não posso de facto ter por amor sincero o simples hábito da caridade, que não é senão uma disposição para amar. A criança tem-na pelo baptismo e não ama por isso. Aguardo o exercício desta caridade. Se a não exercerdes, não amais; se a exerceis pouco, amais pouco. Quando começais a exercê-la muitas vezes, desejando sempre exercê-la mais, e não estando nunca contentes neste ponto, amais muito; e se continuais, havereis de amar sempre mais. (Leão Dehon, OSP 2, p. 60)

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «A fé actua por meio da caridade» (cf. Gl 5, 6).
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXVIII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    12 de Outubro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Gálatas 5, 18-25
    Irmãos: 18Se sois conduzidos pelo Espírito, não estais sob o domínio da Lei. 19Mas as obras da carne estão à vista. São estas: fornicação, impureza, devassidão, 20idolatria, feitiçaria, inimizades, contenda, ciúme, fúrias, ambições, discórdias, partidarismos, 21invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Sobre elas vos previno, como já preveni: os que praticarem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. 22Por seu lado, é este o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, 23mansidão, auto-domínio. Contra tais coisas não há lei. 24Mas os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e desejos. 25Se vivemos no Espírito, sigamos também o Espírito.
    Paulo continua a insistir com os Gálatas para que fundamentem a sua existência na liberdade a que foram chamados: uma vez que são filhos de Deus, deixem-se conduzir pelo Espírito, caminhando de acordo com os seus desejos e seguindo o seu caminho de liberdade e de amor. Só o Espírito é guia seguro para se tornarem novas criaturas, homens novos regenerados por Cristo, libertos da Lei que não é capaz de impedir «as obras da carne» (vv. 19-21). Também nós fomos chamados a essa liberdade: «Que o pecado não reine mais no vosso corpo mortal, de tal modo que obedeçais às suas paixões... Pois o pecado não terá mais domínio sobre vós, uma vez que não estais sob a lei, mas sob a graça» (Rm 8, 12.14). A liberdade do Espírito é contrária ao desregramento da «carne». Paulo apresenta «o fruto do Espírito» e põe-lo em contraste com «as obras da carne». «Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, 23mansidão, continência» (v. 22) são obras do Espírito e são resultado da livre adesão de quem escolheu a lei da caridade (cf. 2 Pe 1, 10).
    Quase a terminar a carta aos Gálatas, Paulo dá alguns avisos para que «a lei de Cristo» se torne serviço, caridade «sobretudo para com os irmãos na fé».

    Evangelho: Lucas 11, 42-46
    Naquele tempo, disse o Senhor: 42Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça e o amor de Deus! Estas eram as coisas que devíeis praticar, sem omitir aquelas. 43Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas e de ser cumprimentados nas praças! 44Ai de vós, porque sois como os túmulos, que não se vêem e sobre os quais as pessoas passam sem se aperceberem!» 45Um doutor da Lei tomou a palavra e disse-lhe: «Mestre, falando assim, também nos insultas a nós.» 46Mas Ele respondeu:«Ai de vós, também, doutores da Lei, porque carregais os homens com fardos insuportáveis e nem sequer com um dedo tocais nesses fardos!
    Jesus pronuncia dois «ai de vós» contra os fariseus, os mais observantes e comprometidos, e contra os doutores, encarregados de ensinar e guiar os outros pelos caminhos de Deus. Estigmatizou os que querem sinais para acreditar, desmascarou os corações hipócritas e, agora, dirige palavras duras contra aqueles que aproveitam as suas prerrogativas de cultura e de autoridade para se envaidecerem e oprimirem os outros. São como túmulos disfarçados, cheios de podridão (cf. Mt 23, 27), capazes de contaminar - de acordo com a Lei - aqueles que sobre eles passam.
    Ironicamente, Lucas põe na boca de um doutor a observação: «Mestre, falando assim, também nos insultas a nós» (v. 45). A resposta de Jesus revela a sua tristeza pela atitude defensiva de quem, querendo salvaguardar a própria imagem, não consegue dar-se conta da mesquinhez da sua realidade, nem enxergar o que é verdadeiramente essencial: «a justiça e o amor de Deus».

    Meditatio
    Jesus acusa os educadores do seu povo, dizendo que, em vez de favorecerem a liberdade, a dificultam. A educação deve conduzir para a liberdade, formando o coração. Por vezes, os educadores insistem demasiadamente sobre aspectos exteriores, descuidando a formação da consciência e do coração. Assim, formam escravos e não homens livres: «carregais os homens com fardos insuportáveis e nem sequer com um dedo tocais nesses fardos» (Lc 11, 46), «pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça e o amor de Deus» (v. 42). A perfeição nas coisas exteriores alimenta a soberba do educador. Mas o esforço por libertar o coração torna-o humilde, porque sabe que ele mesmo ainda não está completamente livre.
    Na carta aos Gálatas, S. Paulo vai no mesmo sentido quando contrapõe a carne e o Espírito. A carne é o homem natural, corrompido pelo pecado original, que realiza actos que impedem a liberdade e levam à escravidão. Contra estes actos, a Lei apenas dispõe de proibições: «Não farás... Não dirás...», indicando o indispensável para não desagradar a Deus. O Espírito, pelo contrário, faz-nos actuar no amor, que não se contenta com uma observância mínima, mas tende à plenitude, a liberdade de nos darmos, de nos entregarmos totalmente. E o mesmo Espírito faz-nos descobrir uma imensa riqueza nesta doação total: «o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, continência» (vv. 22-23). «Contra tais coisas não há lei» (v. 23), acrescenta S. Paulo. De facto, no Espírito vive-se livres, alegremente livres e cheios de paz.
    O dom do Espírito vêm-nos, como sabemos, do sacrifício de Jesus, sacrifício total, fruto do seu amor oblativo, donde brota a liberdade total do Ressuscitado.
    Como cristãos e dehonianos, somos convidados a converter-nos a uma fé cada vez mais concreta: a fé das "obras" e da "verdade" (1 Jo 3, 18), a converter-nos às obras do Espírito, como exorta S. Paulo, depois de ter excluído as obras da carne (cf. Gl 5, 19-21); irradiar os frutos do Espírito: «O fruto do Espírito é..., caridade, alegria, paz, paciência, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão, temperança... Os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e apetites (é a morte progressiva ao "homem velho": Ef 4, 22). Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também segundo o Espírito» (Gl 5, 22.24-25).
    Pode afirmar-se que o único "fruto do Espírito" é o amor oblativo. Todavia o campo do amor oblativo, ou caridade, é imenso. Por isso, o Apóstolo define os sinais que o manifestam: a alegria e a paz: ser criaturas de alegria e de paz. É o apostolado mais urgente no nosso mundo tão triste e tão carecido de paz; mas é um apostolado necessário também para as nossas comunidades, onde é precisa tanta paciência (para saber compreender os irmãos, sabê-los aceitar, ser misericordiosos, perdoar), tanta bondade (ter bom coração e manifestá-lo), tanta benevolência (ou disponibilidade para o serviço). Mas também são precisas condições para irradiar estes frutos do Espírito: a fidelidade a Cristo, a mansidão que está sempre unida à humildade ("aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração: Mt 11, 29), a temperança (ou auto-domínio), isto é, deixar-se guiar nos pensamentos, desejos, afectos, palavras, acções, não pelo próprio "eu", muitas vezes egoísta, mas pelo Espírito de Deus. É evidente que tudo isto não se realiza num dia; supõe um «encontro frequente com o Senhor na oração» (Cst. 144) e «a conversão permanente ao Evangelho» (Cst. 144).

    Oratio
    Senhor, ajuda-me a libertar-me da escravidão da carne que tenta levar-me a atitudes exteriores de justiça e de observância legalista, com frutos que não servem à tua glória nem ao meu bem ou ao dos meus irmãos. Faz-me dócil ao teu Espírito para que produza em mim o amor oblativo, para que nada ache demasiado custoso; o Espírito de alegria para que não busque satisfações no egoísmo e na soberba; o Espírito de paz, próprio de quem sabe que é amado; o Espírito de paciência, para enfrentar as dificuldades; o Espírito de bondade e de benevolência, que desfaz a minha dureza de coração na relação com os outros; o Espírito de fidelidade para perseverar corajosamente; o Espírito de mansidão que me conforma a Ti; o Espírito de temperança para crucificar a minha carne com as suas paixões e desejos, para ficar completamente livre para a justiça e para o amor. Amen.

    Contemplatio
    Jesus atrai a si aqueles que o amam e o seu contacto santifica-os, leva-os à perfeição, porque Ele é a santidade e a perfeição mesma. No entanto, é preciso compreendê-lo bem, Ele deseja que o amemos por Ele mesmo e não por causa de nós. Se lhe testemunhamos um amor interessado, ditado pelo cálculo, isso toca-o pouco.
    Muitos amam Nosso Senhor em vista das suas graças, dos seus benefícios. Amam-no porque a piedade tem muitas vezes, sobretudo para os principiantes, doçuras e consolações; e quando chega a aridez, perdem a coragem.
    Outros amam Nosso Senhor e servem-no em vista das bênçãos temporais que daí lhe advirão. Também, desde que uma provação chega, um revês da fortuna, uma doença, a perda de um familiar, arrefecem e às vezes recusam Nosso Senhor.
    Outros finalmente têm demasiado constantemente em vista no seu amor as penas e as recompensas da outra vida.
    Estas almas rezam, mas sobretudo para obter benefícios. Mal sabem louvar, amar, agradecer. A segunda parte do Pater toca-as, mas a primeira deixa-as frias. Atêm-se mais ao pão quotidiano do que ao reino de Deus mesmo.
    Já não há aí verdadeiramente amor, é um procedimento diplomático. Jesus descobre todos os cálculos porque perscruta os rins e os corações. Os que amam por cálculo são mais servos do que seus amigos. (Leão Dehon, OSP 2, p. 70).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Se vivemos pelo Espírito, caminhemos segundo o Espírito" (cf. Gl 5, 22.24-25).
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXVIII Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    13 de Outubro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 1, 1-10
    Irmãos: 1Paulo, Apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso: 2a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 3Bendito seja o Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que no alto do Céu nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. 4Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor. 5Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com o beneplácito da sua vontade, 6para que seja prestado louvor à glória da sua graça, que gratuitamente derramou sobre nós, no seu Filho bem amado. 7É em Cristo, pelo seu sangue, que temos a redenção, o perdão dos pecados, em virtude da riqueza da sua graça, 8que Ele abundantemente derramou sobre nós, com toda a sabedoria e inteligência. 9Manifestou-nos o mistério da sua vontade, e o plano generoso que tinha estabelecido, 10para conduzir os tempos à sua plenitude: submeter tudo a Cristo, reunindo nele o que há no céu e na terra.
    Começamos hoje a ler na liturgia a carta aos Efésios. Trata-se provavelmente de uma carta circular dirigida às igrejas da Ásia por Paulo, durante o seu primeiro cativeiro em Roma (61-63 d. C.), ou por um seu discípulo. O autor propõe a visão da história, humana e cósmica como história de salvação, como realização de um grandioso projecto de amor do Pai, realizado no Filho Jesus. Por ele, todos os homens, e toda a criação, são redimidos. Esse projecto é impulsionado pela força irresistível da Ressurreição que, vencido o pecado e a morte, gera a nova humanidade, a igreja. Esta, aprendendo a reconciliar todas as divisões, vai crescendo progressivamente como único e harmónico corpo, cuja cabeça é Cristo.
    Depois da saudação inicial, o autor irrompe num hino de louvor e bênção a Deus Pai que nos deu abundantemente todos os bens. Começa por contemplar a bondade de Deus que, desde sempre, quis tornar as criaturas participantes da sua vida divina (v. 4); depois, canta a sua misericórdia que, não se deixando vencer pelo pecado, restabeleceu o homem na condição de filho, graças ao sangue de Cristo redentor (vv. 5-7). Esta redenção realiza-se ao longo da história. Deus criador ama a multiplicidade da criação, mas, sendo comunhão de amor, também ama a unidade. Esta sua vontade é actuada em Cristo que restaura nos homens a semelhança divina.

    Evangelho: Lucas 11, 47-53
    Naquele tempo, disse o Senhor aos doutores da lei: 47Ai de vós, que edificais os túmulos dos profetas, quando os vossos pais é que os mataram! 48Assim, dais testemunho e aprovação aos actos dos vossos pais, porque eles mataram-nos e vós edificais-lhes sepulcros. 49Por isso mesmo é que a Sabedoria de Deus disse: 'Hei-de enviar-lhes profetas e apóstolos, a alguns dos quais darão a morte e a outros perseguirão, 50a fim de que se peça contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, 51desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que pereceu entre o altar e o santuário.' Sim, Eu vo-lo digo, serão pedidas contas a esta geração. 52Ai de vós, doutores da Lei, porque vos apoderastes da chave da ciência: vós próprios não entrastes e impedistes a entrada àqueles que queriam entrar!» 53Quando saiu dali, os doutores da Lei e os fariseus começaram a pressioná-lo fortemente com perguntas e a fazê-lo falar sobre muitos assuntos, armando-lhe ciladas e procurando apanhar-lhe alguma palavra para o acusarem.
    Jesus, com ironia, desmascara a falsidade dos doutores da lei. Dizem venerar os profetas, mas não acolhem os apelos de Deus, tal como os seus pais. Por isso não são melhores do que eles. Os profetas foram recusados e mortos porque eram incómodos. O mesmo sucede, agora, com Jesus, Palavra definitiva do Pai. Os "sábios", construindo sepulcros aos profetas, tornam-se cúmplices daqueles que os mataram, porque não acolhem as suas mensagens. O Calvário irá confirmar esta análise de Jesus, apoiada pela sentença de juízo profético (vv. 49-51) que lê a história de Israel como uma história de obstinação que foi produzindo vítimas «desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias».
    Notemos como a culpa evocada se limita ao Antigo Testamento: Lucas parece dar a entender que Deus não pedirá contas do sangue do seu Filho. De facto, «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 17). Todavia serão pedidas contas do sangue de todos os profetas a esta geração porque, «quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus» (Jo 3, 18).
    Jesus verbera fortemente a arrogância intelectual e religiosa dos doutores da lei que, embora dispondo dos instrumentos necessários, não seguem nem reconhecem o caminho que leva a Deus indicado pela Lei e pelos Profetas. Por ainda: tornaram-no inacessível ao povo retirando aos preceitos e normas o seu verdadeiro significado.

    Meditatio
    Enquanto nas outras cartas Paulo tem acentos polémicos, fortes e até violentos para com os adversários da fé, e contra as heresias que começam a despontar na Igreja, na carta aos Efésios, que hoje começamos a escutar, revela uma serenidade e um entusiasmo que não são perturbados por qualquer polémica.
    «Bendito seja o Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos altos céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo... Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos; ... derramou sobre nós a sua graça, com toda a sabedoria e inteligência. Manifestou-nos o mistério da sua vontade...». O Apóstolo está cheio de admiração pela generosidade de Deus, pelo esplendor da sua graça, pela sua imperscrutável riqueza. Mas admira, sobretudo, a Deus como fonte de unidade.
    A carta aos Efésios é a carta da unidade do povo de Deus, unidade formada pela união do povo hebreu e dos pagãos na única Igreja de Deus. É este o grande mistério que Paulo admira. Hebreus e pagãos são chamados a ser herdeiros da mesma promessa. Este mistério, que não fora revelado às gerações passadas, é agora revelado pelo Espírito. Daí o espanto de Paulo.
    Parecia que Deus se limitava a pensar e a cuidar de um só povo, o povo hebreu. Agora, fica-se a saber que Deus escolhera esse povo em vista da salvação de todos os povos. O plano de Deus não é limitado, mas estende-se a todos os homens. A generosidade de Deus é ilimitada.
    Esta revelação provocou uma espécie de ciúmes nos hebreus, que se fecharam nos seus privilégios. Mas a sua recusa assinalou a reconciliação do mundo (cf. Rm 11, 15). Jesus, como lemos no Evangelho, convidou insistentemente o seu povo a ser generoso para com Deus, a aceitar que os seus privilégios sejam partilhados por outros, a alegrar-se pela conversão dos pecadores, a não ficar triste como o irmão mais velho quando o Pai faz festa pelo regresso do filho pródigo.
    Deus quer-nos de coração aberto para acolher todos aqueles que a sua generosidade acolhe. É o que faz Paulo: não tem inveja dos seus compatriotas e alegra-se com a chamada dos pagãos à fé e à herança. Para ele, é uma enorme graça poder anunciar a todos os povos as insondáveis riquezas de Cristo.
    Cada um de nós, dehonianos, há-de unir-se cordialmente ao hino de acção de graças do Apóstolo, porque também nós somos herdeiros de gente a quem Deus alargou os dons da sua graça, e porque também nós somos chamados a anunciar esse projecto a todos os nossos contemporâneos. Nós personalizamos e vemos realizado este "projecto de salvação" e este "desígnio de amor" na experiência de fé do P. Dehon (cf. Cst. 2) e dos nossos primeiros religiosos (cf. Cst. 16), na nossa experiência de fé. Numa palavra, vemo-lo realizado na "história" passada, presente e futura da congregação, que se desenvolveu e se desenvolve, «nutrindo-se daquilo que a Igreja, iluminada pelo Espírito, retira constantemente do tesouro da sua fé» (Cst. 15). A vida da congregação é, de facto, uma pequena história da salvação. O Deus de Abraão, Isaac e Jacob, o Pai de Jesus, não é uma abstracção filosófica, mas revela-se concretamente actuando na história e na vida, em particular na Igreja, por meio do Espírito, fonte de todo o carisma e, portanto, do carisma de fundador do P. Dehon.

    Oratio
    Bendito és Tu, ó Pai, porque, no teu amado Filho, nos deste a redenção e nos revelaste o teu amor universal. O seu Lado aberto, e o seu Coração trespassado, donde jorra sangue e água, são o sinal mais expressivo desse amor que nos reconcilia e reúne na comunidade de amor que é a Igreja. Que a minha vida seja hoje uma eucaristia permanente de louvor, bênção e acção de graças pela tua misericórdia infinita. Que, animado pelo Espírito do teu Filho Jesus, me torne, cada vez mais, profeta do teu amor e servidor da reconciliação, na Igreja e no mundo. Amen.

    Contemplatio
    A Igreja saiu do Coração de Jesus. Meditemos este texto de S. Boaventura: «Para que a Igreja fosse tirada do peito de Cristo adormecido, a Providência divina quis que um soldado abrisse este peito com uma lança, a fim de que o sangue e a água correndo deste lado aberto fossem o preço da nossa salvação; e assim, acrescenta S. Boaventura, da fonte misteriosa do Coração de Jesus os sacramentos receberam a sua força para conferir a graça, e Cristo tornou-se a fonte das águas vivas que jorram para a vida eterna». S. João Crisóstomo diz também: «Não é fortuitamente, mas por um mistério divino que a água e o sangue jorraram do Coração de Jesus, era para formar a Igreja: Non casu et simpliciter hi fontes scaturierunt, sed quoniam ex ambobus Ecclesia constituta est».
    Foi assim que Eva saiu do lado de Adão durante o seu sono extático. E o primeiro homem exclamou ao contemplá-la: «Vós sois o osso dos meus ossos e a carne da minha carne». A Igreja, filha e esposa do Salvador, saiu também do seu Coração durante o sono místico da cruz.
    Foi, de facto, o amor deste divino Coração que formou o plano desta Igreja, sua Esposa celeste, à qual confiava o cuidado de continuar a sua missão sobre a terra. Foi este Coração divino, este amor inefável que mereceu à Igreja todas as graças que lhe são necessárias e que ela nos comunica pelos divinos sacramentos dos quais ela é a única e legítima dispensadora. (Leão Dehon, OSP 2, p. 385).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje esta palavra:
    «Bendito seja Deus, que nos abençoou em Cristo» (cf. Ef 1, 1).
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXVIII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    14 de Outubro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 1, 11-14
    Irmãos: 11Em Cristo que fomos escolhidos como sua herança, predestinados de acordo com o desígnio daquele que tudo opera, de acordo com a decisão da sua vontade, 12para que nos entreguemos ao louvor da sua glória, nós, que previamente pusemos a nossa esperança em Cristo. 13Foi nele, ainda, que vós ouvistes a palavra da verdade, o Evangelho que vos salva. Foi nele ainda que acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido, 14o qual é garantia da nossa herança, para que dela tomemos posse, na redenção, para louvor da sua glória.
    Ao concluir o hino sobre o projecto salvífico de Deus, o autor introduz o conceito de «predestinação», que tantas polémicas motivou na Igreja. O termo parecerá menos ambíguo, se o lermos à luz do conceito de «herança». Estamos predestinados à salvação no sentido em que Deus, em Jesus Cristo, nos redimiu, sem qualquer mérito da nossa parte, tornando-nos herdeiros da sua própria vida. Estamos todos salvos; mas, sendo livres, podemos recusar essa herança e, por isso, excluir-nos da salvação que nos foi dada gratuitamente. Portanto, dizer que estamos predestinados, não significa dizer que estamos necessariamente salvos: «Deus, que nos criou sem nós, não nos pode salvar sem nós» (S. Agostinho).
    Mas, sempre que a fé está pronta a acolher a salvação, manifesta-se a eficácia da vontade salvífica de Deus. Por isso, tanto os hebreus, como os pagãos, uma vez que acreditaram no Evangelho, tornaram-se herdeiros, recebendo, sem qualquer diferença, pelo baptismo, a antecipação dos bens futuros, isto é, o Espírito Santo, que torna possível, já na terra, a vida que havemos de viver plenamente depois da morte.
    Outro termo chave, que aparece na conclusão do hino, é «glória de Deus». Este termo tem na Bíblia um significado preciso. Trata-se da manifestação da sua presença e daquilo que Ele é. Os cristãos são chamados a ser «para louvor da sua glória» (v. 14c), isto é, a deixar transparecer, na santidade da sua vida, a beleza de Deus: «Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto» (Jo 15, 8ª).

    Evangelho: Lucas 12, 1-7
    Naquele tempo, 1a multidão tinha-se ajuntado por milhares, a ponto de se pisarem uns aos outros. Jesus começou a dizer primeiramente aos seus discípulos:«Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se. 3Porque tudo quanto tiverdes dito nas trevas há-de ouvir-se em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado sobre os terraços. 4Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. 5Vou mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, Eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer. 6Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus. 7Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais: valeis mais do que muitos pássaros.
    Os «ai de vós» dirigidos por Jesus aos fariseus e doutores da lei têm por objectivo alertar os discípulos para a necessidade de se defenderem da hipocrisia farisaica. Não se trata de avisos de natureza moral. Lucas escreve a comunidades que vêem chegar ao fim o tempo apostólico sem que se verifique a última vinda de Jesus para instaurar o Reino de Deus, a parusia. Além disso, essas comunidades estão ameaçadas por perseguições e por falsas doutrinas. Põe-se o problema da perseverança e da fidelidade. Lucas solicita aos cristãos um comportamento marcado pela autenticidade e pela clareza (vv. 2s.) e oferecendo-lhes uma palavra de consolação que se torna convite à confiança em Deus (vv. 4-7).
    Os cristãos, ao contrário dos fariseus, devem fazer com que as suas palavras correspondam ao que pensam e sentem, professando abertamente e sem medo a sua fé, custe o que custar, porque «nada há encoberto que não venha a descobrir se» (v.2). Quando vier o Filho do homem cairão por terra as astúcias e mentiras que se tornarão causa de condenação e não de salvação. O verdadeiro risco que os cristãos correm, no meio das perseguições, não é perder a vida do corpo, mas, sim, a vida verdadeira, a vida eterna. Lucas já tinha lembrado, ao apresentar as condições para o seguimento de Jesus que «quem quiser salvar a sua vida há-de perdê la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá la» (9, 24). Por outro lado, porque não havemos de nos abandonar a este Deus que cuida com amor das suas criaturas mais insignificantes (vv. 6s.)?

    Meditatio
    O valor e a beleza daquilo que Deus nos deu ao criar-nos e ao recriar-nos, em Jesus Cristo, deixa-nos sem palavras. Ficamos completamente espantados se pensarmos que todo esse bem foi posto nas nossas mãos e confiado à nossa liberdade. Deus manifesta uma imensa confiança em nós. Mas também nos entrega uma grande responsabilidade. Dá-nos tudo o que é preciso para correspondermos ao seu dom. Mas deixa-nos a nós determinar a nossa felicidade ou infelicidade eternas.
    Deus, para nos salvar, mandou o seu Filho à terra, numa carne semelhante à nossa para poder partilhar a nossa condição. Ao lembrar-nos o nosso destino eterno, não quer que nos alheemos do mundo em que vivemos, mas manifesta-nos o seu amor e apresenta-nos uma alternativa à nossa escolha: «Amei-te com um amor eterno e criei-te para que te regozijasses comigo eternamente. Não és capaz de chegar a Mim, mas Eu vou tomar-te a meu cuidado e tornar possível esse encontro. Apenas te peço que confies em Mim e correspondas ao meu amor, dando testemunho dele com simplicidade e coragem. Sozinho nada podes: vencerão em ti o medo, a lógica do compromisso, os instintos do egoísmo e as fraquezas da tua natureza, e irás perder-me para sempre. Que queres? Escolhe!»
    A nossa opção por Cristo e pelo Evangelho é garantia de salvação e felicidade eternas. De facto, Cristo é «Aquele que vive» (Ap 1, 18). A vida é a primeira realidade que S. João realça no Verbo eterno de Deus: «N´Ele estava a vida...» (1, 4) e só porque é "vida", o Verbo é «luz dos homens» (1, 5).
    Em Cristo, "primogénito" (Cl 1, 15), isto é, primeiro projectado, "primícias" dos "santos" e dos "ressuscitados" (cf. Jo 1, 17; 1 Cor 15, 20; Cl 1, 18) nós todos «fomos projectados, pensados, queridos, escolhidos e repletos de todas as bênçãos, já antes da fundação do mundo» (Ef 1, 3-6) (A. Carminati, SCJ).
    «O seu Caminho é o nosso caminho», afirma o n. 12 das Constituições. E nós percorremos Cristo-Caminho, com a nossa vida religiosa dehoniana, tendo fixo o olhar no Lado aberto do Crucificado e no Coração de Cristo, fonte de vida eterna (cf. Cst. 20).

    Oratio
    Senhor, o teu amor envolve-me. Amaste-me no começo da minha existência, amas-me no decurso da minha vida, e continuarás a amar-me eternamente. Obrigado, Senhor, porque pensaste em mim. Obrigado por me teres amado e continuares a amar. Obrigado pelos dons com que me cumulaste. Obrigado por tudo quanto pensaste para mim. Obrigado pela estima que me dedicas. Obrigado porque me fizeste livre, e continuas a respeitar a minha liberdade, mesmo quando a uso mal. Obrigado, sobretudo, porque não me queres objecto passivo da tua generosidade, mas fazes depender tudo do meu "sim" de amor. Atrai-me para Ti, para que possa ser a tua alegria e a tua glória. Amen.

    Contemplatio
    Se Deus não tivesse concedido ao homem senão os dons naturais, isso já teria sido bastante, e, no entanto, isso não teria sido nada em comparação com aquilo que Ele quis fazer. Por puro amor, por bondade, pressionado pela necessidade de se comunicar a si mesmo tanto quando possível, Ele acrescentou os dons sobrenaturais: a integridade, a imortalidade, a ciência infusa, e, o que tudo ultrapassa, a adopção divina... que nos torna filhos e como irmãos de Deus. «Ego dixi: dii estis et filii Excelsi omnes» (Sl 81, 6. Cf Jo 10, 34). É por este dom sublime que nós somos, ainda mais do que pelas nossas faculdades naturais, a imagem e a semelhança de Deus. «Faciamus hominem ad imaginem et similitudinem nostram»: Façamos o homem, dizem as três pessoas divinas, como um de entre nós, façamo-lo à nossa imagem, pelos dons naturais; façamo-lo à nossa semelhança, pelos dons sobrenaturais; façamos um conselho para formar o homem à nossa imagem e à nossa semelhança pela adopção divina. É deste homem divinizado que fala S. Paulo quando diz: «novum hominem qui creatus est secundum Deum: o novo homem que foi criado conforme a Deus, semelhante a Deus, na justiça e na santidade» (Ef 4, 24). (Leão Dehon, OSP 2, p.

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje esta palavra:
    «Não temais... valeis mais que muitos pássaros» (cf. Lc 12, 4-7).
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXVIII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares


    15 de Outubro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVIII Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Efésios 1, 15-23
    Irmãos: 15Desde que ouvi falar da vossa fé no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os santos, 16não cesso de dar graças a Deus por vós, quando vos recordo nas minhas orações. 17Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê o Espírito de sabedoria e vo-lo revele, para o conhecerdes; 18sejam iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes que esperança nos vem do seu chamamento, que riqueza de glória contém a herança que Ele nos reserva entre os santos 19e como é extraordinariamente grande o seu poder para connosco, os crentes, de acordo com a eficácia da sua força poderosa, 20que eficazmente exerceu em Cristo: ressuscitou-o dos mortos e sentou-o à sua direita, no alto do Céu, 21muito acima de todo o Poder, Principado, Autoridade, Potestade e Dominação e de qualquer outro nome que seja nomeado, não só neste mundo, mas também no que há-de vir. 22Sim, Ele tudo submeteu a seus pés e deu-o, como cabeça que tudo domina, à Igreja, 23que é o seu Corpo, a plenitude daquele que tudo preenche em todos.
    Depois de ter cantado o magnífico projecto salvífico de Deus, Paulo alegra-se porque, tendo sido informado sobre a fé dos destinatários da carta, os vê participantes da herança conquistada por Cristo, e que por Ele nos é oferecida. Essa participação já se nota na caridade activa das igrejas da Ásia. Por isso, o Apóstolo pede ao Pai, para elas, o dom do «espírito de sabedoria e de revelação» para que possam penetrar cada vez mais no mistério e permanecer firmes na fé. Mas o Espírito Santo é também amor. Ora, o amor gera o conhecimento e o conhecimento gera o amor. O cume deste conhecimento amoroso está em saber-se amados. A experiência de ser amado por Deus mostra-nos a grandeza dos bens que nos esperam, a dignidade a que fomos elevados, bem como a poderosa eficácia da redenção operada por Cristo (vv. 20s.). A Igreja, submetida a Cristo, sua cabeça, recebe d´Ele a vida e todos os bens para, como um corpo, crescer e chegar à «medida completa da plenitude de Cristo» (4, 13).

    Evangelho: Lucas 12, 8-12
    Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 8Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também o Filho do Homem se declarará por ele diante dos anjos de Deus. 9Aquele, porém, que me tiver negado diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus. 10E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, há-de perdoar-se; mas, a quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo, jamais se perdoará. 11Quando vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de dizer em vossa defesa, 12pois o Espírito Santo vos ensinará, no momento próprio, o que deveis dizer.»
    Lucas provavelmente reúne neste texto um conjunto de palavras de Jesus para encorajar os cristãos que enfrentam as perseguições e os desafios do mundo. Também lhes oferece critérios de comportamento. É preciso enfrentar o presente com uma perspectiva escatológica, porque o «hoje» determina a eternidade. Uma vez que «não há outro nome (além do de Jesus) dado aos homens ... para que sejam salvos» (cf. Act 4, 12), a salvação oferecida por Deus depende do reconhecimento público de Jesus.
    Isto parece estar em contradição com o que se diz no versículo seguinte (v. 10). Há que distinguir. Alguns autores pensam que Lucas compreenda a dificuldade que alguns sentem em reconhecer no Jesus terreno o Salvador. Por isso, acha admissível que se «fale contra o Filho do homem»; mas não há perdão para quem blasfemar «contra o Espírito Santo», isto é, quando a liberdade humana recusa aderir à verdade que lhe é interiormente revelada pela graça de Deus. Neste caso, não dar testemunho diante dos homens, torna-se infidelidade e motivo de condenação. Pelo contrário, quando a acção do Espírito é acolhida pelo crente, este pode estar certo do apoio do Espírito no momento em que for chamado a dar testemunho diante dos homens.

    Meditatio
    As leituras de hoje são um convite à fé corajosa e à esperança firme na força do Espírito Santo. S. Paulo pede para os cristãos de Éfeso, sobretudo, um aumento da fé: «Irmãos: não cesso de dar graças a Deus por vós, quando vos recordo nas minhas orações; Que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê o Espírito de sabedoria e que vo-lo revele, para o conhecerdes» (vv. 15-17).
    Na verdade, devemos rezar sempre para termos os olhos mais abertos, isto é, para alcançarmos um conhecimento cada vez maior do mistério de Cristo, e assim progredirmos na caridade.
    E o Apóstolo continua: «sejam iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais que esperança nos vem do seu chamamento, que riqueza de glória contém a herança que Ele nos reserva entre os santos e como é extraordinariamente grande o seu poder para connosco, os crentes, de acordo com a eficácia da sua força poderosa, que eficazmente exerceu em Cristo: ressuscitou-o dos mortos» (vv. 18-20). Paulo reza também para que cresça nos fiéis a esperança. E a nossa esperança fundamenta-se totalmente na Ressurreição de Cristo, na qual o Pai manifestou todo o seu poder, que agora está ao nosso dispor por meio de Jesus.
    O hino de Paulo desenvolve-se, de admiração em admiração, recordando aquilo que o Pai realizou em Cristo, ressuscitando e colocando-O à sua direita na glória, constituindo-O cabeça de toda a realidade, particularmente da Igreja, que é seu corpo e plenitude.
    Os pensamentos do Apóstolo são densos e difíceis de compreender. Mas podemos juntar-nos a ele na acção de graças, na admiração, na oração, pedindo que os enormes dons que Deus derramou sobre nós nos encontrem sempre disponíveis para os acolher. Então a nossa fé, a nossa esperança, a nossa caridade aumentarão a sua glória.
    É bom, para nós dehonianos, meditar e rezar o plano salvífico de Deus à luz do Lado aberto do Crucificado (cf. Cst. 21) para chegarmos ao tesouro mais precioso da Igreja o Coração de Cristo (cf. Cst. 28).
    Seremos assim «fortalecidos na nossa vocação» (Cst. 21), sentindo-nos cada vez mais inseridos no «movimento do amor redentor», iniciado na Criação e consumado na Morte e Ressurreição de Cristo e, solidários com Cristo, dar-nos-emos aos irmãos, com e como Ele (cf. Cst. 21).
    Deste modo, a nossa oblação tornamo-nos participantes na obra de reconciliação que cura a humanidade, a reúne no Corpo de Cristo e a consagra para Glória e Alegria de Deus (cf. Cst. 25). Do "dom da fé" (Cst. 9) cheg&aacu
    te;mos ao dom de nós mesmos (cf. Cst. 21) "para Glória e Alegria de Deus" (Cst. 25).

    Oratio
    Pai, que a nossa fé se torne caridade para com os irmãos. Só assim daremos um testemunho inequívoco do teu amor e do teu projecto de salvação para todos. Quantas vezes nos acobardámos e não demos testemunho, não tanto com palavras, mas com obras. Dá-nos o teu Espírito Santo, para que, decididamente, possamos inserir-nos no movimento de amor redentor que desencadeaste na criação e consumaste na Morte e na Ressurreição do teu Filho Jesus. Então, fortalecidos e animados, dar-nos-emos aos irmãos, com Cristo e como Ele, tornando credível o nosso testemunho de fé, para que o mundo creia. Amen.

    Contemplatio
    A Igreja, inspirando-se no Coração sacerdotal de Jesus, libertou os escravos. Elevou os escravos, por degraus, à servidão, ao proletariado; conduzi-los-á à participação, à cooperação, à igualdade cívica.
    Organizou as comunas, as corporações, as ordens redentoras. /605
    Com S. Francisco, subtraiu o povo às durezas do direito feudal.
    Remediou o proletariado através das obras, dos orfanatos, dos hospitais, das sociedades de caridade.
    Trajano e Marco Aurélio submetiam os escravos e os vencidos aos trabalhos forçados e às lutas no anfiteatro. Voltaire e os filósofos escarneciam o povo que não prestava senão para comer feno. Cristo e os apóstolos promulgavam a fraternidade universal.
    Ó padres, dedicai-vos às obras antigas e às novas.
    Ajudai a imprensa popular.
    Favorecei os círculos de estudo, as conferências, os retiros que formam apóstolos.
    Ide ao povo por um método apostólico, unido ao método administrativo.
    Ide ao povo pela reivindicação da justiça e do direito em seu favor.
    Ide ao povo favorecendo os seus interesses, as suas recriações honestas.
    «Quanto ao que toca à fraternidade, diz S. Paulo aos Tessalonicenses (c. 4), isto sobressai de tal modo do Evangelho, que não tenho propriamente necessidade de vos falar disto» (Leão Dehon, OSP 2, p. 604s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje esta palavra:
    «A tua glória, Senhor, é o homem vivo» (da Liturgia).
    | Fernando Fonseca, scj |

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