24 de Janeiro, 2025

S. Francisco de Sales, Bispo e doutor da Igreja

S. Francisco de Sales, Bispo e doutor da Igreja


24 de Janeiro, 2025

Nasceu em Thorans, pequena aldeia da Saboia francesa, em 1567. Tendo recebido uma boa educação na família, estudou num colégio de Jesuítas, em Paris e, depois, frequentou a universidade de Pádua, onde se formou em Direito. Contrariando as expetativas do pai, abraçou a vida eclesiástica e dedicou-se com sucesso à evangelização. Nomeado bispo de Genebra, desenvolveu grande atividade na reforma da diocese e exerceu profícuo apostolado entre os protestantes. Para além da sua iluminada atividade pastoral, dedicou-se à direção espiritual de muitas pessoas, escrevendo as preciosas obras de espiritualidade para todos, particularmente para os leigos, intituladas Filoteia, ou Introdução à vida devota, e Teotimo, ou tratado do amor de Deus. Com Santa Joana de Chantal, fundou a Visitação. Faleceu em 1622. É padroeiro da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos, e dos jornalistas católicos.
Lectio
Primeira leitura: Efésios 3, 8-12

Irmãos, a mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo 9e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas 10para que agora, por meio da Igreja, seja dada a conhecer, aos Principados e às Autoridades no alto do Céu, a multiforme sabedoria de Deus, 11de acordo com o desígnio eterno que Ele realizou em Cristo Jesus Senhor nosso. 12Em Cristo, mediante a fé nele, temos a liberdade e coragem de nos aproximarmos de Deus com confiança.

Paulo apresenta-se como ministro do mistério de Cristo, não por iniciativa própria, mas por vocação e graça. O seu trabalho de evangelizador dos pagãos é um dom recebido e uma missão a realizar. Deus tinha um desígnio arcano (mysterium), preparado longamente e agora revelado, na sua realização, a Paulo, de modo particular. Por meio dele, Deus quer revelá-lo a todos, especialmente aos pagãos. O conteúdo do mistério é o seguinte: todos são chamados a conhecer a extraordinária sabedoria de Deus, que também representa a extraordinária riqueza de Cristo.
Evangelho: João 10, 11-18

Naquele tempo, Jesus disse: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. 12O mercenário, e o que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo e abandona as ovelhas e foge e o lobo arrebata-as e espanta-as, 13porque é mercenário e não lhe importam as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, 15assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e ofereço a minha vida pelas ovelhas. 16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor. 17É por isto que meu Pai me tem amor: por Eu oferecer a minha vida, para a retomar depois. 18Ninguém ma tira, mas sou Eu que a ofereço livremente. Tenho poder de a oferecer e poder de a retomar. Tal é o encargo que recebi de meu Pai.»

A figura do pastor é comum na tradição hebraica para indicar o rei de Israel e a relação do crente com Deus, o pastor por excelência. Jesus identifica-se com essa imagem, aprofundando-a e levando-a à sua plena realização. Ele é o pastor belo (kalós) e bom não só na aparência, mas também na qualidade. É o autêntico pastor. O termo "belo" ou "bom" significa suave e afável, mas, sobretudo, autêntico. Jesus é o novo David, chefe e guia conforme o coração de Deus. É pastor, não só de Israel, mas também de "outras ovelhas" como os samaritanos e os pagãos, que são filhos de Deus dispersos e devem ser reconduzidos ao redil e à salvação, conforme o desígnio do Pai.
Meditatio

S. Francisco de Sales foi o pastor belo e bom que tornou amável o rosto da Igreja num tempo de grandes contrastes e lutas. Como Cristo, entregou-se e consumiu a sua vida, não só pelas ovelhas do redil, mas também pelas que andavam perdidas. Foi esse dar a vida por todos que abriu os olhos a muitas ovelhas "perdidas". S. Francisco de Sales foi, nos séculos XVI e XVII, o pastor autêntico, preocupado exclusivamente em dar a própria vida, arriscando-a em situações por vezes muito difíceis para evangelizar, servir a sua diocese e restaurar a vida da Igreja nas dioceses de Genebra e Annecy. Em tudo se deixa conduzir pelo princípio do amor puro, como disponibilidade incondicional ao projeto de Deus. É isso que também ensina às pessoas sedentas de perfeição cristã.
É um verdadeiro repouso para a alma contemplar este santo, ler os seus escritos, tal é a sua caridade, a paciência e o otimismo que exala. A fonte de tudo isto está na esperança em Deus, ao qual se entrega para servir sem reservas o seu povo.
Francisco de Sales exultava de alegria ao pensar que toda a lei se resume no mandamento do amor e que não devemos ter medo de amar excessivamente.
O P. Dehon aponta-o como um "santo do Coração de Jesus". E justifica: "A grande obra da sua piedade foi a fundação da Visitação donde saiu a devoção ao Sagrado Coração", uma evidente alusão a Santa Margarida Maria, visitandina, favorecida com extraordinárias revelações de Jesus e apóstola do seu Coração.
Oratio

Amável santo, vós sois um dos mestres da devoção ao Sagrado Coração. Haveis formado tão bem a Ordem da Visitação, que Nosso Senhor aí encontrou um campo bem preparado para lá semear esta bela devoção. Preparai também os nossos corações. Por vossa intercessão, purificai-nos e formai-nos ao apostolado do Coração de Jesus. (Leão Dehon, OSP 3, p. 103).
Contemplatio

S. Francisco de Sales é modelo de mansidão. É a característica da sua vida. Foi suave como o bom Mestre. Não o era por natureza, mas tornou-se pelos seus esforços e pela graça de Deus. Imagem perfeita do Bom Pastor, vai através de todas as fadigas procurar as ovelhas perdidas. Fala às pessoas pobres, aos pastores das montanhas com uma bondade que os enternece. Entra nas suas necessidades e nas suas mágoas e assiste-os com a sua bolsa e os seus bens. A sua reputação de mansidão é conhecida longe... A sua caridade sem limites punha em desespero o seu ecónomo, mas o caro santo mostrava-lhe o crucifixo e dizia-lhe: "Como é que hesitaremos em despojar-nos, quando vemos o que um Deus fez por nós". A doçura era a sua virtude dominante. Dizia um dia que tinha estado três anos a estudar na escola de Jesus Cristo e que não podia contentar-se lá em cima. Algumas pessoas tendo-o um dia censurado por causa da sua indulgência para com os pecadores, respondeu-lhes: "Se houvesse alguma coisa melhor que a mansidão, Deus no-la teria ensinado. Mas ele não nos recomenda senão duas coisas, ser mansos e humildes de coração. Quereis impedir-me de observar o mandamento de Deus e de imitar o mais que puder a virtude da qual nos deu o exemplo?" (Leão Dehon, OSP 3, p. 102).
Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
"O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (Jo 10, 11b).
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S. Francisco de Sales, Bispo e doutor da Igreja (24 Janeiro)

Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sexta-feira

Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sexta-feira

24 de Janeiro, 2025

Tempo Comum - Anos Ímpares - II Semana - Sexta-feira

Lectio

Primeira leitura: Hebreus 8, 6-13

Irmãos: 6Jesus obteve um ministério tanto mais elevado, quanto maior é a aliança de que é mediador, a qual foi estabelecida sobre melhores promessas. 7Se, na verdade, a primeira fosse perfeita, não haveria lugar para a segunda. 8De facto, censurando-os, diz: Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova, 9não como a aliança que fiz com os seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os fazer sair do Egipto; porque eles não permaneceram na minha aliança, também Eu me desinteressei deles - diz o Senhor. 10Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, depois daqueles dias. Diz o Senhor: Porei as minhas leis na sua mente e as imprimirei nos seus corações; serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 11Ninguém ensinará o seu próximo nem o seu irmão, dizendo: 'Conhece o Senhor'; porque todos me conhecerão, do mais pequeno ao maior, 12pois perdoarei as suas iniquidades e não mais me lembrarei dos seus pecados. 13Ao falar de uma aliança nova, Deus declara antiquada a primeira; ora, o que se torna antiquado e envelhece está prestes a desaparecer.

Depois de centrar a atenção no sacerdócio de Cristo, o autor da Carta aos Hebreus passa para o tema da Nova Aliança. Um sacerdócio novo implica uma lei nova. Por sua vez, uma lei nova implica uma aliança nova, uma aliança que substitua a antiga. Jesus é o mediador dessa nova aliança: «este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós» (Lc 22, 20), disse o Senhor na última Ceia. Em cada eucaristia, no momento da consagração, revivemos admirados e comovidos o mistério da «Aliança nova» (v. 13): «Este é o cálice do meu Sangue, do Sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos, para remissão dos pecados». O autor detém-se a descrever a «aliança nova» servindo-se de Jr 31. Com a «aliança nova», Deus ultrapassa a Aliança antiga, que fora selada por ritos exteriores. O povo quebrou essa aliança. Mas Deus náo se rendeu e estipulou outra aliança destinada a penetrar no íntimo do homem, na sua mente e no seu coração. Deus nunca desiste de Se dar a conhecer ao homem nem de ser por ele amado. Na Aliança nova, finalmente, cada um «conhecerá», isto é amará Aquele que é misericórdia e perdão (Ex 34, 6s.) A cruz do seu Filho muito amado, Jesus, será o lugar da suprema manifestação de Deus.

Evangelho: Marcos 3, 13-19

Naquele tempo, 13Jesus subiu a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. 14Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar, 15com o poder de expulsar demónios. 16Estabeleceu estes doze: Simão, ao qual pôs o nome de Pedro; 17Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais deu o nome de Boanerges, isto é, filhos do trovão; 18André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Cananeu, 19e Judas Iscariotes, que o entregou.

Deus não desiste de ligar mais intimamente a Si a humanidade, como já vimos na primeira leitura. Por meio de Jesus, escolhe alguns que experimentem mais profundamente o seu amor e se tornem testemunhas, arautos na nova Aliança junto dos irmãos. É para isso que Jesus forma a sua nova família, um grupo de pessoas dispostas a acolhê-lo, que também devem converter-se. Falar de família, é acentuar a relação pessoal e afectiva que deve existir entre Jesus e os seus discípulos, que são o germe do novo Israel, os fundamentos da futura Igreja.
Tudo acontece sobre um «monte». Os montes são lugares propícios para as revelações de Deus (cf. 6, 43; 9, 2). As grandes decisões de Deus sobre o seu povo foram tomadas sobre os montes (cf. Ex 1, 20; 24, 12; Num 27, 12; Dt 1, 6-8, etc). Aqui é Cristo que chama, escolhe e constitui a comunidade. Marcos não diria isto, se não acreditasse que Jesus era Deus. O grupo é convocado para «ir ter com Ele» (v. 13 e, em primeiro lugar, para «estar com Ele» (v. 14). O novo povo de Deus constitui-se à volta de Jesus, que se apresenta como referência absoluta, assumindo uma função que pertencia à Lei. Isto causava escândalo aos Judeus. Os discípulos recebem os próprios poderes de Jesus, actuando com a força do Evangelho. A vocação implica a missão de testemunhar o amor de Deus pelos homens.

Meditatio

Na primeira leitura, escutamos o belo texto de Jeremias sobre a «aliança nova» (v. 8), que trará uma viragem na relação dos homens com Deus. A «aliança nova» não será «como a aliança que fiz com os seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os fazer sair do Egipto» (v. 9), diz o Senhor. A primeira aliança ficava pelo exterior, pela observância da Lei dada por Deus. Mas, sendo exterior, a Lei tornava-se, sobretudo, um obstáculo para muitos, porque, quando uma lei é imposta, a primeira reacção do homem é opor-se a ela. Os hebreus veneravam a Lei, mas poucos a observavam de verdade. Aliás, o profeta anuncia a aliança nova num tempo em que, por causa das graves violações da Lei, Deus castigara severamente o seu povo com a destruição do Templo e com o exílio em Babilónia. Mas é exactamente nesse momento dramático que Deus surpreende com a promessa de uma aliança nova e de uma Lei, não já escrita em tábuas de pedra, mas nas mentes e nos corações: «Porei as minhas leis na sua mente e as imprimirei nos seus corações» (v. 10). Isto quer dizer que os homens estarão intimamente de acordo com Deus, amarão a sua vontade, terão desejo de cumpri-la, terão a mesma vontade e os mesmos desejos de Deus. É a aliança instituída por Jesus com o seu sacrifício. Ele mesmo se torna a nossa lei na caridade universal. Afirmamo-lo na eucaristia: «Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança». Esta aliança definitiva e perfeita, une-nos definitivamente com Deus e une-nos entre nós. É bom lembrarmos isto, numa época do ano em que as igrejas cristãs rezam pela unidade.
O evangelho apresenta-nos outra condição para a unidade: a eleição dos Doze, a instituição que exprime a pluralidade na unidade, a que se deve aderir para estar unidos a Deus. As divisões na igreja têm origem na falta de fé e de adesão à autoridade. Os pastores da Igreja são certamente homens fracos e imperfeitos. Mas Jesus constituiu-os para conservarem a unidade. Por há que rodeá-los de afecto e compreensão. Cristo Jesus está com eles!
«Que todos sejam um só. Como Tu, ó Pai, estás em Mim, e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste», rezava Jesus (Jo 17, 21). Notemos a insistência do Senhor, não só sobre a unidade no amor, mas também so
bre a dimensão missionária da comunidade cristã unida no amor. O mesmo se pode dizer da comunidade religiosa. «Ut sint unum» é um dos motes caros ao Pe. Dehon.

Oratio

Pai santo, nós Te bendizemos, por nos teres dado o teu Filho Jesus. Ele levou até ao extremo o seu amor por nós e entregou a sua vida para nos reunir na tua família. Escuta mais uma vez a sua oração que, pela nossa boca, se ergue para Ti: «Pai, guarda-os no teu amor de modo que sejam um só, como Tu estás em Mim e Eu em Ti». Aceita a oblação da nossa vida fraterna, as alegrias e os sofrimentos que partilhamos, o compromisso de vivermos reconciliados. Anima com o teu Espírito as nossas comunidades, para que permaneçam no teu amor e experimentem a plenitude da tua alegria. Amen.

Contemplatio

O cenáculo e o calvário eram o ponto final dos sacrifícios da antiga lei. Jesus era o verdadeiro cordeiro, sacrificado de uma maneira mística no cenáculo e de uma maneira sangrenta no calvário. Dos dois lados Jesus oferece o seu corpo e o seu sangue: «Eis o meu corpo que é entregue por vós, diz no cenáculo; eis o meu sangue que será derramado por vós». É o sacrifício novo, é a oblação pura que será oferecida por toda a parte segundo a profecia de Malaquias. Todos os caracteres dos antigos sacrifícios encontram-se aí reunidos. É o mais perfeito dos holocaustos, o único capaz de dar a Deus uma glória infinita, porque um Deus nele se humilha até tomar as aparências mais humildes. É um sacrifício eucarístico, onde Jesus Cristo mesmo se encarrega de pagar a dívida do nosso reconhecimento. É um sacrifício propiciatório: o Salvador tomou ele mesmo os nossos pecados no seu corpo, para que morrêssemos para o pecado e vivêssemos na justiça (1Pd 2, 24). É um sacrifício impetratório: Jesus é o nosso advogado junto de seu Pai (Jo 2, 1). É uma fonte infinita de graças. Os sacrifícios da antiga lei não lhe podem ser comparados. Deus dizia no Sl 49: Não tenho necessidade dos vossos gemidos nem dos vossos carneiros, é um sacrifício de louvor, um sacrifício espiritual que desejo: e no Sl 39: não quero mais os vossos holocaustos e as vossas oferendas. E o Verbo de Deus respondeu ao seu Pai: Eis-me aqui, venho oferecer o meu corpo e o meu sangue como um sacrifício voluntário que substituirá todos os da antiga lei. (Leão Dehon, OSP 4, p. 241s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Que todos sejam um só» (Jo 17, 21)