Week of Set 25th

  • XXVI Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    26 de Setembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Segunda-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Job 1, 6-22
    6Um dia em que os filhos de Deus se apresentavam diante do Senhor, o acusador, Satan, foi também junto com eles. 7O Senhor disse-lhe: «Donde vens tu?» Satan respondeu: «Venho de dar uma volta ao mundo e percorrê-lo todo.» ? Senhor disse-lhe: «Reparaste no meu servo Job? Não há ninguém como ele na terra: homem íntegro, recto, que teme a Deus e se afasta do mal.» 9Satan respondeu ao Senhor: «Porventura Job teme a Deus desinteressadamente? 10Não rodeaste Tu com uma cerca protectora a sua pessoa, a sua casa e todos os seus bens? Abençoaste o trabalho das suas mãos, e os seus rebanhos cobrem toda a região. 11Mas se estenderes a tua mão e tocares nos seus bens, verás que te amaldiçoará, mesmo na tua frente.» 12Então, o Senhor disse a Satan: «Pois bem, tudo o que ele possui deixo-o em teu poder, mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa.» E Satan saiu da presença do Senhor. 13Ora, um dia em que os filhos e filhas de Job estavam à mesa, e bebiam vinho na casa do irmão mais velho, 14um mensageiro foi dizer a Job: «Os bois lavravam e as jumentas pastavam perto deles. 15De repente, apareceram os sabeus, roubaram tudo e passaram os servos a fio de espada. Só escapei eu para te trazer a notícia.» 16Estava ainda este a falar, quando chegou outro e disse: «Um fogo terrível caiu do céu; queimou e reduziu a cinzas ovelhas e pastores. Só escapei eu para te trazer a notícia.» 17Falava ainda este, e eis que chegou outro e disse: «Os caldeus, divididos em três grupos, lançaram-se sobre os camelos e levaram-nos, depois de terem passado os servos a fio de espada. Só eu consegui escapar, para te trazer a notícia.» 18Ainda este não acabara de falar, e eis que entrou outro e disse: «Os teus filhos e as tuas filhas estavam a comer e a beber vinho na casa do irmão mais velho 19quando, de repente, um furacão se levantou do outro lado do deserto e abalou os quatro cantos da casa, que desabou sobre os jovens. Morreram todos. Só eu consegui escapar, para te trazer a notícia.» 20Então, Job levantou-se, rasgou as vestes e rapou a cabeça. Depois, prostrado por terra em adoração, 21disse: «Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor!» 22Em tudo isto, Job não cometeu pecado, nem proferiu contra Deus nenhuma insensatez.
    Mais que do sofrimento, o livro de Job trata do comportamento do justo na provação. É a provação que revela o coração do homem e a gratuidade da sua fé. A provação é para todos, também para os melhores. Job era «um homem íntegro e recto, que temia a Deus e se afastava do mal» (1, 1). Não havia razão para ser tentado. Mas a provação bateu-lhe à porta. Experimenta a sua fé. Mostra se Job procura a Deus com fé «pura» ou se, pelo contrário, busca a si mesmo. Job sai vencedor da provação: «Em tudo isto, Job não cometeu pecado» (v. 22ª).
    O texto começa por narrar uma assembleia de anjos no céu, descrita à maneira das assembleias reais nas cortes, ou à dos deuses nas montanhas. As personagens são três: Job, homem justo e rico, que vivia em Uz, fora de Israel, e que até ao momento tinha sido abençoado por Deus; Satanás, que se apresenta para acusar os homens; Deus, que acompanha os homens e as suas acções. - «Porventura Job teme a Deus desinteressadamente?» (v. 9) - pergunta Satanás. .» E acrescenta: «Se estenderes a tua mão e tocares nos seus bens, verás que te amaldiçoará, mesmo na tua frente» (v. 11). Verás se Job Te ama gratuitamente. Deus condescende com Satanás, mas não deixa de confiar em Job.
    Segue um rol de desgraças (vv. 13-22) que submetem Job a dura provação. Perde os bens, os filhos, os servos. Mas, com desgosto para Satanás, Job continua a bendizer a Deus e vence a prova. A sua fé não vacila. Prostra-se por terra e diz: «Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor!» (v. 21). Satanás perde a aposta.

    Evangelho: Lucas 9, 46-50
    Naquele tempo, 46veio-lhes então ao pensamento qual deles seria o maior. 47Conhecendo Jesus os seus pensamentos, tomou um menino, colocou-o junto de si 48e disse-lhes:«Quem acolher este menino em meu nome, é a mim que acolhe, e quem me acolher a mim, acolhe aquele que me enviou; pois quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande.» 49João tomou a palavra e disse: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome e impedimo-lo, porque ele não te segue juntamente connosco.» 50Jesus disse-lhe: «Não o impeçais, pois quem não é contra vós é por vós.»
    O evangelho de hoje lembra-nos duas atitudes fraternas muito comuns na vida dos santos, também do Pe. Dehon. A primeira atitude é a da humildade, que se opõe a toda a ambição (vv. 46-48). Outra é a tolerância (cf. Vv. 49 ss.). São temas frequentes nos evangelhos que, no fundo, sublinham a necessidade de ultrapassar a auto-suficiência de quem aspira a títulos e dignidades, bem como o orgulho de grupo, que se pode encontrar em algumas comunidades cristãs e mesmo nas comunidades de consagrados. Põe vezes, pensa-se que os mais importantes são os que possuem mais dotes ou responsabilidades na gestão dessas comunidades. Por outro lado, é bastante espontâneo o desejo de ser o primeiro num grupo. Também os apóstolos caem nesse engano. Discutem sobre o lugar que ocupam e sobre quem é o primeiro entre eles. Mas Jesus não embarca nesse tipo de discussões. Toma uma criança e coloca-a ao seu lado, no lugar de maior dignidade, afirmando: «quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande» (v. 48b). O pequeno é grande porque é fraco e pobre: é pequeno de corpo, precisa dos outros, não tem liberdade de acção, é inútil. É símbolo do discípulo último e pobre. Mas também é imagem de Jesus que se abandona nos braços do Pai: «Quem acolher este menino em meu nome, é a mim que acolhe, e quem me acolher a mim, aco¬lhe aquele que me envio» (v. 48ª).
    Perante a atitude ciumenta dos apóstolos, Jesus ensina a tolerância: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome e impedimo lo, por¬que ele não te segue juntamente connosco.» (v. 49). Mas Jesus não está de acordo: «Não o impeçais» (v. 50). O discípulo deve ter um coração aberto e tolerante. Deus envia quem quer a anunciar a palavra e a fazer o bem. Não tem necessariamente que pertencer ao grupo de Jesus ou que ser importante. Não conta o arauto: conta a mensagem, o evangelho anunciado. Deus tem muitos modos de falar aos homens.

    Meditatio
    A contemplação de Jesus crucificado, a que somos convidados pelas leituras de hoje, tem consequências em toda a situação humana. De Job, aprendemos que a nossa verdadeira grandeza se revela em amar sempre, e em todas as situações, o «desmesurado amor» (Ef 2, 4) de Deus, mesmo no meio dos maiores sofrimentos.
    Job dá-nos um maravilhoso exemplo de adoração, numa situação de extremo sofrimento. É, talvez, mais fácil reconhecer a Deus, quando tudo corre bem, porque é mais espontâneo pensarmos num deus ao nosso serviço, do que em Deus em Quem podemos confiar e confiar-nos quando parece longe de nós, e até contra nós. Job sabe que depende de Deus e confia n´Ele na fortuna e na desgraça. Ao contrário do que pensa Satanás, é capaz de um amor gratuito. Por isso, despojado de todos os bens, confia-se totalmente a Deus: «Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor!» (v. 21). Job resistiu à tentação e abriu o coração a Deus. Por isso, adora.
    Despojado de todos os bens, Job torna-se imagem viva da palavra de Jesus: «quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande» (v. 48b). Só quando está completamente «nu» diante de Deus e do Amor Crucificado, é que o homem se torna realmente grande. Job ainda não o podia compreender completamente, mas permaneceu igualmente fiel. Nós, que já contemplamos Cristo Crucificado, podemos compreendê-lo e compreender o sentido da adoração. Só o pobre é capaz de adorar, como Cristo adorou na cruz. É certamente um ideal difícil. Mas é possível, com a força do Senhor. O importante é não esquecermos Jesus Crucificado.
    Cada um de nós, cada uma das nossas comunidades, está sujeito a sofrimentos e a provações no corpo, no espírito, na comunidade, no apostolado. Cada um de nós está sujeito à experiência da fraqueza e da fragilidade. Mas, na medida em que nos abrirmos ao Espírito, poderemos, em qualquer circunstância da vida, experimentar os Seus preciosos dons, tais como a sabedoria e o santo temor de Deus, bem como os Seus saborosos frutos, tais como a caridade, a alegria, a paz, a paciência, a bondade, a benevolência, a mansidão, a humildade, a fidelidade a Cristo e o abandono de amor ao Espírito (cf. Gl 5, 22.25). Assim, podemos praticar as bem-aventuranças e tornar-nos, na nossa pequenez, antecipadamente, parte dos «novos céus» e da «nova terra», nos quais «habita a justiça» (2 Pe 3, 13). Assim contribuiremos para a realização da «civilização do amor», em harmonia com a experiência de fé e a vida do P. Dehon, bem como com os ideais das nossas Constituições.

    Oratio
    Senhor Jesus Crucificado, dá-nos a graça de experimentar o teu amor no sofrimento e nas provações. Abre-nos o coração e mostra-nos o sentido oculto das experiências dolorosas, com que despedaças a nossa ignorância. Que na prosperidade ou no infortúnio, no sucesso ou no insucesso, na saúde ou na doença, experimentemos a presença do teu "desmesurado amor". Que a contemplação do teu Lado aberto e do teu Coração trespassado nos permita entrever o coração do Pai. Que na nossa pobreza e humilhação resplandeça o seu amor.
    Dá-nos a graça de acolhermos os sofrimentos e as provações como ocasiões para entrarmos, de mente e coração, no teu mistério inefável de amor. Que a nossa pobreza e pequenez seja acolhida como graça que nos dás para nos conhecermos cada vez mais e crescermos na confiança em Ti. Nós to pedimos por intercessão de Maria que, tão provada pelo sofrimento, soube permanecer profundamente crente e fiel. Amen.

    Contemplatio
    O amor não vos permite nem perturbação nem inquietude quanto ao futuro; interdita-vos uma vã curiosidade; prescreve-vos uma humilde e firme confiança.
    Diz-nos o Salvador: Eu vos inspiro mesmo um generoso abandono, colocando-vos na persuasão íntima de que, se amais o vosso Deus, é impossível que sejais infelizes. Ora, nada pode, nem neste mundo nem no outro, arrebatar-vos o tesouro do amor divino, excepto a vossa própria vontade; e quando este amor é um pouco ardente, embora possamos absolutamente sempre perdê-lo por própria culpa, temos horror apenas em pensar que alguma vez queiramos nisso consentir. Podemos também dizer com confiança como S. Paulo: «Quem me separará do amor de Cristo?» (Rom 8, 38). (Leão Dehon, OSP 2, p. 62).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
    «Mostrai-me, Senhor, as maravilhas do vosso amor» (cf. Sl 16, 7ª)
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXVI Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    27 de Setembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Job 3, 1-3.11-17.20-23
    1Job abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento. 2Tomou a palavra e disse: 3«Desapareça o dia em que nascie a noite em que foi dito: 'Foi concebido um varão!' 11Porque não morri no seio da minha mãe ou não pereci ao sair das suas entranhas? 12Porque encontrei joelhos que me acolheram e seios que me amamentaram? 13Estaria agora deitado em paz, dormiria e teria repouso 14com os reis e os grandes da terra, que constroem mausoléus para si; 15com os príncipes que amontoam ouro e enchem de dinheiro as suas casas. 16Ou como um aborto escondido, eu não teria existido, como um feto que não viu a luz do dia. 17Ali, os maus cessam as suas perversidades, ali, repousam os que esgotaram as suas forças. 20Por que razão foi dada luz ao infeliz, e vida àqueles para quem só há amargura? 21Esses esperam a morte que não vem e a procuram mais do que um tesouro; 22esses saltariam de júbilo e se alegrariam por chegar ao sepulcro. 23Porque vive um homem cujo caminho foi barrado e a quem Deus cerca por todos os lados?
    Depois de atingido por todas as provações, Job permanece sete dias e sete noites em grande prostração, acompanhado pelos três amigos, todos em silêncio. Por fim: «Job abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento» (v. 1). Amaldiçoou o dia em que nasceu e lamentou que não lhe tivesse sido tirada a vida nesse momento. O sofrimento prolongado pode levar ao desespero. Job resistiu com docilidade à violência da provação durante sete dias e sete noites. Não amaldiçoou a Deus nem pediu a morte. Mas, agora, explode em imprecações e lamentos que não é fácil encontrar na Sagrada Escritura. Encontramos algo de semelhante em Jeremias (20, 14).
    Há neste texto um novo modo de enfrentar o sofrimento. Ele já não é visto simplesmente como uma prova para a gratuidade da nossa fé, mas como uma experiência que nos leva a penetrar no mais profundo do abandono, da angústia e da noite escura do Filho de Deus Crucificado. Encontrar estas expressões na Sagrada Escritura, portanto como palavra revelada, dá-nos consolação. Deus aceita quem, na obscuridade e na desolação da prova, fala sem saber o que diz. Os lamentos têm sentido, não são inúteis. Chegam mesmo a ser oração, «oração de lamentação». Job, em plena lamentação, não se afasta de Deus, não se esconde do seu rosto, não procura outro Deus que não o oprima, que não o esmague. Pelo contrário, entrega-se plenamente ao Deus que o desiludiu. A lamentação agita o coração e liberta-o.

    Evangelho: Lc 9, 51-56
    51Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém 52e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. 53Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém. 54Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» 55Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. 56E foram para outra povoação.
    Depois do ministério na Galileia, com todas as suas palavras, a sua mensagem, os seus milagres e o testemunho do seu amor, Jesus caminha decididamente para Jerusalém, para a realização do seu destino. O caminho de Jerusalém levará Jesus até à cruz e à ressurreição. É a sua «hora» (cf. Jo 12, 23;16, 32). A hora manifesta a vontade de Jesus e dar a vida. Essa vontade acompanhou-o toda a vida. Nele tudo tendia para o momento do dom. Nessa hora, Jesus acolhe todo o sofrimento dos homens e dá a vida para os salvar. A primeira parte do evangelho de Lucas (ministério na Galileia) visa a "compreensão" do Reino; a segunda visa a "realização" do Reino. Na primeira parte, o Reino é apresentado em parábolas, como um mistério que cresce no escondimento, um crescimento atribulado e fatigante; agora revela-se mais claramente como o mistério da morte e da ressurreição de Cristo. Ao falar deste itinerário, Lucas escreve que Jesus «se dirigiu resolutamente» (v. 51) para Jerusalém. Literalmente, «endureceu o rosto». É uma expressão do cântico do Servo: «Tornei o meu rosto duro como pedra» (Is 50, 7). Jesus vê claramente os sofrimentos que vai enfrentar. Mas abandona-se completamente à vontade do Pai.

    Meditatio
    As palavras de Job expressam sentimentos comuns a quem sofre intensamente. Provavelmente também já experimentámos sentimentos idênticos. O grito dramático de Job é certamente semelhante aos gritos que nós próprios já libertamos em situações de grande sofrimento. Pode-se chegar mesmo ao sinistro desejo da morte. Mas é passando por semelhante provação que podemos encontrar Deus, ou perdê-lo! É Job quem o diz: «Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora vêem-te os meus próprios olhos». (42, 5). Agora que Job está "nu" diante de Deus, pode conhecê-lo e amá-lo. É certo que se lamenta e grita. Mas fá-lo diante de Deus. É significativo que a Bíblia não tenha expurgado estas expressões, mas as tenha assumido e tornado oração de lamentação, de súplica e de súplica angustiada a Deus.
    O capítulo terceiro de Job ensina-nos a distinguir a lamentação da lamúria. Somos levados a lamuriar-nos muitas vezes e de tudo. Não somos capazes de nos lamentar com Deus, de chorar diante d´Ele. Nem sempre somos capazes de nos dirigir a Deus.
    Mas o terceiro capítulo de Job também nos ensina a olhar de frente as provações, para lhe quebrarmos o aguilhão. Quando chegamos à conclusão de que não podemos mais, então chegou o momento de exprimirmos a nossa gratuidade de amor. Jesus mostrou-nos a gratuidade do seu amor na cruz, no auge do sofrimento e do seu grito que, por um lado, exprime a suprema desolação mas, por outro, a total confiança no Pai (cf. Mc 15, 34).
    Lembram-nos as nossas Constituições: «A vida reparadora será, por vezes, vivida na oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (n. 24). O Pe. A. Carminati, de modo muito sintético e eficaz, comenta assim este número das novas Constituições: «A nossa cooperação na obra da redenção, além de se chamar "apostolado", mais cedo ou mais tarde há-de chamar-se "sofrimento", solidão, noite escura, imolação, cruz, morte...».
    Então a nossa vida será reparadora na oferta, na paciência, no abandono, quer dizer, na disponibilidade da "vítima" para a imolação, em comunhão com a paixão e a morte redentora do Senhor..., e entregaremos voluntariamente a nossa vida em favor dos irmãos, olhando para Cristo trespassado, que nos precedeu neste amor redentor (cf. 1 Jo 3, 16).

    Oratio
    Senhor, diante do teu amor crucificado, contemplo o infinito amor com que me falaste ao coração. Também queria amar-te, como tu me amaste. A minha alma tem sede de Ti. Mas não consigo chegar a Ti. Dá-me a graça de Te compreender e de compreender o teu amor, mesmo na tribulação, como o compreendeu o teu servo Job, verdadeiro crente, ainda que pagão. Ajuda-me a compreender as provações de Job, a entrar no seu sofrimento, para poder penetrar nas provações e no sofrimento de Jesus. Tu, Senhor, quiseste assumir os nossos sofrimentos para os purificar. Por isso me podes ajudar a contemplar a cruz, e a ler no Coração trespassado de Cristo todas as riquezas do mistério que Tu és. Amen.

    Contemplatio
    A lamentação de uma alma que geme por não amar Nosso Senhor como quereria toca tão profundamente o seu Coração e inclina-O para ela.
    Estas disposições fazem apelo aos dons da graça. Têm também a vantagem de manter a alma em união com Nosso Senhor. É esta união de corações com o seu que Ele tanto deseja obter. É para consegui-lo que quer espalhar o reino do seu Coração.
    Mas este género de orações (as jaculatórias) não se aplica somente aos dardos ardentes do amor. Com elas pedimos a Nosso Senhor o seu socorro nas provações, pedimos a sua graça para suportar os sofrimentos. Um «Fiat voluntas tua!; faça-se a tua vontade!» escapado de um coração angustiado pelo sofrimento é uma oração de enorme preço aos seus olhos e aos do seu Pai. Quando o santo homem Job conheceu todas as infelicidades que o atingiam, exclamou: «Meu Deus, o que vós me tínheis dado, vós o retomastes, que o vosso santo nome seja bendito!» Uma provação muito penosa, recebida assim com uma oração saída do coração vale mais para a alma do que todos os tesouros da terra.
    É na provação que se sente mais vivamente a necessidade de conversar com Nosso Senhor, de lhe dizer a sua mágoa, de lhe pedir uma graça de força. Um impulso do coração estabelece num instante esta comunicação íntima com o seu Coração.
    Era a prática de todos os santos. Não demoravam a invocá-lo, com medo que Ele mesmo não tardasse a socorrer-lhes. (Leão Dehon, OSP 2, p. 101).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
    «Chegue até vós, Senhor, a minha oração» (Sl 87, 3))
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXVI Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    28 de Setembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Job 9, 1-12.14-16
    1Job tomou a palavra e respondeu aos seus amigos: 2«Na verdade, eu sei que é assim: Como poderia o homem justificar-se diante de Deus? 3Se quisesse discutir com Ele, não lhe responderia uma vez entre mil. 4Quem é sábio de coração, forte e poderoso para lhe poder resistir impunemente? 5Ele desloca os montes, sem se dar por isso, e desmorona-os na sua cólera. 6Ele sacode a terra do seu lugar, e abala-lhe as colunas. 7Ordena ao sol e o sol não nasce, e guarda as estrelas fechadas com o selo. 8Ele sozinho formou a extensão dos céus e caminha sobre as ondas do mar. 9Ele criou a Ursa Maior, o Orion, as Plêiades e os segredos do céu austral. 10Ele fez grandes e insondáveis maravilhas, prodígios incalculáveis. 11Passa diante de mim e eu não o vejo, afasta-se de mim e não me apercebo. 12Se apanha uma presa, quem lha arrebatará? Quem lhe poderá dizer: 'Porque fazes isso?' 14Quem sou eu para lhe replicar e rebuscar argumentos contra Ele? 15Ainda que tivesse razão não lhe responderia; imploraria misericórdia para a minha causa. 16Se o chamasse e Ele me respondesse, não acreditaria que tivesse ouvido a minha voz.
    Job responde às palavras de consolação de Bildad de Chua (cf. c. 8) que, tendo apontado a desproporção entre Deus e o homem, concluíra que não era possível uma discussão entre eles. A razão está sempre do lado de Deus. Job rebate as palavras do amigo, elogiando a sabedoria e a omnipotência de Deus que se contempla na criação. Se Deus é tão grande e inacessível nas suas obras - pensa Job - mais o será na ordem sobrenatural e moral: «Na verdade, eu sei que é assim: Como poderia o homem justificar-se diante de Deus?» (vv. 1s.). Depois, Job volta a lamentar-se da maneira arbitrária e prepotente de Deus na sua relação com os homens: «Se apanha uma presa, quem lha arrebatará? Quem lhe poderá dizer: 'Por que fazes isso? '» (v. 13). Para Job, é inútil discutir com Deus: «Quem sou eu para lhe replicar e rebuscar argumentos contra Ele?» (v. 14).
    Job fala como é próprio de um homem que sofre e protesta porque nem consegue saber o que é ou não justo. Não aceita soluções que sejam simples reduções ao passado: seria preguiça e facilitismo. Job quer ver claramente. Mas, será isso possível? A questão continua em aberto, enquanto durar a nossa peregrinação sobre a terra. Mas, temos a cruz de Cristo e o seu grito ao Pai: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mc 15, 33). Ao morrer, Jesus precipita-se no abismo da maldade humana. Jesus não suprime o sofrimento, mas projecta luz sobre o seu valor salvífico.

    Evangelho: Lucas 9, 57-62
    Naquele tempo, 57Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que fores.» 58Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» 59E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» 60Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.» 61Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» 62Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus.»
    Como vimos ontem, depois do ministério na Galileia, Jesus tomou a direcção de Jerusalém. Não se trata só de mudança de caminho em sentido topográfico, mas também em sentido teológico e místico. Este novo caminho culminará na morte ressurreição de Jesus. É uma perspectiva paradigmática também para os discípulos. A vida cristã passa necessariamente por um encontro com Cristo no Calvário. Não basta contemplar a glória de Cristo; é preciso fixar o nosso olhar também na cruz, onde Cristo atingiu perfeição e chegou à glória (cf. Heb 5, 8s.)
    Os diálogos referidos no evangelho dizem-nos que, além dos Doze, havia outros que queriam seguir Jesus, ainda que não soubessem claramente o que isso significava. As exigências do seguimento de Cristo só se tornaram claras depois da Páscoa. Lucas não nos diz quem são os três interlocutores. Mateus diz-nos que um era um escriba e outro, um discípulo (8, 19.21). Em Lucas, os três retraem-se atemorizados pela "nudez" exigida por Jesus a quem O quer seguir. O primeiro apresentou-se por sua iniciativa. Jesus mostra-lhe o esvaziamento que segui-l´O significa: «o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça» (v. 58). O segundo já é discípulo, como nos informa Mateus. Jesus ordena-lhe que O siga. Mas ele pede licença para ir enterrar o pai. Jesus responde-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos» (v. 60). Para o Senhor, está morto tudo o que não seja o Deus vivo (cf. Jo 14, 6). O terceiro fez um programa que apresenta a Jesus: «Eu vou seguir te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família» (v. 61). Mas Jesus diz-lhe: «Quem olha para trás, de¬pois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus» (v. 62).
    Não sabemos como acabaram estes episódios. O evangelho apenas refere o que Jesus oferece a quem o segue, isto, o caminho da cruz. É preciso coragem!

    Meditatio
    Job ensina-nos um profundo respeito por Deus. Ninguém pode tentar resistir a Deus dirigindo-Lhe palavras de crítica, ou de recusa: «Quem lhe poderá dizer: 'Por que fazes isso? ' Quem sou eu para lhe replicar e rebuscar argumentos contra Ele?». Pelo contrário, temos que confiar-nos a Ele e aceitar a sua grandeza infinita. Mas o Deus forte de que nos fala o Antigo Testamento fez-se homem, assumiu a nossa condição mortal e revelou-se no rosto pequeno, frágil e vulnerável de Jesus.
    De facto, no evangelho de hoje, contemplamos Jesus que, agindo com toda a autoridade de Deus, o faz com uma humildade que nos impressiona. Ao mesmo tempo que diz: «Segue-me... vai... deixa...», pede-nos para escolhermos corajosamente uma vida pobre e sofredora semelhante à d´Ele: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça» (v. 58). Vive a sua autoridade no máximo despojamento, como quem nada possui. Quem ousaria falar de uma tal autoridade e duma tal humilhação juntas na mesma Pessoa? Atingimos o coração da fé pedida ao discípulo. Como S. Paulo, podemos dizer: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10b). Isto enche-nos de alegria. Todo o avanço no caminho do Espírito depende de uma renovada adesão à vida de Jesus.
    A misteriosa figura do Servo de Javé preparou-nos para o mistério de Cristo. Para Jesus, o tempo da paixão é o tempo mais puro e
    mais perfeito da sua oblação de amor ao Pai pelos homens. É também o tempo em que melhor se manifesta a Sua total confiança, o seu abandono, a sua disponibilidade. A oblação de amor de Cristo cresce no silêncio da paixão, até ao momento culminante do impressionante grito na Cruz: "Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?" (Mc 15, 34; Mt 27-45), grito que manifesta a dolorosa experiência da reprovação do pecado pelo Pai, que envolve Cristo por causa da Sua solidariedade com os pecadores. A humanidade de Cristo é arrasada pela dilacerante separação de Deus, que o pecado realiza no homem. Mas S. Lucas também nos recorda o supremo grito de confiança de Jesus, na Cruz: "Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito!" (Lc 23, 46). Esse grito manifesta a união de amor entre o Pai e o Filho, união que nunca foi quebrada, mesmo nas horas mais dramáticas, na sua "hora".
    A adaptação da grandeza e do poder de Cristo à nossa fraqueza humana, pela escolha da humildade e da fraqueza, revela-se magnificamente na Eucaristia. Sob as espécies eucarísticas, Jesus consuma a Sua "Kénosis" ou aniquilamento. Este despojar-se das prerrogativas divinas, esta humilhação de Si mesmo, já Cristo a tinha realizado na Sua Incarnação, Paixão e Morte (cf. Fil 2, 6-8). Todavia esse esvaziamento não retirou à humanidade de Cristo aquele fascínio que encanta as multidões e atrai discípulos. Da Sua humanidade, desprende-se a infinita beleza da divindade, ou também a força divina dos Seus milagres, mesmo que não seja de modo extraordinário, tal como aconteceu na Transfiguração. A Sua incomensurável caridade, a delicada bondade do Seu coração, manso e humilde, aberto a todos, aos pequenos e aos grandes, aos ignorantes e aos dotados, aos pobres e aos ricos deixa entrever a grandeza do Seu Coração, que é o Coração de Deus.

    Oratio
    Senhor Jesus, tal como os Apóstolos, também nós imaginamos que seguir-Te é coisa fácil, inebriante, sem dificuldades nem tropeços. Por isso recusamos o caminho que nos ofereces e entramos em crise à primeira dificuldade, à primeira luta.
    Quero hoje pedir-te que nos dês sabedoria e força para conhecer os teus projectos e aderir ao caminho de fé que Tu, com tanto amor, nos apresentas. Ajuda-nos a compreender bem o que queres de nós. Sabes como temos dificuldade em compreender a tua ciência de amor. Custa-nos aceitar a cruz e, mais ainda, a ver nela um sinal do teu amor e da tua presença na nossa vida. Ajuda-nos a não desistirmos de descobrir nela a presença activa do teu amor. Acende em nós o desejo de aderirmos a Ti, Senhor Crucificado. E, se também isso for difícil para nós, ajuda-nos a deixar-nos acolher por Ti, sem duvidarmos do teu infinito amor. Amen.

    Contemplatio
    É na meditação dos sofrimentos de Nosso Senhor que havemos de colher sobretudo as forças necessárias para praticar o abandono nas provações da vida. A contemplação da sua Paixão desenvolve o amor que lhe temos, e o amor é o meio de transformar em alegria o que seria amargura.
    O desejo de se unir aos sofrimentos de Nosso Senhor adoça as penas que é possível encontrar-se na imolação de si mesmo. Unimos as nossas penas à sua imolação do Calvário e é um meio de nos associarmos à sua dolorosa Paixão, no mesmo espírito no qual se ofereceu, por amor e pela glória de seu Pai e pela salvação das almas. Esta união de intenção é-lhe muito agradável e o amor com o qual o fazemos aumenta ainda o preço aos seus olhos. É assim que não temos verdadeiramente senão um só coração e uma só alma com Ele.
    O seu amor será assim por vós o meio de suportar facilmente todas as provações por onde podereis passar. Aliviar-vos-á, e mesmo transformará em alegria tudo o que sem Ele seria pena ou amargura.
    Alegramo-nos por sermos flagelados com Ele quando lhe oferecemos amorosamente as mortificações da carne e as humilhações do orgulho. Somos coroados de espinhos com Ele e comprazemo-nos n'Ele, quando nos unimos amorosamente aos seus sofrimentos todas as contrariedades que experimentamos. Uma alma avança com Jesus na via dolorosa do Calvário quando segue, unida a Ele pelo amor, as vias onde lha agrada fazê-la passar.
    Somos pregados na cruz com Ele, quando unimos à sua crucifixão as situações penosas e dolorosas onde lhe agrada colocar os seus amigos. Agonizamos com Ele sobre a cruz, quando unimos às suas penas as angústias de uma situação na qual quer que estejamos.
    É preciso aceitar as provações sejam elas quais forem. Não é necessário que elas se assemelhem fisicamente às suas. Quem quer que seja que O ame passa por provações. Estas provações, sofremo-las com Ele unindo-nos aos sofrimentos da sua Paixão. A união de amor identifica de algum modo estes sofrimentos com os seus, que importa que estas dores não sejam materialmente idênticas às suas! São-lhe sempre semelhantes, quando são amorosamente aceites e oferecidas em união com as suas.
    Aceitação e abandono, são as duas condições desta vida de união que é animada por um generoso amor para com Nosso Senhor. (Leão Dehon, OSP 2, p. 81 s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
    «Na tribulação, Senhor, não me escondais o vosso rosto» (cf. Sl 87, 3))
    | Fernando Fonseca, scj |

  • S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, Arcanjos

    S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, Arcanjos


    29 de Setembro, 2022

    No século V, já se celebrava em Roma, a 29 de Setembro, o aniversário da dedicação de uma basílica em honra do Arcanjo S. Miguel. Depois da reforma litúrgica recomendada pelo Concílio Vaticano II, acrescentou-se a memória de outros Arcanjos e de "todas as potências incorpóreas".

    Honrando os Arcanjos, exaltemos o poder de Deus, Criador do mundo visível e invisível, pois - como diz o Prefácio da Missa de hoje - "resulta em glória para Vós a honra que prestamos a eles como criaturas dignas de Vós; e a sua inefável beleza, Vós mostrais como sois grande e digno de ser amado sobre todas as coisas". S. Miguel é um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.

    Lectio

    Primeira leitura: Daniel 7, 9-10.13s.

    Eu estava a olhar, quando foram preparados uns tronos, e um Ancião sentou-se. Branco como a neve era o seu vestuário, e os cabelos da cabeça eram como de lã pura; o trono era feito de chamas, com rodas de fogo flamejante. 10Corria um rio de fogo que jorrava da parte da frente dele. Mil milhares o serviam, dez mil miríades lhe assistiam.O tribunal reuniu-se em sessão e foram abertos os livros. 11Eu olhava. Por causa do ruído das palavras arrogantes que o chifre proferia, esse animal foi morto e o seu corpo desfeito e atirado às chamas do fogo. 12Quanto aos outros animais, também lhes foi tirado o poderio; no entanto, a duração da sua vida foi-lhes fixada a um tempo e uma data. 13Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. 14Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído.

    A perícopa que escutamos hoje é tirada do chamado Apocalipse de Daniel (Capítulos 7-12). Ao profeta é concedida a visão dos eventos futuros (vv. 1-8) e, sobretudo, a participação no juízo de Deus sobre eles e sobre toda a história (vv. 9s.). Para além das aparências, os poderosos deste mundo não são nada; o Senhor é o único e verdadeiro rei (v. 9s.). Serve-O uma imensa corte de anjos que também O assiste na realização do seu desígnio. O profeta pode mesmo entrever esse desígnio: aparece-lhe um "Homem" de origem divina a quem Deus confia a soberania universal, um poder eterno e o seu próprio reino que as forças do mal jamais poderão destruir (v. 14). O «Filho do homem» é, pois, o centro e o fim do projeto de Deus acerca da história. Mas a sua realização - agora antecipada na profecia - acontecerá no tempo estabelecido e com a cooperação dos anjos.
    Evangelho João 1, 47-51

    Naquele tempo, Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» 48Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» 49Respondeu Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!» 50Retorquiu-lhe Jesus: «Tu crês por Eu te ter dito: 'Vi-te debaixo da figueira'? Hás-de ver coisas maiores do que estas!» 51E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.

    Há uma visão da realidade que vai além da imediata perceção. É o que nos revela Jesus no texto que escutamos hoje: «Vem e vê», dissera Filipe a Natanael. E Jesus, ao ver Natanael aproximar-se, exclama: «Vi (à letra) um israelita...». O seu ver é um conhecimento profundo do homem e da sua história. É deste ser visto/conhecido que nasce a abertura à fé e a disponibilidade para o seguimento (v. 49). Só então Jesus pode prometer ao discípulo a entrada numa visão da realidade semelhante à que Ele mesmo tem: «Maiores coisas do que estas hás-de ver!» ... «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo pelo Filho do Homem.» (vv. 50s.). O discípulo poderá compreender a imensa profundidade do mistério de Cristo que abrange o cosmos e dá sentido à história, e a cujo serviço cooperam miríades de anjos.
    O mundo transcendente de Deus - o céu - está agora aberto: em Jesus, Filho do homem, Deus desce ao meio dos homens e os homens podem subir até Deus. Os anjos são ministros deste «admirável comércio», desta inesperada comunhão.

    Meditatio

    Os anjos são seres misteriosos. O profeta Daniel também fala deles misteriosamente no texto que hoje escutamos na primeira leitura. Nós costumamos representá-los como homens de rosto suave e doce. Mas, na Sagrada Escritura, aparecem, muitas vezes como seres terríveis, que incutem temor, porque são manifestação do poder e da santidade de Deus, e nos ajudam a adorá-lo dignamente. Na visão de Daniel, o mais importante não são os Anjos, mas o "ser semelhante a um filho de homem" (v. 13), que é introduzido até ao trono de Deus, e a quem são "dadas soberania, glória e realeza" (v. 14), e a quem "as gentes de todas as línguas" servem (v. 14).
    O evangelho também nos mostra os Anjos subirem e descerem ao serviço do Filho do homem.
    Os Anjos estão, portanto, ao serviço do Filho do homem, isto é, de Jesus de Nazaré. A nossa adoração é, pois, dirigida a Deus e ao Filho de Deus.
    Todos nós entramos num projeto sonhado por Deus. Mergulhados num cosmos animado por invisíveis presenças que, tal como nós, participam no projeto de Deus, somos construtores de uma história que tem Cristo no centro e no fim. A caminhada avança na luta, com conflito implacável com as forças do mal que, todavia, jamais poderão destruir o reino que Deus confiou ao Filho do homem. O combate durará até ao fim dos tempos, tendo à frente, na primeira linha, os santos anjos de Deus: os arcanjos, guiados por Miguel, e todas as criaturas espirituais fiéis ao Senhor.
    Esta realidade que os nossos olhos não sabem ver foi-nos revelada para que, pela fé, esperança e caridade, combatamos o bom combate e apressemos a realização do reino de Deus. Se oferecermos o nosso humilde contributo, receberemos um olhar interior puro. Então contemplaremos a Misericórdia que abriu os céus e veio morar entre nós para nos abrir o caminho para o Pai onde, com os anjos, partilharemos a sua intimidade. Ele revelou-nos o mistério do homem para que, com os anjos, aprendemos a ir ao encontro dos irmãos. Introduziu-nos no seu Reino, para que, tornados voz de todas as criaturas, cantemos eternamente, com o coro angélico, a glória de Deus.

    Oratio

    Ó santo arcanjo Miguel, tão amigo do Coração de Jesus e tão amado por Ele, ajudai-me a fazê-lo reinar na sociedade e nas almas. Protegei particularmente os amigos e os apóstolos do Sagrado Coração. Terei gosto em vos invocar muitas vezes durante o dia, com Maria, José e S. João, para que me leveis ao Coração de Jesus. (Leão Dehon OSP 4, p. 298s.).
    Anjo glorioso, S. Gabriel, ensinai-me a bem servir a Jesus e a Maria. O que amais, são oshomens de desejo, assim o dissestes a Daniel. Pedi por mim a Jesus e a Maria, para que eu seja um homem de desejo. Unir-me-ei particularmente a vós para dizer a Ave Maria, e saudar o Coração de Jesus na sua Incarnação. (Leão Dehon OSP 3, p. 303).
    Arcanjo S. Rafael, vinde em nossa ajuda nas horas de medo e nas horas de doença. Tomai-nos pela mão e conduzi-nos pelo caminho certo e seguro da salvação.

    Contemplatio

    O anjo Gabriel veio a Nazaré e cumpriu o mistério que tomou o nome da Anunciação. Saudou Maria com estas palavras celestes que nós chamamos a saudação angélica: Eu vos saúdo, ó cheia de graça, o Senhor está convosco, bendita sois entre todas as mulheres.
    S. Gabriel é o anjo de Jesus e de Maria, o seu mensageiro, o seu camareiro. É o anjo da redenção, o anjo do Sagrado Coração... Ensinou-nos a bela saudação a Maria, que repetimos tantas vezes por dia. Unamo-nos muitas vezes a ele. Digamos com ele a saudação angélica... Anunciando a incarnação, foi o primeiro a saudar o Sagrado Coração de Jesus no seio de Maria. (Leão Dehon, OSP 3, p. 302s.)
    S. Miguel é o anjo de Jesus, o anjo da Igreja, e deve ser o anjo do Coração de Jesus, o porta-estandarte do Sagrado Coração... (Leão Dehon, OSP 4, p 298).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    «Quem como Deus?»

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    S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, Arcanjos (29 Setembro)

    XXVI Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    29 de Setembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Job 19, 21-27
    Job tomou a palavra e disse: 21Compadecei-vos! Compadecei-vos de mim, vós, meus amigos, porque a mão de Deus me feriu. 22Porque me perseguis como Deus, e vos mostrais insaciáveis da minha carne? 23Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre! 25Eu sei que o meu redentor vive e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; 26e depois de a minha pele se desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. 27Eu mesmo o verei, os meus olhos e não outros o hão-de contemplar! As minhas entranhas consomem-se dentro de mim. 21Compadecei-vos! Compadecei-vos de mim, vós, meus amigos, porque a mão de Deus me feriu. 22Porque me perseguis como Deus, e vos mostrais insaciáveis da minha carne? 23Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre! 25Eu sei que o meu redentor vive e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; 26e depois de a minha pele se desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. 27Eu mesmo o verei, os meus olhos e não outros o hão-de contemplar! As minhas entranhas consomem-se dentro de mim..
    O diálogo entre Job e os três amigos chega ao auge no capítulo 19. Os amigos não se tinham cansado de repetir que as provações que atingiam Job eram prova evidente das suas culpas diante de Deus. Job, pelo contrário, teimava em afirmar a sua inocência. O seu maior sofrimento era, agora, resistir às palavras dos amigos. Sentia-se e dizia-se inocente, mas não conseguia prová-lo, nem diante de Deus, nem diante dos amigos. Estava completamente extenuado: «Grito contra essa violência e ninguém responde, levanto a voz e não há quem me faça justiça. Deus fechou-me o caminho, para eu não passar, e encheu de trevas as minhas veredas» (19, 7-8).
    Então Job pensa escrever a sua defesa para que, um dia, alguém, talvez nós que lemos as suas palavras, pudesse fazer-lhe justiça: «Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se consignassem num livro, 24ou gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre!» (v 23 s.). Mas esta solução não o convence. Então apela para o supremo "vingador" para que lhe faça justiça: «Eu sei que o meu redentor vive» (v. 35). Depois de ter insultado a Deus, chama-o "Vingador, Redentor". Nós, que conhecemos o Evangelho, apelamos para o amor, para a caridade, para Deus omnipotente, misericordioso, salvador.

    Evangelho: Lucas 10, 1-12
    1Naquele tempo, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes:«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. 3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. 5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!' 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. 8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: 'O Reino de Deus já está próximo de vós.' 10Mas, em qualquer cidade em que entrardes e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: 11'Até o pó da vossa cidade, que se pegou aos nossos pés, sacudimos, para vo-lo deixar. No entanto, ficai sabendo que o Reino de Deus já chegou.'» 12«Digo-vos: Naquele dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade.
    O sim cordial dos discípulos a Cristo torna-se a força da missão evangélica. Jesus manda os discípulos a fazer o que Ele mesmo fez. É o que a Igreja continua, ainda hoje, a fazer. Os Doze são o fundamento da missão da Igreja. Mas Jesus escolheu ao longo dos séculos, e continua a escolher hoje, muitos outros. A messe é grande e os operários são poucos. Os 72 de que nos fala o evangelho anunciam a mensagem do Reino. O número "Doze" evoca as doze tribos de Israel. O número "Setenta e dois" evoca os 72 povos da terra elencados em Gn 10. A missão dos discípulos é universal, destinada a toda a terra. Os Setenta e dois são sinal de todos quantos o Senhor da messe chama para o anúncio do Evangelho. Trata-se de uma empresa divina, do Reino, que só é possível realizar com a força de Deus, e não com as simples forças humanas.
    O verdadeiro operário do Reino, não é aquele que o anuncia, mas o próprio Jesus Cristo. É Ele que envia, que toma a palavra, que actua. Mais do que fazer, é preciso deixar Jesus fazer. O mais importante é ser como Ele, adoptar o seu estilo, com as suas vicissitudes e os seus frutos - e por isso com alegria. "Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos» (v. 3). Não há que lamentar-se sobre as dificuldades da missão. Elas são o sinal do Reino. São obra do Espírito Santo. Jesus pede aos discípulos que não se preocupem: «Não vos preocupeis com o que haveis de dizer... Não sois vós a falar, mas é o Espírito do Pai que falará por vós» (10, 19 s). O Mestre não nos quer ver ansiosos. A missão é sempre um milagre do Senhor.

    Meditatio
    A atitude de Job deixa-nos espantados. Depois de falar contra Deus, depois de ter amaldiçoado o dia em que nasceu, proclama, agora, a sua esperança: «Eu sei que o meu redentor vive ...Eu mesmo o verei, os meus olhos e não outros o hão-de contemplar» (vv. 25-27). Primeiro foi a lamentação, o choro diante de Deus. Agora é o grito de vitória.
    Como chegou Job a este acto de fé tão profunda e de esperança em Deus? Como passou da angústia e do desejo de morrer a esta confiança em Deus? A resposta é: Job nunca deixou de lutar na oração: adorou, pediu, suplicou. No meio das maiores tribulações, manteve um diálogo íntimo e profundo com Deus. Lutou no meio da noite escura. Experimentou a Deus como desumano, como Aquele que leva a carne e os ossos, como Aquele que rouba mas, por fim, reconheceu-O como o tudo da sua vida. Do nada, ao tudo. Só nesta noite escura, nesta luta desumana é possível chegar a Deus. Em Job, verificamos como é espantoso atravessar o nada. Mas é através da noite que entramos no «mistério da luz infinita».
    A oração dos salmos de lamentação confirma esta experiência. O Sl 21 começa com um grito de desespero: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Como estais longe da minha oração?...» E termina com um grito de esperança:
    «Para Ele viverá a minha alma». Para chegar à ressurreição, é preciso passar pelo Getsémani. Para entrar na comunhão com Deus, é preciso não afastar-se d´Ele, continuar na sua presença, qualquer seja a situação, o vale tenebroso que tenhamos de passar.
    . O sofrimento e a provação são tempos privilegiados na vida de vítima (cf. Cst 68). Para além de todo o sentimentalismo devocional, a experiência da dor é perturbadora e difícil de viver. O próprio Cristo foi perturbado (cf. Lc 7, 13; Jo 11, 33-34) e profundamente chocado com ela (cf. Mt 26, 37-38; Mc 14, 33-34; Lc 22, 43-44).
    Ao absurdo da dor e da morte, para a razão, a fé responde com um mistério: o de Cristo crucificado.
    A fé não responde ao porquê de cada um dos sofrimentos, mas dá-lhes um sentido, infunde-lhes uma luz e força, que permitem viver como amor a dura realidade do sofrimento.
    O sofrimento é uma das possíveis realidades da nossa vida. É preciso falar dele com realismo e com discrição. Às vezes encontram-se pessoas com uma fé maravilhosa que, embora sofrendo, consolam e dão força a quem as quer consolar. É real nelas, com simples heroísmo, a «oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (Cst 24).

    Oratio
    «Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim» (Jo 17, 20s.).
    Senhor Jesus, agradeço-te porque rezaste por mim, que acreditei na palavra dos teus apóstolos. Que eu me mantenha unido a Ti, confiante na tua oração. Se ela me tivesse faltado, não estaria certamente aqui, junto de Ti; não poderia louvar-te, dar-Te graças e dar testemunho de Ti. Que, pelas minhas palavras e pela minha vida, eu dê testemunho de que estás sempre connosco e não nos abandonas, que, se lutas connosco, é para Te render e nos abençoar. Graças à tua oração, posso e quero agora adorar-Te. Obrigado, Senhor!

    Contemplatio
    As palavras não impotentes para dizer os sofrimentos da Paixão do Salvador. Por uma inversão das coisas, era Jesus, o justo, que era arrastado pelos culpados aos tribunais e ao suplício.
    Os sofrimentos da sua alma e do seu coração ultrapassavam os do seu corpo. Os seus apóstolos eram ingratos. O sacerdócio mosaico acabava a sua carreira num acto de suprema loucura. O povo esquecia os benefícios de Cristo e deixava-se levar pelos seus ódios brutais.
    As bofetadas, os escarros e os insultos tomavam o lugar das honras que eram devidas à divindade do Salvador.
    Os chicotes rasgavam o seu corpo até esgotarem as suas forças. O seu pudor era ofendido para reparar as nossas imodéstias.
    A loucura humana insultava a sua sabedoria revestindo-lhe o manto dos loucos.
    Pilatos achincalhava a sua realeza coroando-o de espinhos e cobrindo-a com uma púrpura de escárnio para o mostrar ao povo.
    Como Isaac levava o madeiro do seu sacrifício, mas era para ser aí realmente sacrificado.
    Não havia uma palavra, um passo, um pormenor deste drama que não ferisse todos os seus sentimentos no mais profundo do seu coração. A justiça, a verdade, a doçura, a piedade, a modéstia, o reconhecimento, o respeito, tudo o que Ele ama, era desprezado. Toda a sua alma era partida enquanto o seu corpo era rasgado pelos chicotes e furado pelos cravos.
    As três horas da crucifixão são as da sua suprema dor. Condensou lá todos os seus sofrimentos para oferecer o preço infinito ao seu Pai. Revia todos os nossos pecados e assumia a sua expiação. Era rebaixado ao nível dos ladrões, era despojado de tudo, traído pelos seus amigos e abandonado pelo seu Pai. Todo o seu corpo era uma chaga e consumava a doação da sua vida por nós. (Leão Dehon, OSP 2, p. 67).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
    «O meu Redentor está vivo... Eu mesmo O verei» (cf. Job 19, 25-27)
    | Fernando Fonseca, scj |

  • XXVI Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares


    30 de Setembro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Job 38, 1.12-21; 40, 3-5
    1O Senhor respondeu a Job do meio da tempestade e disse: 12Alguma vez na tua vida deste ordens à manhã e indicaste o seu lugar à aurora, 13para que ela alcançasse as extremidades da terra e expulsasse dela os malfeitores? 14Modela-se a terra como o barro sob o sinete e tinge-se como um vestido. 15Então, aos maus é recusada a sua luz, e o braço dos soberbos é quebrado. 16Desceste até às fontes do mar e passeaste pelas profundidades do abismo? 17Abriram-se-te, porventura, as portas da morte? Viste as portas da morada tenebrosa? 18Consideraste a extensão da terra? Fala, se sabes tudo isso! 19De que lado habita a luz? Qual é o lugar das trevas, 20para que as conduzas ao seu domínio e lhes mostres as veredas da sua morada? 21Deverias sabê-lo, pois já tinhas nascido era já grande o número dos teus dias! 3E Job respondeu ao Senhor, dizendo: 4«Falei levianamente. Que poderei responder-te? Ponho a minha mão sobre a boca; 5falei uma vez, oxalá não tivesse falado; não vou falar duas vezes, nem acrescentarei mais nada.»
    A passagem de Job pelo vale tenebroso do sofrimento baseou-se numa indestrutível esperança. Aquele que Job procura existe e ama-nos. A busca de Deus é penosa e marcada pelo sofrimento. Mas o encontro do rosto de Deus enche-nos de alegria, de paz, de entusiasmo. O livro de Job parece descrever o jogo do amor, feito de ausência e de encontro, de escondimento e de presença. A mãe esconde-se para que a criança tenha a alegria de a encontrar. Nas últimas palavras do poema, ecoa o tema do Cântico dos Cânticos: «O meu amado é para mim e eu para ele» (Ct 2, 16).
    Job apelou várias vezes para o juízo de Deus: «Oxalá eu tivesse quem me ouvisse!» (31, 35). Nos capítulos 38-42, Deus responde finalmente aos pedidos de Job. Mas é uma resposta que, por sua vez, é uma interrogação. Deus apresenta a Job a imensidão e a grandeza da criação. Mostra-lhe que o mundo é um imenso projecto divino que causa admiração pela sua grandeza e beleza. As perguntas de Deus a Job são também para nós. Deus criou o mundo movido apenas pela alegria de dar. Não se pode contemplar o mundo permanecendo fechados em cálculos egoístas, feitos à base de interesses pessoais.
    Job, que polemizou e lutou com Deus e com os amigos, fica agora silencioso e confuso. Renuncia à discussão. Reconhece ter falado demais e superficialmente. Job sempre foi sincero. Procurou seriamente, mas não encontrou. Mas pode finalmente dizer: «Agora vêem-te os meus próprios olhos»; antes, dizia: «Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti» ( Jb 42, 5). Tendo passado pela provação, e permanecido fiel, Job penetrou finalmente no mistério de Deus.

    Evangelho: Lucas 10, 13-16
    Naquele tempo, Jesus disse: 13Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sídon se tivessem operado os milagres que entre vós se realizaram, de há muito que teriam feito penitência, vestidas de saco e na cinza. 14Por isso, no dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós. 15E tu, Cafarnaúm, porventura serás exaltada até ao céu? É até ao inferno que serás precipitada. 16Quem vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita; mas, quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.»
    O evangelho de hoje conclui a mensagem com que foram enviados os setenta e dois discípulos. Porque fala Jesus tão duramente das cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaúm? Que nos quer dizer Jesus?
    A condenação das três cidades deve se entendida a vários níveis. Em primeiro lugar, Jesus sublinha que estas cidades não acolheram a Palavra pregada por Ele, isto é, a graça do Evangelho, o apelo à conversão. Em segundo lugar, Jesus realça o abandono dos seus. Talvez se dê conta da hostilidade do povo. As cidades pagãs de Tiro e Sídon terão um juízo menos severo que o povo de Israel. Em terceiro lugar, Jesus prevê que o Evangelho ultrapasse as fronteiras da Galileia, que chegue aos gentios, enquanto as cidades que, por primeiras, ouviram a sua pregação permaneçam fechadas num judaísmo anticristão.
    Este evangelho é um aviso para todos aqueles que se excluem da graça do Senhor e caem na hipocrisia e na resistência sublinhadas pelos "Ai" de Jesus. Jesus lastima o maior dos pecados, o pecado contra o Espírito Santo: fechar os olhos às manifestações da graça, à oferta de perdão. É o grande risco da missão cristã. Jesus disse claramente: «Quem vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita; mas, quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou» (v. 16).

    Meditatio
    Diante dos males e das injustiças que nos rodeiam, facilmente somos tentatdos a protestar contra Deus. Foi o que fez Job, no meio do seu sofrimento: «Por que ocultas a tua face, e me consideras teu inimigo? Queres assustar uma folha levada pelo vento e perseguir uma palha ressequida? Pois escreves contra mim acusações amargas, e atribuis-me faltas da minha mocidade» (Job 13, 24-26). Mas, no fim do livro, ouvimos Deus que interpela Job: «Alguma vez na tua vida deste ordens à manhã e indicaste o seu lugar à aurora... Desceste até às fontes do mar e passeaste pelas profundidades do abismo? Abriram-se-te, porventura, as portas da morte? Viste as portas da morada tenebrosa?» (cf. 38, 12.16s.).
    Quantas coisas Job ignora! Quantas lhe escapam e não pode captar! Nem com a ciência mais refinada poderia conhecer muitas coisas. Job reconhece, por isso, a necessidade de permanecer pequenino e humilde diante de Deus: «Falei como uma criança; que posso responder-Te» (40, 3). Job reconhece que não sabe tudo. Só Deus possui toda a ciência. É preciso confiar n´Ele, abandonar-se a Ele. Renuncia a fazer perguntas: «Ponho a minha mão sobre a boca; falei uma vez, oxalá não tivesse falado; não vou falar duas vezes, nem acrescentarei mais nada» (Jb 40, 4s.). A humildade é o "não saber", é estar sem pretensões diante de Deus. Só na humildade, em ponta de pés, podemos entrar no mistério de Deus. «Reflectia nestas coisas, para as entender - problema difícil para mim - até ao dia em que entrei no santuário de Deus e compreendi a sorte que os (aos ímpios) esperava... eu era um louco, sem entendimento, como um irracional diante de vós... porém, estarei sempre convosco» (cf. Sl 72, 16-23). Job ensina-nos que o mais importante é estar sempre com Deus.
    Precisamos de pedir ao Senhor «um espírito de sabedoria e de revelação para descobrir e conhecer verdadeiramente a Cristo Senhor Crucificado, de Lado aberto e Coração trespassado, para, no meio das provações da vida, compreendermos a esperança fomos chamados (cf. Ef 1, 17-18) (Cst 77). A nossa «esperança» - realidade que «não desilude» (Rm 5, 5) -, «
    o único necessário» para nós é a «vida de união à oblação de Cristo» em todas as circunstâncias da vida (Cst 26).
    Do «Ecce venio» (Eis-me aqui) ao «Consumatum est» (Tudo está consumado!), o Pe. Dehon faz realçar como o cumprimento das Escrituras e, portanto, da vontade do Pai é, em Cristo, a expressão de uma verdadeira liberdade, uma verdadeira oblação do Homem-Deus, vivida no tempo, «tendo sido Ele mesmo provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado» (Heb 4, 15). «Apesar de Filho de Deus, aprendeu a obedecer, sofrendo, e, uma vez atingida a perfeição (como sacerdote e como vítima) tornou-Se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna» (Heb 5, 8-9).
    A nossa contemplação deve fixar-se no mistério da transfixão do Lado e do Coração de Cristo (Cst 21): «Videbunt in quem transfixerunt»: Hão-de olhar para Aquele que trespassaram (Jo 19, 37). Contemplar, não só Alguém, mas em Alguém. A nossa vida deve ser «uma vida de união à oblação de Cristo» (Cst 26), uma vida caracterizada pela reparação, entendida como «acolhimento do Espírito, como resposta ao amor de Cristo por nós, comunhão no seu amor pelo Pai e cooperação com a sua obra redentora no coração do mundo» (Cst 23): deve ser também uma vida que acolhe, com serenidade e abandono, as cruzes de cada dia, dando graças, para que, vistas à luz da fé, sejam provas de amor (cf. Cst 22.24).
    Animamos «assim, tudo o que somos, fazemos e sofremos pelo serviço do Evangelho, o nosso amor, pela participação na obra de reconciliação, cura a humanidade, reúne-a no Corpo de Cristo e consagra-a para Glória e Alegria de Deus» (Cst 25).
    Todas estas realidades, pensando bem, não são um privilégio nosso, um privilégio dehoniano; são realidades que dizem respeito a todos os cristãos, os quais, no baptismo foram tornados participantes do sacerdócio e do sacrifício de Cristo. Por isso, devem corresponder à oblação de amor, que implica a aceitação das cruzes e a irradiação da caridade, «para Glória e Alegria de Deus» (Cst 25).
    Nós, dehonianos, por «graça especial» (Cst 26) fomos chamados a ser sacramentos desta graça baptismal, devemos ser testemunhas da oblação, da reparação e da imolação junto do nossos irmãos, muitas vezes esquecidos destas realidades, porque divididos pelas preocupações terrenas, ou porque profundamente mergulhados em situações de grande sofrimento... e tudo fazemos «para Glória e Alegria de Deus» (Cst 25).

    Oratio
    Senhor Jesus, ao contemplar o teu mistério de amor, e o abismo de sofrimento que envolveu o teu coração, fico sem palavras e sem forças. Sinto-me incapaz de experimentar o infinito poder do teu amor por mim. Sucumbo diante da tua entrega, completamente desarmado.
    Faz-me compreender o que está no mais profundo dos meus tormentos, o que está escondido nos problemas, que tanto me afligem. Que eu jamais me afaste de Ti! Ajuda-me a pôr as minhas mãos nas tuas mãos, para atingir o teu mistério, que não suprime os sofrimentos, mas os torna capazes de me conduzirem ao Pai. Mostra-me que o segredo profundo da realidade não está tanto nas grandes especulações, quanto na superabundância do amor do Pai. Amen.

    Contemplatio
    O Salvador que tanto sofreu por nós é o nosso tudo: é o nosso Deus, o nosso pai; é o nosso irmão. Antes de se entregar ao sofrimento, fez-se também nosso amigo. Como é que Ele se teria entregado à Paixão e à morte por nós se não nos tivesse extremamente amado? Dilexit me, et tradidit semetipsum pro me: Amou-me e entregou-se por mim (Gal 2, 20). Amou-me primeiro e muito; sem isso, como é que teria chegado a entregar-se por minha causa a todos os sofrimentos? Esta consideração deve dominar todas as meditações sobre a Paixão. Ele amou-me: eu era a sua vinha, que Ele cultivava com amor, que envolvia de assíduos cuidados. Ele amou-me: eu era o seu filho e o seu irmão. E porque Ele me amava, quis dar a sua vida para me salvar. (Leão Dehon, OSP 2, p. 302).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
    «Ponho a minha mão sobre a boca; não vou replicar» (cf. Job 40, 4s.)
    | Fernando Fonseca, scj |

  • S. Teresa do Menino Jesus, Virgem

    S. Teresa do Menino Jesus, Virgem


    1 de Outubro, 2022

    Santa Teresa do Menino Jesus nasceu em Alençon, França, em 1873. É a filha mais nova dos Beatos Luís Martin e Célia Guérin, casal cristão exemplar. Aos 15 anos, Teresa entrou no Carmelo de Lisieux. A vida de clausura e de contemplação, a vivência da infância espiritual, não a impediram de ser missionária. Pelo contrário, viveu de modo extraordinário o ideal de Santa Teresa de Ávila: "Vim para salvar almas e sobretudo a fim de rogar pelos sacerdotes". A entrega de amor fê-la vítima de amor. Faleceu aos 24 anos de idade, em 1897. Pio XI canonizou-a em 1925, proclamando-a Padroeira das Missões.

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 66, 10-14

    Alegrai-vos com Jerusalém, rejubilai com ela, vós todos que a amais; regozijai-vos com ela, vós todos os que estáveis de luto por ela. 11Como criança amamentando-se ao peito materno, ficareis saciados com o seu seio reconfortante, e saboreareis as delícias do seu peito abundante. 12Porque, assim diz o Senhor: «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações, como uma torrente transbordante. Os seus filhinhos serão levados ao colo, e acariciados sobre os seus regaços. 13Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei; em Jerusalém sereis consolados. 14Ao verdes isto, os vossos corações pulsarão de alegria, e os vossos ossos retomarão vigor,como a erva fresca. A mão do Senhor há-de manifestar-se aos seus servos, e a sua ira aos seus inimigos.

    Jerusalém foi consolada por Deus, fonte de toda a consolação. Agora é chamada a oferecer essa mesma consolação, como mãe generosa, aos filhos das suas entranhas. O profeta especifica essas consolações, que não são promessas vãs ou retórica vazia, mas paz e segurança a todos os níveis. Acabaram-se os tempos das tensões e das guerras, acabaram-se as ameaças dos inimigos. A cidade santa está em paz, dom de Deus, e pode oferecê-la aos seus habitantes. Aliás a Nova Jerusalém identifica-se com Javé, que, pela sua presença e pelo seu espírito, atrairá todos os povos para lhes oferecer a paz e a consolação definitivas.

    Evangelho: Mateus 18, 1-5

    Naquela hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» 2Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles 3e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. 4Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. 5Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.

    Ao dizer estas palavras, Jesus parece pensar na humildade das crianças, que não têm pretensões, que têm consciência de ser crianças e aceitam a sua pequenez, a sua impotência e a necessidade que têm dos pais para sobreviver. Na relação com Deus, estas palavras têm ainda mais sentido: que é o homem diante d´Ele?
    A humildade é necessária particularmente aos dirigentes da comunidade cristã pelo que eles são - bem pouca coisa - e pelo que são os outros, - filhos de Deus.

    Meditatio
    Os pensamentos de Deus são bem diferentes dos nossos, tal como os seus caminhos são distantes dos nossos. Os nossos pensamentos vêm do orgulho; os pensamentos de Deus vêm da humildade. Os nossos caminhos são esforço para nos tornarmos grandes; os caminhos de Deus conduzem à pequenez. Como quem quer ir para o Norte deve caminhar em direção oposta ao Sul, assim, para avançar nos caminhos de Deus devemos tomar a direção oposta ao nosso orgulho.
    Teresa tinha grandes ambições: queria ser simultaneamente contemplativa e ativa, apóstola, doutora, missionária e mártir. Aliás, parecia-lhe pouco um só martírio e desejava-os todos. Acabou por descobrir que, no coração da Igreja, é o amor que tudo anima e move. Então, escreve: "Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações e que o Amor é tudo!... E, num transporte de alegria delirante, exclamei: encontrei finalmente a minha vocação; a minha vocação é o Amor! No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor, assim serei tudo, assim o meu sonho será realizado." E, enquanto, no seu tempo, muitas pessoas fervorosas se ofereciam a Deus como vítimas da sua justiça, Teresa preferiu entregar-se ao seu Amor Misericordioso. Descobrira esse amor ao meditar na parábola do filho pródigo ou, melhor dizendo, do pai misericordioso. Dizia a santa de Lisieux: "Deus infinitamente Misericordioso, que se dignou perdoar com tanta bondade os pecados do filho pródigo, não será também justo comigo, que estou sempre a seu lado?" Para Teresa, Deus manifesta-se justo exatamente na sua misericórdia e no seu perdão a quem deles necessita. A Justiça de Deus é Amor e Misericórdia. Foi aceitando a sua pequenez e pobreza, e acolhendo e caminhando no amor misericordioso de Deus que ela chegou à Santidade.
    Como escreveu o P. Dehon: "A união íntima a Cristo na sua oblação e imolação de amor é-nos confirmada pela sua predileção pela oferta como vítima "ao Amor misericordioso" de Santa Teresa de Lisieux. "Nascemos do espírito de Santa Margarida Maria, aproximando-nos do da Ir. Teresa". Seguidamente o Pe. Dehon transcreve a fórmula com que a santa se ofereceu como vítima ao Amor misericordioso. Depois, conclui: "Com a Ir. Teresa, abandonamo-nos completamente à vontade divina" (Diário XLV, 53.55-56: Abril de 1925).
    A descoberta do Deus Misericordioso foi o ponto mais importante do Caminho Espiritual de Teresa do Menino Jesus. Essa perceção levou-a a dar-se conta da sua missão na Terra: anunciar que Deus não é Castigador, mas Misericordioso. Esta confiança na Misericórdia de Deus, tomou, transformou e entreteceu toda a sua vida e tornou-se o grande motor do que fez e disse até ao fim dos seus dias. Como vemos há uma forte semelhança e quase identidade entre a experiência espiritual e a missão do P. Dehon e de Santa Teresa.

    Oratio

    Ó Cristo Senhor, Tu nos escolheste e chamaste ao teu serviço pelo grande Amor que tens a Deus Pai e aos teus irmãos. Foste tu quem nos escolheu e não nós a Ti. Faz, pois, com que possamos, hoje, segundo o desígnio da tua chamada, dar frutos de salvação ao mundo, pelo qual nos oferecemos, como pessoas e como comunidade. Aviva em nós o espírito do Pe. Dehon, o qual, por teu amor, não se cansava de trabalhar para que toda a humanidade fosse, um dia, recapitulada em Ti. Torna-nos um testemunho vivo do teu amor na Igreja. Ámen.

    Contemplatio

    O Pai de misericórdia que nos ama ternamente chama-nos. Chama-nos seus filhinhos. Descreveu-se com complacência na parábola do filho pródigo. Eu sou este filho pródigo, que viveu, se não na luxúria, pelo menos na vaidade e na inutilidade. Volto para o meu Pai, hesitante, tímido, temeroso, mas ele está lá, que me acolhe com amor. O seu coração bate fortemente no seu peito. Deseja-me com ardor, observa, procura. E se regresso, atira-se ao meu pescoço e aperta-me contra si, coração contra coração. E chama os seus servos, os seus anjos, para me darem tudo o que perdi. Nada falta: o manto de outrora, o anel de nobreza, os sapatos, e o vitelo gordo para a festa. O Coração de Jesus está emocionado; os seus olhos choram de ternura, mas sorriem de alegria: «Alegremo-nos, diz o bom Mestre, este filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado». (Leão Dehon, OSP 3, p. 653).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor" (Santa Teresa do Menino Jesus).

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    S. Teresa do Menino Jesus, Virgem (01 Outubro)

    XXVI Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares


    1 de Outubro, 2022

    Tempo Comum - Anos Pares

    XXVI Semana - Sábado

    Lectio

    Primeira leitura: Job 42, 1-3.5-6.12-17
    1Job respondeu ao Senhor e disse: 2«Sei que podes tudo e que nada te é impossível. 3Quem é que obscurece assim o desígnio divino, com palavras sem sentido? De facto, eu falei de coisas que não entendia, de maravilhas que superavam o meu saber. 5Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora vêem-te os meus próprios olhos. 6Por isso, retracto-me e faço penitência, cobrindo-me de pó e de cinza.» 12O Senhor abençoou a nova condição de Job, mais do que a antiga, e Job chegou a possuir catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. 13Teve também sete filhos e três filhas; 14à primeira pôs-lhe o nome de Jemima, à segunda, Quecia e à terceira, Quéren-Hapuc. 15Em toda a terra não havia mulheres mais formosas que as filhas de Job. E o pai deu-lhes uma parte da herança entre os seus irmãos. 16Depois disto, Job viveu ainda cento e quarenta anos e viu os seus filhos e os filhos dos seus filhos, até à quarta geração. 17Depois Job morreu velho e satisfeito com os dias vividos.
    O livro de Job termina com expressões de confiança e abandono em Deus. Job fizera a sua primeira confissão de fé ao contemplar a criação e as suas maravilhas. Agora, reconhece a desordem da sua mente, mas confessa a sabedoria e a omnipotência de Deus.: «Sei que podes tudo e que nada te é impossível» (v. 2).
    Job fez uma longa caminhada. Passou por situações de desespero, pela noite dos sentidos e do espírito, numa experiência das mais terríveis da existência. Compreendeu que Deus se esconde para se fazer procurar e ser encontrado: a aceitação disto sublinha o seu caminho místico, o grande dinamismo da sua vida espiritual. Pôde, pois, afirmar: "Agora vêem-te os meus próprios olhos», enquanto «antes conhecia-te por ter ouvido falar de Ti» (cf. 42, 5). Agora conheço-Te; entrei no mais profundo do teu mistério - pode dizer Job. O santo varão já não conhece Deus por ter ouvido falar d´Ele. Aproximou-se do mistério divino e procurou tornar-se semelhante ao Filho de Deus que deu a sua vida pelo homem. E ficamos a perceber que o problema de Job é, sobretudo, um problema de grande amor. É o problema de quem, sentindo-se rejeitado, não desiste de procurar e gritar a Deus a sua fidelidade. Satanás tinha apostado com Deus que não havia amor gratuito. Job consegue provar que, quando o amor do homem é atraído pelo de Deus, sabe chegar à doação total.

    Evangelho: Lucas 10, 17-24
    Naquele tempo, 17os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome!» 18Disse-lhes Ele: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. 19Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano. 20Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu.» 21Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.» 23Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. 24Porque - digo-vos - muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!»
    Os setenta e dois discípulos voltam «cheios de ale¬gria» (v. 17) e Jesus revela-lhes o conteúdo profundo daquilo que fizeram.
    O tema é tratado em duas secções ligeiramente diferentes, mas unitárias (vv. 17-20 e vv. 21-24). Temos, em primeiro lugar a missão, considerada pelos 72 discípulos uma vitória na luta contra Satanás (v. 18); depois, a vitória sobre Satanás, que evidencia a capacidade dos discípulos em vencer o mal que há no mundo. Por isso são chamados «Felizes» (v. 23) e os seus nomes estão «escritos no Céu» (v. 20); em terceiro lugar, o evangelho faz notar que «os pequenos» (v. 21) estão abertos ao mistério e recebem a verdade de Jesus; finalmente, Jesus louva o Pai pelo dom concedido «aos pequenos» e revela a união de amor entre Ele e o Pai: «Tudo me foi entregue por meu Pai; e nin¬guém conhece quem é o Filho senão o Pai...» (v. 22).
    Pode dizer-se que a missão é irradiação do amor que une o Pai e o Filho. Este amor, revelado «aos pequenos» é a força que destrói o mal. Os discípulos são «felizes» (v. 23) porque vêem e saboreiam desde já o amor do Pai e do Filho.

    Meditatio
    Terminamos, hoje, a leitura do livro de Job. No começo, Satanás tinha apostado com Deus que o homem não era capaz de um amor gratuito. Na conclusão, verificamos que, ainda que não saibamos se o homem é ou não capaz de um amor gratuito por Deus, uma coisa é certa: Deus ama-nos e dilata o nosso coração provando-o no fogo incandescente do seu amor. Deus espera que nos entreguemos a Ele, com confiança e perseverança, tal como Job. Se amamos a Deus, o nosso amor encontrará em si mesmo a sua riqueza. É este amor incrível e atraente que nos envolverá e conduzirá a saborear o dom inaudito do amor trinitário.
    O Cântico dos Cânticos diz-nos que Aquele que procuramos existe e nos ama. Havemos de encontrá-lo um dia, se perseverarmos na busca contemplativa. E seremos repletos de alegria. Mas é preciso procurá-lo desde já, sem desânimos. Job, no fim da sua caminhada dramática, pode afirmar: «os meus olhos vêem-te» (Jb 42, 5). Só quem viu e ouviu, como Pedro (cf. 2 Pe 1, 16-19), pode anunciar, pode fazer apostolado. Tudo o que podemos dizer sobre Deus deriva da contemplação: da contemplação feita por Jesus, pela Igreja e por nós. Graças ao amor, que o firmou numa autêntica relação com Deus, Job alcança a bênção de Deus, muito mais alargada do que antes.
    Meditámos, nos últimos tempos, sobre o mistério da provação e do amor. Viver a oblação de amor, a vida de vítima, quando se está alegre, com saúde, em prosperidade, não levanta particulares problemas, se houver uma fé viva, espírito de oração e de intimidade com Deus. Árduo é quando temos de enfrentar o sofrimento ou a provação. A experiência da dor é perturbadora e difícil de viver. Ela perturbou o próprio Cristo (cf., Lc 7, 13; Jo 11, 33-34). Chocou-O profundamente (cf. Mt 26, 37-38; Mc 14, 3
    3-34; Lc 22, 43-44).
    Ao mistério da dor e do mal, que para a razão é um absurdo, a fé responde com outro mistério, o de Cristo na cruz. A fé não responde às interrogações sobre cada um dos sofrimentos, mas dá-lhes um sentido, infunde uma luz e força que permitem vivê-los com amor. Para quem não tem fé, o sofrimento, especialmente o dos inocentes, não tem sentido, não tem resposta; falta a luz e a força de Cristo crucificado, vítima inocente de expiação e de redenção.
    O sofrimento é uma das possíveis realidades da nossa vida. E tantas vezes nos bate à porta! É preciso falar dele com realismo e discrição. Só deveria falar dele quem o experimenta ou já o experimentou. Às vezes encontram-se pessoas com uma fé maravilhosa que, embora sofrendo, consolam e dão força a quem as desejaria consolar. Neles é uma realidade, com simples heroísmo, a oferta dos sofrimentos, levados «com paciência e abandono» à vontade de Deus, «mesmo na noite escura e .na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos de Cristo pela redenção do mundo» (cf. Cst n. 24)
    O tempo do sofrimento, tanto o das provações morais e espirituais, como o da doença e o da velhice, se for vivido como um tempo de «eminente e misteriosa comunhão» com a oblação de sofrimento de Cristo, torna-se um tempo de «disponibilidade pura», de «pura oblação».
    Se for vivido com Cristo crucificado, o sofrimento é um tempo, não só de purificação dolorosa, mas de abertura à acção do Espírito, de puro abandono, de união amorosa à Vítima divina. Então, o tempo do sofrimento torna-se uma interiorização profunda, um encontro e comunhão com uma Presença misteriosa que nos ama.

    Oratio
    Senhor, ensina-me a entender melhor o sentido do sofrimento. Do sofrimento físico, do sofrimento moral, do sofrimento espiritual. Ensina-me, sobretudo, a vivê-lo unido a Ti, Crucificado de Lado aberto e Coração trespassado, como sinal supremo do amor gratuito, do amor oblativo com que o Pai, e Tu próprio, nos amastes e continuais a amar-nos. Que, nessa contemplação, encontre luz e força para olhar o tempo do sofrimento como ocasião de «eminente e misteriosa comunhão» com a Tua oblação, como tempo de «disponibilidade pura», de «pura oblação». Torna-te, Tu mesmo, uma torrente em mim, para que o correr dos meus dias, me conduza ao teu amor e possa ajudar muitos irmãos a atingir a mesma meta. Que, como Paulo, possa dizer com verdade: "Alegro-me nos sofrimentos suportados... e completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja" (Col 1,24). Amen.

    Contemplatio
    As provações interiores eram mais temíveis antes da instituição da devoção ao Sagrado Coração, mas desde esta revelação de amor, as almas abandonadas que amam o Sagrado Coração são mais ajudadas nestas vias dolorosas. O divino sol não deixa de luzir por elas; se uma nuvem por vezes vela a face do sol, nunca é por muito tempo.
    O divino Salvador quis passar por este estado de desolação interior sem exemplo, a fim de que nós não julgássemos tudo perdido quando a parte inferior do nosso ser foge daquilo que lhe é contrário, e para nos ensinar que não seremos julgados acerca da enfermidade da nossa carne, mas sobre a disposição da nossa vontade...
    O Sagrado Coração consolará os seus servidores nas suas penas, se não libertando-os destas penas, pelo menos adoçando os seus sofrimentos, porque não há nada de rude nem de desagradável que não seja adoçado por Ele.
    Ele tornar-se-á a sua força nas suas fraquezas. Encontrarão n'Ele um soberano remédio para todos os seus males e o seu refúgio em todas as suas necessidades e em todas as suas misérias».
    Divino Coração de Jesus, ... agradeço-vos terdes tomado sobre vós uma grande parte das minhas. A vossa bondade é sem medida. Abandono-me a vós, conduzi-me pelas sendas que escolherdes. Sei que, se a cruz aí se encontra, sabeis sempre adoçá-la. Se tiver um grande amor por vós, as provações mesmas ser-me-ão doces, porque considerarei que sois vós que me pedis de as suportar para vos ajudar em algum desígnio de misericórdia. (Leão Dehon, OSP 2, p. 312s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
    «Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja" (cf. Cl 1,24)
    | Fernando Fonseca, scj |

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