Solenidade da Ascensão – Ano C [atualizado]
1 de Junho, 2025
ANO C
7.º DOMINGO DA PÁSCOA
SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR
Tema da Solenidade da Ascensão do Senhor
A Solenidade da Ascensão de Jesus mostra, antes de mais, qual é a meta final do nosso caminho: a comunhão com Deus, a Vida definitiva. Mas, além disso, lembra aos discípulos de Jesus que, enquanto caminham na terra, têm a responsabilidade de continuar a obra de Jesus e de dar testemunho da salvação de Deus.
No Evangelho, Jesus ressuscitado despede-se dos discípulos e passa-lhes o testemunho. Os discípulos, formados na “escola” de Jesus, têm como missão levar o Evangelho a todas as nações, anunciar a todos os homens e mulheres o amor e a misericórdia de Deus. Não estarão sozinhos: Jesus vai enviar-lhes, como ajuda, o “prometido do Pai”, a “força do alto, o Espírito Santo. Esse Espírito dar-lhes-á a força necessária para enfrentar os obstáculos e ajudá-los-á a discernir os caminhos que devem percorrer.
A primeira leitura, repete a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter comunicado aos homens o projeto do Pai, entrou na Vida definitiva da comunhão com Deus, a mesma vida que espera todos os que percorrem o “caminho” que Jesus percorreu. Os discípulos, testemunhas da partida de Jesus, não podem ficar a olhar para o céu; mas têm de ir para o meio dos homens, seus irmãos, continuar o projeto de Jesus.
A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da “esperança” a que foram chamados: a Vida plena de comunhão com Deus. É essa “esperança” que ilumina o horizonte daqueles que fazem parte da Igreja, o “corpo” do qual Cristo é a “cabeça”.
LEITURA I – Atos dos Apóstolos 1,1-11
No meu primeiro livro, ó Teófilo,
narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar,
desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu,
depois de ter dado, pelo Espírito Santo,
as suas instruções aos Apóstolos que escolhera.
Foi também a eles que, depois da sua paixão,
Se apresentou vivo, com muitas provas,
aparecendo-lhes durante quarenta dias
e falando-lhes do reino de Deus.
Um dia em que estava com eles à mesa,
mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém,
mas que esperassem a promessa do Pai,
«da Qual – disse Ele – Me ouvistes falar.
Na verdade, João batizou com água;
vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo,
dentro de poucos dias».
Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar:
«Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?»
Ele respondeu-lhes:
«Não vos compete saber os tempos ou os momentos
que o Pai determinou com a sua autoridade;
mas recebereis a força do Espírito Santo,
que descerá sobre vós,
e sereis minhas testemunhas
em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria
e até aos confins da terra».
Dito isto, elevou-Se à vista deles
e uma nuvem escondeu-O a seus olhos.
E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava,
apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco,
que disseram:
«Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu?
Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu,
virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».
CONTEXTO
O livro dos “Atos dos Apóstolos” constitui a segunda parte da obra de Lucas. Depois de ter apresentado, na primeira parte (o “Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas”), “o tempo de Jesus”, Lucas completa a sua obra apresentando “o tempo da Igreja”: é o “tempo” em que a proposta de salvação de Deus é levada ao encontro do mundo pela comunidade de Jesus (a “Igreja”), animada e conduzida pelo Espírito Santo.
O livro dos Atos aparece algum tempo depois do terceiro Evangelho, nos últimos anos da década de 80 do primeiro século. Dirige-se a comunidades cristãs de língua grega, provavelmente comunidades que nasceram do trabalho missionário de Paulo de Tarso. São comunidades que, por essa altura, passam algumas dificuldades quanto ao compromisso com a fé: passou já a fase da expetativa pela vinda iminente do Cristo glorioso para instaurar o “Reino” e há uma certa desilusão porque essa vinda não se concretizou; as questões doutrinais causam confusões e conflitos internos; a monotonia favorece uma vida cristã pouco comprometida… Resultado: há já algum tempo que as comunidades cristãs se instalaram na mediocridade, falta-lhes o entusiasmo e o empenho na construção e no testemunho do Reino de Deus.
Nos Atos dos Apóstolos, Lucas procura deixar claro que o projeto de salvação que Jesus veio apresentar não pode ficar parado. Enquanto Jesus não volta, são os seus discípulos que têm de continuar a propor ao mundo a salvação de Deus. Eles devem, com alegria e entusiasmo, ser testemunhas de Jesus e do seu Evangelho em todos os cantos da terra. Foi essa a tarefa de que Jesus os incumbiu quando voltou para o Pai.
O texto que a liturgia do Domingo da Ascensão nos propõe como primeira leitura, é precisamente o início do livro dos Atos dos Apóstolos. Apresenta a despedida de Jesus, o seu regresso ao Pai, e a entrega da missão aos discípulos.
A despedida de Jesus teria acontecido em Jerusalém, após uma refeição com os discípulos (cf. At 1,4.9). No Evangelho, Lucas é ainda mais explícito: foi em Betânia, uma localidade situada no cimo do Monte das Oliveiras, mesmo em frente da cidade de Jerusalém, que Jesus se despediu dos discípulos e, à vista deles, subiu ao céu (cf. Lc 24,50). De acordo com o esquema teológico de Lucas, Jerusalém é o lugar onde a salvação irrompe (de acordo com a mentalidade judaica, é em Jerusalém que o Messias deve manifestar-se e que a sua proposta libertadora se há de concretizar na vida de Israel), e também o lugar de onde a salvação de Jesus parte para ir ao encontro do mundo.
Hoje, em Jerusalém, uma pequena capela em formato octogonal, situada no cimo do Monte das Oliveiras, faz memória da Ascensão de Jesus ao céu.
MENSAGEM
O nosso texto começa com um prólogo (vers. 1-2) que relaciona os “Atos” com o 3° Evangelho, quer na referência ao mesmo Teófilo a quem o Evangelho era dedicado, quer na alusão a Jesus, aos seus ensinamentos e à sua ação no mundo (tema central do 3.º Evangelho). Neste prólogo são também apresentados os protagonistas do livro dos Atos: o Espírito Santo e os apóstolos, vinculados com Jesus.
O prólogo inclui, ainda, uma referência a diversas aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos, durante quarenta dias, antes de subir ao céu. Nesse tempo, Jesus preparou os discípulos para o anúncio do Reino de Deus (vers. 3). Evidentemente, o número quarenta é simbólico: é o número que define o tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir as lições do mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de iniciação ao ensinamento do Ressuscitado.
Depois do prólogo, o autor dos Atos entra imediatamente no tema da despedida de Jesus dos seus discípulos e refere as últimas palavras de Jesus antes de partir para o Pai (vers. 4-8). Nessas palavras, há dois elementos que importa sublinhar: a referência à vinda do Espírito e a referência ao testemunho que os discípulos vão ser chamados a dar “em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo”. Estes dois elementos definem os traços fundamentais do tempo que se inicia com a partida de Jesus: será o tempo da Igreja, o tempo em que o testemunho da salvação será levado pelos discípulos, animados e orientados pelo Espírito, desde Jerusalém até Roma. Na realidade, trata-se do programa que Lucas vai apresentar ao longo do livro, posto na boca de Jesus ressuscitado. O autor quer mostrar com a sua obra que o testemunho e a pregação da Igreja estão entroncados no próprio Jesus.
O último tema é o da ascensão de Jesus ao céu (vers. 9-11). A descrição que o autor dos Atos faz da ascensão é bastante sóbria; mas, naturalmente, não é um relato factual de acontecimentos concretos. A passagem necessita de ser interpretada para que, através da roupagem dos símbolos, a mensagem apareça com toda a claridade.
Temos, em primeiro lugar, a elevação de Jesus ao céu (vers. 9a). Não estamos a falar de uma pessoa que, literalmente, descola da terra e começa a elevar-se em direção ao céu; estamos em contexto teológico (quem está a contar a história não é o “repórter”, mas sim o “teólogo”): a ascensão é uma forma de expressar simbolicamente que a exaltação de Jesus é total e atinge dimensões supraterrenas; é a forma literária de descrever o culminar de uma vida vivida para Deus, que agora reentra na glória da comunhão com o Pai.
Temos, também, a nuvem (vers. 9b) que subtrai Jesus aos olhos dos discípulos. Pairando a meio caminho entre o céu e a terra, a nuvem é, no Antigo Testamento, um símbolo privilegiado para exprimir a presença do divino na vida dos humanos (cf. Ex 13,21.22; 14,19.24; 24,15b-18; 40,34-38). Ao mesmo tempo, a nuvem esconde e manifesta: sugere o mistério do Deus escondido e presente, cujo rosto o Povo não pode ver, mas cuja presença adivinha nos acidentes da caminhada. Céu e terra, presença e ausência, luz e sombra, divino e humano, são dimensões aqui sugeridas a propósito de Cristo ressuscitado, elevado à glória do Pai, mas que continua a caminhar com os discípulos.
Temos ainda os discípulos a olhar para o céu (vers. 10a). Significa a expetativa da comunidade de Jesus que, ao longo da sua peregrinação na terra, está sempre à espera que Cristo venha novamente para levar ao seu termo o projeto de libertação do Homem e do mundo.
Temos, finalmente, os dois homens vestidos de branco que interpelam os discípulos de Jesus (vers. 10b). O branco sugere o mundo de Deus, o que indica que o seu testemunho vem de Deus. Eles convidam os discípulos a continuar no mundo, animados pelo Espírito, a obra libertadora de Jesus; agora, é a comunidade dos discípulos que tem de continuar, na história, a obra de Jesus, embora com a esperança posta na segunda e definitiva vinda do Senhor.
INTERPELAÇÕES
- A ascensão de Jesus deve ser vista no contexto de toda a sua vida. Ele veio ao encontro dos homens, caminhou no meio deles, procurou viver na fidelidade ao projeto do Pai, pagou com a própria vida o seu compromisso com a construção do Reino de Deus. Mas Deus não aceitou que a maldade vencesse e libertou Jesus da escravidão da morte; e Jesus, glorificado por Deus, entrou definitivamente na glória do Pai. A ascensão de Jesus diz-nos qual é o destino final daqueles que, como Ele, vivem na fidelidade aos projetos de Deus: estão destinados à glorificação, à comunhão definitiva com Deus. Contemplando a ascensão de Jesus, percebemos qual é a meta do nosso caminho: a Vida plena junto do Pai. Isto dá um novo sentido à nossa vida, às nossas lutas, ao nosso compromisso, à nossa entrega à construção do Reino de Deus. Não caminhamos ao encontro do vazio, do nada, mas caminhamos ao encontro da Vida definitiva nos braços de Deus, como Jesus. Temos consciência disso? Essa consciência alimenta a nossa entrega, o nosso compromisso, a nossa fidelidade ao projeto de Deus?
- É bem significativo que a “partida” de Jesus apareça associada ao envio dos discípulos. Jesus, terminada a sua missão, foi ter com o Pai; mas aquilo que Ele começou não está concluído. Agora a missão que o Pai tinha confiado a Jesus passa para as mãos dos seus discípulos. Como Jesus, eles têm a tarefa de ir pelo mundo curar, dar Vida, lutar contra o sofrimento e a morte, testemunhar com palavras e gestos a salvação de Deus. “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo” – disse-lhes Jesus ao partir para o Pai. A comunidade dos discípulos é uma comunidade “missionária”: todos os discípulos são “enviados” a dar testemunho de Jesus e do seu projeto, em todo o tempo e em todos os lugares. Sentimo-nos “missionários” de Jesus no nosso mundo, mensageiros da salvação de Deus em todos os lugares onde a vida nos leva?
- Jesus garantiu aos discípulos que iriam receber uma força, a do Espírito Santo, que os capacitaria para serem testemunhas da salvação de Deus em toda a terra. Trata-se de uma “promessa” decisiva. Não estamos sozinhos, entregues à nossa sorte, às nossas decisões falíveis, aos nossos medos e contradições. Através do Espírito é o próprio Jesus que nos acompanha, que nos orienta, que nos dá força para levar para a frente a missão. Estamos conscientes da presença do Espírito nas nossas vidas e na vida das nossas comunidades cristãs? Procuramos escutar o Espírito e discernir os desafios de Deus que Ele nos traz?
- “Porque estais assim a olhar para o céu?” – perguntam os “dois homens vestidos de branco” aos discípulos de Jesus, após a ascensão. É frequente ouvirmos dizer que os seguidores de Jesus passam muito tempo a olhar para o céu e negligenciam o seu compromisso com a transformação do mundo. Estamos, efetivamente, atentos aos problemas e às angústias dos homens, ou vivemos de olhos postos no céu, num espiritualismo alienado? Sentimo-nos questionados pelas inquietações, pelas misérias, pelos sofrimentos, pelos sonhos, pelas esperanças que enchem o coração dos que nos rodeiam? Sentimo-nos solidários com todos os homens, particularmente com aqueles que sofrem?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 46 (47)
Refrão 1:
Por entre aclamações e ao som da trombeta,
ergue-Se Deus, o Senhor.
Refrão 2:
Ergue-se, Deus, o Senhor,
em júbilo e ao som da trombeta.
Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra.
Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta.
Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai.
Deus é Rei do universo:
cantai os hinos mais belos.
Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado.
LEITURA II – Efésios 1,17-23
Irmãos:
O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória,
vos conceda um espírito de sabedoria e de luz
para O conhecerdes plenamente
e ilumine os olhos do vosso coração,
para compreenderdes a esperança a que fostes chamados,
os tesouros de glória da sua herança entre os santos
e a incomensurável grandeza do seu poder
para nós os crentes.
Assim o mostra a eficácia da poderosa força
que exerceu em Cristo,
que Ele ressuscitou dos mortos
e colocou à sua direita nos Céus,
acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania,
acima de todo o nome que é pronunciado,
não só neste mundo,
mas também no mundo que há de vir.
Tudo submeteu aos seus pés
e pô-l’O acima de todas as coisas
como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo,
a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.
CONTEXTO
Éfeso era uma cidade situada na costa da Jónia, a cerca de três quilómetros da moderna Selçuk, província de Esmirna, na atual Turquia. Durante o período romano chegou a ser a segunda cidade do império, logo a seguir a Roma. Era famosa pelo Templo de Ártemis, uma das sete maravilhas do mundo antigo, e pelo seu enorme teatro, com capacidade para cerca de 25.000 espetadores. Era também conhecida pela excelência das suas escolas filosóficas, pela sua vida cultural e por ser o principal centro comercial do Mediterrâneo.
Paulo passou em Éfeso durante a sua terceira viagem missionária e permaneceu na cidade durante um longo período de tempo (mais de dois anos, segundo At 19,10). Reuniu à sua volta um número considerável de pessoas convertidas ao “Caminho” (At 19,9.23); e assim, à volta da sua pregação e do seu testemunho, desenvolveu-se uma comunidade cristã numerosa e entusiasta. Foi aos anciãos da Igreja de Éfeso que Paulo confiou, em Mileto (cf. At 20,17-38), o seu testamento espiritual, apostólico e pastoral antes de ir a Jerusalém, onde acabaria por ser preso. Tudo isto faz supor uma relação muito estreita entre Paulo e a comunidade cristã de Éfeso. Estranhamente, a Carta aos Efésios não reflete essa relação.
Na verdade, a carta está escrita num tom impessoal, sem referências a pessoas ou a circunstâncias concretas. Parece estranho que Paulo, depois de ter passado um tempo relativamente longo em Éfeso, escrevesse uma carta sem deixar transparecer a relação estreita que o unia aos Efésios. Alguns duvidam, por essa razão, da autenticidade paulina da Carta aos Efésios; mas outros consideram que o texto que chegou até nós com a designação de “Carta aos Efésios”, poderia ser um dos exemplares de uma “carta circular” enviada a várias igrejas da Ásia Menor (também à Igreja de Éfeso), numa altura em que Paulo estava na prisão, talvez em Roma. Ora, uma carta desse tipo não poderia ser uma carta muito pessoal. Tíquico, o portador da carta, tê-la-ia distribuído pelas Igrejas da zona. Estaríamos, provavelmente, pelos anos 58/60.
O tema central da Carta aos Efésios é o projeto salvador de Deus (aquilo a que Paulo chama “o mistério”): definido desde toda a eternidade, permaneceu oculto ao entendimento dos homens durante séculos, até que foi dado a conhecer em Jesus e revelado aos apóstolos. O projeto salvador de Deus concretiza-se, agora, na Igreja, Corpo de Cristo, sacramento de salvação, onde judeus e pagãos se encontram e vivem em unidade.
O texto da Carta aos Efésios que nos é proposto como segunda leitura neste domingo da Ascensão, integra a primeira parte da carta, que reflete sobre o “Mistério” de Cristo e da Igreja (cf. Ef 1,3-3,21). Ao hino de louvor a Deus pelo seu plano de salvação, concretizado em Cristo (cf. Ef 1,3-14), segue-se uma ação de graças pela fé dos efésios e pela caridade que eles manifestam para com todos os irmãos na fé (cf. Ef 1,15-23).
MENSAGEM
Os efésios (bem como os outros crentes a quem esta “carta circular” é destinada) vivem de forma exemplar a sua fé em Cristo Jesus, bem como a caridade que resulta do mandamento do amor. Consciente disso, Paulo garante aos “santos” de Éfeso e das outras Igrejas que não cessa de agradecer a Deus os seus dons, pois é Ele, pelo seu Espírito, que alimenta a fé e a caridade dos seus fiéis (vers. 15-16).
À sua ação de graças, Paulo une uma fervorosa oração a Deus, pedindo-Lhe que conceda aos destinatários da carta “um espírito de sabedoria” que os leve a conhecê-l’O e a apreciarem “a esperança a que foram chamados” (vers. 17-18). Que “esperança” é esta? É, evidentemente, a Vida eterna, a herança prometida aos que caminham com Jesus. A prova de que o Pai tem poder para realizar essa “esperança” é o que Ele fez com o Seu Filho Jesus: ressuscitou-O da morte e sentou-O à sua direita, exaltou-O e deu-Lhe a soberania sobre todos os poderes (vers. 19-21). Paulo acha que, se Deus fez isso com Cristo, também o fará connosco. A ressurreição/exaltação de Cristo foi o primeiro fruto da ação de Deus; seguir-se-á a nossa ressurreição, aliás já incluída na de Cristo.
Chegado aqui, Paulo entende sublinhar que a “soberania” de Cristo (que Lhe foi dada pelo Pai) também se exerce sobre a Igreja; e retoma, para ilustrar o que pensa sobre esta questão, uma imagem que já utilizou anteriormente nos seus escritos: a da Igreja como “Corpo de Cristo”.
A ideia de que a comunidade cristã é um “corpo” – o “corpo de Cristo” – formado por muitos membros, já havia aparecido nas “grandes cartas” paulinas (Romanos, Coríntios), acentuando-se aí, sobretudo, a relação dos vários membros do “corpo” entre si (cf. 1 Cor 6,12-20; 10,16-17; 12,12-27; Rm 12,3-8); mas, nas “cartas do cativeiro” (especialmente Efésios e Colossenses), Paulo retoma a noção de “corpo de Cristo” para refletir sobre a relação que existe entre a comunidade e Cristo (cf. Col 1,18; Ef 4,15-16). No nosso texto, em concreto (vers. 22-23), há dois conceitos muito significativos para definir o quadro da relação entre Cristo e a Igreja: o de “cabeça” e o de “plenitude” (em grego, “pleroma”).
Dizer que Cristo é a “cabeça” da Igreja significa, antes de mais, que os dois formam uma unidade indissolúvel e que há entre os dois uma comunhão total de vida e de destino; significa também que Cristo é o centro à volta do qual o “corpo” se articula, a partir do qual e em direção ao qual o “corpo” cresce, se orienta e constrói, a origem e o fim desse “corpo”; significa ainda que a Igreja/corpo está submetida à obediência a Cristo/cabeça: só de Cristo a Igreja depende e só a Ele deve obediência.
Dizer que a Igreja é a “plenitude” (“pleroma”) de Cristo significa dizer que nela reside a “totalidade” de Cristo. Ela é o recetáculo, a habitação, onde o Cristo total Se torna presente no mundo; é através desse “corpo” onde reside, que Cristo continua todos os dias a realizar o seu projeto de salvação em favor dos homens. Plenamente presente nesse “corpo”, Cristo enche o mundo e atrai a Si o universo inteiro, até que o próprio Cristo “seja tudo em todos”.
INTERPELAÇÕES
- No dia em que celebramos a ascensão de Jesus ao céu, Paulo pede a Deus que “ilumine os olhos” do nosso coração para termos sempre presente “a esperança a que fomos chamados”. É um pedido que faz sentido. Curvados pelo cansaço do caminho, seduzidos pelos apelos de um mundo que vive “a prazo”, encandeados pelo brilho falso dos valores passageiros, podemos ceder à tentação de caminhar de olhos postos no chão, limitando-nos a seguir a corrente e a aproveitar algumas migalhas de felicidade efémera. Mas a ascensão de Jesus fala-nos de um projeto de vida com dimensão de eternidade e de plenitude. Qual o cenário de fundo que domina a nossa caminhada: o da terra, sempre muito rasteiro e limitado, ou o horizonte largo do mundo de Deus, de onde o nosso irmão Jesus nos chama?
- É bela e sugestiva a imagem da Igreja como um “corpo” do qual Cristo é a “cabeça”. Todos nós, membros vivos desse “corpo”, estamos ligados a Cristo. É Ele o nosso “centro”, a nossa referência, a nossa fonte de Vida. A imagem também nos lembra a comunhão, a solidariedade, os laços fraternos que unem todos aqueles que integram esse “corpo”, apesar das diferenças e distâncias que possam existir entre nós. Estas duas coordenadas estão presentes na nossa experiência de fé? Procuramos manter permanentemente a nossa ligação a Jesus e fazer d’Ele o centro à volta do qual construímos toda a nossa existência? Sentimo-nos ligados aos nossos irmãos na fé e procuramos, com eles e junto deles, viver o mandamento do amor que Jesus nos deixou?
- A Igreja é a “plenitude” de Cristo. Nela Cristo reside no mundo e nela Cristo continua a oferecer ao mundo a plenitude da salvação de Deus. Os homens e mulheres do nosso tempo, quando olham para a Igreja, encontram Cristo e a proposta de salvação que Cristo veio trazer? Nós, membros da Igreja, damos testemunho coerente e verdadeiro de Cristo e do Evangelho?
(Nota: em vez desta leitura, pode-se escolher a seguinte leitura facultativa: Ef 4,1-13)
ALELUIA – Mateus 28,19a.20b
Aleluia. Aleluia.
Ide e ensinai todos os povos, diz o Senhor:
Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos.
EVANGELHO – Lucas 24,46-53
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Está escrito que o Messias havia de sofrer
e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia
e que havia de ser pregado em seu nome
o arrependimento e o perdão dos pecados
a todas as nações, começando por Jerusalém.
Vós sois testemunhas disso.
Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai.
Por isso, permanecei na cidade,
até que sejais revestidos com a força do alto».
Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia
e, erguendo as mãos, abençoou-os.
Enquanto os abençoava,
afastou-Se deles e foi elevado ao Céu.
Eles prostraram-se diante de Jesus,
e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria.
E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.
CONTEXTO
Depois da prisão de Jesus (cf. Lc 22,4753), os discípulos tinham praticamente desaparecido de circulação. Pedro ainda tinha seguido os soldados do Templo que levavam Jesus para o palácio do sumo sacerdote, mas tinha negado qualquer ligação ao seu Mestre (cf. Lc 22,54-62). Quando Jesus morreu na cruz, “os seus conhecidos e as mulheres que o tinham acompanhado desde a Galileia mantinham-se à distância, observando estas coisas” (Lc 23,49).
Depois, na manhã de Páscoa, as mulheres que tinham vindo com Jesus desde a Galileia e que tinham visto onde o corpo de Jesus fora depositado (cf. Lc 23,55-56), foram ao sepulcro, mas encontraram o túmulo vazio e receberam o anúncio de que Jesus estava vivo. Foram contar a novidades aos outros discípulos de Jesus, “mas as suas palavras pareceram-lhes um desvario, e eles não acreditaram nelas” (Lc 24,11). Contudo, nesse mesmo dia, Jesus fez-se companheiro de caminho de dois discípulos que iam a caminho de uma povoação chamada Emaús (cf. Lc 24,13-35); e, logo depois, apareceu aos Onze (cf. Lc 24,36-43). É a reentrada em cena do grupo dos discípulos.
No texto evangélico que a liturgia do domingo da Ascensão nos convida a escutar, Jesus ressuscitado está com os discípulos e deixa-lhes as suas últimas instruções (cf. Lc 24,44-49). Depois sobe ao céu, ao encontro do Pai (cf. Lc 24,50-53). A cena da Ascensão de Jesus é colocada “junto de Betânia”. Betânia (a atual al-Azariye) é uma pequena aldeia situada no lado oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de três quilómetros de Jerusalém. Era em Betânia que viviam Lázaro, Marta e Maria, amigos de Jesus (cf. Jo 11; Lc 10,38-42).
No livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas refere-se à ressurreição, aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos e ascensão ao céu como acontecimentos separados no tempo, vivenciados ao longo de quarenta dias (cf. At 1,3). No Evangelho, porém, todos esses acontecimentos são colocados no espaço de um dia, o que parece mais correto do ponto de vista teológico: ressurreição e ascensão não se podem diferenciar; são apenas formas humanas de falar da passagem da morte à vida definitiva junto de Deus.
MENSAGEM
Ao despedir-se dos discípulos, Jesus começa por lembrar-lhes que os acontecimentos da sua paixão e morte se enquadravam no projeto de Deus (cf. Lc 24,44), enunciado na Escritura – na Lei, nos Profetas e nos Salmos, os três grandes “apartados” da Bíblia Hebraica. Sim, de acordo com as Escrituras, “o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia” (vers. 46). Na verdade, não existem textos na Bíblia Hebraica que digam, preto no branco, que o Messias tinha que padecer, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia; no entanto, alguns textos véterotestamentários (como por exemplo os cânticos do “Servo de Javé” – cf. Is 42,1-4; 49,1-6; 50,4-11; 52,13-53,12) poderiam servir de ponto de partida para uma reflexão deste tipo. Aliás o próprio Jesus, enquanto andava com os discípulos pelos caminhos da Palestina, tinha-lhes dito, repetidamente, que teria de sofrer, ser rejeitado pelas autoridades judaicas, ser morto e ressuscitar no terceiro dia (cf. Lc 9,21-22; 9,43-44; 18,31-33). Nessa altura os discípulos, obcecados com os seus próprios sonhos de triunfo e de glórias humanas, tinham-se recusado a escutar as palavras de Jesus. Agora, porém, o cenário era diferente. Eles estavam em condições de compreender que a morte de Jesus na cruz fazia parte do projeto salvador de Deus.
Essa compreensão era fundamental para que os discípulos pudessem desempenhar a tarefa que Jesus queria confiar-lhes. Enviados por Jesus, eles deviam ir ao encontro de “todas as nações, começando por Jerusalém”, a pregar “a conversão e o perdão dos pecados” (vers. 47). Deviam anunciar, em nome de Jesus, que Deus ama os homens e os convida a deixar o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência, o pecado; deviam proclamar por todo o lado que Deus, pela cruz, concretizou o seu plano salvador em favor de todos os homens. Como poderiam ser “testemunhas” de tudo isso se não tivessem entendido o mistério de Jesus, o sentido da sua vida, da sua morte e da sua ressurreição?
Por outro lado, o testemunho que os discípulos irão ser chamados a dar, tem um alcance universal: não ficará confinado às fronteiras de Israel, mas deve estender-se a todos os povos e nações. Lucas prepara aqui, desde logo, o desenvolvimento que irá apresentar no livro dos Atos dos Apóstolos, em que descreverá como os discípulos de Jesus, partindo de Jerusalém, levaram o Evangelho por todo o lado, até Roma, o coração do império.
Jesus sabe, no entanto, que os discípulos vão necessitar de ajuda para assumirem esta exigente missão. Não lhes seria fácil, apenas com as suas frágeis forças, afrontarem o mundo e pregarem um crucificado através do qual Deus salvou o mundo e os homens. Por isso, Jesus promete aos discípulos uma ajuda especial: “Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai” (vers. 49). Nunca, até aqui, Lucas tinha falado desta “promessa” do Pai. Explicitá-la-á, contudo, no livro dos Atos dos Apóstolos, quando puser Jesus, no cenário da sua ascensão aos céus, a dizer aos discípulos que seriam “batizados no Espírito Santo” (At 1,5) e que iriam receber “uma força, a do Espírito Santo”, para serem testemunhas do próprio Jesus “por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo” (At 1,8). Esse “Espírito” será, na descrição que Lucas nos deixa nos Atos dos Apóstolos, aquele que conduzirá e animará os discípulos de Jesus na sua marcha pela história.
Finalmente, Lucas descreve a ascensão de Jesus ao céu. Em Mateus, a partida de Jesus dá-se de “um monte” na Galileia (cf. Mt 28,16-20); em Lucas, contudo, a ascensão de Jesus situa-se nos arredores de Jerusalém, “junto de Betânia” (vers. 50). Num e noutro caso, as indicações geográficas estão ao serviço da “catequese” e das preocupações teológicas. Para Lucas, Jerusalém é o lugar onde irrompe no mundo a salvação de Deus e de onde essa salvação parte ao encontro do mundo. Por isso, a ascensão de Jesus e o envio dos discípulos tinham de ser situadas em Jerusalém.
A descrição que Lucas faz da ascensão propriamente dita, é bastante sóbria, até mesmo vaga. Percebe-se que, para Lucas, o importante não é a reportagem fotográfica do acontecimento, mas sim a indicação teológica: depois de ter terminado a sua missão entre os homens, Jesus foi glorificado e reentrou na glória de Deus.
Antes de ser elevado ao céu, Jesus “abençoou” os discípulos (vers. 50). Além de imprimir uma especial solenidade ao momento, o gesto de bênção que Jesus faz sugere um dom que vem de Deus e que afeta positivamente toda a ação dos discípulos, capacitados para a missão pela força de Deus. Os discípulos respondem à ação de Jesus com a adoração.
A nota final é dada pela “alegria” dos discípulos (vers. 52). A alegria é um dos temas típicos do terceiro Evangelho. Aparece no anúncio a Zacarias do nascimento de João Batista (cf. Lc 1,14); aparece quando Maria, levando Jesus no seu seio, vai encontrar-se com Isabel (cf. Lc 1,44,47); ecoa nas palavras que o anjo dirige aos pastores quando lhes anuncia o nascimento de Jesus (cf. Lc 2,10); está presente no coração dos discípulos quando regressam da sua primeira experiência missionária (cf. Lc 10,17). A alegria é o grande sinal messiânico e escatológico; indica que o mundo novo já começou, pois o projeto salvador e libertador de Deus está em marcha. É natural que Lucas conclua o seu Evangelho com esta nota: o projeto salvador de Deus está definitivamente instalado no mundo, conduzindo os homens ao encontro da vida plena.
INTERPELAÇÕES
- A partida de Jesus, a sua entrada definitiva no mistério do Pai, marca uma etapa nova na história da salvação. Nesse dia começa o tempo da Igreja, o tempo em que a responsabilidade de testemunhar a salvação de Deus fica nas mãos dos discípulos. Eles acolheram o convite de Jesus, dispuseram-se a segui-l’O, ouviram as suas palavras, viram os seus gestos, aprenderam as suas lições, foram formados na sua “escola”. Conhecem o projeto de Jesus e adotaram-no como projeto de vida. É altura de se mostrarem adultos e responsáveis na vivência da fé. Não podem continuar “á boleia” de Jesus, à espera que Jesus faça tudo. Compete-lhes agora continuarem no mundo, com alegria, criatividade e compromisso, a obra libertadora e salvadora de Jesus. Sentimos esta responsabilidade? Somos capazes de vencer os nossos medos e as nossas hesitações, a nossa preguiça e o nosso comodismo, para nos assumirmos como testemunhas coerentes e comprometidas de Jesus e do seu projeto?
- No Evangelho segundo Lucas, Jesus envia os discípulos a pregar em seu nome “a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”. A missão dos discípulos é a mesma que Jesus cumpriu, por mandato do Pai: libertar os homens das cadeias do egoísmo e do pecado e anunciar-lhes o amor, a bondade, a misericórdia, a ternura de Deus por todos os seus filhos. Desde o momento em que Jesus se despediu dos discípulos até hoje, passaram-se cerca de dois mil anos; mas a tarefa dos discípulos de Jesus continua a ser a mesma. O nosso anúncio é uma “boa notícia” que liberta do medo e que acende a esperança? Anunciamos e testemunhamos o amor misericordioso de Deus? Estamos empenhados em combater a injustiça, a violência, o egoísmo, a indiferença, tudo aquilo que gera escravidão e opressão? Os doentes, os prisioneiros, os que a todo o momento veem pisados os seus direitos e a sua dignidade, os que são “marcados” e excluídos por serem “diferentes”, podem contar com a nossa solidariedade ativa, com o nosso amor, com o nosso esforço para os libertar da opressão do “pecado” e para lhes levar Vida?
- A missão que Jesus confiou aos discípulos é uma missão universal: as fronteiras, as raças, as diferenças culturais, as diferenças ideológicas, as diferenças de estatuto social, as marcas da vida, os “acidentes” pessoais que tornam cada pessoa única e diferente, não podem ser obstáculos para a presença da proposta libertadora de Jesus no mundo. Temos consciência de que Jesus nos envia a todas as pessoas, independentemente daquilo que as torna diferentes, “estranhas”, singulares? Nas nossas comunidades cristãs há lugar para todos, sejam quais forem as situações de vida ou as feridas que cada um carrega?
- Ao chegar o momento da sua partida para o Pai, Jesus prometeu aos discípulos que iria enviar-lhes o prometido do Pai, o Espírito Santo, que os revestiria da “força do alto”. Portanto, os discípulos de Jesus não foram deixados sozinhos frente a uma obra colossal, que os esmaga pela sua dificuldade e amplitude. Os discípulos de Jesus são, em cada passo do caminho que percorrem, animados e guiados pelo Espírito de Deus, o mesmo Espírito que animava Jesus e lhe dava a força para cumprir o plano salvador do Pai em favor dos homens. Embora conscientes da nossa fragilidade, enfrentamos as dificuldades com a certeza da presença em nós do Espírito de Deus, que nos mostra o caminho a percorrer, que nos anima e que nos fortalece. Sentimos a presença reconfortante do Espírito nos momentos em que a dúvida, o medo e o desânimo nos batem à porta e ameaçam submergir-nos? Procuramos escutar a voz do Espírito e caminhar na direção que Ele nos aponta?
- Depois de testemunharem a partida de Jesus, os discípulos “voltaram para Jerusalém com grande alegria”. A alegria que brilha nos olhos e nos corações desses discípulos que testemunham a entrada definitiva de Jesus na vida de Deus tem de ser uma realidade que transparece na nossa vida e que contagia o nosso testemunho. Os seguidores de Jesus, iluminados pela fé, são chamados a testemunhar, com a sua alegria, que Jesus venceu a morte e o pecado e foi glorificado por Deus; são convidados a testemunhar, com a sua alegria, a certeza de que os espera, no final do caminho, a vida em plenitude, essa mesma vida onde Jesus já está; são chamados a testemunhar, com a sua alegria, que o projeto salvador e libertador de Deus está a atuar no mundo, está a transformar os corações e as mentes, está a fazer nascer, dia a dia, o Homem Novo. Somos testemunhas jubilosas de tudo isto no meio dos nossos irmãos?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DA ASCENSÃO
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Ascensão, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. ASCENSÃO… TRABALHAR A VERTICIALIDADE.
Para dar um tom mais específico a esta Solenidade, pode-se utilizar elementos para acentuar a verticalidade. Exemplos: colocar um recipiente com incenso, em frente ao altar, com o fumo do incenso a subir para o céu; levar o círio pascal na procissão de entrada e mantê-lo erguido durante todo o cântico de entrada, antes de o colocar no respetivo suporte; utilizar lamparinas (ou pequenas velas) durante a liturgia da Palavra. Antes da primeira leitura, um grupo de jovens com lamparinas acompanha o leitor e fica à volta do círio pascal. No fim da leitura, o presidente da assembleia acende uma pequena vela no círio pascal e comunica a luz às lamparinas dos jovens. Ficam com as lamparinas acesas durante o restante tempo da liturgia da Palavra. No Evangelho, ficam à volta daquele que lê o Evangelho e erguem as lamparinas no momento do Aleluia.
3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
Pai, que diriges o mundo na tua liberdade soberana, nós Te bendizemos pela presença do teu Filho Jesus nas nossas assembleias e nas nossas famílias, pelo ensinamento da tua Palavra, pelo banquete da Eucaristia e pelo dom do teu Espírito. Nós Te pedimos por todas as comunidades cristãs: abre os nossos corações ao teu Espírito, que os cristãos sejam testemunhas de Cristo até aos confins da terra.
No final da segunda leitura:
Cristo ressuscitado, nós Te aclamamos como o grande sacerdote por excelência.
Nós Te pedimos pelos corações feridos e os espíritos abatidos pela culpabilidade e o remorso, que eles encontrem confiança no teu perdão.
No final do Evangelho:
Pai, nós Te damos graças por toda a obra cumprida pelo teu Filho Jesus no meio dos homens, segundo as Escrituras, a sua fé em Ti no meio dos sofrimentos, a sua ressurreição e a conversão proclamada em seu nome em todas as nações.
Nós Te pedimos, ó Pai: envia sobre nós o teu Espírito Santo, força do alto, que nos prometeste e o teu Filho nos revelou. Envia-nos a testemunhar a tua obra de salvação.
4. BILHETE DE EVANGELHO.
A tristeza torna o rosto sombrio e as lágrimas estorvam a vista. Os discípulos conheceram a tristeza e a deceção, não podem reconhecer o Ressuscitado que caminhava ao seu lado. Serão necessários os olhos da fé para nomear Aquele que está vivo, para se alegrar n’Ele, para O anunciar. A fé, assim, não mergulha na nostalgia. Se ela se volta para o passado, é para fazer memória. Orienta-se, sobretudo, para um futuro que já não será mais como antes. Qual é, então, o segredo dos discípulos para que estejam alegres depois da partida do seu Mestre? Muito simplesmente a sua presença, mas “de outro modo”. Doravante, Ele está sempre com eles; receberam a força do Espírito Santo, atualizam a sua mensagem, fazem memória dos seus gestos, tornando-O realmente presente no meio deles. Eles vivem na alegria porque sabem que Ele está com eles até ao fim dos tempos e que sem Ele nada podem fazer. Ele prometeu, Ele manterá as suas promessas!
5. À ESCUTA DA PALAVRA.
“Enquanto Jesus os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu”. Mas é onde, o céu? Segundo o dicionário, é o espaço visível acima das nossas cabeças, que limita o horizonte. Hoje, os homens são capazes de ir ao espaço. O primeiro cosmonauta russo, em 1961, regressou à terra declarando que não tinha encontrado Deus! Manifestamente, Lucas não fala desse céu! Os astronautas vão para o espaço para melhor o explorar. Jesus, pela sua ressurreição, foi para lá do espaço, saiu do nosso espaço-tempo. Mas o que pode querer isso dizer? Reconheçamos que não temos qualquer experiência dessa realidade, pela simples razão de que continuamos fechados neste espaço-tempo. O que falamos, na Ascensão, tem a ver com a fé, com a confiança que podemos ter em Cristo e nas testemunhas que O viram separar-Se deles. Não há qualquer prova nem demonstração “científica” para esta subida ao céu de Jesus! Uma vez mais, somos convidados a situar-nos num outro registo, o do amor. É a nossa própria experiência: quando amamos, quando conhecemos momentos de intensa felicidade, gostaríamos que o tempo parasse, não para que tudo se acabe mas, ao contrário, para que esta felicidade que atinge todo o nosso ser seja como que eternizada. Gostaríamos de poder parar o tempo. Mas é o tempo para o amor. Ora – aí está a nossa fé – Jesus veio habitar este desejo de eternidade em nós, para o levar à sua plena realização. Vivendo a sua vida de homem, imergiu no amor que preenche os desejos humanos mais autênticos. Ressuscitando, fez entrar todos estes desejos no mundo do amor infinito. É desse céu que se trata hoje, para lá de tudo o que possamos imaginar ou desejar. Em cada Eucaristia, acolhemos em nós a presença de Jesus ressuscitado que vem alimentar e fazer crescer o germe da vida eterna. E, no dia da nossa morte, Jesus far-nos-á entrar no “além”, no “céu”, no mundo do amor sem qualquer limite…
6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística I, onde se evoca a “gloriosa ascensão” do Senhor…
7. PALAVRA PARA O CAMINHO.
Testemunhas de Cristo hoje. “Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu?” A mesma palavra vem mexer com as nossas inércias e empurra-nos para fora de nós mesmos nos caminhos deste mundo. Este Messias morto e ressuscitado… vós sois suas testemunhas! Medimos o desafio e a força destas palavras? E como tomamos parte na grande rede das testemunhas de Cristo hoje, no nosso tempo?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org