Eventos Abril 2025

  • 05º Domingo da Quaresma – Ano C [atualizado]

    05º Domingo da Quaresma – Ano C [atualizado]

    6 de Abril, 2025

    ANO C
    5.º DOMINGO DA QUARESMA

    Tema do 5.º Domingo da Quaresma

    Nesta quinta etapa do caminho quaresmal, a liturgia convida-nos a libertarmo-nos de tudo aquilo que nos escraviza e a caminharmos, com coragem e decisão, para a meta que nos espera: a vida renovada, o horizonte de liberdade e de felicidade que Deus quer oferecer a todos os seus queridos filhos.

    Na primeira leitura, o Deus que libertou os hebreus da escravidão do Egito anuncia aos exilados na Babilónia que irá concretizar uma nova intervenção salvadora em favor do seu povo. Os exilados irão ser libertados; e, acompanhados por Deus, percorrerão um caminho que os trará novamente para a terra de onde tinham sido arrancados, a terra onde corre leite e mel. É esse o desafio que Deus deixa também a nós, neste tempo de Quaresma: caminharmos da escravidão para a liberdade, da vida velha para a vida nova.

    No Evangelho Jesus mostra, a partir da história de uma mulher acusada de cometer adultério, como é que Deus lida com as nossas decisões erradas: “Eu não te condeno. Vai e não tornes a pecar”. O perdão de Deus, fruto do seu amor, falará sempre mais alto do que o nosso pecado. A grande preocupação de Deus não é castigar quem falhou; mas é apontar aos seus queridos filhos um caminho novo, de liberdade, de realização e de vida sem fim.

    Na segunda leitura Paulo de Tarso partilha com os cristãos da cidade de Filipos a sua experiência: desde que se encontrou com Cristo, Paulo deixou para trás todo o “lixo” que lhe limitava os movimentos e que o impedia de correr ao encontro de Cristo. A sua grande preocupação é identificar-se cada vez mais com Cristo e correr para a meta final, onde espera encontrar a vida definitiva.

     

    LEITURA I – Isaías 43,16-21

    O Senhor abriu outrora caminhos através do mar,
    veredas por entre as torrentes das águas.
    Pôs em campanha carros e cavalos,
    um exército de valentes guerreiros;
    e todos caíram para não mais se levantarem,
    extinguiram-se como um pavio que se apaga.
    Eis o que diz o Senhor:
    «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados,
    não presteis atenção às coisas antigas.
    Olhai: vou realizar uma coisa nova,
    que já começa a aparecer; não a vedes?
    Vou abrir um caminho no deserto,
    fazer brotar rios na terra árida.
    Os animais selvagens – chacais e avestruzes –
    proclamarão a minha glória,
    porque farei brotar água no deserto,
    rios na terra árida,
    para matar a sede ao meu povo escolhido,
    o povo que formei para Mim
    e que proclamará os meus louvores».

     

    CONTEXTO

    “Deutero-Isaías” é o nome que se dá a um profeta anónimo, provavelmente da escola de Isaías, que cumpriu a sua missão profética entre os exilados judeus na Babilónia e que é o autor dos capítulos 40 a 55 do livro de Isaías. Esses capítulos são conhecidos como o “livro da Consolação”, uma vez que as reflexões desenvolvidas pelo profeta se destinam a “consolar” os judeus exilados.

    Estamos na fase final do Exílio, entre 550 e 539 a.C., numa altura em que os exilados estão especialmente frustrados e desanimados. Tinham passado algumas dezenas de anos desde que Jerusalém fora arrasada por Nabucodonosor e que os sobreviventes da guerra tinham sido levados como prisioneiros para a Babilónia. Os exilados pensavam, inicialmente, que Deus iria atuar rapidamente e libertar o seu Povo do cativeiro; mas os anos passavam e nada disso acontecia. Deus teria virado definitivamente as costas ao seu Povo? Os deuses babilónicos seriam mais poderosos e estariam a impedir Javé de libertar o Seu Povo? Os exilados estariam condenados a morrer numa terra estrangeira sem cumprirem o sonho de rever a sua terra? O Deutero-Isaías dirige-se a este povo que começa a perder a esperança, responde às suas questões e procura dar-lhe ânimo.

    Na primeira parte do “Livro da Consolação” (Is 40-48), o profeta anuncia a iminência da libertação e compara a libertação da Babilónia – que ele perspetiva para breve – com o Êxodo do Egipto. É neste contexto que deve ser enquadrada a primeira leitura deste quinto domingo da Quaresma: é um oráculo de salvação, no qual Javé, pela voz do Deutero-Isaías, anuncia a ruína da Babilónia e a iminência de um “novo Êxodo” para o povo de Deus.

     

    MENSAGEM

    Dirigindo-se aos exilados na Babilónia, Deus apresenta-se: Ele é “o rei”, o “criador de Israel”, aquele que, há alguns séculos, esteve na origem do acontecimento “fundante” que marcou a vida e a história do povo de Deus: a libertação dos hebreus da escravidão do Egito. Nessa altura, foi Deus que “abriu caminhos através do mar”, a fim de que o povo pudesse fugir da terra da escravidão para a terra da liberdade (vers. 16); foi Ele também que combateu e venceu as orgulhosas tropas do faraó, que extinguiu o poderio egípcio do mesmo modo que se apaga uma mecha que fumega (vers. 17). Ao agir assim, Deus provou o seu poder e mostrou o seu compromisso com Israel.

    Agora, muitos séculos depois, o povo de Deus está outra vez exilado numa terra estrangeira. Muitos dos exilados vivem das memórias do passado, estão agarrados a coisas que já lá vão (vers. 18). Que esse olhar para o passado não signifique ficar estagnado, acomodado, incapaz de enxergar o futuro que se prepara. Se alguém olhar para o passado, que seja para descobrir, nas ações de Deus em favor do seu povo, um “padrão”: o Deus que outrora interveio para libertar o seu povo, é o Deus que sempre agirá da mesma forma quando vir que esse povo é maltratado e injustiçado. O Deus libertador e salvador de outrora, será o Deus salvador e libertador de hoje e de sempre.

    Cientes disto, os exilados devem olhar para o futuro. Se o fizerem, vão perceber os sinais de um novo êxodo, de uma nova libertação, de um tempo novo que está para chegar. Deus já está a preparar uma intervenção para salvar o seu povo.

    Quando o Deutero-Isaías proclama aos exilados esta mensagem, o panorama político do antigo Médio Oriente estava efetivamente a mudar. Ciro, o conquistador persa, preparava-se para desmantelar o império babilónio. O Deutero-Isaías, atento aos sinais da história, via em Ciro o instrumento de Deus para libertar o povo de Deus exilado na Babilónia. Ele achava que os exilados deviam apenas ter um pouco mais de paciência antes que Deus, através da ação de Ciro, libertasse o seu povo e o trouxesse de regresso à terra de Judá. Irá acontecer um novo êxodo – garante o profeta.

    O novo êxodo que Deus prepara para o seu povo é descrito pelo Deutero-Isaías em termos grandiosos: Deus vai abrir um caminho largo e direito no deserto, a fim de que os exilados possam fazer tranquilamente a viagem de regresso à sua terra (vers. 19); Deus vai fazer brotar rios na terra árida, para que o seu povo não sofra, ao longo do caminho, os tormentos da sede; e todos – até os animais selvagens – vão ver e reconhecer a ação salvadora de Deus em favor do seu povo. Unir-se-ão todos – os seres humanos e todos os outros seres criados – para cantar a glória e o poder de Deus (vers. 20).

    A atuação de Deus manifestará, de forma clara, o amor e a solicitude de Deus pelo seu povo. Diante da ação de Javé, Israel tomará consciência de que é o povo eleito e dará a resposta adequada: louvará o seu Deus pelos dons recebidos (vers. 21).

     

    INTERPELAÇÕES

    • Israel colocou na base do edifício da sua fé um encontro decisivo com o Deus que o libertou da escravidão no Egito. Essa experiência primordial ofereceu aos catequistas de Israel um paradigma para ler e entender as futuras ações de Deus em favor do seu povo: o Deus que salvou os escravos hebreus da opressão do faraó, é o Deus que não se conforma com qualquer escravidão que roube a vida e a dignidade dos seus filhos e que agirá sempre para os libertar do sofrimento e da morte. Toda a fé de Israel está firmemente ancorada nesta certeza. Hoje, ao escutar o texto do Deutero-Isaías que a primeira leitura nos apresenta, somos convidados a acolher este “dogma” fundamental na experiência de fé do povo de Deus. Também para nós, no séc. XXI, o mesmo Deus libertador quer salvar-nos de tudo aquilo que nos escraviza e nos impede de viver com dignidade. Nesse processo libertador, há coisas que Deus fará, e há coisas que teremos de ser nós a fazer, com a ajuda de Deus. Quais são, na nossa experiência de todos os dias, as “escravidões” que nos amarram e que nos impedem de construir uma vida com sentido? O que podemos fazer, da nossa parte, para derrotarmos os mecanismos de escravidão e de morte que nos atingem e que atingem tantos dos nossos irmãos?
    • “Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas” – pede Deus ao seu povo através do Deutero-Isaías. Trata-se de uma boa sugestão. Determo-nos nostalgicamente a contemplar o passado, pode contribuir para nos alhearmos da realidade presente e para limitarmos a nossa capacidade de construir um “hoje” com sentido. Ficar a olhar o passado pode significar estagnação, conformismo, acomodação, instalação, fechamento ao mundo; e nada disso é construtivo. Quando ficamos presos ao que já lá vai, num saudosismo que paralisa, acabamos por passar ao lado dos desafios sempre novos de Deus e dos dons que, em cada novo dia, Deus nos destina. Deixamo-nos levar pela tentação do passado, decidindo que “antigamente é que era bom” e que “agora está tudo pior”, ou estamos disponíveis para olhar em frente e para acolher, no nosso tempo, os dons de Deus?
    • “Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida” – diz Deus ao seu povo. Podemos ver o “caminho quaresmal” como esse caminho novo que Deus se propõe abrir para nós e que nos leva ao encontro de uma existência vivida de forma mais livre, mais feliz, mais realizada. Estamos sinceramente dispostos a enveredar por esse caminho? Haverá alguma coisa – ideias, comportamentos, atitudes, formas de ver o mundo, maneiras de nos relacionarmos com os nossos irmãos – que nos propomos abandonar, a fim de caminharmos mais livres e mais desimpedidos em direção a essa vida nova que Deus se propõe oferecer-nos?

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 125 (126)

    Refrão 1: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor.

    Refrão 2: O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.

     

    Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
    parecia-nos viver um sonho.
    Da nossa boca brotavam expressões de alegria
    e de nossos lábios cânticos de júbilo.

    Diziam então os pagãos:
    «O Senhor fez por eles grandes coisas».
    Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
    estamos exultantes de alegria.

    Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
    como as torrentes do deserto.
    Os que semeiam em lágrimas
    recolhem com alegria.

    À ida, vão a chorar,
    levando as sementes;
    à volta, vêm a cantar,
    trazendo os molhos de espigas.

     

    LEITURA II – Filipenses 3,8-14

    Irmãos:
    Considero todas as coisas como prejuízo,
    comparando-as com o bem supremo,
    que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor.
    Por Ele renunciei a todas as coisas
    e considerei tudo como lixo,
    para ganhar a Cristo
    e n’Ele me encontrar,
    não com a minha justiça que vem da Lei,
    mas com a que se recebe pela fé em Cristo,
    a justiça que vem de Deus e se funda na fé.
    Assim poderei conhecer Cristo,
    o poder da sua ressurreição
    e a participação nos seus sofrimentos,
    configurando-me à sua morte,
    para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos.
    Não que eu tenha já chegado à meta,
    ou já tenha atingido a perfeição.
    Mas continuo a correr, para ver se a alcanço,
    uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus.
    Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido.
    Só penso numa coisa:
    esquecendo o que fica para trás,
    lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta,
    em vista do prémio a que Deus, lá do alto,
    me chama em Cristo Jesus.

     

    CONTEXTO

    A cidade de Filipos, situada na Macedónia oriental, era uma cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição dos governantes das províncias locais e dependia diretamente do imperador. Gozava dos mesmos privilégios das cidades de Itália e os seus habitantes tinham cidadania romana. Paulo chegou a Filipos pelo ano 49 ou 50, no decurso da sua segunda viagem missionária, acompanhado de Silvano, Timóteo e Lucas (cf. At 16,1-40). Da sua pregação nasceu a primeira comunidade cristã em solo europeu.

    A comunidade cristã de Filipos era uma comunidade entusiasta, generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da coleta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2Cor 8,1-5). Paulo nutria pelos cristãos de Filipos um afeto especial; e os filipenses, por seu turno, tinham Paulo em grande apreço. Apesar de tudo, a comunidade cristã de Filipos não era perfeita: os altivos patrícios romanos de Filipos tinham alguma dificuldade em assumir certos valores como o desprendimento, a humildade e a simplicidade.

    Paulo escreve aos Filipenses numa altura em que estava na prisão (não sabemos se em Cesareia, em Roma, ou em Éfeso). Os filipenses tinham-lhe enviado, por um membro da comunidade chamado Epafrodito, uma certa quantia em dinheiro, a fim de que Paulo pudesse prover às suas necessidades. Na carta, Paulo agradece a preocupação dos filipenses com a sua pessoa (cf. Flp 4,10-20), exorta-os a manterem-se fiéis ao Evangelho de Jesus e a incarnarem os valores que marcaram a vida de Cristo (cf. Flp 2,5). A carta apresenta, também, uma parte “polémica” (cf. Flp 3,1b-4,1.8-9), na qual Paulo avisa os filipenses contra os “cães”, os “maus trabalhadores” (Flp 3,2) que, em Filipos como em todo o lado, semeiam a dúvida e a confusão na comunidade. Quem são estes? São os chamados “judaizantes”, isto é, os pregadores cristãos de origem judaica que proclamavam a obrigatoriedade da circuncisão e da obediência à Lei de Moisés.

    O texto que nos é proposto insere-se nesse discurso de polémica contra os adversários “judaizantes”. Nele, Paulo pede aos Filipenses que não se deixem enganar por esses falsos pregadores, que se apresentam com títulos de glória, mas que parecem esquecer que só Cristo é importante.

     

    MENSAGEM

    Ao exibicionismo e ao discurso pretensioso dos “judaizantes”, que alardeiam por todo o lado os seus títulos de glória e os seus méritos enquanto cumpridores da Lei moisaica, Paulo contrapõe o seu próprio exemplo. Ele teria mais razões do que outros para exibir os seus títulos: é hebreu genuíno, filho de hebreus, da tribo de Benjamim; foi circuncidado com oito dias; foi fariseu convicto, estudou a Lei na melhor escola de Jerusalém e viveu irrepreensivelmente como filho da Lei (cf. Flp 3,5-6). No entanto, considera que tudo isso nada vale diante da única coisa verdadeiramente decisiva: “conhecer” Jesus Cristo. A palavra “conhecer” deve ser aqui entendida no mais genuíno sentido da tradição bíblica, quer dizer, no sentido de “entrar em comunhão de vida e de destino” com uma pessoa. Aquilo que Paulo procura agora, aquilo que ele sente como determinante na sua vida, é identificar-se com Cristo e viver em comunhão com Cristo. Tudo o que não é “conhecimento” de Cristo – a circuncisão, os ritos da Lei de Moisés, as credenciais que os estudos rabínicos lhe outorgaram – são apenas “lixo” (“skýbalon”: “esterco”, “excremento”) que deve ficar para trás (vers. 8). A “justificação” que leva à vida não vem do cumprimento das obras da Lei, mas sim da adesão (“fé”) a Cristo (vers. 9). Aderindo a Cristo, identificando-se com Cristo e vivendo em comunhão com Cristo, Paulo está seguro de que o seu destino final será a vida nova, a ressurreição (vers. 10-11).

    De resto, Paulo está consciente de que ainda tem um longo caminho a percorrer até alcançar esse destino final (vers. 12). A sua identificação com Cristo é um processo em construção. Implica um esforço diário, uma luta nunca terminada. Paulo sente-se como um atleta que corre em direção a uma meta; mas está consciente de que a meta ainda está distante. Resta a Paulo lançar-se para a frente, esquecer tudo aquilo em que durante algum tempo tinha apostado e não tirar os olhos da “meta” que é o encontro com Cristo (vers. 13-14). Esse é o único caminho que faz sentido para quem descobre Cristo e a beleza da sua proposta.

    Os filipenses – e, é claro, os crentes de todos os tempos e lugares – farão bem em imitar o exemplo de Paulo e em correr decididos ao encontro de Cristo, sem deixar que nada os distraia ou afaste desse objetivo.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Neste texto da Carta aos Filipenses – como em tantos outros textos paulinos – está em evidência uma realidade que nos ajuda a entender as apostas de Paulo de Tarso: Cristo ocupa um lugar central na vida do apóstolo. Quando Paulo encontrou Cristo, na estrada de Damasco, tudo o que até então tinha desempenhado um lugar importante na sua vida ficou para trás. Cristo tomou conta da vida de Paulo de forma irreversível. Paulo, a partir desse encontro fundamental, passou a considerar todas as coisas um “prejuízo” quando comparadas com Cristo. Nós que, no dia do nosso batismo, nos encontramos com Cristo e que temos, desde então, feito um longo caminho com Cristo, poderemos dizer o mesmo? Que lugar ocupa Cristo na nossa vida? O “conhecimento” de Cristo, a identificação com Cristo, a comunhão com Cristo, o seguimento de Cristo são a nossa prioridade? Cristo sobrepõe-se a todos os outros valores e propostas que a cada instante entram no caminho da nossa vida e viajam connosco?
    • Paulo refere-se a algumas das coisas a que chegou a dar importância, antes de se encontrar com Cristo, como “lixo”, “esterco”. A palavra usada por Paulo sugere o desprezo que ele sente por valores que, além de fúteis, podem mesmo constituir um obstáculo no caminho que Deus nos chama a fazer. O tempo da Quaresma é um tempo oportuno para identificarmos e para, eventualmente, nos livrarmos do “lixo” que vamos acumulando na nossa vida e que dificulta a nossa identificação com Cristo. Quais são os “lixos” que andamos a acumular e que nos impedem de caminhar livremente ao encontro de Cristo? Estamos dispostos, neste tempo quaresmal, a fazer uma limpeza da nossa vida e a prescindir daquilo que nos aprisiona e nos impede de correr para a meta, ao encontro da vida definitiva?
    • Paulo lembra aos cristãos de Filipos – e a nós também – que a vida cristã é uma corrida que não acaba enquanto não chegarmos à meta. Paulo sabia que, em determinados momentos do caminho, somos tentados pela acomodação, pelo conformismo, pela instalação, pela preguiça, pela convicção de que já fizemos tudo o que era necessário fazer. Por isso, Paulo deixa o aviso: enquanto caminhamos nesta terra nada está concluído, há sempre caminho a percorrer. A nossa identificação com Cristo é um desafio constante, uma aposta que temos de renovar em cada passo do caminho. Como é que encaramos a nossa caminhada ao encontro de Cristo? Como uma meta já alcançada, que nos permite, a carta altura, viver de rendimentos, ou como uma corrida nunca terminada, que exige a cada passo a renovação do nosso empenho e do nosso compromisso?

     

    ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Joel 2,12-13

    Refrão 1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.

    Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.

    Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.

    Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.

    Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.

    Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.

    Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.

     

    Convertei-vos a Mim de todo o coração, diz o Senhor;
    porque sou benigno e misericordioso.

     

    EVANGELHO – João 8,1-11

    Naquele tempo,
    Jesus foi para o Monte das Oliveiras.
    Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo,
    e todo o povo se aproximou d’Ele.
    Então sentou-Se e começou a ensinar.
    Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus
    uma mulher surpreendida em adultério,
    colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus:
    «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.
    Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres.
    Tu que dizes?».
    Falavam assim para Lhe armarem uma cilada
    e terem pretexto para O acusar.
    Mas Jesus inclinou-Se
    e começou a escrever com o dedo no chão.
    Como persistiam em interrogá-l’O,
    ergueu-Se e disse-lhes:
    «Quem de entre vós estiver sem pecado
    atire a primeira pedra».
    Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão.
    Eles, porém, quando ouviram tais palavras,
    foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos,
    e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio.
    Jesus ergueu-Se e disse-lhe:
    «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?».
    Ela respondeu:
    «Ninguém, Senhor».
    Disse então Jesus:
    «Nem Eu te condeno.
    Vai e não tornes a pecar».

     

    CONTEXTO

    O relato da mulher apanhada a cometer adultério não pertencia, inicialmente, ao Evangelho de João. Terá sido um relato introduzido tardiamente no Quarto Evangelho, pois não aparece nos manuscritos anteriores ao ano 300. É ignorado pelos Padres da Igreja até ao séc. IV. Depois disso, a sua canonicidade é defendida por Santo Agostinho, Santo Ambrósio e São Jerónimo que, no entanto, o colocam noutro lugar (depois de Jo 7,36). Aliás, o texto não possui as caraterísticas do estilo joânico (linguagem, género literário) e a sua temática não encaixa nas preocupações teológicas do autor do Quarto Evangelho. Alguns manuscritos antigos colocam-no no Evangelho de Lucas (após Lc 21,38), que seria um lugar mais lógico para enquadrar o relato, dado o interesse de Lucas em sublinhar a misericórdia de Jesus para com os pecadores e proscritos.

    Não se sabe quem recolheu este relato nem por que portas ele veio ter ao Evangelho segundo João. Alguns viram no ostracismo a que ele foi votado durante algum tempo a dificuldade da Igreja primitiva em aceitar uma história escandalosa, numa altura em que o adultério era considerado totalmente incompatível com a condição dos batizados, levando inclusive à exclusão da comunidade cristã. Contudo, o facto de o texto, depois de algum tempo, se ter imposto e aparecer num dos evangelhos é considerado a confirmação da sua autenticidade: não foi possível silenciar um episódio que se baseava numa tradição consistente. Seja como for, a Igreja acabou por aceitar este relato como um texto inspirado e por o incluir no tesouro da Palavra de Deus.

    A cena que vai ser descrita situa-nos no Templo de Jerusalém. Jesus tinha pernoitado no Monte das Oliveiras; mas, pela manhã, dirigira-se de novo para o Templo, onde costumava ensinar todos aqueles que iam ao seu encontro.

     

    MENSAGEM

    Jesus está sentado na esplanada do Templo, na atitude clássica dos “mestres” que ensinam os seus discípulos (vers. 2). “Sentado”, como os rabis, Ele vai oferecer a todos os que ali estão uma lição inesquecível sobre a forma como Deus olha para a fragilidade dos seus filhos.

    Os escribas e os fariseus apresentam-se diante de Jesus com uma mulher (vers. 3). Contam-lhe que ela foi apanhada a cometer adultério. Lembram a Jesus o que a Lei determina em casos semelhantes, mas perguntam a Jesus a sua opinião sobre a matéria (vers. 4-5). O Lei determinava, efetivamente, que “se um homem cometer adultério com a mulher do seu próximo, o homem adúltero e a mulher adúltera serão punidos com a morte” (Lv 20,10; Dt 17,5-7; 22,22). Os acusadores desta mulher, contudo, não fazem qualquer referência ao homem com quem ela estava a cometer adultério. As mulheres, no tempo de Jesus, eram “o elo mais fraco” na cadeia da organização social palestina. Provavelmente, nem sempre se aplicaria esta lei; mas parece que, no exemplo presente, os “juízes” da mulher pareciam dispostos a aplicá-la. O autor do relato revela-nos, no entanto, que aqueles escribas e fariseus estavam sobretudo interessados em “armarem uma cilada a Jesus e terem pretexto para O acusar” (vers. 6a). Efetivamente, se Jesus optasse pela clemência, contra o que a Lei estipulava, seria acusado de fazer da Lei letra morta e perderia o direito de se apresentar com qualquer pretensão messiânica; mas se Ele aprovasse a lapidação da mulher estaria a contradizer tudo o que costumava ensinar sobre perdão, misericórdia e compaixão. A questão era decisiva: não se tratava de uma questão meramente académica, mas de uma decisão que implicava a vida ou a morte de uma pessoa. A mulher acusada está de pé de no meio dos presentes, na posição habitual que o acusado ocupa quando é apresentado ao tribunal. Os acusadores não se dirigem à mulher, uma vez que a sua culpabilidade está definida desde o primeiro momento; eles dirigem-se apenas a Jesus, pois o que lhes interessa é comprometer Jesus. Colocada a questão, todos os que assistem à cena estão pendentes da reação de Jesus.

    Jesus não responde logo. “Inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão” (vers. 6b). Têm sido dadas as mais diversas explicações para o gesto de Jesus. Há quem ache que Jesus estaria a escrever a sentença que ia proferir antes de a proclamar; há também quem ligue o gesto de Jesus a um texto do profeta Jeremias que fala dos que se afastam de Deus, “que serão escritos no pó” (Jr 17,13), isto é, na terra dos mortos. Mas o mais provável é que se trate de uma pausa destinada a ganhar tempo. Esse “tempo” talvez tenha servido a Jesus para acalmar a sua irritação perante o descaramento daqueles vigilantes da moral e dos bons costumes; mas também serviria para que os escribas e fariseus se confrontassem com a gravidade do que estavam a exigir, em nome de Deus: com o seu silêncio, Jesus estava a convidá-los, sem palavras, a passar do domínio da Lei para o domínio da misericórdia.

    Contudo, os que acusavam a mulher não quiseram ou não souberam aproveitar a oportunidade que lhes foi dada para chegarem, por eles próprios, à compaixão. Continuaram a interrogar Jesus, exigindo uma resposta. Foi nessa altura que Jesus tomou a palavra para dizer: “quem de entre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra” (vers. 7). O “dito” de Jesus convidava aquela gente a tomar consciência de que o pecado é uma consequência dos nossos limites muito humanos e que ninguém está isento dessa condição. Poderá alguém que tem consciência dos seus limites e falhas ter a ousadia de acusar outros e de exigir que lhes seja dada a morte como castigo? Jesus, depois de atirar aos acusadores da mulher esta “provocação” que lhes desmascarava a hipocrisia, continuou a escrever no chão, dando-lhes tempo para interiorizar o que tinha sido dito e para tirar as conclusões que se impunham (vers. 8). O texto acrescenta que, depois de terem ouvido as palavras de Jesus, os escribas e fariseus “foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos” (vers. 9a). A indicação pode querer dizer que os mais velhos têm uma mais longa experiência da fragilidade humana.

    Nessa altura Jesus ergueu-se e olhou para a mulher. A controvérsia com os escribas e fariseus tinha terminado; mas a mulher ainda estava ali, à espera de uma palavra de Jesus. E Jesus, depois de ter constatado que não havia ali ninguém para emitir uma decisão de condenação, disse simplesmente à mulher: “nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar” (vers. 11). Jesus não veio para condenar ninguém. Ele veio mostrar-nos o rosto e o coração de um Deus que ama incondicionalmente os seus filhos e que não os condena pelas suas fragilidades. Mas a intervenção de Jesus não se fica pelo “não condenar”; ao mesmo tempo, Jesus “liberta” a mulher, apontando-lhe um caminho novo. Convida-a a fazer escolhas que a tornem livre e que não a aprisionem numa vida sem saída.

    A dinâmica de Deus é uma dinâmica de misericórdia, pois só o amor transforma e permite a superação dos limites humanos. É essa a realidade do Reino de Deus.

     

    INTERPELAÇÕES

    • O episódio da mulher apanhada em adultério, trazida até Jesus pelos escribas e doutores da Lei, oferece-nos um muito belo retrato de Deus e da forma como Deus encara a fragilidade dos seus filhos e filhas. Garante-nos que o Deus que Jesus nos veio revelar funciona numa lógica de misericórdia e não numa lógica de estrita retribuição; diz-nos que a força de Deus não está na condenação e no castigo, mas sim no amor e no perdão; assegura que o nosso Deus não quer a morte daquele que errou, mas sim a libertação plena de cada um dos seus filhos; confirma que o coração de Deus é um coração de pai ou de mãe, sempre cheio de amor pelos seus queridos filhos. Sempre que lhe apresentamos as nossas misérias e as nossas decisões estúpidas, Ele diz-nos: “Eu não te condeno”; sempre que caímos uma e outra e outra vez nos mesmos erros, Ele diz-nos: “Eu não te condeno”; sempre que nos apresentamos diante d’Ele dececionados com a forma como conduzimos a nossa vida, Ele consola-nos e garante-nos: “Eu não te condeno”; sempre que nos sentimos malvistos, incompreendidos, marginalizados, Ele diz-nos: “Eu não te condeno”. Neste tempo quaresmal, quando somos convidados a olhar para as nossas fragilidades mil vezes repetidas, é consolador ouvirmos de Deus este “Eu não te condeno”; dá-nos vontade de superarmos as nossas limitações e de abraçarmos, com decisão, um caminho novo, uma vida nova. O que achamos de tudo isto? Sentimos que as nossas fragilidades e limitações não são decisivas face ao amor imenso que Deus nos dedica? Isso é para nós fonte de consolação, de alegria e de esperança?
    • Aqueles escribas e fariseus que trazem a Jesus a mulher apanhada em adultério são os polícias da moral e dos bons costumes, sempre dispostos a anotar e a condenar os erros e as falhas dos outros. Os seus corações são comandados pelo legalismo e não pela misericórdia. Habita-os a hipocrisia: conseguem descobrir tudo o que se passa de errado na vida dos outros, mas não se detêm um instante a olhar para os seus próprios telhados de vidro. São “figuras” que encontramos a cada passo no nosso mundo e até mesmo nas nossas comunidades cristãs. Condenam os “diferentes” em julgamentos sumários, carregam os outros com pesos insuportáveis de culpas reais ou imaginárias, tratam com arrogância os mais humildes e frágeis, colocam rótulos desprovidos de caridade nas pessoas que os rodeiam, oferecem ao mundo a imagem de um Deus intransigente e mau, fazem com que muitos homens e mulheres de boa vontade não tenham qualquer vontade de conhecer Deus e as suas propostas. Conhecemos gente assim? Teremos porventura nós também alguns destes “tiques”? Necessitaremos de mudar alguma coisa, na nossa forma de ver os nossos irmãos e as suas fragilidades, para não nos identificarmos com esses “escribas e fariseus”?
    • Jesus não se limitou a dizer à mulher que não a condenava, mas, com respeito e delicadeza, colocou-a na rota de uma vida nova: “vai e não tornes a pecar”. Depois de a libertar do peso da culpa, convidou-a libertar-se das opções que escravizam e conduzem a situações sem saída. A “estratégia” de Jesus corresponde ao projeto de Deus para os seres humanos. Deus não se limita a não condenar ou a perdoar, mas quer que os seus filhos caminhem em direção à vida nova, a uma vida com sentido, livre e plenamente realizada. É precisamente esse o caminho que somos chamados a percorrer durante o tempo quaresmal. De que é que precisamos de nos libertar para chegarmos a uma vida renovada, a um caminho de liberdade e de plena realização?
    • O perdão é um dos sinais do Reino de Deus. Jesus pediu repetidamente aos seus discípulos que vivessem as suas vidas ao ritmo do perdão. O que é perdoar? É esquecer ingenuamente as injustiças passadas? Não. Perdoar é recordar o mal que nos fizeram e, apesar disso, adotar uma atitude não discriminatória nem vingativa contra aquele que fez o mal; é ter presente o que nos feriu e, apesar disso, inverter a lógica de violência e de agressividade para começar uma história nova, criadora de um futuro diferente com a pessoa que nos magoou. Quem perdoa, evidentemente, corre riscos; mas, ao perdoar, estamos a evitar o maior de todos os riscos: o de nos fecharmos a qualquer futuro e de deixarmos que o ódio envenene as nossas vidas. Como lidamos com a exigência do perdão? Estamos de acordo que o perdão nos abre as portas de uma vida mais produtiva, mais humana e mais feliz?
    • A magnanimidade de Deus para com as pessoas que falham não será uma atitude pouco pedagógica? Não favorecerá a banalização do pecado? Para Deus será tudo igual, no que concerne às escolhas dos seus filhos, uma vez que o seu amor é incondicional? É necessário que entendamos isto: as nossas escolhas erradas atingem-nos a nós próprios, limitam os nossos próprios horizontes, fazem-nos falhar o sentido da nossa existência, impedem-nos de ser livres. Deus não fica feliz se nos vir escolher caminhos de egoísmo e de autossuficiência, pois sabe que isso nos levará até à frustração e ao fracasso. Mas o pecado não magoa Deus; magoa-nos a nós próprios. Temos consciência disso?
    • Na história da mulher apanhada em adultério, a acusação dos escribas e fariseus recai apenas na mulher; ninguém pergunta a Jesus se o homem que com ela estava deve ser morto, segundo a Lei de Moisés. O quadro põe a nu a hipocrisia de uma sociedade que castigava a mulher, mas não usava a mesma medida para com as falhas do homem. Trata-se de uma sociedade que discrimina a mulher face ao homem. Jesus, ao defender a mulher acossada por aquele grupo de homens, introduz verdade e justiça naquele quadro desequilibrado e injusto. Embora hoje o ordenamento jurídico e a legislação penal já tenham em conta a igualdade fundamental entre o homem e a mulher, ainda subsistem, na nossa vida de todos os dias, práticas e hábitos discriminatórios que atentam contra a dignidade das mulheres, que humilham as mulheres e as fazem sofrer. Não deveríamos estar mais atentos a isto, inclusive nas comunidades cristãs? Não deveríamos, como Jesus, estar mais perto de todas as mulheres injustiçadas, oprimidas, discriminadas, ofendidas na sua dignidade, tratadas como objetos, para lhes proporcionarmos defesa inteligente e proteção eficaz?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5.º DOMINGO DA QUARESMA

    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao 5.º Domingo da Quaresma, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. O APELO A PORMO-NOS DE PÉ.

    Depois do apelo à paciência (3.º domingo) e o apelo à misericórdia (4.º domingo), eis, neste 5.º domingo da Quaresma, o apelo a pormo-nos de pé e a viver de maneira diferente: “vai e não tornes a pecar”. O momento penitencial pode realçar este dinamismo de conversão.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

     

    No final da primeira leitura:

    Pai do teu Povo, nós Te damos graças pela tua obra criadora, renovada sem cessar, e pelos germes do mundo novo que o mistério da Páscoa nos revela.

    Nós Te pedimos pelos candidatos ao batismo, adultos, jovens e crianças, e pelas comunidades, os padrinhos/madrinhas e os pais que os preparam.

     

    No final da segunda leitura:

    Cristo Jesus, Tu que Te deste a conhecer ao apóstolo Paulo e o agarraste a ponto de ele Te preferir a todas as riquezas da terra e Te reconheceu como a única vantagem válida, nós Te bendizemos.

    Nós Te pedimos pelos doentes e pelas vítimas de todas as espécies de sofrimentos. Que a revelação da tua Paixão os mantenha na esperança da ressurreição e da vida do mundo que há de vir.

     

    No final do Evangelho:

    Pai, bendito sejas pela mensagem de perdão, a palavra de reconciliação e o apelo à esperança que nos fizeste ouvir enviando-nos o teu Filho.

    Nós Te pedimos por todas as nossas comunidades que celebram a reconciliação nestes dias. Que o teu perdão nos renove e nos reconcilie entre nós.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.

    Jesus é posto face à Lei e, ao mesmo tempo, face a uma mulher. A Lei é clara: esta mulher, apanhada em flagrante delito de adultério, deve ser delapidada. Jesus não rejeita a Lei, pede somente aos escribas e fariseus para a colocar em prática, com a condição de começarem a ter um olhar sobre a própria vida antes de olhar a mulher e de a condenar. Os detratores acabam por se condenar a si mesmos e retiram-se, reconhecendo-se pecadores, a começar pelos mais velhos… Quanto a Jesus, que não tem pecado, podia lançar a pedra. Não o faz. Ele veio para salvar, não para condenar. Pedindo à mulher para não voltar a pecar, dá-lhe nova oportunidade. Para Jesus, ela não é apenas uma mulher adúltera, ela é capaz de outra coisa. Oferecendo-lhe a sua graça, agraciou também os escribas e os fariseus, colocando-os num caminho de conversão, eles que tinham aberto os olhos não somente sobre a mulher, mas sobre si próprios.

    5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

    Sugere-se a Oração Eucarística I das Missas da Reconciliação.

    6. PALAVRA PARA O CAMINHO…

    A mulher adúltera… “Esta mulher foi apanhada em flagrante delito de adultério…” “Aquela martirizou o seu filho…” “Aquela deixou-o morrer de fome…” “Aquela outra…” …e as nossas mãos já estão cheias de pedras para a lapidar. Esta semana, a convite de Jesus, comecemos por olhar onde se situa o nosso pecado… De seguida, em relação a todas estas mulheres de hoje condenadas sem apelo, abramos o nosso coração à compreensão… à misericórdia… e talvez ao apoio na sua angústia.

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

    Grupo Dinamizador:
    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    www.dehonianos.org

     

  • Domingo de Ramos – Ano C [atualizado]

    Domingo de Ramos – Ano C [atualizado]

    13 de Abril, 2025

    ANO C
    DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR

    Tema do Domingo de Ramos

    A liturgia deste último Domingo do tempo quaresmal, Domingo de Ramos, convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo, a maldade e o pecado fossem vencidos. Por Jesus, Deus ofereceu-nos a possibilidade de uma Vida nova.

    A primeira leitura traz-nos a palavra e o drama de um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo de Deus” a figura de Jesus.

    A segunda leitura traz-nos um belo hino onde ecoa a catequese primitiva sobre Jesus. Fiel ao projeto do Pai, Ele desceu ao encontro dos homens, viveu a vida dos homens e sofreu uma morte atroz por amor aos homens. Mas a sua vida não foi malbaratada: Deus exaltou-O, mostrando que o caminho que Ele seguiu é o caminho que conduz à Vida. É esse mesmo caminho que somos desafiados a percorrer.

    O Evangelho relata-nos a paixão e morte de Jesus. É o momento culminante de uma vida gasta a concretizar o projeto salvador de Deus: libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo, escravidão, sofrimento e morte. Na cruz onde Jesus ofereceu a sua vida até à última gota de sangue, revela-se o incomensurável amor de Deus por nós; na cruz, Jesus disse-nos que o amor até ao extremo gera Vida nova e eterna.

     

    LEITURA I – Isaías 50, 4-7

    O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo,
    para que eu saiba dizer uma palavra de alento
    aos que andam abatidos.
    Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos,
    para eu escutar, como escutam os discípulos.
    O Senhor Deus abriu-me os ouvidos
    e eu não resisti nem recuei um passo.
    Apresentei as costas àqueles que me batiam
    e a face aos que me arrancavam a barba;
    não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam.
    Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio,
    e, por isso, não fiquei envergonhado;
    tornei o meu rosto duro como pedra,
    e sei que não ficarei desiludido.

     

    CONTEXTO

    No livro do Deutero-Isaías (Is 40-55), encontramos quatro poemas (cf. Is 42,1-9; 49,1-13; 50,4-11; 52,13-53,12) que se diferenciam um tanto da temática desenvolvida pelo profeta no resto do livro. Referem-se a uma figura enigmática, que o próprio Deus apresenta como “o meu Servo” (Is 42,1). O nome “servo de Javé” é, na Bíblia, um título honorífico. Refere-se, habitualmente, a alguém a quem Deus chama a colaborar no seu projeto salvador. De facto, o “servo de Javé” que nos é apresentado pelo Deutero-Isaías, foi eleito por Deus e recebeu de Deus uma missão (cf. Is 42,1a; 49,1.5). Essa missão tem a ver com a Palavra de Deus e tem carácter universal, pois deve concretizar-se no meio das nações (cf. Is 42,1b; 49,6); será vivida pelo “servo” na humildade, no sofrimento e na obediência incondicional ao projeto de Deus (cf. Is 42,2-3). Apesar de a missão terminar num aparente insucesso (cf. Is 53,2-3.7-9), a dor do profeta não foi em vão: ela tem um valor expiatório e redentor; do seu sofrimento resulta o perdão para o pecado do Povo (cf. Is 53,6.10). Deus aprecia o sacrifício do profeta e recompensá-lo-á, elevando-o à vista de todos, fazendo-o triunfar dos seus detratores e adversários (cf. Is 53,11-12).

    Quem é este profeta? É Jeremias, o paradigma do profeta que sofre por causa da Palavra? É o próprio Deutero-Isaías, chamado a dar testemunho da Palavra no ambiente hostil do Exílio? É um profeta desconhecido? É uma figura coletiva, que representa o Povo exilado, humilhado, esmagado, mas que continua a dar testemunho de Deus, no meio das outras nações? É uma figura representativa, que une a recordação de personagens históricas (patriarcas, Moisés, David, profetas) com figuras míticas, de forma a representar o Povo de Deus na sua totalidade? Não sabemos; no entanto, a figura apresentada nesses poemas vai receber uma outra iluminação à luz de Jesus Cristo, da sua vida, do seu destino.

    O texto que nos é proposto é parte do terceiro cântico do “servo de Javé”.

     

    MENSAGEM

    Quem toma a palavra é um personagem anónimo, que fala do seu chamamento por Deus para a missão. Não se designa a si próprio como “servo”; mas assemelha-se a esse “servo” de que se fala no primeiro cântico do servo de Javé (cf. Is 42,1-9). Também não se intitula “profeta”; porém, narra a sua vocação com os elementos típicos dos relatos proféticos de vocação.

    A missão que este profeta/servo recebe de Deus tem claramente a ver com o anúncio da Palavra. O profeta é o homem da Palavra, através de quem Deus fala; a proposta de redenção que Deus faz a todos aqueles que necessitam de salvação/libertação ecoa na palavra profética. O profeta é inteiramente modelado por Deus e não opõe resistência nem ao chamamento, nem à Palavra que Deus lhe confia; mas tem de estar, continuamente, numa atitude de escuta de Deus, para que possa depois apresentar – com fidelidade – essa Palavra de Deus para os homens. A missão que Deus confia ao profeta/servo consiste em dizer uma palavra de alento a todos os que estão cansados e abatidos, a todos os que são magoados e injustiçados, a todos os que perderam a esperança.

    A missão do profeta/servo não é fácil; concretiza-se no sofrimento e na dor. A palavra proclamada em nome de Deus é uma palavra que incomoda e provoca resistências que, para o profeta, se consubstanciam, quase sempre, em dor e perseguição. No entanto, o profeta/servo de Deus não resiste às agressões e condenações e torna o seu rosto “duro como pedra” face àqueles que o agridem e magoam. Não por insensibilidade, mas porque está decidido a suportar tudo a fim de levar até ao fim a missão que Deus lhe tinha confiado. O verdadeiro profeta não desiste nem se demite: a paixão pela Palavra sobrepõe-se ao sofrimento e faz com que ele ponha à frente de tudo a missão que Deus lhe confiou.

    O que é que leva o profeta/servo a resistir corajosamente face aos que o agridem e o querem silenciar? Precisamente a sua confiança no Senhor, que não abandona aqueles a quem chama. A certeza de que não está só, mas de que tem a força de Deus, torna o profeta/servo mais forte do que a dor, o sofrimento, a perseguição, o ódio dos inimigos. O profeta/servo tem uma absoluta confiança em Deus; e sabe que Deus nunca o desiludirá.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Não sabemos, efetivamente, quem é este “servo de Javé”; no entanto, os primeiros cristãos vão utilizar este texto como grelha para interpretar o mistério de Jesus: Ele é a Palavra de Deus feita carne, que oferece a sua vida para trazer a salvação/libertação aos homens… A vida de Jesus realiza plenamente esse destino de dom e de entrega da vida em favor de todos; e a sua glorificação mostra que uma vida vivida deste jeito não termina no fracasso, mas na ressurreição que gera Vida nova. No entanto, talvez esta conceção da vida nos pareça estranha e incongruente face àquilo que vemos acontecer todos os dias à nossa volta… Como é que me situo face a isto? Acredito que uma vida gasta como a de Jesus ou a do profeta/servo da primeira leitura deste domingo é uma vida com sentido e que conduz à Vida nova?
    • O profeta/servo que, sem hesitar, põe a sua palavra e a sua vida ao serviço da libertação dos seus irmãos – mesmo que isso implique para si próprio sofrimento, perseguição e humilhação – deixa-nos um desafio que não podemos ignorar… Vivemos cercados por ilhas de miséria e de dor onde tantos e tantos irmãos nossos permanecem prisioneiros; passamos a cada passo por homens e mulheres abandonados, esquecidos, atirados para as margens da história, privados dos seus direitos e dignidade; assistimos diariamente à crucifixão de tanta gente que luta contra os sistemas de opressão e de morte… O que fazemos? Permanecemos indiferentes e viramos a cara para outro lado para não ver e para não sermos incomodados, ou levantamos a voz para denunciar o egoísmo, a violência, a injustiça, as mil formas de maldade que desfeiam o mundo e destroem a Vida?
    • Temos consciência de que a nossa missão profética passa por sermos Palavra viva de Deus que ecoa no mundo dos homens? Nas nossas palavras, nos nossos gestos, no nosso testemunho, a proposta libertadora de Deus alcança o mundo e o coração dos homens?
    • O profeta/servo da nossa leitura garante-nos que nunca desistirá da missão que lhe foi confiada porque confia em Deus: sabe que Deus estará sempre com ele e que nunca o desiludirá. Que fantástica expressão de confiança e de fé! Seremos capazes de dizer, com convicção, a mesma coisa? Acreditamos que Deus nunca nos desiludirá?

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 21 (22)

    Refrão: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?

    Todos os que me veem escarnecem de mim,
    estendem os meus lábios e meneiam a cabeça:
    «Confiou no Senhor, Ele que o livre,
    Ele que o salve, se é meu amigo».

    Matilhas de cães me rodearam,
    cercou-me um bando de malfeitores.
    Trespassaram as minhas mãos e os meus pés,
    posso contar todos os meus ossos.

    Repartiram entre si as minhas vestes
    e deitaram sortes sobre a minha túnica.
    Mas Vós, Senhor, não Vos afasteis de mim,
    sois a minha força, apressai-Vos a socorrer-me.

    Hei de falar do vosso nome aos meus irmãos,
    Hei de louvar-Vos no meio da assembleia.
    Vós, que temeis o Senhor, louvai-O,
    glorificai-O, vós todos os filhos de Jacob,
    reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel.

     

    LEITURA II – Filipenses 2, 6-11

    Cristo Jesus, que era de condição divina,
    não Se valeu da sua igualdade com Deus,
    mas aniquilou-Se a Si próprio.
    Assumindo a condição de servo,
    tornou-Se semelhante aos homens.
    Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais,
    obedecendo até à morte e morte de cruz.
    Por isso Deus O exaltou
    e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes,
    para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem
    no céu, na terra e nos abismos,
    e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor,
    para glória de Deus Pai.

     

    CONTEXTO

    A cidade de Filipos, situada na Macedónia oriental, era uma cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição dos governantes das províncias locais e dependia diretamente do imperador. Gozava dos mesmos privilégios das cidades de Itália e os seus habitantes tinham cidadania romana. Paulo chegou a Filipos pelo ano 49 ou 50, no decurso da sua segunda viagem missionária, acompanhado de Silvano, Timóteo e Lucas (cf. At 16,1-40). Da sua pregação nasceu a primeira comunidade cristã em solo europeu.

    A comunidade cristã de Filipos era uma comunidade entusiasta, generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da coleta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2 Cor 8,1-5). Paulo nutria pelos cristãos de Filipos um afeto especial; e os filipenses, por seu turno, tinham Paulo em grande apreço. Apesar de tudo, a comunidade cristã de Filipos não era perfeita: os altivos patrícios romanos de Filipos tinham alguma dificuldade em assumir certos valores como o desprendimento, a humildade e a simplicidade.

    Paulo escreve aos Filipenses numa altura em que estava na prisão (não sabemos se em Cesareia, em Roma, ou em Éfeso). Os filipenses tinham-lhe enviado, por um membro da comunidade chamado Epafrodito, uma certa quantia em dinheiro, a fim de que Paulo pudesse prover às suas necessidades. Na carta, Paulo agradece a preocupação dos filipenses com a sua pessoa (cf. Fl 4,10-20); exorta-os a manterem-se fiéis a Cristo e a incarnarem os valores que marcaram a vida de Cristo (“tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus” – Fl 2,5).

    O texto que a liturgia do domingo de Ramos nos apresenta como segunda leitura é o texto mais notável da carta aos filipenses. Trata-se de um antigo hino, provavelmente pré-paulino, que era recitado nas celebrações litúrgicas cristãs (há quem fale, a propósito deste hino, na catequese primitiva de Simão Pedro, conservada na comunidade cristã de Antioquia da Síria). Lembra aos cristãos de Filipos o exemplo de Cristo, a sua humildade e despojamento.

     

    MENSAGEM

    Cristo Jesus – nomeado no princípio, no meio e no fim – constitui o motivo do hino. Os filipenses, enquanto discípulos de Cristo, são convidados a olhar para Ele e a conformarem as suas vidas com o Seu exemplo. Como é o exemplo de Cristo?

    O hino começa por aludir subtilmente ao contraste entre Adão e Cristo: Adão, o primeiro homem, reivindicou ser como Deus, assumiu diante de Deus uma atitude de arrogância e autossuficiência e virou as costas às indicações de Deus (cf. Gn 3,5.22); Cristo, o Homem Novo, assumiu uma atitude de humildade e obediência diante de Deus (vers. 6-7). A atitude de Adão trouxe sofrimento e morte; a atitude de Jesus trouxe exaltação e vida.

    A atitude de Cristo é caraterizada no hino como “aniquilação” ou “despojamento” (“kenosis” – vers. 7). Cristo era de condição divina; mas sem reivindicar, em razão do seu estatuto, quaisquer poderes ou privilégios, pôs-se totalmente ao serviço do projeto salvador do Pai. Aceitou, conforme o plano do Pai, vestir a fragilidade dos seres humanos e tornou-se homem: experimentou as dores e os limites dos homens, conviveu com os dramas dos homens e caminhou com os homens para lhes indicar o caminho que leva à salvação, fez-se servo dos homens, lavou-lhes os pés. Como se tudo isso não bastasse, desceu ainda mais: foi contestado, preso, condenado e sofreu uma morte infame na cruz, a morte reservada aos malditos e abandonados por Deus (vers. 8). Esta história de despojamento parece uma história de fracasso e de morte, uma história “pouco recomendável”. É assim que termina a história de quem obedece a Deus e põe a sua vida ao serviço do plano salvador de Deus?

    Não. Exatamente porque cumpriu plenamente o plano do Pai, Deus ressuscitou-O e exaltou-O. Fê-lo vencer a injustiça, o egoísmo e a violência que o tinham condenado a uma morte maldita. Apresentou-O como modelo para todos os homens. Mais: Deus fez dele o “Jesus” (o nome significa “Deus salva”) e o “Kyrios” (“Senhor” – nome que, no Antigo Testamento, substituía o nome impronunciável de Deus); e a humanidade inteira (“os céus, a terra e os infernos”) reconhece esse Cristo que se despojou de tudo para obedecer ao Pai como “o Senhor” que reina sobre toda a terra e que preside à história (vers. 9-11).

    Aos filipenses e aos crentes de todas as épocas e lugares Paulo diz: “libertai-vos do orgulho, da autossuficiência, da arrogância, do fechamento a Deus e às suas propostas; aprendei com Cristo a pôr a vossa vida ao serviço do plano de Deus; com humildade e simplicidade, tornai-vos servos de todos; amai sem medida, até ao dom total da vida. Deus garante-vos que esse caminho – o caminho que Cristo percorreu – não conduz ao aniquilamento, mas sim à glória, à Vida plena”.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Não há mesmo volta a dar: a lógica de Deus funciona em sentido contrário à nossa lógica humana. Quanto mais nos despojamos da nossa superioridade, quanto mais renunciamos à capa da importância, quanto mais gastamos a nossa vida a fazer o bem, quanto mais nos fazemos “servos” dos nossos irmãos, quanto mais amamos sem esperar nada em troca, mais subimos na “escala” de Deus. Deus disse-nos isto, com todas as letras, através do seu Filho Jesus. De forma inequívoca, de forma irrefutável, com uma linguagem que só não entende quem não quer. Porque é que, depois de dois mil anos a olhar para a cruz de Jesus, isto ainda não é claro para nós? O que mais tem Deus de fazer para nos mostrar o caminho que conduz à Vida verdadeira?
    • Estamos a chegar ao fim deste caminho quaresmal. Este caminho foi efetivamente, para nós, um caminho de conversão, de mudança, de nascimento para uma vida nova? Ao longo deste caminho em direção à Páscoa transformamos a arrogância em humildade, a atitude de superioridade em respeito pelo outro, o orgulho em simplicidade, a soberba em delicadeza?
    • Este hino constitui uma excelente chave de leitura para interpretar, sentir e viver, na “Semana Maior” em que estamos a entrar, os acontecimentos centrais da nossa fé. Ao “som” deste belíssimo hino podemos compreender o caminho de Jesus, o significado das suas opções, o sentido da sua vida, da sua paixão, morte e ressurreição. Iremos procurar, nesta semana, acompanhar os passos de Jesus? E, ao revivermos o seu amor e a sua entrega, renovaremos a nossa adesão a Ele e ao caminho que Ele propõe?

     

    ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Filipenses 2,8-9

    Refrão 1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.

    Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.

    Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.

    Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.

    Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.

    Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.

    Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.

     

    Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
    Por isso Deus O exaltou
    e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes.

     

    EVANGELHO – Lucas 22,14-23,56 (forma longa) ou Lucas 23,1-49 (forma breve)

    N     Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
    N     Quando chegou a hora,
    Jesus sentou-Se à mesa com os seus Apóstolos
    e disse-lhes:
    J      «Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa,
    antes de padecer;
    pois digo-vos que não tornarei a comê-la,
    até que se realize plenamente no reino de Deus».
    N     Então, tomando um cálice, deu graças e disse:
    J      «Tomai e reparti entre vós,
    pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira,
    até que venha o reino de Deus».
    N     Depois tomou o pão e, dando graças,
    partiu-o e deu-lho, dizendo:
    J       «Isto é o meu corpo entregue por vós.
    Fazei isto em memória de Mim».
    N      No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo:
    J       «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue,
    derramado por vós.
    Entretanto, está comigo à mesa
    a mão daquele que Me vai entregar.
    O Filho do homem vai partir, como está determinado.
    Mas ai daquele por quem Ele vai ser entregue!»
    N     Começaram então a perguntar uns aos outros
    qual deles iria fazer semelhante coisa.
    Levantou-se também entre eles uma questão:
    qual deles se devia considerar o maior?
    Disse-lhes Jesus:
    J       «Os reis da nações exercem domínio sobre elas
    e os que têm sobre elas autoridade são chamados benfeitores.
    Vós não deveis proceder desse modo.
    O maior entre vós seja como o menor
    e aquele que manda seja como quem serve.
    Pois quem é o maior: o que está à mesa ou o que serve?
    Não é o que está à mesa?
    Ora Eu estou no meio de vós como aquele que serve.
    Vós estivestes sempre comigo nas minhas provações.
    E Eu preparo para vós um reino,
    como meu Pai o preparou para Mim:
    comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino,
    e sentar-vos-eis em tronos,
    a julgar as doze tribos de Israel.
    Simão, Simão, Satanás vos reclamou
    para vos agitar na joeira como trigo.
    Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça.
    E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos».
    N     Pedro respondeu-Lhe:
    R      «Senhor, eu estou pronto a ir contigo,
    até para a prisão e para a morte».
    N      Disse-lhe Jesus:
    J       «Eu te digo, Pedro: não cantará hoje o galo,
    sem que tu, por três vezes, negues conhecer-Me».
    N     Depois acrescentou:
    J       «Quando vos enviei sem bolsa nem alforge nem sandálias,
    faltou-vos alguma coisa?».
    N     Eles responderam que não lhes faltara nada.
    Disse-lhes Jesus:
    J      «Mas agora, quem tiver uma bolsa pegue nela,
    bem como no alforge;
    e quem não tiver espada venda a capa e compre uma.
    Porque Eu vos digo
    que se deve cumprir em Mim o que está escrito:
    ‘Foi contado entre os malfeitores’.
    Na verdade, o que Me diz respeito está a chegar ao fim».
    N     Eles disseram:
    R      «Senhor, estão aqui duas espadas».
    N      Mas Jesus respondeu:
    J       «Basta».
    N      Então saiu
    e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras
    e os discípulos acompanharam-n’O.
    Quando chegou ao local, disse-lhes:
    J        «Orai, para não entrardes em tentação».
    N       Depois afastou-Se deles cerca de um tiro de pedra
    e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo:
    J       «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice.
    Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua».
    N     Então apareceu-Lhe um Anjo, vindo do Céu, para O confortar.
    Entrando em angústia, orava mais instantemente
    e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue,
    que caíam na terra.
    Depois de ter orado,
    levantou-Se e foi ter com os discípulos,
    que encontrou a dormir, por causa da tristeza.
    Disse-lhes Jesus:
    J       «Porque estais a dormir?
    Levantai-vos e orai, para não entrardes em tentação».
    N     Ainda Ele estava a falar,
    quando apareceu uma multidão de gente.
    O chamado Judas, um dos Doze, vinha à sua frente
    e aproximou-se de Jesus, para O beijar.
    Disse-lhe Jesus:
    J       «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem?»
    N      Ao verem o que ia suceder,
    os que estavam com Jesus perguntaram-Lhe:
    R       «Senhor, vamos feri-los à espada?»
    N      E um deles feriu o servo do sumo sacerdote,
    cortando-lhe a orelha direita.
    Mas Jesus interveio, dizendo:
    J       «Basta! Deixai-os».
    N     E, tocando na orelha do homem, curou-o.
    Disse então Jesus aos que tinham vindo ao seu encontro,
    príncipes dos sacerdotes, oficiais do templo e anciãos:
    J      «Vós saístes com espadas e varapaus,
    como se viésseis ao encontro dum salteador.
    Eu estava todos os dias convosco no templo
    e não Me deitastes as mãos.
    Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas.
    N    Apoderaram-se então de Jesus,
    levaram-n’O e introduziram-n’O em casa do sumo sacerdote.
    Pedro seguia-os de longe.
    Acenderam uma fogueira no meio do pátio,
    sentaram-se em volta dela
    e Pedro foi sentar-se no meio deles.
    Ao vê-lo sentado ao lume,
    uma criada, fitando os olhos nele, disse:
    R     «Este homem também andava com Jesus».
    N     Mas Pedro negou:
    R     «Não O conheço, mulher».
    N     Pouco depois, disse outro, ao vê-lo:
    R     «Tu também és um deles».
    N     Mas Pedro disse:
    R      «Homem, não sou».
    N     Passada mais ou menos uma hora,
    afirmava outro com insistência:
    R      «Esse homem, com certeza, também andava com Jesus,
    pois até é galileu».
    N     Pedro respondeu:
    R      «Homem, não sei o que dizes».
    N      Nesse instante – ainda ele falava – um galo cantou.
    O Senhor voltou-Se e fitou os olhos em Pedro.
    Então Pedro lembrou-se da palavra do Senhor,
    quando lhe disse:
    ‘Antes do galo cantar, Me negarás três vezes’.
    E, saindo para fora, chorou amargamente.
    Entretanto, os homens que guardavam Jesus
    troçavam d’Ele e maltratavam-n’O.
    Cobrindo-Lhe o rosto, perguntavam-Lhe:
    R      «Adivinha, profeta: Quem te bateu?»
    N      E dirigiam-Lhe muitos outros insultos.
    Ao romper do dia,
    reuniu-se o conselho dos anciãos do povo,
    os príncipes dos sacerdotes e os escribas.
    Levaram-n’O ao seu tribunal e disseram-Lhe:
    R       «Diz-nos se Tu és o Messias».
    N       Jesus respondeu-lhes:
    J        «Se Eu vos disser, não acreditareis
    e, se fizer alguma pergunta, não respondereis.
    Mas o Filho do homem sentar-Se-á doravante
    à direita do poder de Deus».
    N      Disseram todos:
    R       «Tu és então o Filho de Deus?»
    N       Jesus respondeu-lhes:
    J        «Vós mesmos dizeis que Eu sou».
    N       Então exclamaram:
    R       «Que necessidade temos ainda de testemunhas?
    Nós próprios o ouvimos da sua boca».
    N      Levantaram-se todos e levaram Jesus a Pilatos.
    N      Começaram a acusá-l’O, dizendo:
    R       «Encontrámos este homem a sublevar o nosso povo,
    a impedir que se pagasse o tributo a César
    e dizendo ser o Messias-Rei».
    N      Pilatos perguntou-Lhe:
    R       «Tu és o Rei dos judeus?»
    N       Jesus respondeu-lhe:
    J        «Tu o dizes».
    N      Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão:
    R       «Não encontro nada de culpável neste homem».
    N       Mas eles insistiam:
    R       «Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia,
    desde a Galileia, onde começou, até aqui».
    N       Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu;
    e, ao saber que era da jurisdição de Herodes,
    enviou-O a Herodes,
    que também estava nesses dias em Jerusalém.
    Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito.
    Havia bastante tempo que O queria ver,
    pelo que ouvia dizer d’Ele,
    e esperava que fizesse algum milagre na sua presença.
    Fez-Lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu.
    Os príncipes dos sacerdotes e os escribas que lá estavam
    acusavam-n’O com insistência.
    Herodes, com os seus oficiais, tratou-O com desprezo
    e, por troça, mandou-O cobrir com um manto magnífico
    e remeteu-O a Pilatos.
    Herodes e Pilatos, que eram inimigos,
    ficaram amigos nesse dia.
    Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes,
    os chefes e o povo, e disse-lhes:
    R      «Trouxestes este homem à minha presença
    como agitador do povo.
    Interroguei-O diante de vós
    e não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais.
    Herodes também não, uma vez que no-l’O mandou de novo.
    Como vedes, não praticou nada que mereça a morte.
    Vou, portanto, soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
    N      Pilatos tinha obrigação de lhes soltar um preso
    por ocasião da festa.
    E todos se puseram a gritar:
    R       «Mata Esse e solta-nos Barrabás».
    N       Barrabás tinha sido metido na cadeia
    por causa de uma insurreição desencadeada na cidade
    e por assassínio.
    De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra,
    querendo libertar Jesus.
    Mas eles gritavam:
    R        «Crucifica-O! Crucifica-O!»
    N       Pilatos falou-lhes pela terceira vez:
    R       Mas que mal fez este homem?
    Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte.
    Por isso vou soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
    N      Mas eles continuavam a gritar,
    pedindo que fosse crucificado,
    e os seus clamores aumentavam de violência.
    Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam:
    soltou aquele que fora metido na cadeia
    por insurreição e assassínio,
    como eles reclamavam,
    e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.
    N      Quando o conduziam,
    lançaram mão de um certo Simão de Cirene,
    que vinha do campo,
    e puseram-lhe a cruz às costas,
    para a levar atrás de Jesus.
    Seguia-O grande multidão de povo
    e mulheres que batiam no peito
    e se lamentavam, chorando por Ele.
    Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes:
    J       «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim;
    chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos;
    pois dias virão em que se dirá:
    ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram
    e os peitos que não amamentaram’.
    Começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’;
    e às colinas: ‘Cobri-nos’.
    Porque, se tratam assim a madeira verde,
    que acontecerá à seca?».
    N      Levavam ainda dois malfeitores
    para serem executados com Jesus.
    Quando chegaram ao lugar chamado Calvário,
    crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores,
    um à direita e outro à esquerda.
    Jesus dizia:
    J        «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem».
    N      Depois deitaram sortes,
    para repartirem entre si as vestes de Jesus.
    O povo permanecia ali a observar.
    Por sua vez, os chefes zombavam e diziam:
    R      «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo,
    se é o Messias de Deus, o Eleito».
    N      Também os soldados troçavam d’Ele;
    aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam:
    R       «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
    N       Por cima d’Ele havia um letreiro:
    «Este é o rei dos judeus».
    Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
    insultava-O, dizendo:
    R       «Não és Tu o Messias?
    Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
    N      Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o:
    R      «Não temes a Deus,
    tu que sofres o mesmo suplício?
    Quanto a nós, fez-se justiça,
    pois recebemos o castigo das nossas más ações.
    Mas Ele nada praticou de condenável».
    N      E acrescentou:
    R       «Jesus, lembra-Te de mim,
    quando vieres com a tua realeza».
    N       Jesus respondeu-lhe:
    J        «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
    N       Era já quase meio-dia,
    quando as trevas cobriram toda a terra,
    até às três horas da tarde,
    porque o sol se tinha eclipsado.
    O véu do templo rasgou-se ao meio.
    E Jesus exclamou com voz forte:
    J       «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito».
    N      Dito isto, expirou.
    N      Vendo o que sucedera,
    o centurião deu glória a Deus, dizendo:
    R       «Realmente este homem era justo».
    N       E toda a multidão que tinha assistido àquele espetáculo,
    ao ver o que se passava, regressava batendo no peito.
    Todos os conhecidos de Jesus,
    bem como as mulheres que O acompanhavam
    desde a Galileia,
    mantinham-se à distância, observando estas coisas.
    N       Havia um homem chamado José, da cidade de Arimateia,
    que era pessoa reta e justa e esperava o reino de Deus.
    Era membro do Sinédrio, mas não tinha concordado
    com a decisão e o proceder dos outros.
    Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus.
    E depois de o ter descido da cruz,
    envolveu-o num lençol
    e depositou-o num sepulcro escavado na rocha,
    onde ninguém ainda tinha sido sepultado.
    Era o dia da Preparação
    e começavam a aparecer as luzes do sábado.
    Entretanto,
    as mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia
    acompanharam José e observaram o sepulcro
    e a maneira como fora depositado o corpo de Jesus.
    No regresso, prepararam aromas e perfumes.
    E no sábado guardaram o descanso, conforme o preceito.

     

    CONTEXTO

    Ao iniciarmos a Semana Santa, a Semana Maior, a liturgia convida-nos a escutar o impressionante relato da Paixão e Morte de Jesus. O relato, inegavelmente fundamentado em acontecimentos concretos, não é uma simples reportagem jornalística da condenação à morte de um inocente; mas é, sobretudo, uma catequese destinada a mostrar como Jesus, oferecendo a sua vida até ao dom total, na cruz, concretiza o projeto salvador do Pai.

    Com a chegada de Jesus a Jerusalém e os acontecimentos da semana santa, chegamos ao fim do “caminho” começado na Galileia. Tudo converge, no Evangelho de Lucas, para aqui, para Jerusalém: é aí que deve irromper a salvação de Deus. Em Jerusalém, Jesus vai realizar o último ato do programa enunciado em Nazaré: da sua entrega, do seu amor afirmado até à morte, vai nascer esse Reino de homens novos, livres, salvos, onde todos serão irmãos no amor; e, de Jerusalém, partirão as testemunhas de Jesus, a fim de que a salvação de Deus chegue a todo o mundo e seja acolhida por todos os homens e mulheres.

    O cenário físico da paixão e morte de Jesus é, no Evangelho de Lucas, o mesmo dos outros evangelhos sinóticos: o Cenáculo (o edifício com “uma grande sala mobilada no andar de cima”, onde Jesus fez com os discípulos aquela inolvidável ceia de despedida – Lc 22,12), o Monte das Oliveiras (o jardim para onde Jesus, após a última ceia, se retirou para rezar, e onde foi preso pelos guardas do Templo – cf. Lc 22,39-53), o palácio do sumo-sacerdote Caifás (onde Jesus foi julgado, condenado pelo Sinédrio e ficou preso o resto da noite antes de ser levado diante das autoridades romanas – cf. Lc 22,54-71), o pretório romano da Torre Antónia (onde Jesus, na manhã de sexta-feira, foi torturado e coroado de espinhos e onde o governador Pilatos confirmou a sua condenação à morte – cf. Lc 23,1-6.13-25), as ruas da cidade de Jerusalém (por onde Jesus passou, carregando com a trave transversal da cruz, segundo o ritual próprio das crucifixões – cf. Lc 23,26-32), o Calvário (a pequena colina, fora da cidade onde Jesus, por volta das 9 horas de sexta-feira, foi crucificado – Lc 23,33-49), e o túmulo novo oferecido por José de Arimateia (onde o corpo morto de Jesus foi depositado antes do pôr do sol de sexta-feira – cf. Lc 23,50-56).

    Em que data e em que contexto ocorreram os acontecimentos narrados no relato da paixão de Jesus? Todos os evangelistas concordam que Jesus celebrou uma ceia depois do pôr do sol de uma quinta-feira (quando, segundo o calendário religioso judaico já era sexta-feira) e que morreu na cruz por volta das três horas da tarde dessa sexta-feira. Para Marcos, Mateus e Lucas, contudo, essa sexta-feira era o dia da celebração da festa judaica da Páscoa. Assim, a última ceia de Jesus com os discípulos teria sido uma Ceia Pascal. João, no entanto, considera que a sexta-feira (dia em que Jesus morreu) não foi dia de Páscoa, mas sim o dia da preparação da Páscoa (o dia de Páscoa, nesse ano, começou na sexta-feira ao pôr do sol, quando Jesus já tinha morrido na cruz). Nesse caso, a última ceia de Jesus com os discípulos não teria sido uma Ceia Pascal, mas sim uma ceia de despedida. É difícil aceitar o calendário dos sinóticos, pois não parece provável que, em pleno dia de Páscoa, os judeus desenvolvessem o processo contra Jesus, o levassem pelas ruas de Jerusalém até ao Gólgota e o crucificassem. Sendo assim, Jesus teria sido crucificado na véspera da celebração da Páscoa judaica. Estaríamos, muito provavelmente, na primavera do ano 30. Jesus teria, então, 35-37 anos.

     

    MENSAGEM

    O relato da paixão e morte de Jesus é uma história de uma violência inaudita, perpetrada contra um homem que, na perspetiva daqueles que o conheceram bem e que o acompanharam desde a Galileia até Jerusalém, não fez nada para merecer a condenação decretada contra Ele. Como é que se chegou a este desfecho?

    A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar um mundo novo, de justiça, de paz e de amor para todos os homens. Jesus chamava a esse mundo novo “o Reino de Deus”. Para concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade do Reino de Deus. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o “Reino”; e avisou os “ricos” (os poderosos, os prepotentes, os instalados) de que o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência e o fechamento só podiam conduzir à morte.

    O projeto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas judaicas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostas a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, decidiram calar Jesus: prenderam-n’O, julgaram-n’O, condenaram-n’O e pregaram-n’O numa cruz. A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do “Reino”: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam o mundo.

    Podemos também dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço simples e humilde. Foi por amor que Jesus lutou contra a injustiça, a prepotência, a opressão, a maldade nas suas mil e uma formas; foi por amor que Jesus Se deixou prender, condenar e matar; foi por amor que Jesus morreu na cruz. Quem olha para aquela cruz erguida numa colina fora das muralhas de Jerusalém e vê o testemunho que Jesus deixou, percebe como é que a vida deve ser vivida.

    Na cruz, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos. Assim, a cruz encerra e propõe o dinamismo de um mundo novo, de um mundo transformado pelo amor – o dinamismo do “Reino de Deus”. A cruz, instrumento vil de sofrimento e de morte, torna-se assim uma fonte de Vida e de esperança.

     

    Para além da reflexão geral sobre o sentido da paixão e morte de Jesus, convém ainda notar alguns dados que são exclusivos da versão lucana da Paixão.

    1. Lucas procura destacar, em cada página do seu Evangelho, a misericórdia e o amor de Jesus. Ora, isso aparece também em vários passos do relato lucano da paixão. No momento da prisão de Jesus, no Monte das Oliveiras, todos os sinóticos relatam que um dos que estavam com Jesus feriu um servo do sumo sacerdote com uma espada, cortando-lhe uma orelha; mas apenas Lucas conta que Jesus, “tocando na orelha do servo, curou-a” (cf. Lc 22,49-51). Todos os sinóticos contam que, quando Jesus estava preso em casa do sumo sacerdote, Pedro negou repetidamente conhecê-l’O; mas apenas Lucas conta que, após a terceira negação, Jesus “voltou-se e fitou os olhos em Pedro” (Lc 22,61), como se estivesse a dizer-lhe que compreendia a sua fragilidade e o seu medo e que não o condenava. Lucas é o único dos sinóticos a referir que Jesus, pregado na cruz, esmagado e humilhado, se dirige ao Pai para lhe pedir que perdoe aos seus assassinos: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). A exigência do perdão sem condições (cf. Lc 17,3-4) não é, para Jesus, apenas uma bela doutrina sem consequências; mas é uma atitude que é preciso concretizar até às últimas consequências e que obriga todos os filhos e filhas de Deus.
    2. No relato da instituição da Eucaristia, só Lucas põe Jesus a dizer, depois de distribuir o pão aos discípulos que estavam à mesa: “fazei isto em memória de Mim” (cf. Lc 22,19). A expressão não quer apenas dizer que os discípulos devem celebrar liturgicamente o ritual da última ceia e repetir as palavras de Jesus sobre o pão e sobre o vinho; mas quer, sobretudo, indicar que os discípulos devem viver ao ritmo de Jesus: com a mesma entrega, com o mesmo espírito de serviço, com o mesmo amor pelos pequenos e pelos mais frágeis, com a mesma solicitude pelos que são considerados pecadores e malditos, com a mesma paixão pelo Reino de Deus.
    3. Só Lucas coloca no contexto da última ceia a discussão acerca de qual dos discípulos seria o “maior”. Jesus avisa os seus que “o maior” é “aquele que serve”; e apresenta o seu próprio exemplo de uma vida feita serviço e dom (cf. Lc 22,24-27). No contexto da última ceia, estas palavras de Jesus têm uma força especial: soam a “testamento”; por isso, tornam-se algo inesquecível, absolutamente marcante para os discípulos de todas as épocas. Pelo tempo fora, os discípulos de Jesus deverão cuidar para que a Igreja nascida de Jesus seja uma comunidade de serviço simples e humilde e não uma comunidade de gente importante, que vive para as honras e os triunfos humanos.
    4. Todos os sinóticos referem que Jesus, no jardim das Oliveiras, pouco antes de ser preso, orou ao Pai e pediu-lhe que afastasse aquele cálice de dor e morte que estava no seu horizonte próximo (cf. Lc 22,39-42). A oração – que no Evangelho de Lucas tem um lugar especial – é onde Jesus discerne a vontade do Pai e encontra forças para a cumprir. No entanto, somente Lucas faz referência ao aparecimento de um anjo que confortava Jesus (cf. Lc 22,43). Lucas indica, assim, que Deus escutou a oração de Jesus e que, embora não tenha modificado o seu projeto, estava ao lado de Jesus naquele momento de sofrimento e desolação. Deus não abandona, nos momentos de prova, aqueles que acolhem, na obediência, a sua vontade. Também só Lucas refere o “suor de sangue” de Jesus, fruto da sua angústia (cf. Lc 22,44). Esse pormenor acentua a fragilidade humana de Jesus; mas acentuando-a, valoriza ainda mais a entrega total de Jesus ao projeto do Pai.
    5. Todos os sinópticos falam da requisição de Simão de Cirene para levar a cruz de Jesus; no entanto, só Lucas refere que Simão transporta a cruz “atrás de Jesus” (cf. Lc 23,26). A expressão “atrás de Jesus” designa o “lugar” do discípulo, que caminhava habitualmente atrás do seu mestre. Este dado serve a Lucas para apresentar o modelo do discípulo: é aquele que toma a cruz de Jesus e O segue no seu caminho de entrega e de dom da vida (“se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-me” – Lc 9,23; cf. 14,27).
    6. Apenas Lucas se refere ao encontro de Jesus com algumas mulheres, “filhas de Jerusalém”, que o esperavam no caminho (cf. Lc 23,27-31). As mulheres têm, no Evangelho de Lucas, um lugar especial. Elas estão entre as pessoas que, dada a sua situação de fragilidade, mais necessitam de experimentar a bondade e a solicitude de Deus. No entanto, também aparecem como discípulas fiéis, que acompanham o Mestre desde a Galileia a Jerusalém (cf. Lc 8,1-3). Aqui, no caminho do calvário, as mulheres aparecem na posição de discípulas que vão atrás de Jesus enquanto Ele percorre o seu caminho de dor e de morte. Finalmente, voltamos a encontrar, quando Jesus já está na cruz, mulheres “que O tinham acompanhado desde a Galileia” e que se “mantinham à distância", observando tudo (Lc 23,49). Elas são o modelo do discípulo que nunca se afasta de Jesus e observa tudo o que Ele faz.
    7. Todos os sinóticos referem que Jesus foi crucificado com dois malfeitores. No entanto apenas Lucas refere um diálogo que se estabelece entre os três crucificados. Um dos malfeitores insulta Jesus (“não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também”); mas o outro reconhece a inocência de Jesus e pede-lhe: “Jesus, lembra-Te de mim, quando vieres com a tua realeza”. Jesus responde-lhe: “em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). Como aconteceu durante toda a sua vida, também naquele momento final Jesus está rodeado pelos pecadores, pelos malditos, por aqueles que a sociedade rejeita. Por amor, Jesus envolveu-se com os pecadores e procurou libertá-los de todas as escravidões. No momento mais decisiva da sua vida Jesus continua a concretizar o projeto do Pai e a oferecer a salvação de Deus a todos, até aos “malfeitores”. Dando testemunho da bondade e do amor de Deus por todos os seus filhos, garante a um maldito a vida definitiva e apresenta-o a todos nós como o primeiro santo canonizado da sua Igreja.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Celebrar a paixão e a morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites e fragilidades, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, experimentou a angústia e o pavor diante da morte; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar, até ao último suspiro, até à última gota de sangue. Esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes. É esse amor ilimitado e inacreditável que vemos quando olhamos para a cruz de Jesus? E o amor de Jesus, expresso na cruz, torna-se lição que nós acolhemos e que transformamos em gestos concretos de dom e de serviço para os que “viajam” connosco?
    • Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude que Ele assumiu e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade. Olhar a cruz de Jesus significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste modo pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição. A contemplação da cruz de Jesus leva-nos ao compromisso com a transformação do mundo? A contemplação da cruz de Jesus faz com que nos sintamos solidários com todos os nossos irmãos que todos os dias são crucificados e injustiçados? A contemplação da cruz de Jesus dá-nos a coragem para lutarmos contra tudo aquilo que gera sofrimento e morte, mesmo que isso implique correr riscos, ser incompreendido e condenado?
    • Um dos elementos mais destacados nos relatos da paixão – nomeadamente no relato de Lucas – é a forma como Jesus Se comporta ao longo de todo o processo que conduz à sua morte… Ele nunca Se descontrola, nunca recua, nunca resiste, mas mantém-Se sempre sereno e digno, enfrentando o seu destino de cruz. Tal não significa que Jesus seja um herói inconsciente a quem o sofrimento e a morte não assustam, ou que Ele Se coloque na pele de um fraco que desistiu de lutar e que aceita passivamente aquilo que os outros Lhe impõem… A atitude de Jesus é a atitude de quem sabe que o Pai Lhe confiou uma missão e está decidido a cumprir essa missão, custe o que custar. Temos a mesma disponibilidade de Jesus para escutar os desafios de Deus e a mesma determinação que Jesus tinha para concretizar esses desafios no mundo?
    • A angústia de Jesus diante da morte – bem expressa naquele “suor que se tornou como grossas gotas de sangue que caíam por terra” – tornam-n’O muito “humano”, muito próximo das nossas debilidades e fragilidades. Dessa forma, é mais fácil identificarmo-nos com Ele, confiar n’Ele, segui-l’O no seu caminho do amor e da entrega. A humanidade de Jesus mostra-nos, também, que o caminho da obediência ao Pai não é um caminho impossível, reservado a super-heróis ou a deuses, mas é um caminho de homens frágeis, chamados por Deus a percorrerem, com esforço, o caminho que conduz à vida definitiva. Quais são as fragilidades que sentimos e que são obstáculo no nosso seguimento de Jesus? Deixamos que as limitações – reais ou imaginárias – que sentimos sejam decisivas quando chega a hora de optarmos?
    • “Fazei isto em memória de Mim” – diz Jesus aos discípulos na ceia em que se despediu deles e lhes deixou o seu testamento. A expressão não se referia apenas ao gesto que Jesus fez sobre o pão, mas referia-se sobretudo a essa entrega de si próprio que Ele viveu desde que nasceu até que morreu na cruz. Nós que partilhamos e comemos o pão eucarístico vivemos na lógica de Jesus e procuramos pôr a nossa vida ao serviço dos irmãos que encontramos no caminho? O gesto litúrgico de “comer” o pão de Jesus, repetido em cada eucaristia, é um gesto ritual e vazio, sem consequências na vida, ou é um gesto que se traduz, na vida concreta, em serviço simples e humilde em favor dos irmãos, em amor até ao extremo, em luta pela justiça e pela verdade, em compromisso com a construção de um mundo mais justo e mais humano?
    • Lucas apresenta Jesus, poucas horas antes de ser morto na cruz, a pedir aos discípulos que não coloquem no centro das suas vidas as preocupações com os postos importantes, os lugares de poder, as honras, as distinções, os privilégios, mas sim o serviço simples e humilde aos irmãos. A Igreja nascida de Jesus, ou será uma comunidade de amor e serviço, ou não será nada. Que temos feito desse “testamento” que Jesus nos deixou? Que sentido fazem, à luz do “testamento” de Jesus, as pompas, os títulos, as honrarias, os privilégios, atrás dos quais às vezes corremos? Temos continuamente presente no nosso horizonte de vida a expressão de Jesus “o maior entre vós seja como o menor e aquele que manda seja como quem serve”?
    • A maior parte dos discípulos de Jesus fugiram quando Ele foi preso no monte das Oliveiras e Pedro negou-o três vezes no pátio da casa do sumo sacerdote. Apesar disso, Lucas dá conta de um homem chamado Simão de Cirene que pega na cruz e a leva “atrás de Jesus”, bem como de diversas mulheres que seguem Jesus enquanto Ele caminha para o local da sua execução. Simão e as mulheres que seguem Jesus não têm medo de ir atrás de Jesus, de ajudá-lo a levar a cruz, de percorrer com Jesus o caminho da doação total, de ficar com Jesus até ao fim. Simão e aquelas mulheres são verdadeiros discípulos. Estão incondicionalmente com Jesus, mesmo que o caminho em que Ele segue seja um caminho de sofrimento e de dor. Que tipo de discípulos somos nós? Somos daqueles que abandonam Jesus quando o caminho se torna complicado, ou somos dos incondicionais, dos que o acompanham até ao fim, aconteça o que acontecer?
    • Jesus passou a vida rodeado de pessoas “pouco recomendáveis”, que a sociedade e a religião condenavam. No momento mais decisivo da sua vida, naquela colina fora das muralhas de Jerusalém onde está a “entregar a vida”, continua rodeado por gente “maldita”. A um dos “malfeitores” que, afinal, se revelou um homem de boa vontade, Jesus prometeu-lhe a salvação de Deus. Como tratamos os “malditos” da Igreja e do mundo, os marginais, os que vivem de forma social ou religiosamente incorreta? Fechamos-lhe as portas das nossas comunidades cristãs e das nossas vidas, ou testemunhamos-lhes a misericórdia, a bondade e a ternura de Deus?
    • A morte de Jesus não foi um acidente. Os líderes judaicos que arquitetaram a morte de Jesus sabiam bem o que estavam a fazer. A culpa dos dirigentes naquela triste história de violência e morte que vitimou Jesus não podia ser mais clara. Apesar disso, Jesus morreu a pedir a Deus que perdoasse aos seus assassinos. O perdão – que é uma consequência do amor – é a marca de Deus. Somos capazes de imitar Jesus e de perdoar a quem nos faz mal?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DE RAMOS
    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA meditada ao longo da semana.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo de Ramos, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. O EVANGELHO DA PAIXÃO… PROCLAMADO E ACOLHIDO.

    Neste Domingo de Ramos temos a leitura da Paixão, na sua forma longa ou na forma breve. O lecionário propõe uma leitura dialogada. Procurar que os vários leitores a preparem com afinco para que a Palavra seja bem proclamada (e bem acolhida!) e não apenas recitada (e mal percebida!). A proclamação por vários leitores deve ajudar à concentração na Palavra e à sua interiorização profunda e não à dispersão e a um acolhimento superficial. Se tal ajudar, pode-se prever um breve tempo de silêncio (ou um refrão apropriado) entre cada sequência da Paixão.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

     

    No final da primeira leitura:

    Pai, nós Te damos graças pelo testemunho de não-violência dado e ensinado pelos teus profetas e, sobretudo, pelo teu Filho Jesus.

    Nós Te pedimos: vem em nosso auxílio, desperta-nos em cada manhã para a escuta da tua Palavra, ensina-nos com o teu Espírito de paciência. Que nós saibamos reconfortar aqueles que não aguentam mais viver.

     

    No final da segunda leitura:

    Cristo Jesus, nós Te adoramos e bendizemos: Tu, que és de condição divina, despojaste-Te e fizeste-Te servidor. Pai, nós Te glorificamos, porque o teu Filho humilhado até ao extremo pelos homens, Tu O revelaste acima de tudo.

    Nós Te pedimos pela nossa humanidade que continua a sofrer e a fazer sofrer: levanta-a e cura-a com o teu Espírito de ressurreição.

     

    No final do Evangelho:

    Jesus, Filho do Deus vivo, nós Te bendizemos por esta revelação admirável que Tu fizeste ao bom ladrão, pela qual fortificas a nossa esperança: «hoje mesmo estarás comigo no paraíso».

    Em nome de todos os nossos irmãos e irmãs mergulhados na dor e na infelicidade, nós Te pedimos: «No teu Reino, lembra-te de nós, Senhor».

    4. BILHETE DE EVANGELHO.

    É difícil fazer calar uma multidão. Na descida do monte das Oliveiras, a multidão de Jerusalém aclama Jesus: “Bendito o que vem, o nosso rei, em nome do Senhor!” Mas uma multidão pode ser manipulada e acabar por dizer o contrário. Assim, alguns dias mais tarde, ela gritará: “Morte a este homem! Crucifica-o!” Jesus não quer calar a multidão que O aclama, porque, se eles se calam, as pedras falarão! Será um malfeitor, crucificado junto d’Ele, que O reconhecerá como rei: “Jesus, lembra-Te de mim, quando vieres com a tua realeza”. Será um centurião, um pagão do exército romano, a fazer um ato de fé: “Realmente este homem era justo!” As pedras não terão necessidade de gritar, porque estes dois homens recusaram calar-se: já o Espírito os animava e fazia-lhes dizer a verdade. Quanto a Jesus, é por ter dito a verdade que é levado à morte. De facto, a verdade desarranja… O trono que espera este rei é a cruz e a sua coroa será de espinhos: na fraqueza manifestar-se-á o poder de Deus, o poder do Amor!

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.

    Dante definiu São Lucas como “o escriba da misericórdia de Deus”. De facto, mesmo no relato da Paixão, sem esquecer os sofrimentos de Jesus, em particular a sua angústia na agonia do monte das Oliveiras, Lucas continua a revelar até ao fim a misericórdia do Pai. Ele guardou memória de três palavras de Jesus. Primeira palavra de Jesus: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Jesus não se limita a perdoar, vai mais longe. Ele sabe que a fonte de todo o amor e de todo o perdão não está n’Ele, mas no Pai. Ele apresenta-Se diante do Pai como o intercessor a quem o Pai nada pode recusar. Ele apaga-Se, para que vejamos que é a vontade do Pai que se está a cumprir. É a oração de sempre de Jesus por nós, Ele que está sempre vivo para interceder em nosso favor. Segunda palavra de Jesus, que é a resposta ao “bom ladrão”: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”. A eficácia do perdão que o Pai dá por Jesus não suporta qualquer adiamento. Jesus apaga definitivamente a imagem de um Deus terrível e vingador, que nada deixa passar. Cremos num Deus Pai que perdoa “setenta vezes sete”. Terceira palavra de Jesus, que é um grito de uma infinita confiança no seu Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Jesus acolheu sempre, na liberdade da sua consciência humana, o amor que Lhe dava o seu Pai. Sempre esteve nas mãos do Pai. Mesmo na sua última palavra, Jesus manifesta a sua adesão a este amor infinito do seu Pai, à sua vontade de salvação, de misericórdia, para além de tudo o que possamos imaginar.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

    Pode-se rezar a Oração Eucarística II pela sua densidade e brevidade. No início, pode inserir-se uma referência ao Domingo de Ramos, como primeiro dia da Semana Santa em que celebramos já o dia da ressurreição…

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO…

    «Hossana! Crucifica-O!…» Gritos de alegria! Gritos de ódio!… A mesma multidão! E o nosso grito hoje? Somos discípulos de Jesus quando tudo vai bem… e prontos a negá-l’O quando nos sentimos comprometidos com Ele? Durante a Semana Santa, tomemos o tempo de parar com Paulo a fim de revivificar a nossa fé em “Cristo Jesus imagem de Deus… abaixando-Se até à morte de Cruz… elevado acima de tudo…”. Ousemos proclamá-lo pela nossa vida “Cristo e Senhor para a glória do Pai”! Vivamos a Semana Santa na oração e na contemplação de Jesus Cristo, a essência do nosso ser e da comunhão de irmãos em Igreja!

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

    Grupo Dinamizador:
    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    www.dehonianos.org

     

  • 01º Domingo da Páscoa – Ano C [atualizado]

    01º Domingo da Páscoa – Ano C [atualizado]

    20 de Abril, 2025

    ANO B

    DOMINGO DE PÁSCOA

    Tema do Domingo de Páscoa

    A liturgia deste domingo celebra a ressurreição de Jesus. Proclama a vitória da Vida sobre a morte, do Amor sobre o ódio, do Bem sobre o mal, da Verdade sobre a mentira, da Luz sobre as trevas. Garante-nos que a morte não pode prender quem aceita fazer da própria vida um dom de amor. É do amor que nasce a Vida plena, a Vida em abundância, a Vida verdadeira e eterna.

    Na primeira leitura Pedro, em nome da comunidade, apresenta o exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, fez da sua vida um dom total a Deus e aos homens. Por isso, Deus ressuscitou-O: o caminho que Jesus percorreu e propôs conduz à Vida. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este “caminho” a todos os homens.

    O Evangelho convida-nos a olhar para o túmulo vazio de Jesus e a “acreditar”: o verdadeiro discípulo de Jesus, aquele que o conhece bem, que entende a sua proposta e está disposto a segui-l’O sabe que a forma como Ele viveu e amou não podia terminar no túmulo, no fracasso, no nada. Por isso, está sempre preparado para acolher a Boa notícia da ressurreição.

    A segunda leitura ensina que os cristãos, unidos a Cristo ressuscitado pelo batismo, morreram para o pecado e nasceram para a Vida nova. Ao longo da sua caminhada pelo mundo, devem dar testemunho dessa Vida nova nos seus gestos, no seu amor, no seu serviço a Deus e aos homens.

     

    LEITURA I – Atos dos Apóstolos 10,34.37-43

    Naqueles dias,
    Pedro tomou a palavra e disse:
    «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia,
    a começar pela Galileia,
    depois do batismo que João pregou:
    Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré,
    que passou fazendo o bem
    e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio,
    porque Deus estava com Ele.
    Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez
    no país dos judeus e em Jerusalém;
    e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz.
    Deus ressuscitou-O ao terceiro dia
    e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo,
    mas às testemunhas de antemão designadas por Deus,
    a nós que comemos e bebemos com Ele,
    depois de ter ressuscitado dos mortos.
    Jesus mandou-nos pregar ao povo
    e testemunhar que Ele foi constituído por Deus
    juiz dos vivos e dos mortos.
    É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho:
    quem acredita n’Ele
    recebe pelo seu nome a remissão dos pecados.

     

    CONTEXTO

    Todos os anos a liturgia propõe-nos, ao longo dos domingos do tempo pascal, a leitura dos Atos dos Apóstolos. Obra de Lucas (que também foi o autor do 3.º Evangelho), os Atos é o livro “pascal” por excelência: conta-nos como os discípulos, depois de terem feito a experiência de encontro com o Ressuscitado e animados pelo Espírito que lhes foi enviado, abriram as portas da casa onde se encontravam escondidos e tornaram-se testemunhas de Jesus e do seu projeto. Deram assim cumprimento ao mandato que Jesus lhes tinha deixado quando se despediu deles e partiu ao encontro do Pai (cf. At 1,8).

    O “tempo” dos Atos é o “tempo” da Igreja (a comunidade que nasceu de Jesus e que continua a viver de Jesus) e o “tempo” do Espírito. Nesta nova fase da história da salvação, compete aos discípulos, animados e conduzidos pelo mesmo Espírito que ungiu Jesus e o acompanhava na sua missão, levarem ao mundo a salvação de Deus. Os discípulos são nesta nova fase, como Jesus o tinha sido enquanto andou pelas aldeias e vilas da Galileia, o rosto visível do Deus salvador e libertador. O seu testemunho deve percorrer um “caminho” que vai de Jerusalém – no Antigo Testamento, o lugar onde devia manifestar-se definitivamente a salvação de Deus – até “aos confins da terra”. É esse, precisamente, o “percurso” que o livro dos Atos nos apresenta.

    A execução de Estevão (um dos diáconos da Igreja de Jerusalém) e a perseguição que se abateu, logo depois, sobre os cristãos de Jerusalém fez com que diversos membros da comunidade saíssem da cidade e buscassem refúgio nas regiões vizinhas (cf. At 8,1). Assim, o Evangelho de Jesus chegou à Samaria, a Damasco e a Antioquia da Síria. Mais tarde, sobretudo por ação de Paulo, a Boa Nova de Jesus foi anunciada na Ásia Menor e na Grécia. Os Atos terminam com Paulo a chegar a Roma: o anúncio da salvação de Deus tinha alcançado o coração do mundo gentio; era uma proposta de salvação para todos os homens e mulheres que a quisessem acolher.

    Um dos episódios importantes desta saga missionária aconteceu em Cesareia Marítima (cf. At 10,24-48), a cidade da costa mediterrânica que era a sede do poder romano na Palestina. Os protagonistas desse episódio foram o apóstolo Pedro e um centurião romano chamado Cornélio. Pedro, convocado pelo Espírito (cf. At 10,19-20) e respondendo a um pedido de Cornélio (cf. At 10,22), foi a Cesareia, entrou em casa do centurião, expôs-lhe o essencial da fé cristã e batizou-o, bem como a toda a sua família (cf. At 10,23b-48). Cornélio foi o primeiro pagão a ser acolhido na Igreja de Jesus. É a primeira vez que um dos membros proeminentes da comunidade cristã (Pedro) admite que o Evangelho de Jesus é uma Boa Notícia destinada a todos os homens e mulheres, de todas as raças e culturas.

    O texto que, neste dia de Páscoa, nos é proposto como primeira leitura, é parte da “instrução” de Pedro a Cornélio e sua família. Trata-se de uma composição de Lucas onde aparecem os elementos fundamentais do kerigma cristão sobre Jesus.

     

    MENSAGEM

    Num breve resumo, Pedro “apresenta” Jesus a Cornélio e aos seus familiares. É um “primeiro anúncio”, que elenca as coordenadas fundamentais da vida e do caminho de Jesus.

    Pedro começa por testemunhar que Jesus foi “ungido” por Deus e recebeu o Espírito Santo quando foi batizado no rio Jordão (vers. 38a); na sequência dessa unção, Jesus assumiu a missão que Deus lhe confiou e, animado pela força do Espírito, andou de lugar em lugar “fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo Mal, porque Deus estava com Ele” (vers. 38b). As forças do Mal, contudo, sentiram que Jesus as desafiava e decidiram calá-l’O: “mataram-n’O, suspendendo-O de um madeiro” (vers. 39b); mas Deus não aceitou que o seu “ungido” terminasse assim o seu caminho no meio dos homens e “ressuscitou-O ao terceiro dia” (vers. 40). Deus, ao ressuscitar Jesus, deu-Lhe razão e garantiu a veracidade do seu caminho e da sua proposta. Finalmente, Pedro tira as conclusões acerca da dimensão salvífica de tudo isto: a vida de Jesus, as opções de Jesus, as palavras de Jesus, os gestos de Jesus são fonte de Vida para todos aqueles que O conhecem e que decidem caminhar com Ele (vers. 43b: “quem acredita n’Ele, recebe, pelo seu nome, a remissão dos pecados”). Pedro conclui a sua reflexão atestando a veracidade de tudo o que acabou de proclamar sobre Jesus: “nós somos testemunhas de que tudo isto aconteceu”, de que foi assim que Jesus viveu e de que Deus O ressuscitou e O fez vencer todos aqueles que O quiseram calar e encerrar num túmulo (vers. 39a.41.42). Pedro e os outros discípulos garantem ao mundo que a história de Jesus não é uma fábula inventada, mas sim uma história de vida que eles conheceram, acompanharam e comprovaram.

    Estamos em dia de Páscoa, a celebrar a ressurreição de Jesus e a tentar perceber todo o alcance desse acontecimento. Repare-se como a ressurreição de Jesus não é apresentada, neste anúncio de Pedro, como um facto isolado, mas como o culminar de uma vida vivida na obediência ao Pai e na doação aos homens. Depois de Jesus ter passado pelo mundo “fazendo o bem e libertando todos os que eram oprimidos”, depois de Ele ter morrido na cruz como consequência desse “caminho”, Deus ressuscitou-O. A vida nova e plena que a ressurreição significa parece ser o ponto de chegada de uma existência posta ao serviço do projeto salvador e libertador de Deus. Por outro lado, esta vida vivida na entrega e no dom é uma proposta transformadora que, uma vez acolhida, liberta da escravidão do egoísmo e do pecado (vers. 43).

    Qual o papel dos discípulos no meio de tudo isto? Eles aderiram a Jesus e acolheram a sua proposta libertadora. Estão, portanto, a ressuscitar com Jesus. Compete-lhes serem testemunhas, diante dos homens e mulheres da terra inteira, de Jesus e da Vida nova que d’Ele receberam. É precisamente esse testemunho que Pedro dá diante de Cornélio e sua família.

     

    INTERPELAÇÕES

    • A ressurreição de Jesus é a consequência de uma vida gasta a “fazer o bem e a libertar os oprimidos”. Isso significa que, sempre que alguém – na linha de Jesus – se esforça por vencer o egoísmo, a mentira, a injustiça e por fazer triunfar o amor, está a ressuscitar; significa que, sempre que alguém – na linha de Jesus – se dá aos outros e manifesta, em gestos concretos, a sua entrega aos irmãos, está a construir vida nova e plena. Estamos a ressuscitar, porque caminhamos pelo mundo fazendo o bem e libertando os oprimidos, ou a nossa vida é um repisar os velhos esquemas do egoísmo, do orgulho, do comodismo?
    • A ressurreição de Jesus significa também que o medo, a morte, o sofrimento e a injustiça deixam de ter poder sobre a pessoa que ama, que se dá, que partilha a vida. Ela tem assegurada a Vida plena – essa Vida que os poderes do mundo não podem destruir, atingir ou restringir. Ela pode, assim, enfrentar o mundo com a serenidade que lhe vem da fé. Estamos conscientes disto, ou deixamo-nos dominar pelo medo, sempre que temos de agir para combater aquilo que rouba a vida e a dignidade, a nós e a cada um dos nossos irmãos?
    • Aos discípulos pede-se que sejam as testemunhas da ressurreição. Nós não vimos o sepulcro vazio; mas fazemos, todos os dias, a experiência do Senhor ressuscitado, que está vivo e caminha ao nosso lado nos caminhos da história. A nossa missão é testemunhar essa realidade; no entanto, o nosso testemunho será oco e vazio se não for comprovado pelo amor e pela doação, as marcas da vida nova de Jesus. O nosso testemunho da ressurreição é coerente e credível e traduz-se em gestos concretos de amor, de partilha, de serviço?

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)

    Refrão 1: Este é o dia que o Senhor fez:
    exultemos e cantemos de alegria.

     

    Refrão 2: Aleluia.

    Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
    porque é eterna a sua misericórdia.
    Diga a casa de Israel:
    é eterna a sua misericórdia.

    A mão do Senhor fez prodígios,
    a mão do Senhor foi magnífica.
    Não morrerei, mas hei de viver
    para anunciar as obras do Senhor.

    A pedra que os construtores rejeitaram
    tornou-se pedra angular.
    Tudo isto veio do Senhor:
    é admirável aos nossos olhos.

     

    LEITURA II – Colossenses 3,1-4

    Irmãos:
    Se ressuscitastes com Cristo,
    aspirai às coisas do alto,
    onde está Cristo, sentado à direita de Deus.
    Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
    Porque vós morrestes
    e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
    Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
    também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.

     

    CONTEXTO

    Colossos era uma cidade da antiga Frígia (Ásia Menor), situada a cerca de cento e oitenta quilómetros de Éfeso, a dezasseis de Laodiceia e a vinte de Hierápolis. Pertencia à Província romana da Ásia. Em tempos recuados tinha sido cidade rica e populosa; mas no tempo de Paulo tinha perdido o seu esplendor e importância.

    Não foi Paulo que evangelizou Colossos. Durante a longa estadia de Paulo em Éfeso, no decurso da sua terceira viagem, Epafras, discípulo de Paulo e colossense de origem (cf. Col 4,12), fundou a comunidade (cf. Col 1,7), ao mesmo tempo que as de Hierápolis e Laodiceia (cf. Col 4,13). A maior parte dos membros da comunidade cristã de Colossos tinham vindo do paganismo; mas havia também um bom grupo de judeo-cristãos.

    Quando escreveu a Carta aos Colossenses, Paulo estava na prisão (em Roma?). Epafras visitou-o e falou-lhe da “crise” por que estava a passar a Igreja de Colossos. Alguns doutores locais ensinavam doutrinas estranhas, que misturavam elementos cristãos, judaicos e pagãos: especulações acerca dos anjos (cf. Col 2,18), práticas ascéticas, rituais legalistas, prescrições sobre os alimentos e a observância de determinadas festas (cf. Col 2,16.21). Tudo isso deveria (na opinião desses “mestres”) completar a fé em Cristo, comunicar aos crentes um conhecimento superior de Deus e dos mistérios cristãos e possibilitar uma vida religiosa mais autêntica. Contra este sincretismo religioso, Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo: Ele é a imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criatura, o mediador da Criação, aquele que Deus enviou para reconciliar todas as coisas, a cabeça do Corpo que é a Igreja, o Senhor de todos os poderes e dominações (cf. Cl 1,15-20).

    O texto que a liturgia deste domingo de Páscoa nos propõe como segunda leitura é a introdução à reflexão moral da carta (cf. Col 3,1-4,6). Depois de apresentar a centralidade de Cristo no projeto salvador de Deus (cf. Col 1,13-2,23), Paulo recorda aos cristãos de Colossos que é preciso viver de forma coerente e verdadeira o compromisso assumido com Cristo.

     

    MENSAGEM

    Para Paulo, o ponto de partida e a base da vida cristã é a união a Cristo Ressuscitado. Essa união concretiza-se através do batismo. Quando somos batizados e nos unimos a Cristo, morremos para o pecado e ressuscitamos com Cristo para uma Vida nova, uma Vida plena e verdadeira. Essa Vida nova terá a sua plena concretização no mundo de Deus, quando ultrapassarmos as fronteiras da vida terrena e entrarmos na glória de Deus.

    Enquanto não acedemos à glória de Deus, continuamos o nosso caminho na terra; e essa Vida nova que recebemos a partir da nossa união com Cristo ressuscitado tem de manifestar-se já, aqui e agora, nos nossos gestos, nas nossas opções, nas nossas aspirações. Através de um processo de conversão que nunca está terminado, temos de nos ir despojando do nosso egoísmo, da nossa autossuficiência, da nossa arrogância, da nossa maldade (Paulo chama a isso “despir-se do homem velho) para passarmos a viver num dinamismo de amor, de serviço simples e humilde, de bondade, de misericórdia de mansidão, de dom da vida (Paulo chama a isso “revestir-se do Homem Novo”). Cristo ressuscitado, que venceu o pecado e a morte, será sempre a nossa referência e o nosso modelo de vida. Caminhamos na terra, mas de olhos postos no céu (“afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra”).

    Desta opção por Cristo e desta união com Cristo ressuscitado resultam exigências práticas que Paulo vai enumerar, de forma bem concreta, nos versículos seguintes (cf. Col 3,5-4,1).

     

    INTERPELAÇÕES

    • O Batismo introduz-nos numa dinâmica de comunhão com Cristo ressuscitado. A partir do Batismo, Cristo passa a ser o centro e a referência fundamental à volta da qual se constrói toda a vida do crente. Qual o lugar que Cristo ocupa na nossa vida? Temos consciência de que o nosso Batismo significou um compromisso com Cristo e uma identificação com Cristo?
    • A identificação com Cristo implica o assumir uma dinâmica de Vida nova, despojada do pecado e feita doação a Deus e aos irmãos. O cristão torna-se então, verdadeiramente, alguém que “aspira às coisas do alto” – quer dizer, alguém que, embora vivendo nesta terra e desfrutando das realidades deste mundo, tem como referência última os valores de Deus. Não se pede ao crente que seja um alienado, alguém que viva a olhar para o céu e que se demita do compromisso com o mundo e com os irmãos; mas pede-se-lhe que não faça dos valores do mundo a sua prioridade, a sua referência última. A nossa vida tem sido uma caminhada coerente com essa dinâmica de Vida nova que começou no dia em que fomos batizados? Esforçamo-nos, realmente, por nos despojarmos do “homem velho” e por nos revestirmos do “Homem Novo”, do homem que se identifica com Cristo e que vive no amor, no serviço, na doação aos irmãos?
    • Paulo, a partir do exemplo de Cristo, garante-nos que esse caminho de despojamento do “homem velho” não é um caminho de derrota e de fracasso; mas é um caminho de glória, no qual se manifesta a realidade da Vida eterna, da Vida verdadeira. Neste dia de Páscoa, diante do túmulo vazio e da certeza de que Jesus triunfou da morte e do pecado, reconhecemos a verdade do testemunho de Paulo?
    • Quando, de alguma forma, estou envolvido na preparação ou na celebração do sacramento do Batismo, tenho consciência – e procuro passar essa mensagem – de que o sacramento não é um ato tradicional ou social (que, por acaso, até proporciona fotografias bonitas), mas um compromisso sério e exigente com Cristo?

     

    SEQUÊNCIA PASCAL

    À Vítima pascal
    ofereçam os cristãos
    sacrifícios de louvor.

    O Cordeiro resgatou as ovelhas:
    Cristo, o Inocente,
    reconciliou com o Pai os pecadores.

    A morte e a vida
    travaram um admirável combate:
    Depois de morto,
    vive e reina o Autor da vida.

    Diz-nos, Maria:
    Que viste no caminho?

    Vi o sepulcro de Cristo vivo
    e a glória do Ressuscitado.
    Vi as testemunhas dos Anjos,
    vi o sudário e a mortalha.

    Ressuscitou Cristo, minha esperança:
    precederá os seus discípulos na Galileia.

    Sabemos e acreditamos:
    Cristo ressuscitou dos mortos:
    Ó Rei vitorioso,
    tende piedade de nós.

     

    ALELUIA – 1 Coríntios 5,7b-8a

    Aleluia. Aleluia.

    Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado:
    celebremos a festa do Senhor.

     

    EVANGELHO – João 20,1-9

    No primeiro dia da semana,
    Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro
    e viu a pedra retirada do sepulcro.
    Correu então e foi ter com Simão Pedro
    e com o discípulo predileto de Jesus
    e disse-lhes:
    «Levaram o Senhor do sepulcro
    e não sabemos onde O puseram».
    Pedro partiu com o outro discípulo
    e foram ambos ao sepulcro.
    Corriam os dois juntos,
    mas o outro discípulo antecipou-se,
    correndo mais depressa do que Pedro,
    e chegou primeiro ao sepulcro.
    Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou.
    Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira.
    Entrou no sepulcro
    e viu as ligaduras no chão
    e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus,
    não com as ligaduras, mas enrolado à parte.
    Entrou também o outro discípulo
    que chegara primeiro ao sepulcro:
    viu e acreditou.
    Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura,
    segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

     

    CONTEXTO

    O Quarto Evangelho (cf. Jo 4,1-19,42) apresenta duas partes. Na primeira, João descreve a atividade criadora e vivificadora do Messias, no sentido de dar vida e de criar um Homem Novo – um homem livre da escravidão do egoísmo, do pecado e da morte (para João, o último passo dessa atividade destinada a fazer surgir o Homem Novo foi, precisamente, a morte na cruz: aí, Jesus apresentou a última e definitiva lição – a lição do amor total, que não guarda nada para si, mas faz da vida um dom radical ao Pai e aos irmãos). Na segunda parte do Evangelho (cf. Jo 20,1-31), João apresenta o resultado da ação de Jesus e mostra essa comunidade de Homens Novos, recriados e vivificados por Jesus, que com Ele aprenderam a amar com radicalidade e a quem Jesus abriu as portas da Vida definitiva. Trata-se dessa comunidade de homens e mulheres que se converteram e aderiram a Jesus e que, em cada dia – mesmo diante do sepulcro vazio – são convidados a manifestar a sua fé no Filho de Deus que “ergueu a sua tenda no meio dos homens” para lhes dar Vida em abundância.

    Jesus tinha sido crucificado na manhã de sexta-feira (por volta das nove horas) e tinha morrido na cruz por volta das três horas da tarde desse mesmo dia. No final da tarde, o seu corpo morto tinha sido descido da cruz e depositado, à pressa, num “túmulo novo”, situado num horto, perto do lugar da crucificação (cf. Jo 19,41). Como era habitual, na tradição judaica, uma pedra redonda tinha sido rolada para tapar a entrada do sepulcro. Os rituais fúnebres não tinham sido observados em pormenor, uma vez que nesse dia, ao pôr do sol, começava o sábado e também a celebração da Páscoa judaica (cf. Jo 19,42). Aqueles que lidaram com o sepultamento de Jesus queriam voltar a casa, rapidamente, porque queriam “comer a Páscoa”, nessa noite, em família. Precisavam de se afastar do corpo morto de Jesus para não ficarem “impuros” e serem ritualmente impedidos de celebrar a Páscoa.

    Passado o dia festivo da Páscoa, no “yom rishon”, o primeiro dia da semana, Maria Madalena – uma das mulheres que tinha seguido Jesus desde a Galileia até Jerusalém e que tinha estado junto da cruz de Jesus até à sua morte – dirigiu-se ao túmulo. Presumivelmente levava perfumes para ungir o corpo morto de Jesus (cf. Mc 16,1). Perguntava-se como iria conseguir afastar a enorme pedra que tinha sido rolada, na sexta-feira, para tapar a entrada do sepulcro de Jesus.

     

    MENSAGEM

    O relato joânico começa com uma indicação aparentemente cronológica, mas que deve ser entendida, sobretudo, em chave teológica: “no primeiro dia da semana”. Significa que aqui começa um novo ciclo – o da nova criação, o da libertação definitiva. Este é o “primeiro dia” de um novo tempo e de uma nova realidade – o tempo do Homem Novo, do Homem que nasceu a partir da ação criadora e vivificadora de Jesus.

    Nesse primeiro dia da semana, “de manhã cedo”, Maria Madalena dirige-se ao túmulo de Jesus. Maria Madalena representa, no Quarto Evangelho, a nova comunidade nascida da ação criadora e vivificadora do Messias. No entanto, para Maria Madalena “ainda estava escuro”: a comunidade nascida de Jesus estava convencida, nessa hora, de que a morte tinha triunfado e que Jesus estava prisioneiro do sepulcro. Era, portanto, uma comunidade perdida, desorientada, insegura, com medo, sem esperança.

    A primeira coisa que Maria Madalena vê, quando se aproxima, é que a pedra que fechava o sepulcro havia sido retirada. Essa pedra, colocada depois de o corpo morto de Jesus ter sido depositado no túmulo, assinalava a morte definitiva de Jesus. Estabelecia a separação entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Porque é que essa pedra foi retirada? Além disso, o túmulo está vazio. O que é que isso significa? Maria constata estes dados; mas não consegue perceber onde é que eles conduzem. Está desorientada e perplexa. Ainda está na escuridão. Não põe, nesse primeiro momento, a hipótese de a morte de Jesus não ser definitiva. Conclui apenas que alguém tinha retirado daquele túmulo o corpo morto de Jesus. A conclusão de Maria, a sua dificuldade em interpretar os sinais revela, provavelmente, a perplexidade e a confusão dos discípulos, nas primeiras horas da manhã de Páscoa, diante do túmulo vazio de Jesus. Só mais tarde, num desenvolvimento que a liturgia deste dia não conservou, Maria Madalena fará a experiência do encontro com Jesus ressuscitado e tornar-se-á testemunha da ressurreição (cf. Jo 20,11-18).

    Na sequência, João entende apresentar uma catequese sobre a dupla atitude dos discípulos diante do mistério da morte e da ressurreição de Jesus. Essa dupla atitude é expressa no comportamento dos dois discípulos que, na manhã da Páscoa, alertados por Maria Madalena para o facto de o corpo de Jesus ter desaparecido, correram ao túmulo: Simão Pedro e um “outro discípulo” não identificado (mas que parece ser esse “discípulo amado”, apresentado no Quarto Evangelho como o modelo ideal do discípulo).

    O “discípulo amado” é uma figura de proa no Evangelho segundo João. Na última ceia, foi ele que recebeu a confidência de Jesus sobre a traição de Judas (cf. Jo 13,23-26); na paixão, foi ele que conseguiu estar perto de Jesus no átrio do sumo sacerdote, enquanto Pedro O trai (cf. Jo 18,15-18.25-27); foi ele que esteve junto de Jesus, numa altura em que os outros discípulos estavam escondidos, cheios de medo (cf. Jo 19,25-27); foi ele que reconheceu Jesus ressuscitado naquele vulto que apareceu junto da praia no lago de Tiberíades, após uma noite inglória de pesca (cf. Jo 21,7). É um discípulo muito próximo de Jesus, com uma ligação e uma empatia especiais com Jesus. Nas cenas em que apareceu lado a lado com Pedro, o “discípulo amado” levou vantagem. Aqui, isso irá acontecer outra vez: ele correu mais e chegou ao túmulo primeiro que Pedro. Correu mais, porque amava mais; chegou primeiro, porque sempre esteve mais próximo de Jesus. No entanto, diz o texto, “não entrou”. Só avançou depois de Pedro ter entrada no sepulcro: ao ceder o passo a Pedro, mostra deferência e amor, que é o que se esperaria de alguém que tem uma forte ligação a Jesus. Este discípulo “viu e acreditou” (vers. 8). Viu os sinais, soube interpretá-los e o seu amor a Jesus levou-o a perceber que o Mestre tinha vencido a morte. Em contrapartida, não se diz o mesmo sobre Pedro.

    O que é que estas duas figuras de discípulo representam?

    Em geral, Pedro representa, nos Evangelhos, o discípulo obstinado, para quem a morte significa fracasso e que se recusa a aceitar que a Vida nova passe pela humilhação da cruz (Jo 13,6-8.36-38; 18,16.17.18.25-27; cf. Mc 8,32-33; Mt 16,22-23). Ele é, em várias situações, o discípulo que tem dificuldade em entender os valores que Jesus propõe, que raciocina de acordo com a lógica do mundo e que não entende que a Vida eterna e verdadeira possa brotar da cruz. Na sua perspetiva, Jesus fracassou, pois insistiu – contra toda a lógica – em servir e em dar a vida. Para ele, a doação e a entrega não podem conduzir à vitória, mas sim à derrota; portanto, Jesus morreu e o caso está encerrado. A eventual ressurreição de Jesus é, para alguém que vê as coisas dessa forma, uma hipótese absurda e sem sentido.

    Ao contrário, o “outro discípulo” – o “discípulo amado” – é aquele que está sempre próximo de Jesus, que se identifica com Jesus, que adere incondicionalmente aos valores de Jesus, que ama Jesus. Nessa comunhão e intimidade com Jesus, ele aprendeu e interiorizou a lógica de Jesus e percebeu que a doação e a entrega são um caminho de Vida. Para ele, faz todo o sentido que Jesus tenha ressuscitado, pois a vitória sobre a morte é o resultado lógico do dom da vida, do amor até ao extremo.

    Esse “outro discípulo” é, portanto, a imagem do discípulo ideal, que está em sintonia total com Jesus, que percebe e aceita os valores de Jesus, que está disposto a embarcar com Jesus na lógica do amor e do dom da vida, que corre ao encontro de Jesus com um total empenho, que compreende os sinais da ressurreição e que descobre – porque o amor leva à descoberta – que Jesus está vivo. Ele é o paradigma do Homem Novo, do homem recriado por Jesus.

     

    INTERPELAÇÕES

    • A ressurreição de Jesus é a resposta de Deus aos que pretenderam, de forma injusta e criminosa, calar Jesus e banir da história o seu projeto do Reino de Deus. Deus não permitiu que o mal vencesse; Deus não permitiu que a violência, a injustiça, a maldade e a morte tivessem a última palavra; Deus não aceitou que o mundo ficasse refém daqueles que queriam continuar a viver na escuridão. Ao ressuscitar Jesus, Deus deu-Lhe razão; afirmou, alto e bom som, que o caminho proposto por Jesus – o do amor que se dá até às últimas consequências, o do serviço simples e humilde aos irmãos, o do perdão sem limites – é o caminho que leva à Vida. Neste dia de Páscoa, diante do túmulo de Jesus vazio, tenho alguma dúvida em abraçar tudo aquilo que Jesus me disse, com as suas palavras e com os seus gestos, sobre a forma de chegar à Vida definitiva, à Vida eterna?
    • A vitória de Jesus sobre o egoísmo, a violência, a maldade e a morte muda a nossa perspetiva sobre a forma de encarar tudo aquilo que, de forma objetiva, faz sofrer os homens e mulheres que caminham ao nosso lado. Ficar do lado dos que são magoados e crucificados, combater a injustiça e a opressão nas suas mil e uma formas, gastar a vida a servir os mais frágeis e abandonados, recusar um mundo que se constrói sobre violência e prepotência, lutar até ao dom da própria vida para vencer tudo o que gera morte não é algo absurdo. É, segundo Deus, o caminho que fará com que a nossa vida valha a pena e tenha pleno sentido. Talvez essa opção nos deixe cheios de feridas e cicatrizes; mas serão feridas e cicatrizes que Deus curará. Estamos dispostos a dar a vida para que outros tenham Vida? Estamos dispostos a correr riscos para levar a libertação ao mundo e aos nossos irmãos? Cremos firmemente, com toda a nossa alma e com todas as nossas forças, que uma vida gasta a servir não é uma vida fracassada, mas é uma vida que termina em ressurreição?
    • Pedro parece ter sentido dificuldade, diante do túmulo vazio, em “acreditar” que Jesus estivesse vivo e que aquele caminho de cruz tivesse conduzido à Vida. Na verdade, em muitos passos do caminho que percorreu com Jesus, Pedro manifestou dificuldade em sintonizar com Jesus e com a sua lógica. Ele estava habituado a funcionar de acordo com outros valores e padrões, numa lógica muito “do mundo”. Os interesses de Pedro nem sempre coincidiam com a visão de Jesus. Parece estranho, para alguém que andava com Jesus? Teoricamente, sim. Na prática, talvez reconheçamos, nas hesitações e recusas de Pedro, as nossas indecisões, a nossa dificuldade em arriscar, a nossa dificuldade em abandonarmos os critérios “do mundo” para abraçarmos a lógica de Deus. Será assim? O que podemos fazer para sermos menos “Pedro” e mais discípulos que vão, sem hesitar, atrás de Jesus?
    • A fotografia que o evangelista João nos apresenta do “discípulo predileto” é a fotografia de um discípulo que vive em comunhão com Jesus, que se identifica com Jesus e com os seus valores, que interiorizou e absorveu a lógica da entrega incondicional, do dom da vida, do amor total. Por isso, não tem qualquer problema em aceitar que o caminho seguido por Jesus conduz à ressurreição, à Vida nova. Ele “acredita” em Jesus. Revemo-nos nesta figura? Vemo-la como uma proposta com a qual gostaríamos de nos identificar? O que podemos fazer para sermos verdadeiramente “discípulo predileto”?
    • A ressurreição de Jesus é a vitória da Vida sobre a morte, da verdade sobre a mentira, da esperança sobre o desespero, da justiça sobre a injustiça, da alegria sobre a tristeza, da luz sobre as trevas. Abre-nos perspetivas completamente novas e garante-nos o triunfo de Deus sobre as forças que querem destruir o mundo e os homens. Nós, que acreditamos e celebramos a ressurreição de Jesus, somos testemunhas da vitória da Vida junto dos nossos irmãos paralisados pelo medo e pelo pessimismo? A mensagem que levamos ao mundo é uma mensagem de alegria e de esperança que tem as cores da manhã de Páscoa?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DE PÁSCOA

    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo de Páscoa, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus… Aproveitar, sobretudo, a Semana Santa para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. BILHETE DE EVANGELHO.

    Demos a morte àquele que, com um olhar, dava dignidade aos feridos da vida, então Maria Madalena reconhece-O quando Ele a chama pelo seu nome. Demos a morte àquele que tinha falado do amor como de um dom, então Tomé reconhece-O nas suas feridas, provas do dom da sua vida. Demos a morte àquele que tinha declarado “felizes os construtores de paz”, então os discípulos reconhecem-n’O na sua saudação: “A paz esteja convosco!” Demos a morte àquele que tinha partilhado o pão, então dois dos seus discípulos reconhecem-n’O no gesto da fração do pão a caminho de Emaús. A morte não teve a última palavra. Doravante, quem terá a última palavra é a Vida, o Amor, a Paz, a Fé. Tal é na nossa esperança.

    3. À ECUTA DA PALAVRA.

    “Ele viu e acreditou”. O discípulo que Jesus amava viu aquilo que Simão Pedro via: um túmulo vazio, com as ligaduras e o sudário… Mas João crê. Porquê esta diferença na atitude dos dois discípulos? O amor de Pedro por Jesus era grande. Mas com a tríplice negação, o seu amor tinha necessidade de ser confirmado, purificado, perdoado. João, ele, o único entre os apóstolos, ficou até ao fim. Deixou-se invadir por um amor sem falhas. Na última Ceia, tinha sentido bater mais perto o coração do Senhor. Diante do túmulo vazio, ele sabe que se trata de algo de infinitamente mais misterioso, mais decisivo. Muitos homens não tiveram fé no testemunho dos apóstolos. É este amor que nos faz ver para lá das aparências e que queimava o coração de João. “Para vós, pergunta-nos sempre Jesus, quem sou Eu?”

    4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

    Falar verdade… Uma maneira simples de testemunhar a nossa fé na ressurreição de Cristo no “primeiro dia da semana” seria, para nós cristãos, não falar mais de fim da semana! Porque, evidentemente, o domingo não é o fim da semana, mas o seu começo. O domingo é o primeiro dia, o dia do Senhor. Então, podemos habituar-nos a falar em “início de semana” em vez de “fim de semana”.

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

    Grupo Dinamizador:
    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    www.dehonianos.org

     

  • S. Marcos, Evangelista

    S. Marcos, Evangelista


    25 de Abril, 2025

    Marcos era filho de Maria de Jerusalém, em cuja casa Pedro se refugiou depois de ser libertado do cárcere (cf. At 12, 12). Era primo de Barnabé. Acompanhou o apóstolo Paulo na sua primeira viagem a Roma (cf. Col 4, 10) e esteve próximo dele durante a sua prisão em Roma (Fm 24). Depois, tornou-se discípulo de Pedro, de cuja pregação se fez intérprete no Evangelho que escreveu (cf. 1 Pe 5, 13). O seu evangelho é comumente reconhecido como o mais antigo, utilizado e completado por Mateus e por Lucas. Parece que também os grandes discursos da primeira parte do Atos dos Apóstolos são uma retomada e desenvolvimento do evangelho de Marcos, a partir de Mc 1, 15. É-lhe atribuída a fundação da Igreja de Alexandria.
    Lectio
    Primeira Leitura: 1 Pedro 5, 5b-14

    Irmãos: revesti-vos todos de humildade no trato uns com os outros, porque Deus opõe-se aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. 6Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no devido tempo. 7Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós. 8Sede sóbrios e vigiai, pois o vosso adversário, o diabo, como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar. 9Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a vossa comunidade de irmãos, espalhada pelo mundo, suporta os mesmos padecimentos. 10Depois de terdes padecido por um pouco de tempo, o Deus que é todo graça e vos chamou em Jesus Cristo à sua eterna glória, há-de restabelecer-vos e consolidar-vos, tornar-vos firmes e fortes. 11Para Ele o poder pelos séculos dos séculos. Ámen. 12Por Silvano, a quem considero um irmão fiel, escrevo-vos estas breves palavras, para vos exortar e para vos assegurar que esta é a verdadeira graça de Deus; perseverai nela! 13Manda-vos saudações a comunidade dos eleitos que está em Babilónia e, em particular, Marcos, meu filho. 14Saudai-vos uns aos outros com um ósculo de irmãos que se amam. Paz a todos vós, que estais em Cristo.

    A tradição, segundo a qual Marcos recolheu, no seu evangelho, a pregação de Pedro, apoia-se nesta página, onde Pedro lhe chama "meu filho" (v. 13). Mas as exortações do primeiro dos apóstolos dirigem-se a todos quantos na Igreja têm responsabilidades de guias e mestres.
    O verdadeiro pastor deve, antes de mais, ser humilde e consciente de não ser dono de nada, mas ter recebido tudo de Deus. E a humildade é verdade!
    Os pastores devem também ser sóbrios e vigilantes. Nestas palavras ecoa o discurso escatológico de Jesus (cf. Mc 13, 1ss.). Pedro dirige aos pastores humildes e fiéis, sóbrios e vigilantes, a promessa de que Aquele Deus que os chamou à vida nova em Cristo os confirmará na graça e os coroará de glória (v. 10).
    Evangelho: Marcos 16, 15-20

    Naquele tempo, Jesus apareceu ao Onze Apóstolos e disse-lhes: 15«Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. 16Quem acreditar e for batizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados.» 19Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. 20Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam.

    Nesta conclusão do evangelho original de Marcos, encontramos o chamado discurso missionário: Jesus envia os seus discípulos a levar o evangelho a todas as criaturas (vv. 15ss.). O missionário do Pai, Jesus, precisa de outros missionários. Aquele que é a Boa Nova confia a Boa Nova aos seus apóstolos: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura." (v. 15).
    Depois do mandato missionário, Marcos alude, de modo muito breve, e discreto à ascensão de Jesus ao céu: "O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus." (v. 19). E conclui afirmando: "Eles, partindo, foram pregar por toda a parte" (v. 20). E assim mudou radicalmente a vida dos apóstolos e de muitas outras pessoas ao longo dos séculos.
    Meditatio

    A primeira leitura da festa de S. Marcos foi escolhida por causa da expressão "meu filho" usada por S. Pedro para se referir ao segundo evangelista, mas também pelas palavras: "Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a vossa comunidade de irmãos, espalhada pelo mundo, suporta os mesmos padecimentos." (v. 9). Marcos é, de modo especial, o evangelista da fé. Insiste em que deve ser vivida mesmo no meio da obscuridade. O evangelista tem um sentido muito vivo dessa experiência. Mais do que desenvolver os ensinamentos do Mestre, preocupa-se em acentuar a manifestação do Messias crucificado. Apresenta-nos Jesus rodeado de pessoas que, depois de um primeiro entusiasmo, O recusam. Os próprios Doze, escolhidos por Ele, não O compreendem: têm o coração endurecido, fechado à Sua mensagem, à Sua Pessoa. Mesmo Pedro, que reconhece Jesus como Messias, não quer aceitar o caminho que Ele escolheu percorrer, o caminho da cruz. O centro do evangelho de Marcos é o paradoxal testemunho de fé do centurião, que reconhece em Jesus, que morre na cruz, o Filho de Deus. Marcos compreende a realidade profunda do itinerário doloroso de Jesus e apresenta-o à luz da fé, definitivamente consolidada na ressurreição. O segundo evangelho ajuda-nos a viver na fé e a alimentá-la no sofrimento e a apoiá-la unicamente em Cristo, sem procurar provas humanas.
    A reflexão de Marcos não é académica, mas existencial e vital. O Evangelho é Deus (cf. Mc 1, 14); contém e manifesta o projeto salvífico que o Pai quer realizar por meio do Filho em favor de toda a humanidade. É do coração de Deus que brota a "Boa Nova" capaz de encher de alegria todos os corações humanos que estejam disponíveis a acolher o dom da salvação. O "Evangelho é de Jesus Cristo" (cf. Mc 1, 1), quer dizer, é Jesus o Cristo, o Filho de Deus. Mas é também memorial de tudo quanto Jesus fez e disse. Numa palavra: para Marcos, o Evangelho é tudo, e tudo é Evangelho.
    Lembremos as nossas Constituições: "A missão em sentido estrito sempre esteve presente entre nós e continua a conservar para nós uma importância particular" (Cst 33). A nossa admiração e atenção por aqueles que hoje são "missionários" continuam bem vivas. Esses confrades deixaram a sua terra, a sua gente, para adotar uma outra, em favor da qual desenvolvem todas as atividades de apostolado (cf. Cst 15). "Reconhecemos como parte importante da nossa missão reparadora todo o trabalho que desde os princípios da Congregação muitos de nós desenvolvem na atividade missionária, em vista do anúncio do Evangelho e em solidariedade com os povos, cuja situação é particularmente difícil" (Documenta XIV).
    Oratio

    Abre, Senhor, os meus ouvidos para que se encham do tesouro do teu Evangelho, porque a minha vida, iluminada e confortada pela tua Palavra, terá sentido pleno e duradoiro. Faz-me acolher o Verbo da verdade presente no teu Evangelho. Abre, Senhor, a minha boca para que a Boa Nova acolhida, se torne proclamação da tua glória e mensagem de sentido e esperança para os irmãos. Que a minha vida se abra a Ti, se encontre contigo, que vens ao meu encontro todos os dias na Palavra que o teu Evangelho encerra e me dá. Ámen.
    Contemplatio

    S. Marcos amava Nosso Senhor sem qualquer reserva; estava maduro para o martírio. Os seus sucessos e os progressos da fé exasperavam os pagãos e em particular os sacerdotes de Serapis. Apoderaram-se de S. Marcos durante a solenidade da Páscoa do ano 68. Fizeram-lhe sofrer durante dois dias um horrível suplício, fazendo-o arrastar com cordas por terrenos pedregosos dos subúrbios de Buroles; mas o amor é mais forte do que a morte, e o santo bendizia a Nosso Senhor e dava-lhe graças por ter sido julgado digno de sofrer por seu amor. Durante a noite que separou os dois dias de torturas, o santo foi reconfortado por visitas celestes. Foi primeiro um anjo que lhe disse: «Marcos, servo de Deus e chefe dos ministros de Cristo, no Egipto, o vosso nome está escrito no livro da vida e as potências celestes virão em breve procurar-vos para vos conduzirem ao céu». Depois apareceu-lhe o próprio Nosso Senhor, como o tinha conhecido na Galileia: «A paz esteja convosco, Marcos nosso evangelista», diz-lhe; depois desapareceu. Esta palavra de encorajamento bastava. S. Marcos foi de novo arrastado e dilacerado pelas pedras, enquanto bendizia a Deus: «Meu Deus, nas vossas mãos entrego a minha alma». (L. Dehon, OSP 3, p. 479).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Convertei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1, 15).

    S. Marcos, Evangelista (25 Abril)

  • 02º Domingo da Páscoa – Ano C [atualizado]

    02º Domingo da Páscoa – Ano C [atualizado]

    27 de Abril, 2025

    ANO C

    2.º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

    Tema do 2.º Domingo do Tempo Pascal

    A liturgia deste domingo continua a celebrar a Boa notícia da vitória de Jesus sobre a morte. Convida-nos especialmente a olhar para a comunidade nascida de Jesus. Garante-nos que Jesus está no meio dela, caminha com ela, dá-lhe a força para vencer as crises e os desafios que lhe dificultam a caminhada. É a partir da comunidade cristã que Jesus continua a oferecer ao mundo e aos homens, em cada passo da história, a sua proposta salvadora e libertadora.

    O Evangelho apresenta a comunidade da Nova Aliança, nascida da atividade criadora e vivificadora de Jesus. É uma comunidade que se reúne à volta de Jesus ressuscitado, que recebe d’Ele Vida, que é animada pelo Seu Espírito e que dá testemunho no mundo da Vida nova de Deus. Quem quiser “ver” e “tocar” Jesus ressuscitado, deve procurá-l’O no meio dessa comunidade que d’Ele nasceu e que d’Ele vive.

    A primeira leitura mostra-nos como a comunidade cristã de Jerusalém vivia e testemunhava a sua fé. A união, o amor fraterno, o estilo de vida daqueles homens e mulheres, suscitavam admiração, provocavam simpatia e levavam à adesão. A vida nova recebida de Jesus aparecia especialmente em gestos concretos de cura e de cuidado com os doentes e frágeis. Dessa forma, a comunidade continuava a obra libertadora de Jesus.

    Na segunda leitura João, o profeta de Patmos, apresenta aos cristãos perseguidos a visão do “filho do homem”. Trata-se de Jesus ressuscitado, o princípio e o fim de todas as coisas, aquele que derrotou a morte e tudo o que a ela está ligado. Ele está com a sua Igreja e caminha com ela pelos caminhos da história. É n’Ele que a comunidade encontra a força para caminhar e para vencer as forças que se opõem à vida nova de Deus.

     

    LEITURA I – Atos 5,12-16

    Pelas mãos dos Apóstolos
    realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo.
    Unidos pelos mesmos sentimentos,
    reuniam-se todos no Pórtico de Salomão;
    nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles,
    mas o povo enaltecia-os.
    Cada vez mais gente aderia ao Senhor pela fé,
    uma multidão de homens e mulheres,
    de tal maneira que traziam os doentes para as ruas
    e colocavam-nos em enxergas e em catres,
    para que, à passagem de Pedro,
    ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles.
    Das cidades vizinhas de Jerusalém,
    a multidão também acorria,
    trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros
    e todos eram curados.

     

    CONTEXTO

    O livro dos Atos dos Apóstolos, logo depois da introdução inicial (cf. At 1,1-11), oferece-nos um conjunto de histórias sobre a comunidade cristã de Jerusalém (cf. At 1,12-6,7). Mas o objetivo primordial de Lucas, o autor dos Atos, não é fornecer-nos um relato real e pormenorizado dos primeiros dias do cristianismo, após a ascensão de Jesus ao céu; o que ele pretende é propor-nos uma catequese sobre a forma como a Igreja de Jesus se deve estruturar e apresentar ao mundo. A comunidade cristã de Jerusalém é, de certo modo, a mãe e o modelo de todas as Igrejas. Lucas, ao falar dela, vai idealizá-la e “embelezá-la”, a fim de que ela funcione como exemplo para todas as Igrejas que depois irão surgir.

    Nesses capítulos dedicados à apresentação da Igreja de Jerusalém Lucas insere, a certa altura, três breves sumários que põem em relevo dimensões particularmente importantes da vida eclesial. No primeiro desses sumários sublinha-se especialmente a unidade, a fidelidade à oração e ao ensino dos apóstolos, o espírito fraterno e o testemunho que a comunidade dava aos habitantes de Jerusalém (cf. At 2,42-47); no segundo, a ênfase é posta na partilha dos bens e na solidariedade dos membros da comunidade (cf. At 4,32-35); no terceiro (que é precisamente o que a liturgia deste domingo nos propõe como primeira leitura), realça-se a atividade curadora dos apóstolos, que despertava o interesse da cidade e atraía novos membros à comunidade (cf. At 5,12-16).

    Para entendermos todo o alcance da reflexão de Lucas precisamos de ter em conta a situação das comunidades cristãs no final da década de 80 do primeiro século. O entusiasmo inicial dos cristãos estava um tanto diluído: Jesus ainda não tinha vindo para instaurar definitivamente o “Reino de Deus” e, em contrapartida, posicionavam-se no horizonte próximo as primeiras grandes perseguições. Muitos dos crentes tinham-se instalado numa fé “morna” e inconsequente. Havia desleixo, falta de entusiasmo, acomodação, divisão, conflitos e confusão (até porque começavam a aparecer falsos mestres, com doutrinas estranhas e pouco cristãs). Neste contexto, Lucas recorda o essencial da experiência cristã e traça o quadro daquilo que a comunidade deve ser e testemunhar.

     

    MENSAGEM

    Lucas enuncia, no início deste “sumário” o tema que pretende relevar: “pelas mãos dos apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo” (vers. 12a). Depois, passa a mostrar o testemunho que a comunidade cristã primitiva dava aos habitantes de Jerusalém.

    Os cristãos de Jerusalém costumavam reunir-se no pórtico de Salomão, certamente para escutar o ensino dos apóstolos. Os outros, os que não faziam parte da comunidade cristã, enalteciam-nos e admiravam-nos; mas não se atreviam a juntar-se a eles (vers. 12b-13). Como é que as duas afirmações, aparentemente contraditórias, se podem entender? Lucas quer sugerir, provavelmente, que “os outros”, vendo o estilo de vida dos cristãos, reconheciam na comunidade nascida de Jesus algo que vinha de Deus e que era sinal de Deus. Esse reconhecimento infundia nos habitantes de Jerusalém um temor respeitoso, aquele temor que qualquer pessoa sente diante da presença de Deus. Com o passar do tempo, no entanto, o temor dava lugar à estima e a estima levava à adesão: “cada vez mais gente aderia ao Senhor pela fé, uma multidão de homens e mulheres” (vers. 14).

    A adesão dos habitantes de Jerusalém à fé cristã era potenciada pelas curas que os apóstolos realizavam: “traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles” (vers. 15). Ao atribuir aos apóstolos esse poder curador, Lucas pretende dizer-nos que eles continuam a obra de Jesus, levando vida a todos aqueles que estão privados de vida. A mesma atividade salvadora e libertadora que Jesus desenvolveu em favor dos pobres, dos oprimidos e de outros sofredores é continuada agora no mundo pela sua Igreja. Um desenvolvimento especialmente original é a atribuição à “sombra” de Pedro de virtudes curativas (cf. At 5,15b). Tal coisa nunca foi afirmada acerca de Jesus. Significa que Pedro tinha mais poder do que Jesus? Não. Provavelmente é uma forma muito concreta de sugerir que nada é impossível àquele que se coloca na órbita de Jesus e recebe d’Ele a força para levar ao mundo a salvação de Deus.

    Jesus tinha dito aos apóstolos, ao despedir-se deles, pouco antes de voltar para o Pai: “sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo” (At 1,8). Os apóstolos, fiéis ao mandato que receberam, dão testemunho, com os seus gestos, de Jesus ressuscitado e do seu projeto libertador para o mundo.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Em quase todos os relatos pós-pascais reafirma-se a ideia de que os discípulos de Jesus são, depois da morte/glorificação de Jesus, as testemunhas da sua ressurreição e do seu projeto no meio dos homens. Ora, esta tarefa não dizia apenas respeito à Igreja de Jerusalém. É uma tarefa que deve ser abraçada pelos discípulos de Jesus de todas as épocas, inclusive por nós. Somos hoje, em pleno séc. XXI, neste tempo difícil que nos calhou viver, as testemunhas de Jesus ressuscitado e da sua proposta salvadora. Num mundo ferido a cada passo por mecanismos de morte – a guerra, a injustiça, a mentira, a prepotência dos poderosos, a indiferença pela sorte dos mais frágeis, a marginalização dos “diferentes”, a destruição do planeta, o uso abusivo por alguns dos recursos que pertencem a todos – somos obrigados a dar testemunho de Jesus e da sua proposta do Reino de Deus. Nós, Igreja de Jesus, anunciamos ao mundo e testemunhamos com a forma como vivemos, tudo aquilo que Jesus nos ensinou com as suas palavras, com os seus gestos, com a sua vida? O que nos falta para sermos – como a comunidade primitiva – uma comunidade que testemunha Jesus ressuscitado?
    • Falando dos membros da comunidade cristã de Jerusalém, Lucas afirma que eles “reuniam-se todos, unidos pelos mesmos sentimentos”. A fé não é uma questão puramente individual, que cada um vive por si sem enquadramento comunitário; mas é uma realidade que se recebe, que se desenvolve, que se vive e que se celebra no contexto de uma comunidade. A Igreja de Jesus é um corpo – o Corpo de Cristo – formado por muitos membros, e onde cada um desempenha o seu papel no contexto do projeto que Deus confiou à comunidade do Reino de Deus. É no enquadramento e no diálogo comunitário que a nossa visão pessoal da fé, confrontada com visão dos outros, se purifica, se enriquece e se aproxima da verdade; é na partilha comunitária que vamos discernindo o projeto de Deus para o mundo e para a Igreja; é no apoio dos irmãos e irmãs que encontramos a força de caminhar sempre em frente, na fidelidade ao Evangelho de Jesus. O que significa para nós a comunidade cristã? Vivemos a nossa fé bem enquadrados na comunidade eclesial? Reunimo-nos comunitariamente, no “dia do Senhor”, para escutar a Palavra e para partilhar o pão de Jesus? Damos a nossa colaboração na comunidade cristã, a fim de que nela ecoe cada vez mais o testemunho de Jesus? Somos, na comunidade cristã, fatores de união, de comunhão, de unidade?
    • Lucas diz também, sobre os cristãos da comunidade de Jerusalém, que “o povo enaltecia-os”. A forma como viviam, os valores que os animavam, a forma como se davam uns com os outros, suscitavam aprovação e admiração. Aqueles homens e mulheres, depois de andarem na “escola de Jesus”, viviam de um jeito que interpelava e desafiava os seus concidadãos. Como é que os nossos contemporâneos veem hoje o nosso testemunho? Aquilo que fazemos suscita admiração e interesse à nossa volta? Somos uma luz que se acende na noite do mundo e que aponta no sentido de um mundo mais justo, mais fraterno, mais verdadeiro?
    • Lucas sublinha especialmente os “milagres” e “prodígios” que os apóstolos de Jesus faziam entre o povo. Os milagres não são, necessariamente, acontecimentos espantosos que subvertem as leis da natureza; mas são sinais – por vezes simples e banais – que mostram a presença libertadora e salvadora de Deus e que anunciam essa vida plena que Deus quer dar a todos os seus filhos. Naqueles gestos de bondade, de partilha, de serviço, de misericórdia, de cuidado para com os doentes, que os seguidores de Jesus faziam, os outros habitantes de Jerusalém viam acontecer a intervenção salvadora de Deus. Hoje, como ontem, os discípulos de Jesus têm como missão fazer “milagres”, quer dizer, fazer acontecer a salvação de Deus no mundo. Temos consciência disto e procuramos, com gestos concretos, anunciar que Jesus ressuscitou e continua a querer salvar os homens? Os nossos gestos são “sinais” de Deus e tornam palpável no mundo a salvação de Deus?

     

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118)

    Refrão 1:
    Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
    porque é eterna a sua misericórdia.

    Refrão 2:
    Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
    o seu amor é para sempre.

    Refrão 3:
    Aleluia.

    Diga a casa de Israel:
    é eterna a sua misericórdia.
    Diga a casa de Aarão:
    é eterna a sua misericórdia.
    Digam os que temem o Senhor:
    é eterna a sua misericórdia.

    A pedra que os construtores rejeitaram
    tornou-se pedra angular.
    Tudo isto veio do Senhor:
    é admirável aos nossos olhos.
    Este é o dia que o Senhor fez:
    exultemos e cantemos de alegria.

    Senhor, salvai os vossos servos,
    Senhor, dai-nos a vitória.
    Bendito o que vem em nome do Senhor,
    da casa do Senhor nós vos bendizemos.
    O Senhor é Deus
    e fez brilhar sobre nós a sua luz.

     

    LEITURA II – Apocalipse 1,9-11a.12-13.17-19

    Eu, João,
    vosso irmão e companheiro
    nas tribulações, na realeza e na perseverança em Jesus,
    estava na ilha de Patmos,
    por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
    No dia do Senhor fui movido pelo Espírito
    e ouvi atrás de mim uma voz forte,
    semelhante à da trombeta, que dizia:
    «Escreve num livro o que vês
    e envia-o às sete Igrejas».
    Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava;
    ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e,
    no meio dos candelabros, alguém semelhante a um filho do homem,
    vestido com uma longa túnica e cingido no peito com um cinto de ouro.
    Quando o vi, caí a seus pés como morto.
    Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me:
    «Não temas.
    Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive.
    Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos
    e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos.
    Escreve, pois, as coisas que viste,
    tanto as presentes como as que hão de acontecer depois destas».

     

    CONTEXTO

    “Apocalipse” é uma palavra de origem grega que significa “manifestação de algo que está oculto”. O nosso “Livro do Apocalipse” – do qual é retirado o trecho da segunda leitura deste domingo – é um livro que se apresenta como uma “revelação” sobre “as coisas que brevemente devem acontecer” (Ap 1,1) e que um tal João, exilado na ilha de Patmos (uma pequena ilha do Mar Egeu) por causa da sua fé, tem por missão comunicar aos seus irmãos na fé. Essa “revelação” é endereçada a “sete igrejas” da província romana da Ásia (atual Turquia), às quais o autor se sentia especialmente ligado e cuja problemática conhecia bem.

    Estamos na parte final do reinado do imperador Domiciano (à volta do ano 95). As comunidades cristãs da Ásia Menor vivem numa grave crise interna, resultante das heresias (como a dos nicolaítas, referida em Ap 2,6.15), da falta de entusiasmo, da tibieza, da indiferença, da acomodação. Por outro lado, a perseguição contra os cristãos, ordenada pelo imperador, tinha criado um clima de insegurança e de medo: muitos seguidores de Jesus eram condenados e assassinados e outros, temendo pelas suas vidas, abandonavam o Evangelho e passavam para o lado do império. Na comunidade dizia-se: “Jesus é o Senhor”; mas lá fora, quem mandava mesmo, como senhor todo-poderoso, era o imperador de Roma.

    É neste contexto de crise, de perseguição, de medo e de martírio que vai ser escrito o Apocalipse. O objetivo do autor é levar os crentes a revitalizarem o seu compromisso com Jesus e a não perderem a esperança. Nesse sentido, o autor do livro começa por fazer um convite à conversão (cf. Ap 1-3), convidando as “sete igrejas” a corrigirem as suas opções erradas e a revitalizarem a sua fé; passa, depois, a apresentar uma leitura profética da história humana, que promete a vitória final de Deus e dos seus fiéis sobre as forças do mal (cf. Ap 4-22). Estes conteúdos são apresentados com o recurso sistemático a símbolos e imagens (como é típico da literatura apocalíptica), o que torna este livro estranho e difícil, mas, ao mesmo tempo, muito belo e interpelante.

    O texto da segunda leitura de hoje pertence à primeira parte do livro (cf. Ap 1-3). Recorrendo à linguagem simbólica – pois é através dos símbolos que melhor se expressa a realidade do mistério – João apresenta-nos o Senhor da história, Aquele através de quem Deus revela aos homens o seu projeto.

     

    MENSAGEM

    Os cristãos, que todos os dias experimentam a perseguição que lhes é movida pelo imperador Domiciano, estão desanimados e sem esperança. Onde está Deus? Quem é que conduz o mundo e a história dos homens: Deus, ou o imperador de Roma? Acreditar em Jesus é fonte de vida ou de morte? Vale a pena permanecer fiel a Jesus e ao seu projeto, quando se pode pagar essa fidelidade com a própria vida?

    Em resposta a tudo isto João, o profeta de Patmos, recorrendo a símbolos véterotestamentários, apresenta aos cristãos perseguidos a “visão do filho do homem” (o texto que a liturgia deste domingo nos propõe como segunda leitura não apresenta a descrição completa da visão: faltam os versículos 14-16).

    Esse “filho do homem” tem uma aparência humana (vers. 13a), como o “filho do homem” da visão de Dn 7,13. Está no meio de sete candelabros (vers. 12). Os sete candelabros evocam a totalidade da Igreja nascida de Jesus (citam-se concretamente sete igrejas da Ásia Menor, mas o número sete significa “totalidade”, “plenitude”): as comunidades cristãs espalhadas pelo império, perseguidas por Domiciano, não estão sozinhas, abandonadas à sua sorte; Cristo ressuscitado está no meio delas e caminha com elas.

    O “filho do homem” está vestido com “uma túnica comprida” (vers. 13b): a túnica evoca a sua dignidade sacerdotal, pois Ele é o sacerdote por excelência, o verdadeiro intermediário entre Deus e os homens. Também está cingido “no peito com um cinto de ouro” (vers. 13c): o ouro indica que n’Ele reside a realeza e a autoridade sobre a história e sobre o mundo. A sua cabeça e os seus cabelos são brancos, como a brancura da lã e da neve” (vers. 14a): o branco é a cor de Deus e os cabelos brancos simbolizam a eternidade. Os seus olhos são “como uma chama de fogo” (vers. 14b): eles tudo veem, tudo conhecem, a todos questionam. Os seus pés assemelham-se “ao bronze incandescente numa forja” (vers. 15a): todo Ele é firmeza e estabilidade e nenhum poder do mundo poderá derrubá-lo. A sua voz é “como o rumor de águas caudalosas (vers. 15b): ouve-se por todo o lado e, como a água corrente, gera vida em abundância.

    O “filho do homem” tem “na mão direita sete estrelas (vers. 16a): a Igreja está na mão d’Ele e pertence-lhe; por isso, os cristãos podem entregar-se confiadamente nas suas mãos. Da sua boca sai “uma espada afiada de dois gumes” (vers. 16b): a sua Palavra penetra os corações de forma irresistível e obriga todos, diante dela, a tomar posição. O seu rosto “é como o sol resplandecente em toda a sua força” (vers. 16c): n’Ele brilha a luz de Deus, uma luz intensa que os homens não podem contemplar diretamente.

    Desprende-se deste “filho do homem” uma inegável imagem de poder, de majestade, de omnipotência. Consciente de que está diante de um ser divino, o profeta de Patmos cai por terra, “como morto” (vers. 17a). Mas o “filho do homem” convida-o a não ter medo e confirma-lhe que é o Cristo do mistério pascal (aquele que esteve morto, voltou à vida e derrotou a morte – cf. vers. 18). A história começa e acaba n’Ele (“Eu sou o primeiro e o último” – vers. 17b). Se Ele é o Senhor da vida, o que venceu a morte, a injustiça e o pecado, os cristãos nada terão a temer.

    Ao profeta de Patmos, Cristo ressuscitado confia a missão profética de dar testemunho (vers. 19). Envia-o às igrejas a anunciar uma mensagem de esperança que permita enfrentar o medo e a perseguição. João, o profeta, é chamado para anunciar a todos os cristãos que Jesus ressuscitado está vivo, que caminha no meio da sua Igreja e que, com Ele, nenhum mal lhes acontecerá: Ele é o Senhor que preside à história e que é mais poderoso do que todos os reis e imperadores.

     

    INTERPELAÇÕES

    • Os cristãos do final do primeiro século, perseguidos pelo império, tiveram de fazer escolhas decisivas. De um lado estava Domiciano, o seu domínio tirânico sobre Roma e sobre o mundo, os seus guardas pretorianos, os seus tribunais manipulados, os seus éditos e leis; do outro estava Jesus, a cruz, a perseguição, o martírio, o aparente fracasso. Era necessário escolher; e essa escolha não era inócua: decidia, por vezes, entre viver ou morrer. Muitos escolheram Jesus. Também nós temos, a cada passo, de fazer escolhas decisivas. Talvez nem sempre sejam tão dramáticas como aquelas que os cristãos do tempo de Domiciano tiveram de fazer; mas não deixam de ser escolhas que decidem o sentido da nossa vida. Hoje, como ontem, Jesus continua num dos pratos da balança. Que lugar ocupa Ele nas nossas escolhas? Quando se trata de escolher as nossas prioridades, os valores que abraçamos e que dão conteúdo à nossa vida, quem escutamos? A quem prestamos culto: aos influencers de serviço, aos valores da moda, aos interesses instalados, aos poderes do mundo, ou a Cristo?
    • Há um elemento que, frequentemente, nos impede de fazer as opções mais corretas: o medo. Cedemos ao opressor e ao injusto porque temos medo de ser maltratados, de sofrer ou de morrer; aceitamos os valores que nos são impostos porque temos medo de ser ridicularizados ou condenados; remetemo-nos ao silêncio e deixamos que o mundo se construa de uma forma que não aprovamos porque temos medo de enfrentar aqueles que se julgam donos do mundo… O medo paralisa-nos, impede-nos de ter voz ativa na construção da história, impede-nos de viver de forma acertada e construtiva, limita os nossos horizontes, faz-nos desistir dos nossos sonhos mais belos… Temos consciência de que nada temos a temer porque Cristo, o Senhor da história, o primeiro e o último, aquele que esteve morto mas venceu a morte, caminha connosco?
    • João, o profeta de Patmos, assumiu a missão de ser, no meio dos seus irmãos assustados e desalentados, uma testemunha da esperança. Convicto de que nenhum poder humano – nem sequer o todo-poderoso imperador de Roma – poderia derrotar o “filho do homem”, João tornou-se o arauto da vitória de Deus. Neste pobre mundo vacilante e imperfeito onde cumprimos a nossa existência, precisamos de profetas que ensinem os homens a olhar para lá do horizonte imediato que os nossos olhos enxergam, para esse além onde já está a desenhar-se um mundo novo. Aceitamos ser, neste mundo onde tantas vezes se escreve a história com cores sombrias, profetas da esperança, testemunhas do Ressuscitado, arautos da vida nova que Deus quer oferecer aos seus filhos?

     

    ALELUIA – João 20,19

    Aleluia. Aleluia.

    Disse o Senhor a Tomé:
    «Porque Me viste, acreditaste;
    felizes os que acreditam sem terem visto».

     

    EVANGELHO – João 20,19-31

    Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,

    estando fechadas as portas da casa
    onde os discípulos se encontravam,
    com medo dos judeus,
    veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
    «A paz esteja convosco».
    Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
    Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
    Jesus disse-lhes de novo:
    «A paz esteja convosco.
    Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
    Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
    «Recebei o Espírito Santo:
    àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados;
    e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
    Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
    não estava com eles quando veio Jesus.
    Disseram-lhe os outros discípulos:
    «Vimos o Senhor».
    Mas ele respondeu-lhes:
    «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
    se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado,
    não acreditarei».
    Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa
    e Tomé com eles.
    Veio Jesus, estando as portas fechadas,
    apresentou-Se no meio deles e disse:
    «A paz esteja convosco».
    Depois disse a Tomé:
    «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
    aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
    e não sejas incrédulo, mas crente».
    Tomé respondeu-Lhe:
    «Meu Senhor e meu Deus!»
    Disse-lhe Jesus:
    «Porque Me viste acreditaste:
    felizes os que acreditam sem terem visto».
    Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,
    que não estão escritos neste livro.
    Estes, porém, foram escritos
    para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
    e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

     

    CONTEXTO

    Jesus foi crucificado na manhã de uma sexta-feira – dia da “preparação” da Páscoa – e morreu pelas três horas da tarde desse dia. Já depois de morto, um soldado trespassou-lhe o coração com uma lança; e do coração aberto de Jesus saiu sangue e água (cf. Jo 19,31-37). O evangelista João vê no sangue que sai do lado aberto de Jesus o sinal do seu amor dado até ao extremo (cf. Jo 13,1): do amor do pastor que dá a vida pelas suas ovelhas (cf. Jo 10,11), do amor do amigo que dá a vida pelos seus amigos (cf. Jo 15,13); e vê na água que sai do coração trespassado de Jesus o sinal do Espírito (cf. Jo 3,5), desse Espírito que Jesus “entregou” aos seus e que é fonte de Vida nova. Da água e do sangue, do batismo e da eucaristia, nascerá a nova comunidade, a comunidade da Nova Aliança. Contudo, os discípulos que tinham subido com Jesus a Jerusalém e que seriam o embrião dessa comunidade da Nova Aliança, desapareceram sem deixar rasto. Estão escondidos, algures na cidade de Jerusalém, paralisados pelo medo. O projeto de Jesus falhou?

    No final da tarde dessa sexta-feira, o corpo morto de Jesus foi sepultado à pressa num túmulo novo, situado num horto ao lado do lugar onde se tinha dado a crucificação (cf. Jo 19,38-42). Depois veio o sábado, o último dia da semana, o dia da celebração da Páscoa judaica. Durante todo aquele sábado o túmulo de Jesus continuou cerrado.

    A partir daqui a narração de João muda de tempo e de registo. Chegamos ao “primeiro dia da semana”. É o primeiro dia de um tempo novo, o tempo da humanidade nova, nascida da ação criadora e vivificadora de Jesus. “No primeiro dia da semana”, Maria Madalena, a mulher que representa a nova comunidade, vai ao túmulo e vem de lá confusa e desorientada porque o túmulo está vazio (cf. Jo 20,1-2). Logo depois, ainda “no primeiro dia da semana”, Pedro e outro discípulo correm ao túmulo e constatam aquilo que Maria Madalena tinha afirmado: Jesus já não está encerrado no domínio da morte (cf. Jo 20,3-10). A comunidade de Jesus começa a despertar do seu letargo; começa a viver um tempo novo. “Ao entardecer do primeiro dia da semana” (“ou seja, ao concluir-se este primeiro dia da nova criação) a comunidade dos discípulos faz a experiência do encontro com Jesus, vivo e ressuscitado (cf. Jo 20,19-29).

     

    MENSAGEM

    O texto do Evangelho que a liturgia deste segundo domingo do tempo pascal nos propõe divide-se em duas partes.

    Na primeira (vers. 19-23), narra-se um encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos. João começa por descrever a situação em que estavam os discípulos antes de Jesus lhes aparecer: o “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo”, traduzem a insegurança e o desamparo que eles sentem diante desse mundo hostil que condenou Jesus à morte.

    Mas de repente o próprio Jesus apresenta-se “no meio deles” (vers. 19b). O crucificado está vivo; a morte não o derrotou. Os discípulos já não estão órfãos, abandonados à hostilidade do mundo. Ao colocar-se “no meio deles”, Jesus ressuscitado assume-Se como ponto de referência, fator de unidade, fonte de Vida, videira à volta da qual se enxertam os ramos (cf. Jo 15,5). A comunidade está centrada em Jesus, apenas em Jesus. Ele é o centro onde todos vão beber a água que dá a Vida eterna.

    A esta comunidade que se reúne à sua volta, Jesus transmite duplamente a paz (vers. 19 e 21). Não é apenas o tradicional cumprimento hebraico (“shalom”); significa, para além disso, que Jesus venceu tudo aquilo que assustava os discípulos: a morte, a opressão, a mentira, a violência, a hostilidade do mundo. Doravante os discípulos de Jesus não têm qualquer razão para viverem paralisados pelo medo.

    Depois (vers. 20a), Jesus mostra aos discípulos as mãos com a marca dos pregos e o lado que foi trespassado pela lança do soldado. Nesses “sinais” está, antes de mais, a prova da sua vitória sobre a morte e a maldade dos homens; mas também está a marca da sua entrega até à morte por obediência ao Pai e por amor aos homens. Neles está impressa, por assim dizer, a “identidade” de Jesus: é nesses sinais de amor e de doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses “sinais” indica a permanência do amor de Jesus: Ele será sempre o Messias que ama e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.

    A esta “apresentação” de Jesus, os discípulos respondem com a alegria (vers. 20b): eles estão alegres porque Jesus está vivo; mas também estão alegres porque sabem que começou um tempo novo, o tempo em que a morte já não assusta, o tempo do Homem Novo, do Homem livre, do Homem que se encontrou com a Vida definitiva.

    Em seguida, Jesus convoca os discípulos para a missão (vers. 21). Que missão? Precisamente a mesma que o Pai Lhe confiou a Ele: realizar no mundo a obra de Deus. Os discípulos concretizarão esta missão sempre em ligação com Jesus (eles são ramos ligados à videira/Jesus, pois só assim darão fruto – cf. Jo 15,1-8).

    Para que os discípulos possam concretizar a missão, Jesus realiza um gesto inesperado, mas bem significativo: “soprou” sobre eles (vers. 22). O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus). Com o “sopro” de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a Vida nova, o Espírito Santo, que fará deles Homens Novos e que os capacitará para viverem como testemunhas de Jesus ressuscitado. Trata-se, em boa verdade, de uma nova Criação. Da atividade de Jesus, do seu testemunho, do seu amor, do seu dom nasceu uma nova humanidade, capaz de amar até ao extremo, de dar a vida, de realizar a obra de Deus. É este Espírito que, pelo tempo fora, constitui e anima a cada instante a comunidade de Jesus.

    Eis a comunidade da Nova Aliança, nascida da ação e do amor de Jesus!

    Na segunda parte (vers. 24-29), o evangelista João apresenta uma catequese sobre a maneira de os discípulos de Jesus de qualquer época chegarem à fé em Cristo ressuscitado. A história de Tomé, chamado Dídimo (“gémeo”), poderia ser a nossa história. Tomé é o nosso “gémeo”: também nós nem sempre nos contentamos com o testemunho que nos chegou dos primeiros discípulos; também nós gostaríamos de “ver”, de “tocar”, de ter provas palpáveis… Como podemos fazer a experiência de encontro com Jesus ressuscitado?

    Jesus ressuscitado apresenta-se aos discípulos “no primeiro dia da semana”, quando a comunidade está reunida. A comunidade dos discípulos é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus; é o lugar onde desponta a Vida nova de Jesus. Por isso, é lá que se faz a experiência da presença de Jesus vivo. Mas Tomé “não estava com eles” (vers. 24). Estava fora da comunidade. “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu lado, não acredito” – diz Tomé quando lhe falam do Ressuscitado (vers. 25). Em lugar de integrar-se e participar da mesma experiência que os outros discípulos fizeram em comunidade, pretende obter para si próprio uma demonstração particular de Deus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora), que não fazem caso do testemunho da comunidade e que, por isso, nem percebem os sinais de Vida nova que nela se manifestam.

    Mas, “oito dias depois” (portanto, outra vez no primeiro dia da semana), Tomé já está novamente integrado na comunidade; e é aí que ele se encontra com Jesus ressuscitado, pois é aí que se manifestam os sinais de Vida nova que alimentam a fé no Ressuscitado (vers. 26-27). Esta experiência é tão impactante que, do coração rendido de Tomé, brota uma extraordinária declaração de fé, uma das mais belas de toda a Bíblia: “Meu Senhor e meu Deus!” (vers. 28). Também nós, os “gémeos” de Tomé, os que somos chamados a acreditar sem termos visto nem tocado, poderemos fazer a mesma experiência que Tomé fez: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada em comunidade, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre e se experimenta Jesus ressuscitado. É por isso que a comunidade de Jesus continua a reunir-se “no primeiro dia da semana”, no “dia do Senhor” (o domingo).

     

    INTERPELAÇÕES

    • Nos relatos pascais aparece sempre, em pano de fundo, a convicção profunda de que a comunidade dos discípulos nunca estará sozinha, abandonada à sua sorte: Jesus ressuscitado, Aquele que venceu a morte, a injustiça, o egoísmo, o pecado, acompanhá-la-á em cada passo do seu caminho histórico. É verdade que os discípulos de Jesus não vivem num mundo à parte, onde a fragilidade e a debilidade dos humanos não os tocam. Como os outros homens e mulheres, eles experimentam o sofrimento, o desalento, a frustração, o desânimo; têm medo quando o mundo escolhe caminhos de guerra e de violência; sofrem quando são atingidos pela injustiça, pela opressão, pelo ódio do mundo; conhecem a perseguição, a incompreensão e a morte… Mas, apesar de tudo isso, não se deixam vencer pelo pessimismo e pelo desespero pois sabem que Jesus vai “no meio deles”, oferecendo-lhes a sua paz e apontando-lhes o horizonte da Vida definitiva. É com esta certeza que caminhamos e que enfrentamos as tempestades da vida? Os outros homens e mulheres que partilham o caminho connosco descobrem Jesus, vivo e ressuscitado, através do testemunho de esperança que damos?
    • O Espírito Santo é o grande dom que Jesus ressuscitado faz à comunidade dos discípulos. É Ele que nos transforma, que nos anima, que faz de nós pessoas novas, que nos capacita para sermos testemunhas e sinais da Vida de Deus; é Ele que nos dá a coragem e a generosidade para continuarmos no mundo a obra de Jesus. No entanto, o Espírito só atua em nós se estivermos disponíveis para o acolher. Ele não se impõe nem desrespeita a nossa liberdade. Estamos disponíveis para acolher o Espírito? O nosso coração está aberto aos desafios que o Espírito constantemente nos lança?
    • A comunidade cristã gira em torno de Jesus, é construída à volta de Jesus e é de Jesus que recebe Vida, amor e paz. Sem Jesus, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Jesus, seremos um grupo de gente que se apoia em leis, que vive de ritos, que defende doutrinas e não a comunidade que vive e testemunha o amor de Deus; sem Jesus, estaremos divididos, mergulhados em conflitos estéreis, e não seremos uma comunidade de irmãos e de irmãs; sem Jesus, cairemos facilmente em caminhos errados e iremos beber a fontes que não matam a nossa sede de Vida… Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é d’Ele que tudo parte? Escutamos as suas palavras, alimentamo-nos d’Ele, vivemos d’Ele, estamos ligados a Ele como os ramos estão ligados à videira?
    • Não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas, egoístas, que encontramos Jesus ressuscitado; mas encontramo-l’O sempre que nos reunimos em seu nome, em comunidade. É no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida, que fazemos a experiência da presença de Jesus vivo no meio de nós. O que é que a comunidade cristã significa para nós? Sentimo-nos bem a caminhar em comunidade, ou a nossa experiência de fé é uma experiência isolada, à margem da riqueza e dos desafios que a comunidade me oferece? E, neste âmbito, o que é que significa, para nós, a participação na celebração da Eucaristia, no “primeiro dia da semana”, o dia do encontro comunitário à volta da mesa de Jesus?
    • É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo; é com gestos de bondade, de misericórdia, de compaixão, de perdão que testemunhamos diante do mundo a Vida nova do Ressuscitado. Quem procura Cristo ressuscitado, encontra-O em nós? O amor de Jesus – amor total, universal e sem medida – transparece nos nossos gestos e na nossa vida?

     

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2.º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

    (adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

    Ao longo dos dias da semana anterior ao 2.º Domingo do Tempo Pascal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. O RESSUSCITADO ESTÁ CONNOSCO! ALELUIA!

    Ele estava lá… O Ressuscitado está presente na sua Palavra, no seu Corpo e Sangue, na pessoa do presidente da assembleia… e na própria assembleia. «Jesus veio e colocou-se no meio deles…», diz o Evangelho deste domingo. Na assembleia do domingo, o Ressuscitado manifesta a sua presença. O presidente poderá recordar tudo isso antes da saudação inicial. Aleluia! Temos muitas músicas de Aleluias solenes. Uma sugestão para criar uma unidade durante os cinquenta dias do Tempo Pascal: cantar o mesmo Aleluia até à solenidade do Pentecostes.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Deus nosso Pai, nós Te damos graças pela obra começada pelo teu Filho Jesus, continuada pelos Apóstolos e seus sucessores até ao nosso tempo, no dinamismo do teu Espírito.

    Nós Te confiamos todos os nossos irmãos e irmãs doentes ou atormentados pelas provas da existência, na nossa comunidade e fora dela.

    No final da segunda leitura:
    Cristo Jesus, nós Te bendizemos e Te aclamamos: Tu és o Primeiro e o Último, Tu és o vivo, estavas morto mas eis-Te vivo pelos séculos sem fim. Tu deténs a chave da morada dos mortos, para nos abrir as portas da vida.

    Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs atingidos pela inquietude. Ajuda-os a sair dos medos e inseguranças da vida.

    No final do Evangelho:
    Deus fiel, nós Te damos graças pelo Espírito de ressurreição, que Jesus insuflou nos teus Apóstolos e que também nos é dado pelo batismo e pela confirmação, para que tenhamos a vida.

    Nós Te pedimos por todo o Povo dos cristãos: fortifica a nossa fé em Jesus. Que pelas nossas palavras e atos saibamos testemunhar que Ele está vivo no meio de nós.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.

    Jesus deixa-Se ver aos seus discípulos, o que os enche de alegria. Envia sobre eles o seu Espírito para que respirem do mesmo sopro e espalhem, por sua vez, o sopro da misericórdia de Deus. Tomé não está lá nessa tarde de Páscoa, o testemunho dos apóstolos não consegue convencê-los; ele quer ver, quer tocar, recusa reconhecer o Ressuscitado num fantasma. Jesus respeita a sua caminhada, e é Ele próprio que lhe propõe para ver e tocar. Tomé, então, proclama o primeiro ato de fé da Igreja: “Meu Senhor e meu Deus!” Ele reconhece não somente Jesus ressuscitado, marcado pelas chagas da Paixão, mas adora-O como seu Deus. Então, Jesus anuncia que não Se apresentará mais à vista dos homens, mas será necessário reconhecê-l’O unicamente com os olhos da fé. E faz desta fé uma bem-aventurança: “felizes os que acreditam sem terem visto!” Também nós, hoje, somos convidados a viver esta bem-aventurança. Oxalá possam as nossas dúvidas e as nossas questões ser, como para Tomé, caminho de fé!

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.

    Jesus vem e está no meio dos discípulos. Diz-lhes: “A paz esteja convosco!” Podemos compreender a saudação de Jesus como um desejo. Mas podemos também traduzir: “A paz para vós!” Isto é, segundo as próprias palavras de Jesus na tarde de Quinta-Feira Santa: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz!” Estas palavras são, doravante, realizadas, eficazes. Jesus não deseja somente que os seus discípulos estejam em paz. Dá-lhes verdadeiramente a sua paz. Não é a paz que o mundo dá. A paz do mundo é a ausência de guerra e de violência, muitas vezes a paz dos cemitérios! A paz que Jesus dá é a plena realização da vontade criadora do Pai. Deus cria os seres humanos, para que eles sejam “à sua imagem”, isto é, em dependência de amor com Ele. É construindo entre eles relações de amor que os seres humanos permitirão a Deus imprimir nessas mesmas relações a imagem do que é em si mesmo, no mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Enfim, a vontade criadora de Deus é também que os seres humanos “dominem a terra”, que façam do seu próprio corpo e do mundo material o lugar cósmico onde o amor pode espalhar-se e incarnar-se. A paz realiza-se apenas quando se cumpre esta tríplice harmonia: harmonia dos seres humanos na sua relação com Deus, harmonia nas suas relações mútuas, harmonia com o seu corpo e o cosmos. A paz é uma totalidade de luz. É isso que Jesus veio cumprir: reconciliar os homens com Deus, reconciliá-los entre si e, no seu corpo de Ressuscitado, fazer entrar o próprio cosmos nesta luz. A paz acontece, assim, plenamente dada na sua Presença, pela força do Espírito. Resta-nos, apenas, acolhê-la! Ora, o que é obstáculo à paz é a recusa da vontade criadora, a recusa do amor. Eis porque Jesus dá aos Apóstolos o poder de absolver os pecados, isto é, de afastar o obstáculo que impede a “livre circulação do amor”. Acolhendo a presença de Jesus, deixando-o depositar em nós a fonte de toda a reconciliação, para reaprender a amar, permitimos que Ele continue em nós a sua ação de paz.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

    Pode-se escolher a Oração Eucarística III para a Assembleia com Crianças. Os textos próprios para o tempo pascal são particularmente significativos.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO.

    - «Se não vir…» Difícil confiança! Acreditar na palavra dos nossos irmãos que testemunham o seu encontro com o Ressuscitado? Não! Não é para mim! Somos muitas vezes irmãos gémeos de Tomé, nas nossas recusas em acreditar… E se decidíssemos ir ao encontro de um irmão, de uma irmã, de um grupo… para partilhar as nossas questões, as nossas convicções, e avançar juntos numa fé alimentada pela Palavra do Ressuscitado? Então aprenderíamos o que quer dizer: «felizes os que acreditam sem terem visto…».

    - Fazer crescer a paz… Sem cessar e sem nos cansarmos, devemos trabalhar sempre mais para a construção do Reino. Concretamente, como fazer crescer a paz onde estamos? Talvez seja necessário começar, esta semana, por um pequeno gesto ou uma palavra para com uma pessoa com quem a nossa relação é difícil… Importante é abrir o coração e recomeçar…

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

    Grupo Dinamizador:
    José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    www.dehonianos.org

  • S. Catarina de Sena, Virgem e doutora da Igreja, padroeira da Europa

    S. Catarina de Sena, Virgem e doutora da Igreja, padroeira da Europa


    29 de Abril, 2025

    S. Catarina nasceu em Sena, Itália, a 25 de Março de 1347. Dotada por Deus com graças especiais, desde a sua infância, cortou o cabelo e cobriu a cabeça com um véu branco, em sinal de consagração, quando tinha apenas 12 anos e pretendiam casá-la. Sofreu muito com essa decisão, mas manteve-se fiel. Vestiu o hábito das religiosas dominicanas, mantendo-se na família e na cidade, e dedicando-se ao exercício das obras de misericórdia e procurando restabelecer a paz entre as famílias desavindas. Sendo analfabeta, em breve começou a ditar a diversos amanuenses as suas experiências místicas, reflexões e conselhos. Ditou cartas para prelados, pais de família, magistrados, reis e até para o próprio Papa, que, nessa época, se encontrava em Avinhão, incitando-o a regressar a Roma. A 13 de Outubro de 1376 Gregório XI iniciou a viagem de regresso a Roma, acompanhado por Catarina. Depois da morte de Gregório XI, a santa foi conselheira do seu sucessor, Urbano VI. O seu ideal era pacificar a Pátria (a Itália) e purificar a Igreja. Faleceu, em Roma, a 29 de Abril de 1380. Com S. Brígida e S. Teresa Benedita da Cruz, é padroeira da Europa.
    Lectio
    Primeira leitura: Primeira de João 1, 5 - 2, 2

    Caríssimos: esta é a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. 6Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. 7Pelo contrário, se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado. 8Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. 9Se confessamos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a iniquidade. 10Se dizemos que não somos pecadores, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. 1Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo, 2pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo.

    Jesus disse-nos que Deus é luz. O cristão deve caminhar na luz, que alegra, ilumina e é símbolo de tudo o que há de bom e puro (cf. Jo 3, 19-20). O contrário, o mal, é simbolizado pelas trevas. Mas, mais do que fazer especulações sobre a natureza de Deus, o autor da Carta lança as bases necessárias para extrair as implicações morais, que o fato de ser de Deus impõe ao cristão. Luz/trevas, bem/mal, verdade/mentira, graça/pecado... são incompatíveis, não podem estar juntos no mesmo sujeito. Mas, estar em comunhão com Deus e andar na luz não significa ser impecáveis. Também o cristão peca e tem consciência disso. A Igreja não é uma comunidade de puros e perfeitos, que nunca pecaram, mas uma comunidade que acredita que os seus pecados não são obstáculo permanente para nos aproximarmos de Deus. O pecado é superável pela ação de Deus em Cristo. É a partir dessa ação que surge o imperativo de lutar contra o pecado. Se o cristão se dá conta de que a sua comunhão com Deus foi quebrada pelo pecado, deve recordar que Jesus Cristo é seu intercessor e defensor diante do Pai. Mais ainda, que é o meio de expiação pelos pecados cometidos.
    Evangelho: Mateus 25, 1-13

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: O Reino do Céu será semelhante a dez virgens que, tomando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. 2Ora, cinco delas eram insensatas e cinco prudentes. 3As insensatas, ao tomarem as suas candeias, não levaram azeite consigo; 4enquanto as prudentes, com as suas candeias, levaram azeite nas almotolias. 5Como o noivo demorava, começaram a dormitar e adormeceram. 6A meio da noite, ouviu-se um brado: 'Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!' 7Todas aquelas virgens despertaram, então, e aprontaram as candeias. 8As insensatas disseram às prudentes: 'Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas candeias estão a apagar-se.' 9Mas as prudentes responderam: 'Não, talvez não chegue para nós e para vós. Ide, antes, aos vendedores e comprai-o.' 10Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o noivo; as que estavam prontas entraram com ele para a sala das núpcias, e fechou-se a porta. 11Mais tarde, chegaram as outras virgens e disseram: 'Senhor, senhor, abre-nos a porta!' 12Mas ele respondeu: 'Em verdade vos digo: Não vos conheço.' 13Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora."

    A parábola de Jesus encerra uma dinâmica que leva a um evento culminante: o encontro das virgens com o esposo, decisivo para a sua felicidade ou infelicidade, irrevogável. Não sabemos quando será esse encontro, mas sabemos como prepará-lo. A parábola pretende ajudar-nos na preparação.
    As virgens, prudentes ou imprudentes, adormecem todas. A nossa vida tem momentos de flexão, de abaixamento do fervor, de relaxamento espiritual. Quando o Senhor não está presente é sempre noite, e é fácil que as provações e as preocupações da vida nos distraiam, dificultando-nos estar vigilantes. Mas a vigilância, mais do que um estado físico ou mental, é uma atitude do coração. É o que nos indica o Cântico dos Cânticos: "Durmo, mas o meu coração vigia!" (5, 2). Para estar prontos, de lâmpadas acesas, havemos de frequentar o Evangelho, para com ele alimentarmos os nossos pensamentos, os nossos sentimentos, a nossa ação, para vivermos a Palavra e perseverarmos na fé.
    Meditatio

    O v.1 do segundo capítulo da 1 Jo parece-nos particularmente adequado à memória de Santa Catarina de Sena, que hoje celebramos: "escrevo-vos estas coisas para que não pequeis" (2, 1). Como S. João, Santa Catarina de Sena escreveu para que fosse evitado o pecado. Entre as muitas cartas que escreveu, também se dirigiu aos padres para os incitar a viver em maior fidelidade ao Senhor, evitando as desordens, que ela notava, tais como a procura dos prazeres, o apego ao dinheiro... Ansiava por reconduzir todos à vivência da vida cristã, à fidelidade a Cristo: "escrevo-vos estas coisas para que não pequeis". Mas, sobretudo, estava convencida de que Jesus nos salvou pelo seu sangue, que temos um advogado junto do Pai, Jesus Cristo justo, vítima de expiação pelos nossos pecados: "o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado" (1 Jo 1, 8). Catarina tinha uma grande devoção ao sangue de Cristo, e falava dele muito frequentemente: fogo e sangue, fogo e sangue... Fogo do amor, alusão ao sangue de Cristo que nos cobre para nos lavar dos nossos pecados e nos unir na caridade divina.
    "Se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros" (1 Jo 1, 7). Santa Catarina caminhava na luz. Mas a sua vida impecável não a separou dos pecadores, mas uniu-a profundamente a eles. Como aconteceu com tantas Santas, Catarina de Sena soube unir em si mesma a vocação de Marta e de Maria. Ao mesmo tempo, estava aos pés de Jesus, e mergulhada nas necessidades e lutas dos homens do seu tempo. Rezava, mas também se ocupava na reconciliação das fações em luta no seu país, de lançar a paz na igreja italiana, de fazer regressar o Papa de Avinhão a Roma, de que era bispo. Cuidou pessoalmente dos encarcerados, dos condenados, e andou por todo o lado. Vivia na paz do Senhor e na agitação do mundo.
    Hoje apetece-nos deixar-nos iluminar pela sua luz e permanecer aos pés de Santa Catarina, reconhecer nela a "filha da luz" de que nos fala a Escritura, para que "vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu" (Mt 5, 16). Gostamos de contemplá-la na sua incansável caminha ao encontro da Igreja e de Cristo, para nos deixarmos envolver nesse mesmo movimento. Olhando-a, parece-nos repetir, ela mesma, como que um convite ou mandato: "Ide ao seu encontro!" (v. 6).
    A exemplo de Santa Catarina de Sena, e conforme o desejo do P. Dehon, "sejam profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens e do mundo em Cristo" (Cst 7).
    Oratio

    Oh abismo, oh Trindade eterna, oh Divindade, oh mar profundo! Que mais podíeis dar do que dar-Vos a Vós mesmo? Sois um fogo que arde sempre e não se consome. Sois Vós que consumis com o vosso calor todo o amor profundo da alma. Sois um fogo que dissipa toda frialdade e iluminais as mentes com a vossa luz, aquela luz com que me fizestes conhecer a vossa verdade... Sois a veste que cobre toda minha nudez; e alimentais a nossa fome com a vossa doçura, porque sois doce sem qualquer amargor. Oh Trindade eterna. (S. Catarina de Sena).
    Contemplatio

    O coração da virgem de Sena partia-se diante dos crimes do mundo e das paixões humanas, que se agitavam como ondas tumultuosas, nos tempos difíceis em que vivia... Ela teria querido dar até à última gota do seu sangue pelos interesses de Nosso Senhor. Consumia a sua vida nas austeridades e na oração, oferecendo-se como que vítima das iniquidades da terra. Suportou longos sofrimentos, que somente a comunhão acalmava um pouco. Da quarta-feira de cinzas ao dia da Ascensão, não tomava nenhum alimento exceto a adorável Eucaristia. Nosso Senhor deu-lhe os seus estigmas sem os deixar aparecer. Exercia a caridade com heroísmo para com os pobres e os doentes. Um dia em que a sua natureza estava revoltada à vista de uma úlcera repugnante, levou até lá os lábios para vencer a sua sensibilidade. Nosso Senhor apareceu-lhe na noite seguinte, e para a recompensar descobriu-lhe a chaga do seu lado e permitiu-lhe que lhe aplicasse a sua boca. Nosso Senhor apresentou à sua escolha uma coroa de ouro enriquecida de pedrarias e uma coroa de espinhos. Ela escolheu a coroa de espinhos, a coroa da reparação. A humilde religiosa consumiu-se em caminhadas penosas para fazer cessar o cisma do Ocidente. Convenceu o Papa Gregório XI a deixar Avinhão para voltar a Roma. Ofereceu a sua vida pelo bem da Igreja e morreu santamente no dia 29 de Abril de 1382. (Leão Dehon, OSP 2, p. 494s.).
    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
    "Escrevo-vos estas coisas para que não pequeis" (1 Jo 2, 1).
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    S. Catarina de Sena, virgem e doutora da igreja, padroeira da Europa (29 de Abril)