Week of Dez 19th

  • 04º Domingo do Tempo do Advento – Ano C

    04º Domingo do Tempo do Advento – Ano C


    19 de Dezembro, 2021

    ANO C
    4º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO

    Tema do 4º Domingo do Tempo do Advento

    Nestes últimos dias antes do Natal, a mensagem fundamental da Palavra de Deus gira à volta da definição da missão de Jesus: propor um projecto de salvação e de libertação que leve os homens à descoberta da verdadeira felicidade.
    O Evangelho sugere que esse projecto de Deus tem um rosto: Jesus de Nazaré veio ao encontro dos homens para apresentar aos prisioneiros e aos que jazem na escravidão uma proposta de vida e de liberdade. Ele propõe um mundo novo, onde os marginalizados e oprimidos têm lugar e onde os que sofrem encontram a dignidade e a felicidade. Este é um anúncio de alegria e de salvação, que faz rejubilar todos os que reconhecem em Jesus a proposta libertadora que Deus lhes faz. Essa proposta chega, tantas vezes, através dos limites e da fragilidade dos “instrumentos” humanos de Deus; mas é sempre uma proposta que tem o selo e a força de Deus.
    A primeira leitura sugere que este mundo novo que Jesus, o descendente de David, veio propor é um dom do amor de Deus. O nome de Jesus é “a Paz”: Ele veio apresentar uma proposta de um “reino” de paz e de amor, não construído com a força das armas, mas construído e acolhido nos corações dos homens.
    A segunda leitura sugere que a missão libertadora de Jesus visa o estabelecimento de uma relação de comunhão e de proximidade entre Deus e os homens. É necessário que os homens acolham esta proposta com disponibilidade e obediência – à imagem de Jesus Cristo – num “sim” total ao projecto de Deus.

    LEITURA I – Miq 5,1-4a

    Leitura da Profecia de Miqueias

    Eis o que diz o Senhor:
    «De ti, Belém-Efratá,
    pequena entre as cidades de Judá,
    de ti sairá aquele que há-de reinar sobre Israel.
    As suas origens remontam aos tempos de outrora,
    aos dias mais antigos.
    Por isso Deus os abandonará
    até à altura em que der à luz
    aquela que há-de ser mãe.
    Então voltará para os filhos de Israel
    o resto dos seus irmãos.
    Ele se levantará para apascentar o seu rebanho
    pelo poder do Senhor,
    pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus.
    Viver-se-á em segurança,
    porque ele será exaltado até aos confins da terra.
    Ele será a paz».

    AMBIENTE

    O profeta Miqueias viveu e exerceu o seu ministério em Judá, nos sécs. VIII/VII a.C.. É originário de um meio campesino e conhece bem os problemas dos pequenos agricultores, vítimas de latifundiários sem escrúpulos. Por outro lado, a sua terra natal (Moreset Gat) está rodeada de fortalezas militares; e a presença nessas fortalezas de militares e de funcionários reais faz com que os habitantes dessa região conheçam um quadro de violência, de roubos, de impostos excessivos, de trabalhos forçados… O mais grave é que os opressores consideram que Deus está do seu lado e invocam as grandes tradições religiosas de Israel para justificar a opressão.
    O livro de Miqueias começa por descrever (cap. 1-3) os graves pecados de Israel e de Judá sublinhando, sobretudo, os pecados sociais, apresentando-os como infidelidade grave aos compromissos assumidos no âmbito da “aliança” e denunciando esta “teologia da opressão”. No entanto, o texto que nos é hoje proposto está integrado na segunda parte do livro (que a maior parte dos comentadores admite não vir de Miqueias, mas sim de um profeta anónimo da época do exílio na Babilónia), onde se apresenta um conjunto de oráculos de salvação, destinados a animar a esperança do Povo (cap. 4-5).

    MENSAGEM

    O texto que nos é proposto retoma as promessas messiânicas. Num quadro de injustiça e de sofrimento – e, portanto, de frustração e de desânimo – o profeta anuncia a chegada de um personagem, no futuro, que reinará sobre o Povo de Deus. Esse personagem, enviado por Deus, será da descendência davídica, supondo-se, portanto, que poderá restaurar esse tempo de paz, de justiça e de abundância que o Povo de Deus conheceu na época ideal do rei David. A última frase desta leitura (“Ele será a Paz”) define o conteúdo concreto desta esperança: a palavra “shalom” aqui utilizada significa tranquilidade, ausência de violência e de conflito, mas também bem-estar, abundância de vida, numa palavra, felicidade plena.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto pode fazer-se de acordo com os seguintes pontos:

    • A releitura cristã vê nesta promessa de Deus veiculada por Miqueias uma referência a Jesus, o descendente de David, nascido em Belém. A missão de Jesus não passa, no entanto, pela instauração do trono político de David (um reino que se impõe pela força, pela riqueza, pelas jogadas políticas e diplomáticas), mas sim pela proposta de um reino de paz e de amor no coração dos homens.

    • Os cristãos, seguidores de Jesus, são a comunidade que aceitou o convite para integrar esse “reino” de paz e de amor que Jesus veio propor. É esse o “reino” que nos esforçamos por construir? Somos, verdadeiramente, comprometidos com a causa da paz, preocupamo-nos em eliminar tudo aquilo que destrói a vida ou a dignidade de qualquer homem ou qualquer mulher? Como reagimos diante das injustiças, das arbitrariedades, do sofrimento, da miséria: com conformismo e medo, ou com o espírito profético de membros da comunidade do “reino” de Jesus?

    • A mensagem deste texto faz-nos constatar, também, a presença contínua de Deus na história humana. Apesar do egoísmo e do pecado dos homens, Deus continua a preocupar-Se connosco, a querer indicar-nos que caminhos percorrer para encontrar a felicidade. A vinda de Cristo, Aquele que é “a Paz”, insere-se nesta dinâmica.

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 79 (80)

    Refrão 1: Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar,
    mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.

    Refrão 2: Mostrai-nos, Senhor, o vosso rosto
    e seremos salvos.

    Pastor de Israel, escutai,
    Vós estais sobre os Querubins, aparecei.
    Despertai o vosso poder
    e vinde em nosso auxílio.

    Deus dos Exércitos, vinde de novo,
    olhai dos céus e vede, visitai esta vinha;
    protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
    o rebento que fortalecestes para Vós.

    Estendei a mão sobre o homem que escolhestes,
    sobre o filho do homem que para Vós criastes.
    Nunca mais nos apartaremos de Vós,
    fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.

    LEITURA II – Heb 10,5-10

    Leitura da Epístola aos Hebreus

    Irmãos:
    Ao entrar no mundo, Cristo disse:
    «Não quiseste sacrifício nem oblações,
    mas formaste-Me um corpo.
    Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado.
    Então Eu diss
    e: ‘Eis-Me aqui;
    no livro sagrado está escrito a meu respeito:
    Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’».
    Primeiro disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações,
    não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado».
    E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei.
    Depois acrescenta: «Eis-Me aqui:
    Eu venho para fazer a tua vontade».
    Assim aboliu o primeiro culto
    para estabelecer o segundo.
    É em virtude dessa vontade
    que nós fomos santificados
    pela oblação do corpo de Jesus Cristo,
    feita de uma vez para sempre.

    AMBIENTE

    A “Carta aos Hebreus” é um texto anónimo, escrito, provavelmente, pouco antes do ano 70 e destinado a uma comunidade cristã constituída maioritariamente por cristãos vindos do judaísmo. É uma comunidade que já não é de fundação recente e onde o entusiasmo inicial parece ter dado lugar a uma fé “morninha” e pouco comprometida; a perspectiva de novas dificuldades provoca o desânimo; e começa a haver um real perigo de desvios doutrinais.
    A “carta” é uma apresentação do mistério de Cristo, sublinhando especialmente a dimensão sacerdotal da sua missão. Recorrendo à linguagem litúrgica judaica, o autor apresenta Jesus como o “sumo sacerdote” da nova “aliança”, que faz a mediação entre Deus e os homens. Na sequência, o autor aproveita para reflectir sobre a condição cristã que deriva da missão sacerdotal de Cristo: os crentes, postos em relação com o Pai por Cristo sacerdote, são inseridos nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã e devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de acção de graças e de amor.
    O texto que nos é proposto pertence à terceira parte da carta (Heb 5,11-10,39). Aí, o autor reflecte sobre os traços primordiais do sacerdócio de Cristo.

    MENSAGEM

    No mundo vétero-testamentário, quem queria celebrar a sua comunhão com Deus, ou manifestar a sua entrega absoluta a Deus, ou obter o perdão dos seus pecados, oferecia em sacrifício um animal, que o sacerdote entregava nas mãos de Jahwéh… No entanto, a inutilidade e a ineficácia destes sacrifícios tinha sido já afirmada pelos profetas (cf. Is 1,11-13; Jr 6,20; 7,22; Os 6,6; Am 5,21-25; Miq 6,6-8), porque se tratava de ritos externos, que nem sempre correspondiam a uma atitude sincera do coração do oferente.
    Pondo na boca de Jesus as palavras de um salmista (cf. Sl 40,7-9), o autor da “Carta aos Hebreus” afirma que, no mundo da nova “aliança”, não é já o sacrifício de animais que realiza a comunhão com Deus, a entrega absoluta do crente a Deus, o perdão dos pecados; é a encarnação de Jesus, a entrega total da vida do próprio Cristo, o seu respeito absoluto pelo projecto e pela vontade do Pai que permitem a aproximação e a relação do homem com Deus. Quem quiser descobrir o Pai e aproximar-se d’Ele, olhe para Jesus; porque Jesus ensinou-nos, com a sua obediência ao projecto do Pai, como deve ser essa relação de filiação com Deus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão pode tocar, entre outros, os seguintes pontos:

    • A encarnação de Jesus e o seu “eis-Me aqui, Pai” correspondem ao projecto de Deus de aproximar os homens de Si, de estabelecer com eles uma relação de filiação e de amor. Nestes dias em que preparamos o Natal, somos convidados a contemplar a acção de um Deus que ama de tal forma os homens que envia ao nosso encontro o Filho, a fim de nos conduzir à comunhão com Ele.

    • O encontro com Deus não é feito a partir de rituais externos (as prendas, a comida, os cânticos, as procissões, as orações, as liturgias solenes, o incenso, os paramentos sumptuosos), mas é feito a partir de Cristo, o Filho que entrega a vida, a fim de que o projecto do Pai se torne presente na vida dos homens e de que os homens, aprendendo o amor e a entrega total, aceitem tornar-se “filhos de Deus”.

    • O encontro com Cristo significa aprender com Ele a obediência e a disponibilidade ao projecto de Deus. Como nos situamos, diante desta proposta: contam mais os nossos interesses pessoais (ainda que legítimos), ou o projecto de Deus?

    ALELUIA – Mt 1,38

    Aleluia. Aleluia.

    Eis a escrava do Senhor:
    faça-se em mim segundo a vossa palavra.

    EVANGELHO – Lc 1,39-47

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naqueles dias,
    Maria pôs-se a caminho
    e dirigiu-se apressadamente para a montanha,
    em direcção a uma cidade de Judá.
    Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
    Quando Isabel ouviu a saudação de Maria,
    o menino exultou-lhe no seio.
    Isabel ficou cheia do Espírito Santo
    e exclamou em alta voz:
    «Bendita és tu entre as mulheres
    e bendito é o fruto do teu ventre.
    Donde me é dado
    que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?
    Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos
    a voz da tua saudação,
    o menino exultou de alegria no meu seio.
    Bem-aventurada aquela que acreditou
    no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito
    da parte do Senhor».

    AMBIENTE

    O texto que nos é proposto faz parte do chamado “Evangelho da Infância”. Os estudos actuais falam do “Evangelho da Infância” como um género literário especial, que se pode chamar “homologese”: é um género que não pretende ser um relato fidedigno sobre acontecimentos, mas antes uma catequese destinada a proclamar as realidades salvíficas que a fé prega sobre Jesus (que Ele é o Messias, o Filho de Deus, o Deus connosco). Desenvolve-se em forma de narração e recorre às técnicas do midrash haggádico (uma técnica de leitura e de interpretação do Antigo Testamento usada pelos rabbis judeus na época em que foi escrito o Novo Testamento). A “homologese” utiliza, de preferência, tipologias: factos e pessoas do Antigo Testamento encontram a sua correspondência em factos e pessoas do Novo Testamento. Pelo meio, misturam-se elementos apocalípticos (aparições, anjos, sonhos), destinados a fazer avançar a narração e a explicitar as ideias teológicas e a catequese sobre Jesus. É esta mistura de elementos que podemos encontrar no Evangelho de hoje: mais do que uma informação “jornalística” sobre factos concretos, trata-se de uma catequese sobre Jesus, feita a partir de um conjunto de referências tiradas da mensagem e das promessas do Antigo Testamento.

    MENSAGEM

    A primeira referência vai para a indicação de que, à saudação de Maria, o menino (João Baptista) saltou de alegria no seio da mãe. Trata-se, evidentemente, de uma indicação teológica: para Lucas, Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens, e que tem uma mensagem de salvação/libertação que
    concretiza as promessas feitas por Deus aos antepassados; logo, a presença de Jesus provoca a alegria, o estremecimento gozoso de todos aqueles que esperam a concretização das promessas de Deus e que vêem na chegada de Jesus a realização das promessas de um mundo de justiça, de amor, de paz e de felicidade para todos os homens. Através de Jesus, Deus vai oferecer a salvação a todos; e isso provoca um estremecimento incontrolável de alegria, por parte de todos os que anseiam pela concretização das promessas de Deus.
    Temos, depois, a resposta de Isabel à saudação de Maria: “Bendita és tu entre as mulheres”. Trata-se de palavras que aparecem no “cântico de Débora” (cf. Jz 5,24) para celebrar Jael, a mulher que, apesar da sua fragilidade, foi o instrumento de Deus para libertar o Povo das mãos de Sísera, o opressor. Maria é, assim, apresentada – apesar da sua fragilidade – como o instrumento de Deus para concretizar a salvação/libertação dos homens.
    Finalmente, temos a resposta de Maria: “a minha alma enaltece o Senhor…”. A resposta de Maria retoma um salmo de acção de graças (cf. Sl 34,4), destinado a dar graças a Jahwéh porque protege os humildes e os salva, apesar da prepotência dos opressores. É um salmo de esperança e de confiança, que exalta a preocupação de Deus para com os pobres que são vítimas da injustiça e da opressão. Sugere-se, claramente, que a presença de Jesus, através dessa mulher simples e frágil que é Maria, é um sinal do amor de Deus, preocupado em trazer a libertação a todos os que são vítimas da prepotência e da injustiça dos homens. Com Jesus, chegou esse tempo novo de libertação, de paz e de felicidade anunciado pelos profetas.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto pode ter em conta os seguintes pontos:

    • A presença de Jesus neste mundo é, claramente, a concretização das promessas de salvação e de libertação feitas por Deus ao seu Povo. Com Jesus, anuncia-se a eliminação da opressão, da injustiça, de tudo aquilo que rouba e que limita a vida e a felicidade dos homens. Jesus, ao “nascer” entre nós, tem por missão propor um mundo onde a justiça, os direitos humanos, a dignidade, a vida e a felicidade das pessoas são absolutamente respeitados. Dizer que Jesus, hoje, nasce no nosso mundo significa propor esta mensagem libertadora e salvadora.

    • Nós, que somos no mundo o rosto vivo de Jesus, propomos esta boa notícia? Os pobres, os que sofrem, todos os que são vítimas de opressão e suspiram ansiosamente por um mundo novo encontram no nosso anúncio esta proposta? Esta mensagem libertadora é a nossa proposta fundamental, ou dispersamo-nos em propostas laterais (o dinheiro que a comunidade tem em caixa para construir novas igrejas, a apresentação dos novos paramentos, as “bocas” que atirámos aos nossos opositores na comunidade, as questões de organização), que dizem muito pouco acerca do essencial?

    • O “estremecimento” de alegria de João Baptista no seio de Isabel é o sinal de que o mundo espera com ânsia uma proposta verdadeiramente libertadora. Nós, os cristãos, somos verdadeiramente o veículo desta mensagem?

    • A proposta libertadora de Deus para os homens alcança o mundo através da fragilidade de uma mulher (recordar o contexto social de uma sociedade patriarcal, onde a mulher pertence à classe dos que não gozam de todos os direitos civis e religiosos) que aceita dizer “sim” a Deus. É necessário ter consciência de que é através dos nossos limites e da nossa fragilidade que Deus alcança os homens e propõe o seu projecto ao mundo.

    • Maria, após ter conhecimento de que vai acolher Jesus no seu seio, parte ao encontro de Isabel e fica com ela, solidária com ela, até ao nascimento de João. Temos consciência de que acolher Jesus é estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 4º DOMINGO DO ADVENTO
    (adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 4º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. GESTO PARA A LITURGIA DA PALAVRA.
    Aproxima-se a noite da Palavra que se fez carne. No início da liturgia da Palavra, pode-se levar o leccionário em procissão, acompanhado de música que favoreça um clima de escuta e de pequenas velas que se podem colocar à volta do ambão. No fim da celebração, as velas podem ser levadas para junto do presépio, sublinhando-se assim a relação entre a Palavra proclamada no ambão e o Verbo que vem no Natal.

    3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    “Deus fiel, nós Te bendizemos pela obra que cumpriste ao longo dos séculos. Nos momentos de inquietude, apoiaste o teu povo através dos profetas e anunciaste-lhe o envio do Messias.
    Confiamos-Te o nosso mundo, onde tantos homens vivem ainda na insegurança. Que a tua paz se estenda até aos confins da terra”.

    No final da segunda leitura:
    “Cristo Jesus, damos-Te graças pela tua vinda ao nosso mundo. Nela descobrimos o cumprimento das antigas oblações, porque Te ofereceste a Ti mesmo, dizendo: «Eis-Me aqui. Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade».
    Pela Eucaristia, Tu nos envolves na tua oblação. Santifica-nos pelo teu Espírito, abre os nossos corações à procura da tua vontade de salvação”.

    No final do Evangelho:
    “Deus nosso Pai, nós Te louvamos pela felicidade que nos dás com a tua visita. Felizes aqueles que acreditam no cumprimento das palavras que nos diriges nas leituras de cada domingo.
    Confiamos-Te os casais jovens que preparam a vinda de um filho e todas as pessoas que se dedicam totalmente ao cuidado dos seus filhos”.

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Jesus poderia ter nascido em Nazaré, mas o recenseamento decretado pelo imperador Augusto obriga Maria e José a deslocarem-se: é em Belém que nasce o Messias. Jesus poderia ter nascido na sala comum, mas aí não havia lugar para Ele: é na manjedoira que Ele nasce. A notícia poderia ter sido anunciada aos grandes deste mundo e aos religiosos da época: é aos pastores que é anunciado o nascimento do Salvador. Compreendemos o seu medo, mas o mensageiro de Deus dá-lhes confiança. O sinal da vinda de Deus ao meio d
    os homens poderia ter sido um sinal maravilhoso, extraordinário, mas é o menino nascido numa manjedoira que é o sinal oferecido aos pastores, primeiras testemunhas do Emanuel, Deus connosco. O silêncio da noite e a serenidade do presépio parecem ser perturbados pela numerosa turba celestial que louva Deus. Com o menino de Belém, a glória de Deus manifesta-se e a paz é oferecida aos homens que Deus ama.

    5. À ESCUTA DA PALAVRA.
    A Palavra, evidentemente, está no centro da festa de Natal, pois “a Palavra de Deus fez-se carne e habitou entre nós”. Dizemos “Palavra do Senhor”, “Palavra da salvação”! Convite a anunciar a Palavra de Deus… Diz a sabedoria popular com razão: “A palavra é de prata, mas o silêncio é de oiro”. Deus, melhor do que ninguém, conhece e põe em prática este provérbio! Quando envia a Palavra aos homens, começa por um silêncio… Os anjos anunciam, José e Maria fazem silêncio… assim como menino recém-nascido, após os normais gritos do nascimento… O coração do Natal é, acima de tudo, um grande silêncio. Aparte o episódio dos 12 anos de Jesus na sua adolescência, os Evangelhos não nos transmitem qualquer palavra de Jesus durante cerca de 30 anos. E, para terminar, o silêncio de Jesus na cruz… E agora, hoje, muitas vezes Deus continua a calar-se… Deus quer, antes de mais, dar-nos o seu silêncio, estabelecer entre Ele e nós um espaço de silêncio… Falamos demasiado… Eis porque Deus começa por se calar, para que o seu próprio silêncio se torne mensagem, convite a nos tornarmos atentos à sua presença. Nesta noite de Natal, procuremos estar unidos ao silêncio de José, de Maria e de Jesus. Assim, talvez ouçamos, nós também, no fundo do nosso coração, uma música muito doce, como um murmúrio de Deus que vem dizer-nos que, nesta noite, é dentro de nós que Ele quer nascer!

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III. Está bem presente o tema da oblação de Cristo, evocada na segunda leitura.

    7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
    Desde a concepção de Jesus, são duas mulheres que testemunham, antes de qualquer outro, a sua esperança enfim cumprida: Isabel e Maria. São ainda mulheres as primeiras a testemunhar o segundo nascimento de Jesus na manhã de Páscoa! Felizes aquelas que acreditaram no cumprimento das palavras que lhes foram ditas da parte do Senhor! Em vésperas de Natal, sejamos apressados, como Maria: ponhamo-nos a caminho rapidamente! E que algo faça mexer e estremecer em nós: as palavras que nos foram ditas da parte do Senhor, vamos levá-las aos irmãos que vivem sem esperança.

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro


    19 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Juízes 13,2-7. 24-25a

    Naqueles dias, 2*vivia um homem de Sorá, da tribo de Dan, cujo nome era Manoé; sua esposa era estéril, não tinha ainda concebido filhos. 30 anjo do SENHOR apareceu a esta mulher e disse-lhe: «Já viste que és estéril e ainda não deste à luz; mas vais conceber e dar à luz um filho. 4Doravante abstém-te, não bebas vinho nem qualquer bebida alcoólica; não comas nada impuro, 5*porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não há-de tocar a sua cabeça, pois o menino vai ser consagrado a Deus desde o seio materno; ele mesmo vai começar a salvar Israel das mãos dos filisteus.» 6A mulher voltou e disse ao marido: «Um homem de Deus veio ter comigo; o seu aspecto era semelhante ao de um anjo do SENHOR, muito respeitável. Não lhe perguntei de onde ele era, nem ele me revelou o seu nome. 7Disse-me ele: 'Eis que vais conceber e dar à luz um filho; doravante não bebas vinho nem bebida alcoólica; não comas nada de impuro, pois esse jovem será consagrado ao SENHOR desde o seio materno até ao dia da sua morte. '»
    24*A mulher deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão; o menino cresceu e o SENHOR abençoou-o. 25Foi em Maané-Dan, entre Sorá e Estaol, que o espírito do SENHOR começou a agitar Sansão.
    o nascimento de certos personagens, que tiveram grande importância na história do Povo de Israel, é relatado na Bíblia segundo um determinado género literário que se tornou clássico. Lembremos o nascimento de Isaac (Gen 11, 30; 18, 10-11; 30, 22-24) e o nascimento de Samuel (1 Sam 5.20). Hoje lemos o nascimento de Sansão. Nestes casos, Deus escolhe pessoas humildes e «fracas», como se verifica pela esterilidade das mães. O filho que nasce é claramente um dom de Deus, com uma missão salvífica em favor do povo. Aos chamados, Deus apenas pede uma total colaboração, uma alegre simplicidade e uma completa fidelidade ao projecto de salvação.
    Uma mulher que «não tinha ainda concebido» (v. 2), e o seu marido Manoé, geram um filho, Sansão, um nazireu «consagrado ao Senhor» (v. 5.7) que é profecia do que acontecerá com João Baptista e, sobretudo, com Jesus, filho da virgem de Nazaré, esposa de José.

    Evangelho: Lucas 1, 5-25

    5*No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. 6Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7*Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. BOra, estando Zacarias no exercício das funções sacerdotais diante de Deus, na ordem da sua classe, 9*coube-lhe, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso. 10Todo o povo estava da parte de fora em oração, à hora do incenso. 11 Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. 12*Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. 13*Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. 14*Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 15*Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe 16e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. 17*lrá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer volver os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições.» 18*Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» 19*0 anjo respondeu: «Eu sou Gabriel, aquele que está diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova. 20Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria.» 210 povo, entretanto, aguardava Zacarias e admirava-se por ele se demorar no santuário. 22Quando saiu, não lhes podia falar e eles compreenderam que havia tido uma visão no santuário. Fazia-lhes sinais e continuava mudo. 23*Terminados os dias do seu serviço, regressou a casa. 24Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu e, durante cinco meses, permaneceu oculta. 25*Dizia ela: «O Senhor procedeu assim para comigo, nos dias em que viu a minha ignomínia e a eliminou perante os homens.»
    A narrativa do nascimento de João Baptista oferece-nos pormenores que encontramos já no Antigo Testamento, nomeadamente no nascimento de Sansão: aparição do anjo, perturbação e temor na pessoa visitada, comunicação da mensagem celeste; um sinal de reconhecimento.
    A narrativa da anunciação a Zacarias deve também ler-se tendo presente a da anunciação do nascimento de Jesus. Encontramos algumas semelhanças, mas também diferenças essenciais: Zacarias é visitado no templo e Maria é visitada em sua casa, em Nazaré; Zacarias revela-se incrédulo e Maria, cheia de fé; João Baptista nasce de uma mulher estéril, enquanto Jesus nasce de uma virgem; João «será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe» (v. 15) e «muitos se alegrarão com o seu nascimento» (v. 14); Jesus será concebido por obra do Espírito Santo (Lv 1, 35) e todos se hão-de alegrar com o seu nascimento (Mt 2, 13); Zacarias ficará mudo; Maria entoa o Magnificat em casa de Isabel Na plenitude dos tempos só há lugar para o acolhimento da palavra de Deus e para a fé simples e jubilosa.

    Meditatio
    o nascimento de Sansão, tal como o de João Baptista, mostra-nos que Deus é capaz de vencer dificuldades humanamente inultrapassáveis: a mulher de Manoé é estéril, Isabel é estéril e avançada nos anos. Assim, Deus mostra que nada se pode opor à sua vontade de salvar os homens. Por meio de Sansão, salva Israel da opressão dos filisteus; por meio de João Baptista, liberta espiritualmente aqueles que se mostram disponíveis, proporcionando para Si «um povo com boas disposições», isto é, realiza a libertação espiritual daqueles que acolherem a sua iniciativa divina.
    O acolhimento da iniciativa divina é preparado pela conversão pessoal, isto é, pela aceitação da libertação do pecado. Essa libertação manifesta-se na mudança das nossas relações com os outros que passam a caracterizar-se pela liberdade, pela caridade e não pela opressão.

    A Igreja, no Advento, faz-nos contemplar as maravilhas de Deus para suscitar em nós a esperança: Deus
    é Senhor do impossível, Deus vence as maiores dificuldades porque quer salvar-nos.
    O evangelho faz-nos ver claramente estas verdades: Zacarias e Isabel são «justos». Cumprem rigorosamente os mandamentos e preceitos do Senhor. Mas vivem numa certa desilusão. Sofrem intimamente pela ausência de filhos, e, apesar das suas orações, já não têm esperança de os gerar. Por isso é que o anjo começa por dizer a Zacarias: «a tua súplica foi atendida» (v. 13). Zacarias acolhe o anúncio com cepticismo: «Gomo hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» (v. 18). Esta falta de fé e de esperança, ou esta falta de esperança que leva à falta de fé, exige outro sinal. Será um sinal muito duro, mas necessário:
    Zacarias ficará mudo até que se cumpra a palavra do Senhor (cf. v. 20).
    Zacarias e Isabel recebem um filho que não será para eles, mas que se votará a Deus, irá para o deserto e estará ao serviço de todo o povo. A provação preparou para essa graça, dispondo-os a viver um total desapego em relação ao filho.
    Abramo-nos à esperança que vem de Deus, e não ponhamos obstáculos à realização dos seus projectos de salvação.
    Vivamos com Maria a nossa preparação para o Natal. Como escreveu João Paulo II: "Maria apareceu cheia de Cristo no horizonte da história da salvação" (RM 3). "Na noite da espera, Maria é a estrela da manhã", é "a aurora" que anuncia o dia, o surgir do sol. Maria é espera cheia de esperança e amorosa confiança, além de segura certeza da presença do Redentor no Seu seio».

    Oratio
    Senhor, só Tu és grande, e as tuas obras são magníficas: és o Senhor da vida e da história; envias-nos fiéis mensageiros com alegres notícias; ergues-te como sinal de esperança; és luz para todos os povos. Vem ao nosso encontro e mostra-nos o teu rosto para contemplarmos a tua glória o teu amor surpreendente e admirável.
    Tu, que deste vida a mulheres estéreis, e realizas-te prodígios por meio do teu Espírito naqueles que em Ti creram, renova o nosso coração cansado e desanimado. Então cumpriremos a tua vontade e amaremos todos quantos se cruzarem connosco no caminho da vida.
    Dá-nos a graça de saborearmos a tua presença em nós e connosco, como a saboreou a Virgem de Nazaré, a mulher do silêncio e da interioridade. Amen.

    Contemplatio
    O sacerdote Zacarias era um homem de oração e de penitência. O seu fervor era grande, quando era o seu turno de oferecer o incenso no Santo dos santos. Sentia que era então o representante de todo o povo de Israel e pedia a Deus a salvação para o povo e a redenção. O anjo Gabriel veio ter com ele, como tinha vindo ter com Daniel, apareceu-lhe à direita do altar e disse-lhe: «Não temas, Zacarias, a tua oração foi atendida. O Salvador virá em breve e o filho que Deus vai dar-te será o seu precursor. Via preparar-lhe os caminhos, há-de converter uma parte do povo. Será poderoso em palavras como Elias e exortará eficazmente o povo à penitência».
    Zacarias era apoiado pelas orações dos piedosos frequentadores do templo.
    No entanto, teve alguma dúvida, e o anjo Gabriel repreendeu-o anunciando-lhe o castigo pelo qual expiaria esta dúvida. Mas a misericórdia divina não retirava a sua promessa, e a salvação ia chegar.
    Rezemos com Zacarias e com o povo piedoso. Peçamos misericórdia.
    Humilhemo-nos. Confessemos os nossos pecados e os do nosso povo. S. Gabriel, o anjo das misericórdias divinas, recebe as nossas orações e leva-as ao trono de Deus. Quando as nossas orações e as nossas penitências forem suficientes, a bondade divina dará à sua Igreja uma nova efusão das graças da redenção. Rezemos ao anjo Gabriel para apoiar as nossas súplicas (Leão Dehon, OSP 3, p. 301 s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «A tua súplica foi atendida» (Lc 1, 13b).

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro


    20 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 7,10-14

    Naqueles dias: 100 Senhor mandou dizer de novo a Acaz: 11«Pede ao Senhor teu Deus um sinal, quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.» 12*Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor.» 131saías respondeu: «Escuta, herdeiro de David: Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? 14*Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr¬lhe o nome de Emanuel.

    Em 735 a. C., Acaz, jovem rei de Jerusalém, vê vacilar o seu trono devido à aproximação de exércitos inimigos, que pressionam as fronteiras de Judá. Enquanto ele procura alianças humanas, Isaías insiste em que deve confiar apenas em Deus. Desafia mesmo o rei a pedir um «sinal» da assistência divina. Acaz recusa a proposta: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor» (v. 12). Esta recusa, porém, baseia-se numa falsa religiosidade. Isaías denuncia a hipocrisia do rei, acrescentando que, apesar da sua recusa, o próprio Deus lhe iria dar o sinal: «a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel» (v. 14).

    As palavras do profeta referem-se a Ezequias, o filho de Acaz, que a rainha está para dar à luz e cujo nascimento é visto, naquele particular momento histórico, como presença salvífica de Deus em favor do povo angustiado. Mas, na realidade, as palavras de Isaías referem-se a um rei Salvador, no qual toda a tradição cristã, servindo-se da tradução dos Setenta, viu uma profecia do nascimento virginal de Jesus, filho de Maria.

    Evangelho: Lucas 1, 26-38

    26*Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27*a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28*Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, Ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29*Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31*Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34*Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35*0 anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37*porque nada é impossível a Deus.» 38*Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

    A anunciação a Maria é aurora do maior acontecimento da história humana, a Incarnação do Filho de Deus. O texto bíblico mostra que estamos perante a realização das promessas de Deus aos Patriarcas e renovadas a David (cf. 2 Sam 7, 14.16; 1 Cron 17, 12-14; Is 7,10-14), e contém uma rica teologia do mistério de Cristo. Jesus é, de facto visto, como rei e filho de David (<

    A confirmação da intervenção celeste, por obra do Espírito Santo, na sua condição virginal, abre o coração de Maria à vontade de Deus e à plena adesão ao projecto universal da salvação com as simples palavras que mudaram o curso da história humana: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (v. 38). O sim de Maria abre caminho à nossa salvação.

    Meditatio

    A Incarnação é uma iniciativa de Deus em favor de rebeldes, que são os homens pecadores. A primeira leitura realça esse facto.

    «Pede um sinai», diz Deus a Acaz, pela boca de Isaías. O rei, fingindo razões de fé, responde que não quer tentar a Deus. Na verdade, mostra a sua má vontade. E é nesta circunstância que Deus promete um sinal: «Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel»

    A salvação é obra do amor misericordioso de Deus, que se antecipa ao movimento dos homens.

    O anúncio do oráculo de Isaías está ligado ao texto evangélico de Lucas, por causa da interpretação profética que a Igreja fez dele referindo-o ao nascimento histórico do Filho de Deus, Salvador de todos os homens. A sua vinda mudou a história profana em história da salvação, elevando à comunhão com Deus a vida de cada homem, pela mediação de Jesus de Nazaré. Deus revela-se e alcança-se, não tanto pela contemplação da criação, pela investigação filosófica ou pela experiência religiosa universal, mas por Jesus, filho de Maria, que se proclama "Filho", enviado pelo Pai, em total dependência de amor a Ele, acolhido e dado ao mundo pela Virgem Mãe.

    É nesta história que irrompe Deus transcendente e misericordioso, inserindo-se na história dos homens para os salvar, transportando-os para um nível superior do Espírito, na fé e no amor. Nós os crentes, tornados amigos de Jesus, somos introduzidos na comunhão com Deus Pai, pelo aprofundar da fé e do amor, vividos na fidelidade ao Evangelho. Esta vida de unidade com o Senhor alcança-se pela interiorização da palavra de Deus, como fez a Virgem Maria.

    A vida de hoje é uma permanente conspiração contra a vida interior. Tudo concorre para nos dispersar. Se não conseguirmos recolher-nos, e reflectir sobre Cristo em profundidade, não conseguiremos chegar à verdade e à fé. Maria guia-nos e é exemplo para nós nesse caminho: «Feliz Aquela que acreditou».

    A iniciativa da nossa salvação pertence totalmente a Deus. Mas a Virgem de Nazaré dispõe-se a colaborar: «
    Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». Maria não responde de modo orgulhoso e fingido como Acaz. Acolhe a iniciativa de Deus sem pretensões pessoais. O seu único desejo é servir.

    A experiência materna de Maria é, sobretudo, uma experiência de fé, de disponibilidade total para a Palavra de Deus, como ela manifesta nas palavras: "Ecce ancilla".

    Na obra do Pe Dehon, O ano com o Coração de Jesus, lemos uma meditação para o dia 25 de Março com estes títulos: "Ecce venio, regra de vida de Jesus"; "Ecce an cilla , regra de vida de Maria", "Ecce venio, Ecce ancilla Domini». E o Fundador anota: «Estas palavras traçam a regra da nossa vida" (OSP 3, 328-330). Que a intercessão da Virgem nos alcance a graça de uma disponibilidade semelhante para com Deus e para com os seus projectos de salvação da humanidade.

    Oratio

    Pai, hoje quero inspirar-me nas palavras que S. Bernardo põe na boca de Maria para Te rezar: «Faça-se em mim segundo a tua palavra». O Verbo realize em mim a tua palavra! O Verbo, que estava em Deus, se faça carne da minha carne, segundo a tua palavra!

    Não seja palavra que passa velozmente, logo que proferida, mas palavra concebida para permanecer, revestida de carne e não de ar que corre! Que não ressoe, só aos meus ouvidos, esta palavra; vejam-na os meus olhos, toquem-na as minhas mãos, carreguem-na os meus ombros! Não seja uma palavra escrita e muda, mas incarnada e viva; não seja uma palavra escrita com letras fixas num pergaminho morto, mas estampada sob forma humana no meu coração; traçada não por uma pena, mas pelo Espírito Santo!

    Outrora, muitas vezes e de muitos modos, falaste aos patriarcas e aos profetas, e diz-se que as tuas palavras vem dos ouvidos de uns, aos lábios de outros e às mãos de outros mais. Para mim, peço que se faça no meu ser segundo a tua palavra. Não quero uma palavra que pregue e proclame. Quero um verbo que se doe silenciosamente, que incarne pessoalmente e que desça sobre mim cordialmente. Que se faça para o mundo inteiro, e particularmente para mim, segundo a tua palavra (cf. Bernardo de Claraval, Homilias sobre Nossa Senhora, 4, 11).

    Contemplatio

    Ecce Venio, Ecce Ancilla Domini. Estas palavras traçam a regra da nossa vida.

    Nestas palavras encontra-se toda a vocação das almas consagradas ao Sagrado Coração, com o seu fim, os seus deveres, as suas promessas. Este sentimento, esta disposição, estas palavras ditas e sentidas bastam em todas as situações, em todos os acontecimentos, para o presente e para o futuro.

    Eis que venho, ó meu Deus, para fazer a vossa vontade. Estou aqui, pronto para fazer ou para sofrer, a empreender ou a sacrificar tudo o que pedirdes de mim.

    A vontade de Deus faz-se conhecer em todo o instante; e se em algum momento a obscuridade e a incerteza preenchem o coração e o espírito, perseveremos com paciência e confiança neste estado, até que agrade à sabedoria e à bondade divinas deixar luzir de novo a sua luz.

    Uma alma oferecida, uma vítima, sabe que nada tem a escolher nem a decidir por si, a sua escolha está feita, a sua sorte fixada. Quando, como, em que circunstância há-de cumprir-se o seu sacrifício, tudo isto está à livre escolha daquele ao qual ela pertence inteiramente.

    Assim, portanto, pratiquemos o abandono total, o deixar fazer, olhando para aquele que caminhou à frente no mesmo caminho, que o tornou praticável, que deixou atrás de si os rastos sangrentos dos seus passos.

    Os cabelos da nossa cabeça estão contados. Deus vela mesmo pelas necessidades dos pássaros, não nos esquecerá. Terá cuidado de nós por todas as nossas necessidades em tempo conveniente. Se nos dermos a Ele, dar-se-á também a nós e então o que é que nos há-de poder faltar? Quando Maria se deu pelo Ecce an cilla , recebeu a sua graça suprema: O Verbo fez-se carne e habitou no seu seio. (Leão Dehon, OSP 3, p. 329s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Ecce Venio, Ecce Ancilla Domini».

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro


    21 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Cântico dos Cânticos 2,8-14

    8Eis a voz de meu amado! Ei-Io que chega, correndo pelos montes, saltando sobre as colinas. O meu amado é semelhante a um gamo ou a um filhote de gazela. Ei-Io que espera, por detrás do nosso muro, olhando pelas janelas, espreitando pelas frinchas.10Fa/a o meu amado e diz-me: Levanta-te! Anda, vem daí, Ó minha bela amada! 11 Eis que o ln vemo já passou, a chuva parou e foi-se embora; 12despontam as flores na terra, chegou o tempo das canções, e a voz da rola já se ouve na nossa terra; 13*a figueira faz brotar os seus figos e as vinhas floridas exalam perfume. Levanta-te! Anda, vem daí, Ó minha bela amada! 14Minha pomba, nas fendas do rochedo, no escondido dos penhascos, deixa-me ver o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz. Pois a tua voz é doce e o teu rosto, encantador.

    o texto do Cântico dos Cânticos celebra delicadamente o amor entre a esposa e o esposo. Esse amor, descrito de forma tão ousada e inspirada, é considerado um dom de Deus. O nosso texto descreve o regresso do esposo a casa, depois de prolongada ausência à busca de pastagens para o rebanho, durante o Invemo. A alegria da esposa pelo regresso do seu amado, e a grande ternura manifestada, são tão intensas que as palavras utilizadas, cheias de inspiração poética, e as imagens primaveris tão expressivas, parecem insuficientes para descrever a sua emoção.

    Na tradição da Igreja, a imagem do esposo e da esposa foi sempre entendida como símbolo da relação entre Deus e o povo (cf. Os 1-3; Is 62, 4-5; Jer 3, 1-39) e entre Cristo e a Igreja (cf. Mc 2, 19-20; Ef 5, 25-26; 2 Cor 11, 2; Apoc 21, 9). Deus é o esposo do poema e Israel, a esposa. E, porque o amor de Deus pelo seu povo se prolonga no amor de Cristo pela sua Igreja, o esposo é Cristo e a esposa é a Igreja. O liturgia utiliza esta simbologia nupcial entre Cristo e Maria e entre Cristo e o crente: a Virgem é figura da Igreja que vai alegre ao encontro de Cristo-esposo que vem. O mesmo sucede com todo o membro da comunidade cristã que vive na expectativa de acolher o Senhor para O deixar falar-lhe ao coração.

    Evangelho: Lucas 1, 39-45

    39*Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 *Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43*E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»

    A narrativa da visitação de Maria à prima Isabel, que vivia em Ain Karin, nas montanhas da Judeia, é uma página rica de referências bíblicas, de humanidade e de espiritualidade. Maria percorre o caminho feito antes pela Arca da Aliança, quando David a fez transportar para Jerusalém (cf. 2 Sam 6, 2-11). É o mesmo caminho que Jesus fará quando se dirigir corajosamente para Jerusalém, a fim de realizar a sua missão (cf. Lc 9, 51). É sempre Deus que, em diferentes momentos da história, vai ao encontro do homem para o salvar.

    A narrativa da visitação está ligada ao da anunciação, não só pelo clima humano, cheio de gestos de serviço, mas porque se torna a verificação do «sinal» dado pelo Anjo a Maria (cf. Lc 1, 36-37). O salto de João no seio da mãe representa a exultação de todo o Israel pela vinda do Salvador (vv. 41.44). As palavras de bênção, inspiradas pelo Espírito, dirigidas por Isabel a Maria, são prova do especial agrado de Deus pela Virgem. A salvação que leva no segredo da sua maternidade é fruto da sua fé na palavra de Deus: «Feliz aquela que acreditou no cumprimento das palavras do Senhor» (v.45; Lc 8, 19-21). É sempre Maria que precede e que, solicitamente se dá a todos, em tudo: a maior faz-se dom para a mais pequena, como Jesus para o Baptista.

    Meditatio

    O encontro de Maria e Isabel, a mãe de Jesus e a mãe de João, é ocasião para um único cântico de louvor e de acção de graças a Deus pela sua presença salvífica no meio dos homens. Agora, cabe-nos a nós abrir os corações à iniciativa fecunda do Espírito, corresponder ao dom de Deus e dar-lhe graças. O tempo de Natal é tempo de alegria porque Deus se fez nosso companheiro ao dar-nos o seu Filho, e porque nos tornámos todos irmãos e filhos do mesmo Pai.

    É curioso e, em certo sentido, até chocante que festejemos o nascimento de Jesus celebrando a Eucaristia, memorial da sua paixão e morte. E todavia é uma prática correctíssima porque é o dom da morte de Cristo, o mistério da sua morte e da sua ressurreição que nos dá o sentido do seu nascimento. É também graças à sua morte e ressurreição que podemos celebrar plenamente o seu nascimento.

    É na Eucaristia que podemos compreender plenamente o Antigo e o Novo Testamento e, portanto, o sentido da vida terrena de Jesus, do seu nascimento e dos acontecimentos que o precederam. A Visitação alcança significado pleno na Eucaristia porque, contemplando o Menino do presépio, contemplamos o amor de Deus que se dá a nós: «Um filho nos foi dado DUm Menino nasceu para nós ».

    O nascimento de Jesus está orientado para o dom de Si mesmo. É a doação que começa e será plena quando Jesus der a sua vida por nós na cruz.

    Pensando neste dom total de Jesus, podemos celebrar melhor o seu nascimento, acolhê-lo como dom, que se consumará na morte.

    A Eucaristia também nos permite celebrar o Natal, não como simples lembrança de um acontecimento passado há dois mil anos, mas como uma realidade actual e presente a cada um de nós. O Deus connosco, o Emanuel, é uma realidade actual, que podemos viver: Jesus torna-se presente e vem a cada um de nós, graças à Eucaristia.

    Ainda graças à Eucaristia, podemos unir-nos à Virgem Mãe que leva em si o seu Menino; podemos ir ao encontro dos outros, conscientes dessa presença em nós, que pode despertar também neles a mesma presença.

    A presença de Cristo, pela Incarnação no seio de Maria, pô-Ia a caminho da casa de Isabel, para a confortar e servir. A visitação foi ensejo para Deus encher de

    Espírito Santo Isabel e João. A Eucaristia, que torna presente Cristo em nós, lança¬nos "incessantemente, pelos caminhos do mundo ao serviço do Evangelho" (Cst. 82), para que haja Natal em todos os corações (Leão Dehon, OSP.

    Oratio

    Senhor Jesus, que por nosso amor, assumiste carne humana no seio virginal de Maria, e, por amor, Te fazes nosso alimento e companheiro de jornada na Euc
    aristia, dá-nos de graça de Te acolhermos agradecidos e exultarmos de santa alegria. Concede-nos também a graça de, como Maria que e levou ao encontro de Isabel e de João, também nós Te levemos a todos quantos encontrarmos nos caminhos da nossa vida.

    Faz-nos escutar a tua voz, e concede-nos a graça de Te respondermos na oração. Sobretudo, faz com que nos deixemos envolver na acção poderosa do Espírito que reza em nós. Assim, renovados interiormente, exultantes de alegria e cheios de generosidade, saberemos dar-te, e dar-nos contigo, aos irmãos, especialmente aos mais pobres e desprotegidos. Amen.

    Contemplatio

    Maio seu pequeno coração começou a bater Jesus quis provar o seu amor e expandir os seus benefícios. João Baptista e toda a sua família são os primeiros que experimentam este amor ardente de Jesus que Maria traz.

    Cada pulsar do Coração de Jesus tem, por assim dizer, o seu eco no de Maria, de modo que o amor nestes dois corações torna-se o mesmo, toma o mesmo objecto, a mesma intensidade e transborda sobre os homens.

    Jesus já testemunhou o seu amor ao seu Pai pelo seu acto de oblação; cumulou a sua mãe com dons maravilhosos; santificou S. José, seu pai adoptivo. Quer levar graças de eleição ao seu precursor S. João Baptista. Ele arrasta Maria nesta viagem misteriosa. O amor dá asas aos dois. Maria, toda inebriada pelo zelo ardente e diligente de Jesus, corre, voa através dos montes e dos vales: abiit in montana cum festinatione. É uma caminhada de cem quilómetros que se faz provavelmente em três dias.

    Jesus deu-se ao seu Pai e às almas, pelo seu acto de oblação. Ele arde de ardor por começar a redenção. Incendeia Maria com o seu zelo. Os seus dois corações fazem um só. Que amor eles nos testemunham, e que lição de zelo para nós!

    Jesus e Maria levam imensas bênçãos. João Baptista estremece no seio de sua mãe sob a bênção de Jesus. É o estremecimento do amor e do zelo. Ele queria já anteceder os anos, e pregar o amor de Deus e o arrependimento dos pecados cometidos.

    Isabel e Zacarias profetizam. Zacarias é curado do seu mutismo. Todas as graças estão reunidas: santificação e vocação do precursor, cura miraculosa, dom de profecia. Que munificência!

    Jesus passa fazendo o bem: transiit benefaciendo. Ah! Como a sua bondade é grande e como esta primeira manifestação está cheia de promessas! Jesus veio, portanto, à terra para abrir as fontes de todas as graças, e Maria é como o carro de fogo que transporta o Messias.

    A sua bondade não pede uma imensa confiança e um imenso reconhecimento? (Leão Dehon, OSP 2, p. 208).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Bendito é o fruto do teu ventre, Ó Maria»

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro


    22 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Samuel 1, 24-28

    Naqueles dias, 24* Ana tomou Samuel consigo e, levando também três novilhos, uma medida de farinha e um odre de vinho, conduziu-o ao templo do SENHOR em Silo. O menino era ainda muito pequeno. 251mo/aram um novilho e apresentaram o menino a EIi. 26Ana disse-lhe: «Ouve, meu senhor, por tua vida: eu sou aquela mulher que esteve aqui a orar ao SENHOR, na tua presença. 27Eis o menino por quem orei. O SENHOR ouviu a minha súplica. 28*Por isso, o ofereço ao SENHOR, a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida.» E ele prostrou-se ali diante do SENHOR.

    Ana pedira a Deus a graça de um filho. Deus concedeu-lha. Por isso, vai ao templo de Silo agradecer o dom da maternidade, levando com ela alguns dons e, sobretudo, o filho, Samuel, para o oferecer ao Senhor: «a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida» (v. 28). Depois de imolar um novilho, em sacrifício de acção de graças e de louvor ao Senhor, apresenta o filho ao sacerdote EIi, lembrando-lhe o episódio e a oração que fizera na sua presença, uns anos antes, e narrando-lhe como o Senhor a tinha escutado. «Por isso, o ofereço ao SENHOR», conclui a mulher (v. 28).

    Esta narrativa bíblica é profecia daquilo que Deus, de modo ainda mais maravilhoso, irá realizar em Maria. Como no caso de Isaac (cf. Gn 18, 9-14), de Sansão (cf. Jz 13, 2-25) e de João Baptista (cf. Lc 1, 5-25), o nascimento de um filho, por obra de Deus, de uma mulher estéril, foi sinal de uma vocação especial, como acontece com Samuel, destinado a tornar-se o primeiro grande profeta de Israel (cf. Act 3, 24) e guia espiritual do povo.

    Evangelho: Lucas 1, 46-56

    Naquele tempo, 46*Maria disse: «A minha alma glorifica o Senhor 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. 48Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49*0 Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. 50*A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. 51 *Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. 52Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53*Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. 54*Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, 55*como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56*Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.

    o Magnificat é uma das mais belas orações do Novo Testamento, com várias reminiscências do Antigo Testamento (cf. 1 Sam 2, 1-18; SI 110, 9; 102, 17; 88, 11;

    106, 9; Is 41, 8-9). É o cântico dos pobres, dos simples e humildes, sempre prontos a acolher e a admirar-se com as iniciativas de Deus ..

    É significativo que este cântico tenha sido posto nos lábios de Maria, a criatura mais digna do louvor a Deus, que nasce no culminar da história da salvação, e que é imagem da Igreja, sempre guiada por Deus, que usa de amor e de misericórdia para com todos, especialmente para com os pobres e pequenos.

    O texto divide-se em duas partes: Maria dá glória a Deus pelas maravilhas realizadas na sua humilde vida, tornando-a colaboradora da salvação realizada por Cristo, seu Filho (vv. 46-49). Depois, exalta a misericórdia de Deus pelos critérios extraordinários e impensáveis com que confunde as situações humanas, expressas por seis verbos: «Manifestou, dispersou, derrubou, exaltou, despediu, acolheuD », que reflectem o modo de agir forte e paterno de Deus em favor dos últimos e dos carenciados (vv. 50-53). Finalmente, recorda o cumprimento fiel das promessas de Deus, feitas aos Pais e mantidas em relação a Israel (vv. 54-55). Deus realiza sempre grandes coisas na história dos homens, mas apenas se serve daqueles que se fazem pequenos e querem servi-lo com fidelidade, no escondimento e no silêncio adorante.

    Meditatio

    As leituras de hoje falam-nos da acção de graças de duas mães: Ana e Maria.

    Ana agradece com três novilhos, uma medida de farinha, um odre de vinho e, sobretudo, com o dom do próprio filho, a graça da maternidade. Samuel, devolvido ao Senhor, torna-se um laço vivo entre Ana e Deus.

    Maria também dá graças ao Senhor, com grande efusão de alma: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Seivedor», Jesus ainda não tinha nascido. Mas a Virgem já dava graças por Ele e O oferecia a Deus¬Pai, porque tinha dado início à obra da salvação, santificando João Baptista no seio de sua mãe.

    Ana e Maria, cheias de alegria, agradecem o dom da vida que está nelas, sinal da bondade de Deus. Ao mesmo tempo, com simplicidade e pureza de coração, entregam-se ao Senhor porque «a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem» (v. 50).

    É bom que também nós nos demos conta de que a pobreza e a simplicidade de coração são condições essenciais para agradar a Deus e ser cheios da sua riqueza. Os frutos das obras de Deus desenvolvem-se no silêncio e na calma, não na agitação ou na violência. Deus actua com discrição e no segredo. Não se podem forçar os tempos do Espírito.

    Como Maria, somos convidados, na proximidade do Natal, a partilhar esta delicadeza do Senhor, confiando todos os nossos projectos e a nossa vida Àquele que nos amou por primeiro e quer o nosso bem. Ofereçamos-lhe o nosso louvor, porque Ele «escolheu o que era louco aos olhos do mundo para confundir os sábios, escolheu aquilo que no mundo era fraco para confundir os fortesDpara que ninguém possa gloriar-se diante de Deus» (1 Cor 1, 27-29).

    O louvor e a acção de graças, como as outras dimensões da oração, nascem do silêncio que possibilita a escuta do Senhor que fala, e que possibilita dar-nos contas das maravilhas que faz em nós e à nossa volta. O barulho e a agitação dispersam, distraem. Um salmista rezava: "Ponde, Senhor, vigilância à minha boca, guardai a porta dos meus lábios" (SI 141(140),3). O tempo de Natal implica sempre alguma agitação. É natural, mas há que ter o cuidado de não perdermos o essencial.

    As nossas Constituições lembram: "Como Jesus gostava de se entreter com o Pai, também nós reservaremos momentos de silêncio e de solidão para nos deixarmos renovar na intimidade com Cristo e nos unirmos ao seu amor pelos homens".

    Muitas pessoas do nosso tempo, também religiosos, perderam o sentido do silêncio; parece terem medo dele. Desperdiçaram um grande valor, um dom importante, e correm o risco de perder a si mesmos. Pelo silêncio, entramos na profundidade de nós mesmos, conhecemos as nossas verdadeiras exigências, aceitamo-Ias e, com a ajuda do Espírito, realizamo-Ias.

    Demasiadas pessoas andam imersas em tagarelices, rumores, músicas, imagens; estão sem defesas, sem refúgio interior; an
    dam fora de si, alienados. Por isso, não se reconhecem, nem reconhecem o que Deus faz e quer fazer nelas. Por isso, não cantam os louvores de Deus! Nem vistam os que precisam, porque não ouvem os seus gritos!

    Oratio

    Senhor, nosso Deus, que pusestes nos lábios de Ana e de Maria a oração de louvor e de acção de graças, e que fizestes germinar nos seus corações a alegria, fruto da tua visita amorosa e paterna, dá-nos a graça de, também nós, descobrirmos e praticarmos na oração as atitudes de louvor e de reconhecimento pelas maravilhas que gratuitamente fizeste e continuas a fazer em nós e à nossa volta, na Igreja e no mundo.

    Queres que vivamos na alegria, pela experiência do teu amor de Pai misericordioso e fiel. Ajuda-nos a dispormos, pelo silêncio e pela solidão, para acolhermos essa experiência, a única capaz de transformar a nossa vida, de nos pôr generosamente ao serviço do teu projecto de salvação, ao serviço de quem precisa de nós, de escrevermos o nosso próprio Magnificat. Na oração de louvor e de acção de graças, dar-nos-emos conta de que as riquezas que nos confias são mais importantes e mais numerosas do que as nossas carências, e que os dons que pões nas nossas mãos, e nas dos nossos irmãos, são sinal de cuidas de nós com amor de Pai. Amen.

    Contemplatio

    Jesus e Maria rezavam sempre no fundo do seu coração. Jesus no-lo diz: «É preciso rezar sempre e sem cesser» (Lc 18, 1).

    Alguns versículos do Evangelho traem a oração íntimactle Maria.

    Quando o arcanjo Gabriel desce a Nazaré, Maria revela-nos a sua alma: «Ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum: sou a serva do Senhor, que me seja feito segundo a vossa palavra!».

    Eis, portanto, a disposição habitual de Maria na sua oração, é a humildade e o abandono: o que Deus quer, e é tudo. É a suprema santidade.

    O Magnificat diz-nos mais amplamente os sentimentos da oração de Maria. É um cântico lírico à glória de Deus. É o louvor, o reconhecimento, a humildade. Nada de preocupação pessoal; Deus é bom, isso lhe basta, rejeita os orgulhosos e abençoa os humildes. Repara também, protesta contra os soberbos e os avarentos. O amor puro e acção de graças são a nota dominante: «A minha alma glorifica o Senhor!» (Pe. Dehon, OSP 3, p. 177s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «A minha alma glorifica o Senhor!» (Lc 1,46)

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro


    23 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Malaquias 3, 1-4. 23-24

    Assim fala o Senhor Deus: 1 *«Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor que vós procurais e o mensageiro da aliança que vós desejais. Ei-lo que chega! Diz o SENHOR do universo. 2*Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. 3Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o SENHOR os que apresentam a oferta legítima. 4Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR como nos dias antigos, como nos anos de outrora.

    23 Eis que vou enviar-vos o profeta Elias, antes que chegue o dia do SENHOR, dia grande e terrível. 24*Ele fará com que o coração dos pais se aproxime dos filhos, e o coração dos filhos se aproxime dos seus pais, para que Eu não tenha de vir castigar a terra com o anátema.»

    Na segunda metade do século V a. C., o culto e a pureza religiosa do povo estavam em decadência por causa dos casamentos mistos dos regressados do exílio de Babilónia que, ainda por cima, viviam impunes e tranquilos. Os observantes interrogavam-se: onde está a justiça de Deus? O profeta responde, em nome de Deus, denunciando o pecado dos sacerdotes e a violação da lei do culto pelo povo. Ao mesmo tempo, anuncia como eminente a vinda do «dia do SENHOR, dia grande e terrível» (v. 23). O próprio Senhor há purificar o templo, que está a ser reconstruído, purificará os sacerdotes e pronunciará o seu juízo sobre os maus.

    Mas o Senhor far-se-á preceder por um mensageiro, identificado com o profeta Elias (v. 23; Sir 48, 10-11), que Lhe preparará o caminho, purificará o povo dos seus pecados e o reconduzirá reconciliado às tradições dos pais.

    A profecia de Malaquias, lida no contexto do Novo Testamento, refere-se à vinda de Cristo, precedida pela do precursor, João Baptista, que preparará o povo para o encontro com o Messias, «o mensageiro da aliança» (v. 1), que todos esperam.

    Evangelho: Lucas 1, 57-66

    Naquele tempo, 57chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 580s seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. 59Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60*Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61 Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» 62*Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. 64 imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65*0 temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66*Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.

    A profecia de Malaquias realiza-se em João Baptista. Lucas descreve-nos a alegria dos parentes e vizinhos com o parto de Isabel (vv. 57-58) e com a circuncisão do menino, com a imposição do nome, ao oitavo dia (vv. 59-66).

    O evangelista, com alguns pormenores, faz-nos notar no nascimento e na escolha do nome a intervenção prodigiosa de Deus, que actua de modo extraordinário na vida daquele menino: a alegria pelo evento inesperado (v. 58); o significado do nome «João» (vv. 60.63), que quer dizer. «Deus faz graça e usa misericórdia», nome cheio de promessas para o futuro; o espanto dos presentes, com um respeitoso temor, e a divulgação dos factos por toda a montanha da Judeia (v. 65); a palavra readquirida por Zacarias que bendiz e louva a Deus, como sinal de que se cumpriu tudo o que foi dito pelo Senhor (v. 64); finalmente, a reacção de todos quantos tomavam conhecimento do nascimento da criança, e perguntavam: «Quem virá a ser este menino?» (v. 66) e a do próprio Lucas que conclui o relato com a seguinte nota: «Na verdade, a mão do Senhor estava com ele» (v. 66).

    Esta narrativa mostra que estão maduros os tempos, que o Messias está próximo. Há que preparar-se para recebê-lo, como João, e reconhecer na história uma nova e radical forma de relação entre Deus e o homem.

    Meditatio

    À primeira vista, a profecia de Malaquias, que lemos hoje, pode parecer-nos pouco adequada para preparar o Natal. De facto, fala de uma espantosa purificação, e com uma linguagem terrível: Quem suportará o dia da chegada do Senhor? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque «ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará como se refinam o ouro e a prata». Mas, pensando bem, damo¬nos conta de que é uma leitura muito adequada, porque precisamos realmente de uma boa purificação para acolhermos o Senhor. Jesus não é um boneco para brincar. É o Filho de Deus, que havemos de receber com sentimentos de adoração. Se o nascimento de João encheu os vizinhos de temor, que dizer do nascimento de Jesus. Lucas diz-nos que os pastores, ao verem o Anjo, «tiveram muito medo».

    Precisamos de ser purificados pelo Senhor para acolhermos dignamente o Menino Jesus. Essa purificação é feita por amor, ainda que Deus use severidade. Precisamos de ser purificados de todo o orgulho, de toda a soberba, porque Deus só dá a sua graça aos humildes.

    Mas as leituras de hoje também nos podem levar a reflectir sobre uma outra realidade: Deus, em todas as épocas, envia os seus mensageiros, tal como enviou Elias e João Baptista. É por meio desse mensageiros que Ele quer guiar a humanidade. Nos nossos tempos não têm faltado sinais concretos e modos eloquentes da sua Palavra, por meio de pessoas como João XXIII, a Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II, ou por meio de eventos como O Vaticano II. Essas pessoas e eventos, sendo instrumentos do Espírito, erguem "antenas" que nos permitem vislumbrar um mundo novo. Há, de facto novidades que é preciso saber olhar e respeitar, sem ceder a nostalgias do passado ou a sonhos de futuro, que são fugas da realidade.

    Os tempos de silêncio e ascese ajudam-nos a descobrir Deus na história e no coração de cada homem, bem como a presença do Espírito de Cristo que ilumina e guia o nosso caminho. Há que deixar-se conduzir!

    Lemos no n. 10 das Constituições: «Com a sua solidariedade para com os homens, qual novo Adão, Ele revelou o amor de Deus e anunciou o Reino: este mundo novo já presente em germe nos esforços hesitantes dos homens, encontrará a sua realização, para
    além de todas as expectativas, quando, por Jesus, Deus for tudo em todos». Depois as Constituições citam dois textos bíblicos que é bom recordar:

    "Sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto até ao presente. Não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos, aguardando a adopção, a redenção do nosso corpo" (Rom 8,22-23). "E quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho Se submeterá Àquele que Lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos" (1 Cor 15,28)>>.

    O mundo novo já está presente em germe nos esforços hesitantes dos homens (cf. Cst n. 10). Esses esforços, os nossos e os de todos os homens são "incertos", é verdade. Mas temos confiança de que estão impregnados pela "graça" e pela "verdade" do Verbo feito carne, isto é, pelo Seu amor (Jo 1, 14). De facto, é "da sua plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça" (Jo 1, 16), isto é, amor para correspondermos ao Seu amor. Essa correspondência passa também pela nossa solidariedade com Ele na construção de um mundo novo.

    Oratio

    Pai, Senhor da vida e da história! Os primeiros cristãos diziam. «A salvação está agora mais perto de nós do que no momento em que abraçámos a fé» (Rm 13, 11). Nós, hoje, vivemos muitas vezes sem pensar na tua vinda, distraídos com mil fogos-fátuos que nos encandeiam. Desperta em nós a fé e a esperança para que não nos esqueçamos da tua presença no meio de nós, escondido por detrás do rosto de tantos irmãos, e que, por meio dos teus mensageiros, orientas os nossos passos para a luz e para a paz.

    Dá-nos um coração purificado, livre e sensível à acção do teu Espírito, para que possamos actuar como Tu queres, encontrar-Te neste Natal, e estar prontos para, no dia da tua última vinda, confessarmos que és o nosso pai e amigo, que és o nosso Salvador. Amen.

    Contemplatio

    João Baptista era um anjo pela sua pureza. O evangelho e os profetas dão-lhe este belo título: «Enviarei o meu anjo diante do Messias», tinha dito o Senhor na profecia de Malaquias (3, 1).

    Nosso Senhor mesmo faz a aplicação desta profecia: «Foi dele, diz, que o profeta disse: Enviarei um anjo diante de vós para vos preparar os caminhos» (Mt 11, 10).

    S. João Baptista é, portanto, para nós um admirável modelo de pureza. Ensina¬nos os meios de conservar as nossas almas puras. Estes meios são a oração, o afastamento do mundo e a mortificação.

    Ainda não tinha nascido quando Jesus e Maria foram visitá-lo na Judeia.

    Estremece no seio de sua mãe. É abençoado e santificado pela presença de Jesus e a visita de Maria.

    É um amigo para Jesus, di-lo ele mesmo: «O amigo do esposo, diz, alegra-se quando escuta a voz do seu amigo, é por isso que hoje estou alegre» (Jo 3, 29). Quando Jesus menino volta do Egipto, visita o seu pequeno amigo passando na

    Judeia. Cada ano, nos dias de Páscoa, estão juntos em Jerusalém. Reencontram-se no Jordão. S. João conhece a missão do seu amigo e parente, proclama a sua missão: «Eis, diz, o Cordeiro de Deus, eis aquele que apaga os pecados do mundo».

    Pregam um ao outro, mas S. João envia os seus discípulos a Cristo. Recebe as suas graças de Jesus e conduz as almas a Jesus.

    Tal deve ser a nossa união com Jesus e Maria. Maria dar-nos-á Jesus. Sede amigos para Jesus pela vossa assiduidade, pelo vosso afecto, pela vossa confiança. Conduzamos-lhe as almas, não procuremos em nada reter a sua afeição por nós, admiremos nisto o desapego de S. João. Ide a Jesus, diz a todos, nada sou senão uma voz que prega no deserto, não sou digno de desatar os seus sapatos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 689).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Vinde, vinde, não tardeis, Senhor Jesus». (da Liturgia).

  • Missa da meia-noite do Natal do Senhor – Ano C

    Missa da meia-noite do Natal do Senhor – Ano C


    24 de Dezembro, 2021

    ANO C
    NATAL DO SENHOR – MISSA DA MEIA-NOITE

    Tema da “missa da meia-noite” do Natal do Senhor

    O tema desta Eucaristia pode resumir-se na expressão “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz”.
    A primeira leitura anuncia a chegada de um menino, da descendência de David, dom de Deus para o Povo, que eliminará as causas objectivas de sofrimento, de injustiça e de morte, e inaugurará uma era de alegria, de felicidade e de paz sem fim.
    O Evangelho apresenta a concretização da promessa profética: Jesus, o menino de Belém, é o Deus que vem ao encontro dos homens para lhes oferecer – sobretudo aos mais pobres e débeis – a salvação. Não se trata de uma salvação imposta, mas de uma salvação oferecida com ternura e amor.
    A segunda leitura lembra que acolher a salvação de Deus, tornada presente na história dos homens em Jesus, significa renunciar aos valores do mundo, sempre que eles estejam em contradição com a proposta do menino de Belém.

    LEITURA I – Is 9,1-6

    Leitura do Livro de Isaías

    O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;
    para aqueles que habitavam nas sombras da morte
    uma luz começou a brilhar.
    Multiplicastes a sua alegria,
    aumentastes o seu contentamento.
    Rejubilam na vossa presença,
    como os que se alegram no tempo da colheita,
    como exultam os que repartem despojos.
    Vós quebrastes, como no dia de Madiã,
    o jugo que pesava sobre o povo,
    o madeiro que ele tinha sobre os ombros
    e o bastão do opressor.
    Todo o calçado ruidoso da guerra
    e toda a veste manchada de sangue
    serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas.
    Porque um menino nasceu para nós,
    um filho nos foi dado.
    Tem o poder sobre os ombros
    e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte,
    Pai eterno, Príncipe da paz».
    O seu poder será engrandecido numa paz sem fim,
    sobre o trono de David e sobre o seu reino,
    para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça,
    agora e para sempre.
    Assim o fará o Senhor do Universo.

    AMBIENTE

    O texto que nos é apresentado faz parte dos “oráculos messiânicos” atribuídos ao profeta Isaías. Não é seguro se se trata de um texto de Isaías, ou de um texto posterior à época do profeta, enxertado pelos editores finais da obra na mensagem de Isaías.
    Se for de Isaías, pode pertencer à fase final da actividade do profeta (inícios do séc. VII a.C.). Por essa altura, o rei Ezequias, ignorando os avisos de Isaías, continua a jogar no xadrez político internacional e a alinhar em alianças contra os assírios, enviando embaixadas ao Egipto, à Fenícia e à Babilónia, a fim de consolidar uma frente anti-assíria. O profeta, desiludido com essas iniciativas (que considera um abandono de Deus e um colocar a confiança e a esperança, não em Jahwéh, mas nos exércitos estrangeiros), começa a sonhar com um tempo novo, sem imperialismos, sem guerra nem armas, e onde reinam a justiça e o direito.
    O “menino” aqui anunciado, da descendência de David, pode também estar em relação com o “sinal do Emanuel” de que o profeta fala ao rei Acaz em Is 7,14-17. Seja como for, é um texto que dá fôlego à corrente messiânica e que alimenta a esperança de Israel num futuro novo de paz e de felicidade para o Povo de Deus.

    MENSAGEM

    Para descrever esse tempo novo de alegria e de felicidade que, no futuro, Jahwéh prepara para o seu Povo, o profeta utiliza imagens muito sugestivas: será como no tempo da colheita, quando todo o Povo dança feliz pela abundância dos alimentos; será como após uma caçada coroada de êxito, quando os caçadores dividem com alegria a presa.
    Porquê esta alegria, celebrada na festa? Porque a guerra, a injustiça, a violência e a opressão foram vencidos e vai ser inaugurada uma nova era, de vida, de abundância, de paz e de felicidade para todos.
    Quem é responsável por esta “nova ordem”? Na linguagem de Isaías, é “um menino”, enviado por Deus com a missão de restaurar o trono de David, que reinará no direito e na justiça (“mishpat/zedaqa”: estas palavras evocam, na linguagem profética, uma sociedade onde as decisões dos tribunais fundamentam uma recta ordem social, onde os direitos de todos são respeitados e onde não há lugar para a exploração e a injustiça). O quádruplo nome desse “menino” evoca títulos de Deus ou qualidades divinas: o título “conselheiro maravilhoso” celebra a capacidade de conceber desígnios prodigiosos e é um atributo de Deus – cf. Is 25,1; 28,29; o título “Deus forte” é um nome do próprio Deus – cf. Dt 10,17; Jr 32,18; Sl 24,8; o título “príncipe da paz” leva também a Jahwéh, aquele que é “a Paz” – cf. Is 11,6-9; Mi 5,4; Zac 9,10; Sl 72,3.7. Quanto ao título “Pai eterno”, é um título do rei – cf. 1 Sm 24,12 – e é um título dado ao faraó pelos seus vassalos, nomeadamente nas cartas de Tell el-Amarna. Fica, assim, claro que esse “menino” é um dom de Deus ao seu Povo e que, com ele, Deus residirá no meio do seu Povo, outorgando-lhe a justiça e a felicidade para sempre.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e actualização da mensagem deste texto podem fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:

    ¨ É Jesus que dá sentido a esta “profecia messiânica”. Ele é o “menino” anunciado por Isaías, dom de Deus aos homens para inaugurar o mundo do direito e da justiça, da paz e da felicidade para todos. O nascimento de Jesus significa que, efectivamente, este “reino” incarnou no meio dos homens. Jesus chamou a este mundo proposto por Deus, “reino de Deus”. Em que medida este “reino”, semeado por Jesus, foi acolhido pelos homens e se tornou uma realidade viva, a crescer na nossa história?

    ¨ E nós, cristãos, que acolhemos Jesus como a concretização das promessas de Deus, lutamos pela efectivação deste “reino” de justiça e de paz? Como lidamos com tudo o que é exploração, injustiça, egoísmo, violência e morte? Qual a mensagem que propomos a esse mundo que exalta e cultiva a exploração, o egoísmo e a injustiça?

    ¨ Reparemos no “jeito de Deus”: Ele não Se serve da força e do poder para intervir na história e realizar a salvação; mas é através de um “menino”, na sua fragilidade e dependência, que Deus propõe aos homens um projecto revolucionário de salvação/libertação. Temos consciência de que é na simplicidade e na humildade que Deus age no mundo? E nós? Seguimos os passos de Deus e respeitamos a sua lógica quando queremos propor algo aos nossos irmãos?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96)

    Refrão: Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.

    Cantai ao Senhor um cântico novo,
    cantai ao Senhor, terra inteira,
    cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.

    Anunciai dia a dia a sua salvação,
    publicai entre as nações a sua glória,
    em todos os povos as suas maravilhas.

    Alegrem-se os céus, exulte a terra,
    ressoe o mar e tudo o que ele contém,
    exultem os campos e quanto neles existe,
    alegrem-se as árvores das florestas.

    Diante do Senhor que vem,
    que vem para julgar a terra:
    julgará o mundo com justiça
    e os povos com fidelidade.

    LEITURA II – Tito 2,11-14

    Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Tito

    Caríssimo:
    Manifestou-se a graça de Deus,
    fonte de salvação para todos os homens.
    Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos,
    para vivermos, no tempo presente,
    com temperança, justiça e piedade,
    aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória
    do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo,
    que Se entregou por nós,
    para nos resgatar de toda a iniquidade
    e preparar para Si mesmo um povo purificado,
    zeloso das boas obras.

    AMBIENTE

    A “Carta a Tito” dirige-se, presumivelmente, a esse Tito que foi convertido por Paulo (cf. Tt 1,4), que acompanhou o apóstolo ao Concílio de Jerusalém (cf. Ga 2,1-2), que esteve com Paulo em Éfeso e que, por duas vezes, foi enviado por Paulo a Corinto com missões delicadas, numa altura que o ânimo dos coríntios estava exaltado contra Paulo (cf. 2 Cor 7,6-7; 8,16-17). O autor desta carta sugere que Paulo, na parte final da sua vida, teria confiado a Tito a animação da Igreja de Creta (cf. Tt 1,5).
    A “Carta a Tito”, no geral, parece ser um texto tardio, quando a preocupação fundamental das comunidades cristãs já não se centrava na vinda iminente do Senhor, mas em definir a conduta dos cristãos no tempo presente. Depois de apresentar uma série de conselhos práticos (para os anciãos, para os jovens, para os escravos – cf. Tt 2,1-10), o autor da carta procura fundamentar a prática cristã nos sólidos fundamentos da fé. É neste contexto que aparece a leitura que nos é proposta.

    MENSAGEM

    Porque é que os anciãos, os jovens e os escravos (isto é, a totalidade dos membros da comunidade crente) devem pautar a sua vida pelas referências cristãs? Porque “manifestou-se a graça (“kharis”) de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, (…) com temperança, justiça e piedade, aguardando (…) a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2,12-13).
    O amor de Deus – tantas vezes e de tantas formas manifestado na história – tem, pois, um projecto de salvação que foi apresentado aos homens na vida, nas palavras, nos gestos e na morte/ressurreição de Jesus Cristo. Esse projecto convida-nos a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo propõe e a ser sensíveis aos valores apresentados por Deus, em Jesus. Acolher esse projecto de amor e viver em consequência é a forma de aguardar, na esperança, a vinda de Jesus.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão e actualização da segunda leitura de hoje podem fazer-se a partir dos seguintes pontos:

    ¨ Temos consciência do amor de Deus e que a incarnação de Jesus é o sinal mais expressivo desse amor por nós?

    ¨ Aprendemos, com Jesus, a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo nos propõe e a confrontar, dia a dia, a nossa vida com os valores do Evangelho?

    ¨ É assumindo e percorrendo caminhos de simplicidade, de justiça e de comunhão com Deus que aguardamos a “vinda” de Jesus?

    ALELUIA – Lc 2,10-11

    Aleluia. Aleluia.

    Anuncio-vos uma grande alegria:
    Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.

    EVANGELHO – Lc 2,1-14

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

    Naqueles dias,
    saiu um decreto de César Augusto,
    para ser recenseada toda a terra.
    Este primeiro recenseamento efectuou-se
    quando Quirino era governador da Síria.
    Todos se foram recensear, cada um à sua cidade.
    José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré,
    à Judeia, à cidade de David, chamada Belém,
    por ser da casa e da descendência de David,
    a fim de se recensear com Maria, sua esposa,
    que estava para ser mãe.
    Enquanto ali se encontravam,
    chegou o dia de ela dar à luz,
    e teve o seu Filho primogénito.
    Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura,
    porque não havia lugar para eles na hospedaria.
    Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos
    e guardavam de noite os rebanhos.
    O Anjo do Senhor aproximou-se deles
    e a glória do Senhor cercou-os de luz;
    e eles tiveram grande medo.
    Disse-lhes o Anjo: «Não temais,
    porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo:
    nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador,
    que é Cristo Senhor.
    Isto vos servirá de sinal:
    encontrareis um Menino recém-nascido,
    envolto em panos e deitado numa manjedoura».
    Imediatamente juntou-se ao Anjo
    uma multidão do exército celeste,
    que louvava a Deus, dizendo:
    «Glória a Deus nas alturas
    e paz na terra aos homens por Ele amados».

    AMBIENTE

    É duvidoso que Quirino, como governador, tenha ordenado um recenseamento na época em que Jesus nasceu (só por volta do ano 6 d.C. é que ele se tornou governador da Síria, embora possa ter sido “legado” romano na Síria entre 12 e 8 a.C. Pode, realmente, nessa altura, ter ordenado um recenseamento que teve efeitos práticos na Palestina por volta dos anos 6/7 a.C., altura do nascimento de Jesus). De qualquer forma, Lucas não está a escrever “história”, mas a fazer teologia e a apresentar uma catequese sobre Jesus, o Filho de Deus prometido, que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.
    Com estas indicações de carácter histórico, Lucas está interessado em situar o nascimento de Jesus numa época e num espaço concreto, sugerindo que não se trata de um acontecimento lendário, mas de algo perfeitamente integrado na história e na vida dos homens.

    MENSAGEM

    A primeira indicação vem da referência a Belém como o lugar efectivo do nascimento de Jesus… Lucas sugere, assim, que este Jesus é o Messias, da descendência de David, anunciado pelos profetas (cf. Miq 5,1). Fica, desde já, claro que o nascimento de Jesus se integra no plano de salvação que Deus tem para os homens – plano que os profetas anunciaram e cuja realização o Povo de Deus aguardava ansiosamente.
    São também importantes os elementos que definem a simplicidade do quadro do nascimento – a manjed
    oira, a falta de lugar na hospedaria, os panos que envolvem a criança, as testemunhas do acontecimento (os pastores): é na pobreza, na simplicidade, na fragilidade que Deus vem ao encontro dos homens para lhes propor um projecto de salvação e de felicidade. Não é um projecto imposto do alto de um trono, pela força de um ceptro ou pelo poder das armas, do dinheiro ou da comunicação social; mas é uma proposta que chega ao coração dos homens através da simplicidade, da fraqueza e da ternura de um “menino”. É assim que Deus entra na nossa história; é assim a lógica de Deus.
    Finalmente, detenhamo-nos nas “testemunhas” do nascimento: os pastores. Trata-se de gente considerada violenta e marginal, que invadia com os rebanhos as propriedades alheias e que tinha fama de se apropriar da lã, do leite e das crias dos rebanhos. Os pastores eram, com frequência, colocados ao lado dos publicanos e dos cobradores de impostos, todos incapazes de reconhecer a quem tinham prejudicado e, portanto, incapazes de oferecer uma reparação. Lucas coloca, precisamente, estes marginais como as “testemunhas” que acolhem a chegada de Jesus ao mundo. É para estes pecadores e marginalizados que a chegada de Jesus é uma “boa notícia”, recebida com alegria: chegou a salvação/libertação; a partir de agora os pobres, os débeis, os marginalizados e os pecadores são convidados a integrar essa comunidade dos filhos amados de Deus. Sugere-se que Deus não os rejeita nem marginaliza, mas quer apresentar-lhes uma proposta de salvação que os leve a integrar a comunidade da Nova Aliança, a comunidade do Reino.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto pode seguir as seguintes indicações:

    ¨ O menino de Belém leva-nos a contemplar o incrível amor de um Deus que Se preocupa com a vida e a felicidade dos homens e que envia o próprio Filho ao encontro dos homens para lhes apresentar um projecto da salvação/libertação. Nesse menino de Belém, Deus grita-nos a radicalidade do seu amor por nós.

    ¨ O presépio apresenta-nos a lógica de Deus que não é, tantas vezes, igual à lógica dos homens: a salvação de Deus não se manifesta na força das armas, na autoridade prepotente, nos gabinetes ministeriais, nos conselhos das empresas, nos salões onde se concentram as estrelas do “jet-set”, mas numa gruta de pastores onde brilha a fragilidade, a ternura, a simplicidade, a dependência de um bebé recém-nascido. Qual é a lógica com que abordamos o mundo – a lógica de Deus ou a lógica dos homens?

    ¨ A presença libertadora de Jesus neste mundo é uma “boa notícia” que devia encher de felicidade os pobres, os débeis, os marginalizados, e dizer-lhes que Deus veio ao seu encontro para lhes propor a salvação/libertação. É essa a proposta que nós, os seguidores de Jesus, passamos ao mundo? Nós, Igreja, não estaremos demasiado ocupados a discutir questões laterais (poderiam abundar exemplos…), esquecendo o essencial (o anúncio libertador aos pobres)?

    ¨ Jesus – o Jesus da justiça, do amor, da fraternidade e da paz – já nasceu de forma efectiva na vida de cada um de nós, nas nossas famílias, nas nossas comunidades cristãs, nas nossas casas religiosas?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro


    24 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Samuel 7, 1-5. 8b-12. 14a. 16

    1 *Quando o rei se instalou em sua casa, e o SENHOR lhe deu paz, livrando-o dos seus inimigos, 2disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de cedro, enquanto a arca de Deus está abrigada numa tenda?» 3Natan respondeu¬lhe: «Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o SENHOR está contigo!» 4Mas, naquela mesma noite, o SENHOR falou a Natan, dizendo-lhe: 5*«Vai dizer ao meu servo David: Diz o SENHOR: "És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar?

    8*Eu tirei-te das pastagens onde apascentavas as tuas ovelhas, para fazer de ti o chefe de Israel, meu povo. 9Estive contigo em toda a parte por onde andaste; exterminei diante de ti todos os teus inimigos e fiz o teu nome tão célebre como o nome dos grandes da terra. 10*Fixarei um lugar para Israel, meu povo; nele o instalarei, e ali habitará, sem jamais ser inquietado; e os filhos da iniquidade não mais o oprimirão, como outrora, 11 *no tempo em que Eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. A ti concedo uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos. Além disso, o SENHOR faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti. 12*Quando chegar o fim dos teus dias, e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino.

    14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho.

    16*A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre".»

    Natan exerce a sua missão profética num período em que o reino de Judá goza de paz e de notável prosperidade. David vive num palácio luxuoso e pretende construir uma «casa» para Deus, uma casa onde acolher a Arca da Aliança. O profeta opõe-se a esse projecto, porque Deus tem um plano bem maior para David e para a sua descendência. O próprio Deus dará a David, não uma casa de pedra, mas uma casa estável e duradoura, uma estirpe real: «o SENHOR faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti .. A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre» (w. 11.16).

    O Senhor recorda a David quanto fez por ele e promete à sua dinastia uma duração perene: chamou-o do meio dos rebanhos de Isaí para fazer dele pastor de Israel (cf. 1 Sam 16, 11-13); fê-lo vitorioso sobre os inimigos e estará sempre com ele; a sua glória, e a da sua descendência, serão grandes porque terá uma progenitura divina; o rei e o povo serão abençoados pelo senhor e terão uma «casa» estável e tranquila, uma dinastia que durará séculos.

    A mensagem é clara: a salvação não vem de um templo construído com pedras ou por mãos humanas, mas da aliança com Deus, a Quem tudo pertence, o homem e a história.

    Evangelho: Lucas 1, 67-79

    Naquele tempo, 67*Zacarias,pai de João Baptista, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou com estas palavras: 68*«Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo 69*e nos deu um Salvador poderoso na casa de David, seu servo, 70conforme prometeu pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos; 71 para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam, 72*para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança; 73*e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: 74de o servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, 75em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. 76*E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, 77para dar a conhecer ao seu povo a salvação pela remissão dos seus pecados, 78*graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, 79*para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.»

    o cântico de Zacarias exalta a realização das promessas feitas por Deus.

    Zacarias, sacerdote da Antiga Lei, mas cheio de Espírito Santo, entoa um cântico cheio de reminiscências bíblicas. Bendiz o Senhor por ter visitado o seu povo, por ter inaugurado a Nova Aliança, que terá João como precursor e que satisfaz séculos de expectativas.

    O cântico divide-se em duas partes: a primeira sintetiza a história da salvação, evidenciando a misericórdia de Deus para com os pais e a sua perene fidelidade à Aliança, que se realizará plenamente no Messias (vv. 68-75); a segunda refere-se à figura do Baptista, «profeta do Altíssimo» (v. 76), destinado a preparar o caminho ao Senhor com a pregação da redenção e da salvação universal, que se actuará na pessoa de Jesus, por meio do perdão dos pecados, fruto da sua imensa bondade.

    O cântico exalta a Cristo, sol da ressurreição, gerado antes da aurora, que ilumina todos os que estão nas trevas e nas sombras da morte. Ele é a paz destinada aos que sabem dar louvor e glória a Deus. Ele, Verbo do Pai, é a luz e a vida dos homens.

    Meditatio

    Estamos na vigília do Natal. A Igreja lê e medita as profecias rnessrarucas, dando graças e louvando a Deus pela iminente chegada do Salvador. O dom que estamos para receber do Pai foi preparado com grande amor, durante muito tempo.

    Há que viver intensamente esta vigília, não nos deixando dispersar por coisas certamente interessantes, mas secundárias. A vinda histórica do Messias confirma que Deus escolheu a sua «casa» no meio de nós, no corpo de Jesus, seu Filho (cf. Jo 1, 14). Agora vive com o seu povo, não de modo passageiro, mas de modo estável (cf. Apoc 7, 15; 12,2; 13,6; 21, 3). Se, no Antigo Testamento, o seu lugar ideal era o templo e a tenda (cf. Ex 25, 8; 40, 35; Ez 37,27), agora a sua presença concretiza-se na própria vida do homem e na carne visível de Jesus, que a comunidade do primeiros discípulos tocou e contemplou na fé (cf. 1 Jo 1, 1-4).

    Cristo é a revelação e a luz do Pai, mas de modo escondido e humilde; algo de interior que, apenas os homens de fé, como os profetas, os santos e Maria, podem compreender. A sua glória há-de manifestar com poder apenas quando, elevado na cruz, atrair a Si todos os homens (cf. Jo 12, 32). Isto pode parecer um paradoxo, mas tudo se torna luminoso se pensarmos que «Deus é emor» (1 Jo 4, 10) e a sua maior manifestação acontece quando se revela o maior amor.

    Jesus é para nós o centro da história, a nossa morada e a plenitude de todas as nossas mais profundas aspirações. Com Maria, e com a sua intercessão, abramos o coração ao Dom que Deus nos quer dar esta noite.

    O dom do Pai, no Natal, perpetua-se na Eucaristia, sacramento da presença de Cristo no meio de nós, sob as espécies simples do pão e do vinho, e por meio das pala
    vras, ainda mais simples: "Isto é o Meu corpo ... Isto é o Meu sangue ... " (cf. Mt 26, 26.28). A Eucaristia, para além de actualizar no tempo a Última Ceia e o Sacrifício da cruz, perpetua a Incarnação, de que é substancial continuidade e expansão sacramental. A Eucaristia torna presente na terra, insere na história do mundo e na nossa vida o Cristo glorioso e sempre em estado de vítima. O sacerdócio de Cristo é eterno: "Um sacerdócio eterno" (Heb 7, 24).

    Oratio

    Senhor, nosso Deus, Tu és verdadeiramente amor, amor gratuito, amor oblativo. Manifestas esse amor a David e ao povo de Israel. É um amor forte, um amor preocupado, não em receber, mas em dar. David, pobre e fraco, tornou-se um rei rico e poderoso, bem instalado no seu palácio. Quis retribuir-te com o presente de uma «casa» para habitares, um templo sumptuoso que substituísse a tenda que acolhia a Arca da Aliança. Não aceitaste, porque és um Deus-Amor, um Deus que não previu receber, mas apenas dar. Por isso, prometeste a David um dom ainda maior, uma casa estável e duradoura, uma estirpe real, um filho que será simultaneamente «Filho do Altíssimo», Jesus Cristo, Senhor.

    Tudo isso acontece em Maria, no mistério da Incarnação. Dá-nos a graça de descobrirmos, cada vez mais, esse inefável mistério para o contemplarmos e adorarmos, como o contemplou e adorou Maria, quando gerou Cristo no seu seio e O deu à luz no presépio de Belém. Amen.

    Contemplatio

    A presença eucarística de Nosso Senhor é uma extensão da Incarnação

    Não se encontrando mais sobre esta terra a humanidade santa, a fonte da graça parece esgotada, ou transportada para uma distância incomensurável de nós. Porque, saibamo-lo bem, toda a graça é o produto do Sagrado Coração de Jesus, brota d' Ele como o sangue material; identifica-se com o seu sangue e o seu amor. Mas, se este Coração se afastava de nós, mesmo que nos deixasse os outros sacramentos, que solidão nos seria feita aqui em baixo! Que isolamento! Que vazio! O nosso terno irmão, o nosso amigo já não estaria lá connosco! O seu Coração de homem já não escutaria de perto os nossos suspiros e as nossas lágrimas! Em que nos tornaríamos?

    Mas o seu terno Coração soube tudo arranjar, e a fim de permanecer sempre connosco, inventou o sacramento do amor. Não vemos Jesus, mas Ele está lá; só as fracas aparências eucarísticas nos separam d'Ele, e temos a fé para as penetrar, e temos um coração que voa para o Coração de Jesus, tornado mais do que nunca o Coração do nosso irmão e do nosso amigo. É assim que o Coração de Jesus cumpre a sua promessa: «Não vos deixarei órfãos». É assim que a Eucaristia continua o mistério da Incarnação e multiplica por toda a parte Belém e Nazaré. A Eucaristia torna mesmo Nosso Senhor mais perto de nós do que o mistério da Incarnação, e quando reflectimos bem nisto vemos que Ele não se afastou do homem pela Ascensão senão para estar mais perto dele pela Eucaristia, porque as condições da vida mortal não permitiam ao Salvador tornar-se presente em todos os pontos do espaço, em todo o coração que o amasse e que desejasse a sua visita, mas a sua vida gloriosa permite¬lhe a omnipresença do amor; o seu Coração está em toda a parte, encontramo-lo em todos os santuários, e se a nossa ligeireza e a nossa indiferença não impedissem as efusões deste amor insaciável no dom de si mesmo, ser-nos-ia permitido como aos primeiros crentes de o guardar nas nossas casas e de o levar sempre no nosso coração. Tal teria sido a condescendência deste Coração generoso, se a Igreja não tivesse tomado, de algum modo contra Ele mesmo, o cuidado do respeito que Lhe é devido.

    Mas se este privilégio não nos é concedido, nós podemos sem grande fadiga, e quando queremos, a toda a hora do dia e da noite, aproximar-nos do Coração eucarístico, falar-lhe, abrir-lhe todo o nosso coração, atraí-lo a nós e fazer d'Ele tudo o que quisermos. Porque, na santa Eucaristia, o seu Coração tornou-se dependente de nós, mais ainda do que não o era em Belém e em Nazaré. É certamente fácil pegar numa criança, abraçá-Ia e acariciá-Ia, mas é ainda bem mais fácil pegar num bocadinho de pão, colocá-lo onde se quiser. E quando se pensa que sob esta débil aparência o Coração de Jesus mesmo está lá; quando se pensa neste amor que quis até este ponto tornar-se dependente de nós, como não chorar, como fazia o santo Cura de Ars exclamando: «Faço d' Ele o que quero, coloco-o onde quero!» Porque o privilégio de dispor da humanidade santa tornou-se um dos mais preciosos privilégios que possam ter as mãos sacerdotais. Mas é meditando na vida eucarística escondida que nos será dado aprofundar este prodígio de amor. Para hoje, basta-nos verificar este primeiro ponto.

    Pela santa Eucaristia, a Incarnação multiplica-se sobre todos os pontos da terra habitável; em toda a parte aonde nos é dado dirigir os nossos passos, encontramos o Coração do nosso irmão e do nosso amigo, sempre pronto a nos receber, sempre pronto a nos consolar, sempre pronto a nos cumular de graças, a nos iluminar, a nos levantar e a nos perdoar. Assim, nesta Incarnação nova, é sobretudo o Coração de Jesus que está presente; Ele esconde todo o resto, a sua divindade, a sua humanidade, a fim de melhor deixar ver o seu Coração; e se os olhos do corpo não podem ver, como o vêem os olhos do coração e como sabem penetrar os véus que o envolvem! Ah! Porque não nos é dado multiplicar também o nosso coração para o dar a este Coração que se multiplica por nós! Pelo menos, arranquemos os nossos pensamentos, as nossas afeições ao mundo, a nós mesmos, para os dar todos ao único Coração que nos ama, e se não podemos superá-lo nem mesmo igualá-lo em amor, ao menos que todo o nosso amor lhe pertença, todo, absolutamente todo; e ainda, depois disto, digamos que não somos senão servos inúteis (Pe. Dehon, OSP 2, p.419).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo». (Lc 1, 68).

  • Missa do dia do Natal do Senhor – Ano C

    Missa do dia do Natal do Senhor – Ano C


    25 de Dezembro, 2021

    ANO C
    NATAL DO SENHOR – MISSA DO DIA

    Tema da “missa do dia” do Natal do Senhor

    O tema desta Eucaristia pode girar à volta da expressão “a Palavra fez-se carne e habitou entre nós”.
    A primeira leitura anuncia a chegada de Deus ao meio do seu Povo. Ele é o rei que traz a paz e a salvação, proporcionando ao Povo de Deus uma era de felicidade sem fim. O profeta convida, pois, a substituir a tristeza pela alegria e pelos gritos de vitória.
    A segunda leitura apresenta, em traços largos, o plano salvador de Deus. Insiste, sobretudo, que esse projecto alcança o seu ponto mais alto com o envio de Jesus, a “Palavra” de Deus que os homens devem escutar e acolher.
    O Evangelho desenvolve o tema esboçado na segunda leitura e apresenta a “Palavra” viva de Deus, tornada pessoa em Jesus. Sugere que a missão do Filho/“Palavra” é completar a criação primeira, eliminando tudo aquilo que se opõe à vida e criando condições para que nasça o homem novo, o homem da vida em plenitude, o homem que vive uma relação filial com Deus.

    LEITURA I – Is 52,7-10

    Leitura do Livro de Isaías

    Como são belos sobre os montes
    os pés do mensageiro que anuncia a paz,
    que traz a boa nova, que proclama a salvação
    e diz a Sião: «o teu Deus é Rei».
    Eis o grito das tuas sentinelas que levantam a voz.
    Todas juntas soltam brados de alegria,
    porque vêem com os próprios olhos
    o Senhor que volta para Sião.
    Rompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém,
    porque o Senhor consola o seu povo,
    resgata Jerusalém.
    O Senhor descobre o seu santo braço à vista de todas as nações,
    e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.

    AMBIENTE

    O Deutero-Isaías, autor deste texto, é um profeta que exerce a sua missão entre os exilados da Babilónia, procurando consolar e manter acesa a esperança no meio de um povo desiludido e decepcionado, porque a libertação tarda. Os capítulos que recolhem a sua mensagem (Is 40-55) chamam-se, por isso, “Livro da Consolação”.
    Este texto está integrado na segunda parte do “Livro da Consolação” (Is 49-55). Aí, o profeta (que na primeira parte – Is 40-48 – havia, sobretudo, anunciado a libertação do cativeiro e um “novo êxodo” do Povo de Deus, rumo à Terra Prometida) fala da reconstrução e da restauração de Jerusalém. O profeta garante que Deus não Se esqueceu da sua cidade em ruínas e vai voltar a fazer dela uma cidade bela e cheia de vida, como uma noiva em dia de casamento. É neste quadro que podemos situar a primeira leitura de hoje.

    MENSAGEM

    À cidade em ruínas, chega o mensageiro que traz a “boa notícia” da paz (“shalom”: paz, bem-estar, harmonia, felicidade). Ele anuncia a “salvação” e proclama o reinado de Deus sobre o seu Povo e a sua cidade. Terminou, portanto, o sofrimento e a opressão. “Salvação” e “reinado de Deus” estão em paralelo: a “salvação” chega porque Deus se assume como Rei. Ele não reinará à maneira dos reis que conduziram o Povo por caminhos de morte e de desgraça; mas exercerá a realeza de forma a proporcionar a “salvação”, isto é, inaugurando uma era de paz, de bem-estar e de felicidade sem fim.
    O poeta põe as sentinelas da cidade a olhar todas nessa direcção por onde deverá chegar o Senhor. O grito das sentinelas não é de alarme, mas é de alegria contagiante: eles vêem o próprio Senhor regressar ao encontro da sua cidade. Com Deus, Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa, cheia de alegria e de festa. O poeta convida as próprias pedras da cidade em ruínas a cantar em coro, porque a redenção chegou. E essa salvação será testemunhada por toda a terra, como se o mundo estivesse de olhos postos na acção vitoriosa de Deus em favor do seu Povo.

    ACTUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto profético poderá fazer-se a partir dos seguintes elementos:

    ¨ A alegria pela libertação do cativeiro da Babilónia e pela “salvação” que Deus oferece ao seu Povo e à sua cidade anuncia essa outra libertação, plena e total, que Deus vai oferecer ao seu Povo através de Jesus. O nascimento de Jesus – o Deus que veio ao encontro do seu Povo e da sua cidade com uma proposta de salvação – diz-nos que a opressão terminou e que o “reinado de Deus” alcançou a nossa história.

    ¨ A alegria contagiante das sentinelas e os brados de contentamento das próprias pedras da cidade convidam-nos a acolher na alegria o Deus que veio visitar-nos: com a sua presença no meio de nós, começa a concretizar-se essa libertação plena prometida por Deus. É essa alegria que nos anima?

    ¨ As sentinelas atentas que, nas montanhas em redor de Jerusalém, identificam a chegada do Deus libertador são um modelo para nós: convidam-nos a ler, atentamente, os sinais e a anunciar ao mundo a chegada de Jesus. Somos sentinelas atentas que descobrem os sinais do Senhor nos caminhos da história e anunciam o seu “reinado”?

    SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98)

    Refrão: Todos os confins da terra
    viram a salvação do nosso Deus.

    Cantai ao Senhor um cântico novo
    pelas maravilhas que Ele operou.
    A sua mão e o seu santo braço
    Lhe deram a vitória.

    O Senhor deu a conhecer a salvação,
    revelou aos olhos das nações a sua justiça.
    Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
    em favor da casa de Israel.

    Os confins da terra puderam ver
    a salvação do nosso Deus.
    Aclamai o Senhor, terra inteira,
    exultai de alegria e cantai.

    Cantai ao Senhor ao som da cítara,
    ao som da cítara e da lira;
    ao som da tuba e da trombeta,
    aclamai o Senhor, nosso Rei.

    LEITURA II – Heb 1,1-6

    Leitura da Epístola aos Hebreus

    Muitas vezes e de muitos modos
    falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos Profetas.
    Nestes dias, que são os últimos,
    falou-nos por seu Filho,
    a quem fez herdeiro de todas as coisas
    e pelo qual também criou o universo.
    Sendo o Filho esplendor da sua glória
    e imagem da sua substância,
    tudo sustenta com a sua palavra poderosa.
    Depois de ter realizado a purificação dos pecados,
    sentou-Se à direita da Majestade no alto dos Céus
    e ficou tanto acima dos Anjos
    quanto mais sublime que o deles
    é o nome que recebeu em herança.
    A qual dos Anjos, com efeito, disse Deus alguma vez:
    «Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei?»
    E ainda:
    «Eu serei para Ele um Pai,
    e Ele será para Mim um Filho»?
    E de novo,
    quando introduziu no mundo o seu Primogénito, disse:
    «Adorem-
    n’O todos os Anjos de Deus».

    AMBIENTE

    A “Carta aos Hebreus” é um sermão, mais do que uma carta, onde um autor anónimo procura voltar a despertar a fé da comunidade crente, afectada pela falta de entusiasmo, pelas dificuldades e pelas doutrinas heréticas. Destinado a uma comunidade cristã constituída maioritariamente por cristãos vindos do judaísmo, utiliza a linguagem litúrgica judaica para apresentar Jesus: Ele é, fundamentalmente, o “sumo-sacerdote” da Nova Aliança, Aquele que veio ao mundo para realizar a comunhão definitiva entre Deus e os homens.
    O texto que nos é proposto como primeira leitura pertence ao prólogo do sermão. Nesse prólogo, o pregador apresenta-nos uma visão global, uma orientação e as coordenadas fundamentais que vai desenvolver ao longo do sermão.

    MENSAGEM

    A segunda leitura resume a história da salvação. Deus é o sujeito, o primeiro protagonista de tudo. Esse Deus, que criou e deu forma a tudo o que existe, tem um projecto de salvação para o homem; por isso, falou em palavras humanas, rompeu as distâncias, aproximou-Se do homem. Numa primeira fase, Ele falou através dos seus porta-vozes – os profetas – apresentando aos homens a sua proposta de salvação; mas, no nosso tempo, falou-nos através do seu próprio Filho, fazendo d’Ele a Palavra plena, definitiva, perfeita, que nos diz o caminho da salvação.
    O Filho identifica-Se plenamente com o Pai e, como o Pai, tem um senhorio pleno sobre toda a realidade. Ele é superior aos anjos, pois é esplendor da glória do Pai, imagem do ser do Pai, a reprodução exacta e viva da substância do Pai. Os homens devem, portanto, estar atentos ao Filho/Palavra, pois Ele transmite de forma perfeita a proposta salvadora que o Pai quer fazer aos homens.

    ACTUALIZAÇÃO

    Na reflexão e actualização da Palavra, convém ter em conta os seguintes elementos:

    ¨ Celebrar o nascimento de Jesus é, em primeiro lugar, contemplar o amor de um Deus que rompeu as distâncias e veio ao encontro do homem, apesar da infidelidade e das recusas do homem. No dia de Natal, nunca será demais insistir nisto: o Deus em quem acreditamos é o Deus do amor e da relação, que continua a nascer no mundo, a apostar no homem, a querer dialogar com ele, a encontrar-Se com ele, e que não desiste de um projecto de felicidade para o homem que criou.

    ¨ Jesus Cristo é a Palavra viva e definitiva de Deus, que revela aos homens o caminho da salvação. Celebrar o seu nascimento é acolher essa Palavra. “Escutar” essa Palavra é acolher o projecto que Jesus veio apresentar-nos e fazer dela a nossa referência, o critério fundamental que orienta as nossas opções. A Palavra viva de Deus (Jesus) é, de facto, a nossa referência e orienta as nossas opções? Os valores do Evangelho são os nossos valores? É preciso escutar essa Palavra viva e ver nela a Palavra perfeita, plena e definitiva com que Deus nos diz que caminho percorrer.

    ALELUIA

    Aleluia. Aleluia.

    Santo é o dia que nos trouxe a luz.
    Vinde adorar o Senhor.
    Hoje, uma grande luz desceu sobre a terra.

    EVANGELHO – Jo 1,1-18

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

    No princípio era o Verbo
    e o Verbo estava com Deus
    e o Verbo era Deus.
    No princípio, Ele estava com Deus.
    Tudo se fez por meio d’Ele
    e sem Ele nada foi feito.
    N’Ele estava a vida
    e a vida era a luz dos homens.
    A luz brilha nas trevas
    e as trevas não a receberam.
    Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João.
    Veio como testemunha,
    para dar testemunho da luz,
    a fim de que todos acreditassem por meio dele.
    Ele não era a luz,
    mas veio para dar testemunho da luz.
    O Verbo era a luz verdadeira,
    que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem.
    Estava no mundo,
    e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu.
    Veio para o que era seu
    e os seus não O receberam.
    Mas, àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome,
    deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
    Estes não nasceram do sangue,
    nem da vontade da carne, nem da vontade do homem,
    mas de Deus.
    E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós.
    Nós vimos a sua glória,
    glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito,
    cheio de graça e de verdade.
    João dá testemunho d’Ele, exclamando:
    «É deste que eu dizia:
    ‘O que vem depois de mim passou à minha frente,
    porque existia antes de mim’».
    Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos
    graça sobre graça.
    Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés,
    a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.
    A Deus, nunca ninguém O viu.
    O Filho Unigénito, que está no seio do Pai,
    é que O deu a conhecer.

    AMBIENTE

    A Igreja primitiva recorreu, frequentemente, a hinos para celebrar, expressar e anunciar a sua fé. O prólogo ao Evangelho de João que hoje nos é proposto é um bom exemplo disso mesmo. Não é certo se este hino foi composto por João, ou se o autor do Quarto Evangelho usou um primitivo hino cristão conhecido da comunidade joânica, adaptando-o de forma a que ele servisse de prólogo a esse texto tão peculiar que é o Evangelho segundo João. O que é certo é que o hino cristológico que chegou até nós expressa, em forma de confissão, a fé da comunidade joânica em Cristo enquanto Palavra, a sua origem eterna, a sua procedência divina, a sua influência no mundo e na história, possibilitando a quantos O aceitam ser “filhos de Deus”. Essas grandes linhas aqui enunciadas vão ser desenvolvidas depois pelo evangelista ao longo da sua obra.

    MENSAGEM

    Ao usar a expressão “no princípio”, João enlaça o seu Evangelho com o relato da criação (cf. Gn 1,1), oferecendo-nos assim, desde logo, uma chave de interpretação para o seu escrito. Aquilo que ele vai narrar sobre Jesus está em relação com a obra criadora de Deus: em Jesus vai acontecer a definitiva intervenção criadora de Deus no sentido de dar vida ao homem e ao mundo… A actividade de Jesus, enviado do Pai, consiste em fazer nascer um homem novo; a sua acção coroa a obra criadora iniciada por Deus “no princípio”.
    João começa por apresentar a “Palavra” (“Lógos”). A “Palavra” é – de acordo com o autor do Quarto Evangelho – uma realidade anterior ao céu e à terra, implicada já na primeira criação. Esta “Palavra” apresenta-se, assim, com as características que o Livro dos Provérbios atribuía à “sabedoria”: pré-existência (cf. Prov 8,22-24) e colaboração com Deus na obra da criação (cf. Prov 8,24-30). No entanto, essa “Palavra” não só estava junto de Deus e colaborava com Deus, mas “era Deus”. Identifica-se totalmente com Deus,
    com o ser de Deus, com a obra criadora de Deus. É como que o projecto íntimo de Deus, que se expressa e se comunica como “Palavra”. Deus faz-Se inteligível através da “Palavra”. Essa “Palavra” é geradora de vida para o homem e para o mundo, concretizando o projecto de Deus.
    A “Palavra” veio ao encontro dos homens, fez-Se “carne” (pessoa). João identifica claramente a “Palavra” com Jesus, o “Filho único, cheio de amor e de verdade”, que veio ao encontro do homem. Nessa pessoa (Jesus), “cheio de amor e de verdade”, podemos contemplar o projecto ideal de homem, o homem que nos é proposto como modelo por Deus, a meta final da criação de Deus.
    Essa “Palavra” “montou a sua tenda no meio de nós”. O verbo “skênéô” (“montar a tenda”), aqui utilizado, alude à “tenda do encontro” que, na caminhada pelo deserto, os israelitas montavam no meio ou ao lado do acampamento e que era o local onde Deus residia no meio do seu Povo (cf. Ex 27,21; 28,43; 29,4…). Agora, a “tenda de Deus”, o lugar onde Ele habita no meio dos homens, é o homem/Jesus. Quem quiser encontrar Deus e receber d’Ele vida em plenitude (salvação), é para Jesus que se tem de voltar.
    A função dessa “Palavra” está ligada ao binómio vida/luz: comunicar ao homem vida em plenitude; ou, por outras palavras, trata-se de acender a luz que ilumina o caminho do homem, possibilitando-lhe encontrar a vida verdadeira, a vida plena, livre, total.
    Jesus Cristo vai, no entanto, deparar-Se com a oposição à vida/luz que Ele traz. Ao longo do Evangelho, João irá contando essa história do confronto da vida/luz com o sistema injusto e opressor que pretende manter os homens prisioneiros do egoísmo e do pecado (e que João identifica com a Lei. Os dirigentes judeus que enfrentam Jesus são o rosto visível dessa Lei). Recusar a vida/luz significa preferir continuar a caminhar nas trevas (na mentira, na escravidão), independentemente de Deus; significa recusar chegar a ser homem pleno, criação acabada.
    Mas o acolhimento da “Palavra” implica a participação na vida de Deus. João diz mesmo que acolher a “Palavra” significa tornar-se “filho de Deus”. Começa, para quem acolhe a “Palavra”/Jesus, uma nova relação entre o homem e Deus, aqui expressa em termos de filiação: Deus dá vida em plenitude ao homem, oferecendo-lhe, assim, uma qualidade de vida que potencia o seu ser e lhe permite crescer até à dimensão do homem novo, do homem acabado e perfeito. Isto é uma “nova criação”, um novo nascimento, que não provém da carne e do sangue, mas de Deus.
    A incarnação de Jesus significa, portanto, a oferta que Deus faz à humanidade da vida em plenitude. Sempre existiu no homem o anseio da vida plena, conforme o projecto original de Deus; mas, na realidade, esse anseio fica muitas vezes frustrado pelo domínio que o egoísmo, a injustiça, a mentira e a opressão (o pecado) exercem sobre o homem. Toda a obra de Jesus consistirá em capacitar o homem para a vida nova, a vida plena, a fim de que ele possa realizar em si mesmo o projecto de Deus – a semelhança com o Pai.

    ACTUALIZAÇÃO

    Perspectivas para a reflexão e actualização do texto:

    ¨ A transformação da “Palavra” em “carne” (em menino do presépio de Belém) é a espantosa aventura de um Deus que ama e que, por amor, aceita revestir-Se da nossa fragilidade para nos dar vida em plenitude. Neste dia, somos convidados a contemplar, numa atitude de serena adoração, esse incrível passo de Deus, expressão extrema de um amor sem limites.

    ¨ Acolher a “Palavra” é deixar que Jesus nos transforme, nos dê a vida plena, a fim de nos tornarmos verdadeiramente “filhos de Deus”. O presépio que hoje contemplamos é, apenas, um quadro bonito e terno, ou uma interpelação a acolher a “Palavra”, de forma a crescermos até à dimensão do homem novo?

    ¨ Hoje, como ontem, a “Palavra” continua a confrontar-se com os sistemas geradores de morte e a procurar eliminar na origem tudo o que rouba a vida plena e a felicidade do homem. Sensíveis à “Palavra”, embarcados na mesma aventura de Jesus – a “Palavra” viva de Deus – como nos situamos diante de tudo aquilo que rouba a vida ao homem? Podemos pactuar com a mentira, o oportunismo, a corrupção, a violência, a exploração dos pobres, a miséria, as limitações aos direitos do homem, a destruição da dignidade dos mais fracos?

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
    Tel. 218540900 – Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

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