Week of Dez 12th

  • 03º Domingo do Advento - Ano A

    03º Domingo do Advento - Ano A


    11 de Dezembro, 2022

    ANO A
    3.º DOMINGO DO ADVENTO

    Tema do 3.º Domingo do Advento

    A liturgia deste domingo lembra a proximidade da intervenção libertadora de Deus e acende a esperança no coração dos crentes. Diz-nos: "não vos inquieteis; alegrai-vos, pois a libertação está a chegar".
    A primeira leitura anuncia a chegada de Deus, para dar vida nova ao seu Povo, para o libertar e para o conduzir, num cenário de alegria e de festa, para a terra da liberdade.
    O Evangelho descreve-nos, de forma bem sugestiva, a ação de Jesus, o Messias (esse mesmo que esperamos neste Advento): Ele irá dar vista aos cegos, fazer com que os coxos recuperem o movimento, curar os leprosos, fazer com que os surdos ouçam, ressuscitar os mortos, anunciar aos pobres que o "Reino" da justiça e da paz chegou. É este quadro de vida nova e de esperança que Jesus nos vai oferecer.
    A segunda leitura convida-nos a não deixar que o desespero nos envolva enquanto esperamos e aguardarmos a vinda do Senhor com paciência e confiança.

    LEITURA I - Is 35, 1-6a.10

    Leitura do Livro de Isaías

    Alegrem-se o deserto e o descampado,
    rejubile e floresça a terra árida,
    cubra-se de flores como o narciso,
    exulte com brados de alegria.
    Ser-lhe-á dada a glória do Líbano,
    o esplendor do Carmelo e do Sáron.
    Verão a glória do Senhor,
    o esplendor do nosso Deus.
    Fortalecei as mãos fatigadas
    e robustecei os joelhos vacilantes.
    Dizei aos corações perturbados:
    «Tende coragem, não temais:
    Aí está o vosso Deus,
    vem para fazer justiça e dar a recompensa.
    Ele próprio vem salvar-nos».
    Então se abrirão os olhos dos cegos
    e se desimpedirão os ouvidos dos surdos.
    Então o coxo saltará como um veado
    e a língua do mudo cantará de alegria.
    Voltarão os que o Senhor libertar,
    hão de chegar a Sião com brados de alegria,
    com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto.
    Reinarão o prazer e o contentamento
    e acabarão a dor e os gemidos.

    AMBIENTE

    Os capítulos 34-35 do Livro de Isaías são habitualmente chamados "pequeno apocalipse de Isaías", para distinguir do "grande apocalipse de Isaías", que aparece nos capítulos 24-27; descrevem os últimos combates travados por Jahwéh contra as nações, particularmente contra Edom e a vitória definitiva do Povo de Deus. Estes dois capítulos parecem poder ser relacionados com os capítulos 40-55 do Livro de Isaías, cujo autor é esse Deutero-Isaías que atuou na Babilónia entre os exilados, na fase final do Exílio. Por que razão estes dois capítulos se apresentam separados do seu "ambiente natural" (Is 40-55)? Provavelmente, foram atraídos pelas peças escatológicas soltas de Is 28-33 e, especialmente, pelo capítulo 33.
    Depois de apresentar o julgamento de Deus (cf. Is 34,1-4) e o castigo de Edom (cf. Is 34,5-15), o autor descreve, por contraste, a transformação extraordinária do deserto sírio, pelo qual vão passar os israelitas libertados, que regressam do Exílio. A intenção do profeta é consolar os exilados, desanimados, frustrados e mergulhados no desespero, porque a libertação tarda e parece que Deus os abandonou. Este tema será desenvolvido em profundidade nos capítulos 40-55 do Livro de Isaías.

    MENSAGEM

    Temos aqui um autêntico "hino à alegria", destinado a acordar a esperança e a revitalizar o ânimo dos exilados. Qual a razão dessa alegria? É que Deus "aí está para fazer justiça": Ele vai intervir na história, vai salvar Judá do cativeiro, vai abrir uma estrada no deserto para que o seu Povo possa regressar em triunfo a Sião.
    O profeta começa por interpelar a natureza e pedir-lhe que se prepare para a ação libertadora de Deus em favor do seu Povo: o deserto e o descampado, estéreis e desolados, são convidados a revestir-se de vida abundante (como o Líbano, o monte Carmelo ou a planície do Sharon, zonas proverbiais de vida e de fecundidade) e a enfeitar-se de flores de todas as formas e cores (vers. 1-2). Dessa forma, a própria natureza manifestará a sua alegria pela intervenção salvadora de Jahwéh; mas, sobretudo, será o cenário adequado para essa intervenção de Deus, destinada a levar vida nova ao Povo. Além disso, a magnificência das árvores e das plantas será a imagem da glória e da beleza do Senhor e falará a todos da grandeza de Deus, da sua capacidade para fazer brotar vida onde só há morte, desolação, esterilidade.
    Depois, a palavra do profeta dirige-se aos homens (vers. 3-4). Nada de desânimo, nada de cobardia, nada de baixar os braços: Deus aí está para salvar e libertar o seu Povo. Os exilados devem unir-se à natureza nessa corrente de alegria e de vida nova, pois a libertação chegou.
    O resultado da iniciativa salvadora e libertadora de Deus será que os olhos dos cegos se abrirão e se desimpedirão os ouvidos dos surdos... O coxo não apenas andará, mas saltará como um veado; o mudo não apenas falará, mas cantará de alegria (vers. 5-6). A ação de Deus é excessiva, verdadeiramente transformadora e geradora de vida nova em abundância.
    A marcha do Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade será, pois, um novo êxodo, onde se repetirão as maravilhas operadas pelo Deus libertador aquando do primeiro êxodo; no entanto, este segundo êxodo será ainda mais grandioso, quanto à manifestação e à ação de Deus. Será uma peregrinação festiva, uma procissão solene, feita na alegria e na festa. O resultado final desse segundo êxodo será o reencontro com Sião, a eterna felicidade, a alegria sem fim (vers. 10).

    ATUALIZAÇÃO

    Ter em conta os seguintes elementos:

    • Para os otimistas, o nosso tempo é um tempo de grandes realizações, de grandes descobertas, em que se abre todo um mundo de possibilidades ao homem; para os pessimistas, o nosso tempo é um tempo de sobreaquecimento do planeta, de subida do nível do mar, de destruição da camada do ozono, de eliminação das florestas, de risco de holocausto nuclear... Para uns e para outros, é um tempo de desafios, de interpelações, de procura, de risco... Como é que nós nos relacionamos com este mundo? Vemo-lo com os olhos da esperança, ou com os óculos negros do desespero?

    • Os crentes não podem, contudo, esquecer que "Deus aí está": a sua intervenção faz com que o deserto se revista de vida e que na planície árida do desespero brote a flor da esperança. É com esta certeza da presença de Deus e com a convicção de que Ele não nos deixará abandonados nas mãos das forças da morte que somos convidados a caminhar pela vida e a enfrentar a história.

    • O Advento é o tempo em que se anuncia e espera a intervenção salvadora de Deus em favor do seu Povo. No entanto, Ele só virá se eu estiver disposto a acolhê-l'O; Ele só intervirá se eu estiver disposto a receber de braços abertos a proposta de libertação que Ele me vem fazer... Estou preparado para acolher o Senhor? Ele tem lugar na minha vida? A sua proposta libertadora encontrará eco no meu coração?

    • O profeta é o homem que rema contra a maré... Quando todos cruzam os braços e se afundam no desespero, o profeta é capaz de olhar para o futuro com os olhos de Deus e ver, para lá do horizonte do sol poente, um novo amanhã. Ele vai, então, gritar aos quatro ventos a esperança, fazer com que o desespero se transforme em alegria e que o imobilismo se transforme em luta empenhada por um mundo melhor. É este testemunho de esperança que procuramos dar?

    SALMO RESPONSORIAL - Salmo 145 (146)

    Refrão 1: Vinde, Senhor, e salvai-nos.
    Refrão 2: Vinde salvar-nos, Senhor.

    O Senhor faz justiça aos oprimidos,
    dá pão aos que têm fome
    e a liberdade aos cativos.

    O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
    o Senhor levanta ao abatidos,
    o Senhor ama os justos.

    O Senhor protege os peregrinos,
    ampara o órfão e a viúva
    e entrava o caminho aos pecadores.

    O Senhor reina eternamente.
    O teu Deus, ó Sião,
    é rei por todas as gerações.

    LEITURA II - Tg 5, 7-10

    Leitura da Epístola de São Tiago

    Irmãos:
    Esperai com paciência a vinda do Senhor.
    Vede como o agricultor espera pacientemente
    o precioso fruto da terra,
    aguardando a chuva temporã e a tardia.
    Sede pacientes, vós também,
    e fortalecei os vossos corações,
    porque a vinda do Senhor está próxima.
    Não vos queixeis uns dos outros,
    a fim de não serdes julgados.
    Eis que o Juiz está à porta.
    Irmãos, tomai como modelos de sofrimento e de paciência
    os profetas, que falaram em nome do Senhor.

    AMBIENTE

    A carta de onde foi extraída a nossa segunda leitura de hoje é um escrito de um tal Tiago (cf. Tg 1,1), que a tradição liga a esse Tiago "irmão" do Senhor, que presidiu à Igreja de Jerusalém e do qual os Evangelhos falam, acidentalmente, como filho de certa Maria (cf. Mt 13,55;27,56). Teria morrido decapitado em Jerusalém no ano 62... No entanto, a atribuição deste escrito a tal personagem levanta bastantes dificuldades. O mais certo é estarmos perante um outro qualquer Tiago, desconhecido até agora (o "Tiago, filho de Alfeu" - de que se fala em Mc 3,18 e par. - e o "Tiago, filho de Zebedeu" e irmão de João - de que se fala em Mc 1,19 e par. - também não se encaixam neste perfil). É, de qualquer forma, um autor que escreve em excelente grego, recorrendo até, com frequência, à "diatribe" - um género muito usado pela filosofia popular helénica. Inspira-se particularmente na literatura sapiencial, para dela extrair lições de moral prática; mas depende também profundamente dos ensinamentos do Evangelho. Trata-se de um sábio judeo-cristão que repensa, de maneira original, as máximas da sabedoria judaica, em função do cumprimento que elas encontraram na boca e no ensinamento de Jesus.
    A carta foi enviada "às doze tribos que vivem na Diáspora" (Tg 1,1). Provavelmente, a expressão alude a cristãos de origem judaica, dispersos no mundo greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina - como a Síria ou o Egipto; mas, no geral, a carta parece dirigir-se a todos os crentes, exortando-os a que não percam os valores cristãos autênticos herdados do judaísmo através dos ensinamentos de Cristo. Denuncia, sobretudo, certas interpretações consideradas abusivas da doutrina paulina da salvação pela fé, sublinhando a importância das obras; e ataca com extrema severidade os ricos (cf. Tg 1,9-11;2,5-7;4,13-17;5,1-6).
    O nosso texto pertence à terceira parte da carta (Tg 3,14-5,20). Aí, o autor apresenta, num conjunto de desenvolvimentos e de sentenças aparentemente sem ordem nem lógica, indicações concretas destinadas a favorecer uma vida cristã mais autêntica.

    MENSAGEM

    Depois de uma violenta denúncia dos ricos que oprimem os pobres e que enriquecem retendo os salários dos seus trabalhadores (cf. Tg 5,1-6), o autor da carta dirige-se aos pobres e convida-os a esperar com paciência a vinda do Senhor (como o agricultor, depois de ter feito o seu trabalho, fica pacientemente, mas cheio de esperança, à espera que a terra produza os seus frutos). Todo o enquadramento está dominado pela perspetiva da vinda do Senhor.
    A questão é, portanto, esta: os pobres vivem numa situação intolerável de exploração e de injustiça; mas não devem resolver o seu problema com queixas e violências: devem confiar em Deus e esperar a intervenção que os salvará e libertará. A paciência e a espera confiada no Senhor são as atitudes corretas nestes tempos em que se prepara a intervenção final de Deus na história.
    Haverá, aqui, um apelo à passividade, a cruzar os braços, a demitir-se da luta pelo mundo melhor? Não devemos entender o apelo de Tiago nesta perspetiva; o que há aqui é um apelo a confiar no Senhor e a não embarcar no mesmo esquema injusto e violento dos opressores... O acento é posto na esperança que deve alumiar o coração de quem sofre: a libertação está a chegar.

    ATUALIZAÇÃO

    A reflexão pode partir dos seguintes elementos:

    • Muitos irmãos nossos fazem, todos os dias, a experiência intolerável de viver na injustiça, no medo, no sofrimento, à margem da vida, privados de dignidade... Tiago diz-lhes: "apesar do sem sentido da vida, apesar do sofrimento, Deus não vos abandonou nem esqueceu, mas vai libertar-vos; aproxima-se a dia da intervenção salvadora de Deus... Esperai-O, não com o coração cheio de revolta, que vos destrói e que magoa todos aqueles que, sem ter culpa, vivem e caminham a vosso lado, mas com esperança e confiança".

    • Atenção: isto não significa instalar-se numa resignação que aliena e numa passividade que é renúncia à própria dignidade humana... Isto significa, sobretudo, não deixar que sentimentos agressivos e destrutivos tomem posse de nós, pois a libertação de Deus não pode chegar a qualquer coração dominado pelo ódio, pelo rancor, pelo desejo de vingança.

    • Nós, Igreja de Jesus, testemunhas do projeto libertador de Deus, temos de anunciar o projeto libertador de Deus aos escravos e oprimidos e não deixar que a luz da esperança se apague... Anunciamos a salvação aos pobres e oprimidos, com as nossas palavras e com os nossos gestos?

    • A salvação de Deus chega ao mundo através do nosso testemunho... Lutamos, objetivamente, para tornar realidade o projeto libertador de Deus e para silenciar a opressão, a injustiça, tudo o que rouba a vida e a dignidade a qualquer homem ou a qualquer mulher?

    ALELUIA - Is 61, 1

    Aleluia. Aleluia.

    O Espírito do Senhor está sobre mim:
    enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres.

    EVANGELHO - Mt 11, 2-11

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

    Naquele tempo,
    João Baptista ouviu falar, na prisão, das obras de Cristo
    e mandou-Lhe dizer pelos discípulos:
    «És Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?»
    Jesus respondeu-lhes:
    «Ide contar a João o que vedes e ouvis:
    os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados,
    os surdos ouvem, os mortos ressuscitam
    e a boa nova é anunciada aos pobres.
    E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim
    motivo de escândalo».
    Quando os mensageiros partiram,
    Jesus começou a falar de João às multidões:
    «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento?
    Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas?
    Mas aqueles que usam roupas delicadas
    encontram-se nos palácios dos reis.
    Que fostes ver então? Um profeta?
    Sim - Eu vo-lo digo - e mais que profeta.
    É dele que está escrito:
    'Vou enviar à tua frente o meu mensageiro,
    para te preparar o caminho'.
    Em verdade vos digo:
    Entre os filhos de mulher,
    não apareceu ninguém maior do que João Baptista.
    Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele».

    AMBIENTE

    Na secção precedente do Evangelho (cf. Mt 4,17-11,1), Mateus apresentou de forma sistemática o anúncio do "Reino", manifestado nas palavras e nos gestos de Jesus, e difundido pelos seus discípulos... Agora, começa outra secção, em que todo o interesse do evangelista é mostrar as atitudes que as distintas pessoas ou grupos vão assumir diante de Jesus (cf. Mt 11,2-12,50). A narração é retomada com a pergunta dos enviados de João Baptista, que está na prisão, por ordem de Herodes Antipas, a quem o Baptista havia criticado por viver maritalmente com a cunhada (cf. Mt 14,1-5): Jesus é mesmo "o que está para vir"?
    A pergunta não é ociosa... João esperava um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao "juízo de Deus" (cf. Mt 3,11-12); mas, ao contrário, Jesus aproximou-Se dos pecadores, dos marginais, dos impuros, estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação (cf. Mt 8-9). João e os seus discípulos estão, pois, desconcertados: Jesus será o Messias esperado, ou é preciso esperar um outro que venha atuar de uma forma mais decidida, mais lógica e mais justiceira?
    Mateus tem um interesse especial pela figura de João Baptista. Para ele, João é o precursor que veio preparar os homens para acolher Jesus. É provável que, ao fazer esta apresentação, o evangelista se queira dirigir aos discípulos de João que ainda continuavam ativos na época em que o Evangelho foi escrito... Mateus pretende clarificar as coisas e "piscar o olho" aos discípulos de João, no sentido de que eles adiram à proposta cristã e entrem na Igreja de Jesus.

    MENSAGEM

    O texto de hoje divide-se em duas partes... Na primeira, Jesus responde à pergunta de João e dá a entender que Ele é o Messias (vers. 2-6); na segunda, temos a apreciação que o próprio Jesus faz da figura e da ação profética de João (vers. 7-11).
    Jesus tem consciência de ser o Messias? A resposta é obviamente positiva; para dá-la, Jesus recorre a um conjunto de citações de Isaías que definem, na perspetiva dos profetas, a ação do Messias enviado de Deus: dar vida aos mortos (cf. Is 26,19), curar os surdos (cf. Is 29,18), dar vista aos cegos, dar liberdade de movimentos aos coxos (cf. Is 35,5-6), anunciar a Boa Nova aos pobres (cf. Is 61,1). Ora, se Jesus realizou estas obras (cf. Mt 8-9), é porque Ele é o Messias, enviado por Deus para libertar os homens e para lhes trazer o "Reino". A sua mensagem e os seus gestos contêm uma proposta libertadora que Deus faz aos homens.
    Na segunda parte, temos a declaração de Jesus sobre o Baptista. Mateus utiliza um recurso retórico muito conhecido: uma série de perguntas que convidam os ouvintes a dar uma resposta concreta. A resposta às duas primeiras questões é, evidentemente, negativa: João não é um pregador oportunista cuja mensagem segue as modas, nem um elegante convencido que vive no luxo. A resposta à terceira é positiva: João é um profeta e mais do que um profeta. A declaração, que começa com uma referência à Escritura (cf. Ex 23,20; Mal 3,1), pretende clarificar qual a relação entre ambos e o lugar de João no "Reino": João é o precursor do Messias; é "Elias", aquele que tinha de vir antes, a fim de preparar o caminho para o Messias (cf. Mal 3,23-24)... No entanto, aqueles que entraram no "Reino" através do seguimento de Jesus são mais do que Ele.

    ATUALIZAÇÃO

    A reflexão deste texto pode partir das seguintes questões:

    • O texto evangélico identifica Jesus com a presença salvadora e libertadora de Deus no meio dos homens. Neste tempo de espera, somos convidados a aguardar a sua chegada, com a certeza de que Deus não nos abandonou, mas continua a vir ao nosso encontro e a oferecer-nos a salvação.

    • Os "sinais" que Jesus realizou enquanto esteve entre nós têm de continuar a acontecer na história; agora, são os discípulos de Jesus que têm de continuar a sua missão e de perpetuar no mundo, em nome de Jesus, a ação libertadora de Deus.
    Os que vivem amarrados ao desespero de uma doença incurável encontram em nós um sinal vivo do Cristo libertador que lhes traz a salvação?
    Os "surdos", fechados num mundo sem comunicação e sem diálogo, encontram em nós a Palavra viva de Deus que os desperta para a comunhão e para o amor?
    Os "cegos", encerrados nas trevas do egoísmo ou da violência, encontram em nós o desafio que Deus lhes apresenta de abrir os olhos à luz?
    Os "coxos", impedidos de andar, encontram em nós a proximidade dos caminhos de Deus?
    Os presos, privados da liberdade, escondidos atrás das grades em que a sociedade os encerra, encontram em nós a Boa Nova da liberdade?
    Os "pobres", marginalizados, sem voz nem dignidade, sentem em nós o amor de Deus?

    • Mais uma vez, somos interpelados e questionados pela figura vertical e coerente de João... Ele não é um pregador da moda, cujas ideias variam conforme as flutuações da opinião pública ou os interesses dos poderosos; nem é um charlatão bem vestido, que prega para ganhar dinheiro, para defender os seus interesses, ou para ter uma vida cómoda e sem grandes exigências... Mas é um profeta, que recebeu de Deus uma missão e que procura cumpri-la, com fidelidade e sem medo.
    A minha vida e o meu testemunho profético cumprem-se com a mesma verticalidade e honestidade, ou estou disposto e vender-me a interesses menos próprios, se isso me trouxer benefícios?

    • A "dúvida" de João acerca da messianidade de Jesus não é chocante, mas é sinal de uma profunda honestidade... Devemos ter mais medo daqueles que têm certezas inamovíveis, que estão absolutamente certos das suas verdades e dos seus dogmas, do que daqueles que procuram, honestamente, as respostas às questões que a vida todos os dias coloca.
    Sou um fundamentalista, que nunca se engana e raramente tem dúvidas, ou alguém que sabe que não tem o monopólio da verdade, que ouve os irmãos, e que procura, com eles, descobrir o caminho verdadeiro?

    ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 3.º DOMINGO DO ADVENTO
    (algumas são adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")

    1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
    Ao longo dos dias da semana anterior ao 3.º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

    2. UMA ASSEMBLEIA EM ALEGRIA.
    Tudo deverá concorrer para que a assembleia celebre em estado de alegria: luzes, flores, música... mas também uma primeira leitura (um imenso grito de alegria!) lida por um leitor feliz e que contagie felicidade, sem falar do próprio presidente, cujo tom influenciará muito o clima deste domingo. Que estes elementos brotem do interior de todos os que participam na celebração, comungando da enorme felicidade em acolher a Palavra de Deus na Eucaristia...

    3. A PAZ, A ALEGRIA.
    Este terceiro domingo do Advento é o domingo da alegria. A alegria está intimamente ligada à paz. Paz e alegria: duas grandes riquezas que queremos para o nosso mundo. Na preparação da liturgia, seria interessante procurar formas de dar um real conteúdo à nossa esperança, ver como as palavras "paz" e "alegria" podem ressoar no coração de cada um: procurar propor gestos concretos que vão neste sentido para os habitantes do bairro ou da cidade; procurar que a nossa oração deste dia seja mais verdadeira e consequente na vida concreta. E como convidar os cristãos a ser testemunhas da paz e da alegria de Cristo? A festa de Natal, este ano, mudará alguma coisa à nossa volta? É importante preparar a liturgia neste sentido, para que a celebração continue nas situações de vida durante a semana...

    4. BILHETE DE EVANGELHO.
    Aos homens que reconhecem a sua fragilidade, Deus manifesta o seu poder. Não é frequente reconhecermos os nossos desvios, os nossos erros, a nossa fragilidade, a nossa vulnerabilidade. Porém, isso seria reconhecer simplesmente a nossa humanidade... Os pais não perdem a honra ao reconhecer diante dos seus filhos que se enganaram. A Igreja não se rebaixa ao reconhecer os seus erros do passado; ao contrário, eleva-se. Os cristãos não se entristecem ao reconhecer o seu pecado; ao contrário, dão a Deus a alegria de os perdoar. Deixemos Deus manifestar o seu poder, concedendo-nos o seu perdão! Basta que nos reconheçamos frágeis. Então, a nossa fragilidade mudar-se-á em força. De frágeis tornar-nos-emos fortes, fortes de ser amados.

    5. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
    Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

    No final da primeira leitura:
    Deus nosso Salvador, gritamos a nossa alegria e exultamos, porque vens até nós, como outrora, quando pelos profetas anunciaste ao teu povo exilado o fim da provação e o regresso do cativeiro. Nós Te pedimos pelos infelizes e desencorajados: fortifica as mãos cansados, torna firmes os joelhos dobrados, ilumina os seus rostos.

    No final da segunda leitura:
    Nós Te bendizemos, Senhor, pela tua paciência: como o agricultor, Tu preparaste a terra e lançaste a semente da Boa Nova. Nós Te pedimos pelas nossas comunidades: que o teu Espírito nos livre de gemer uns contra os outros, que Ele nos fortaleça na concórdia e nos guie na preparação de uma nova terra.

    No final do Evangelho:
    Nós Te damos graças, Senhor, por João Baptista, por quem preparaste o caminho para o teu Filho e manifestaste o cumprimento das Escrituras. Nós Te suplicamos por aqueles cuja vista está tapada, os passos incertos, a vida envenenada... novos leprosos presentes nos nossos caminhos. Que o teu Espírito nos inspire as palavras e os gestos capazes de os abrir à tua presença.

    6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
    Pode-se escolher a Oração Eucarística III da Assembleia com Crianças, pois exprime bem o clima das leituras.

    7. PALAVRA EXPLICADA 1: SALMO E ALELUIA.
    Na liturgia da Palavra, Deus está em diálogo com o seu Povo, pela alternância entre as leituras bíblicas e o cântico dos salmos. No domingo, na organização em três leituras, a primeira leitura é um extrato do Antigo Testamento ou, no tempo pascal, dos Atos dos Apóstolos. Esta proclamação revela à assembleia ações que Deus cumpriu no passado, ou propõe uma meditação sobre a solicitude de Deus a seu respeito. Esta escuta suscita sentimentos de ação de graças que a assembleia exprime pelo cântico do Salmo, respondendo à Palavra de Deus através de outras palavras da Bíblia: é verdadeiramente um diálogo no Espírito Santo, que proclamamos haver falado pelos Profetas. A segunda leitura é extraída dos escritos apostólicos. É seguida da aclamação ao Evangelho, seja um Aleluia com o seu versículo, seja, durante a Quaresma, um versículo com outra aclamação. Quando a liturgia da Palavra comporta apenas uma leitura antes do Evangelho, o Salmo e a aclamação do Evangelho seguem-se imediatamente.

    8. PALAVRA EXPLICADA 2: REFRÃO SÂLMICO.
    Para o Salmo que responde à primeira leitura, o lecionário propõe um refrão, também chamado antífona, e alguns versículos. Esta fórmula permite a toda a assembleia participar neste momento importante, que é resposta à Palavra de Deus. Os refrães são frases curtas, extraídas do próprio Salmo ou de um outro texto, como o da noite de Natal: "Hoje, um Salvador nasceu, é Cristo, o Senhor". Para favorecer a participação de toda a assembleia, o coro, ou um solista, canta primeiro o refrão, para o fazer ouvir à assembleia, e esta retoma-o de seguida. Em seguida, o solista, ou o coro, canta os versículos do Salmo. No fim ou nos intervalos dos versículos, retoma-se o refrão. A sua brevidade permite que a assembleia o guarde mais facilmente na memória, não somente para a participação na celebração, mas para que possa ser retomado por cada um na oração pessoal e familiar.

    9. ATENÇÃO ÀS CRIANÇAS: ALEGRIA! ALEGRIA! ALEGRIA!
    Domingo da Alegria: a palavra aparece quatro vezes na primeira leitura; o Salmo e o Evangelho dão as razões profundas da alegria. Trata-se de fazer descobrir às crianças que somos feitos para a alegria. Elas poderão dizê-lo nalgum momento da celebração: acendendo a terceira vela, a vela da alegria; animando um o outro cântico de alegria (Aleluia, Santo); ou agradecendo ao Senhor com uma oração após a comunhão. Por exemplo: "Jesus, Tu oferece-nos a verdadeira alegria, a alegria que vem de Ti. Enche os nossos corações com o teu amor, para podermos levar a tua alegria àqueles que encontrarmos".

    10. PALAVRA PARA O CAMINHO.
    Paciência! Uma palavra em sentido contrário aos nossos comportamentos: exigimos tudo, imediatamente! Dois milénios em que esperamos a vinda do Senhor! Ainda não veio! Mas já está! Renovemos, reajustemos o nosso olhar de fé e redescubramo-l'O bem presente, e em ação, em lugares e situações em que tantas vezes não esperávamos encontrá-l'O! Sempre em atitude de alegria e de esperança!

     

     

    UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
    PROPOSTA PARA
    ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
    Grupo Dinamizador:
    P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
    Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
    Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
    Tel. 218540900 - Fax: 218540909
    portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

  • 03ª semana do Advento - Terça-feira

    03ª semana do Advento - Terça-feira


    13 de Dezembro, 2022

    Tempo do Advento Terceira Semana - Terça-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Sofonias 3, 1-2. 9-13

    Eis o que diz o Senhor:1 Ai da cidade rebelde, manchada e opressora! 2*Ela não ouviu o apelo, nem aceitou o aviso; não confiou no SENHOR, nem se aproximou do seu Deus.
    9*Então, darei aos povos lábios puros, para que todos possam invocar o nome do SENHOR e servi-lo de comum acordo. 1 O Da outra banda dos rios da Etiópia, os meus adoradores dispersos virão trazer-me ofertas. 11 *Naquele dia, não te envergonharás dos pecados que cometeste contra mim, porque exterminarei do meio de ti os orgulhosos e os arrogantes; e cessarás de te orgulhar na minha montanha santa.12 Deixarei subsistir no meio de ti um povo pobre e humilde; eles procurarão refúgio no nome do SENHOR. 13 O resto de Israel não cometerá mais a iniquidade nem proferirá mentiras; não se achará mais na sua boca uma língua enganadora. Eles apascentarão e repousarão sem que ninguém os inquiete.

    O texto que escutamos hoje abre com uma invectiva contra os chefes das nações que, em vez de cuidar da fé do povo, apenas se preocupam com os seus interesses. Mas chega logo uma palavra de esperança: a purificação dos povos e de Jerusalém tem por finalidade a alegria messiânica e a reunião dos dispersos. A purificação dos povos pagãos (v. 9), que abandonam os ídolos para se voltarem para o Senhor, exprime a expectativa profética de uma profunda renovação da humanidade, realizada pelo Senhor.

    A renovação anunciada consiste na conversão do coração humano, manifestada no acolhimento da lei divina, no culto do verdadeiro Deus. Essa transformação acontecerá, em primeiro lugar, no povo de Deus, que será purificado do orgulho que o leva a pretender ocupar o lugar de Deus (v. 11). O povo, no tempo da salvação, não passará de um «resto (v. 13), isto é, de um grupo politicamente frágil e culturalmente irrelevante e desprezado, que não poderá presumir das suas forças, mas que experimentará o repouso e a paz gratuitamente oferecidos por Deus, de coração agradecido. É o povo «dos pobres do senno», os que têm Deus como único recurso, nele confiam plenamente e a cuja vontade obedecem fielmente.

    Evangelho: Mateus 21, 28-32

    Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo: 28«Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: 'Filho, vai hoje trabalhar na vinha.' 29Mas ele respondeu: 'Não quero.' Mais tarde, porém, arrependeu-se e foi. 30Dirigindo-se ao segundo, falou-lhe do mesmo modo e ele respondeu: 'Vou sim, senhor.' Mas não foi. 31Qual dos dois fez a vontade ao pei?» Responderam eles: «O primeiro.» Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder-vos no Reino de Deus. 32*João veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os cobradores de impostos e as meretrizes acreditaram nele. E vós nem depois de verdes isto, vos arrependestes para acreditar nele.»

    Os chefes do povo, como já ficou demonstrado (cf. Mt 21, 23-27), não têm qualquer intenção de escutar a Jesus. Por isso, o mesmo Jesus lhes desmascara a incoerência e os provoca, afirmando que os publicanos e as prostitutas os hão-de preceder no Reino de Deus. Fá-lo com a parábola dos dois filhos, que se compreende no quadro vétero-testamentário da necessidade da «justiça», isto é, de uma fé que leva à realização da vontade de Deus na vida do dia a dia.

    Jesus não exalta os pecadores, nem despreza os devotos, como poderia parecer, à primeira vista. Mas anuncia a extraordinária proximidade de Deus em relação aos pecadores a quem oferece a possibilidade de mudarem de vida. Mas também denuncia a incoerência de tantos crentes, representados no primeiro filho, obediente apenas nas palavras. O contraste entre publica nos e prostitutas e os homens da religião (vv. 31-32) não é tanto uma condenação dos segundos, quanto um derradeiro convite à sua conversão.

    Meditatio

    «Ai da cidade rebelde, manchada e opressora! Ela não ouviu o apelo, nem aceitou o aviso; não confiou no SENHOR, nem se aproximou do seu DeU9>. Jesus vem até nós na humildade, na simplicidade e na pobreza. É também na humildade, na simplicidade e na pobreza que havemos de nos preparar para ir ao seu encontro, para O acolhermos. O orgulho impede-nos a aproximação a Jesus, porque não reconhecemos a nossa carência de salvação.

    Também é importante preparar-se para o Natal, vivendo na verdade. A mentira é a nossa protecção inconsciente. Mentimos a nós mesmos, mesmo sem nos darmos conta disso, para nos defendermos, para não reconhecermos que estamos cheios de coisas e, sobretudo, de nós mesmos, e que, desse modo, não agradamos a Deus. «O resto de Israel não cometerá mais a iniquidade nem proferirá mentiras; não se achará mais na sua boca uma língua enganadora». A vivência da verdade aproxima-nos do «resto» de Israel, o povo simples, pobre e humilde, que estava disposto para receber o Senhor.

    A parábola evangélica é um aviso para nós. Há que evitar a atitude do filho mais velho: diz que vai para a vinha; mas não vai. É preciso afastar toda a incoerência da nossa vida. Há que não cair numa obediência meramente formal. Caso contrário, corremos o risco de reduzir a nossa justiça moral e religiosa a simples fachada, esquecendo-nos de procurar e cumprir a vontade de Deus, como expressão do nosso amor para com Ele.

    A melhor defesa contra estas tentações é contemplar o estilo do nosso Deus, que convida à conversão e derrama as suas bênçãos sobre os simples, os pobres, os humildes, sobre aqueles que apenas confiam n ' Ele, e não nos seus próprios méritos.

    Maria é a imagem mais expressiva daqueles que esperam e acolhem o Salvador. Ela é a mais pobre entre os "pobres de Jahvé", os "anawiti', que não tendo prestígio ou poder humano, se apoiam unicamente em Deus, se abandonam totalmente a Ele, e dizem como a Virgem: "faça-se em Mim segundo a tua palavra", isto é: faz de mim o que quiseres. Deus doa-Se totalmente a eles: aos simples, aos pobres e humildes.

    Maria é, pela Sua vida, um sim total à vontade de Deus. Nela revive, aperfeiçoado o "sim" de Abraão, que preanuncia o "sim" total de Cristo à vontade do Pai, até à "kénosiS', ao aniquilamento (cf. Fil 2, 8).

    Mas, como o Pai encheu Cristo da Sua glória (cf. Fil 2, 9-11), assim também enche Maria com a Sua graça C'kekaritomene: cheia de graça; Lc 1, 28). A humildade não anula a personalidade de Maria, mas potencia-a, porque dá espaço à fé, à caridade, a Deus; é um vazio que se enche da plenitude da graça.

    Oratio

    Senhor, que eu Te sirva sempre com coerência e verdade, jamais cedendo à mentira, ao fingimento, à mania de cultivar uma imagem que não corresponda à minha realidade. Que o teu Filho, feito homem, me liberte de mim mesmo, da excessiva preocupação com os meus interesses pessoais, para que possa responder com generosidade e entusiasmo ao mandato de cuidar da tua vinha. Que a minha adesão à tua vontade não se reduza a belas palavras, mas seja um "sim" decidido e generoso aos teus projectos!
    Hoje, mais uma vez, me apresento diante de ti, confiando, não nos meus méritos, mas na tua misericórdia e fidelidade. Acolhe-me como acolheste os pecadores, que reconheceram a sua condição, e acolheram o teu perdão. Amen.

    Contemplatio

    Consideremos mais de perto em que condições Deus nos deu o seu Filho. Não era apenas o pecado de Adão que se encontrava sob o olhar de Deus, mas também todos os seus séquitos e todas as suas consequências, até às nossas ingratidões e até mesmo os abusos que faríamos da graça da Redenção. Era, numa palavra, o mundo coberto da lepra do pecado como de um manto hediondo e repugnante. E, no entanto, Deus não desdenhou ter piedade de nós. Ele não podia dar-nos o seu Filho como irmão nem como rei, a menos que no-lo desse primeiro como resgate, como vítima de expiação e de reparação. Para isso era necessário enviá-lo para sofrer. Quis fazê-lo. Revestiu-o com uma carne semelhante à do homem pecador: Fi/ium suum, mittens in simi/itudinem carnis peccati (Rom 8, 5) ...

    O sacrifício de Abraão foi apenas a sombra do sacrifício que Deus Pai fez do seu Filho. O sacrifício de Abraão não teve o seu efeito, o de Jesus Cristo foi consumado pelo seu Pai, sobre o calvário. E era a Deus que Abraão imolava o seu filho Isaac, ao passo que Deus Pai imolava o seu próprio Filho em favor dos homens. Quando não deve ter custado ao amor infinito deste Pai para arrancar assim o seu próprio Filho do seu seio e no-lo entregar! Se Deus pudesse sofrer, que sofrimento infinito teria suportado! Mas o seu amor por nós tudo superou.

    Santo Agostinho, um dos doutores que mais admirou a excelência deste dom divino, exclama: Non satiabor considerare a/titudinem consi/ii tui super sa/utem generis humani (Conf. IX, 6): Não, nunca deixarei de estudar e de contemplar esta maravilha, a ela voltarei sem cessar, hei-de contemplá-Ia ainda e sempre, disso nunca me fatigarei, aí hei-de encontrar sempre novos motivos de admiração: non satiabor. S. Paulo também não deixava de se extasiar diante da altura, da largura e da profundidade do plano divino, na Redenção. E Santo Agostinho ainda aflito por ver como este dom celeste era desconhecido e tão pouco saboreado, lançava este desafio a todos os homens: «A/iud desidera si me/ius inveneris: Procurai, procurai por toda a parte e sempre, eu vos desafio a encontrar algo de mais belo, de maior, de mais doce, de melhor para vós mesmos» (S. Aug., ln ps. 26 enarr.).

    Rezemos a Deus para que nos faça conhecer este excesso e este prodígio de amor; digamos-lhe com Santo Agostinho: Ignis qui semper ardes accende me (So/iI. Ad Dom. ch. 34). Fogo ardente que queimais sem cessar no coração de Deus, abrasai-me com um ardor recíproco, com um amor de retorno. Queira Nosso Senhor renovar espiritualmente para nós a graça que Ele fez a Santa Maria Madalena de Pazzi ao enviar Santo Agostinho para gravar no seu coração estas palavras: «Et Verbum caro factum est O Verbo fez-se carne». Estas palavras divinas eram como a madeira do sacrifício destinada a alimentar perpetuamente no coração da santa o fogo do holocausto (Leão Dehon, OSP 2, p. 196s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Senhor, Tu és o meu refúgio»

  • 03ª semana do Advento - Quarta-feira

    03ª semana do Advento - Quarta-feira


    14 de Dezembro, 2022

    Tempo do Advento Terceira Semana - Quarta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 45, 6b-8.18.21b-25

    Leitura do Livro de Isaías
    «Eu sou o Senhor e não há outro. Formo a luz e crio as trevas, dou a felicidade e crio a desgraça. Sou Eu, o Senhor, que faço tudo isto. Derramai, ó céus, o orvalho lá do alto e as nuvens chovam a justiça; abra-se a terra e germine a salvação e com ela floresça a justiça. Sou Eu, o Senhor, que o realizo». Assim fala o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra e a consolida, que não a criou para ficar deserta, mas a formou para ser habitada: «Eu sou o Senhor e não há outro». Quem anunciou tudo isto no passado? Quem o predisse há tanto tempo? Não fui Eu, o Senhor? Não há outro Deus além de Mim; Eu sou o Deus justo e salvador e não há outro. Voltai-vos para Mim e sereis salvos, todos os confins da terra, porque Eu sou Deus e não há outro. Juro pelo meu nome, é justo o que sai da minha boca, a minha palavra é irrevogável: Diante de Mim se hão-de dobrar todos os joelhos, em meu nome hão-de jurar todas as línguas, dizendo: ‘Só no Senhor está a justiça e a fortaleza’». Hão-de vir, cobertos de vergonha, à sua presença todos os que se levantaram contra Ele. No Senhor terá salvação e glória toda a descendência de Israel.

    No início do capítulo 45, Isaías dirige-se a Oro, com um hino a Deus que salva o seu povo exactamente por meio desse rei pagão, chamado pelo profeta ungido do Senhor (cf. Is 45, 1). Só o Deus de Israel é o Senhor, porque só Ele é o criador de tudo quanto existe (luz e trevas; salvação e desgraça). A sua acção dá origem a algo de "radicalmente novo", desde o primeiro ao último dia. Ecoa no texto a palavra: «Eu sou o senhor»(JHWH). É um modo de afirmar a unicidade de Deus, o seu poder e a sua senhoria absoluta sobre a história humana.
    A criação do mundo manifesta o seu poder. De uma realidade vazia e sem sentido, Deus deu a finalidade positiva e altíssima de ser habitação da humanidade (v. 18). Mas a máxima expressão da sua senhoria manifesta-se na vontade e na capacidade de salvar a humanidade (w. 21-22), e em suscitar nela uma sincera busca de justiça e de bem (v. 8). Assim se revela como «Deus justi», isto, capaz de estabelecer uma relação de comunhão e de aliança, um Deus salvador.

    Deus domina sobre o mundo e sobre a humanidade. Nada pode opor-se à sua vontade. A sua acção em favor dos fiéis, apesar de misteriosa e imprevisível, manifesta a sua incomparável unicidade. Israel, povo que pertence a esse Deus, deve torná-lo conhecido por todos os povos.

    Evangelho: Lucas 7,19-23

    Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
    Naquele tempo, João Baptista chamou dois dos seus discípulos e enviou-os ao Senhor com esta mensagem: «És Tu Aquele que havia de vir ou devemos esperar outro?» Ao chegarem junto de Jesus, os homens disseram-Lhe: «João Baptista mandou-nos perguntar-Te: ‘És Tu Aquele que havia de vir ou devemos esperar outro?’» Nessa altura Jesus curou muitas pessoas, de doenças, padecimentos e espíritos malignos, e deu a vista a muitos cegos. Então respondeu-lhes: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho; e feliz daquele que não encontrar em Mim ocasião de queda».

    João Baptista é um crente em Deus, que vive para Ele, sempre aberto disponível às suas iniciativas. Por isso, sabe reconhecê-lo no misterioso homem da Galileia, que vem fazer-se baptizar por ele, no Jordão, Jesus de Nazaré.

    Mas, na escuridão da prisão de Herodes, é invadido pelo medo, pela tristeza, pela dúvida: ter-me-eí enganado ao ver em Jesus o Cordeiro de Deus? Mas a sua fé é grande. Em vez de a pôr em discussão, manda embaixadores a João, pedindo luz para compreender. Torna-se, pois, ainda mais pobre, fazendo-se simples interrogação: «És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?» (v. 19).
    Jesus responde aos embaixadores apontando as obras que anda a fazer (v. 21).

    Não apenas os milagres que dão testemunho dele, mas o que eles significam. São sinais de que começou uma nova humanidade, que sabe acolher a palavra de Deus, ver as maravilhas que Ele faz e caminhar pelos seus caminhos: «a Boa-Nova é anunciada aos pobres» (v. 22c).

    O estilo paradoxal da acção de Deus em Jesus não escandalizará um pobre prisioneiro, como é João. Pelo contrário, torná-lo-á muito «feliz» (v. 23).

    Meditatio
    «Destilai, Ó céus, lá das alturas o orvalho, e que as nuvens façam chover a justiça». Isaías oferece-nos, hoje, uma aclamação que traduz perfeitamente o estado de alma de quem vive o Advento. Por isso é que a Igreja a repete tanta vez na sua oração durante este tempo litúrgico. O profeta manifesta o desejo de uma intervenção divina, porque está convencido de que a justiça e a salvação só podem vir de Deus. Ao contrário de tantos outros textos, em que a intervenção de Deus é comparada a uma tremenda batalha contra os maus, aqui é comparada a uma calma e benéfica orvalhada, ao mistério de uma chuva fecunda. São imagens adequadas ao mistério da Incarnação, que não se realizou de modo estridente, mas com infinita discrição, na «sombra» do Espírito Santo. À intervenção divina deve corresponder a nossa discreta disponibilidade: «Abra-se a terra» E a terra abriu-se, quando a Virgem de Nazaré deu o seu "sim": «Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38).

    O evangelho de hoje apresenta-nos João rendido a Cristo, dando testemunho dele com a sua vida. João é também "terra aberta" ao Verbo de Deus feito homem, um verdadeiro disponível, um verdadeiro "pobre de Deus", que Jesus proclama bem¬aventurado. O Baptista é imagem do crente que caminha na paciência e que está sempre disponível a reformular as suas expectativas perante o imprevisível estilo da vinda de Deus. Assim vai aprofundando a sua esperança até ao supremo testemunho do sangue.

    João ensina-nos que, mesmo a fé mais forte e sincera pode coexistir com a dúvida e que a maneira de vencer essa dúvida é a oração. Renunciando a pôr em causa a promessa de Deus e revendo os nossos modos limitados de ver a promessa divina de esperar a sua realização, encontramos a paz.

    À fé que se torna invocação, Deus responde oferecendo-nos um novo olhar que nos permite ver os sinais do seu amor na nossa vida e os sinais daquela humanidade nova que continua a criar, ainda hoje. Assim, com a palavra de Isaías, descubro que Deus pode e quer salvar o seu povo, mesmo quando as aparentes contradições da história parecem mostrar o contrário. O modo de agir de Deus é misterioso e incomparável às soluções humanas para os mesmos problemas. Deus gosta de surpreender.

    A fé de Maria é a síntese, o coroamento da fé do Antigo Testamento. Toda a história humana, conscientemente (em Israel) ou inconscientemente (fora de Israel), é uma espera da salvação, um suspiro, um grito que se ergue para Deus: "Destilai, ó céus, lá das alturas o orvalho, e que as nuvens façam chover a justiça. Abra-se a terra para que floresça a salvação» (Is 45, 8): é tudo um imenso acto de fé expresso, em Israel, ao longo dos séculos, pela disponibilidade dos Patriarcas, da história do povo eleito, da clarividência dos Profetas, entre os quais, João Baptista. Mas só a fé de Maria faz transbordar o tempo na sua plenitude. A Virgem torna-se, Ela mesma, o Advento do Salvador. "A fé de Abraão - afirma a Redemptoris Mater - constitui o começo da Antiga Aliança; a fé de Maria, na Anunciação, dá início à Nova Aliança" (n. 14).

    A Virgem acreditou, disse "sim", aderiu ao projecto e à realização do projecto da salvação para Si e para todos nós. É o mistério do "fiar' (faça-se) de Maria, de que mal compreendemos a profundidade e o alcance. Ao pronunciar o Seu "fiar' (faça-se) a Virgem, não só consentiu na redenção em nome de toda a humanidade, mas também disse sim a todos os mistérios cristãos: ao mistério da vida divina nas almas por meio da graça, à Eucaristia, ao sacerdócio, a todas as fontes da santidade. Por isso, com dizem as nossas Constituições (n. 85) «Pelo seu Ecce ancilla (Eis a serva), estimula-nos à disponibilidade na fé: é a imagem perfeita da nossa vida religiosa».
    O que é verdade, em primeiro lugar sobre Cristo, também é verdade, de modo subordinado acerca da Virgem: "Deus omnia nos voluit habere per Mariam ... Deus quis-nos dar tudo por Maria!".

    O cristianismo, nos seus séculos de história, nada mais fará do que reviver a fé de Maria, haurindo-a no Seu coração de Mãe, no mistério da Sua sublime missão materna, que Lhe foi confiada pelo Salvador ao morrer na cruz (cf. Jo 19, 26-27), de tal modo que, todos aqueles que, pela fé, são filhos de Deus, são também pessoalmente filhos de Maria.

    Oratio
    Vem, Senhor Jesus! Vem, para que a Terra deixe de ser um caos, devido à violência das guerras, das injustiças e da corrupção, em todas as suas formas.
    Vem, Senhor Jesus! Vem, para que a Terra se torne um lugar habitável e habitado.
    Vem, Senhor Jesus! Vem, revela-nos, mais uma vez, e leva a termo o projecto manifestado no mistério da tua Incarnação.
    Vem, Senhor Jesus! Vem, dá vista aos cegos, cura os coxos, sara os leprosos, dá ouvido aos surdos, ressuscita os mortos, anuncia aos pobres a Boa Nova.
    Vem, Senhor Jesus! Vem, para que não esperemos outro, mas Te acolhamos na f'l e.
    Vem, Senhor Jesus! Vem, e introduz-nos a todos no mistério de Deus-Amor. Vem, Senhor Jesus! Vem, para que todos Te reconheçam como Filho do Pai e nosso Salvador.
    Vem, Senhor Jesus! Vem, para que todo o joelho se dobre diante de Ti, e toda a língua Te proclame «Senhor». Amen.

    Contemplatio
    Depois da partida dos enviados de João, Nosso Senhor falou aos discípulos sobre a mortificação do Precursor. Chamou-lhes a atenção para a sua estadia no deserto, para o seu desprezo pelo vestuário caro e pelas alegrias do mundo, para o seu amor ao jejum e às austeridades: neque manducans panem, neque bibens vinum (Lc 7, 7).
    Nosso Senhor indica deste modo sucessivamente, e segundo as circunstâncias, todas fontes da graça: a paciência, a fé, a docilidade ao Espírito, a mortificação. É porque quer preparar-nos para uma grande união com Ele.
    A Igreja agiu sabiamente ao pôr sob os nossos olhos todos estes ensinamentos, para nos preparar para a grande festa do Natal. As graças, que havemos de receber, serão proporcionais à nossa preparação. (Pe. Dehon, OSP 4, p. 558).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: « Vinde a mim e sereis salvos» (Is 45, 22).

  • 03ª semana do Advento - Quinta-feira

    03ª semana do Advento - Quinta-feira


    15 de Dezembro, 2022

    Tempo do Advento Terceira Semana - Quinta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 54, 1-10

    1 *Exulta de alegria, estéril, tu que não tinhas filhos, entoa cânticos de júbilo, tu que não davas à luz, porque os filhos da desamparada são mais numerosos do que os da mulher casada. É o Senhor quem o diz. 2Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas, 3porque vais aumentar por todos os lados. Os teus descendentes possuirão as nações, e povoarão cidades desertas. 4Não tenhas medo, porque não voltarás a ser humilhada. Não te envergonhes, porque não voltarás a ser desonrada. Esquecer-te-ás da vergonha do teu estado de solteira, e não te lembrarás do opróbrio da tua viuvez. 5Com efeito, o teu criador é que é o teu esposo, o seu nome é Senhor do universo. O teu redentor é o Santo de Israel, chama-se Deus de toda a terra. 60 Senhor chamou-te novamente como a uma mulher abandonada e angustiada. Na verdade, como se pode repudiar a esposa da juventude? É o teu Deus quem o diz. 7Por um curto momento Eu te abandonei, mas, com grande amor, volto a unir-me contigo. 8Num acesso de ira, e por um instante, escondi de ti a minha face, mas Eu tenho por ti um amor eterno. É o Senhor teu redentor quem o diz. 9*Vou agir como no tempo de Noé: jurei que nunca mais o dilúvio se abateria sobre a terra. Do mesmo modo, juro nunca mais me irritar contra ti, nem te ameaçar. 10Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará. Quem o diz é o Senhor, que tanto te ama.
    Isaías apresenta Sião, isto é, a comunidade de fiéis gerada pela morte do Servo do Senhor (Is 53), como aquela que experimenta a renovação da Aliança, o reflorir de um amor conjugal e o reatar da relação íntima e amorosa, que liga Deus ao seu povo redimido.
    O profeta revisita a história do povo eleito, servindo-se da imagem do amor esponsal entre Deus e Sião. O exílio é comparado à viuvez e ao repúdio (v. 4), e a tragédia que caiu sobre Jerusalém, à esterilidade de uma mulher ansiosa por ter numerosos filhos (v. 1). Mas o Senhor inverte a sorte do seu povo. Jerusalém, com o regresso dos exilados, e o repovoamento da cidade, experimenta a vitalidade de um amor que parecia irremediavelmente perdido. A fecundidade miraculosa é sinal da bênção do esposo divino que, na verdade, nunca rejeitou a sua esposa, mesmo nos momentos dolorosos e pesados em que o povo de Sião se sentiu esquecido e castigado por Deus. Como, depois do Dilúvio, Deus se comprometeu com Noé a uma aliança eterna (cf. Gn 9, 9ss.), assim, agora, se compromete com uma aliança incondicionada e eterna em favor do povo dos exilados. Essa aliança fundar-se-á, não na infidelidade de Sião, mas na fidelidade indefectível de Deus (w. 9-10).

    Evangelho: Lucas 7, 24-30

    24*Depois de os mensageiros de João Baptista se terem retirado, Jesus começou a dizer à multidão acerca dele: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? 25Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas finas? Os que usam trajes sumptuosos vivem regaladamente e estão nos palácios dos reis. 26*Que fostes ver, então? Um profeta? Sim, Eu vo-to digo, e mais do que um profeta. 27É aquele de quem está escrito: 'Vou mandar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de ti. ' 28*Digo-vos: Entre os nascidos de mulher não há profeta maior do que João; mas, o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que ele.» 29E todo o povo que o escutou, bem como os cobradores de impostos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o baptismo de João. 30*Mas, não se deixando baptizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito.
    Jesus, depois de despedir os embaixadores, faz perguntas sobre João Baptista que visam recolher o consenso dos ouvintes. Quer levá-los a reconhecer em João, não um simples profeta, mas aquele que abriu caminho a Cristo. João é o verdadeiro profeta que busca a Deus no deserto, na penitência, com fé firme, que não aceita compromissos com o mundo, que não quer dar nas vistas (vv. 24-25). Mas esta interpretação da figura de João não atinge o significado mais profundo da sua missão. Por isso, Jesus aponta-o como o mensageiro de que falou Malaquias (MI 3, 1), o precursor do Messias, aquele que aponta uma etapa radicalmente nova da história da salvação, quando pede o reconhecimento da necessidade de conversão.
    O elogio de João torna-se uma reprimenda para quem se julga justo e não precisar de conversão. As palavras finais do evangelista são muito severas: «não se deixando baptizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito (v. 30).

    Meditatio

    O profeta Isaías leva-nos, hoje, a meditar sobre o amor esponsal de Deus pelo seu povo, por cada um de nós, e sobre a importância que a «provação» pode ter numa caminhada de fé. Somos convidados a reconhecer-nos na figura feminina de Sião, que se sentia como uma mulher «abandona e aflitéP>, que agora experimenta a alegria de se sentir amada por um esposo fiel, que não repudia a companheira da sua juventude, mas a ama ainda mais ternamente. A provação da fé abre ao acolhimento de uma comunhão ainda mais profunda, simbolizada na união do homem e da mulher. Abre também a uma confiança mais forte na fidelidade de Deus.
    Porque é que «o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que e/~>, João Baptista? A resposta é a nova criação. O Reino de Deus trazido por Cristo é uma mudança radical. Quem entra nele, recebe uma vida nova, não já a nível humano, mas a vida dos filhos de Deus. É esta a maravilha que nos espera. O Filho torna-nos participantes da sua filiação. Trata-se de um dom gratuito de Deus, que recebemos contra todas as nossas expectativas e capacidades humanas. O profeta proclamava: «Exulta de alegria, estéril, tu que não tinhas filhos, entoa cânticos de júbilo, tu que não davas à luz, porque os filhos da desamparada são mais numerosos do que os da mulher casada. É o Senhor quem o di», A fecundidade natural na nova criação transfigura-se: a imaculada Conceição de Maria é o começo de um mundo novo. O Filho de Maria é o Filho de Deus.

    O evangelho incita-nos ao testemunho de todas estas realidades por meio da meditação da figura de João Baptista, testemunha de Cristo. A sua figura indica-nos a firmeza, a coragem e a perseverança com que havemos de dar esse testemunho.
    Jesus termina alertando-nos para o perigo de não fazermos da escuta da palavra de Deus uma verdadeira ocasião de conversão. Sem essa conversão, não é possível experimentar o amor esponsal de Deus pelo seu povo, o amor esponsal de Cristo pela sua Igreja, isto é aquela rela&ccedi
    l;ão íntima entre Deus e o Seu povo, entre Cristo e a Sua Igreja, aquela relação a que todos somos chamados (cf .. 2 Cor 11, 2; Ef 5, 21-32; Apoc 19, 7-8; 22, 17.20). A união entre nós e Cristo é mais profunda e íntima do que a que existe entre dois esposos que "formam uma só carne' (Ef 5, 31). Com Cristo somos uma só vida (cf. Gal 2, 20). A nossa reparação "como resposta ao amor de Cristo por nós" (Cst. 23) tem esta força, este sentido profundo. Para além de todo o devocionismo sentimental, Cristo é, de verdade, para nós, um esposo de sangue: "Amou-me e entregou-Se por mini' (Gal 2, 20); "vemos no Lado aberto do Crucificado o sinal do amor que, na doação total de Si mesmo, recria o homem segundo Deus" (Cst. 21).

    Oratio
    Senhor, quero, hoje, cantar a tua fidelidade, o teu amor invencível, a tua ilimitada ternura. Tu és um Deus próximo, um Deus cujos caminhos são verdade! Tu és o Esposo de Sião, o redentor de Israel! Tu inclinaste-te sobre a nossa pobreza e enriqueceste-nos com o dom de Ti mesmo! Tu curvaste-te sobre o nosso pecado e curaste-nos! Tu afastaste a nossa vergonha e revestiste-nos de Ti!
    Tu abriste-nos as portas do Reino, onde o mais pequeno é imensamente grande, porque é teu filho. Por ele, fez-se homem e morreu na cruz o teu Filho unigénito.
    Por nosso amor, na plenitude dos tempos, abristes o céu, e enviaste-nos o teu Filho, que se fez nosso companheiro de viagem, nosso irmão e nosso Senhor! Glória e louvor a Ti, pelos séculos dos séculos! Amen.

    Contemplatio

    A mortificação é uma condição para a vida sobrenatural, e Deus já a tinha louvado desde a antiga Lei: «A sabedoria não se encontra naqueles que vivem em aeüass», diz Job (28, 13).
    Nosso Senhor deu, Ele mesmo, o exemplo da mortificação: Cristo não se comprazeu em a si mesmo, diz S. Paulo, mas realizou o que fora dito no Salmo 68: tomei sobre mim, meu Deus, para os expiar, os pecados cometidos contra vós (Rm 15, 3).
    Não devia Ele, de acordo com a sua missão, reparar os pecados dos homens e indicar aos discípulos um remédio contra os perigos da sensualidade? Foi por nosso amor que praticou a mortificação; é por uma justa correspondência ao seu amor que a devemos praticar, conforme o conselho de S. Paulo: «Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso cortx» (2 Cor 4, 10).
    Pela mortificação, vivemos à semelhança, ou, melhor, vivemos n ' Ele, e prolongamos em nós a sua vida de vítima para glória de Deus e salvação das almas. «Exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus» (Rm 12, 1): E ainda: «Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro,fomos tratados como ovelhas destinadas ao mstedoaro (Rm 8, 36).
    É um remédio necessário contra o pecado da sensualidade. É uma morte que dá a vida: «É que, se viverdes de acordo com a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis» (Rm 8, 13).
    S. Agostinho diz-nos isso em duas palavras: Morrei para viver - Morere ut vivas (De verbo Apost.). E resume algures as regras da mortificação em duas palavras recolhidas na filosofia: Sustine et abstine: sofrei tudo o que se apresentar; abstei-vos de tudo o que possa deleitar-vos os sentidos à custa do espírito. Morrei para o mundo e para vós mesmos, para viverdes em Jesus e com Jesus.
    Destruí em vós o amor próprio, para reinar em vós a caridade, o amor de Deus, que é a verdadeira vida da alma. (Pe. Dehon, OSP 4, p. 558s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Amei-te com um amor eteno (Is 54, 8).

  • 03ª semana do Advento - Sexta-feira

    03ª semana do Advento - Sexta-feira


    16 de Dezembro, 2022

    Tempo do Advento Terceira Semana - Sexta-feira

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 56, 1-3.6-8

    1 *Eis o que diz o Senhor: «Respeitai o direito, praticai a justiça, porque a minha salvação está mesmo a chegar, e a minha vitória prestes a aparecer. 2Feliz o homem que assim procede, e o mortal que assim actua com firmeza, que guarda o sábado sem o profanar, e conserva as suas mãos limpas de toda a obra má. 3*Não diga o estrangeiro que se converteu ao Senhor: 'O Senhor me excluirá do seu povo. 'E não diga o eunuco: 'Eu sou apenas um lenho seco. ~> 6Quanto aos estrangeiros que se converterem ao Senhor, para o servirem e amarem e serem seus servos, se guardarem o sábado sem o profanar, e forem fiéis à minha aliança, 7*hei-de conduzi-los ao meu santo monte, hei-de cumulá-los de alegria na minha casa de oração; os seus holocaustos e sacrifícios ser-me-êo agradáveis sobre o meu altar, porque a minha casa é casa de oração, e assim será para todos os povos 8-oráculo do Senhor Deus, que reúne os exilados de Israel: 'Hei-de reunir ainda outros aos que já foram reunidos.
    Isaías vê Sião como o centro a partir do qual Deus ilumina o mundo inteiro. Por isso exorta os seus habitantes a respeitar o direito e a praticar a justiça, caminhos de salvação. E essa salvação é oferecida a todos aqueles que sabem levar o culto para a vida e a vida para o culto. Ninguém que faça essa síntese é excluído, mesmo que seja eunuco ou estrangeiro. E todos podem participar no culto de Deus. Como o levita pode ser recebido no corpo sacerdotal para servir a Deus, também o estrangeiro poderá entrar na comunidade cultual. Isaías irá ainda mais longe, apontando a escolha de sacerdotes e levitas para Deus também entre as nações pagãs (Is. 66, 21).
    A condição para pertencer ao povo de Deus e à comunidade cultual é uma vida fiel à Aliança. Deus abre a todos a sua casa, o seu templo, para que todos façam experiência da sua misericórdia (v. 7). Não há privilégios de raça ou de qualquer outra condição.

    Evangelho: João 5, 33-36

    Naquele tempo, Jesus disse aos Judeus: 31 *«Se Eu testemunhasse em favor de mim o meu testemunho não teria valor; 32há outro que testemunha em favor de mim, e Eu sei que o seu testemunho favorável a mim é verdadeiro. 33Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. 34Não ~ porém, de um homem que Eu recebo testemunho, mas digo-vos isto para vos salvardes. 35João era uma lâmpada ardente e luminosa, e vós, por um instante, quisestes alegrar-vos com a sua luz.

    36Mas tenho a meu favor um testemunho maior que o de João, pois as obras que o Pai me confiou para levar a cabo, essas mesmas obras que Eu faço, dão testemunho de que o Pai me enviou.
    A controvérsia de Jesus com os chefes do povo, que O acusam de violar o sábado (cura do paralítico: Jo 5, 16-18), está ao máximo. Esta controvérsia simboliza o choque entre a fé e a incredulidade.
    Jesus justifica as suas acções como participação na obra do Pai. Depois enfrenta as acusações feitas contra Ele e contra a revelação que faz do Pai. A sua revelação é autêntica, porque o Pai dá testemunho d ' Ele nas obras que Lhe permite fazer. Se não conseguem ver isso em Jesus, então podem escutar o testemunho de João Baptista, em quem acreditam. O evangelista João refere-se várias vezes ao testemunho do Baptista, que reconhece mas, ao mesmo tempo, relativiza (cfr Jo 1, 6.8.15; 3, 22-30). De facto, afirmando que João foi uma lâmpada viva e luminosa (v. 35) lembra que ele era apenas um homem e que a força do seu testemunho lhe vinha de Deus. O Pai também dá testemunho de Jesus por meio das Escrituras e por meio das «obras» que Jesus realiza, mostrando que elas estão em sintonia com o Seu modo de agir em favor da vida e da liberdade dos homens (v. 17).
    Meditatio
    Deus quer que todos os homens se salvem. As palavras de Isaías levam-nos a contemplar, admirados e agradecidos a imensa misericórdia de Deus para connosco. Convocou-nos, também a nós, de um povo que não era o seu povo. Convida todos os povos a participar na Sua vida e a servi-Lo. Ninguém pode permanecer longe do seu amor e da sua intimidade, alegando indignidade pela sua condição de criatura ou pelo seu pecado. Não nos pede títulos de mérito, mas apenas a busca da sua vontade e o desejo de habitar na sua «casa de oreçãt», o desejo de intimidade com Ele.
    Na casa do Senhor, escutamos a Palavra da Escritura, onde pulsa o coração de Cristo. A mesma Palavra traz até nós o eco da pregação de João Baptista que nos aponta o Cordeiro, o Esposo das nossas almas, Aquele que há-de vir encher-nos de luz e iluminar o nosso caminho.
    A Palavra da liturgia leva-nos a entrever algo do mistério de amor e de comunhão que liga o Filho ao Pai e que faz da pessoa de Jesus e das suas obras a manifestação perfeita do Rosto do Pai, que não quer julgar-nos, mas nos oferece a vida e a libertação.
    O Advento é tempo de grandes promessas e de grandes expectativas.
    Escutemos e saboreemos a promessa que, hoje, Deus, nosso Pai, nos faz: «Hei-de conduzi-los ao meu santo monte, hei-de cumulá-los de alegria na minha casa de oreção. (v. 7). Deus quer encher-nos de alegria. A ternura e a generosidade do seu coração paterno manifestam-se nesta promessa. Deus quer para nós uma felicidade total, uma superabundância de felicidade. Convencer-nos disso é já uma enorme alegria, uma luz para a nossa vida.
    Como só na intimidade com Deus é que podemos encontrar a alegria e a felicidade, Ele quer conduzir-nos ao seu monte santo, e dar-nos um lugar na sua «casa de orsçêo-, isto é, um lugar onde nos relacionemos com Ele de modo confiante: «Felizes os que habitam na vossa casa, Senhor!» (SI 83 (84), 3). As nossas inclinações naturais levam-nos, muitas vezes, a procurar a felicidade noutros lugares. A liturgia do Advento orienta-nos na busca: «Uma só coisa pedi ao Senhor, e por ele anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para saborear como o Senhor é bom» (SI 26 (27), 4). Assim nos dispomos para ser repletos de alegria na casa do Senhor.

    A Eucaristia é, por excelência, «a casa do senho», onde se realiza, desde já, no modo mais profundo, o encontro de amor entre Deus e o homem. Nela se estreitam as relações entre o céu e a terra, entre o tempo e a eternidade. A comunhão eucarística, e a Presença eucarística, que adoramos, preparam-nos para a posse de Deus e para a visão beatífica. São sua antecipação e penhor eficaz. Os véus eucarísticos estão destinados a rasgar-se completamente depois da nossa morte. A santa humanidade de Cristo, que veremos de maneira descoberta, tornar-se-é o templo transparente da majestade de Deus. Realizar-se-á plenamente a resposta dada por Jesus a Filipe:

    "Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta" ... Filipe, "quem Me vê, vê o Pai. .. Não acreditas que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim?' (Jo 14, 8-10: cf. Jo 2, 19-22; 4, 21-24).
    Na vida eterna, mais nenhum véu se interporá entre nós e a Presença divina.
    Será o "Sim" eterno à Verdade, ao Amor, à Felicidade. Será o Paraíso. Nas nossas adorações eucarísticas, roguemos ao Senhor: "rasguem-se estes véus e apareça a Majestade eterna, o rosto do Pai, no templo de amor do coração de Cristo!".

    Oratio

    Senhor, obrigado por a chamares todos os povos, e a cada um dos homens, também a mim, à salvação, à intimidade Contigo, a partilhar a tua vida e a tua bem¬aventurança. Obrigado por nos conduzires ao teu monte santo, à tua casa de oração.
    Quero viver na tua presença. Quero fixar em Ti o meu coração, acolher o teu amor que sacia a minha sede de felicidade, de bem, de paz. Quero manifestar-Te os meus sentimentos de afecto. Se alguma vez verificar que me afastei de Ti, quero rapidamente voltar à tua presença, à tua intimidade, à união Contigo. Para isso, quero viver em estreita união com o teu Filho Jesus, particularmente na Eucaristia celebrada, comungada, adorada.
    Com a Igreja, quero suplicar-Te, hoje: rasguem-se estes véus e apareça a Majestade eterna, o teu rosto de Pai, no templo de amor do coração de Cristo, teu Filho!
    Amen.

    Contemplatio

    É preciso amar particularmente a santíssima Eucaristia. É preciso, sobretudo, não esquecer a presença eucarística de Nosso Senhor. Podemos aplicar as suas palavras evangélicas: «Eu estou sempre convosco (Mt 28, 20). E ainda: «Não vos deixarei ártêos» (Jo 14, 18).
    Nosso Senhor está nos nossos sacrários, cheio de amor e de dedicação. Espera as nossas visitas, os nossos pedidos, os nossos colóquios, as nossas provas de afecto. Deseja que as almas e votadas ao seu Coração O visitem com frequência, Lhe façam companhia, O consolem da indiferença da maior parte dos homens.
    Mas Ele não está só nos sacrários. Vem a nós na comunhão: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nete. (Jo 1, 57). As sagradas espécies não limitam Nosso Senhor nas suas dimensões; Ele penetra intimamente aquele que O recebe. A sua alma penetra a nossa alma, o seu Coração vivifica o nosso coração, a sua carne santifica a nossa carne. Compraz-Se em abraçar todo o nosso ser (Leão Dehon, OSP 4, p. 575).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Felizes os que habitam na vossa casa, senhor» (SI 83 (84), 3).

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 17 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 17 Dezembro


    17 de Dezembro, 2022

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 17 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Génesis 49,2.8-10

    Naqueles dias, Jacob chamou os filhos e disse-lhes: 2 Ajuntai-vos para escutar, filhos de Jacob. Para escutar Israel, vosso pai.
    8*A ti, Judá, teus irmãos te louvarão. A tua mão fará curvar o pescoço dos teus inimigos. Os filhos de teu pai inclinar-se-ão diante de ti! 9Tu és um leãozinho, Judá; quando regressas, ó meu filho, com a tua presa! Ele deita-se. É o repouso do leão e da leoa; quem ousará despertá-lo? 10*0 ceptro não escapará a Judá, nem a autoridade à sua descendência, até que venha aquele a quem pertence o comando e ao qual obedecerão os povos.
    Jacob moribundo reúne a família e pronuncia palavras consideradas sagradas e proféticas sobre o futuro dos seus doze filhos e da descendência deles. Refere-se especialmente a Judá, pai da tribo homónima, na qual haveria de nascer o Messias (cf. vv. 8- 10). Esta profecia, que remonta ao tempo de Isaías (século VIII-VII), é misteriosa, mas exalta a superioridade de Judá entre os seus irmãos por causa da sua força real, semelhante à do leão, e pelo «ceptro» e pela autoridade (v. 1Qa), que exercerá sobre as tribos de Israel e sobre todos os seus inimigos. Trata-se de uma alusão à monarquia davídica, que receberá o ceptro do Ungido do Senhor, que trará a salvação esperada. Essa profecia irá realizar-se quando o verdadeiro rei anunciado, a quem pertence o ceptro, a autoridade e o reino, dominar sobre todos os povos. Este rei ideal e definitivo aparecerá no Messias, de que fala o Apocalipse: «Venceu o leão da tribo de Judá» (Apoc 5,5). Só ele possui o ceptro de Deus, cujo reino não é um domínio, um poder, mas serviço e amor em favor de todos os povos, que lhe deverão obediência filial.

    Evangelho: Mateus 1,1-17

    1 *Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão. 2Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacob; Jacob gerou Judá e seus irmãos; 3Judá gerou, de Tamar, Peres e Zera; Peres gerou Hesron; Hesron gerou Rame; 4Rame gerou Aminadab; Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; 5Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé; 6Jessé gerou o rei David. David, da mulher de Urias, gerou Salomão; 7Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; 8Asa gerou Josafat; Josafat gerou Jorão; Jorão gerou Uzias; 9Uzias gerou Jotam; Jotam gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; 10Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias; 11Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia. 12Depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel; 13Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azur; 14Azur gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; 15Eliud gerou Eleázar; Eleázar gerou Matan; Matan gerou Jacob. 16Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo. 17*Assim, o número total das gerações é, desde Abraão até David, catorze; de David até ao exílio da Babilónia, catorze; e, desde o exílio da Babilónia até Cristo, catorze.
    Mateus abre o seu evangelho com a narração das origens humanas de Jesus: a «Genealogia de Jesus Cristo» (v. 1), que começa em Adão e termina em «José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo» (v. 16). O evangelista divide a história da salvação, que tem o seu ponto culminante em Jesus-Messias, em três grandes períodos:
    Abraão, David, o exílio. Apesar da monotonia e do carácter artificial da sucessão dos nomes, o texto tem importante valor teológico, pois nos oferece a genealogia humana dAquele que será o protagonista do Evangelho. Confirmam-se as promessas dos profetas, segundo as quais Jesus é descendente de Abraão e de David e, portanto, possui as bênçãos e a glória dos antepassados.

    Meditatio
    o projecto de Deus foi longamente preparado, como mostra a genealogia com que Mateus inicia o seu evangelho. Cristo veio na plenitude dos tempos, uma plenitude, à primeira vista, desconcertante: o tempo nada fazia esperar de bom, o lugar do nascimento é uma pequena aldeia, José, embora sendo da descendência de David, era um modesto trabalhador desconhecido. Mas Deus é senhor do impossível e realiza os seus planos, quando nada o fazia prever.
    A primeira leitura é uma profecia de Jacob que fala do ceptro de Judá, que promete um vencedor: «um leãozinho, Judá», um dominador: «Os filhos de teu pai inclinar-se-ão diante de ti!». Judá é o elo que liga a primeira leitura ao evangelho. Cristo é filho de Judá. O segundo Adão entrou na aventura humana, marcada pelo pecado, pelo sofrimento e pela morte, por causa da desobediência dos nossos primeiros pais, não para punir a humanidade, mas para a transformar e reconduzir à amizade com Deus, como estava previsto no primeiro projecto. Toda a história de Israel é testemunho do anúncio da vinda de um redentor, que os homens esperam para receber a promessa: toda a lei está grávida de Cristo, diria Agostinho de Hipona. Em Jesus, Deus fez-se efectivamente homem, e o sonho tornou-se realidade. O Deus-connosco fez Deus- para-nós, apesar das nossas infidelidades e do nosso fraco acolhimento.
    Fazemos parte desta história, que nos liga a Abraão e a David, fio de ouro que muitas vezes quebrámos com o nosso pecado e que Deus volta a ligar em Jesus, aproximando-nos cada vez mais do seu coração. E Ele, que conheces as fragilidades do espírito humano, sabe compreender e perdoar a nossa fraqueza, mas espera a conversão do nosso coração e o reconhecimento dAquele a quem pertence toda a realeza e a quem todos os povos devem obediência, fidelidade e amor.
    Cristo, Verbo eterno de Deus, assumiu a carne humana, da estirpe de David. Fez-Se intimamente próximo de nós homens: pela sua humanidade, ergueu a sua tenda no meio das nossas (cf. Jo 1,14); tornou-Se nosso companheiro da caminhada terrena, peregrino connosco rumo à pátria celeste, em tudo igual a nós, com as nossas fragilidades, os nossos sofrimentos, excepto o pecado; mas carregou sobre Si os nossos pecados e ofereceu-Se em sacrifício por eles. Assim alcançou a vitória: «venceu o Leão da tribo de Judá, o rebento da dinastia de David» (Apoc 5, 5). Mas este vencedor é um Cordeiro imolado, não um leão que devora a presa. E todavia é verdadeiramente o leão de Judá, o vencedor. Mas a sua vitória não foi obtida de maneira humana. Venceu-a com o sacrifício de si mesmo. E a sua vitória continua a realizar-se: Cristo, de Lado aberto e Coração trespassado, continua a atrair todos os homens. É, na verdade, o vencedor prometido, que vem da tribo de Judá.

    Oratio
    Senhor, Deus de Abraão, de Isaac Deus e de Jacob, Deus de Jesus Cristo e nosso Deus, prometeste a Judá um reino eterno e uma realeza sobre todos os povos. Toda a história humana, por meio do povo eleito e, depois, por meio da Igreja, é herdeira das bênçãos de Israel, e está orientada para Cristo, esperado das nações. Que cada um de nós se torne instrumento válido para levar até Ele todo o irmão e irmã que encontrar na vida. Faz que os homens, de todas as raças e cores, saibam ultrapassar as divisões e reencontrar-se unidos por uma renovada esperança na vinda do Salvador e por uma forte confiança de que a sua mensagem de salvação e de vida é válida para todos, sem qualquer distinção.
    Senhor da história e dos povos, enche-nos do teu poder e faz que vivamos vigilantes reconhecendo os sinais dos tempos e a tua passagem silenciosa pelas aventuras quotidianas da nossa história. Que, sobretudo, reconheçamos no teu Filho Jesus, descendente de uma estirpe humana, o Messias esperado. Amen.

    Contemplatio
    o patriarca Jacob dizia-o abençoando o seu filho Judá: «O ceptro não sairá de Judá, dizia, até que venha aquele que deve vir e será o desejado de todos os povos» (Gen 41). Nós o sabemos, Israel esperava o Messias e todos os povos desejavam um Salvador. Nós o possuímos, nós, este Salvador, no tabernáculo, e não vamos ter com ele!
    Quer a nossa visita para acender nos nossos corações o fogo dos santos desejos.
    A minha alma é esta Jerusalém descrita por Jeremias (Lam 1), toda desolada, devastada, sem energia e sem força. Irei ao sacrário receber os eflúvios da sabedoria e da força divinas.
    «Sião, dizia: O Senhor me abandona e me esquece. - Não, responde o Senhor, é que uma mãe pode esquecer o seu filho e o fruto das suas entranhas? E mesmo que uma mãe pudesse esquecer o seu filho, eu nunca vos esqueceria» (Is 49, 14).
    Nós temos, portanto, no sacrário, uma mãe e mais do que uma mãe. Donde vem que não vamos com mais confiança ao Coração eucarístico de Jesus?
    Quem sou eu? Um bebé que precisa de ser aleitado com leite real. O Salvador está lá para mo dar. O profeta prometeu-o: «Tu terás o leite real, dizia a Sião, e tu saberás que sou o teu Salvador, o teu Redentor e a tua força (Is 60).
    Tenho lá no sacrário o pão dos fortes, o maná que deleita e que alimenta. Se não negligencio este banquete, este alimento divino, crescerei em força e em graça. É a intenção de Nosso Senhor.
    Como bebés, diz S. Pedro, desejai e saboreai o leite espiritual, para que a graça da salvação cresça em vós (1 Pd 2, 2).
    Crescei, diz-nos S. Paulo, até ao desenvolvimento do homem perfeito, para que não sejais mais como crianças sem vontade; cumpri os vossos deveres por amor, a fim de crescerdes sem cessar em Cristo que é o vosso chefe (Ef 4, 13).
    Irei, portanto, ao sacrário buscar o leite da sabedoria e o espírito de caridade ao coração de Cristo (Leão Dehon, OSP 1, p. 640s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Ó Sapiência, vem ensinar-nos o caminho da vida» (da liturgia).

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