Week of Jan 7th

  • Tempo do Natal – Segunda-feira depois da Epifania

    Tempo do Natal – Segunda-feira depois da Epifania

    6 de Janeiro, 2025

    Tempo do Natal – Segunda-feira depois da Epifania

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 3, 22-4, 6

    Caríssimos, temos plena confiança diante de Deus, 22*e recebemos dele tudo

    o que pedirmos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que lhe é agradável. 23*E este é o seu mandamento: que acreditemos no Nome de seu Filho, Jesus Cristo, e que nos amemos uns aos outros, conforme o mandamento que Ele nos deu. 24*Aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele; e é por isto que reconhecemos que Ele permanece em nós: graças ao Espírito que nos deu.

    1*Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, pois muitos falsos profetas apareceram no mundo. 2Reconheceis que o espírito é de Deus por isto: todo o espírito que confessa Jesus Cristo como vindo em carne mortal é de Deus; 3*e todo o espírito que não faz esta confissão de fé acerca de Jesus não é de Deus. Esse é o espírito do Anticristo, do qual ouvistes dizer que tem de vir; pois bem, ele já está no mundo. 4*Meus filhinhos, vós sois de Deus, e venceste-los, porque é mais poderoso o espírito que está em vós do que aquele que está no mundo. 5*Eles são do mundo; por isso falam a linguagem do mundo, e o mundo ouve-os. 6*Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus ouve-nos; quem não é de Deus não nos ouve. É por isto que nós reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.

    Para conhecermos a vontade de Deus, precisamos de praticar o discernimento. João oferece-nos neste texto alguns critérios para reconhecermos o espírito de Deus e

    o espírito do mundo: a fé em Cristo («que acreditemos no Nome de seu Filho, Jesus Cristo»); o amor fraterno («que nos amemos uns aos outros»); a fidelidade aos mandamentos de Deus (cf. v. 24). O Apóstolo também sugere algumas atitudes fundamentais para alcançar esse objectivo: a oração, como compromisso pessoal em realizar o que Ele manda (v. 22); a profissão de fé autêntica em Cristo Jesus; a caridade activa em favor dos irmãos. O primeiro critério para distinguir os verdadeiros dos falsos profetas é a confissão de fé em Cristo Senhor «vindo na carne» (v. 2). Quem exclui Jesus da sua vida tem o espírito do anticristo (cf. 2, 18). Os falsos profetas, que querem apresentar um cristianismo diferente, vêm do mundo e, por isso, são escutados por ele. Os crentes, pelo contrário, são de Deus e Deus está neles. A sua vitória é certa porque é dom da fé recebida de Cristo (Jo 16, 33), que é mais poderosa que o anticristo (v. 4; Jo 12,31). O segundo critério é eclesial: quem se mostra dócil à Igreja, vem de Deus

    (v. 6). A fé do cristão é adesão à doutrina proposta pelos guias da comunidade eclesial, onde se encontra o Espírito de Deus, que é preciso escutar e testemunhar.

    Evangelho: Mateus 4, 12-17.23-25

    12*Naquele tempo Jesus ouviu dizer que João fora preso, retirou-se para a Galileia. 13Depois, abandonando Nazaré, foi habitar em Cafarnaúm, cidade situada à beira-mar, na região de Zabulão e Neftali, 14para que se cumprisse o que o profeta Isaías anunciara: 15*Terra de Zabulão e Neftali ,caminho do mar, região de além do Jordão, Galileia dos gentios.16O povo que jazia nas trevasviu uma grande luz; e aos que jaziam na sombria região da morte surgiu uma luz.17*A partir desse momento, Jesus começou a pregar, dizendo: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu.»

    23*Depois, começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando entre o povo todas as doenças e enfermidades. 24A sua fama estendeu-se por toda a Síria e trouxeram-lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os que padeciam doenças e tormentos, os possessos, os epilépticos e os paralíticos; e Ele curou-os. 25*E seguiram-no grandes multidões, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e de além do Jordão.

    Depois da prisão de João Baptista por Herodes, Jesus deixa Nazaré e fixa residência em Cafarnaúm, na Galileia dos gentios, que outrora fora ocupada pelosassírios (733 a. C). É aí que começa a brilhar o Evangelho de Jesus e o exemplo da sua vida (v. 16; cf. Is 8, 23-9, 1-2). Segundo S. Mateus, Jesus começa a pregação do Reino de Deus na Galileia dos gentios porque tem em mente a missão universal da salvação. A palavra que dirige aos judeus e aos pagãos é a mesma: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu» (v. 17).

    Depois, Jesus percorre as sinagogas, prega «o Evangelho do Reino» e realiza milagres «curando entre o povo todas as doenças e enfermidades» (v. 23). A sua pregação suscita grande entusiasmo, a sua fama espalha-se até à Síria e causa grande impressão em toda a região. Muitos acorriam ao seu encontro. Nas suas viagens missionárias, era acompanhado por muitos miraculados (curados de várias doenças, libertos dos demónios, etc.). Jesus é o verdadeiro Servo de Deus que carrega sobre si as enfermidades de toda a humanidade (cf. Is 53, 4). A sua pregação é exortação e súplica para que todos acolham na sua vida o dom divino da reconciliação e da salvação, que o Pai celeste oferece gratuitamente e generosamente a to
    dos.

    Meditatio

    O tema de Cristo luz do mundo é o aspecto teológico mais arcaico e mais presente na liturgia de Natal, especialmente na celebração da meia-noite. A liturgia actual recorda Isaías: "Um povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz…" (9,2) e Lucas "a glória do Senhor envolveu-os de luz"(2,9). “Uma nova luz brilhou aos nossos olhos”, canta o Prefácio I.

    O evangelho de hoje retoma o tema da luz. Lucas narra que Jesus, logo ao chegar à Galileia dos gentios, «começou a pregar», revelando-se verdadeiramente divino e humano: divino, porque fala em nome de Deus, anunciando o Reino de Deus; humano, porque se mostra cheio de compaixão para com todos os necessitados. Este aspecto divino e humano é fundamental na revelação de Jesus. João mantém-se fiel a essa revelação, como verificamos na primeira leitura. O Apóstolo não nos oferece pensamentos altíssimos para reconhecermos o espírito de Deus. Dá-nos um critério simples e concreto: «todo o espírito que confessa Jesus Cristo como vindo em carne

    mortal é de Deus». Temos, assim, um sinal decisivo para avaliar as nossas inspirações. Se a nossa espiritualidade nos levar para fora da nossa condição quotidiana, para o mundo do sonho e da evasão, não estamos a ser fiéis a Cristo. Pelo contrário, se encontramos Jesus «na carne», isto é, na nossa vida quotidiana, no lugar concreto onde vivemos trabalhamos, nas nossas responsabilidades de cada dia, somos verdadeiros discípulos, estamos em comunhão com Ele.

    A comunhão com Cristo, ou a união com Ele, é fundamental na nossa vida decristãos. É o centro da nossa fé. É condição essencial para nos salvarmos. Ele é, de verdade, «a chave, o centro, o fim do homem, e de toda a história humana» (GS 10). Estar em comunhão, estar unido a Cristo é acreditar n´Ele, fiar-se n´Ele, deixar-se transformar por Ele, aceitá-lo como modelo de comportamento: «Dei-vos o exemplo para que façais como Eu fiz» (Jo 13, 15). Esta fé-comunhão com Jesus torna-se uma força dinâmica e criadora, tendente ao testemunho e acção, para que Cristo e a sua mensagem são conhecidos e aceites pelos homens. Os encontros com Jesus encerram e manifestam uma força transformante extraordinária, porque desencadeiam um verdadeiro processo de conversão, de comunhão e de solidariedade humana.

    O encontro com Cristo, especialmente na Palavra e na Eucaristia, realiza a nossa união com Ele, a comunhão com Ele, que nos dão confiança e ardor, lançando- nos “pelos caminhos do mundo ao serviço do Evangelho” (Cst. 82), para levarmos a sua luz a todos os que ainda jazem nas trevas e sombras da morte, e nos tornarmos bons samaritanos da humanidade.

    Oratio

    Senhor Jesus, ao nasceres em Belém, não só renovaste o género humano, mas também o esplendor do próprio sol, trazendo esperança e vida a todos aqueles que jazem nas trevas do erro. Tu és o fim da história humana porque, por meio de Ti, a salvação é dada a todos os homens. Nós Te agradecemos pela tua palavra, a Boa Nova do amor do Pai, com que vieste salvar-nos e pelo exemplo de vida concreto que nos deste, quando viveste no meio de nós.

    Que o testemunho da nossa vida cristã se torne irradiação de amor para com os irmãos que ainda não Te conhecem ou vivem no erro. Nós Te agradecemos porque a tua Palavra, proclamada há tantos séculos, ainda hoje continua viva e penetrante, capaz de renovar os nossos corações, e a nossa relação contigo e com os nossos irmãos.

    Aumenta a nossa fé na tua Palavra para que possamos tomá-la a sério, fazendo dela critério de discernimento dos factos e dos problemas da vida que tanto nos afligem. Que, iluminados pela tua Palavra, possamos tornar-nos luz para todos quantos Te buscam de coração sincero, e conforto para com todos os que sofrem. Amen.

    Contemplatio

    O Sagrado Coração quis uma vez exprimir toda a intensidade e toda a universalidade da sua misericórdia. Tinha diante de si os seus discípulos, mas a sua palavra dirigia-se para mais longe. Expunha a sua doutrina, falava da sua Igreja e dizia: «Vós todos que sofreis, vós todos que estais em aflição, vinde e Eu vos curarei, vinde e Eu vos aliviarei: Venite et ego reficiam vos». Vós todos, em todos os tempos, vinde, que Eu tenho sede de vos aliviar. Vinde sem medo,

    Eu sou omnipotente, o meu Pai deu-me todo o seu poder: omnia mihi tradita sunt a Patre meo. Vinde todos, tenho sede de fazer misericórdia.

    «Se tivesse ficado no céu, não poderíeis vir a mim. Pensaríeis que eu estou demasiado distante, demasiado poderoso, que a minha glória vos assusta e que a minha grandeza vos intimida. Mas Eu fiz-me pequeno como vós. O Verbo fez-se carne. Veio na Judeia e permanece no Tabernáculo. Está muito perto de vós, vinde, só tendes de dar um passo.

    «Vede, desde a Visitação Eu próprio vou levar as minhas graças a Zacarias, a Isabel, a João Baptista. Faço o mesmo visitando-vos na Eucaristia. Vinde a mim.

    «Não ousareis apresentar-vos diante de meu Pai? Vinde, vou ao Templo apresentar-vos comigo nos braços de Maria.

    «Estais doente, pobre, entristecido e necessitado, vinde, vinde todos. Traziam-me todos os doentes e Eu curava-os a todos, por pouca confiança que tivessem. Vinde todos e vinde com confiança». (Leão Dehon, OSP 2, p. 278).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu» (Mt 4, 17).

    Tempo do Natal – Terça-feira depois da Epifania

    Tempo do Natal – Terça-feira depois da Epifania

    6 de Janeiro, 2025

    Tempo do Natal – Terça-feira depois da Epifania

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 4, 7-10

    7*Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. 8*Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. 9*E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. 10*É nisto que está o amor: não em termos sido nós a amar a Deus, mas em ser Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.

    João, que já falou sobre o amor, volta agora a falar dele numa perspectiva mais positiva (cf. 3, 11.15.22). O amor é necessário porque «o amor vem de Deus» (v. 7) e porque «Deus é amor» (v. 8). Porque a identidade de Deus é o amor, Deus ama, perdoa, dá-se em nós. Todo o autêntico amor humano encontra fundamento no amor de Deus. Quem ama é gerado por Deus e conhece-O (cf. v. 7).

    Se o amor é a essência de Deus, só temos um caminho para chegar a Deus: amar. Mas não se trata de amar como pensavam os gnósticos ou os inimigos da comunidade joânica, que julgavam amar a Deus porque sentiam a necessidade de O conhecer. A natureza do amor, para João, consiste no facto de que Deus nos amou «por primeiro», por sua iniciativa gratuita. Este amor manifestou-se na Incarnação do Filho, sem a qual continuaríamos pobres e incapazes de conhecer o amor verdadeiro e de termos a vida (vv. 9-10; Rm 3, 25; 5, 8; 2 Cor 5, 21). O amor que Jesus mostrou por nós foi um amor concreto, desinteressado, dedicado e libertador. Chegou ao dom da própria vida. O nosso amor por Deus é sempre resposta a essa iniciativa do Pai. E, só conhece o Pai, aquele que percorre o caminho que leva ao amor do irmão (cf. Mc 12, 29-31): «Nisto reconhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35).

    Evangelho: Marcos 6, 34-44

    34Naqueke tempo: Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. 35A hora já ia muito adiantada, quando os discípulos se aproximaram e disseram: «O lugar é deserto e a hora vai adiantada. 36Manda-os embora, para irem aos campos e aldeias comprar de comer.» 37* Jesus respondeu: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Eles disseram-lhe: «Vamos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?» 38Mas Ele perguntou: «Quantos pães tendes? Ide ver.» Depois de se informarem, responderam: «Cinco pães e dois peixes.» 39Ordenou-lhes que os fizessem sentar por grupos na erva verde. 40E sentaram-se, por grupos de cem e cinquenta. 41*Jesus tomou, então, os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e dava-os aos seus discípulos, para que eles os repartissem.

    Dividiu também os dois peixes por todos. 42Comeram até ficar saciados. 43*E havia ainda doze cestos com os bocados de pão e os restos de peixe. 44*Ora os que tinham comido daqueles pães eram cinco mil homens.

    Jesus é o Bom Pastor que se compadece da multidão, porque eram como ovelhas sem pastor (v. 34). Como novo Moisés, instrui aqueles que O rodeiam (a comunidade cristã) com a sua palavra (a Palavra de Deus) e alimenta-a multiplicando

    o pão e os peixes (a Eucaristia). Em tudo isso envolve os discípulos (a Igreja): «Dailhes vós mesmos de comer» (v. 37). Toda esta cena descrita por Marcos tem como pano de fundo a assembleia dos filhos de Israel no deserto e a celebração eucarística dos primeiros discípulos de Jesus. Os vários pormenores da narrativa denunciam o tal pano de fundo teológico já referido: o lugar deserto, a erva verde, as pessoas sentadas em pequenos grupos (cf. Ex 18, 25); depois, o erguer dos olhos para o céu, a bênção, a fracção do pão, a distribuição do pão com a ajuda dos discípulos (cf. Jo 6, 1-13; 1 Cor 11, 23-34; Mt 26, 26-29; Mc 14, 22-25; Lc 22, 14-20). Os cinco mil homens comeram, ficaram saciados, e ainda sobejaram «doze cestos com os bocados de pão e os restos de peixe» (v. 43). Nada se deve perder da mesa de Cristo. O que mais espanta os discípulos não é tanto o poder de fazer milagres do Mestre, mas é, sobretudo, o poder de dar aos homens o necessário para viverem cada dia. As palavras e os actos de Jesus incidem no concreto da vida dos homens e na história, transformando-as e abrindo-as à comunhão com Deus.

    Meditatio

    O evangelho de hoje mostra-nos o amor, a ternura e a generosidade de Jesus. O Senhor comove-se diante da multidão que O seguiu, «porque eram como ovelhas sem pastor», e dá-lhes o pão: o pão da sua palavra («Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas»)e o pão material que é, acima de tudo, prefiguração da sua vontade em nos alimentar com o seu corpo e o seu sangue. O verdadeiro pão é Ele. Estamos perante um novo milagre do maná (cf. Ex 16), feito por Jesus, o novo Moisés, revelador escatológico e mediador dos sinais de Deus (cf. Ex 4, 1-9), num novo êxodo: é o símbolo da Eucaristia, verdadeiro alimento do povo de Deus. É preciso comer o pão vivo descido do céu para ter a vida e entrar em comunhão íntima com Jesus.

    Estamos pera
    nte a revelação do pão que é eficaz para comunicar a vida queperdura para além da morte. É Jesus, pão de vida, que dá a imortalidade a que se alimenta dele, a quem na fé interioriza a Palavra e assimila a sua vida. Escutar interiormente Jesus é alimentar-se do pão celeste e saciar a fome que há em nós. Como o Pai é fonte de vida para o Filho, também o Filho é fonte de vida para quem participa na Eucaristia. Jesus recebe a vida do Pai e dá-a ao crente, não só agora, mas para sempre. Dá-lhe a vida eterna que é amor, participação no mistério pascal de Cristo, no mistério de uma carne vivificada pelo Espírito, que permite um laço profundo com Deus, tal como o que existe entre o Pai e o Filho.

    A primeira leitura fala-nos da ternura e da generosidade de Jesus como manifestação do amor do Pai. Deus, que é amor, enviou o seu Filho ao mundo para que tivéssemos a vida por Ele. Contemplemos esse amor do Pai e do Filho por nós. Correspondamos a esse amor com uma vida coerente com quanto Deus fez por nós. Partilhemo-lo com os irmãos. Amemos com Ele e como Ele. Isso é viver a nossa vocação oblativa.

    De facto, a oblação, entendida como amor e imolação, compreendida e vivida na união à oblação de Cristo, exprime toda a nossa vida, como consagrada, no tempo e no espaço.

    A oblação, entendida como “presença activa” do amor de Cristo em nós (Cst. 2) torna-se o respiração da alma, o ritmo próprio do amor de Cristo, activamente presenteno tempo e no decurso da nossa vida. É “um tempo para Deus no mundo” (Urs Von

    Balthasar), para todos os homens, para toda a criação (cf. Cst nn. 19-22). Nesta perspectiva, a nossa oblação é redentora e reparadora: alarga-se no espaço a todos os homens e a “toda a criação” (n. 22; Cf. Rom 8, 19-25).

    Para isto é que “Deus enviou o Seu Filho unigénito ao mundo” (1 Jo 4, 9), a fim de que “tivéssemos a vida por Ele” (1 Jo 4, 9).

    Oratio

    Senhor, como são numerosas e magníficas as provas de amor que nos deste: criaste o universo grande e maravilhoso, e deste-nos a vida e a inteligência para admirarmos as suas belezas. Mas, mais do que tudo isso, mostraste-te nosso Pai, dando-nos a maior prova do teu imenso amor, quando nos enviaste o teu Filho como Salvador.

    É, na verdade, um Deus de amor! Por tua iniciativa, generosa e gratuita, fizeste tudo para que não permanecêssemos longe de Ti, teus inimigos. Selaste uma aliança com o teu povo eleito, apesar das suas muitas traições. Finalmente, deste-nos, pelo teu Filho, a Igreja como mãe e lugar de salvação. O teu Coração é realmente magnânimo. E, como se não bastasse tudo o que já tinhas feito por nós, saciaste-nos com o novo maná: o pão da Palavra e da Eucaristia, os sacramentos do teu amor. Preocupaste-te em saciar o homem nas suas necessidades materiais e espirituais, manifestando especial predilecção pelos que sofrem e pelos pobres.

    Obrigado, Senhor, por tudo quanto fizeste e continuas a fazer por nós, revelando-nos a tua verdadeira identidade que é seres Amor. Amen.

    Contemplatio

    Jesus preparou-se desde a sua incarnação. Considerava-se como o pão da vida. A sua carne e o seu sangue eram destinados ao sacrifício. Ele era o cordeiro de Deus, votado à imolação.

    Quando ia ao templo, nos dias de festa legal, pesava-lhe ver durarem as figuras ineficazes do sacrifício redentor. O seu Coração ardia de desejo de ver suceder a realidade à figura. Exprimia no Cenáculo este desejo de toda a sua vida: «Desejei comer esta páscoa convosco».

    Preludia o sacrifício eucarístico pela mudança da água em vinho e pela multiplicação dos pães.

    Fala disso longamente no belo discurso que S. João nos reporta no seu capítulo sexto. «Eu sou o pão da vida, diz. O maná não era senão uma figura, não dava a graça, a vida sobrenatural. Vós comereis o meu corpo e o meu sangue, eles alimentarão em vós a vida do espírito e vos hão-de preparar para a ressurreição…»

    A preparação remota não é tudo; quando chega o momento de celebrar o sacrifício eucarístico e de instituir a comunhão, Jesus multiplica os actos de preparação próxima.

    Pregou durante vários dias a penitência e os juízos de Deus aos seus discípulos. Propôs às suas meditações as parábolas das virgens e dos talentos e anuncia a destruição de Jerusalém e do último juízo. Ofereceu-lhes o exemplo da humilde penitência de Maria Madalena na refeição em casa de Simão.

    Na última hora, mostra-lhes pela surpreendente cerimónia do lava-pés que pureza exige
    a celebração da missa e da comunhão.

    E nós, como nos preparamos? Quais são as nossas disposições remotas e próximas? Talvez, ai! A indiferença, a frieza, a distracção! (Leão Dehon, OSP 2, p. 606).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus, pois Deus é amor» (1 Jo 4, 7).

  • Tempo do Natal – Quarta-feira depois da Epifania

    Tempo do Natal – Quarta-feira depois da Epifania

    7 de Janeiro, 2025

    Tempo do Natal – Quarta-feira depois da Epifania

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 4, 11-18

    11*Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros. 12*A Deus nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós. 13Damos conta de que permanecemos nele, e Ele em nós, por nos ter feito participar do seu Espírito. 14*Nós

    o contemplámos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. 15*Quem confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. 16*Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.17*É nisto que em nós o amor se mostra perfeito: se somos no mundo como Ele foi e se esperamos confiantes o dia do juízo. 18No amor não há temor; pelo contrário, o perfeito amor lança fora o temor; de facto, o temor pressupõe castigo, e quem teme não é perfeito no amor.

    Se «Deus é amor», isso tem consequências na vida cristã. É o que João afirma no texto que escutamos hoje. Primeiro, para possuir a Deus, o amor recíproco é o caminho mais excelente. Este amor é o meio mais eficaz para que o amor de Deus permaneça nos crentes como presença experimencial e seja perfeito à imitação do amor vivido por Cristo (cf. v. 12). Segundo, a posse do Espírito é dom que nos guia no nosso caminho interior de vida espiritual (cf. v. 13). Terceiro, a fé em Jesus Salvador do mundo: «Quem confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus» (v. 15). Só quem acredita no Filho de Deus feito homem, conhece e ama a Deus.

    Para que o amor a Deus cresça em nós, é preciso ultrapassar o temor (vv. 17-18). Quando chegar a hora do juízo final, o discípulo de Jesus terá uma certa familiaridade com Ele que lhe dará confiança (cf. v. 17), porque terá amado os irmãos com o mesmo amor com que foi amado por Jesus. Nisto consiste a perfeição do amor: confiar em Deusno dia do juízo, porque tratará os crentes como filhos muito amados. É uma confiança que se torna certeza de vitória.

    Evangelho: Marcos 6, 45-52

    Depois de ter matado a fome a cinco mil homens, 45*Jesus obrigou logo os seus discípulos a subirem para a barca e a irem à frente, para o outro lado, rumo a Betsaida, enquanto Ele próprio despedia a multidão. 46Depois de os haver despedido, foi orar para

    o monte. 47*Era já noite, a barca estava no meio do mar e Ele sozinho em terra. 48*Vendo-os cansados de remar, porque o vento lhes era contrário, foi ter com eles de madrugada, andando sobre o mar; e fez menção de passar adiante. 49Mas, vendo-o andar sobre o mar, julgaram que fosse um fantasma e começaram a gritar, 50pois todos
    o viram e se assustaram. Mas Ele logo lhes falou: «Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!» 51*A seguir, subiu para a barca, para junto deles, e o vento amainou. E sentiram um enorme espanto, 52*pois ainda não tinham entendido o que se dera com os pães: tinham o coração endurecido. Depois da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus ordenou aos discípulos que passassem à outra margem, enquanto Ele ia rezar (cf. v. 46). Era frequente em Jesus esta oração a sós com o Pai, na solidão e no silêncio, mas que não deixava de ser solidária com os discípulos. Estes encontravam-se em dificuldades na travessia do mar da vida: surpreendera-os a noite e o vento contrário. Então Jesus vai ao encontro deles caminhando sobre o mar. Faz menção de passar adiante para não se impor com um milagre (cf. 48). Mas, diante da perturbação deles, ao ouvir o grito que lançaram, acalma o vento e diz-lhes: «Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!» (v. 50).

    O espanto dos discípulos, unido à falta de fé em Jesus, invadiu-lhes o coração, porque não tinham compreendido o sinal dos pães e a própria identidade do seu Mestre, como Messias e Filho de Deus. As perspectivas de Jesus e dos discípulos são diferentes: eles têm «o coração endurecido» (v. 52), tal como Israel no deserto. Para reconhecer o rosto do Mestre, a comunidade precisa de acolhê-lo na sua barca e confiar nele, invocando-o na oração, pois não faltarão momentos de provação, de tempestade.

    Meditatio

    A multiplicação dos pães, em que os Apóstolos tinham participado activamente, deixou-os humanamente satisfeitos e eufóricos. Jesus teve de fazê-los aterrar. Para isso, mandou-os para o mar… As dificuldades encontradas, ao passarem para a outra margem, obrigam-nos a abandonar as suas demasiadamente humanas e enchem-nos de terror. É então que Jesus intervém: «Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais». Retomada a confiança, compreendem que tem que avançar com Ele, como Salvador, mais para o alto: «pois ainda não tinham entendido o que se dera com os pães, pois tinham o coração endurecido». Jesus terá que falar-lhe várias vezes da sua paixão para os fazer avançar na fé e na disponibilidade ao seu chamamento.

    A primeira leitura faz-nos tomar consciência do amor infinito do Pai, que é amor, que «mandou o seu Filho como Salvador do mundo», e quer viver em comunhão connosco, seus filhos muito amados. A união perfeita entre Deus e o crente realiza-se, em primeiro lugar, no contacto com a Palavra de D
    eus e, depois, na participação na mesa eucarística. A nossa carne, o nosso sangue misturam-se, então, com a carne e o sangue de Deus. Somos transformados. Somos divinizados. «Não somos nós que transformamos Deus em nós», afirma Santo Agostinho, «somos nós que somos transformados em Deus». A Eucaristia é o lugar privilegiado para o encontro com Cristo vivo, fonte e cume da vida da Igreja, garantia de comunhão com o Corpo de Cristo e participação na solidariedade, como expressão do mandamento de Jesus: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 13, 34).

    O amor para com os irmãos é consequência e sinal do amor a Deus (cf. 1 Jo 4, 12). Também este aspecto da caridade fraterna tem a sua realização plena na Eucaristia: «Participando realmente no Corpo do Senhor ao partilhar o pão eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós» (LG 11). Este amor torna-se em nós uma força transformadora e operativa, capaz de afastar o temor, porque quem ama não teme e quem come o corpo e o sangue de Cristo tem a vida em plenitude.

    A “presença activa” (Cst. 2) do amor de Cristo na nossa vida, para o Pe. Dehon, como para nós, realiza-se, sobretudo, na escuta da Palavra e na Eucaristia celebrada, comungada e adorada, que realizam a nossa união a Cristo. Essa união permite-nos receber de Cristo, «videira verdadeira» (cfr. Jo 15, 1) a seiva divina, que é o Espírito Santo, que produz em nós os seus frutos, os doze frutos que nos indica o

    Catecismos da Igreja e os frutos carismáticos que espera de nós, dehonianos. Pela força do Espírito, podemos ser, como Jesus e em Jesus, amor, reparação, imolação, isto é, Oblatos do Coração de Cristo, com os conteúdos atribuídos pelo Pe. Dehon a este nome original. São mistérios de amor que têm a sua origem no baptismo (água) e

    o seu alimento na Eucaristia (sangue). O Espírito, tal como transforma o pão e o vinho em Cristo, assim também transforma os nossos corações. “Fazei isto em memória de Mim” não se refere apenas à liturgia do rito eucarístico, mas também à liturgia da nossa vida: ser oblação (amor e imolação) para Deus e para os irmãos, como Cristo é oblação do Seu Corpo, do Seu Sangue, de todo o Seu ser por nós. Fazer da nossa vida “uma missa permanente” (Cst. 5). Oratio

    Obrigado, Jesus, por todos os teus dons, particularmente pelo da Eucaristia, que Te torna presente entre nós. Verdadeiramente, a Eucaristia realiza-se as palavras de João Evangelista: «fez-se carne e ergueu a sua tenda no meio das nossas» (cfr. Jo 1, 14).

    Na Eucaristia dás-Te a cada um de nós como alimento que dá a vida. Verdadeiramente, quem Te come, vive de Ti, da vida que de Ti recebe.

    Na Eucaristia, dás-nos como alimento o teu Corpo e Sangue, que nos enchem de força para caminharmos rumo ao encontro definitivo com o Pai.

    Obrigado, Jesus! Mil vezes, obrigado!

    Quanto gostaria de corresponder a esse imenso dom do teu amor, dando-me, contigo e como Tu, aos meus irmãos, especialmente aos mais carenciados! Enche-me do teu Espírito para que, como Tu, me torne Eucaristia, pão puro para glória do Pai, e pão bom que os irmãos possam comer. Amen.

    Contemplatio

    A confiança na bondade de Jesus menino deve tornar-se para nós a confiança no Coração de Jesus. Todos os mistérios permanecem no Coração de Jesus. Ele apresenta-nos o céu mesmo, e particularmente na santa Eucaristia, as amabilidades, a simplicidade e os sacrifícios do seu nascimento. Ele pede-nos a mesma confiança quepediu a Maria e a José. É sob esta condição que a nossa oblação lhe agradará.

    Durante o tempo do ano litúrgico consagrado ao mistério da santa Infância, vamos com confiança ter com o Menino divino a Belém. Parece que ele nos estende os braços. Extendebat membra quaerens Matris favorem. A comunhão no mistério de Belém é uma união de confiança e de amor. O Coração de Jesus menino parece que nos grita para que vamos ter com ele com confiança. Que aqueles que têm particularmente necessidade desta confiança se detenham de preferência neste mistério. Será sempre fácil dar o seu coração com tanta simplicidade e tanto amor: Sic nasci voluit qui amari voluit, non timeri (S. Pedro Crisólogo). O Coração de Jesus menino não quer que nós tenhamos medo dele. Para nós ele só tem graças e bondades. Apparuit gratia Dei Salvatoris (Tit 2, 11). «Benignitas et humanitas apparuit Salvatoris (Tit 3, 4). O Salvador é muito amável e bom».

    Eu uno-me à piedosa e humilde adoração dos pastores de Belém. Eu dedico uma doce confiança ao Coração do divino Menino. A sua doçura e a sua amabilidade cativaram o meu coração (Leão Dehon, OSP 2, p. 213-214).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais» (Mc 6, 50).

  • Tempo do Natal – Quinta-feira depois da Epifania

    Tempo do Natal – Quinta-feira depois da Epifania

    9 de Janeiro, 2025

    Tempo do Natal – Quinta-feira depois da Epifania

    Primeira leitura: 1 João 4, 19- 5, 4

    Caríssimos: 19*Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro. 20*Se alguém disser: «Eu amo a Deus», mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.

    21*E nós recebemos dele este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão.

    1*Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus; e todo aquele que ama a Deus Pai ama também aquele que nasceu de Deus. 2É por isto que reconhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e cumprimos os

    seus mandamentos; 3*pois o amor de Deus consiste precisamente em que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são uma carga, 4*porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé.

    Neste texto entrelaçam-se dois temas: o amor cristão (vv. 19-21) e a fé em Jesus, componentes de um único mandamento (vv. 1-4; 3, 21). O amor e o ódio são inconciliáveis.

    O amor cristão conhece três relações: o amor de Deus para connosco, o nosso amor para com Deus e o nosso amor para com os irmãos. O amor a Deus e aos irmãos estão intimamente ligados: «quem ama a Deus, ame também o seu irmão» (v. 21). Mais: o verdadeiro amor a Deus manifesta-se no amor aos irmãos: «aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê» (v. 20). O amor cristão tem a sua origem em Deus, porque «Ele nos amou primeiro» (v. 19), como verdadeiros filhos. Pertence-nos agora corresponder ao amor e gerar amor. Não foi o homem que alcançou a Deus com o seu amor, mas o contrário: Deus veio ao nosso encontro, em Jesus. Se amamos os outros, temos a prova real de que Deus nos alcançou. É fácil ser tentado a refugiar-se no amor de Deus, esquecendo os irmãos. Refugiar-se na esfera do divino, desinteressando-se pela esfera humana, era práticados gnósticos. É pela fé que sabemos que Deus nos ama. O fiel amado, que «nasceu de Deus» (v. 1), ama o Pai e o Filho, mas também todos os irmãos, nascidos de Deus. Só a fé e o amor, nascidos da filiação divina, permitem ao cristão vencer tudo quanto se opõe a Cristo, vivendo os seus mandamentos (vv. 3-4).

    Evangelho: Lucas 4, 14-22a

    Naquele tempo: 14Impelido pelo Espírito, Jesus voltou para a Galileia e a sua fama propagou-se por toda a região. 15Ensinava nas sinagogas e todos o elogiavam. 16*Veio a Nazaré, onde tinha sido educado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler. 17Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito: 18*«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, 19a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.» 20Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21*Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» 22Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca.

    A actividade evangelizadora de Jesus na Galileia caracteriza-se pela força do Espírito, pelo entusiasmo das pessoas que O escutam e pela sua fama que se espalha por toda a parte. Na sinagoga de Nazaré, lê e interpreta Is 61, 1-2, aplicando o texto à sua pessoa, e fazendo dele o texto programático da sua acção como Messias. Com Ele começa, de facto, o ano jubilar (cf. Lv 25, 10); com Ele desceu o Espírito de Deus sobre a terra, que traz a salvação a humanidade: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir» (v. 21).

    O Espírito consagrou Jesus como Messias. O Reino que anuncia será a verdade, a liberdade e a novidade do mundo, que fará nascer naqueles que O escutam e seguem. O povo fica admirado com as suas palavras e dá testemunho dele

    (v. 22). A libertação trazida por Jesus destina-se particularmente aos pobres, aos oprimidos, aos prisioneiros e aos cegos, porque são os mais disponíveis para acolher a sua mensagem, e a acção do Espírito de Deus. A palavra de Jesus é «alegre notícia» de vida nova para todos os homens. Masé uma palavra exigente, que comporta a cruz e a ressurreição. É no mistério pascalque o crente encontra a plenitude e a comunhão com Deus. É este o êxodo que todo o homem deve realizar na sua vida, se quer também colaborar na libertação dos irmãos, viver no Espírito e participar na glória de Jesus Cristo ressuscitado.

    Meditatio

    «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» A liturgia faz-nos tomar consciência da situação privilegiada em que nos encontramos, em relação aos habitantes de Nazaré. Verdadeiramente, o mistério de Cristo cumpriu-se. Quando Jesus pronunciou o seu discurso em Nazaré, a transformação do homem estava apenas a começar. Depois
    veio a morte e a ressurreição do Senhor pelas quais se cumpriu toda a Escritura. E nós vivemos o tempo da plenitude, ainda que não vejamos Jesus com os olhos da carne.

    João continua a insistir na união entre o amor a Deus e o amor aos irmãos. Todo o evangelho é anúncio do amor de Deus tornado visível na pessoa do Verbo Encarnado, Jesus de Nazaré. Amar a Deus é colocar-se na sua perspectiva. Ele ama todo o ser criado e não hesita em entregar o próprio Filho unigénito para a salvação de todos os homens. Viver para os outros, dar-se, sacrificar-se pelo seu bem é viver como Deus, é actuar o que Jesus quer que façamos.

    Esta fé anima a nossa caridade cristã, mas também se torna uma enorme força de luta contra o pecado que é a exploração, a intolerância, a injustiça, a violência e o egoísmo.

    Mas o mal belo testemunho do amor a Deus e aos irmãos é manifestar, não só com palavras, mas também com obras, que estamos no coração de Deus.

    Ao encarnar, o Verbo, fez-Se de tal modo solidário com os homens que esvazia ”a Si mesmo” (Fil 2, 7) da glória que possuía na preexistência junto do Pai (cf. Jo 17, 5). Preferiu recebê-la do Pai, como exaltação pelo seu sacrifício (cf. Fil 2, 9), por meio da Ressurreição: “Servo” (Fil 2, 7) torna-Se “Senhor” (Fil 2, 11).

    Quanto a S. João, a relação “solidariedade” – revelação é o princípio chave de interpretação do seu Evangelho, a começar pelo Prólogo que nos apresenta “o Verbo feito carne” (1, 14), de Quem “vemos a… glória”, isto é, o amor nas palavras e nas obras, na morte e na ressurreição.

    No amor de Cristo, experimentamos o amor do Pai (cf. Jo 1, 18; 1Jo 4, 9-10). Em Cristo “conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem” (1Jo 4, 16). Esta experiência e esta fé leva-nos a amar com e como Cristo: em união com Ele e à maneira d´Ele.

    Oratio

    Louvado sejas, Senhor, porque abriste ao homem, sedento de felicidade, o caminho do amor. Louvado sejas, Senhor dos pequenos e dos pobres que, pelo teu Filho, nos ensinaste que é na vida simples e pobre que nos revelas o teu amor preveniente e generoso. Louvado sejas, Senhor da paz e da vida, porque nos deste o teu perdão, fazendo-nos experimentar a alegria do teu amor e da tua misericórdia.

    Dá-nos, Senhor, o teu Espírito de luz e de verdade, para que possamos aprender a caminhar na luz do teu sol que é vida e alegria Que te amemos sempre e cada vez, dando-te o primeiro lugar no nosso coração tantas vezes inquieto e à busca de novidades. Só Tu podes saciar a nossa sede de felicidade e de vida. Fica connosco, Senhor. Sê nosso companheiro de caminhada, porque sem Ti nada podemos fazer, e só em Ti encontramos repouso. Amen.

    Contemplatio

    Foi um segredo que Deus se reservou, o de saber se Ele nos teria dado o seu Filho na Incarnação no caso de o homem ter perseverado na justiça na qual o tinha criado. A escola seráfica sustenta a afirmativa e nós inclinamo-nos a admiti-la. Nada nos espanta no amor divino. Teria sido um dom menor dar-nos o seu Filho único como irmão, como rei, como pontífice, do que dar-no-lo como resgate. Mas este desígnio de amor que Deus concebeu de viver por assim dizer mais intimamente connosco fazendo-se um dos nossos, de nos elevar mais alto fazendo-se nosso irmão, de nos santificar de um modo mais sublime fazendo-se nosso pontífice, não o teria igualmente concebido se nós não tivéssemos pecado? S. Paulo parece confirmar o nosso sentimento, quando ele diz que o que torna mais admirável o amor de Deus é que Ele quis dar-nos o seu Filho mesmo depois de nós termos pecado (Rom 5, 8). Commendat caritatem suam Deus in nobis quoniam cum adhuc peccatores essemus… Christus pro nobis mortuus est.

    Podemos, portanto, pensar, que Deus tinha, mesmo fora das exigências da Redenção, o desígnio de nos dar o seu Filho como nosso rei, nosso irmão e nosso amigo (Leão Dehon, OSP 2, p. 196).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro» (1 Jo 4, 19).

  • Tempo do Natal – Sexta-feira depois da Epifania

    Tempo do Natal – Sexta-feira depois da Epifania

    10 de Janeiro, 2025

    Tempo do Natal – Sexta-feira depois da Epifania

    Primeira leitura: 1 João 5, 5-13

    Caríssimos: 5*E quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é

    Filho de Deus? 6*Este, Jesus Cristo, é aquele que veio com água e com sangue; e não só com a água, mas com a água e com o sangue. E é o Espírito quem dá

    testemunho, porque o Espírito é a verdade. 7Pois são três os que dão testemunho: 8o

    Espírito, a água e o sangue; e os três coincidem no mesmo testemunho. 9*Se aceitamos o testemunho dos homens, maior é o testemunho de Deus; e o testemunho

    de Deus está em que foi Ele a dar testemunho a respeito do seu Filho. 10*Quem crê no Filho de Deus tem esse testemunho consigo. Quem não crê em Deus faz de Deus mentiroso, uma vez que não crê no testemunho que Deus deixou a favor do seu Filho.

    11*E este é o testemunho: Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está no seu Filho.

    12*Quem tem o Filho de Deus tem a vida; quem não tem o Filho também não tem a

    vida. 13*Escrevi-vos estas coisas, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que tenhais a certeza de ter convosco a vida eterna.

    A vitória do cristão sobre o mundo é a fé. Para alcançar essa vitória, precisa de enfrentar uma luta interior e exterior contra tudo o que é mundano e realizar a vontade de Deus. A certeza da vitória vem da força da vida divina e da união com Deus. Portanto, é a fé em Cristo, Filho de Deus, o único meio para vencer o mundo (v. 5; cf. Jo 20, 30-31).

    Jesus veio para dar a vida e, quem acredita nele, tem a vida eterna (cf. v. 21). Esta vida eterna, que Jesus trouxe à humanidade é certa, porque Ele a ofereceu no começou da sua vida pública pelo baptismo («água») (cf. Jo 1, 31), e o fim da sua existência terrena pela morte na cruz («sangue») (cf. Jo 6, 51; 19, 34), e sempre actualizada na Eucaristia.

    É sobre este testemunho tríplice e concorde que se funda a manifestação de Deus em Cristo, seu Filho ( vv. 7-8). Há aqui reflexos da polémica do Apóstolo contgra os gnósticos que afirmavam que a divindade de Jesus se uniu à humanidade n o baptismo, mas na morte se separou da humanidade, de tal modo que apenas morreu o homem Jesus. Quem refuta este testemunho do Espírito de Deus, recusa a fé em Cristo, que é esta união de vida e de morte. A acção do Espírito entretece a vida sacramental (baptismo, confirmação, eucaristia), por meio da qual o crente é inserido no mistério de Cristo e é~e capaz de dar testemunho dele e viver em comunhão com Deus (vv. 11-13).

    Evangelho: Lucas 5, 12-16

    Naquele tempo: 12*Estando Jesus numa das cidades, apareceu um homem coberto de lepra. Ao ver Jesus, caiu com a face por terra e dirigiu-lhe esta súplica: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» 13Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado.» E imediatamente a lepra o deixou. 14*Ordenou-lhe, então, que a ninguém o dissesse, mas acrescentou: «Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés ordenou, para lhe servir de prova.» 15A sua fama espalhava-se cada vez mais, juntando-se grandes multidões para o ouvirem e para que os curasse dos seus males. 16*Mas Ele retirava-se para lugares solitários e aí se entregava à oração.

    Jesus cura um leproso e mando-o ao sacerdote para fazer a oferta pela purificação (cf. Lv 14) e para servir de testemunho a todos da sua presença messiânica no meio do povo. O judaísmo, de facto, considerava a cura da lepra um dos sinais d
    a vinda do Messias (cf. Lc 7, 22).

    A cura é descrita com alguns elementos típicos: o pedido do doente («Senhor, se quiseres, podes purificar-me»: v. 12), a resposta positiva de Jesus, que toca o doente e o cura («Quero, fica purificado.»: v. 13), o envio ao sacerdote («Vai mostrar-te ao sacerdote…»: v. 14). O leproso, marginalizado da comunidade, depois de curado é reinserido nela. Esta cura é também símbolo do perdão e da misericórdia de Deus, e é fundamento da vida da Igreja (cf. Jo 20, 23).

    Uma nota final de Lucas apresenta um aspecto particular da pessoa de Jesus: depois da cura, e no meio da fama que se espalha, Jesus retira-se a sós para rezar. É da oração que vem a força de Jesus e o seu fascínio irresistível. A oração serve-lhe também para rever a sua missão à luz do projecto do Pai.

    Meditatio

    Jesus é, não só mestre, mas também modelo de oração.
    S. Lucas é o evangelista que mais se compraz em apresentar Jesus em

    oração, especialmente sobre os montes e em lugares solitários: “Jesus… foi conduzido pelo Espírito ao deserto” (Lc 4, 1; cf. Mt 4, 1; Mc 1, 12); “Jesus retirava-se para lugares solitários a fim de rezar” (Lc 5, 16; cf. 9, 18; 11, 1; 22, 40-46); “Jesus subiu ao monte para rezar e passou toda a noite em oração” (Lc 6, 12; cf. 9, 28; Mc 6, 46; Jo 6, 15). S. Lucas recorda também duas orações de Jesus na cruz sobre o Calvário: “Pai, perdoa- lhes porque não sabem o que fazem” (23, 34) e “Pai, nas tuas mãos entrego o Meu espírito” (23, 46). É evidente a predilecção de Jesus pelo silêncio e pela solidão, a fim de mergulhar na contemplação. A oração é o lugar do Seu repouso, do Seu encontro com o Pai. Pensemos numa oração muito simples, feita de amoroso silêncio, com uma única invocação: “Abbá, Pai”.

    Rezar não é tentar obter de Deus o que nos agrada, o que julgamos importante para os nossos próprios projectos. Rezar leva-nos a entrar na perspectiva de Deus, partindo do seu amor. É contemplar o rosto do Pai que ternamente olha os seus filhos. É encontro com alguém que nos ama, e deixar-nos apanhar pelo Seu amor.

    Não é fácil rezar. Exige aprendizagem, trabalho exigente, não porque é superior às nossas forças, mas porque é uma experiência que jamais se esgota, um caminho onde sempre permanecemos discípulos.

    A oração não é tanto um exercício de amar a Deus, mas de se deixar amar por Ele. É acolhimento do Seu amor, da Sua palavra, dos Seus projectos, dos Seus

    desejos. É experimentar silenciosamente e serenamente a Sua presença, como Maria a experimentava no seu seio.

    Mas a oração é também resposta ao dom que Deus nos faz de si mesmo e de todas as suas graças e bênçãos. A oração é louvor, acção de graças, oferta, intercessão, festa e liturgia da vida. Levar a vida à oração. Levar a oração à vida.

    O coração da oração cristã é entrar no mistério da filiação divina: estar em Deus no Espírito pelo Filho, como o Filho está no mistério do Pai.

    Os números 71 e 76 das nossas Constituições falam da oração pessoal de intimidade e de continuidade, para passar da contemplação à acção, do amor de Deus ao amor do próximo; todavia, para a cultivar e viver, é preciso amor ao silêncio e à solidão (não ao isolamento), que favorecem também uma fiel e fervorosa oração comunitária, porque, se “sem espírito de oração, esmorece a oração pessoal; sem a oração comunitária, definha a comunidade de fé” (Cst. 79).

    Recordemos outras duas afirmações das nossas Constituições acerca da oração, não só pessoal, mas também comunitária: “Reconhecemos que da oração assídua dependem a fidelidade de cada um e das nossas comunidades, bem como a fecundidade do nosso apostolado.” (Cst. 76); “Fazendo-nos progredir no conhecimento de Jesus, a oração estreita os laços da nossa vida comum e abre-a constantemente à sua missão” (Cst 78).

    Oratio

    «Senhor, se quiseres, podes purificar-me». Purifica-me todo o meu pecado: do meu egoísmo, da minha auto-suficiência, da minha dissipação. Estende-me a tua mão, toca-me e faz-me ouvir a tua palavra salvadora: «Quero, fica purificado». Então, serei um membro vivo e activo da minha comunidade, da Igreja. Então, terei ouvidos para escutar a tua palavra, olhos para contemplar o teu amor, mãos para participar na realização da tua obra de salvação no mundo. Então, poderei apresentar-me diante de Ti, participar da tua intimidade, da tua vida e, Contigo apresentar-me diante do Pai para rever a minha vida e a minha missão, à luz do seu projecto de amor. Faz-me redescobrir o dom da oração e conduz-me ao Cenáculo para reviver o mistério do Pentecostes e reavivar em mim o dom do teu Espírito. Amen.

    Contemplatio

    É na medida da sua fé que os doentes obtêm de Nosso Senhor a sua cura, os possessos a sua libertação.

    Era necessário recordar aqui todos os milagres de Nosso Senhor e citar todo o evangelho. – “Não encontrei tanta fé em Israel”, exclama Nosso Senhor diante da humildade crente do centurião. – «Ó mulher, como é grande a tua fé!», diz à cananeia. – «Credes que o possa fazer?», pergunta aos cegos de Cafarnaúm». – «Se podes crer!», responde ao pai do lunático: tudo é possível a quem crê. – «Que seja feito segundo a vossa fé!», diz em várias circunstâncias. – «Senhor, se quiserdes, diz o leproso de Galileia, podeis purificar-me». – «Crê somente e a tua filha viverá», diz a Jairo. – A vários repete: «A vossa fé vos salvou». Aos apóstolos que se afligem por não poderem operar algumas curas, Nosso Senhor revela o motivo da sua impotência: «É por causa da vossa incredulidade». – «Homens de pouca fé, onde está então a vossa confiança?», diz-lhes, no meio dos terrores da tempestade. – Promete-lhes que operarão prodígios se tiverem a fé somente como um grão de mostarda. – E a última censura que lhes dirige, antes de subir ao céu, é de terem tão lentamente acreditado nas testemunhas da sua ressurreição. – Senhor, aumentai a minha fé e curai-me de todas as minhas enfermidades (Leão Dehon, OSP 4, p. 168).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me». (Lc 5, 12)

  • Tempo do Natal – Sábado depois da Epifania

    Tempo do Natal – Sábado depois da Epifania

    11 de Janeiro, 2025

    Tempo do Natal – Sábado depois da Epifania

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 5, 14-21

    Caríssimo:14*Esta é a plena confiança que nele temos: se lhe pedimos alguma coisa segundo a sua vontade, Ele ouve-nos. 15E, dado que sabemos que nos vai ouvir em tudo o que lhe pedirmos, estamos seguros de que obteremos o que lhe pedimos. 16*Se alguém vir que o seu irmão comete um pecado que não leva à morte, peça, e dar-lhe-á vida. Não me refiro aos que cometem um pecado que não leva à morte; é que existe um pecado que conduz à morte; por esse pecado não digo que se reze. 17Toda a iniquidade é pecado, mas há pecados que não conduzem à morte. 18*Nós bem sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca, mas o Filho de Deus o guarda, e o Maligno não o apanha. 19E bem sabemos que somos de Deus, ao passo que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno. 20*Bem sabemos também que o

    Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro; e nós estamos no Verdadeiro, no seu Filho, Jesus Cristo. Este é o Verdadeiro, é Deus e é vida eterna. 21*Meus filhinhos, guardai-vos dos ídolos.

    Ao terminar a sua carta, João retoma os temas da segurança da fé e a coerência na vida do cristão, acrescentando o da oração confiante. A oração que o crente dirige ao Pai tem por finalidade obter a vida para aqueles cujos pecados «não conduzem à morte» (vv. 16-17). Há pecados que conduzem à morte: os que rompem definitivamente a comunhão com Deus. Mas há pecados que não rompem essa comunhão definitivamente e não levam à morte. João diz que é bom rezar por estes últimos, para que sejam readmitidos à comunhão com Deus. O importante é que esta oração seja feita de acordo com a vontade de Deus, e não segundo os próprios interesses.

    Ao terminar carta com três afirmações do apóstolo que sublinham a certeza que ele tem acerca do ensinamento que deu aos crentes: quem nasceu de Deus não peca e escapa ao domínio de Satanás (v. 18); o crente pertence a Deus e não ao mundo, porque se trata de duas realidades opostas e inconciliáveis (v. 19); a certeza da vinda de Jesus até nós dá-nos a possibilidade de escaparmos do mal e de entrarmos na comunhão com Deus e com o seu Filho.

    A carta encerra com o apelo de João a que os cristãos recusem o culto aos ídolos para possuírem a verdade que é Jesus.

    Evangelho: João 3, 22-30

    22*Naquele tempo, Jesus foi com os seus discípulos para a região da Judeia e ali convivia com eles e baptizava. 23Também João estava a baptizar em Enon, perto de Salim, porque havia ali águas abundantes e vinha gente para ser baptizada.

    24João, de facto, ainda não tinha sido lançado na prisão. 25Então levantou-se uma discussão entre os discípulos de João e um judeu, acerca dos ritos de purificação. 26Foram ter com João e disseram-lhe: «Rabi, aquele que estava contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está a baptizar, e toda a gente vai ter com Ele.» 27*João declarou: «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. 28*Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: ‘Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente.’ 29*O esposo é aquele a

    quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! 30*Ele é que deve crescer, e eu diminuir.»

    Enquanto a actividade missionária de Jesus e a do Baptista florescia, surge um episódio que perturba os discípulos de João: uma discussão com alguém que provavelmente tinha recebido o baptismo da mão dos discípulos de Jesus. O tema em discussão é o valor da purificação do baptismo dado pelos rabis e a relação entre os dois ritos. A resposta do Baptista sublinha um princípio geral válido para todo o homem que realiza uma missão: na história da salvação ninguém pode apropriar-se de uma determinada função, se ela não lhe for conferida por Deus (v. 27); além disso, afirma a superioridade de Jesus (v. 28). E, para explicar melhor a relação que tem com Jesus, explica a superioridade da missão própria de Jesus com um exemplo tirado do ambiente judaico: a relação entre o amigo do esposo e o esposo durante a festa nupcial (cf. Is 62, 4-5; Mt 22, 1-14; Lc 14, 16-24).

    Nesta comparação, João Baptista não tem dificuldade em reconhecer Jesus no papel de Messias-esposo, vindo para celebrar as núpcias messiânicas com a humanidade, e, portanto, aponta a si mesmo como discípulo-amigo do esposo. Ele pôde conhecer o Messias que dá início à sua missão e recolhe os primeiros frutos do seu trabalho. Por isso, se alegra, pois constata a realização definitiva do projecto salvífico de Deus. E compreende que chegou o momento de se retirar: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir» (v. 30).

    Meditatio

    É admirável verificar como João Baptista manifesta alegria numa circunstância em que nós, geralmente, manifestamos tristeza. Jesus estava a ter mais sucesso do que João. Os discípulos do Baptista andam preocupados e manifestam essa preocupação: «Rabi, aquele que estava contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está a baptizar, e toda a gente vai ter com Ele.» (v. 26).

    A carreira de João está a chegar ao fim. E ele reconhece que é essa a sua vocação: «Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: ‘Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente. O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu diminuir.»(v. 28-30).

    Estas palavras enchem-nos de admiração, certamente. Mas é preciso irmos mais além. Na relação uns com os outros: quantas invejas! Quantos ciúmes! Na relação, particularmente, com Cristo: somos mensageiros, precursores, servos do Senhor! E nada mais! Não é em nós, ou nos nossos interesses, que aqueles queevangelizamos se devem fixar. É em Cristo. O apóstolo há-de ser transparente como o vidro para que, olhando-o, os fiéis vejam mais além, vejam o Senhor.

    Quantas vezes, na nossa vida de apóstolos acontecem coisas que noscontrariam. Não bastam aguentar, sofrer! É preciso acolher com alegria! São essas coisas que nos tornam semelhantes a Jesus. As próprias doenças, as humilhações,

    são chamamentos de Jesus. Há que reconhecê-los como manifestação da sua vontade. Não quer que soframos, certamente! Mas quer que soframos como Ele! Então a nossa alegria será plena!

    Se todo sofrimento tem uma sua misteriosa fecundidade apostólica, com maior razão a tem a«cruz do apóstolo», os inúmeros sofrimentos que acompanham toda a acção apostólica e que, por vezes, são coroados com a morte, com o martírio. Que centrou a sua vida e a sua acção na união à oblação de Cristo, até à imolação, aceita todos os sofrimentos como graça. A morte é a sua suprema graça, pois nela se realização a oblação total, a imolação. Nessas circunstâncias realiza-se para o apóstolo,como para Cristo, a parábola do “grão de trigo caído na terra: se… não morrer, permanece só; se, pelo contrário, morrer, produz muito fruto” (Jo 12, 24). É mesmo a morte que revela a autenticidade profunda da vida, para além dos sucessos e dos insucessos; revela como vivemos e para quem vivemos: para Cristo e como Cristo, sacerdote e vítima, mais ainda, sacerdote porque vítima.

    Oratio

    Senhor Jesus, obrigado pelos ensinamentos que hoje, mais uma vez, repartes comigo tão abundantemente. Obrigado, especialmente que, na história da salvação, ninguém pode apropriar-se de uma determinada função, se ela não lhe for conferida por Ti. Que eu Te reconheça como Messias-Esposo, que vieste ao mundo para celebrar as núpcias messiânicas com a humanidade. Que me reconheça como teu discípulo-amigo, colaborador e solidário. Que jamais me deixe levar por ciúmes em relação aos meus irmãos empenhados na actividade apostólica. Que eu jamais ceda a tentação de centrar as atenções dos fiéis em mim, mas seja sempre como uma vidraça transparente, uma simples e clara mediação, para que todos Te reconheçam e acolham como Salvador do mundo, porque só Tu deves crescer, e eu dimunuir. Amen.

    Contemplatio

    Não era conveniente que o Precursor mostrasse o mesmo espírito com que nosso Senhor havia de ser amado? Não deveria Nosso Senhor ensinar-nos a humildade todos os dias da sua vida pelos seus exemplos e conselhos? … Excelência da humildade. Mas, porque é preciosa a humildade? É preciosa porque é a verdade, é o remédio para o nosso orgulho. É a verdade. Que era eu antes de nascer? Que era eu ao ser formado? Lodo, terra, miséria. Que era eu depois do meu nascimento? Um inimigo de Deus, privado da graça e da razão. Que sou, agora? Um pecador frágil, capaz das mais vergonhosas fraquezas sem a graça. Que serei eu, mais tarde? Serei presa dos vermes e podidrão, a minha alma será presa das chamas, se não for humilde de espírito e de coração.

    A humildade é remédio para o nosso orgulho. Mas, para isso, não basta reconhecer o próprio nada e aceitar as humilhações merecidas. Aceitando-as, não fazemos mais do que o nosso dever, não reparamos nada e podem dizer-nos: «Somos servos inúteis».

    Não aceitou Nosso Senhor as humilhações? Foi até pelas suas humilhações imerecidas que nos testemunhou o seu amor, reparando o nosso orgulho. Foi por isso que Ele amou os menosprezados e que foi verdadeiramente humilde de coração.

    Queremos realmente curar o nosso orgulho, reparar as nossas faltas e ajudar conforme as necessidades o nosso próximo com as nossas reparações? Amemos a humildade, amenos ser menosprezados e amenos as humilhações. Como o orgulho afasta a graças, assim a humildade a atrai! O Coração de Jesus ama os humildes (L. Dehon, OSP 4, pp 555-557).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir» (Jo. 3, 30)

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