Week of Dez 31st

  • Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal


    29 de Dezembro, 2024

    Tempo do Natal - 5º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1João 2, 3-11

    Caríssimos:3*Sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos. 4*Quem diz: «Eu conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso, e a verdade não está nele; 5*ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que o amor de Deus é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. 6*Quem diz que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou. 7*Caríssimos, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que já tínheis desde o princípio: este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. 8*É, contudo, um mandamento novo o que vos escrevo .o que é verdade nele e em vós. pois as trevas passaram e a luz verdadeira já brilha. 9*Quem diz que está na luz, mas tem ódio a seu irmão, ainda está nas trevas. 10Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. 11Mas quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.

    O caminho para conhecer a Deus e permanecer nele é, pela negativa, «não pecar» (cf 1 Jo 1, 5-2,2) e, pela positiva, guardar os mandamentos, especialmente o do amor a Deus ( vv. 3-6) e aos irmãos 8vv. 8-11). O conhecimento de Deus comporta, pois, exigências de vida, ao contrário da gnose, filosofia religiosa popular do tempo de Jesus, que apenas exigia a libertação do mundo visível. Opondo-se a essa doutrina, que excluía o pecado e a existência de qualquer moral, João afirma que o verdadeiro conhecimento de Deus deve ser autenticado pela observância dos mandamentos. De facto, quem guardar a «sua palavra» (v. 5) experimenta o amor de Deus e mora nele, porque vive como Jesus viveu, e tem dentro de si uma realidade interior que o impele a imitar a Cristo, cujo exemplo de vida é precisamente o amor (v. 6).

    Este mandamento do amor é novo e antigo: «novo», porque gera vida nova e deve sempre redescobrir-se; «antigo», porque foi ensinado desde o início do anúncio cristão. O verdadeiro critério de discernimento do espírito de Deus é o amor fraterno, porque ninguém pode estar na luz de Deus e odiar o próprio irmão.

    Evangelho: Lucas 2, 22-35

    22*Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23*conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25*Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26*Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. 27Impelido pelo Espírito, veio ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito, 28Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29*«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, 30*porque meus olhos viram a Salvação 31que oferecestes a todos os povos, 32*Luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo.» 33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. 34*Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua

    Caixa de texto: Tempo do Natal 29|Dezembro
    mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35*uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»

    A apresentação de Jesus no templo tem como horizonte teológico o quadro da antiga aliança que dá lugar à nova aliança, pelo reconhecimento do menino Jesus como o Messias sofredor, o Salvador universal dos povos. A narrativa está cheia de referências bíblicas (cf. Ml 3; 2 Sam 6; Is 49, 6), e compõe-se de duas partes: a apresentação da cena (vv. 22-24) e a profecia de Simeão (vv. 25-35).

    Maria e José, obedientes à lei hebraica, entram no templo como membros simples e pobres do povo de Deus, para oferecerem o primogénito ao Senhor e para purificação da mãe (cf. Ex 13, 2-16; Lv 12, 1-8). A oferta do Menino revelam confiança e abandono em Deus, antecipação da verdadeira oferta do Filho ao Pai, que se realizará no Calvário. O centro da cena é a profecia de Simeão, homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel (cf. v. 25). Guiado pelo Espírito, vai ao templo e, reconhecendo em Jesus o Messias esperado, saúda-o festivamente e faz uma confissão de fé: realizaram-se as antigas profecias; ele viu o Salvador, a glória de Israel, a luz e salvação de todos os povos. Mas essa luz terá o reflexo do sofrimento, porque Jesus há-de ser «sinal de contradição» (v. 34) e a própria Mãe será envolvida o destino de sofrimento do Filho (v. 35).

    Meditatio

    A contemplação do encontro de Simeão com o Menino Jesus, deixa-nos entrever a alegria imensa de quem vê realizar-se um desejo antigo, próprio e de todo o povo. Simeão contempla e recebe nos braços o Messias de Israel, Aquele que traz consolação, salvação, luz e glória a Israel.

    As palavras «impelido pelo Espírito, veio ao templo» podem trazer inspiração para a nossa vida. Simeão é um homem dócil ao Espírito Santo e, por isso, pode ter a alegria de encontrar o Messias, tomá-lo nos braços e bendizer a Deus. Homem justo e temente a Deus, observava, não os mandamentos, mas também as inspirações de Deus. Estava atento à voz do Espírito para, em todas as circunstâncias, fazer a vontade de Deus. Assim caminhava na luz, para conhecer a Jesus, como ensina S. João. Coube-lhe a honra de oferecer a Deus aquele menino. Fê-lo certamente com o arrebate que notamos no seu hino. Mas estava ain
    da longe de compreender plenamente o alcance do seu gesto. Escreve o Pe. Dehon: «Enquanto que o velho Simeão o oferece assim, Deus não vê nas mãos do sacerdote senão o Coração do seu Filho, que se oferece a si mesmo, este Coração animado de uma generosidade infinita, este Coração tão grande pelo amor, que é pequeno fisicamente. O santo ancião não compreende toda a excelência deste dom que ele faz a Deus da parte dos homens; adivinha-o um pouco, entrevê-o profeticamente. O Coração de Jesus compreende todo o valor desta oferenda, é ao mesmo tempo o doador e o dom, o Sacerdote e a oblação» (OSP 3, p. 218).

    Cristo entregava-se para glória e alegria do Pai e para salvação da humanidade. Amar a exemplo de Cristo, significa entregar-se, esquecer-nos de nós mesmos, procurar os interesses dos outros até ao sacrifício dos próprios interesses. A atitude evangélica de quem se coloca na verdade é o dom de si mesmo a Deus e aos irmãos. A vida cristã é amor que se dá a todos com generosidade.

    O fundamento deste amor é a própria Trindade, a comunhão que une o Pai e o Filho.

    Isto faz-nos compreender que o amor cristão não se limita à comunidade cristã, em que cada um de nós vive, porque o amor fundado sobre o amor do Pai e vivido em plenitude entre os irmãos na fé é um elemento de dinamismo apostólico. Com quanto maior profundidade se viver a fé e o amor, mais nos sentimos impelidos ao testemunho. Onde reinar esse amor recíproco, os discípulos tornam-se sinal histórico e concreto de Deus-Amor no mundo.

    Oratio

    Senhor Jesus, a tua vida escondida, e confundida com a da gente comum, é para nós um exemplo de simplicidade e de pobreza. Como qualquer primogénito do teu povo, quiseste ser apresentado ao templo e oferecido a Deus, para cumprires a Lei. Fizeste-te reconhecer como Salvador universal por Simeão, um homem justo e aberto à novidade do Espírito. É aos simples e aos humildes que Te costumas revelar, e não aos sábios e orgulhosos.

    Nós Te pedimos que, apesar da nossa miséria e da nossa incapacidade em nos darmos conta da passagem do teu Espírito na nossa vida, nos dês a graça de Te reconhecermos como nossa luz e como luz do mundo.

    Nós Te louvamos e bendizemos, com o velho Simeão, pela realização das tuas promessas. Ajuda-nos a viver tudo quanto nos ensinaste, especialmente o amor fraterno. E que toda a nossa vida seja oblação ao Pai, em favor da humanidade, pela qual Tu próprio Te ofereceste. Amen.

    Contemplatio

    Simeão, homem justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo, que estava nele, tinha-lhe dito que não morreria sem ver o Cristo do Senhor. Ele esperava, era a sua vida, e a sua confiança era inabalável.

    Mas será que eu peço e espero o reino de Nosso Senhor? Quão depressa fico sem coragem! Uma decepção, uma oração aparentemente infrutífera, uma demora da Providência, e deixo-me abater. Rezar, esperar, ter confiança, isto é a vida cristã.

    É um dia de alegria para Simeão. Naquele dia, os seus pressentimentos realizam-se. Vem ao Templo, encontra uma criança com a sua mãe. É o redentor! O vidente compreendeu- o.

    E quando recebe Jesus nos seus trémulos braços, não consegue conter as lágrimas: «Agora posso morrer, diz, vi a salvação...» A terra já não tem encanto para ele. Os seus olhos já não se interessariam por mais nada. Viu o Senhor, irá esperá-lo no silêncio dos limbos.

    Oh! Porque é que não sei esperar e perseverar na oração? Alegrias profundas viriam recompensar-me e encorajar-me.

    Como Simeão é belo quando, com os olhos banhados de lágrimas, ergue com os seus trémulos braços o menino Jesus para o céu, cantando o seu Nunc dimittis! Viu o Senhor, é ter vivido muito, é viver muito ainda. «Agora, diz, podeis, Senhor, deixar ir em paz o vosso servo... O túmulo não me assusta, certo como estou de já não estar muito tempo separado de vós... Permiti que vá anunciar aos vossos santos que já não têm muito tempo que esperar por vós, porque os meus olhos viram a salvação que preparastes para os povos, a luz que deve iluminar as nações e a glória de Israel vosso povo» (Leão Dehon, OSP 3, p. 126).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Quem ama o seu irmão permanece na luz» (1 Jo 2, 10).

  • Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal


    30 de Dezembro, 2024

    Tempo do Natal - 6º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 2, 12-17

    12*Eu vo-lo escrevo, filhinhos: Os vossos pecados estão-vos perdoados pelo nome de Jesus. 13*Eu vo-lo escrevo, pais: Vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevo, jovens: Vós vencestes o maligno. 14Eu vo-lo escrevi, filhinhos: Vós conhecestes o Pai. Eu vo-lo escrevi, pais: vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevi, jovens: Vós sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e vós vencestes o Maligno. 15*Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 16*Pois tudo o que há no mundo ..a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso . não vem do Pai, mas sim do mundo. 17*Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre.

    João dirige-se afectuosamente à comunidade cristã para que seja coerente com o projecto de salvação e com as opções que fez em relação a Deus e ao mundo. Assim poderá manifestar o seu amor para com Deus.

    Escrevendo aos filhos, exorta-os a reflectir sobre a situação actual de salvação em que vivem, pois obtiveram o perdão dos pecados (v. 12) e conheceram o Pai (v. 14ª). Escrevendo aos pais, recorda-lhes que conheceram Jesus, «aquele que existe desde o princípio» (v. 13), por meio da Palavra, pelo que se exige deles uma fé madura que não os deixe ser seduzidos pelo mundo. Aos jovens recorda que aderiram a Jesus e venceram o mal (v. 13), e que a sua fortaleza espiritual, reforçada pela palavra de Deus, os exclui de compromissos com as fáceis atracções do mundo (v. 14).

    Este projecto de vida espiritual resume-se numa vida separada da lógica do mundo, entendido como reino do mal que se opõe a Deus. Deus e mundo são duas realidades opostas. João menciona alguns aspectos que pertencem à transitoriedade do mundo, inimigo de Deus: «a concupiscência da carne», isto é, as tendências más que existem no homem decaído e inclinado ao pecado; «a concupiscência dos olhos», isto é, a cobiça que pode entrar pelos olhos, tal como a avidez pelos bens terrenos; «o estilo de vida orgulhoso», isto é, o orgulho fundado na concepção materialista da vida.

    A separação do mundo tem, para os cristãos, uma razão de ser: vivem no mundo, mas sabem que, enquanto o mundo passa, Deus permanece (v. 17).

    Evangelho: Lucas 2, 36-40

    36Quando os pais de Jesus levaram o Menino a Jerusalém, a fim de o apresentarem ao Senhor, estava no templo uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37*ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38*Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40*Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

    Caixa de texto: Tempo do Natal 30|Dezembro
    O texto do evangelho que lemos hoje é a conclusão do episódio da apresentação de Jesus ao templo. Consta de duas partes: o testemunho da profetiza Ana (vv. 36-38) e o regresso da Sagrada Família a Nazaré (vv. 39-40).

    De acordo com a lei dos hebreus, para garantir a verdade de um facto, exigia-se a deposição de duas testemunhas. Depois do testemunho de Simeão, vem o de Ana. É outra "pobre de Deus", típica representante daqueles que aguardavam a redenção de Israel. Louva o Senhor porque reconheceu no Menino Jesus, apresentado ao templo, o Messias esperado, e espalhou a notícia entre aqueles que viviam disponíveis para o evento da salvação (v. 38).

    A cena conclui-se com a observação de Lucas sobre o crescimento de Jesus, em Nazaré: «o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele» (v. 40). Diz-se muito pouco sobre a vida oculta de Jesus. Mas, o pouco que se diz, é suficiente para captarmos o espírito e apreciarmos o ambiente onde viveu o Salvador: os seus pais eram obedientes e fiéis à Lei, Jesus crescia em sabedoria, cheio como estava dos dons da graça de que o Pai o cumulava (cf. v. 52; 1 Sam 2, 26). Estamos perante uma comunidade que se abre ao reino de Deus, no respeito pela vontade do Pai.

    Meditatio

    A profetiza Ana, uma anciã com 84 anos, número bíblico que simboliza a perfeição (resulta de 12×7), pois está no fim dos seus dias, sugere uma comparação com o ano civil que também está a terminar. Ana, depois de 7 anos de casamento, permaneceu no templo, servindo a Deus dia e noite com jejuns e orações. Por isso mereceu a graça do encontro com o Salvador. O nosso ano civil também está muito velho, e termina com o encontro do Senhor no Natal. Esse encontro é tanto mais belo e frutuoso quanto tiver sido cuidada a preparação. Mas, apesar de toda a nossa infidelidade, o Senhor, na sua infinita bondade e misericórdia, vem até nós, e dá-se a conhecer como nosso Salvador. Por isso, também nós, como Ana e, afinal, como Maria e todos os que esperavam a salvação de Israel, podemos entoar hinos de louvor e gratidão ao Senhor.

    Este encontro com o Senhor traz-nos a salvação, insere-nos numa nova forma de vida, com a qual havemos de ser coerentes, para manifestarmos o nosso amor a Deus. A vocação cristã, a que fomos chamados, compromete-nos a viver no mundo a serviço do homem, para testemunhar a Cristo e levar a todos a sua mensagem de salvação. Vivemos no mundo, mas sem nos confundirmos com ele, nem cedermos a compromissos
    com ele. Caso contrário, negamos o espírito de humildade, de pobreza, de caridade que deve animar a nossa vida de crentes. Só o coração que se esvaziar do mundo, das suas propostas de vida transitórias e da avidez pelos seus bens efémeros, podem ser cumulado do amor do Pai (cf. 1 Jo 2, 15).

    O discípulo de Jesus jamais será aceite pelo mundo, por causa da sua opção de vida, contrária às propostas e interesses mundanos. Os crentes, por causa da sua eleição e da sua opção de vida por Cristo, são considerados estranhos e inimigos do mundo. Por isso é que o homem de fé é odiado e recusado. O mundo recusa os discípulos porque não são seus. Perturbam a sua paz, desmascaram o seu orgulho, acusam o seu conformismo. Mas, se Cristo permanece sinal de contradição para quem segue a lógica do amor, também é certo que tanta oposição se torna critério de autenticidade e de solidez para os discípulos de Cristo.

    Como cristãos e, mais ainda, como religiosos, estamos "no mundo", mas não somos "do mundo" (cf. Jo 17, 11-14). As nossas Constituições dizem-nos que estamos inseridos no mundo, "segundo a nossa vocação específica" (n. 61), isto é, que devemos conservar e viver a nossa identidade de oblatos, servindo o Senhor noite e dia, e servindo os homens, segundo o nosso carisma específico e a missão a que somos chamados. Se assim não for, condenamo- nos à esterilidade em relação a nós mesmos, à Igreja, ao mundo, e esvaziamos de significado a nossa missão (cf. ET 52).

    A vivência da nossa vocação e missão não está livre de oposições. Sabemos quantas dificuldades o Pe. Dehon teve que enfrentar durante a sua longa vida e como elas acabaram por revelar a autenticidade e a solidez da sua santidade e do seu carisma. Escreve na meditação para o último dia do ano: «O ano teve, sem dúvida, sofrimentos e tristezas. Seria heróico agradecer a Deus essas provações que, nos seus desígnios sobre nós, têm a finalidade de nos purificar e santificar... Bendigamos a Deus e pensemos nas alegrias eternas que hão-de recompensar as provações actuais» (OSP 4, p. 604).

    Oratio

    Senhor Jesus, Tu quiseste viver numa família humana sem aparência, prestígio ou riqueza, a tua experiência humana. A tua vida de criança foi marcada pela fragilidade e pelo crescimento normal. Trabalhaste para ganhar o pão de cada dia. Viveste no escondimento e na reflexão silenciosa a preparação para a vida pública. Assim experimentaste a condição humana e venceste o orgulho do mundo.

    Dá-nos a graça de acolhermos, com alegria e gratidão, a nossa fragilidade humana, a nossa história, a nossa família, a terra onde nascemos. Dá-nos a graça de aceitarmos a nossa fragilidade espiritual, sem todavia renunciarmos à busca permanente da tua sabedoria e da tua Palavra.

    Dá-nos a graça de sermos coerentes com a opção que fizemos por Ti, no Baptismo, na profissão religiosa. Que, jamais, a pretexto de inserção no mundo, nos deixemos confundir com ele, com os seus ideais e interesses. Que, a pretexto de não-violência, jamais desçamos a compromissos com o mundo, entendido como conjunto de forças que se opõem a Ti e ao teu Reino.

    Que, tendo-Te aceitado como Salvador e Senhor da nossa vida, aceitemos também partilhar um destino semelhante ao teu. Amen.

    Contemplatio

    Ana, filha de Fanuel, mulher venerável, cheia de anos e de graças, também estava lá. Tinha o costume de rezar longamente todos os dias no Templo, e esperava como Simeão a vinda do Messias.

    Como Simeão, ela reconheceu o menino divino e sua mãe, e isto foi para ela a mesma alegria e a mesma acção de graças. Exultava e anunciava a boa nova a todas as pessoas piedosas que esperavam a redenção de Israel.

    E eu, eu recebo Nosso Senhor na sagrada comunhão. Recebo-o mesmo mais intimamente que Simeão. Vem dar-me a sua graça. Qual é o meu fervor para o receber? Como é que lhe testemunhei até aqui a minha alegria, o meu respeito, o meu reconhecimento?

    Ana, toda entusiasmada, falava de Jesus a todas as pessoas: loquebatur de illo omnibus. Quais são as minhas conversas depois das minhas comunhões? São edificantes, caridosas, sobrenaturais?

    Transportado de amor depois das minhas comunhões, devia estar resolvido a viver glorificando Jesus e a morrer amando-o.

    Simeão repete a Maria a profecia de Isaías: «O Cristo será para a santificação de muitos em Israel, mas será para outros uma pedra de escândalo» (Is 8,14). É manifesto. Cristo é causa de salvação e de ressurreição para aqueles que o reconhecem, que o amam e que o servem. É causa de ruína para aqueles que o rejeitam.

    A indiferença não é colocada aqui. Jesus é a vida. Todas as bênçãos são prometidas àqueles que o seguem e que o amam. É preciso estar com ele ou com o mundo. Os povos e as famílias, como os particulares, encontrarão o caminho da paz e dos favores divinos no seguimento de Jesus e no seu serviço.

    Estas palavras do profeta são graves. Há dois caminhos oferecidos à nossa escolha: de um lado o caminho das bênçãos, com o seu traçado marcado no Evangelho: «Bem- aventurados os pobres, bem-aventurados os puros, bem-aventurados os que choram, os que perdoam, os que sofrem perseguição». Do outro lado, o caminho que afasta de Cristo. Tem este traçado: amor pelo ouro, pelo luxo, pelo prazer e pelo mundo. - Sois vós quem eu escolhi, meu Salvador, é o vosso caminho, é o vosso amor, é o vosso Coração, mesmo que deva encontrar as contradições e as perseguiç&otilde
    ;es!

    Simeão predisse a Maria a dor e a espada. Ela terá uma grande parte na paixão de Jesus. Sofrerá, ela também, por nós e pela nossa salvação. Ó Maria, como queria consolar-vos e partilhar das vossas mágoas para as aliviar! Até aqui, aumentei-as com as minhas faltas, perdoai-me. Vou-me esforçar por vos consolar com a minha paciência, com os meus sacrifícios e com as minhas mortificações.

    Com Simeão, alegro-me por possuir muitas vezes Jesus na sagrada comunhão. Agarro-me ao bom Mestre, que é sempre contradito. Contentarei o seu divino Coração com as minhas práticas quotidianas de reparação e de amor (Leão Dehon, OSP 3, p. 127s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «Quem faz a vontade de Deus permanece para sempre» (1 Jo 2, 17).

  • Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal

    Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal


    31 de Dezembro, 2024

    Tempo do Natal - 7º dia da Oitava do Natal

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 2, 18-21

    18*Meus filhos, estamos na última hora. Ouvistes dizer que há-de vir um Anticristo; pois bem, já apareceram muitos anticristos; por isso reconhecemos que é a última hora. 19*Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos, porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido connosco; mas aconteceu assim para que ficasse claro que nenhum deles é dos nossos. 20*Vós, porém, tendes uma unção recebida do Santo e todos estais instruídos. 21Não vos escrevi por não saberdes a verdade, mas porque a sabeis, e também que da verdade não vem nenhuma mentira.

    S. João exorta a comunidade cristã à vigilância pela iminência da «última hora» da história, marcado por um violento ataque do «anticristo», símbolo de todas as forças hostis a Deus e personificadas nos heréticos. O tempo final da história não deve ser entendido em sentido cronológico mas teológico, isto, como tempo decisivo e último da vinda de Cristo, tempo de luta, de perseguição e de provação para a fé da comunidade. O agudizar das dificuldades indica que o fim está próximo. Vislumbra-se já no horizonte o perfil de um mundo novo. O sinal mais evidente vem dos heréticos que difundem a mentira. Embora tivessem pertencido à comunidade, mostram-se agora seus inimigos, ao abandonarem a Igreja e ao criar-lhe dificuldades.

    É duro verificar que Deus possa permitir a Satanás encontrar instrumentos da sua acção dentro da própria comunidade eclesial. Mas, a esses instrumentos, opõem-se os verdadeiros discípulos de Jesus, aqueles que receberam «a unção do Santo» (cf. v. 20), isto é, a palavra de Cristo e o seu Espírito que, pelo baptismo, lhes ensina a verdade completa (cf. Jo 14, 26). Essa verdade refere-se a Jesus, o Verbo de Deus feito carne, como professa o Apóstolo, e não um Jesus aparentemente humano, figura de uma realidade apenas espiritual, como dizem os hereges docetas.

    Evangelho: João 1, 1-18

    1*No princípio já existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; o Verbo era Deus. 2No princípio Ele estava em Deus; 3*por Ele é que tudo começou a existir; sem Ele nada veio à existência. 4*Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. 5A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. 6*Apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João. 7Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. 9*O Verbo era a luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. 10*Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. 11*Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12*Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. 13*Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. 14*E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória,

    Caixa de texto: Tempo do Natal 31|Dezembro
    a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15*João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'» 16*Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17*É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. 18*A Deus nunca ninguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e que está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.

    Ao contrário dos evangelhos da infância, o prólogo de S. João não narra os acontecimentos históricos do nascimento e da infância de Jesus. De forma poética, descreve a origem do Verbo na eternidade de Deus e a sua pessoa divina no amplo quadro bíblico do projecto de salvação, que Deus traz para o homem.

    Começa pela preexistência do Verbo (vv. 1-5), real e em comunhão de vida com o Pai; o Verbo pode falar-nos do Pai porque possui a eternidade, a personalidade e a divindade (v. 1). Depois fala da vinda histórica do Verbo para meio dos homens (vv. 6-13), de cuja luz deu testemunho João Baptista (vv. 6-8); a luz põe o homem perante a necessidade de fazer uma opção de vida: recusá-la ou acolhê-la, permanecer na incredulidade ou aderir à fé (vv. 9-11); o acolhimento favorável tem por consequência a filiação divina, que não procede da carne ou do sangue, isto é de possibilidades humanas (vv. 12-13). Finalmente, a Incarnação do Verbo (v. 14) como ponto central do prólogo. Este Verbo já tinha entrado na história humana por meio da criação, mas agora vem habitar entre os homens de um modo activo: «O Verbo fez-se homem», na fragilidade de Jesus de Nazaré, para mostrar o amor infinito de Deus. Nele, a humanidade crente pode contemplar a glória do Senhor, a glória de Jesus, o Revelador perfeito e escatológico da Palavra que nos faz livres, o verdadeiro Mediador humano-divino entre o Pai e humanidade, o único que nos manifesta Deus e no-lo faz conhecer (vv. 17-18).

    Meditatio

    «Todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças», diz-nos João no Prólogo do seu evangelho. Vamos partir desta frase para n os colocarmos numa atitude de acção de graças, neste último dia do ano. Ao longo dele, fomos recebendo cada dia graça sobre graça, cada um segundo as suas necessidades e capacidades de receber. E, as graças que recebemos este ano, preparam as que havemos de receber no ano que vai começar.

    Recebemos a graça do perdão misericordioso de Deus para os nossos pecados e para termos coragem de avançar no caminho da santidade. Recebemos luz para avançarmos, dia a dia no ano que termina. Essa luz também n&at
    ilde;o deixará de brilhar sobre nós no ano que começa. A luz é o próprio Filho de Deus feito homem: «Eu sou a Luz do mundo». Essa luz é-nos dada como força e como amor, sobretudo na Eucaristia. Há que acolhê-la de coração aberto e disponível para todos os dons e surpresas de Deus.

    A falta dessa abertura levou alguns cristãos, logo na primitiva Igreja, à heresia. Não aceitavam que Deus se pudesse fazer homem e, mais ainda, homem pobre, homem frágil. Ao longo da história, e ainda em nossos dias, não faltam falsos profetas e mestres de falsidade, que se servem do nome de Cristo para propagar as suas ideias e doutrinas. Muitas vezes, provêm das próprias comunidades cristãs. Há que distinguir o verdadeiro do falso. A verdadeira doutrina traz alegria e paz interior.

    O dom e o mistério de pertencer à Igreja têm como única garantia a fidelidade à Palavra de Cristo, em humilde e permanente busca da verdade. Recusar a Igreja é recusar a Cristo, a verdade e a vida (cf. Jo 14, 6). Recusar a Igreja é não acreditar no Evangelho e na Palavra de Jesus, é viver nas trevas, no não-sentido. O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que, tendo recebido a unção do Espírito Santo, se deixa conduzir suavemente pela sua acção e pela sua verdade, reconhecendo os caminhos de Deus, esperando a sua vinda sem alarmismos nem fantasias milenaristas. A Incarnação de Cristo impregnou toda a história e toda a vida dos homens, porque só nele reside a plenitude da vida e toda a aspiração de felicidade e o homem entrou de pleno direito entre os familiares de Deus.

    O fim do ano civil recorda-nos que a história humana é guiada por Deus. Para Ele a nossa gratidão e a nossa súplica de vida nova que sempre nos quer oferecer.

    Escreve o Pe. Dehon: «O fim do ano é imagem do fim da vida; lembra-nos esse fim. Entremos nos sentimentos de Ezequias, que vendo-se à beira da morte, se humilhava e

    deplorava as suas faltas... Mas não será também preciso dar graças a Nosso Senhor pelos benefícios que recebemos este ano? Ele suportou-nos, perdoou-nos, abençoou as nossas obras. O seu Coração abriu-se largamente a nós. Não será justo sermos reconhecidos?» (Leão Dehon, OSP 4, p. 603s.).

    Oratio

    Senhor, quero hoje rezar-te com Ângela de Foligno:

    «Meu Deus, faz-me digna de conhecer o altíssimo mistério da tua ardente caridade, o mistério profundíssimo da tua Incarnação. Fizeste-te homem por nós. Desta carne começa a vida da nossa eternidade... Ó amor que todo Te dás! Aniquilaste-te a Ti mesmo, desfizeste-te a Ti, para me fazeres a mim; assumiste os farrapos de um servo vilíssimo, para me dares o manto real e a veste divina...

    Por isto que entendo, que compreendo com toda mim mesma - que Tu nasceste em mim - sê bendito, ó Senhor! Ó abismo de luz! Toda a luz está em mim, se eu vejo isto, se compreendo isto: que Tu nasceste em mim. Na verdade, esta inteligência é uma meta: a meta da alegria... Ó Deus, não criado, torna-me digna de me afundar neste abismo de amor, de sustentar em mim o ardor da tua caridade. Faz-me digna de compreender a inefável caridade que nos comunicaste quando, por meio da Incarnação, nos manifestas-te Jesus Cristo como teu Filho, quando Jesus Cristo Te manifestou a nós como Pai.

    Ó abismo de amor! A alma que Te contempla eleva-se admiravelmente acima da terra, eleva-se acima de si mesma e paira, pacificada, no mar da serenidade».

    Contemplatio

    S. João é o pregador do amor. Todo o seu evangelho está neste espírito. A sua primeira página é uma elevação de amor para o Verbo incarnado. «Nós vimos, diz, o Filho de Deus cheio de graça e de glória». Só ele descreve as núpcias tocantes de Caná, o colóquio com a Samaritana, a grande promessa da Eucaristia, a parábola do bom Pastor, a ressurreição de Lázaro, o lava-pés e os discursos tão ternos do Bom Mestre durante a Ceia e depois da Ceia. Narra a abertura do Coração de Jesus.

    As suas epístolas pregam a caridade: «Deus é caridade... amou-nos primeiro... deu- nos o seu Filho por nosso amor. Portanto, amemo-lo também da nossa parte». E sem cessar repete: «Amemo-nos uns aos outros».

    Vivendo junto de Maria e da Eucaristia, caminha para a consumação do amor. Chega à união mística mais intensa com Nosso Senhor, às visões, às revelações. O céu está aberto para ele. Descreve-o inteiramente. Mas sobretudo o Cordeiro triunfante retém o seu olhar: o Cordeiro sempre ferido no Coração e imolado, o Cordeiro que é bem o laço de amor entre Deus e nós.

    Avancemos humilde e progressivamente no amor com S. João (Leão Dehon, OSP 3, p. 404s.)

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Participamos da plenitude do Verbo; dele recebemos graças sobre graças». (Jo 1, 16).

  • Quinta-feira do Tempo do Natal

    Quinta-feira do Tempo do Natal

    2 de Janeiro, 2025

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 2, 22-28

    Caríssimos, 22 quem é, então, o mentiroso? Quem é, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo, aquele que nega o Pai e igualmente o Filho. 23Todo aquele que nega o Filho, fica sem o Pai; aquele que confessa o Filho, tem também o Pai. 24*Quanto a vós, procurai que em vós permaneça o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também vós permanecereis no Filho e no Pai. 25*E esta é a promessa que Ele nos fez: a vida eterna.

    26Escrevo-vos isto a propósito dos que procuram enganar-vos. 27Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que ninguém vos ensine; mas, tal como a sua unção vos ensina acerca de todas as coisas .e ela é verdadeira e não engana. permanecei nele, de acordo com o que Ele vos ensinou.

    28*E agora, filhinhos, permanecei nele, para que, quando Ele se manifestar, tenhamos plena confiança e não fiquemos cheios de vergonha, longe dele, por ocasião da sua vinda. 29*Se sabeis que Ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele.

    Em finais do século I, a Igreja viveu uma fase de grandes tribulações: os "anticristos" negavam que Jesus fosse o Messias, o Filho de Deus. A mentalidade gnóstica não podia admitir que o Verbo tivesse verdadeiramente incarnado. Mas negar essas verdades era, para João, excluir-se da comunhão com Deus e da vida. Era ser "anticristo".

    O verdadeiro cristão deve permanecer fiel à Palavra escutada desde o princípio, isto é, ao mistério pascal na sua totalidade (morte e ressurreição) ensinado pelos apóstolos. É essa a fé que permite estar em comunhão com o Filho e com o Pai (v. 24). Viver em comunhão com Deus é possuir a promessa da «vida eterna» feita por Cristo (v. 25). O crente recebeu a «unção» do Espírito no Baptismo (v. 27). Por isso pode resistir às falsidades dos "anticristos", viver o Evangelho e aguardar a vinda de Cristo. O Espírito dá-nos a força interior da sabedoria, torna-nos discípulos invencíveis e dá-nos confiança em relação ao dia do Senhor (v. 28).

    Evangelho: João 1, 19-28

    19Este foi o testemunho de João, quando as autoridades judaicas lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: «Tu quem és?» 20Então ele confessou a verdade e não a negou, afirmando: «Eu não sou o Messias.» 21E perguntaram-lhe: «Quem és, então? És tu Elias?» Ele disse: «Não sou.» «És tu o profeta?» Respondeu: «Não.» 22Disseram-lhe, por fim: «Quem és tu, para podermos dar uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?» 23*Ele declarou: «Eu sou a voz de quem grita no deserto: 'Rectificai o caminho do Senhor', como disse o profeta Isaías.»

    24Ora, havia enviados dos fariseus, que lhe perguntaram: 25«Então por que baptizas, se tu não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» 26João respondeu-lhes: «Eu baptizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. 27É aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.» 28*Isto passou-se em Betânia, na margem além do Jordão, onde João estava a baptizar.

    João Baptista, que se encontra em Betânia, além do Jordão, dá testemunho de Jesus perante a delegação enviada pelas autoridades de Jerusalém. À pergunta: «Tu quem és?», João afasta todo e qualquer mal-entendido sobre a sua pessoa e a sua missão declarando não ser o Messias esperado. Declara também não ser Elias, nem qualquer profeta, personagens aguardadas para o tempo messiânico, provocando desorientação nos seus interlocutores. Depois apresenta-lhes a sua verdadeira identidade: «Eu sou a voz de quem grita no deserto» (v. 23) e prepara o caminho a Cristo (cf. Is 40, 3). Ele não é a luz, mas apenas uma lâmpada que arde e dá testemunho da luz verdadeira. Ele não é a Palavra incarnada, mas apenas a voz que prepara o caminho pela purificação dos pecados e a conversão do coração. Finalmente declara: «Eu baptizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis» (v. 26).

    O baptismo de João é apenas um rito para dispor ao acolhimento do Messias; não é ainda o baptismo dos tempos da salvação. João aproxima a sua pessoa da de Cristo para realçar a dignidade e a grandeza de Jesus, cuja vida tem dimensões de eternidade: João não é digno de lhe desatar a correia das sandálias, de lhe prestar os mais humildes serviços... João quer suscitar a fé em Jesus nos seus ouvintes, porque só Ele é o Salvador. O Baptista é apenas o precursor, aquele que vai afrente a preparar os caminhos.

    Meditatio

    João convida a que permaneçamos no Filho e no Pai. A relação com o Pai e o Filho é comparada a uma «unção». A unção permeia, penetra nos tecidos, nos corpos. Assim, quem crê no Filho, possui-O e possui também o Pai, não precisando de mais nada, porque tem o Mestre interior que não mente.

    Para acreditar, é preciso ser humildes como João Baptista. O homem temperado na solidão do deserto esconde-se e desaparece à sombra d´Aquele que Se apresenta ao mundo. A sua missão foi exactamente dar testemunho. João não negou a Cristo; negou a si mesmo.

    Dificilmente negamos a Cristo directamente; mas podemos negá-Lo afirmando-nos a nós mesmos.

    O Cristão de hoje é chamado a ser anunciador do Evangelho e da palavra de Jesus, a voz que grita com a sua vida a verdade de Cristo, apesar da pobreza e da fraqueza que experimenta em si mesmo, nas suas palavras e métodos pastorais.

    O cristão é aquele que se define em função de Cristo. Dá testemunho d´Ele, prepara- Lhe a missão. Não procura centrar as atenções em si, mas em Cristo e no Evangelho.

    A humildade é o caminho da caridade e a condição para um testemunho apostólico abençoado por Deus. Para vir até nós, Deus percorreu o caminho da humildade (cf. Fil 2, 6-11). Não temos um caminho diferente para irmos até Ele. A humildade permite-nos permanecer em Deus.

    A humildade é condição para um apostolado verdadeiro, que põe Cristo no centro das atenções. Não foi sem razão que Jesus nos mandou aprender d'Ele, não a pregar ou a fazer milagres, mas a ser "mansos e humildes de coração" (Mt 11, 29). A mansidão e a humildade de coração hão-de caracterizar, de modo particular, aqueles que se intitulam Sacerdotes do Coração de Jesus, ou querem viver a espiritualidade dehoniana.

    Oratio

    Senhor, ensina-nos a sermos como João Baptista, verdadeiras testemunhas de Ti e do teu amor no meio dos nossos irmãos. Como João, queremos empenhar a nossa voz, as nossas forças, toda a nossa vida para que a humanidade inteira Te reconheça presente e activo no meio de nós, se decida em teu favor e tenha comunhão contigo e com o Pai.

    Senhor, reforça a nossa fé em Ti, único Salvador da humanidade. Faz-nos experimentar o poder do teu Espírito, que é a nossa força e o nosso apoio no apostolado. Ensina-nos a não presumirmos das nossas forças e métodos apostólicos, sabendo que só Tu, pelo teu Espírito, podes tornar fecundo o nosso trabalho e as nossas estratégias pastorais.

    Senhor, dá-nos consciência de que somos instrumentos simples e pobres nas tuas mãos, que só a tua graça torna capazes de ser úteis na construção do Reino da justiça e da paz. Amen.

    Contemplatio

    A igreja apresenta-nos o exemplo do Precursor, para nos preparar a receber o nosso Deus que vem curar o nosso orgulho e salvar-nos pela humildade do presépio. É efectivamente grande a humildade do Precursor e ela brilha nas respostas aos Fariseus. Ele conquistou os corações, para o devolver a Deus, com as suas austeras virtudes e a sua heróica penitência. A sua santidade lembra e ultrapassa a dos maiores profetas. O próprio Nosso Senhor haveria de proclamar a grandeza dos seus méritos e da sua missão que muito tinham pressagiado o seu nascimento. Apesar de tudo, deu a mais humilde resposta aos Fariseus que lhe vêm perguntar se é Elias ou um dos profetas. Ele centra as atenções no Salvador: «Sou a voz que clama no deserto: endireitai o caminho do Senhor» E quando insistiram, pôs-se aos pés do seu Salvador: «Aquele que deve vir depois de mim, era antes de mim e eu não sou digno de lhe desatar as correias das sandálias».

    Não procura estima para si, não procura louvores, não pensa em si mesmo senão para se humilhar (Leão Dehon, OSP 2, p. 555).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «No meio de vós está quem vós não conheceis» (Jo 1, 26)

    Sábado do Tempo do Natal

    Sábado do Tempo do Natal

    2 de Janeiro, 2025

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 3, 7-10

    7Filhinhos meus, que ninguém vos engane. Quem pratica a justiça é justo, sendo como Ele, que é justo. 8*Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde a origem. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. 9*Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque um germe divino permanece nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus. 10*Nisto é que se distinguem os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão.

    O que distingue um cristão é a conduta recta e justa, afirma João contra os gnósticos (cf. V. 7). Praticar a justiça é aceitar a vontade de Deus. Pelo contrário, «quem comete o pecado é do diabo» (v. 8). Quem peca está contra o mundo de Deus, não pode ser filho de Deus. É filho do diabo. Cristo venceu o mal e instaurou os tempos da salvação. Os seus discípulos são chamados a lutar contra o pecado e a praticar a justiça. João distingue duas formas de ser filho: a filiação divina e a filiação humana. Quem se abre à acção do Espírito, torna-se filho de Deus; quem se fecha ao Espírito e rejeita a Deus entrega-se ao diabo: «Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque um germe divino permanece nele» (v. 9); «Quem comete o pecado é do diabo» (v. 8).

    O filho de Deus deixa crescer nele e dar frutos a semente da Palavra. Por isso não pode pecar. Deu espaço a Deus e permanece em Cristo que actua na sua vida. Há pois que permanecer abertos ao Espírito e em atitude de permanente conversão.

    Evangelho: João 1, 35-42

    35*No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. 36*Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» 37Ouvindo- o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. 38Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi .que quer dizer Mestre. onde moras?» 39Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era ao cair da tarde.

    40*André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. 41*Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» .que quer dizer Cristo. 42*E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» .que significa Pedra.

    Mais uma vez, João Baptista dá testemunho de Jesus e leva alguns dos seus discípulos a seguirem Jesus. O texto apresenta-nos, por um lado, o facto histórico do chamamento dos primeiros discípulos descrito como descoberta do mistério de Cristo e, por outro lado, a mensagem teológica sobre a fé e o seguimento de Jesus. O caminho para alguém se tornar discípulo tem alguns traços característicos: tudo começa com o testemunho e o anúncio de uma testemunha qualificada, João Baptista, neste caso: «Eis o Cordeiro de Deus!»; segue-se o caminho do discipulado: «seguiram Jesus»; encontro pessoal e de comunhão com o Mestre: «Foram... viram onde morava... ficaram com Ele». O encontro compreende um colóquio em que Jesus fala da sua identidade e convida a uma experiência de vida com Ele. Esta experiência termina com uma profissão de fé: «Encontrámos o Messias!», que depois se torna apostolado e missão. De facto, André, um dos que fez a experiência, levou o irmão a Jesus, que lhe muda o nome de Simão para Pedro, isto é, Cefas para indicar a missão que haverá de realizar na Igreja.

    Meditatio

    Gostaríamos de saber muito mais sobre este primeiro encontro dos discípulos com Jesus. Mas o evangelista limita-se a referir o essencial.

    João Baptista indica o Cordeiro de Deus e... cala-se. Não retém os discípulos. Entrega- os a Jesus. Eles ficam encantados com a pessoa de Jesus, com a sua grande humanidade, que lhes enche as medidas.

    O caminho para chegarmos ao conhecimento de Jesus é observar o comportamento das pessoas que se encontraram com Ele. Penetrar no mistério de Jesus é observar o mundo que O rodeia e dar-nos conta do modo como Ele se relaciona com as pessoas.

    O chamamento dos discípulos ao seguimento do Mestre é um evento que se repete na Igreja. Jesus chama-nos pessoalmente ao discipulado. E também nos pode chamar a uma particular experiência de vida e de missão com Ele, tal como chamou os apóstolos. Esse chamamento faz-se ouvir na vida de cada um de nós. É importante que saibamos ler os acontecimentos da nossa vida e, penetrando no Coração de Jesus, saibamos indicá-Lo também aos outros.

    Na vida de cada um de nós há um dia, um encontro com Ele, que marca uma mudança radical de vida: o chamamento pessoal e imprevisível de Deus em vista da missão. Muitas vezes, serve-Se de outros para nos chamar: podem ser os pais, um sacerdote, um livro, um retiro espiritual, mas é sempre Ele que chama ao seguimento para a construção de um mundo novo. O importante é que estejamos atentos para que não passe em vão.

    Quando Jesus se apresentou a João, junto ao rio Jordão, a missão do Baptista estava a acabar: o amigo do esposo deve saber retirar-se quando chega o esposo. Um ensinamento importante para quem se dedica ao apostolado, à orientação espiritual dos irmãos...

    A nossa vocação dehoniana exige muita generosidade para ser vivida. Somos chamados a oferecer-nos com Cristo sacerdote e vítima pela salvação do mundo, dos pecadores (Cf. Heb 13, 12-15). Não se trata de um chamamento para seres excepcionais e extraordinários; é um chamamento a viver Cristo em profundidade, generosamente, com simplicidade, modéstia e humildade, no escondimento, sem erguer bandeiras e sem vitimismos, mas com confiança, não nas nossas forças, mas na "consolação", que também é força do Espírito Santo (cf. 2 Cor 1, 3ss; Act 9, 13). Para nós, Oblatos-SCJ é "um dom particular" (Cst. 13), "uma graça especial" (Cst. 26) de testemunho, para recordar a todos os nossos irmãos cristãos (leigos, sacerdotes, religiosos), com a nossa vida, com escritos e com a palavra, a sua vocação baptismal, participação no sacerdócio de Cristo.

    A "vida de união à oblação de Cristo como o único necessário" (Cst. 26) ou, como se dizia no tempo do Pe. Dehon, a vida de vítima, é, em si mesma, a vocação do cristão consciente e coerente no seguimento de Cristo (cf. Lc 9, 23-24).

    Oratio

    Senhor Jesus, ensina-me a ser teu discípulo, a procurar onde moras a permanecer aí Contigo. Os teus apóstolos mostram-me quão importante é estar Contigo, permanecer em Ti. Tu mesmo ensinas ao rezar: «Tu em Mim e Eu neles...» (cf. Jo 17). Essa é a tua habitação! Mas para habitar Contigo é preciso seguir-Te. Seguir-Te é já habitar Contigo, é o caminho para a habitação definitiva. Habitar Contigo na pobreza e na humildade, habitar Contigo na justiça, habitar Contigo na misericórdia... Senhor Jesus, quero habitar Contigo, permanecer em Ti, não só na oração, mas também em todas as outras actividades do meu dia. Quero permanecer em Ti onde quer que te encontres: na alegria ou no sofrimento, no trabalho ou na inactividade. Quero permanecer em ti em cada momento, porque em Ti encontro o amor, a alegria e a paz. Amen.

    Contemplatio

    S. João, filho de Salomé, era parente de Jesus. Pensa-se que foi educado em Cana, não longe de Nazaré e que viu alguma vez Jesus durante a sua infância e a sua juventude.
    É o primeiro a juntar-se a Jesus na sua vida pública. Mal escutou a voz profética de S. João Baptista, «Ecce Agnus Dei», seguiu Jesus com Santo André, escuta-o longamente, passa o dia junto dele.
    Pouco depois, é chamado ao apostolado. Deixa tudo generosamente: o seu pai, os seus barcos de pesca, os criados. Nada custa àquele que ama.
    Mas Jesus ama-o por sua vez. Toma-o com os seus íntimos no milagre da filha de Jairo, na transfiguração, na agonia.
    É sobretudo no Cenáculo que é preciso considerar este amor recíproco do Mestre e do discípulo. João repousa sobre o Coração de Jesus! (Leão Dehon, OSP 3, p. 403).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Mestre, onde moras?» (Jo 1, 28)

    São Basílio Magno e São Gregório Nanzianzeno

    São Basílio Magno e São Gregório Nanzianzeno


    2 de Janeiro, 2025

    Basílio de Cesareia (329-379) nasceu duma família profundamente cristã, na Capadócia, região da atual Turquia. Com o seu irmão, Gregório de Nissa e o amigo Gregório de Nazianzo, forma o grupo dos chamados "Padres Capadócios", que tiveram importante papel na divulgação da doutrina do Concílio de Niceia sobre a Santíssima Trindade.

    Basílio e o seu irmão receberam esmerada educação. Durante a sua formação humanista, em Atenas, estabeleceram uma grande amizade com Gregório de Nazianzo. Juntos iniciaram uma nova forma de vida monástica, o chamado monaquismo basiliano, que continua a ser vivido sobretudo no Oriente.

    Basílio, ordenado sacerdote e bispo, distinguiu-se pelas suas obras caritativas e pelo esplendor que deu ao culto divino. Deixou-nos preciosas obras teológicas, espirituais e homiléticas.

    Gregório de Nazianzo (330-390) nasceu igualmente de uma família cristã piedosa. A sua mãe ofereceu-o ao Senhor, tendo-lhe proporcionado uma boa educação, que o levou a ser reitor e a ser proposto para altos cargos civis. Com os seus amigos, Basílio e Gregório de Nissa, abandonou o mundo para se tornar monge. Já sacerdote, foi nomeado bispo de Constantinopla (381), permanecendo sobretudo um místico, cantor apaixonado da SS. Trindade. Os seus escritos revelam a sua experiência e inteligência do mistério de Cristo. Foi chamado "o teólogo".

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Coríntios 2, 10b-16

    Irmãos: o Espírito tudo penetra, até as profundidades de Deus. 11Quem, de entre os homens, conhece o que há no homem, senão o espírito do homem que nele habita? Assim também, as coisas que são de Deus, ninguém as conhece, a não ser o Espírito de Deus. 12Quanto a nós, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para podermos conhecer os dons da graça de Deus. 13E deles não falamos com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito inspira, falando de realidades espirituais em termos espirituais. 14O homem terreno não aceita o que vem do Espírito de Deus, pois é uma loucura para ele. Não o pode compreender, pois só de modo espiritual pode ser avaliado. 15Pelo contrário, o homem espiritual julga todas as coisas e a ele ninguém o pode julgar. 16Pois quem conheceu o pensamento do Senhor, para poder instruí-lo? Mas nós temos o pensamento de Cristo.
    Paulo justifica o seu ministério afirmando que recebeu o Espírito que vem de Deus (cf. v. 12). Só o Espírito de Deus nos torna "homens espirituais", capazes de conhecer os mistérios divinos e nos dá uma mentalidade conforme ao "pensamento do Senhor" (v. 16). O homem terreno, isto é, aquele que apenas possui o espírito do mundo e se deixa conduzir por ele, não pode compreender as coisas do Espírito e aceitar a "loucura" da mensagem evangélica, que culmina na Cruz. S. Basílio e S. Gregório, como todos os santos, deixaram-se fascinar por Cristo, assumiram o seu modo de pensar e viveram em conformidade com ele. Tornaram-se, assim, verdadeiros homens espirituais, capazes de julgar todas as coisas.

    Evangelho: Mateus 5, 13-16

    Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. 14Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; 15nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. 16Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.»

    Depois de proclamar as Bem-aventuranças, Mateus apresenta dois provérbios em forma de parábola que definem a missão dos discípulos: ser sal e luz. Tal como o sal e a luz influem sobre os alimentos e sobre as realidades terrenas, assim os discípulos de Cristo devem influir sobre o mundo, ajudando-o a descobrir o sentido da vida, para que não seja enganado pelas suas tendências e aspirações rasteiras. Como o sal, os discípulos hão-de dar sabor à humanidade e preservá-la da corrupção. Como a luz, hão-de ser para o mundo um raio do esplendor da glória de Deus. Tudo isso acontece quando os discípulos vivem à maneira de Cristo, guiados pela fé e atuando a caridade. A vida cristã é um compromisso com Deus, que tem implicações sociais e universais. Por isso, não deve ser escondida, mas brilhar no mundo, para glória de Deus.

    Meditatio

    Basílio de Cesareia e Gregório de Nissa são exemplos de cristãos cujas vidas refletem o Evangelho, verdadeiros luminares da fidelidade e da beleza do ideal cristão.

    Basílio, dotado de forte personalidade, foi um homem de pensamento e de ação. Escreveu e pregou, especulou e socorreu. Gregório é o filósofo elegante, o poeta delicado, o contemplativo irrequieto. Ambos nos revelam o que significa tornar-se discípulos da verdadeira sabedoria e receber o dom do Espírito, que perscruta as profundezas de Deus. Estes dois amigos, que hoje celebramos foram génios e santos. Por isso, a Igreja os venera como santos e doutores. A caridade de Deus fê-los operadores de bem e servidores dos irmãos, como monges, como padres e como bispos. Ambos cantaram a beleza de Deus. Como amigos e companheiros, compreenderam que o seu ideal mais profundo era o amor da sabedoria. Movia-os a ânsia de saber. Escreve Gregório: "Uma só tarefa e um só objetivo havia para ambos: aspirar à virtude, viver para as esperanças futuras e comportar-nos de tal modo que, mesmo antes de ter partido desta vida, tivéssemos emigrado dela. Esse foi o ideal que nos propusemos, e assim tratávamos de orientar a nossa vida e as nossas ações, em atitude de docilidade aos mandamentos divinos, entusiasmando-nos mutuamente à prática do bem: e, se não parecer demasiada arrogância, direi que éramos um para o outro a norma e a regra para discernir o bem do mal".

    Oratio

    Vem Espírito Santo, eleva o meu coração, ampara a minha fraqueza, conduz-me à perfeição da caridade. Purifica-me de todo o mal e, pela união contigo, faz-me homem espiritual. Penetra-me e enche-me com a tua luz divina de modo que eu mesmo me torne luminoso e reflita ao meu redor a tua luz, a tua graça. Ámen.

    Contemplatio

    Jesus viera para operar a grande obra da reconciliação. Tudo estava preparado e, no entanto, leva uma longa vida de trinta anos, desconhecida, escondida, em aparência inativa e inútil. O Redentor tinha sido prometido ao género humano e anunciado pelos profetas. Os sinais da sua vinda estavam marcados. Era esperado pelos justos com um ardente desejo. Prodígios foram realizados na altura do seu nascimento. A própria natureza manifestou a sua alegria pela vinda do Criador. Uma estrela maravilhosa surpreendeu os sábios do Oriente e conduziu-os ao presépio. Mas logo a seguir, que silêncio! Tudo retorna à obscuridade e à calma. Os que acreditavam verdadeiramente que seguiam a atração da graça, a voz dos anjos e as inspirações do Espírito Santo conservavam no seu coração a recordação dos mistérios, que tinham tido um brilho tão curto. Adoravam no silêncio, na esperança e no abandono, os decretos da sabedoria, do amor e da misericórdia de Deus. E esta vida obscura, vida de submissão, de trabalho e da misericórdia de Deus vai durar trinta anos! Quem é que está em condição de aprofundar as vias da sabedoria, do amor e da bondade de Deus? Quem pode conceber e contar os atos de virtude destes anos de obscuridade? E então porquê tudo isto? Porquê esta viagem penosa e longa ao país pagão e idólatra? Porque Jesus era vítima, porque era libertador e redentor; porque isto correspondia aos desígnios de misericórdia que os homens não podiam compreender perfeitamente. (L. Dehon, OSP 3, p. 41).

    Actio

    Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:

    "Para nós o maior título de glória era sermos cristãos
    e como tal reconhecidos" (S. Gregório Nazianzeno).

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    S. Basílio Magno e s. Gregório Nanzianzeno (2 Janeiro)
    Se utilizar estes subsídios para publicação, por favor indique sempre a fonte e a propriedade. Obrigado

  • Sexta-feira do Tempo do Natal

    Sexta-feira do Tempo do Natal

    3 de Janeiro, 2025

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 2, 29-3,6

    . Caríssimos, 29*se sabeis que Ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele. 1*Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, ao ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos! É por isso que o mundo não nos conhece, uma vez que O não conheceu a Ele. 2*Caríssimos, agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é. 3*Todo o que tem esta esperança em Deus, torna-se puro, para ser como Ele, que é puro. 4Todo o que comete o pecado comete a iniquidade, pois o pecado é, de facto, a iniquidade. 5*E bem sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não há pecado. 6*Todo aquele que permanece em Deus não se entrega ao pecado; e todo aquele que se entrega ao pecado não o viu nem o conheceu.

    Jesus é modelo para todo o cristão. Ele é o justo, Aquele que não tem pecado, o obediente por excelência ao Pai. O cristão, que vive na justiça, também é filho de Deus e não comete pecado. O fiel é um homem novo, chamado a uma vida nova: é filho de Deus (cf. vv. 1- 2), nasceu de Deus (v. 29). É chamado a, imitando a Cristo, identificar-se cada vez mais com o Pai e a viver em comunhão com Ele.

    O mundo que recusa Deus, aliando-se ao anticristo, despreza e não compreende Jesus, não ama os seus discípulos e actua contra a lei de Deus; pertence à esfera do Maligno e opõe-se ao reino messiânico. Quem, pelo contrário, adere ao Senhor, que se fez pecado por nós, é imune ao pecado e obtém de Cristo a força para ultrapassar o mal e vencer (v. 6). Mas só pode fazer experiência do amor de Deus aquele que não comete pecado, pratica a justiça e se mantém puro, percorrendo o caminho percorrido por Cristo: o caminho da cruz.

    Evangelho: João 1, 29-34

    29*No dia seguinte, ao ver Jesus, que se dirigia para ele, exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! 30*É aquele de quem eu disse: 'Depois de mim vem um homem que me passou à frente, porque existia antes de mim.' 31*Eu não o conhecia; mas foi para Ele se manifestar a Israel que eu vim baptizar com água.» 32E João testemunhou: «Vi o Espírito que descia do céu como uma pomba e permanecia sobre Ele. 33E eu não o conhecia, mas quem me enviou a baptizar com água é que me disse: 'Aquele sobre quem virdes descer o Espírito e poisar sobre Ele, é o que baptiza com o Espírito Santo'. 34Pois bem: eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.»

    João Baptista encontra-se com Jesus e dá o seu testemunho solene, num contexto de revelação messiânica: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!» (v. 20). É o homem de Deus que reconhece, por primeiro, a identidade de Jesus: «vê» Jesus. O símbolo do cordeiro lembra vários textos: o cordeiro pascal (cf. Ex 12, 1-28; 29, 38-46), o Servo Sofredor (cf. Is 42, 1-4; 52, 13-53, 12). Jesus é o Cordeiro-Servo obediente ao Pai. É Ele que, pela sua Paixão, Morte e Ressurreição tira o pecado do mundo e lhe dá a vida. O próprio Baptista vê o Espírito descer sobre o Messias (v. 32).

    A imagem da pomba, no ambiente judaico antigo, indicava Israel: o Espírito que desce em forma de pomba anuncia o novo Israel de Deus, que começa com Jesus e é o fruto maduro da vinda do Espírito. Chegou a época da purificação e do verdadeiro conhecimento de Deus, por meio do Espírito. O Espírito desce sobre Jesus, permanecendo n´Ele e transformando-O no novo templo, fonte perene do Espírito no meio dos homens. É na teofania do baptismo que João reconhece o Messias, podendo agora dar testemunho de Jesus como Filho de Deus (v. 34), aquele que baptiza no Espírito (v. 33) e nos enche desse dom de salvação.

    Meditatio

    O testemunho de João Baptista tem por objectivo suscitar a fé dos discípulos na pessoa de Jesus. João viu o Espírito «permanecer» sobre Jesus. Esta certeza leva-o a anunciar que Jesus é verdadeiramente o Messias, o eleito de Deus (cf. Is 42, 1). O testemunho de Jesus "Filho de Deus" torna-se eco das palavras do Pai no baptismo: «Este é o meu Filho muito amado».

    Se procurarmos uma ligação entre o evangelho de hoje e a primeira leitura, podemos encontrá-la: «Ele se manifestou para tirar os pecados» (v. 5), diz a primeira leitura; «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!», diz o evangelho (v. 20).

    É esta a mensagem da liturgia, ao começar o novo ano. E dá-nos ricos ensinamentos sobre a luta contra o pecado. No evangelho vemos que o Cordeiro de Deus tira o pecado do mundo, baptizando no Espírito Santo. O baptismo na água, de João, manifestava o desejo de purificação, mas era impotente contra o pecado. Só o baptismo no Espírito nos pode purificar e libertar do mal. E Jesus deu-nos o baptismo no Espírito por meio da sua morte e ressurreição.

    A diz-nos Primeira Carta de João que, tendo sido libertados do pecado, havemos de viver na pureza a realizar a justiça. Tendo sido purificados gratuitamente, havemos de viver como puros. A exigência é precedida pelo dom. Porque Deus nos amou e nos transformou, não podemos pactuar com o pecado.

    Mais ainda: este maravilhoso dom de Deus há-de desenvolver-se: «agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é». O baptismo no Espírito inclui uma maravilhosa esperança que nos encoraja na difícil caminhada da
    vida. É pela esperança que nos tornamos puros, como Cristo: «Todo o que tem esta esperança em Deus, torna-se puro, para ser como Ele, que é puro» (v.3).

    Seguindo o Pe. Dehon, "por graça especial (carisma) de Deus, somos chamados na Igreja a procurar e realizar, como único necessário, uma vida de união à oblação de Cristo (cf. Cst n. 26).

    Por causa da nossa participação, em Cristo e com Cristo, na oblação reparadora em favor dos homens, deveria poder dizer-se de cada um de nós o que João Baptista disse de Jesus: "Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29). Deste modo, viveremos a nossa vocação oblativa-reparadora: por meio da santidade da nossa vida e por meio do nosso apostolado, realiza-se a nossa missão de Oblatos-Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus" (Cst 6) na "missão da Igreja".

    Oratio

    Nós Te glorificamos, Senhor, nós Te bendizemos. Ao enviar-nos o teu Filho como Salvador, tornaste possível a nossa libertação do pecado e da morte e restabeleceste a nossa comunhão Contigo. Fizeste descer o teu Espírito sobre Jesus para que pudesse iniciar a sua missão no mundo e tirar todos os nossos pecados.

    Dá-nos a graça de compreendermos cada vez mais o imenso dom do nosso baptismo, em que nos tornámos teus filhos. Dá-nos força para empreendermos um caminho espiritual que nos torne adultos na fé, generosos no amor e testemunhas do teu Evangelho no meio daqueles que ainda não acolheram o dom da salvação. Que todos, mesmo aqueles que se proclamam ateus ou indiferentes, sejam sacudidos na sua aparente tranquilidade, reconheçam em Jesus o verdadeiro sentido para a vida e experimentem a tua ternura de Pai. Amen.

    Contemplatio

    Há duas coisas a considerar no baptismo de Nosso Senhor: a purificação, e a descida do Espírito Santo sob a forma de uma pomba.

    1º A purificação foi para Nosso Senhor um acto de humildade profunda à qual se submeteu para nos dar o exemplo, para nos merecer graças de pureza. Nosso Senhor não tinha necessidade de purificação, mas quanto a nós, é uma necessidade urgente. Aquele que trabalha pela salvação das almas deve: 1º não ter nenhum pecado mortal na consciência, 2º não ter o hábito de nenhum pecado venial, 3º ter uma grande pureza de intenção. Sem estas condições, o ministério não leva nenhum fruto sério às almas.

    Ora qual será o Jordão onde nós podemos receber o baptismo do apostolado, senão o Sagrado Coração de Jesus? Pela contemplação habitual do Sagrado Coração, nós impedimos em nós o reino do pecado mortal, destruímos as raízes do pecado venial, e como nós vemos em toda a parte e sempre o Sagrado Coração, as nossas intenções serão necessariamente puras.

    2º O Espírito Santo, depois do baptismo de Nosso Senhor, desce sobre Ele em forma de pomba, e o Pai eterno faz escutar estas palavras: «Eis o meu Filho bem amado no qual pus as minhas complacências». Se nós queremos santificar o nosso ministério, não basta que nós tenhamos a consciência pura, é preciso que o Espírito Santo desça a nós, é preciso que o Espírito do Coração de Jesus se torne o nosso. «Induimini Dominum Jesum-Christum (Ad Rom). «Revesti-vos de Jesus Cristo», isto é, reproduzi a sua vida, as suas intenções, o seu zelo.

    O espírito apostólico é um espírito de zelo unido a uma grande doçura e a uma humildade profunda. A pomba é o símbolo destas virtudes. Se este espírito nos anima, havemos de reproduzir em nós a vida dos grandes apóstolos dos tempos passados, dos Paulos, dos Domingos, dos Franciscos Xavier, etc.. O verdadeiro apóstolo deve ser como S. Paulo: «Já não sou eu que vivo, é Jesus, é o Coração de Jesus quem vive em mim» (Leão Dehon, OSP 2, p. 252).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós (Liturgia).

    Sexta-feira do Tempo do Natal

    Sexta-feira do Tempo do Natal

    3 de Janeiro, 2025

    Lectio

    Primeira leitura: 1 João 2, 29-3,6

    . Caríssimos, 29*se sabeis que Ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele. 1*Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, ao ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos! É por isso que o mundo não nos conhece, uma vez que O não conheceu a Ele. 2*Caríssimos, agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é. 3*Todo o que tem esta esperança em Deus, torna-se puro, para ser como Ele, que é puro. 4Todo o que comete o pecado comete a iniquidade, pois o pecado é, de facto, a iniquidade. 5*E bem sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não há pecado. 6*Todo aquele que permanece em Deus não se entrega ao pecado; e todo aquele que se entrega ao pecado não o viu nem o conheceu.

    Jesus é modelo para todo o cristão. Ele é o justo, Aquele que não tem pecado, o obediente por excelência ao Pai. O cristão, que vive na justiça, também é filho de Deus e não comete pecado. O fiel é um homem novo, chamado a uma vida nova: é filho de Deus (cf. vv. 1- 2), nasceu de Deus (v. 29). É chamado a, imitando a Cristo, identificar-se cada vez mais com o Pai e a viver em comunhão com Ele.

    O mundo que recusa Deus, aliando-se ao anticristo, despreza e não compreende Jesus, não ama os seus discípulos e actua contra a lei de Deus; pertence à esfera do Maligno e opõe-se ao reino messiânico. Quem, pelo contrário, adere ao Senhor, que se fez pecado por nós, é imune ao pecado e obtém de Cristo a força para ultrapassar o mal e vencer (v. 6). Mas só pode fazer experiência do amor de Deus aquele que não comete pecado, pratica a justiça e se mantém puro, percorrendo o caminho percorrido por Cristo: o caminho da cruz.

    Evangelho: João 1, 29-34

    29*No dia seguinte, ao ver Jesus, que se dirigia para ele, exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! 30*É aquele de quem eu disse: 'Depois de mim vem um homem que me passou à frente, porque existia antes de mim.' 31*Eu não o conhecia; mas foi para Ele se manifestar a Israel que eu vim baptizar com água.» 32E João testemunhou: «Vi o Espírito que descia do céu como uma pomba e permanecia sobre Ele. 33E eu não o conhecia, mas quem me enviou a baptizar com água é que me disse: 'Aquele sobre quem virdes descer o Espírito e poisar sobre Ele, é o que baptiza com o Espírito Santo'. 34Pois bem: eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.»

    João Baptista encontra-se com Jesus e dá o seu testemunho solene, num contexto de revelação messiânica: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!» (v. 20). É o homem de Deus que reconhece, por primeiro, a identidade de Jesus: «vê» Jesus. O símbolo do cordeiro lembra vários textos: o cordeiro pascal (cf. Ex 12, 1-28; 29, 38-46), o Servo Sofredor (cf. Is 42, 1-4; 52, 13-53, 12). Jesus é o Cordeiro-Servo obediente ao Pai. É Ele que, pela sua Paixão, Morte e Ressurreição tira o pecado do mundo e lhe dá a vida. O próprio Baptista vê o Espírito descer sobre o Messias (v. 32).

    A imagem da pomba, no ambiente judaico antigo, indicava Israel: o Espírito que desce em forma de pomba anuncia o novo Israel de Deus, que começa com Jesus e é o fruto maduro da vinda do Espírito. Chegou a época da purificação e do verdadeiro conhecimento de Deus, por meio do Espírito. O Espírito desce sobre Jesus, permanecendo n´Ele e transformando-O no novo templo, fonte perene do Espírito no meio dos homens. É na teofania do baptismo que João reconhece o Messias, podendo agora dar testemunho de Jesus como Filho de Deus (v. 34), aquele que baptiza no Espírito (v. 33) e nos enche desse dom de salvação.

    Meditatio

    O testemunho de João Baptista tem por objectivo suscitar a fé dos discípulos na pessoa de Jesus. João viu o Espírito «permanecer» sobre Jesus. Esta certeza leva-o a anunciar que Jesus é verdadeiramente o Messias, o eleito de Deus (cf. Is 42, 1). O testemunho de Jesus "Filho de Deus" torna-se eco das palavras do Pai no baptismo: «Este é o meu Filho muito amado».

    Se procurarmos uma ligação entre o evangelho de hoje e a primeira leitura, podemos encontrá-la: «Ele se manifestou para tirar os pecados» (v. 5), diz a primeira leitura; «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!», diz o evangelho (v. 20).

    É esta a mensagem da liturgia, ao começar o novo ano. E dá-nos ricos ensinamentos sobre a luta contra o pecado. No evangelho vemos que o Cordeiro de Deus tira o pecado do mundo, baptizando no Espírito Santo. O baptismo na água, de João, manifestava o desejo de purificação, mas era impotente contra o pecado. Só o baptismo no Espírito nos pode purificar e libertar do mal. E Jesus deu-nos o baptismo no Espírito por meio da sua morte e ressurreição.

    A diz-nos Primeira Carta de João que, tendo sido libertados do pecado, havemos de viver na pureza a realizar a justiça. Tendo sido purificados gratuitamente, havemos de viver como puros. A exigência é precedida pelo dom. Porque Deus nos amou e nos transformou, não podemos pactuar com o pecado.

    Mais ainda: este maravilhoso dom de Deus há-de desenvolver-se: «agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é». O baptismo no Espírito inclui uma maravilhosa esperança que nos encoraja na difícil caminhada da
    vida. É pela esperança que nos tornamos puros, como Cristo: «Todo o que tem esta esperança em Deus, torna-se puro, para ser como Ele, que é puro» (v.3).

    Seguindo o Pe. Dehon, "por graça especial (carisma) de Deus, somos chamados na Igreja a procurar e realizar, como único necessário, uma vida de união à oblação de Cristo (cf. Cst n. 26).

    Por causa da nossa participação, em Cristo e com Cristo, na oblação reparadora em favor dos homens, deveria poder dizer-se de cada um de nós o que João Baptista disse de Jesus: "Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29). Deste modo, viveremos a nossa vocação oblativa-reparadora: por meio da santidade da nossa vida e por meio do nosso apostolado, realiza-se a nossa missão de Oblatos-Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus" (Cst 6) na "missão da Igreja".

    Oratio

    Nós Te glorificamos, Senhor, nós Te bendizemos. Ao enviar-nos o teu Filho como Salvador, tornaste possível a nossa libertação do pecado e da morte e restabeleceste a nossa comunhão Contigo. Fizeste descer o teu Espírito sobre Jesus para que pudesse iniciar a sua missão no mundo e tirar todos os nossos pecados.

    Dá-nos a graça de compreendermos cada vez mais o imenso dom do nosso baptismo, em que nos tornámos teus filhos. Dá-nos força para empreendermos um caminho espiritual que nos torne adultos na fé, generosos no amor e testemunhas do teu Evangelho no meio daqueles que ainda não acolheram o dom da salvação. Que todos, mesmo aqueles que se proclamam ateus ou indiferentes, sejam sacudidos na sua aparente tranquilidade, reconheçam em Jesus o verdadeiro sentido para a vida e experimentem a tua ternura de Pai. Amen.

    Contemplatio

    Há duas coisas a considerar no baptismo de Nosso Senhor: a purificação, e a descida do Espírito Santo sob a forma de uma pomba.

    1º A purificação foi para Nosso Senhor um acto de humildade profunda à qual se submeteu para nos dar o exemplo, para nos merecer graças de pureza. Nosso Senhor não tinha necessidade de purificação, mas quanto a nós, é uma necessidade urgente. Aquele que trabalha pela salvação das almas deve: 1º não ter nenhum pecado mortal na consciência, 2º não ter o hábito de nenhum pecado venial, 3º ter uma grande pureza de intenção. Sem estas condições, o ministério não leva nenhum fruto sério às almas.

    Ora qual será o Jordão onde nós podemos receber o baptismo do apostolado, senão o Sagrado Coração de Jesus? Pela contemplação habitual do Sagrado Coração, nós impedimos em nós o reino do pecado mortal, destruímos as raízes do pecado venial, e como nós vemos em toda a parte e sempre o Sagrado Coração, as nossas intenções serão necessariamente puras.

    2º O Espírito Santo, depois do baptismo de Nosso Senhor, desce sobre Ele em forma de pomba, e o Pai eterno faz escutar estas palavras: «Eis o meu Filho bem amado no qual pus as minhas complacências». Se nós queremos santificar o nosso ministério, não basta que nós tenhamos a consciência pura, é preciso que o Espírito Santo desça a nós, é preciso que o Espírito do Coração de Jesus se torne o nosso. «Induimini Dominum Jesum-Christum (Ad Rom). «Revesti-vos de Jesus Cristo», isto é, reproduzi a sua vida, as suas intenções, o seu zelo.

    O espírito apostólico é um espírito de zelo unido a uma grande doçura e a uma humildade profunda. A pomba é o símbolo destas virtudes. Se este espírito nos anima, havemos de reproduzir em nós a vida dos grandes apóstolos dos tempos passados, dos Paulos, dos Domingos, dos Franciscos Xavier, etc.. O verdadeiro apóstolo deve ser como S. Paulo: «Já não sou eu que vivo, é Jesus, é o Coração de Jesus quem vive em mim» (Leão Dehon, OSP 2, p. 252).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós (Liturgia).

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