Week of Dez 19th

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro


    19 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 19 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Juízes 13,2-7. 24-25a

    Naqueles dias, 2*vivia um homem de Sorá, da tribo de Dan, cujo nome era Manoé; sua esposa era estéril, não tinha ainda concebido filhos. 30 anjo do SENHOR apareceu a esta mulher e disse-lhe: «Já viste que és estéril e ainda não deste à luz; mas vais conceber e dar à luz um filho. 4Doravante abstém-te, não bebas vinho nem qualquer bebida alcoólica; não comas nada impuro, 5*porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não há-de tocar a sua cabeça, pois o menino vai ser consagrado a Deus desde o seio materno; ele mesmo vai começar a salvar Israel das mãos dos filisteus.» 6A mulher voltou e disse ao marido: «Um homem de Deus veio ter comigo; o seu aspecto era semelhante ao de um anjo do SENHOR, muito respeitável. Não lhe perguntei de onde ele era, nem ele me revelou o seu nome. 7Disse-me ele: 'Eis que vais conceber e dar à luz um filho; doravante não bebas vinho nem bebida alcoólica; não comas nada de impuro, pois esse jovem será consagrado ao SENHOR desde o seio materno até ao dia da sua morte. '»
    24*A mulher deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão; o menino cresceu e o SENHOR abençoou-o. 25Foi em Maané-Dan, entre Sorá e Estaol, que o espírito do SENHOR começou a agitar Sansão.
    o nascimento de certos personagens, que tiveram grande importância na história do Povo de Israel, é relatado na Bíblia segundo um determinado género literário que se tornou clássico. Lembremos o nascimento de Isaac (Gen 11, 30; 18, 10-11; 30, 22-24) e o nascimento de Samuel (1 Sam 5.20). Hoje lemos o nascimento de Sansão. Nestes casos, Deus escolhe pessoas humildes e «fracas», como se verifica pela esterilidade das mães. O filho que nasce é claramente um dom de Deus, com uma missão salvífica em favor do povo. Aos chamados, Deus apenas pede uma total colaboração, uma alegre simplicidade e uma completa fidelidade ao projecto de salvação.
    Uma mulher que «não tinha ainda concebido» (v. 2), e o seu marido Manoé, geram um filho, Sansão, um nazireu «consagrado ao Senhor» (v. 5.7) que é profecia do que acontecerá com João Baptista e, sobretudo, com Jesus, filho da virgem de Nazaré, esposa de José.

    Evangelho: Lucas 1, 5-25

    5*No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. 6Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7*Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. BOra, estando Zacarias no exercício das funções sacerdotais diante de Deus, na ordem da sua classe, 9*coube-lhe, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso. 10Todo o povo estava da parte de fora em oração, à hora do incenso. 11 Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. 12*Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. 13*Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. 14*Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 15*Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe 16e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. 17*lrá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer volver os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições.» 18*Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» 19*0 anjo respondeu: «Eu sou Gabriel, aquele que está diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova. 20Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria.» 210 povo, entretanto, aguardava Zacarias e admirava-se por ele se demorar no santuário. 22Quando saiu, não lhes podia falar e eles compreenderam que havia tido uma visão no santuário. Fazia-lhes sinais e continuava mudo. 23*Terminados os dias do seu serviço, regressou a casa. 24Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu e, durante cinco meses, permaneceu oculta. 25*Dizia ela: «O Senhor procedeu assim para comigo, nos dias em que viu a minha ignomínia e a eliminou perante os homens.»
    A narrativa do nascimento de João Baptista oferece-nos pormenores que encontramos já no Antigo Testamento, nomeadamente no nascimento de Sansão: aparição do anjo, perturbação e temor na pessoa visitada, comunicação da mensagem celeste; um sinal de reconhecimento.
    A narrativa da anunciação a Zacarias deve também ler-se tendo presente a da anunciação do nascimento de Jesus. Encontramos algumas semelhanças, mas também diferenças essenciais: Zacarias é visitado no templo e Maria é visitada em sua casa, em Nazaré; Zacarias revela-se incrédulo e Maria, cheia de fé; João Baptista nasce de uma mulher estéril, enquanto Jesus nasce de uma virgem; João «será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe» (v. 15) e «muitos se alegrarão com o seu nascimento» (v. 14); Jesus será concebido por obra do Espírito Santo (Lv 1, 35) e todos se hão-de alegrar com o seu nascimento (Mt 2, 13); Zacarias ficará mudo; Maria entoa o Magnificat em casa de Isabel Na plenitude dos tempos só há lugar para o acolhimento da palavra de Deus e para a fé simples e jubilosa.

    Meditatio
    o nascimento de Sansão, tal como o de João Baptista, mostra-nos que Deus é capaz de vencer dificuldades humanamente inultrapassáveis: a mulher de Manoé é estéril, Isabel é estéril e avançada nos anos. Assim, Deus mostra que nada se pode opor à sua vontade de salvar os homens. Por meio de Sansão, salva Israel da opressão dos filisteus; por meio de João Baptista, liberta espiritualmente aqueles que se mostram disponíveis, proporcionando para Si «um povo com boas disposições», isto é, realiza a libertação espiritual daqueles que acolherem a sua iniciativa divina.
    O acolhimento da iniciativa divina é preparado pela conversão pessoal, isto é, pela aceitação da libertação do pecado. Essa libertação manifesta-se na mudança das nossas relações com os outros que passam a caracterizar-se pela liberdade, pela caridade e não pela opressão.

    A Igreja, no Advento, faz-nos contemplar as maravilhas de Deus para suscitar em nós a esperança: Deus
    é Senhor do impossível, Deus vence as maiores dificuldades porque quer salvar-nos.
    O evangelho faz-nos ver claramente estas verdades: Zacarias e Isabel são «justos». Cumprem rigorosamente os mandamentos e preceitos do Senhor. Mas vivem numa certa desilusão. Sofrem intimamente pela ausência de filhos, e, apesar das suas orações, já não têm esperança de os gerar. Por isso é que o anjo começa por dizer a Zacarias: «a tua súplica foi atendida» (v. 13). Zacarias acolhe o anúncio com cepticismo: «Gomo hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» (v. 18). Esta falta de fé e de esperança, ou esta falta de esperança que leva à falta de fé, exige outro sinal. Será um sinal muito duro, mas necessário:
    Zacarias ficará mudo até que se cumpra a palavra do Senhor (cf. v. 20).
    Zacarias e Isabel recebem um filho que não será para eles, mas que se votará a Deus, irá para o deserto e estará ao serviço de todo o povo. A provação preparou para essa graça, dispondo-os a viver um total desapego em relação ao filho.
    Abramo-nos à esperança que vem de Deus, e não ponhamos obstáculos à realização dos seus projectos de salvação.
    Vivamos com Maria a nossa preparação para o Natal. Como escreveu João Paulo II: "Maria apareceu cheia de Cristo no horizonte da história da salvação" (RM 3). "Na noite da espera, Maria é a estrela da manhã", é "a aurora" que anuncia o dia, o surgir do sol. Maria é espera cheia de esperança e amorosa confiança, além de segura certeza da presença do Redentor no Seu seio».

    Oratio
    Senhor, só Tu és grande, e as tuas obras são magníficas: és o Senhor da vida e da história; envias-nos fiéis mensageiros com alegres notícias; ergues-te como sinal de esperança; és luz para todos os povos. Vem ao nosso encontro e mostra-nos o teu rosto para contemplarmos a tua glória o teu amor surpreendente e admirável.
    Tu, que deste vida a mulheres estéreis, e realizas-te prodígios por meio do teu Espírito naqueles que em Ti creram, renova o nosso coração cansado e desanimado. Então cumpriremos a tua vontade e amaremos todos quantos se cruzarem connosco no caminho da vida.
    Dá-nos a graça de saborearmos a tua presença em nós e connosco, como a saboreou a Virgem de Nazaré, a mulher do silêncio e da interioridade. Amen.

    Contemplatio
    O sacerdote Zacarias era um homem de oração e de penitência. O seu fervor era grande, quando era o seu turno de oferecer o incenso no Santo dos santos. Sentia que era então o representante de todo o povo de Israel e pedia a Deus a salvação para o povo e a redenção. O anjo Gabriel veio ter com ele, como tinha vindo ter com Daniel, apareceu-lhe à direita do altar e disse-lhe: «Não temas, Zacarias, a tua oração foi atendida. O Salvador virá em breve e o filho que Deus vai dar-te será o seu precursor. Via preparar-lhe os caminhos, há-de converter uma parte do povo. Será poderoso em palavras como Elias e exortará eficazmente o povo à penitência».
    Zacarias era apoiado pelas orações dos piedosos frequentadores do templo.
    No entanto, teve alguma dúvida, e o anjo Gabriel repreendeu-o anunciando-lhe o castigo pelo qual expiaria esta dúvida. Mas a misericórdia divina não retirava a sua promessa, e a salvação ia chegar.
    Rezemos com Zacarias e com o povo piedoso. Peçamos misericórdia.
    Humilhemo-nos. Confessemos os nossos pecados e os do nosso povo. S. Gabriel, o anjo das misericórdias divinas, recebe as nossas orações e leva-as ao trono de Deus. Quando as nossas orações e as nossas penitências forem suficientes, a bondade divina dará à sua Igreja uma nova efusão das graças da redenção. Rezemos ao anjo Gabriel para apoiar as nossas súplicas (Leão Dehon, OSP 3, p. 301 s.).

    Actio
    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «A tua súplica foi atendida» (Lc 1, 13b).

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro


    20 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 20 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 7,10-14

    Naqueles dias: 100 Senhor mandou dizer de novo a Acaz: 11«Pede ao Senhor teu Deus um sinal, quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.» 12*Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor.» 131saías respondeu: «Escuta, herdeiro de David: Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? 14*Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr¬lhe o nome de Emanuel.

    Em 735 a. C., Acaz, jovem rei de Jerusalém, vê vacilar o seu trono devido à aproximação de exércitos inimigos, que pressionam as fronteiras de Judá. Enquanto ele procura alianças humanas, Isaías insiste em que deve confiar apenas em Deus. Desafia mesmo o rei a pedir um «sinal» da assistência divina. Acaz recusa a proposta: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor» (v. 12). Esta recusa, porém, baseia-se numa falsa religiosidade. Isaías denuncia a hipocrisia do rei, acrescentando que, apesar da sua recusa, o próprio Deus lhe iria dar o sinal: «a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel» (v. 14).

    As palavras do profeta referem-se a Ezequias, o filho de Acaz, que a rainha está para dar à luz e cujo nascimento é visto, naquele particular momento histórico, como presença salvífica de Deus em favor do povo angustiado. Mas, na realidade, as palavras de Isaías referem-se a um rei Salvador, no qual toda a tradição cristã, servindo-se da tradução dos Setenta, viu uma profecia do nascimento virginal de Jesus, filho de Maria.

    Evangelho: Lucas 1, 26-38

    26*Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27*a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28*Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, Ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29*Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31*Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34*Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35*0 anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37*porque nada é impossível a Deus.» 38*Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

    A anunciação a Maria é aurora do maior acontecimento da história humana, a Incarnação do Filho de Deus. O texto bíblico mostra que estamos perante a realização das promessas de Deus aos Patriarcas e renovadas a David (cf. 2 Sam 7, 14.16; 1 Cron 17, 12-14; Is 7,10-14), e contém uma rica teologia do mistério de Cristo. Jesus é, de facto visto, como rei e filho de David (<

    A confirmação da intervenção celeste, por obra do Espírito Santo, na sua condição virginal, abre o coração de Maria à vontade de Deus e à plena adesão ao projecto universal da salvação com as simples palavras que mudaram o curso da história humana: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (v. 38). O sim de Maria abre caminho à nossa salvação.

    Meditatio

    A Incarnação é uma iniciativa de Deus em favor de rebeldes, que são os homens pecadores. A primeira leitura realça esse facto.

    «Pede um sinai», diz Deus a Acaz, pela boca de Isaías. O rei, fingindo razões de fé, responde que não quer tentar a Deus. Na verdade, mostra a sua má vontade. E é nesta circunstância que Deus promete um sinal: «Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel»

    A salvação é obra do amor misericordioso de Deus, que se antecipa ao movimento dos homens.

    O anúncio do oráculo de Isaías está ligado ao texto evangélico de Lucas, por causa da interpretação profética que a Igreja fez dele referindo-o ao nascimento histórico do Filho de Deus, Salvador de todos os homens. A sua vinda mudou a história profana em história da salvação, elevando à comunhão com Deus a vida de cada homem, pela mediação de Jesus de Nazaré. Deus revela-se e alcança-se, não tanto pela contemplação da criação, pela investigação filosófica ou pela experiência religiosa universal, mas por Jesus, filho de Maria, que se proclama "Filho", enviado pelo Pai, em total dependência de amor a Ele, acolhido e dado ao mundo pela Virgem Mãe.

    É nesta história que irrompe Deus transcendente e misericordioso, inserindo-se na história dos homens para os salvar, transportando-os para um nível superior do Espírito, na fé e no amor. Nós os crentes, tornados amigos de Jesus, somos introduzidos na comunhão com Deus Pai, pelo aprofundar da fé e do amor, vividos na fidelidade ao Evangelho. Esta vida de unidade com o Senhor alcança-se pela interiorização da palavra de Deus, como fez a Virgem Maria.

    A vida de hoje é uma permanente conspiração contra a vida interior. Tudo concorre para nos dispersar. Se não conseguirmos recolher-nos, e reflectir sobre Cristo em profundidade, não conseguiremos chegar à verdade e à fé. Maria guia-nos e é exemplo para nós nesse caminho: «Feliz Aquela que acreditou».

    A iniciativa da nossa salvação pertence totalmente a Deus. Mas a Virgem de Nazaré dispõe-se a colaborar: «
    Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». Maria não responde de modo orgulhoso e fingido como Acaz. Acolhe a iniciativa de Deus sem pretensões pessoais. O seu único desejo é servir.

    A experiência materna de Maria é, sobretudo, uma experiência de fé, de disponibilidade total para a Palavra de Deus, como ela manifesta nas palavras: "Ecce ancilla".

    Na obra do Pe Dehon, O ano com o Coração de Jesus, lemos uma meditação para o dia 25 de Março com estes títulos: "Ecce venio, regra de vida de Jesus"; "Ecce an cilla , regra de vida de Maria", "Ecce venio, Ecce ancilla Domini». E o Fundador anota: «Estas palavras traçam a regra da nossa vida" (OSP 3, 328-330). Que a intercessão da Virgem nos alcance a graça de uma disponibilidade semelhante para com Deus e para com os seus projectos de salvação da humanidade.

    Oratio

    Pai, hoje quero inspirar-me nas palavras que S. Bernardo põe na boca de Maria para Te rezar: «Faça-se em mim segundo a tua palavra». O Verbo realize em mim a tua palavra! O Verbo, que estava em Deus, se faça carne da minha carne, segundo a tua palavra!

    Não seja palavra que passa velozmente, logo que proferida, mas palavra concebida para permanecer, revestida de carne e não de ar que corre! Que não ressoe, só aos meus ouvidos, esta palavra; vejam-na os meus olhos, toquem-na as minhas mãos, carreguem-na os meus ombros! Não seja uma palavra escrita e muda, mas incarnada e viva; não seja uma palavra escrita com letras fixas num pergaminho morto, mas estampada sob forma humana no meu coração; traçada não por uma pena, mas pelo Espírito Santo!

    Outrora, muitas vezes e de muitos modos, falaste aos patriarcas e aos profetas, e diz-se que as tuas palavras vem dos ouvidos de uns, aos lábios de outros e às mãos de outros mais. Para mim, peço que se faça no meu ser segundo a tua palavra. Não quero uma palavra que pregue e proclame. Quero um verbo que se doe silenciosamente, que incarne pessoalmente e que desça sobre mim cordialmente. Que se faça para o mundo inteiro, e particularmente para mim, segundo a tua palavra (cf. Bernardo de Claraval, Homilias sobre Nossa Senhora, 4, 11).

    Contemplatio

    Ecce Venio, Ecce Ancilla Domini. Estas palavras traçam a regra da nossa vida.

    Nestas palavras encontra-se toda a vocação das almas consagradas ao Sagrado Coração, com o seu fim, os seus deveres, as suas promessas. Este sentimento, esta disposição, estas palavras ditas e sentidas bastam em todas as situações, em todos os acontecimentos, para o presente e para o futuro.

    Eis que venho, ó meu Deus, para fazer a vossa vontade. Estou aqui, pronto para fazer ou para sofrer, a empreender ou a sacrificar tudo o que pedirdes de mim.

    A vontade de Deus faz-se conhecer em todo o instante; e se em algum momento a obscuridade e a incerteza preenchem o coração e o espírito, perseveremos com paciência e confiança neste estado, até que agrade à sabedoria e à bondade divinas deixar luzir de novo a sua luz.

    Uma alma oferecida, uma vítima, sabe que nada tem a escolher nem a decidir por si, a sua escolha está feita, a sua sorte fixada. Quando, como, em que circunstância há-de cumprir-se o seu sacrifício, tudo isto está à livre escolha daquele ao qual ela pertence inteiramente.

    Assim, portanto, pratiquemos o abandono total, o deixar fazer, olhando para aquele que caminhou à frente no mesmo caminho, que o tornou praticável, que deixou atrás de si os rastos sangrentos dos seus passos.

    Os cabelos da nossa cabeça estão contados. Deus vela mesmo pelas necessidades dos pássaros, não nos esquecerá. Terá cuidado de nós por todas as nossas necessidades em tempo conveniente. Se nos dermos a Ele, dar-se-á também a nós e então o que é que nos há-de poder faltar? Quando Maria se deu pelo Ecce an cilla , recebeu a sua graça suprema: O Verbo fez-se carne e habitou no seu seio. (Leão Dehon, OSP 3, p. 329s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Ecce Venio, Ecce Ancilla Domini».

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro


    21 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 21 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Cântico dos Cânticos 2,8-14

    8Eis a voz de meu amado! Ei-Io que chega, correndo pelos montes, saltando sobre as colinas. O meu amado é semelhante a um gamo ou a um filhote de gazela. Ei-Io que espera, por detrás do nosso muro, olhando pelas janelas, espreitando pelas frinchas.10Fa/a o meu amado e diz-me: Levanta-te! Anda, vem daí, Ó minha bela amada! 11 Eis que o ln vemo já passou, a chuva parou e foi-se embora; 12despontam as flores na terra, chegou o tempo das canções, e a voz da rola já se ouve na nossa terra; 13*a figueira faz brotar os seus figos e as vinhas floridas exalam perfume. Levanta-te! Anda, vem daí, Ó minha bela amada! 14Minha pomba, nas fendas do rochedo, no escondido dos penhascos, deixa-me ver o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz. Pois a tua voz é doce e o teu rosto, encantador.

    o texto do Cântico dos Cânticos celebra delicadamente o amor entre a esposa e o esposo. Esse amor, descrito de forma tão ousada e inspirada, é considerado um dom de Deus. O nosso texto descreve o regresso do esposo a casa, depois de prolongada ausência à busca de pastagens para o rebanho, durante o Invemo. A alegria da esposa pelo regresso do seu amado, e a grande ternura manifestada, são tão intensas que as palavras utilizadas, cheias de inspiração poética, e as imagens primaveris tão expressivas, parecem insuficientes para descrever a sua emoção.

    Na tradição da Igreja, a imagem do esposo e da esposa foi sempre entendida como símbolo da relação entre Deus e o povo (cf. Os 1-3; Is 62, 4-5; Jer 3, 1-39) e entre Cristo e a Igreja (cf. Mc 2, 19-20; Ef 5, 25-26; 2 Cor 11, 2; Apoc 21, 9). Deus é o esposo do poema e Israel, a esposa. E, porque o amor de Deus pelo seu povo se prolonga no amor de Cristo pela sua Igreja, o esposo é Cristo e a esposa é a Igreja. O liturgia utiliza esta simbologia nupcial entre Cristo e Maria e entre Cristo e o crente: a Virgem é figura da Igreja que vai alegre ao encontro de Cristo-esposo que vem. O mesmo sucede com todo o membro da comunidade cristã que vive na expectativa de acolher o Senhor para O deixar falar-lhe ao coração.

    Evangelho: Lucas 1, 39-45

    39*Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 *Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43*E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»

    A narrativa da visitação de Maria à prima Isabel, que vivia em Ain Karin, nas montanhas da Judeia, é uma página rica de referências bíblicas, de humanidade e de espiritualidade. Maria percorre o caminho feito antes pela Arca da Aliança, quando David a fez transportar para Jerusalém (cf. 2 Sam 6, 2-11). É o mesmo caminho que Jesus fará quando se dirigir corajosamente para Jerusalém, a fim de realizar a sua missão (cf. Lc 9, 51). É sempre Deus que, em diferentes momentos da história, vai ao encontro do homem para o salvar.

    A narrativa da visitação está ligada ao da anunciação, não só pelo clima humano, cheio de gestos de serviço, mas porque se torna a verificação do «sinal» dado pelo Anjo a Maria (cf. Lc 1, 36-37). O salto de João no seio da mãe representa a exultação de todo o Israel pela vinda do Salvador (vv. 41.44). As palavras de bênção, inspiradas pelo Espírito, dirigidas por Isabel a Maria, são prova do especial agrado de Deus pela Virgem. A salvação que leva no segredo da sua maternidade é fruto da sua fé na palavra de Deus: «Feliz aquela que acreditou no cumprimento das palavras do Senhor» (v.45; Lc 8, 19-21). É sempre Maria que precede e que, solicitamente se dá a todos, em tudo: a maior faz-se dom para a mais pequena, como Jesus para o Baptista.

    Meditatio

    O encontro de Maria e Isabel, a mãe de Jesus e a mãe de João, é ocasião para um único cântico de louvor e de acção de graças a Deus pela sua presença salvífica no meio dos homens. Agora, cabe-nos a nós abrir os corações à iniciativa fecunda do Espírito, corresponder ao dom de Deus e dar-lhe graças. O tempo de Natal é tempo de alegria porque Deus se fez nosso companheiro ao dar-nos o seu Filho, e porque nos tornámos todos irmãos e filhos do mesmo Pai.

    É curioso e, em certo sentido, até chocante que festejemos o nascimento de Jesus celebrando a Eucaristia, memorial da sua paixão e morte. E todavia é uma prática correctíssima porque é o dom da morte de Cristo, o mistério da sua morte e da sua ressurreição que nos dá o sentido do seu nascimento. É também graças à sua morte e ressurreição que podemos celebrar plenamente o seu nascimento.

    É na Eucaristia que podemos compreender plenamente o Antigo e o Novo Testamento e, portanto, o sentido da vida terrena de Jesus, do seu nascimento e dos acontecimentos que o precederam. A Visitação alcança significado pleno na Eucaristia porque, contemplando o Menino do presépio, contemplamos o amor de Deus que se dá a nós: «Um filho nos foi dado DUm Menino nasceu para nós ».

    O nascimento de Jesus está orientado para o dom de Si mesmo. É a doação que começa e será plena quando Jesus der a sua vida por nós na cruz.

    Pensando neste dom total de Jesus, podemos celebrar melhor o seu nascimento, acolhê-lo como dom, que se consumará na morte.

    A Eucaristia também nos permite celebrar o Natal, não como simples lembrança de um acontecimento passado há dois mil anos, mas como uma realidade actual e presente a cada um de nós. O Deus connosco, o Emanuel, é uma realidade actual, que podemos viver: Jesus torna-se presente e vem a cada um de nós, graças à Eucaristia.

    Ainda graças à Eucaristia, podemos unir-nos à Virgem Mãe que leva em si o seu Menino; podemos ir ao encontro dos outros, conscientes dessa presença em nós, que pode despertar também neles a mesma presença.

    A presença de Cristo, pela Incarnação no seio de Maria, pô-Ia a caminho da casa de Isabel, para a confortar e servir. A visitação foi ensejo para Deus encher de

    Espírito Santo Isabel e João. A Eucaristia, que torna presente Cristo em nós, lança¬nos "incessantemente, pelos caminhos do mundo ao serviço do Evangelho" (Cst. 82), para que haja Natal em todos os corações (Leão Dehon, OSP.

    Oratio

    Senhor Jesus, que por nosso amor, assumiste carne humana no seio virginal de Maria, e, por amor, Te fazes nosso alimento e companheiro de jornada na Euc
    aristia, dá-nos de graça de Te acolhermos agradecidos e exultarmos de santa alegria. Concede-nos também a graça de, como Maria que e levou ao encontro de Isabel e de João, também nós Te levemos a todos quantos encontrarmos nos caminhos da nossa vida.

    Faz-nos escutar a tua voz, e concede-nos a graça de Te respondermos na oração. Sobretudo, faz com que nos deixemos envolver na acção poderosa do Espírito que reza em nós. Assim, renovados interiormente, exultantes de alegria e cheios de generosidade, saberemos dar-te, e dar-nos contigo, aos irmãos, especialmente aos mais pobres e desprotegidos. Amen.

    Contemplatio

    Maio seu pequeno coração começou a bater Jesus quis provar o seu amor e expandir os seus benefícios. João Baptista e toda a sua família são os primeiros que experimentam este amor ardente de Jesus que Maria traz.

    Cada pulsar do Coração de Jesus tem, por assim dizer, o seu eco no de Maria, de modo que o amor nestes dois corações torna-se o mesmo, toma o mesmo objecto, a mesma intensidade e transborda sobre os homens.

    Jesus já testemunhou o seu amor ao seu Pai pelo seu acto de oblação; cumulou a sua mãe com dons maravilhosos; santificou S. José, seu pai adoptivo. Quer levar graças de eleição ao seu precursor S. João Baptista. Ele arrasta Maria nesta viagem misteriosa. O amor dá asas aos dois. Maria, toda inebriada pelo zelo ardente e diligente de Jesus, corre, voa através dos montes e dos vales: abiit in montana cum festinatione. É uma caminhada de cem quilómetros que se faz provavelmente em três dias.

    Jesus deu-se ao seu Pai e às almas, pelo seu acto de oblação. Ele arde de ardor por começar a redenção. Incendeia Maria com o seu zelo. Os seus dois corações fazem um só. Que amor eles nos testemunham, e que lição de zelo para nós!

    Jesus e Maria levam imensas bênçãos. João Baptista estremece no seio de sua mãe sob a bênção de Jesus. É o estremecimento do amor e do zelo. Ele queria já anteceder os anos, e pregar o amor de Deus e o arrependimento dos pecados cometidos.

    Isabel e Zacarias profetizam. Zacarias é curado do seu mutismo. Todas as graças estão reunidas: santificação e vocação do precursor, cura miraculosa, dom de profecia. Que munificência!

    Jesus passa fazendo o bem: transiit benefaciendo. Ah! Como a sua bondade é grande e como esta primeira manifestação está cheia de promessas! Jesus veio, portanto, à terra para abrir as fontes de todas as graças, e Maria é como o carro de fogo que transporta o Messias.

    A sua bondade não pede uma imensa confiança e um imenso reconhecimento? (Leão Dehon, OSP 2, p. 208).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Bendito é o fruto do teu ventre, Ó Maria»

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro


    22 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 22 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: 1 Samuel 1, 24-28

    Naqueles dias, 24* Ana tomou Samuel consigo e, levando também três novilhos, uma medida de farinha e um odre de vinho, conduziu-o ao templo do SENHOR em Silo. O menino era ainda muito pequeno. 251mo/aram um novilho e apresentaram o menino a EIi. 26Ana disse-lhe: «Ouve, meu senhor, por tua vida: eu sou aquela mulher que esteve aqui a orar ao SENHOR, na tua presença. 27Eis o menino por quem orei. O SENHOR ouviu a minha súplica. 28*Por isso, o ofereço ao SENHOR, a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida.» E ele prostrou-se ali diante do SENHOR.

    Ana pedira a Deus a graça de um filho. Deus concedeu-lha. Por isso, vai ao templo de Silo agradecer o dom da maternidade, levando com ela alguns dons e, sobretudo, o filho, Samuel, para o oferecer ao Senhor: «a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida» (v. 28). Depois de imolar um novilho, em sacrifício de acção de graças e de louvor ao Senhor, apresenta o filho ao sacerdote EIi, lembrando-lhe o episódio e a oração que fizera na sua presença, uns anos antes, e narrando-lhe como o Senhor a tinha escutado. «Por isso, o ofereço ao SENHOR», conclui a mulher (v. 28).

    Esta narrativa bíblica é profecia daquilo que Deus, de modo ainda mais maravilhoso, irá realizar em Maria. Como no caso de Isaac (cf. Gn 18, 9-14), de Sansão (cf. Jz 13, 2-25) e de João Baptista (cf. Lc 1, 5-25), o nascimento de um filho, por obra de Deus, de uma mulher estéril, foi sinal de uma vocação especial, como acontece com Samuel, destinado a tornar-se o primeiro grande profeta de Israel (cf. Act 3, 24) e guia espiritual do povo.

    Evangelho: Lucas 1, 46-56

    Naquele tempo, 46*Maria disse: «A minha alma glorifica o Senhor 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. 48Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49*0 Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. 50*A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. 51 *Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. 52Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53*Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. 54*Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, 55*como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56*Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.

    o Magnificat é uma das mais belas orações do Novo Testamento, com várias reminiscências do Antigo Testamento (cf. 1 Sam 2, 1-18; SI 110, 9; 102, 17; 88, 11;

    106, 9; Is 41, 8-9). É o cântico dos pobres, dos simples e humildes, sempre prontos a acolher e a admirar-se com as iniciativas de Deus ..

    É significativo que este cântico tenha sido posto nos lábios de Maria, a criatura mais digna do louvor a Deus, que nasce no culminar da história da salvação, e que é imagem da Igreja, sempre guiada por Deus, que usa de amor e de misericórdia para com todos, especialmente para com os pobres e pequenos.

    O texto divide-se em duas partes: Maria dá glória a Deus pelas maravilhas realizadas na sua humilde vida, tornando-a colaboradora da salvação realizada por Cristo, seu Filho (vv. 46-49). Depois, exalta a misericórdia de Deus pelos critérios extraordinários e impensáveis com que confunde as situações humanas, expressas por seis verbos: «Manifestou, dispersou, derrubou, exaltou, despediu, acolheuD », que reflectem o modo de agir forte e paterno de Deus em favor dos últimos e dos carenciados (vv. 50-53). Finalmente, recorda o cumprimento fiel das promessas de Deus, feitas aos Pais e mantidas em relação a Israel (vv. 54-55). Deus realiza sempre grandes coisas na história dos homens, mas apenas se serve daqueles que se fazem pequenos e querem servi-lo com fidelidade, no escondimento e no silêncio adorante.

    Meditatio

    As leituras de hoje falam-nos da acção de graças de duas mães: Ana e Maria.

    Ana agradece com três novilhos, uma medida de farinha, um odre de vinho e, sobretudo, com o dom do próprio filho, a graça da maternidade. Samuel, devolvido ao Senhor, torna-se um laço vivo entre Ana e Deus.

    Maria também dá graças ao Senhor, com grande efusão de alma: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Seivedor», Jesus ainda não tinha nascido. Mas a Virgem já dava graças por Ele e O oferecia a Deus¬Pai, porque tinha dado início à obra da salvação, santificando João Baptista no seio de sua mãe.

    Ana e Maria, cheias de alegria, agradecem o dom da vida que está nelas, sinal da bondade de Deus. Ao mesmo tempo, com simplicidade e pureza de coração, entregam-se ao Senhor porque «a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem» (v. 50).

    É bom que também nós nos demos conta de que a pobreza e a simplicidade de coração são condições essenciais para agradar a Deus e ser cheios da sua riqueza. Os frutos das obras de Deus desenvolvem-se no silêncio e na calma, não na agitação ou na violência. Deus actua com discrição e no segredo. Não se podem forçar os tempos do Espírito.

    Como Maria, somos convidados, na proximidade do Natal, a partilhar esta delicadeza do Senhor, confiando todos os nossos projectos e a nossa vida Àquele que nos amou por primeiro e quer o nosso bem. Ofereçamos-lhe o nosso louvor, porque Ele «escolheu o que era louco aos olhos do mundo para confundir os sábios, escolheu aquilo que no mundo era fraco para confundir os fortesDpara que ninguém possa gloriar-se diante de Deus» (1 Cor 1, 27-29).

    O louvor e a acção de graças, como as outras dimensões da oração, nascem do silêncio que possibilita a escuta do Senhor que fala, e que possibilita dar-nos contas das maravilhas que faz em nós e à nossa volta. O barulho e a agitação dispersam, distraem. Um salmista rezava: "Ponde, Senhor, vigilância à minha boca, guardai a porta dos meus lábios" (SI 141(140),3). O tempo de Natal implica sempre alguma agitação. É natural, mas há que ter o cuidado de não perdermos o essencial.

    As nossas Constituições lembram: "Como Jesus gostava de se entreter com o Pai, também nós reservaremos momentos de silêncio e de solidão para nos deixarmos renovar na intimidade com Cristo e nos unirmos ao seu amor pelos homens".

    Muitas pessoas do nosso tempo, também religiosos, perderam o sentido do silêncio; parece terem medo dele. Desperdiçaram um grande valor, um dom importante, e correm o risco de perder a si mesmos. Pelo silêncio, entramos na profundidade de nós mesmos, conhecemos as nossas verdadeiras exigências, aceitamo-Ias e, com a ajuda do Espírito, realizamo-Ias.

    Demasiadas pessoas andam imersas em tagarelices, rumores, músicas, imagens; estão sem defesas, sem refúgio interior; an
    dam fora de si, alienados. Por isso, não se reconhecem, nem reconhecem o que Deus faz e quer fazer nelas. Por isso, não cantam os louvores de Deus! Nem vistam os que precisam, porque não ouvem os seus gritos!

    Oratio

    Senhor, nosso Deus, que pusestes nos lábios de Ana e de Maria a oração de louvor e de acção de graças, e que fizestes germinar nos seus corações a alegria, fruto da tua visita amorosa e paterna, dá-nos a graça de, também nós, descobrirmos e praticarmos na oração as atitudes de louvor e de reconhecimento pelas maravilhas que gratuitamente fizeste e continuas a fazer em nós e à nossa volta, na Igreja e no mundo.

    Queres que vivamos na alegria, pela experiência do teu amor de Pai misericordioso e fiel. Ajuda-nos a dispormos, pelo silêncio e pela solidão, para acolhermos essa experiência, a única capaz de transformar a nossa vida, de nos pôr generosamente ao serviço do teu projecto de salvação, ao serviço de quem precisa de nós, de escrevermos o nosso próprio Magnificat. Na oração de louvor e de acção de graças, dar-nos-emos conta de que as riquezas que nos confias são mais importantes e mais numerosas do que as nossas carências, e que os dons que pões nas nossas mãos, e nas dos nossos irmãos, são sinal de cuidas de nós com amor de Pai. Amen.

    Contemplatio

    Jesus e Maria rezavam sempre no fundo do seu coração. Jesus no-lo diz: «É preciso rezar sempre e sem cesser» (Lc 18, 1).

    Alguns versículos do Evangelho traem a oração íntimactle Maria.

    Quando o arcanjo Gabriel desce a Nazaré, Maria revela-nos a sua alma: «Ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum: sou a serva do Senhor, que me seja feito segundo a vossa palavra!».

    Eis, portanto, a disposição habitual de Maria na sua oração, é a humildade e o abandono: o que Deus quer, e é tudo. É a suprema santidade.

    O Magnificat diz-nos mais amplamente os sentimentos da oração de Maria. É um cântico lírico à glória de Deus. É o louvor, o reconhecimento, a humildade. Nada de preocupação pessoal; Deus é bom, isso lhe basta, rejeita os orgulhosos e abençoa os humildes. Repara também, protesta contra os soberbos e os avarentos. O amor puro e acção de graças são a nota dominante: «A minha alma glorifica o Senhor!» (Pe. Dehon, OSP 3, p. 177s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «A minha alma glorifica o Senhor!» (Lc 1,46)

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro


    23 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 23 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: Malaquias 3, 1-4. 23-24

    Assim fala o Senhor Deus: 1 *«Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor que vós procurais e o mensageiro da aliança que vós desejais. Ei-lo que chega! Diz o SENHOR do universo. 2*Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. 3Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o SENHOR os que apresentam a oferta legítima. 4Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR como nos dias antigos, como nos anos de outrora.

    23 Eis que vou enviar-vos o profeta Elias, antes que chegue o dia do SENHOR, dia grande e terrível. 24*Ele fará com que o coração dos pais se aproxime dos filhos, e o coração dos filhos se aproxime dos seus pais, para que Eu não tenha de vir castigar a terra com o anátema.»

    Na segunda metade do século V a. C., o culto e a pureza religiosa do povo estavam em decadência por causa dos casamentos mistos dos regressados do exílio de Babilónia que, ainda por cima, viviam impunes e tranquilos. Os observantes interrogavam-se: onde está a justiça de Deus? O profeta responde, em nome de Deus, denunciando o pecado dos sacerdotes e a violação da lei do culto pelo povo. Ao mesmo tempo, anuncia como eminente a vinda do «dia do SENHOR, dia grande e terrível» (v. 23). O próprio Senhor há purificar o templo, que está a ser reconstruído, purificará os sacerdotes e pronunciará o seu juízo sobre os maus.

    Mas o Senhor far-se-á preceder por um mensageiro, identificado com o profeta Elias (v. 23; Sir 48, 10-11), que Lhe preparará o caminho, purificará o povo dos seus pecados e o reconduzirá reconciliado às tradições dos pais.

    A profecia de Malaquias, lida no contexto do Novo Testamento, refere-se à vinda de Cristo, precedida pela do precursor, João Baptista, que preparará o povo para o encontro com o Messias, «o mensageiro da aliança» (v. 1), que todos esperam.

    Evangelho: Lucas 1, 57-66

    Naquele tempo, 57chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 580s seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. 59Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60*Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61 Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» 62*Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. 64 imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65*0 temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66*Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.

    A profecia de Malaquias realiza-se em João Baptista. Lucas descreve-nos a alegria dos parentes e vizinhos com o parto de Isabel (vv. 57-58) e com a circuncisão do menino, com a imposição do nome, ao oitavo dia (vv. 59-66).

    O evangelista, com alguns pormenores, faz-nos notar no nascimento e na escolha do nome a intervenção prodigiosa de Deus, que actua de modo extraordinário na vida daquele menino: a alegria pelo evento inesperado (v. 58); o significado do nome «João» (vv. 60.63), que quer dizer. «Deus faz graça e usa misericórdia», nome cheio de promessas para o futuro; o espanto dos presentes, com um respeitoso temor, e a divulgação dos factos por toda a montanha da Judeia (v. 65); a palavra readquirida por Zacarias que bendiz e louva a Deus, como sinal de que se cumpriu tudo o que foi dito pelo Senhor (v. 64); finalmente, a reacção de todos quantos tomavam conhecimento do nascimento da criança, e perguntavam: «Quem virá a ser este menino?» (v. 66) e a do próprio Lucas que conclui o relato com a seguinte nota: «Na verdade, a mão do Senhor estava com ele» (v. 66).

    Esta narrativa mostra que estão maduros os tempos, que o Messias está próximo. Há que preparar-se para recebê-lo, como João, e reconhecer na história uma nova e radical forma de relação entre Deus e o homem.

    Meditatio

    À primeira vista, a profecia de Malaquias, que lemos hoje, pode parecer-nos pouco adequada para preparar o Natal. De facto, fala de uma espantosa purificação, e com uma linguagem terrível: Quem suportará o dia da chegada do Senhor? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque «ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará como se refinam o ouro e a prata». Mas, pensando bem, damo¬nos conta de que é uma leitura muito adequada, porque precisamos realmente de uma boa purificação para acolhermos o Senhor. Jesus não é um boneco para brincar. É o Filho de Deus, que havemos de receber com sentimentos de adoração. Se o nascimento de João encheu os vizinhos de temor, que dizer do nascimento de Jesus. Lucas diz-nos que os pastores, ao verem o Anjo, «tiveram muito medo».

    Precisamos de ser purificados pelo Senhor para acolhermos dignamente o Menino Jesus. Essa purificação é feita por amor, ainda que Deus use severidade. Precisamos de ser purificados de todo o orgulho, de toda a soberba, porque Deus só dá a sua graça aos humildes.

    Mas as leituras de hoje também nos podem levar a reflectir sobre uma outra realidade: Deus, em todas as épocas, envia os seus mensageiros, tal como enviou Elias e João Baptista. É por meio desse mensageiros que Ele quer guiar a humanidade. Nos nossos tempos não têm faltado sinais concretos e modos eloquentes da sua Palavra, por meio de pessoas como João XXIII, a Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II, ou por meio de eventos como O Vaticano II. Essas pessoas e eventos, sendo instrumentos do Espírito, erguem "antenas" que nos permitem vislumbrar um mundo novo. Há, de facto novidades que é preciso saber olhar e respeitar, sem ceder a nostalgias do passado ou a sonhos de futuro, que são fugas da realidade.

    Os tempos de silêncio e ascese ajudam-nos a descobrir Deus na história e no coração de cada homem, bem como a presença do Espírito de Cristo que ilumina e guia o nosso caminho. Há que deixar-se conduzir!

    Lemos no n. 10 das Constituições: «Com a sua solidariedade para com os homens, qual novo Adão, Ele revelou o amor de Deus e anunciou o Reino: este mundo novo já presente em germe nos esforços hesitantes dos homens, encontrará a sua realização, para
    além de todas as expectativas, quando, por Jesus, Deus for tudo em todos». Depois as Constituições citam dois textos bíblicos que é bom recordar:

    "Sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto até ao presente. Não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos, aguardando a adopção, a redenção do nosso corpo" (Rom 8,22-23). "E quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho Se submeterá Àquele que Lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos" (1 Cor 15,28)>>.

    O mundo novo já está presente em germe nos esforços hesitantes dos homens (cf. Cst n. 10). Esses esforços, os nossos e os de todos os homens são "incertos", é verdade. Mas temos confiança de que estão impregnados pela "graça" e pela "verdade" do Verbo feito carne, isto é, pelo Seu amor (Jo 1, 14). De facto, é "da sua plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça" (Jo 1, 16), isto é, amor para correspondermos ao Seu amor. Essa correspondência passa também pela nossa solidariedade com Ele na construção de um mundo novo.

    Oratio

    Pai, Senhor da vida e da história! Os primeiros cristãos diziam. «A salvação está agora mais perto de nós do que no momento em que abraçámos a fé» (Rm 13, 11). Nós, hoje, vivemos muitas vezes sem pensar na tua vinda, distraídos com mil fogos-fátuos que nos encandeiam. Desperta em nós a fé e a esperança para que não nos esqueçamos da tua presença no meio de nós, escondido por detrás do rosto de tantos irmãos, e que, por meio dos teus mensageiros, orientas os nossos passos para a luz e para a paz.

    Dá-nos um coração purificado, livre e sensível à acção do teu Espírito, para que possamos actuar como Tu queres, encontrar-Te neste Natal, e estar prontos para, no dia da tua última vinda, confessarmos que és o nosso pai e amigo, que és o nosso Salvador. Amen.

    Contemplatio

    João Baptista era um anjo pela sua pureza. O evangelho e os profetas dão-lhe este belo título: «Enviarei o meu anjo diante do Messias», tinha dito o Senhor na profecia de Malaquias (3, 1).

    Nosso Senhor mesmo faz a aplicação desta profecia: «Foi dele, diz, que o profeta disse: Enviarei um anjo diante de vós para vos preparar os caminhos» (Mt 11, 10).

    S. João Baptista é, portanto, para nós um admirável modelo de pureza. Ensina¬nos os meios de conservar as nossas almas puras. Estes meios são a oração, o afastamento do mundo e a mortificação.

    Ainda não tinha nascido quando Jesus e Maria foram visitá-lo na Judeia.

    Estremece no seio de sua mãe. É abençoado e santificado pela presença de Jesus e a visita de Maria.

    É um amigo para Jesus, di-lo ele mesmo: «O amigo do esposo, diz, alegra-se quando escuta a voz do seu amigo, é por isso que hoje estou alegre» (Jo 3, 29). Quando Jesus menino volta do Egipto, visita o seu pequeno amigo passando na

    Judeia. Cada ano, nos dias de Páscoa, estão juntos em Jerusalém. Reencontram-se no Jordão. S. João conhece a missão do seu amigo e parente, proclama a sua missão: «Eis, diz, o Cordeiro de Deus, eis aquele que apaga os pecados do mundo».

    Pregam um ao outro, mas S. João envia os seus discípulos a Cristo. Recebe as suas graças de Jesus e conduz as almas a Jesus.

    Tal deve ser a nossa união com Jesus e Maria. Maria dar-nos-á Jesus. Sede amigos para Jesus pela vossa assiduidade, pelo vosso afecto, pela vossa confiança. Conduzamos-lhe as almas, não procuremos em nada reter a sua afeição por nós, admiremos nisto o desapego de S. João. Ide a Jesus, diz a todos, nada sou senão uma voz que prega no deserto, não sou digno de desatar os seus sapatos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 689).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Vinde, vinde, não tardeis, Senhor Jesus». (da Liturgia).

  • Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro


    24 de Dezembro, 2021

    Tempo do Advento - Novena do Natal - Dia 24 Dezembro

    Lectio

    Primeira leitura: 2 Samuel 7, 1-5. 8b-12. 14a. 16

    1 *Quando o rei se instalou em sua casa, e o SENHOR lhe deu paz, livrando-o dos seus inimigos, 2disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de cedro, enquanto a arca de Deus está abrigada numa tenda?» 3Natan respondeu¬lhe: «Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o SENHOR está contigo!» 4Mas, naquela mesma noite, o SENHOR falou a Natan, dizendo-lhe: 5*«Vai dizer ao meu servo David: Diz o SENHOR: "És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar?

    8*Eu tirei-te das pastagens onde apascentavas as tuas ovelhas, para fazer de ti o chefe de Israel, meu povo. 9Estive contigo em toda a parte por onde andaste; exterminei diante de ti todos os teus inimigos e fiz o teu nome tão célebre como o nome dos grandes da terra. 10*Fixarei um lugar para Israel, meu povo; nele o instalarei, e ali habitará, sem jamais ser inquietado; e os filhos da iniquidade não mais o oprimirão, como outrora, 11 *no tempo em que Eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. A ti concedo uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos. Além disso, o SENHOR faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti. 12*Quando chegar o fim dos teus dias, e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino.

    14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho.

    16*A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre".»

    Natan exerce a sua missão profética num período em que o reino de Judá goza de paz e de notável prosperidade. David vive num palácio luxuoso e pretende construir uma «casa» para Deus, uma casa onde acolher a Arca da Aliança. O profeta opõe-se a esse projecto, porque Deus tem um plano bem maior para David e para a sua descendência. O próprio Deus dará a David, não uma casa de pedra, mas uma casa estável e duradoura, uma estirpe real: «o SENHOR faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti .. A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre» (w. 11.16).

    O Senhor recorda a David quanto fez por ele e promete à sua dinastia uma duração perene: chamou-o do meio dos rebanhos de Isaí para fazer dele pastor de Israel (cf. 1 Sam 16, 11-13); fê-lo vitorioso sobre os inimigos e estará sempre com ele; a sua glória, e a da sua descendência, serão grandes porque terá uma progenitura divina; o rei e o povo serão abençoados pelo senhor e terão uma «casa» estável e tranquila, uma dinastia que durará séculos.

    A mensagem é clara: a salvação não vem de um templo construído com pedras ou por mãos humanas, mas da aliança com Deus, a Quem tudo pertence, o homem e a história.

    Evangelho: Lucas 1, 67-79

    Naquele tempo, 67*Zacarias,pai de João Baptista, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou com estas palavras: 68*«Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo 69*e nos deu um Salvador poderoso na casa de David, seu servo, 70conforme prometeu pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos; 71 para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam, 72*para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança; 73*e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: 74de o servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, 75em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. 76*E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, 77para dar a conhecer ao seu povo a salvação pela remissão dos seus pecados, 78*graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, 79*para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.»

    o cântico de Zacarias exalta a realização das promessas feitas por Deus.

    Zacarias, sacerdote da Antiga Lei, mas cheio de Espírito Santo, entoa um cântico cheio de reminiscências bíblicas. Bendiz o Senhor por ter visitado o seu povo, por ter inaugurado a Nova Aliança, que terá João como precursor e que satisfaz séculos de expectativas.

    O cântico divide-se em duas partes: a primeira sintetiza a história da salvação, evidenciando a misericórdia de Deus para com os pais e a sua perene fidelidade à Aliança, que se realizará plenamente no Messias (vv. 68-75); a segunda refere-se à figura do Baptista, «profeta do Altíssimo» (v. 76), destinado a preparar o caminho ao Senhor com a pregação da redenção e da salvação universal, que se actuará na pessoa de Jesus, por meio do perdão dos pecados, fruto da sua imensa bondade.

    O cântico exalta a Cristo, sol da ressurreição, gerado antes da aurora, que ilumina todos os que estão nas trevas e nas sombras da morte. Ele é a paz destinada aos que sabem dar louvor e glória a Deus. Ele, Verbo do Pai, é a luz e a vida dos homens.

    Meditatio

    Estamos na vigília do Natal. A Igreja lê e medita as profecias rnessrarucas, dando graças e louvando a Deus pela iminente chegada do Salvador. O dom que estamos para receber do Pai foi preparado com grande amor, durante muito tempo.

    Há que viver intensamente esta vigília, não nos deixando dispersar por coisas certamente interessantes, mas secundárias. A vinda histórica do Messias confirma que Deus escolheu a sua «casa» no meio de nós, no corpo de Jesus, seu Filho (cf. Jo 1, 14). Agora vive com o seu povo, não de modo passageiro, mas de modo estável (cf. Apoc 7, 15; 12,2; 13,6; 21, 3). Se, no Antigo Testamento, o seu lugar ideal era o templo e a tenda (cf. Ex 25, 8; 40, 35; Ez 37,27), agora a sua presença concretiza-se na própria vida do homem e na carne visível de Jesus, que a comunidade do primeiros discípulos tocou e contemplou na fé (cf. 1 Jo 1, 1-4).

    Cristo é a revelação e a luz do Pai, mas de modo escondido e humilde; algo de interior que, apenas os homens de fé, como os profetas, os santos e Maria, podem compreender. A sua glória há-de manifestar com poder apenas quando, elevado na cruz, atrair a Si todos os homens (cf. Jo 12, 32). Isto pode parecer um paradoxo, mas tudo se torna luminoso se pensarmos que «Deus é emor» (1 Jo 4, 10) e a sua maior manifestação acontece quando se revela o maior amor.

    Jesus é para nós o centro da história, a nossa morada e a plenitude de todas as nossas mais profundas aspirações. Com Maria, e com a sua intercessão, abramos o coração ao Dom que Deus nos quer dar esta noite.

    O dom do Pai, no Natal, perpetua-se na Eucaristia, sacramento da presença de Cristo no meio de nós, sob as espécies simples do pão e do vinho, e por meio das pala
    vras, ainda mais simples: "Isto é o Meu corpo ... Isto é o Meu sangue ... " (cf. Mt 26, 26.28). A Eucaristia, para além de actualizar no tempo a Última Ceia e o Sacrifício da cruz, perpetua a Incarnação, de que é substancial continuidade e expansão sacramental. A Eucaristia torna presente na terra, insere na história do mundo e na nossa vida o Cristo glorioso e sempre em estado de vítima. O sacerdócio de Cristo é eterno: "Um sacerdócio eterno" (Heb 7, 24).

    Oratio

    Senhor, nosso Deus, Tu és verdadeiramente amor, amor gratuito, amor oblativo. Manifestas esse amor a David e ao povo de Israel. É um amor forte, um amor preocupado, não em receber, mas em dar. David, pobre e fraco, tornou-se um rei rico e poderoso, bem instalado no seu palácio. Quis retribuir-te com o presente de uma «casa» para habitares, um templo sumptuoso que substituísse a tenda que acolhia a Arca da Aliança. Não aceitaste, porque és um Deus-Amor, um Deus que não previu receber, mas apenas dar. Por isso, prometeste a David um dom ainda maior, uma casa estável e duradoura, uma estirpe real, um filho que será simultaneamente «Filho do Altíssimo», Jesus Cristo, Senhor.

    Tudo isso acontece em Maria, no mistério da Incarnação. Dá-nos a graça de descobrirmos, cada vez mais, esse inefável mistério para o contemplarmos e adorarmos, como o contemplou e adorou Maria, quando gerou Cristo no seu seio e O deu à luz no presépio de Belém. Amen.

    Contemplatio

    A presença eucarística de Nosso Senhor é uma extensão da Incarnação

    Não se encontrando mais sobre esta terra a humanidade santa, a fonte da graça parece esgotada, ou transportada para uma distância incomensurável de nós. Porque, saibamo-lo bem, toda a graça é o produto do Sagrado Coração de Jesus, brota d' Ele como o sangue material; identifica-se com o seu sangue e o seu amor. Mas, se este Coração se afastava de nós, mesmo que nos deixasse os outros sacramentos, que solidão nos seria feita aqui em baixo! Que isolamento! Que vazio! O nosso terno irmão, o nosso amigo já não estaria lá connosco! O seu Coração de homem já não escutaria de perto os nossos suspiros e as nossas lágrimas! Em que nos tornaríamos?

    Mas o seu terno Coração soube tudo arranjar, e a fim de permanecer sempre connosco, inventou o sacramento do amor. Não vemos Jesus, mas Ele está lá; só as fracas aparências eucarísticas nos separam d'Ele, e temos a fé para as penetrar, e temos um coração que voa para o Coração de Jesus, tornado mais do que nunca o Coração do nosso irmão e do nosso amigo. É assim que o Coração de Jesus cumpre a sua promessa: «Não vos deixarei órfãos». É assim que a Eucaristia continua o mistério da Incarnação e multiplica por toda a parte Belém e Nazaré. A Eucaristia torna mesmo Nosso Senhor mais perto de nós do que o mistério da Incarnação, e quando reflectimos bem nisto vemos que Ele não se afastou do homem pela Ascensão senão para estar mais perto dele pela Eucaristia, porque as condições da vida mortal não permitiam ao Salvador tornar-se presente em todos os pontos do espaço, em todo o coração que o amasse e que desejasse a sua visita, mas a sua vida gloriosa permite¬lhe a omnipresença do amor; o seu Coração está em toda a parte, encontramo-lo em todos os santuários, e se a nossa ligeireza e a nossa indiferença não impedissem as efusões deste amor insaciável no dom de si mesmo, ser-nos-ia permitido como aos primeiros crentes de o guardar nas nossas casas e de o levar sempre no nosso coração. Tal teria sido a condescendência deste Coração generoso, se a Igreja não tivesse tomado, de algum modo contra Ele mesmo, o cuidado do respeito que Lhe é devido.

    Mas se este privilégio não nos é concedido, nós podemos sem grande fadiga, e quando queremos, a toda a hora do dia e da noite, aproximar-nos do Coração eucarístico, falar-lhe, abrir-lhe todo o nosso coração, atraí-lo a nós e fazer d'Ele tudo o que quisermos. Porque, na santa Eucaristia, o seu Coração tornou-se dependente de nós, mais ainda do que não o era em Belém e em Nazaré. É certamente fácil pegar numa criança, abraçá-Ia e acariciá-Ia, mas é ainda bem mais fácil pegar num bocadinho de pão, colocá-lo onde se quiser. E quando se pensa que sob esta débil aparência o Coração de Jesus mesmo está lá; quando se pensa neste amor que quis até este ponto tornar-se dependente de nós, como não chorar, como fazia o santo Cura de Ars exclamando: «Faço d' Ele o que quero, coloco-o onde quero!» Porque o privilégio de dispor da humanidade santa tornou-se um dos mais preciosos privilégios que possam ter as mãos sacerdotais. Mas é meditando na vida eucarística escondida que nos será dado aprofundar este prodígio de amor. Para hoje, basta-nos verificar este primeiro ponto.

    Pela santa Eucaristia, a Incarnação multiplica-se sobre todos os pontos da terra habitável; em toda a parte aonde nos é dado dirigir os nossos passos, encontramos o Coração do nosso irmão e do nosso amigo, sempre pronto a nos receber, sempre pronto a nos consolar, sempre pronto a nos cumular de graças, a nos iluminar, a nos levantar e a nos perdoar. Assim, nesta Incarnação nova, é sobretudo o Coração de Jesus que está presente; Ele esconde todo o resto, a sua divindade, a sua humanidade, a fim de melhor deixar ver o seu Coração; e se os olhos do corpo não podem ver, como o vêem os olhos do coração e como sabem penetrar os véus que o envolvem! Ah! Porque não nos é dado multiplicar também o nosso coração para o dar a este Coração que se multiplica por nós! Pelo menos, arranquemos os nossos pensamentos, as nossas afeições ao mundo, a nós mesmos, para os dar todos ao único Coração que nos ama, e se não podemos superá-lo nem mesmo igualá-lo em amor, ao menos que todo o nosso amor lhe pertença, todo, absolutamente todo; e ainda, depois disto, digamos que não somos senão servos inúteis (Pe. Dehon, OSP 2, p.419).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
    «Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo». (Lc 1, 68).

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