Week of Mar 28th

  • Terça-feira - Semana Santa

    Terça-feira - Semana Santa


    30 de Março, 2021

    Terça-feira - Semana Santa

    Lectio

    Primeira leitura: Isaías 49, 1-6

    1«Ouvi-me, habitantes das ilhas, prestai atenção, povos de longe. Quando ainda estava no ventre materno, o Senhor chamou-me, quando ainda estava no seio da minha mãe, pronunciou o meu nome. 2 Fez da minha palavra uma espada afiada, escondeu-me na concha da sua mão. Fez da minha mensagem uma seta penetrante, guardou-me na sua a/java. 3Disse-me: «Israel, tu és o meu servo, em ti serei glorificado.» 4Eu dizia a mim mesmo: «Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças.» Porém, o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompensa. 5 E agora o Senhor declara-me que me formou desde o ventre materno, para ser o seu servo, para lhe reconduzir Jacob, e para lhe congregar Israel. Assim me honrou o Senhor. O meu Deus tornou-se a minha força. 6 Disse-me: «Não basta que sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob, e reunires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terre.»

    o Servo de Javé pede a todos atenção porque tem uma declaração a fazer: a sua missão deverá alargar-se até aos confins do mundo (v. 6b). E narra a sua história, resumindo-a em alguns momentos particularmente significativos: a sua vocação, momento em que também recebeu os dons para realizar com eficácia a missão de proclamar a palavra de modo eficaz (v. Is.): o oráculo com que Deus o confirma na sua identidade e na missão (v. 3).

    A missão começa por ser um fracasso, o que leva o Servo a exclamar: «Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças». Mas reconhece que a sua causa não está perdida: «o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompense». Animado pela confiança no Senhor, o Servo, acolhe e transmite um novo oráculo de Deus: «Não basta que sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob, e reunires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terre».

    A missão do Servo é universal. Por meio dele, Deus quer fazer chegar o dom da salvação aos mais remotos confins da terra. A missão do Servo entre os seus compatriotas é insignificante, se comparada com a sua vocação missionária.

    Evangelho: João 13, 21-33

    21 Tendo dito isto, Jesus perturbou-se interiormente e declarou: «Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há-de entregar/» 220S discípulos olhavam uns para os outros, sem saberem a quem se referia. 23 Um dos discípulos, aquele que Jesus amava, estava à mesa reclinado no seu peito. 24 Simão Pedro fez-lhe sinal para que lhe perguntasse a quem se referia. 25 Então ele, apoiando-se naturalmente sobre o peito de Jesus, perguntou: «Senhor, quem é?» 26 Jesus respondeu: «É aquele a quem Eu der o bocado de pão ensopado.» E molhando o bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27 E, logo após o bocado, entrou nele Satanás. Jesus disse-lhe, então: «O que tens a fazer fá-lo depressa.» 28Nenhum dos que estavam com Ele à mesa entendeu, porém, com que fim lho dissera. 29 Alguns pensavam que, como Judas tinha a bolsa, Jesus lhe tinha dito: 'Compra o que precisamos para a Festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. 30Tendo tomado o bocado de pão, saiu logo. Fazia-se noite. 31 Depois de Judas ter saído, Jesus disse: «Agora é que se revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a glória de Deus. 32 E, se Deus revela nele a sua glória, também o próprio Deus revelará a glória do Filho do Homem, e há-de revelá-Ia muito em breve.»

    33 «Filhinhos, já pouco tempo vou estar convosco. Haveis de me procurar, e, assim como Eu disse aos judeus: 'Para onde Eu for vós não podereis ir; também agora o digo a vós. 36 Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, para onde vais?» Jesus respondeu-­lhe: «Para onde Eu vou, tu não me podes seguir por agora; hás-de seguir-me mais tarde.» 37Disse-Ihe Pedro: «Senhor, porque não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por til» 38Replicou Jesus: «Darias a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo, antes de me teres negado três vezes!»

    Terminado o lava-pés, Jesus alude à traição de que está para ser vítima: «um de vós me há-de entregar!» (v. 21). Estas palavras de Jesus, com a perturbação que Lhe vêem estampada no rosto, deixam os apóstolos espantados. Tentam identificar o traidor. Pedro reage por primeiro, manifestando a autoridade que lhe era reconhecida e o bom entendimento que havia entre ele e João. Jesus revela a infinita delicadeza que O distingue: enquanto indica o traidor, oferece-lhe um bocado de pão envolvido em molho, sinal de honra e distinção entre comensais. Uma última e amorosa provocação! Judas nega-se a corresponder a esse gesto, mostrando que a sorte de Jesus estava traçada. Recebendo o bocado, mas recusando o Amigo que lho oferecia, Judas saiu. «Fazia-se noite. (v. 30b), anota o evangelista. Judas já não podia ficar no grupo dos amigos de Jesus. Deixara-se envolver pela noite da mentira, do ódio, pelo reino de Satanás.

    «Nenhum dos que estavam com Ele à mesa entendeu» (v. 28). Mas, no exacto momento em que Judas saía para atraiçoar o Mestre, era glorificado o Filho do homem. Com Ele, era glorificado o Pai que, ao entregar o Filho, revela o seu imenso amor. A hora da morte e a hora da ressurreição são, juntas, a hora da glorificação, da manifestação de Deus-Amor.

    Depois, Jesus inicia o discurso de adeus (v. 33). O vazio que deixa, e que nada nem ninguém pode preencher, não é definitivo. Pedro, sempre impetuoso, não quer nem tem paciência para esperar e quer partir imediatamente com o Mestre: «Senhor, porque não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por ti! (v. 36)>>. Mas, nem Pedro nem mais ninguém pode seguir Jesus só com a sua boa vontade, ou com as suas forças. É preciso Espírito Santo, o grande dom pascal, que é preciso aguardar.

    Meditatio

    Num mundo que nos enche de angústias e nos pode tornar pessimistas, porque nos parece que "tudo ... jaz sob o poder do maligno' (1 Jo 5, 19), Cristo, "Homem novo' (Ef 4, 24) dá-nos coragem, ilumina-nos, pacifica-nos e dá-nos alegria (Cf. Jo 20, 20-21), porque nos mostra o poder do Pai em transformar, para sua glória e nosso bem, todas as situações, mesmo as mais difíceis. Contemplando a Cristo, e unidos a Ele, verificamos que "apesar do pecado, dos fracassos e da injustiça, a redenção é possível, oferecida e já está presente (Cst. 12). As leituras de hoje mostram-nos esta verdade.

    O Servo de Javé, de que nos fala Isaías, vive um momento dramático. Está profundamente desanimado. A sua missão tornara-se um retundo fracasso. Por isso, exclama: «Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças». Mas não se deixa cair no desespero. Continua a confiar no Senhor, que o escolheu desde o ventre materno e o chamou: «Porém, o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recompensa». Mantendo-se fielmente atento à Palavra do Senhor, acaba por verificar que as presentes dificuldades, no meio do seu povo, são caminho para um horizonte de missão muito mais alargado e radioso: «Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra» (v. 6).

    Esta profecia realiza-se plenamente em Jesus. Também Ele passa por um momento dramático e é atraiçoado por um dos seus. Está profundamente perturbado e declara: «um de vós me há-de entregar.!» (v. 21). A sua missão parece redundar num completo fracasso, numa tremenda derrota. Mas Jesus também se deixa iluminar pela Palavra do Pai e exclama: «Agora é que se revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a glória de DeU9> (v. 31).

    Tanto o Servo de que fala Isaías, como Jesus, o verdadeiro Servo, conseguem ver para além das aparências. Mesmo nas situações mais dramáticas, descobrem a poderosa acção de Deus que tudo transforma. Os maiores sofrimentos, aceites na fidelidade a Deus, para realizar os seus projectos, transformam-se em glória. Ao aceitar a Paixão, para redenção do mundo, Jesus realiza a profecia de Isaías, para glória do Pai.

    Situações semelhantes podem surgir na nossa vida de cristãos, de consagrados, de sacerdotes. A Paixão de Jesus irradia uma luz poderosa para lermos essas situações e reagirmos à maneira do Senhor, acolhendo-as como ocasiões para glorificar a Deus. Este acolhimento confiante não depende unicamente da nossa boa vontade, da nossa generosidade. É o que Jesus declara a Pedro: «tu não me podes seguir por eçore» (v. 36). É preciso ser chamado por Ele, e receber a força do seu Espírito. Pela vocação e pelo carisma, somos unidos a Cristo e tornados capazes de participar na sua missão, mesmo no meio das maiores hostilidades e sofrimentos. Unidos a Cristo, podemos participar no seu mistério pascal, para nos transformarmos a nós mesmos e transformarmos o mundo.

    Oratio

    Senhor Jesus, Tu conheces todas as possibilidades das nossas traições, das nossas repentinas reviravoltas, das dissimuladas e insinuantes afirmações, que ferem o coração da comunidade e ferem o teu coração, sempre em agonia, até ao fim do mundo. Judas, traidor, continuou a ser, para Ti, um amigo, a quem ofereceste um último gesto de delicada predilecção. O Amor, que és Tu, não retira o que ofereceu, não renega o que é. Prefere consumir-se no sofrimento e na morte! Todos levamos em nós as trevas de Judas, a impulsividade de Pedro, o amor de João. E por todos Te ofereces, porque nos amaste até à morte. É a tua glória. É a glória do Pai! O seu amor eternamente fiel, revela-se no teu rosto desfigurado pelo sofrimento. A Ele a vitória! A Ele a glória para sempre! Amen.

    Contemplatio

    Satanás tinha tomado posse de Judas, um apóstolo! E foi-se encontrar com os príncipes dos sacerdotes para conspirar a sua traição com eles. Disse-lhes: «Que quereis dar-me, se vo-to entreçer?».

    É introduzido no Sinédrio, escutam-no com alegria, uma alegria digna do inferno. Discutem o preço. Oferecem-lhe trinta moedas de prata. Aceita, o pacto é concluído. A moeda de prata valia quatro dracmas antigas, cerca de cinco francos. Trinta moedas, era o preço habitual de um escravo.

    Eis até onde Jesus quis descer para nos resgatar.

    Judas empenhou a sua palavra, e desde aquele momento procurava a ocasião para lhes entregar Jesus fazendo com que Ele ficasse fora dos encontros populares: spopondit et quaerebat opportunitatem ut traderet eum sine turbis (Lc 22,6).

    Como é que Judas chegou àquele ponto? Tinha sido pouco a pouco e cedendo, primeiro, a alguns movimentos de avareza.

    Oh! Como a inclinação para o pecado é escorregadia! Não estou eu em perigo, pela minha tibieza actual, de cair bem baixo?

    Depois do seu pacto criminoso, Judas e os Fariseus tiveram ainda vários dias para se arrependerem, mas em vão. O endurecimento é o castigo do sacrilégio. Como devo temer chegar até lá! Trato muitas vezes Nosso Senhor com tão pouco respeito nas minhas comunhões impregnadas de tibieza e de rotina! - Nosso Senhor dizia ao bispo de Éfeso: «Decaíste do teu fervor, toma cuidado! Se não fizeres penitência, voltarei, derrubarei o teu candelabro e darei a outro o teu lugar» (Ap 2,5) (Leão Dehon, OSP 3, p. 257s.).

    Actio

    Repete frequentemente e vive hoje a palavra:

    «E agora que se revela a glória do Filho do Homem; e assim se revela nele a glória de Deus» (Jo 13, 31).

  • Sexta-feira - Semana Santa

    Sexta-feira - Semana Santa


    2 de Abril, 2021

    Sexta-feira - Semana Santa

    O CORAÇÃO DE JESUS ABERTO PELA LANÇA

    Sed unus militum lancea latus ejus aperuit; et continuo exivit sanguis et aqua. Et qui vidit testimonium perhibuit... Facta sunt enim haec ut Scriptura impleretur: Os non comminuetis ex eo. Et iterum: Videbunt in quem transfixerunt (Jo 19, 34- 36).

    Mas um dos soldados perfurou-lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água. Aquele que o viu é que o atesta... E isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura: nem um só dos meus ossos se há-de quebrar. E ainda: Hão-de olhar para aquele que trespassaram (Jo 19, 34-36).

    Primeiro Prelúdio. O último acto da Paixão de Cristo, a abertura do seu lado, explica e resume toda a vida do Salvador. Tomou um Coração para o abrir como a fonte de todas as graças.

    Segundo Prelúdio. Dai-me, Senhor, a graça de beber nas fontes da santidade e do amor.

    PRIMEIRO PONTO: A ferida. - Vamos ao Calvário, depois da morte de Jesus. A multidão afastou-se, os amigos ficam. Alguns soldados vêm verificar ou, se é o caso, apressar a morte dos pacientes, para que o espectáculo do seu suplício prolongado não entristeça o dia do sabbat.

    Um dos soldados adiantou-se, portanto, e abriu o lado de Jesus com uma lança. É um grande mistério da história sagrada, onde tudo é mistério e acção divina. A ferida exterior é aqui a revelação simbólica da ferida interior, a do amor. O amor, eis o algoz de Jesus! Cristo morreu porque quis, foi o amor quem o matou ... É assim que a Igreja canta, para saudar o Coração trespassado do seu esposo: «ó Coração vítima de amor, Coração ferido por amor. Coração morrendo de amor por nós! O Cor amoris vidime, amore nostro ssuaum, amore nostri languidum! (Hino do Sagrado Coração).

    Nosso Senhor permitiu este golpe de lança para chamar a nossa atenção para o seu coração, para nos fazer pensar no seu amor que é a fonte de todos os mistérios da salvação: as promessas do Éden, as profecias e as figuras da antiga lei, a acção providencial sobre o povo de Deus, a incarnação, a vida, os ensinamentos e a morte do Salvador. A abertura do lado de Jesus, é como a fonte que regava o paraíso terrestre, é como a fenda do rochedo que deu a água para saciar o povo de Israel.

    SEGUNDO PONTO: O sangue e a água. - E saiu sangue e água, diz S. João. O ferro ao retirar-se deixou jorrar uma dupla fonte de sangue e de água, na qual os Padres da Igreja viram o símbolo desta outra maravilha de amor, os sacramentos, canais preciosos da graça da salvação. - Rio de água que, no santo baptismo e no banho da penitência, lava a alma da mácula original; rio de sangue que cai todas as manhãs nos cálices dos altares, para se expandir pelo mundo fora, consolar a Igreja sofredora do Purgatório e reanimar a Igreja que combate sobre a terra; rio refrescante, onde o coração, ressequido pelos trabalhos e pelas tentações, vai saciar-se de piedade, de caridade e de santa alegria.

    Senhor, concedei-me beber desta água e deste sangue, para não mais tenha esta sede doentia das coisas do mundo que me tortura, e que eu seja inebriado pelo vosso amor.

    TERCEIRO PONTO: «Olharão para dentro daquele que trespassaram». - É a palavra do profeta Zacarias, recordada por S. João. O profeta não disse: «Olharão para aquele que trespassaram», mas «olharão para dentro daquele que trespassaram: Videbunt in quem transfixerunt» (Jo 19, 38). S. João aplica estas palavras à abertura do lado de Jesus; devia pensar no interior de Jesus, no Coração mesmo de Jesus que ele pôde entrever pela chaga aberta do lado, no momento do embalsamamento.

    Esta ferida entrega-nos e abre-nos o Coração de Jesus. Espiritualmente, nós aí lemos o amor que tudo deu, mesmo a vida. Neste amor mesmo, nós reconhecemos o motivo e o fim de todas as obras divinas: Deus criou-nos, resgatou-nos, santificou-nos por amor. No Coração de Jesus, é o fundo mesmo da natureza divina que nós penetramos na sua mais maravilhosa manifestação. «Deus é emot». S. João leu isto no Coração de Jesus.

    Tenho necessidade de contemplar esta ferida para ver como eu sou amado e como por minha vez devo amar. Lá hei-de aprender como um coração amante deve agir, sofrer, tudo dar, até à morte, por Deus e pelas almas.

    Vamos mais profundamente ainda, e vejamos tudo o que sofreu o mais delicado dos corações: os desprezos, as calúnias, as traições, os abandonos, as desistências. Todas as dores estão reunidas neste Coração e transbordam. Sentiu-as todas, a todas santificou. Nas nossas dores, por mais extremas que sejam, tenhamos confiança na simpatia e na compaixão deste Coração, que quis assemelhar-se a nós no sofrimento, para ser mais compassivo e mais misericordioso (Heb 2, 17).

    Comecemos nós mesmos lamentar este amor que não é amado e por compadecer com as suas dores.

    Resoluções. - A abertura do Coração de Jesus recorda-nos o seu amor, a sua bondade, o seu sofrimento. Ele espera de mim o amor em troca, a gratidão, a compaixão. Eis­me aqui, Senhor, para viver convosco e em Vós. Não permitais que eu jamais me separa de vós e que vos esqueça.

    Colóquio com Jesus na cruz.

    (Leão Dehon, OSP 3, p. 367ss. Tradução do Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ)

  • Sábado - Semana Santa

    Sábado - Semana Santa


    3 de Abril, 2021

    Sábado - Semana Santa

    O LUTO DE MARIA E DOS APÓSTOLOS E A PROVAÇÃO DE MADALENA

    Et vidit duos angelos in albis, sedentes, unum ad caput et unum ad pedes, ubi positum fuerat corpus Jesu. Dicunt ei illi: Mulier, quid pioras? Dicit eis:

    Quia tulerunt Dominum meum et nescio ubi posuerunt eum (Jo 20,12-13).

    E viu dois anjos vestidos de branco, sentados, um à cabeceira e outro aos pés, onde jazera o corpo de Jesus. Disseram-lhe eles: Mulher, porque choras? Porque levaram o meu Senhor, respondeu, e não sei onde O puseram (Jo 20, 12-13).

    Primeiro Prelúdio. A Santíssima Virgem exprime a sua dor com calma em casa de S. João. Madalena, mais agitada, corre a comprar perfumes e vai ao sepulcro.

    Segundo Prelúdio. luto, compaixão e amor, tais são as disposições de que devo penetrar-me hoje para cumprir a minha missão de discípulo do Sagrado Coração.

    PRIMEIRO PONTO: Luto de Maria, de S. João e de Madalena. - Durante o grande luto do sábado, Maria, os discípulos e as santas mulheres permaneceram em casa, por causa do Sabbat. «Sabbato autem siluerunt secundum msndetun» (Lc 23, 56).

    Para Maria, havia um outro motivo: Era costume entre os Judeus que a pessoa mais estreitamente unida ao defunto, a sua mãe, a sua esposa, a irmã permanecesse em casa durante o grande luto, enquanto que os outros membros da família iam visitar o sepulcro. Na morte de Lázaro, era Madalena que permanecia em casa: Maria autem domi sedebat(Jo 11, 20).

    A casa para Maria, era em casa de João. Tinha-a tomado consigo por ordem de Nosso Senhor. Ex illa hora accepit eam discipulus in sua (Jo 19, 27). Pedro também estava lá, não deixava João naqueles dias.

    Nós podemos facilmente pensar que Madalena permaneceu também junto de Maria. Unidas ao pé da cruz, estavam unidas no luto. A presença de Maria adoçava o luto de Madalena. A presença de Madalena, que tinha sido toda regada pelo sangue de Jesus, era para Maria como um resto de Jesus mesmo.

    Maria abandona-se menos à dor do que Madalena. A sua fé não lhe deixa perder de vista os ensinamentos da Escritura.

    Ela sabe que a alma santa de Jesus não será abandonada nos infernos e que Deus não permitirá que o corpo do Santo conheça a corrupção: Quoniam non derelinques animam meam in inferno, nec dabis Sanctum tuum videre corruptionem (SI 15, 9). /371

    Ela espera a sua próxima visita. Medita sobre a grandeza do sacrifício e do amor de Jesus e sobre os felizes frutos que a sua Paixão há-de produzir: Conservabat omnia verba hoc in corde suo (Lc 2, 19).

    SEGUNDO PONTO: Amor e fidelidade de Maria. - Madalena ela também nos dá um grande exemplo de fidelidade e de perseverança no amor de Nosso Senhor. Ela não tem repouso, não pode viver longe do seu Bem-Amado. Faz-lhe falta o seu Deus, procurá-lo-á. O seu tesouro está no sepulcro, lá também está o seu coração. As provações não extinguiram as chamas do seu amor: Aquae multae non potuerunt extinguere caritatem (Cant. 8).

    o seu amor foi purificado no cadinho dos sofrimentos. É preciso que a sua fidelidade reduplique: o seu Bem-Amado foi tão cruelmente traído, abandonado! É preciso que a sua dedicação seja verdadeiramente reparadora.

    Logo que a lei de Deus o permite, sai com as outras duas Maria para comprar perfumes (Mc 16, 1). Por modéstia, não sai sozinha, consulta Pedro, João e Maria, como lhes irá prestar contas quando tiver encontrado o túmulo vazio. A obediência à Igreja e a união a Maria são as marcas do verdadeiro espírito de Deus. Depois da compra dos perfumes, Madalena faz uma visita ao sepulcro com uma só companhia:

    Vespere autem sabbati, venit cum altera Maria videre sepulcrum (Mt 28, 1). Toma o caminho do Calvário, ainda é escuro, revê em espírito todas as cenas da sexta-feira. Tem medo de pisar aos pés o precioso sangue. A cruz está ainda lá, é terrível no meio das sombras da noite. O sepulcro está solitário, os guardas dormitam. Madalena senta­se e chora. A hora da consolação não chegou. Nosso Senhor deixa-a nas suas angústias e, todavia, fortifica a sua coragem. Volta para a casa de dor, não encontrou o seu Bem-Amado: Per noctem quaesivi quem diligit anima mea. Quaesivi et non inveni (Cant 3, 2). - Quando tivermos perdido a presença de Nosso Senhor, procuremo-lo assiduamente como Madalena.

    TERCEIRO PONTO: Ardor de Madalena e as suas provações. - O coração amante de Madalena não conhece nem atraso nem desânimo. Logo que isto é possível: Valde mane, valde diluculo, cum adhuc tenebrae essent (Mc, Lc, Jo), Madalena sai com as outras duas Marias para voltar ao Calvário. Ela adianta-se, corre. Como o esposo dos Cânticos, ela disse: «Leventer-me-ei de noite e percorrerei a cidade; nas ruas, nas praças públicas procurarei aquele que o meu coração ama. Perguntarei aos guardas das portas da cidade: Não o vistes por acaso»? (Cant 3, 1).

    Durante esta noite, ela dizia com o Salmista: «A minha alma suspira por vós, ó meu Deus, como o veado sedento pela água das fontes. Quando vos tornarei a ver, Ó meu Deus? Quando hei-de comparecer diante da vossa face? Enquanto derramo lágrimas inextinguíveis, os meus inimigos riem-se e dizem-me: Onde está o teu Deus? ... Ó minha alma, espera mesmo assim, porque ainda o hás-de louvar, o teu Senhor e o teu Deus» (SI 41).

    Mas Nosso Senhor quer provar ainda mais a sua fidelidade e a sua constância.

    Chegando ao Calvário, Madalena vê que a pedra foi retirada e que o sepulcro está vazio. Não pensava na ressurreição, procurava o corpo magoado e dilacerado do seu Salvador para lhe prestar o piedoso dever de uma sepultura digna dele. Mesmo esta esperança é desenganada. Não lhe resta mais nada senão chorar pelo seu Jesus! É como se fosse fulminada. Todavia, ela não sucumbe à sua dor, adora, humilha-se, recorda-se dos seus pecados que justificam esta privação do seu Jesus, do seu Salvador bem-amado.

    Resoluções. - Maria, João, Madalena e as santas mulheres são os nossos modelos nesta jornada de compaixão e de reparação. São os únicos amigos fiéis do Coração de Jesus. Unir-me-ei a eles hoje e todos os dias. Procurarei o meu Jesus como Madalena, todas as vezes que tiver perdido a sua presença sensível. Não desanimarei nunca na minha fé, na minha confiança e no meu amor.

    Colóquio com Maria.

    (Leão Dehon, OSP 3, p. 370ss. Tradução do Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ)

     

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