ANO B
30.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 30.º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 30.º Domingo do Tempo Comum exorta-nos a viver com esperança. A nossa vida não tem de ser uma experiência sombria, sem horizontes e sem perspetivas; Deus dispõe-se, a cada passo, a libertar-nos da escuridão e a conduzir-nos em direção a uma vida livre e plenamente realizada. Basta que, da nossa parte, haja disponibilidade para aceitarmos os desafios e indicações de Deus.
A primeira leitura é um convite à alegria. Para o Povo que caminha pelos vales sombrias da vida e da história, Deus é um Pai que acompanha, que ampara e que cuida. Ele não deixará ninguém para trás, nem sequer os mais débeis – o cego, o coxo, a mulher grávida e a que tem dificuldade em manter o ritmo da caminhada pois transporta o seu bebé nos braços. Guiados pelo amor paternal e maternal de Deus, todos chegarão à terra sonhada, à meta da Vida verdadeira.
Na segunda leitura um catequista cristão – o autor da Carta aos Hebreus – apresenta-nos Jesus como um sumo-sacerdote que compreende as nossas fraquezas e que nos leva até Deus. Podemos confiar n’Ele e segui-l’O sem hesitações. Ninguém encontra a Vida verdadeira sem caminhar com Jesus, sem escutar as suas indicações, sem viver ao seu estilo. É uma mensagem destinado a acordar crentes adormecidos, conformados com uma fé morna, sem exigência e sem compromisso.
O Evangelho, através da história do cego Bartimeu, propõe-nos uma parábola sobre a passagem da escuridão para a luz, da vida velha para a vida nova. O encontro com Jesus é sempre uma oportunidade para abraçar uma existência com horizontes mais amplos, uma vida plena de luz e de sentido. Bartimeu, o homem que encontrou Jesus à saída de Jericó e O seguiu no “caminho” de Jerusalém, é o modelo de todos os discípulos.
LEITURA I – Jeremias 31,7-9
Eis o que diz o Senhor:
«Soltai brados de alegria por causa de Jacob,
enaltecei a primeira das nações.
Fazei ouvir os vossos louvores e proclamai:
‘O Senhor salvou o seu povo, o resto de Israel’.
Vou trazê-los das terras do Norte
e reuni-los dos confins do mundo.
Entre eles vêm o cego e o coxo,
a mulher que vai ser mãe e a que já deu à luz.
É uma grande multidão que regressa.
Eles partiram com lágrimas nos olhos
e Eu vou trazê-los no meio de consolações.
Levá-Ios-ei às águas correntes,
por caminho plano em que não tropecem.
Porque Eu sou um Pai para Israel
e Efraim é o meu primogénito».
CONTEXTO
Jeremias, o profeta nascido em Anatot por volta de 650 a.C., exerceu a sua missão profética desde 627/626 a.C., até depois da destruição de Jerusalém pelos Babilónios (586 a.C.). O cenário da atividade do profeta é, em geral, o reino de Judá (e, sobretudo, a cidade de Jerusalém).
A primeira fase da pregação de Jeremias abrange parte do reinado de Josias. Este rei, preocupado em defender a identidade política e religiosa do Povo de Deus, leva a cabo uma importante reforma religiosa destinada a banir do país os cultos aos deuses estrangeiros. A mensagem de Jeremias, neste período, traduz-se num constante apelo à conversão, à fidelidade a Javé e à aliança.
Em 609 a.C., no entanto, Josias é morto, em combate contra os egípcios. Depois de uns meses de instabilidade, o trono de Judá é ocupado por Joaquim (609-597 a.C.). É durante o reinado de Joaquim que se desenrola a segunda fase da missão profética de Jeremias. Nesta fase, o profeta denuncia as graves injustiças sociais (às vezes fomentadas pelo próprio rei) que fragilizavam irremediavelmente o tecido social de Judá; e denuncia, por outro lado, a infidelidade religiosa, traduzida sobretudo na política de alianças políticas com potências estrangeiras (Jeremias entende que os líderes de Judá, ao colocarem a esperança da nação em exércitos estrangeiros, estão a mostrar que não confiam em Deus). Convencido de que Judá já ultrapassou todas as medidas, Jeremias anuncia a iminência de uma invasão babilónica que irá castigar os pecados da nação. As previsões funestas de Jeremias concretizam-se: em 597 a.C., Nabucodonosor invade Judá e deporta para a Babilónia uma parte da população de Jerusalém.
No trono de Judá fica, então, Sedecias (597-586 a.C.). A terceira fase da missão profética de Jeremias desenrola-se, precisamente, durante este reinado. Num primeiro momento, Sedecias mantém-se alheado das convulsões políticas que agitavam os povos da região; mas, após alguns anos de calma submissão à Babilónia, Sedecias volta a experimentar a velha política das alianças com o Egipto. Uma vez mais, Jeremias manifesta o seu desacordo com essa política temerária, que mais tarde ou mais cedo há de desembocar no desastre. Nem o rei, nem os notáveis prestam qualquer atenção à opinião do profeta.
Em 587 a.C., Nabucodonosor põe cerco a Jerusalém; no entanto, um exército egípcio vem em socorro de Judá e os babilónios retiram-se. Nesse momento de euforia nacional, Jeremias aparece a anunciar o recomeço do cerco e a destruição de Jerusalém (cf. Jer 32,2-5). Acusado de traição, o profeta é encarcerado (cf. Jer 37,11- 16) e corre, inclusive, perigo de vida (cf. Jer 38,11-13). Enquanto Jeremias continua a pregar a rendição, Nabucodonosor apossa-se, de facto, de Jerusalém, destrói a cidade e deporta a sua população para a Babilónia (586 a.C.).
É impossível dizer com segurança em que contexto apareceu a mensagem que nos é proposta como primeira leitura neste trigésimo domingo comum. Para alguns comentadores, trata-se de um oráculo que poderia situar-se na primeira fase da atividade profética de Jeremias (reinado de Josias) e que seria dirigido aos habitantes do Reino do Norte (Israel). Seria uma mensagem de esperança, destinada a animar esse povo que há cerca de cem anos tinha perdido a independência e estava sob o domínio assírio. Para outros, contudo, este texto poderá ser da época de Sedecias, algures entre a primeira e a segunda deportação do Povo para a Babilónia (597-586 a.C.). É a época em que Jeremias descobre perspetivas teológicas novas e começa a refletir sobre um tempo novo que Deus irá oferecer ao seu Povo: após a catástrofe, será possível recomeçar tudo, pois Deus tem em mente fazer uma nova Aliança com Judá.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto começa com um convite à alegria e ao louvor (vers. 7). Porquê? Porque Javé dispõe-se a reunir o seu Povo (disperso na Assíria? Na Babilónia?), a conduzi-lo através do deserto e a fazê-lo retornar à sua pátria. Reunir, conduzir e fazer retornar à pátria são os três verbos que, tradicionalmente, definem a ação de Deus em favor do seu Povo, durante o Êxodo. Como outrora, como sempre, Deus decidiu salvar o seu Povo condenado à morte.
Depois da afirmação geral, o profeta apresenta alguns pormenores deste Novo Êxodo. Da comitiva farão parte “o cego e o coxo, a mulher que vai ser mãe e a que já deu à luz” (vers. 8b). O cego e o coxo são figuras tradicionais ligadas ao tema do Êxodo (cf. Is 35,5), onde relembram a situação de necessidade e de carência em que os exilados jazem e, ao mesmo tempo, evocam a ação extraordinária de Deus no sentido de libertar o seu Povo dessa carência e dessa necessidade. Na imagem da mulher que vai ser mãe e na da mulher que já deu à luz, o profeta representa a dor e o sofrimento, mas também a fecundidade, a alegria, a esperança num futuro novo e cheio de vida.
No último versículo do nosso texto (vers. 9), Javé apresenta-Se como um pai cheio de amor pelo seu filho/Povo. Esse amor irá traduzir-se no final do Exílio e no regresso dos exilados à sua terra “no meio das consolações”, por um “caminho plano” e sem obstáculos. Será, portanto, um Êxodo triunfal, bem mais fácil do que o do passado, quando os hebreus saíram do Egito. No final desse Êxodo, Javé vai oferecer ao seu Povo vida abundante e fecunda (“levá-los-ei às águas correntes”).
O texto termina com uma afirmação solene de Deus, com uma declaração que ilustra o amor e a solicitude de Javé pelo seu Povo: farei tudo isso “porque Eu sou um Pai para Israel e Efraim é o meu primogénito”. Para Deus, Israel não será apenas um filho igual a outros; mas será “o primogénito”, o predileto, aquele que goza de todas as bênçãos. Esta bela afirmação de Deus garante ao Povo exilado a fidelidade eterna de Deus; e é fonte inesgotável de alegria, de confiança e de esperança.
INTERPELAÇÕES
- Num momento histórico dramático, quando o Povo de Deus exilado nas “terras do norte” se afundava no desânimo, Jeremias lança a sua proclamação convidando à alegria e ao louvor. Razão: Deus vai intervir para salvar o seu Povo, “o resto de Israel”. É um episódio mais de uma história de salvação que continua a escrever-se nos nossos dias e nos dias que hão de vir, até ao final dos tempos. Em pleno séc. XXI, Deus continua a vir ao encontro do seu Povo exilado neste “vale de lágrimas”, a estender-lhe a mão e a empurrá-lo para caminhos novos de vida e de esperança. As alterações climáticas fazem-nos temer pela viabilidade do planeta, as guerras novas e velhas continuam a tingir de sangue inocente a história do mundo, a ambição e a arrogância dos grandes parecem incontroláveis, a indiferença nascida do egoísmo condena cada dia mais e mais homens a caminhos sem saída… E Deus? Deus continua a insistir, uma e outra vez, com paciência infinita, em conduzir-nos em direção à Vida, em apontar-nos caminhos de salvação. Deus não desiste de nós. Deus não desiste dos seus filhos e filhas. Deus não desiste de ser “nosso Pai” e de nos envolver de ternura e amor. Como sentimos, como acolhemos, como vivemos esta “boa notícia”? O que é que ela traz à nossa luta de todos os dias? Podemos continuar a semear pessimismo quando somos amados desta forma?
- Jeremias garante que a ação salvadora e libertadora de Deus estender-se-á a todos, inclusive aos “cegos” e aos “coxos”. Os “coxos” e os “cegos representam, aqui, aqueles que estão numa situação de fragilidade, de debilidade, de dependência e que são incapazes, por si sós, de deixar essa condição. Também com esses – ou especialmente com esses – Deus quer caminhar. Na verdade, Deus não marginaliza ninguém, nem coloca ninguém à margem da sua proposta de salvação. Os fracos, os débeis, os limitados, os marginalizados ocupam um lugar especial no coração de Deus e são objeto privilegiado do seu amor e da sua misericórdia. Na nossa sociedade, os pequenos, os pobres, os humildes, os doentes, os velhos, os estrangeiros sem papéis são, frequentemente, marginalizados e ultrapassados pelo comboio da história. A sociedade edifica-se sem eles ou, pelo menos, sem ter em conta as suas necessidades e carências… Nós, os crentes, formados na escola de Deus, procuramos olhar para eles com o mesmo olhar com que Deus os olha? Somos capazes de ver em cada homem ou mulher – no “coxo”, no “cego”, no velho, no doente, no marginal – um irmão que Deus ama e a quem Deus quer oferecer, por nosso intermédio, a Vida plena, a salvação definitiva?
- A história da salvação mostra, numa repetição que chega a ser monótona, de um lado o amor e a fidelidade de Deus, do outro a infidelidade do Povo. Ora, apesar da resposta continuamente dececionante de Israel ao amor e à fidelidade de Deus, a verdade é que Deus nunca virou as costas ao seu Povo. Toda a história da salvação é uma história de perdão, de possibilidade de recomeço, de convite à superação do pecado. Também para nós isto vale. Podemos virar as costas a Deus e fechar-nos na nossa pobre autossuficiência; podemos ignorar a voz de Deus e escolher andar em caminhos que nos levam para longe d’Ele; podemos ir atrás de deuses menores, de deuses dececionantes, de deuses que nos escravizam e não nos asseguram vida… Mas, aconteça o que acontecer, Deus lá estará em cada passo do caminho a olhar para nós com um olhar cheio de amor, a perdoar-nos e a convidar-nos para nos sentarmos novamente com Ele à mesa da Vida nova, à mesa onde Ele quer reunir todos os seus filhos e filhas. Acreditamos na misericórdia e no perdão de Deus? O amor e a misericórdia de Deus são para nós motivação para vencermos a cegueira e a paralisia que tantas vezes nos impedem de caminhar?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 125 (126)
Refrão 1: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor, por isso exultamos de alegria.
Refrão 2: O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.
Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
parecia-nos viver um sonho.
Da nossa boca brotavam expressões de alegria
e dos nossos lábios cânticos de júbilo.
Diziam então os pagãos:
«O Senhor fez por eles grandes coisas».
Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
estamos exultantes de alegria.
Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
como as torrentes do deserto.
Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria.
À ida vão a chorar,
levando as sementes;
à volta vêm a cantar,
trazendo os molhos de espigas.
LEITURA II – Hebreus 5,1-6
Todo o sumo sacerdote, escolhido de entre os homens,
é constituído em favor dos homens,
nas suas relações com Deus,
para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados.
Ele pode ser compreensivo
para com os ignorantes e os transviados,
porque também ele está revestido de fraqueza;
e, por isso, deve oferecer sacrifícios
pelos próprios pecados e pelos do seu povo.
Ninguém atribui a si próprio esta honra,
senão quem foi chamado por Deus, como Aarão.
Assim também, não foi Cristo que tomou para Si a glória
de Se tornar sumo sacerdote;
deu-Lha Aquele que Lhe disse:
«Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei»,
e como disse ainda noutro lugar:
«Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedec».
CONTEXTO
A tradição, sobretudo das igrejas do oriente, atribui a Paulo de Tarso o escrito a que chamamos “Carta aos Hebreus”; mas as igrejas do ocidente há muito que descartaram a autoria paulina desta “homilia”. É provável que a “Carta aos Hebreus” venha de um discípulo de Paulo; mas não foi Paulo que a escreveu. Teria aparecido pouco antes do ano 70, quando o culto praticado no Templo ainda era uma realidade atual (recorde-se que, no ano 70, os romanos destruíram Jerusalém e o Templo). Os destinatários da “Carta” são, segundo a tradição, comunidades cristãs constituídas maioritariamente por cristãos vindos do judaísmo; no entanto, também há quem considere que a Carta poderia dirigir-se a qualquer comunidade cristã, nomeadamente a comunidades onde dominavam os cristãos de origem greco-romana. O facto de se citar abundantemente o Antigo Testamento não é decisivo para a definição dos destinatários, uma vez que, por essa altura, o Antigo Testamento era património comum de todos os cristãos. Seja como for, os destinatários da Carta aos Hebreus são crentes que vivem numa situação de fragilidade, de cansaço e de desalento. O objetivo do autor da Carta é ajudar esses cristãos a redescobrir o entusiasmo inicial, a revitalizar o seu compromisso com Cristo e a empenhar-se numa fé mais coerente e mais comprometida.
O autor desta reflexão convida os crentes a apreciar o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência, que o Pai enviou ao mundo com a missão de convidar todos os homens a integrar a comunidade do Povo sacerdotal. Uma vez comprometidos com Cristo, os crentes – membros desse Povo sacerdotal – devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor. Ao lembrar aos crentes o seu compromisso com Cristo e com a comunidade do Povo sacerdotal, o autor oferece aos cristãos a base para revitalizarem a sua experiência de fé, enfraquecida pela hostilidade do ambiente, pela acomodação e pela monotonia.
O texto que nos é proposto está incluído na segunda parte da Carta aos Hebreus (cf. Heb 3,1-5,10). Aí, o autor apresenta Jesus como o sacerdote fiel e misericordioso que o Pai enviou ao mundo para mudar os corações dos homens e para os aproximar de Deus. Jesus Cristo, o sumo-sacerdote “que atravessou os céus” para interceder junto de Deus pelos seus “irmãos” (cf. Heb 4,14-16), tornou-se para todos os que beneficiam do seu sacerdócio fonte de salvação eterna (cf. Heb 5,1-10).
MENSAGEM
No universo religioso judaico, o sumo-sacerdote ocupava o lugar cimeiro na hierarquia do clero do Templo e, de alguma forma, presidia à instituição sacerdotal. Era ele o único a entrar, uma vez no ano, no lugar mais sagrado do Templo (“Debir” ou “Santo dos Santos”), no solene “Dia das Expiações” (“Yom Kippurim”), com o sangue de um animal imolado, para aspergir o “propiciatório” (“kapporet”) e conseguir o perdão de Deus para os pecados do Povo. Dessa forma, o sumo-sacerdote tornava-se o intermediário por excelência da relação entre os homens e Deus.
Para a teologia judaica, há três aspetos que convergem na figura do sumo-sacerdote veterotestamentário (e, de certa forma, em todos aqueles que desempenhavam funções sacerdotais). Antes de mais, o sumo-sacerdote é um escolhido de Deus. Não é alguém que, por sua iniciativa pessoal, se propõe para um ofício ou conquista um cargo, mas é alguém a quem Deus chama. Foi Deus que, por sua iniciativa, chamou outrora o sacerdote Aarão e entregou à descendência de Aarão a missão sacerdotal. Em segundo lugar, o sumo-sacerdote não é um ser que está acima das realidades humanas, mas é um homem tomado de entre os homens. O facto de ser humano não o torna inapto para uma missão tão sublime; pelo contrário, a fragilidade e debilidade que resultam da sua humanidade tornam-no apto para compreender os erros e os pecados dos outros homens por quem intercede. Em terceiro lugar, o sumo-sacerdote tem uma função mediadora: a sua missão é “oferecer dons e sacrifícios pelos pecados”, apresentando diante de Deus o arrependimento dos homens e trazendo aos homens o perdão de Deus. Dessa forma, ele refaz a relação dos homens com Deus.
Estes três aspetos, constitutivos do sacerdócio veterotestamentário, também aparecem em Jesus, de tal forma que podemos designá-lo como sumo-sacerdote? Sem dúvida. Em primeiro lugar, porque foi o próprio Deus que o escolheu para a função sacerdotal. Na verdade, Cristo não era da linhagem do sacerdote Aarão, raiz do sacerdócio veterotestamentário; mas Deus escolheu-o e fê-lo sacerdote “segundo a ordem de Melquisedec” (Melquisedec, referido em Gn 14,17-20, era rei e sacerdote da cidade de Salém. Encontrou-se com Abraão e abençoou-o. A reflexão judaica liga-o com a figura do Messias que havia de vir).
Em segundo lugar, Jesus conhece bem as realidades humanas porque, além de Filho de Deus, foi também homem. Ao assumir a nossa humanidade, Ele experimentou a nossa debilidade e fragilidade e tornou-Se capaz de entender as nossas fraquezas e os nossos pecados. Nada da nossa vida lhe era estranho, nenhuma das nossas dores foi por Ele ignorada.
Finalmente, a proximidade e intimidade de Jesus com o Pai, por um lado, e a sua humanidade, por outro, tornam-n’O o perfeito mediador e intercessor, capaz de restabelecer definitivamente a comunhão entre Deus e os homens. Entendendo a nossa fragilidade, Ele obteve do Pai a compreensão e a misericórdia para as nossas falhas; falando com os homens, Ele apresentou-lhes o Pai, convidou-os a caminhar ao encontro do Pai, chamou-os a integrar a família de Deus. Assim, Jesus derrubou as barreiras que afastavam os homens de Deus.
Os crentes, colocados frente a frente com este Jesus – o sumo-sacerdote que os leva em direção ao Pai – são convidados a renovar o seu compromisso com Ele e a segui-l’O sem hesitações e sem desleixos.
INTERPELAÇÕES
- Caminhamos para onde? Por que caminhos? O que buscamos? Quem nos conduz, de forma que possamos chegar a porto seguro e dar sentido pleno à nossa vida? O autor da Carta aos Hebreus apresenta-nos Jesus e convida-nos a segui-l’O sem hesitações. Garante-nos que Ele nos leva ao Pai e nos ajudará a integrar a família de Deus. Ninguém vai ao Pai, ninguém encontra a Vida verdadeira sem caminhar com Jesus, sem escutar as suas indicações, sem viver ao seu estilo. É uma mensagem destinado a acordar crentes adormecidos, conformados com uma fé morna e sem grandes exigências, instalados na sua zona de conforto, protegidos atrás da sua segurança e do seu bem-estar. E nós? Escutamos Jesus, temo-lo como referência sempre que temos de fazer opções e de escolher caminhos? Ele é para nós Caminho, Verdade e Vida? Estamos dispostos a deixar que Ele nos conduza até ao Pai?
- Jesus experimentou a nossa fragilidade, a nossa debilidade, a nossa dependência; identificou-se connosco e tornou-Se capaz de compreender os nossos erros e de olhar para as nossas insuficiências com bondade e misericórdia. Depois, “atravessou os céus” e apresentou-se diante de Deus a interceder por nós e a obter do Pai a nossa salvação. Quando a consciência da nossa fragilidade e do nosso pecado nos impedir de caminhar em paz; quando o remorso pelas nossas escolhas erradas nos pesar intoleravelmente, lembremo-nos de Jesus, o nosso irmão, a interceder por nós junto do Pai. Caminhamos derrotados pelos nossos erros e pelo nosso pecado, ou confiamos em Jesus e na misericórdia de Deus?
- Jesus experimentou a nossa fragilidade e os nossos limites; solidarizou-se com todos os homens e mulheres, independentemente do lugar que a sociedade lhes atribuía. Esteve especialmente do lado dos mais frágeis, dos mais pequenos, dos mais esquecidos. O seu exemplo convida-nos à solidariedade com os últimos, com os pobres, com os mais humildes, com aqueles que o mundo rejeita e marginaliza; convida-nos a identificarmo-nos com os sofrimentos e as angústias, as alegrias e as esperanças de cada homem ou mulher; convida-nos a fazer o que estiver ao nosso alcance para promover aqueles que são humilhados, explorados, incompreendidos, colocados à margem da vida e da história. Sentimo-nos solidários com os irmãos e as irmãs que fazem caminho connosco, especialmente com aqueles dos quais ninguém cuida, que ninguém quer, que ninguém defende? Sentimos que as dores e feridas que fazem sofrer os nossos irmãos também são nossas?
ALELUIA – cf. 2 Timóteo 1,10
Aleluia. Aleluia.
Jesus Cristo, nosso Salvador, destruiu a morte
e fez brilhar a vida por meio do Evangelho.
EVANGELHO – Marcos 10,46-52
Naquele tempo,
quando Jesus ia a sair de Jericó
com os discípulos e uma grande multidão,
estava um cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu,
a pedir esmola à beira do caminho.
Ao ouvir dizer que era Jesus de Nazaré que passava,
começou a gritar:
«Jesus, Filho de David, tem piedade de mim».
Muitos repreendiam-no para que se calasse.
Mas ele gritava cada vez mais:
«Filho de David, tem piedade de mim».
Jesus parou e disse: «Chamai-O».
Chamaram então o cego e disseram-lhe:
«Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te».
O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus.
Jesus perguntou-lhe:
«Que queres que Eu te faça?»
O cego respondeu-Lhe:
«Mestre, que eu veja».
Jesus disse-lhe:
«Vai: a tua fé te salvou».
Logo ele recuperou a vista
e seguiu Jesus pelo caminho.
CONTEXTO
Jesus e os discípulos descem pelo vale do Jordão, a caminho de Jerusalém. Já não falta muito para que esse caminho – simultaneamente geográfico e espiritual – chegue ao seu termo. O grupo entra na cidade de Jericó, mas não fica lá muito tempo. É provável que Jesus tivesse uma certa pressa de chegar a Jerusalém.
Jericó, a “cidade das Palmeiras”, é um oásis situado na margem do rio Jordão, a norte do Mar Morto, a cerca de 30 quilómetros de Jerusalém. Considerada a cidade mais antiga do mundo, está a cerca de 250 metros abaixo do nível do mar. Foi por Jericó que os hebreus vindos do Egito, conduzidos por Josué, entraram na Terra Prometida. Na época de Jesus, era uma cidade relativamente importante, com grandes plantações de palmeiras e de bálsamo. Para os peregrinos que vinham da Galileia e da Pereia, pelo vale do Jordão, a caminho de Jerusalém, Jericó era um local de passagem obrigatória. Herodes, o Grande, edificou em Jericó um luxuoso palácio de Inverno e dotou a cidade de um hipódromo e de um anfiteatro. Foi aí que ele cometeu alguns dos seus muitos crimes e onde veio a falecer. Jericó era, também, a cidade do publicano Zaqueu (cf. Lc 19,1-10).
Quando Jesus e os discípulos estão a sair de Jericó para retomarem o caminho para Jerusalém, deparam-se com um homem sentado à beira do caminho. Esse homem é cego e chama-se Bartimeu (Marcos explica aos seus leitores que o nome significa “filho de Timeu”).
Os “cegos” – como Bartimeu – faziam parte do grupo dos excluídos da sociedade palestina de então. As deficiências físicas eram consideradas pela teologia oficial como resultado do pecado. Ora, nesta lógica, um cego era alguém que tinha cometido um pecado especialmente grave, pois tinha sido castigado por Deus com um problema físico que o impedia de estudar a Lei. Pela sua condição de impureza notória, os cegos eram impedidos de servir de testemunhas no tribunal e de participar nas cerimónias religiosas no Templo.
MENSAGEM
O cego Bartimeu está sentado no chão, a pedir esmola aos peregrinos que saem de Jericó e que tomam a estrada para Jerusalém (vers. 46). Essas duas indicações que Marcos coloca no início da narração destinam-se, provavelmente, a elucidar-nos sobre a dupla “condição” daquele homem: está conformado com a escuridão em que vive mergulhado (“está sentado”, imóvel); e está instalado numa situação de absoluta dependência (“a pedir esmola”).
Contudo, a passagem de Jesus de Nazaré acorda o cego da letargia em que está instalado. Bartimeu percebe repentinamente a sua miséria e dependência e sente que não pode continuar assim. Ele está farto de viver nas trevas; tem de encontrar a luz e de refazer a sua vida. A passagem de Jesus na vida de alguém é sempre um momento de tomada de consciência, de questionamento, de desafio, que leva a pôr em causa a vida velha e a sentir o imperativo de ir mais além.
Bartimeu decide, então, pedir a ajuda de Jesus. Ele sabe que, contando apenas com as suas frágeis forças não conseguirá libertar-se das cadeias que o prendem e imprimir um novo rumo à sua existência. Quando Jesus se aproxima, Bartimeu põe-se a gritar: “Jesus, filho de David, tem piedade de mim” (vers. 47). O título “filho de David” é um título messiânico. Portanto, Bartimeu vê em Jesus esse Messias libertador que, segundo a mentalidade judaica, havia de vir não só para salvar Israel dos opressores, mas também para dar Vida em plenitude a cada membro do Povo de Deus.
Antes de referir a intervenção de Jesus, Marcos dá conta da reação dos que estão à volta de Jesus: repreendiam o cego e queriam fazê-lo calar (vers. 48). Quando alguém encontra Jesus e resolve deixar a vida antiga para aderir ao Reino, encontra sempre resistências (que vêm, por vezes, dos familiares, dos amigos, dos mais chegados). Estes que repreendem e mandam calar o cego representam, portanto, todos aqueles que colocam obstáculos a quem quer deixar a sua situação de miséria e de escravidão para aderir ao desafio libertador que Jesus vem lançar. No entanto, a oposição não só não desarma o cego, como o leva a gritar ainda mais forte: “filho de David, tem piedade de mim”. A incompreensão ou a oposição dos homens nunca fazem desistir aquele que viu Jesus passar e que viu n’Ele uma proposta de Vida, de luz e de liberdade.
Jesus parou e mandou “chamar” o cego. O verbo “chamar” repete-se por três vezes no curto espaço de um versículo (vers. 49). Trata-se, portanto, de uma história de “chamamento”. A cena recorda-nos os relatos do chamamento dos discípulos (cf. Mc 1,16-20; 2,14; 3,13). Ora, quando Jesus “chama” alguém é para que essa pessoa O siga no caminho. Portanto, Jesus convida o homem cego e libertar-se da escravidão e da dependência em que está e a tornar-se discípulo. Repare-se, ainda, que o “chamamento” de Jesus chega ao cego através de intermediários. O “chamamento” de Jesus chega-nos, muitas vezes, através da comunidade, dos irmãos que percorrem connosco o caminho e que nos encorajam a caminhar atrás de Jesus.
Em resposta ao “chamamento”, o cego “atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus” (vers. 50). A capa – que os cegos usavam como almofada enquanto estavam sentados a pedir esmola, ou que colocavam sobre os joelhos para recolher as moedas que lhes atiravam – é tudo o que um mendigo possui, a sua grande riqueza. O deitar fora a capa significa, portanto, o deixar tudo o que se possui para ir ao encontro de Jesus (outros, em circunstâncias semelhantes, deixaram o barco, as redes ou a banca onde recolhiam impostos). É um corte radical com o passado, com a vida velha, com tudo aquilo em que se apostou anteriormente, a fim de começar uma vida nova ao lado de Jesus. Por outro lado, o “salto” que o cego dá é expressão do seu entusiasmo, da sua generosidade, da sua vontade firme de ir ter com Jesus. Está em contraste com o imobilismo em que estava antes de Jesus passar e o chamar. Tudo isto indica que o homem escutou o chamamento de Jesus e está decidido a ir ter com Ele, a segui-l’O, a entrar na comunidade do Reino. Corresponde ao movimento de Pedro e André (cf. Mc 1,18), de Tiago e João (Mc 1,20), do publicano Mateus (cf. Mc 2,14) quando foram chamados e deixaram tudo para ir com Jesus.
Jesus perguntou ao cego: “que queres que te faça?”. É a mesma pergunta que, pouco antes, Jesus tinha feito a João e a Tiago (“que quereis que vos faça?” – Mc 10,36). A identidade da pergunta acentua, contudo, a diferença da resposta… Os dois irmãos queriam sentar-se ao lado de Jesus e ver concretizados os seus sonhos de grandeza e de poder; estavam “cegos” pela sua ambição desmedida. Ao contrário, o cego Bartimeu quer libertar-se da sua cegueira; entrega-se nas mãos de Jesus, seguro de que com Jesus encontrará uma vida nova (vers. 51).
Jesus responde a Bartimeu: “vai, a tua fé te salvou” (vers. 52). No contexto neotestamentário, a fé é a adesão a Jesus e à sua proposta de salvação. Jesus reconhece que Bartimeu está disponível para aderir à oferta de salvação que lhe é feita; e sabe que Bartimeu o seguirá, feito discípulo, no caminho do dom da vida (Jesus prepara-Se para entrar em Jerusalém, onde vai fazer dom da sua vida em favor dos homens), Bartimeu encontrou a salvação: deixou a vida da escuridão, da escravidão, da dependência em que estava e nasceu para essa Vida verdadeira e eterna que, através de Jesus, Deus oferece aos homens.
O texto evangélico deste trigésimo domingo comum é sobre um homem cego que Jesus encontrou à saída de Jericó e a quem curou da sua cegueira? É, sobretudo, uma parábola sobre o homem prisioneiro da escuridão e escravo dos seus limites, mas que se encontra com Jesus e se deixa iluminar por Jesus. Bartimeu é figura de todo aquele que, cruzando-se com Jesus, descobre que não pode continuar a viver uma vida sem sentido e sem ideais, atracada a hábitos e comportamentos que o mantêm escravo; é figura de todo aquele que, superando os seus medos, as suas hesitações, o seu comodismo, decide escutar a voz de Jesus e acolher o chamamento que Jesus lhe lança; é figura de todo aquele que, deita fora tudo o que o prende à vida antiga, corre ao encontro de Jesus, adere à proposta de Jesus e aceita ir atrás de Jesus no caminho do amor e do dom da vida; é figura de todo aquele que decide deixar de “estar sentado” à beira do caminho, para se meter “ao caminho” atrás de Jesus. Bartimeu torna-se, assim, o protótipo do verdadeiro discípulo. É com Bartimeu que os discípulos de Jesus são convidados a identificar-se.
INTERPELAÇÕES
- A situação inicial do cego Bartimeu – encerrado numa escuridão paralisante, acomodado à sua vida de hábitos e comportamentos velhos, aos seus medos, às suas hesitações, à sua vergonha – evoca um quadro que talvez não nos seja estranho… É a condição do homem que não consegue levantar os olhos do chão, que vive a prazo, que navega sempre à vista de terra, que se conforma com horizontes limitados e é incapaz de olhar para mais longe e mais alto; é a situação do homem prisioneiro do egoísmo, do orgulho, da ambição, dos bens materiais, da preguiça, que vive preso a preocupações rasteiras e materiais; é a realidade do homem refém dos seus vícios, hábitos e paixões, que “deixa correr” as coisas porque não se sente com capacidade para romper, com as suas frágeis forças, as cadeias que o impedem de construir uma vida mais digna e mais ditosa. A Palavra de Deus que escutamos neste domingo garante-nos que a vida não tem de ser vivida desta forma. Estamos conscientes disso? Estamos dispostos a vencer a tentação do imobilismo, da acomodação, do facilitismo, das apostas fáceis em “conquistas” que nunca saciam a nossa fome de vida eterna?
- Para o cego Bartimeu, o momento decisivo para a transformação da sua vida foi o encontro com Jesus. Bartimeu sentiu, nesse instante, que Jesus lhe oferecia perspetivas novas de vida e de realização; percebeu que Jesus lhe trazia uma proposta irrecusável e que não podia deixar escapar a oportunidade que lhe era oferecida. Em Jesus, Bartimeu viu a oportunidade de deixar a escuridão e de nascer para a luz. O encontro com Jesus, se é verdadeiro, é sempre desafiante e transformador. Ora, esse mesmo Jesus que Se cruzou com o cego Bartimeu à saída de Jericó continua a cruzar-Se hoje, de forma continuada, com cada homem e com cada mulher nos caminhos da vida e a oferecer-lhes, sem cessar, a possibilidade de agarrarem uma vida nova, uma vida cheia de sentido, uma vida plenamente realizada… E isto diz-nos respeito: a salvação que Jesus oferece também é para nós. Ousaremos sair do nosso egoísmo, da nossa indiferença, da nossa autossuficiência para escutar e abraçar a proposta de Jesus?
- Bartimeu confiou e colocou toda a sua vida nas mãos de Jesus. Atirou fora, sem hesitação, a vida que conhecia até aí, deu um salto qualitativo que alterou os seus horizontes e partiu para a aventura de seguir Jesus. Bartimeu apostou tudo em Jesus; e, ao fazer essa opção, deixou de estar sentado “à beira do caminho” para “ir com Jesus no caminho” ou para “fazer caminho com Jesus”. Jesus passou a ser a sua referência, o seu “mestre”, o seu “guia”, o seu “Senhor”. E nós? Quem é a nossa referência no caminho da fé? Vivemos a fé como seguimento incondicional de Jesus, ou como o simples cumprimento de rituais que herdamos dos nossos antepassados e que vivemos de forma desleixada, morna e pouco comprometida? Sentimo-nos discípulos decididos, que não querem perder Jesus de vista porque sabem que Ele é Caminho, Verdade e Vida?
- Na história do encontro de Bartimeu com Jesus, aparecem diversos figurantes, com papéis vários. Uns são obstáculo ao encontro entre Bartimeu e Jesus (“muitos repreendiam-no para que se calasse”); mas outros apresentam-se como intermediários entre Jesus e Bartimeu e transmitem ao cego o “chamamento” de Jesus (“coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te”). Este facto serve para nos tornar conscientes do papel daqueles que nos rodeiam no nosso caminho da fé. Ao longo da nossa caminhada, encontraremos pessoas que nos levam até Jesus e que nos ajudam a tornarmo-nos discípulos; mas encontraremos também pessoas que, muitas vezes com ótimas intenções, tentam impedir-nos de nos comprometermos com Jesus e com o Reino de Deus. Assim, neste processo de aproximação a Jesus, temos de tentar perceber, com sentido crítico, a quem dar ouvidos, que indicações e conselhos devemos acolher ou rejeitar… Entre as pessoas que encontramos no nosso caminho, quem é que nos pode ajudar, genuinamente, a chegar a Jesus e a estabelecer contacto com Ele?
- As pessoas que encorajam Bartimeu a aproximar-se de Jesus representam aqueles homens e mulheres genuinamente preocupados com o sofrimento dos seus irmãos, que não conseguem ficar indiferentes ao apelo de quem procura a luz, que têm um coração capaz de se compadecer com as lágrimas e as dores dos que vivem em dificuldade. Esses são, no meio do mundo, sinais vivos da misericórdia, da ternura e do amor de Deus; esses são filhos verdadeiros de um Deus que ama. Como nos posicionamos diante dos gritos dos nossos irmãos que sofrem? Preocupamo-nos em cuidar das feridas dos homens e mulheres que encontramos caídos nas estradas da vida e procuramos levá-los a Jesus a fim de que Ele os cure?
- Quando alguém abandona a vida velha e decide tornar-se discípulo de Jesus, não tem todos os problemas resolvidos. Enfrenta desafios novos, fica fora da sua zona de conforto e tem de se adaptar a novas realidades, perde a segurança que os velhos hábitos davam, tem de enfrentar as críticas e as incompreensões de quem não compreende a sua opção… Aquele caminho de Jerusalém para o qual Jesus convoca os discípulos, é um caminho que passa pela cruz e pelo dom de si próprio. Não esqueçamos, no entanto, que esse caminho conduz à Vida nova, à ressurreição, à Vida definitiva. Jesus não arrasta os seus discípulos para um beco sem saída, mas leva-os ao encontro da Vida verdadeira, segundo o projeto do Pai. Quando avaliamos tudo isto, sentimo-nos com coragem para escolher Jesus e para O seguir? Estamos seguros de que vale a pena seguir Jesus, apesar de todas as dificuldades que teremos de enfrentar?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 30.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 30.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-Ia pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo … Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa … Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus encontrou obstáculos na sua vida pública: incompreensões dos chefes dos sacerdotes, ciladas colocadas pelos fariseus. Na saída de Jericó, a multidão faz obstáculo à atenção de Jesus, procura fazer calar um mendigo cego. Felizmente, Jesus escuta o grito deste homem e pede aos seus próximos para serem o trampolim entre Ele e o doente: “Chamai-o!. .. Eu quero ter necessidade de vós”. Então temos estas três palavras, as palavras da Igreja que tem por missão levar os homens a Cristo: “confiança … não tenhas medo, Ele vai certamente fazer-te bem. Levanta-te … Ele respeita demasiado a tua liberdade, faz tu mesmo o caminho. Ele chama-te … é Ele que toma a iniciativa e, se Ele te chama, é para te salvar”. Jesus não pede ao homem para se calar. Pelo contrário, dá-lhe a palavra, e esta palavra torna-se para Jesus ato de fé, uma fé que salva. O homem é de tal modo salvo que não somente vê, mas segue Jesus no caminho, tal é a sua dupla cura.
3. À ESCUTA DA PALAVRA.
A vista é a vida. A vista não tem preço. É o caminho do cego à procura de Jesus, da vista, da vida … Filho de David, chama ele Jesus. Para os Judeus, só o Messias há tanto esperado podia ser assim chamado. Evocar David e a sua descendência era proclamar a fidelidade de Deus para com o seu povo. A multidão chamava a Jesus “Jesus de Nazaré”. O cego chama Jesus “Filho de David”. Reconhece em Jesus o Messias. O cego, na sua cegueira física, vê mais longe, mais profundamente, com o olhar interior da fé. Ele recuperou a luz exterior, mas é sobretudo a luz interior, a luz da fé, que vai iluminar o caminho da sua vida. Ele quer seguir e estar com aquele que disse: “Eu sou a Luz da Vida”. E nós? Ficamo-nos muitas vezes pela superfície das coisas, num olhar superficial que nos faz passar ao lado da profundidade dos outros. Daí nascem os preconceitos, as tensões, as recusas. É o olhar da multidão sobre o cego: um mendigo sem interesse, que era necessário calar. Bartimeu recorda-nos que há um outro olhar, o olhar de Deus sobre nós, sobre os outros, sobre os acontecimentos. Cabe a nós perguntarmo-nos qual é o nosso verdadeiro olhar. “Senhor, faz que eu veja!”.
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE …
“Que queres que te faça?”, diz Jesus ao cego … Não tenhamos medo, nós também, de dizer a Jesus: “que eu veja”. A alegria de Cristo que nos ama é esta fé, esta confiança n’Ele. Não tenhamos medo de Lhe dizer a nossa fé e confiança, muitas vezes!
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org