Tempo do Natal – Sexta-feira depois da Epifania

Lectio

Primeira leitura: 1 João 5, 5-13

Caríssimos: 5*E quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus? 6*Este, Jesus Cristo, é aquele que veio com água e com sangue; e não só com a água, mas com a água e com o sangue. E é o Espírito quem dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. 7Pois são três os que dão testemunho: 8o Espírito, a água e o sangue; e os três coincidem no mesmo testemunho. 9*Se aceitamos o testemunho dos homens, maior é o testemunho de Deus; e o testemunho de Deus está em que foi Ele a dar testemunho a respeito do seu Filho. 10*Quem crê no Filho de Deus tem esse testemunho consigo. Quem não crê em Deus faz de Deus mentiroso, uma vez que não crê no testemunho que Deus deixou a favor do seu Filho. 11*E este é o testemunho: Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está no seu Filho. 12*Quem tem o Filho de Deus tem a vida; quem não tem o Filho também não tem a vida. 13*Escrevi-vos estas coisas, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para

que tenhais a certeza de ter convosco a vida eterna.

A vitória do cristão sobre o mundo é a fé. Para alcançar essa vitória, precisa de enfrentar uma luta interior e exterior contra tudo o que é mundano e realizar a vontade de Deus. A certeza da vitória vem da força da vida divina e da união com Deus. Portanto, é a fé em Cristo, Filho de Deus, o único meio para vencer o mundo (v. 5; cf. Jo 20, 30-31).

Jesus veio para dar a vida e, quem acredita nele, tem a vida eterna (cf. v. 21). Esta vida eterna, que Jesus trouxe à humanidade é certa, porque Ele a ofereceu no começou da sua vida pública pelo baptismo («água») (cf. Jo 1, 31), e o fim da sua existência terrena pela morte na cruz («sangue») (cf. Jo 6, 51; 19, 34), e sempre actualizada na Eucaristia.

É sobre este testemunho tríplice e concorde que se funda a manifestação de Deus em Cristo, seu Filho ( vv. 7-8). Há aqui reflexos da polémica do Apóstolo contgra os gnósticos que afirmavam que a divindade de Jesus se uniu à humanidade n o baptismo, mas na morte se separou da humanidade, de tal modo que apenas morreu

o homem Jesus. Quem refuta este testemunho do Espírito de Deus, recusa a fé em Cristo, que é esta união de vida e de morte. A acção do Espírito entretece a vida sacramental (baptismo, confirmação, eucaristia), por meio da qual o crente é inserido no mistério de Cristo e é~e capaz de dar testemunho dele e viver em comunhão com Deus (vv. 11-13).
Evangelho: Lucas 5, 12-16

Naquele tempo: 12*Estando Jesus numa das cidades, apareceu um homem coberto de lepra. Ao ver Jesus, caiu com a face por terra e dirigiu-lhe esta súplica: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» 13Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado.» E imediatamente a lepra o deixou. 14*Ordenou-lhe, então, que a ninguém o dissesse, mas acrescentou: «Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés ordenou, para lhe servir de prova.» 15A sua fama espalhava-se cada vez mais, juntando-se grandes multidões para o ouvirem e para que os curasse dos seus males. 16*Mas Ele retirava-se para lugares solitários e aí se entregava à oração.

Jesus cura um leproso e mando-o ao sacerdote para fazer a oferta pela purificação (cf. Lv 14) e para servir de testemunho a todos da sua presença messiânica no meio do povo. O judaísmo, de facto, considerava a cura da lepra um dos sinais da vinda do Messias (cf. Lc 7, 22).

A cura é descrita com alguns elementos típicos: o pedido do doente («Senhor, se quiseres, podes purificar-me»: v. 12), a resposta positiva de Jesus, que toca o doente e o cura («Quero, fica purificado.»: v. 13), o envio ao sacerdote («Vai mostrar-te ao sacerdote…»: v. 14). O leproso, marginalizado da comunidade, depois de curado é reinserido nela. Esta cura é também símbolo do perdão e da misericórdia de Deus, e é fundamento da vida da Igreja (cf. Jo 20, 23).

Uma nota final de Lucas apresenta um aspecto particular da pessoa de Jesus: depois da cura, e no meio da fama que se espalha, Jesus retira-se a sós para rezar. É da oração que vem a força de Jesus e o seu fascínio irresistível. A oração serve-lhe também para rever a sua missão à luz do projecto do Pai.

Meditatio

Jesus é, não só mestre, mas também modelo de oração.

S. Lucas é o evangelista que mais se compraz em apresentar Jesus em oração, especialmente sobre os montes e em lugares solitários: “Jesus… foi conduzido pelo Espírito ao deserto” (Lc 4, 1; cf. Mt 4, 1; Mc 1, 12); “Jesus retirava-se para lugares solitários a fim de rezar” (Lc 5, 16; cf. 9, 18; 11, 1; 22, 40-46); “Jesus subiu ao monte para rezar e passou toda a noite em oração” (Lc 6, 12; cf. 9, 28; Mc 6, 46; Jo 6, 15). S. Lucas recorda também duas orações de Jesus na cruz sobre o Calvário: “Pai, perdoa lhes porque não sabem o que fazem” (23, 34) e “Pai, nas tuas mãos entrego o Meu espírito” (23, 46). É evidente a predilecção de Jesus pelo silêncio e pela solidão, a fim de mergulhar na contemplação. A oração é o lugar do Seu repouso, do Seu encontro com o Pai. Pensemos numa oração muito simples, feita de amoroso silêncio, com uma única invocação: “Abbá, Pai”. Rezar não é tentar obter de Deus o que nos agrada, o que julgamos importante para os nossos próprios projectos. Rezar leva-nos a entrar na perspectiva de Deus, partindo do seu amor. É contemplar o rosto do Pai que ternamente olha os seus filhos. É encontro com alguém que nos ama, e deixar-nos apanhar pelo Seu amor.

Não é fácil rezar. Exige aprendizagem, trabalho exigente, não porque é superior às nossas forças, mas porque é uma experiência que jamais se esgota, um caminho onde sempre permanecemos discípulos.

A oração não é tanto um exercício de amar a Deus, mas de se deixar amar por Ele. É acolhimento do Seu amor, da Sua palavra, dos Seus projectos, dos Seus desejos. É experimentar silenciosamente e serenamente a Sua presença, como Maria a experimentava no seu seio.

Mas a oração é também resposta ao dom que Deus nos faz de si mesmo e de todas as suas graças e bênçãos. A oração é louvor, acção de graças, oferta, intercessão, festa e liturgia da vida. Levar a vida à oração. Levar a oração à vida.

O coração da oração cristã é entrar no mistério da filiação divina: estar em Deus no Espírito pelo Filho, como o Filho está no mistério do Pai.

Os números 71 e 76 das nossas Constituições falam da oração pessoal de intimidade e de continuidade, para passar da contemplação à acção, do amor de Deus ao amor do próximo; todavia, para a cultivar e viver, é preciso amor ao silêncio e à solidão (não ao isolamento), que favorecem também uma fiel e fervorosa oração comunitária, porque, se “sem espírito de oração, esmorece a oração pessoal; sem a oração comunitária, definha a comunidade de fé” (Cst. 79).

Recordemos outras duas afirmações das nossas Constituições acerca da oração, não só pessoal, mas também comunitária: “Reconhecemos que da oração assídua dependem a fidelidade de cada um e das nossas comunidades, bem como a fecundidade do nosso apostolado.” (Cst. 76); “Fazendo-nos progredir no conhecimento de Jesus, a oração estreita os laços da nossa vida comum e abre-a constantemente à sua missão” (Cst 78).

Oratio

«Senhor, se quiseres, podes purificar-me». Purifica-me todo o meu pecado: do meu egoísmo, da minha auto-suficiência, da minha dissipação. Estende-me a tua mão, toca-me e faz-me ouvir a tua palavra salvadora: «Quero, fica purificado». Então, serei um membro vivo e activo da minha comunidade, da Igreja. Então, terei ouvidos para escutar a tua palavra, olhos para contemplar o teu amor, mãos para participar na realização da tua obra de salvação no mundo. Então, poderei apresentar-me diante de Ti, participar da tua intimidade, da tua vida e, Contigo apresentar-me diante do Pai para rever a minha vida e a minha missão, à luz do seu projecto de amor. Faz-me redescobrir o dom da oração e conduz-me ao Cenáculo para reviver o mistério do Pentecostes e reavivar em mim o dom do teu Espírito. Amen.

Contemplatio

É na medida da sua fé que os doentes obtêm de Nosso Senhor a sua cura, os possessos a sua libertação.

Era necessário recordar aqui todos os milagres de Nosso Senhor e citar todo o evangelho. – “Não encontrei tanta fé em Israel”, exclama Nosso Senhor diante da humildade crente do centurião. – «Ó mulher, como é grande a tua fé!», diz à cananeia.

– «Credes que o possa fazer?», pergunta aos cegos de Cafarnaúm». – «Se podes crer!», responde ao pai do lunático: tudo é possível a quem crê. – «Que seja feito segundo a vossa fé!», diz em várias circunstâncias. – «Senhor, se quiserdes, diz o leproso de Galileia, podeis purificar-me». – «Crê somente e a tua filha viverá», diz a Jairo. – A vários repete: «A vossa fé vos salvou». Aos apóstolos que se afligem por não poderem operar algumas curas, Nosso Senhor revela o motivo da sua impotência: «É por causa da vossa incredulidade». – «Homens de pouca fé, onde está então a vossa confiança?», diz-lhes, no meio dos terrores da tempestade. – Promete-lhes que operarão prodígios se tiverem a fé somente como um grão de mostarda. – E a última censura que lhes dirige, antes de subir ao céu, é de terem tão lentamente acreditado nas testemunhas da sua ressurreição. – Senhor, aumentai a minha fé e curai-me de todas as minhas enfermidades (Leão Dehon, OSP 4, p. 168).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me». (Lc 5, 12)

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