Do Evangelho segundo S. João (13, 21-33)
Naquele tempo,
estando Jesus à mesa com os discípulos,
sentiu-Se intimamente perturbado e declarou:
“Em verdade, em verdade vos digo:
Um de vós Me entregará”.
Os discípulos olhavam uns para os outros,
sem saberem de quem falava.
Um dos discípulos, o predilecto de Jesus,
estava à mesa, mesmo a seu lado.
Simão Pedro fez-lhe sinal e disse:
“Pergunta-Lhe a quem Se refere”.
Ele inclinou-Se sobre o peito de Jesus e perguntou-Lhe:
“Quem é, Senhor?”
Jesus respondeu:
“É aquele a quem vou dar este bocado de pão molhado”.
E, molhando o pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão.
Naquele momento, depois de engolir o pão,
Satanás entrou nele.
Disse-lhe Jesus:
“O que tens a fazer, fá-lo depressa”.
Mas nenhum dos que estavam à mesa
compreendeu porque lhe disse tal coisa.
Como Judas era quem tinha a bolsa comum,
alguns pensavam que Jesus lhe tinha dito:
“Vai comprar o que precisamos para a festa”;
ou então, que desse alguma esmola aos pobres.
Judas recebeu o bocado de pão e saiu imediatamente.
Era noite.
Depois de ele sair, Jesus disse:
“Agora foi glorificado o Filho do homem
e Deus foi glorificado n’Ele.
Se Deus foi glorificado n’Ele,
também Deus O glorificará em Si mesmo
e glorificá-l’O-á sem demora.
Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco.
Haveis de procurar-Me
e, assim como disse aos judeus,
também agora vos digo:
não podeis ir para onde Eu vou”
Perguntou-Lhe Simão Pedro:
“Para onde vais, Senhor?”.
Jesus respondeu:
“Para onde Eu vou, não podes tu seguir-Me por agora;
seguir-Me-ás depois”.
Disse-Lhe Pedro:
“Senhor, por que motivo não posso seguir-Te agora?
Eu darei a vida por Ti”.
Disse-Lhe Jesus:
“Darás a vida por Mim?
Em verdade, em verdade te digo:
Não cantará o galo,
sem que Me tenhas negado três vezes”.
“Um de vós Me entregará”. Os apóstolos, espantados com estas palavras de Jesus, tentam identificar o traidor. Pedro reage imediatamente, em sintonia com João. E Jesus revela a sua infinita delicadeza, quando indica o traidor: oferece-lhe um bocado de pão envolvido em molho, sinal de honra e distinção entre comensais. Judas nega-se a corresponder a esse gesto. Recebe o bocado de pão, mas recusa o Amigo que lho oferece. E sai. “Fazia-se noite”, anota João. Judas deixara-se envolver pela noite da mentira e do ódio, pelo reino de Satanás.
“Nenhum dos que estavam com Ele à mesa entendeu”. Mas, no exato momento em que Judas sai para atraiçoar o Mestre, é glorificado o Filho do homem e, com Ele, é glorificado o Pai que, ao entregar o Filho, revela o seu imenso amor.
Pedro quer partir com o Mestre: “Senhor, porque não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por ti!”. Mas, nem Pedro, nem mais ninguém, pode seguir Jesus só com a sua boa vontade, ou com as suas forças. É preciso aguardar o dom pascal do Espírito Santo.
Senhor, que os teus amigos estejam prontos a seguir-te nas horas boas e nos momentos de sofrimento e dor.
Pensamento do Padre Dehon
A Paixão começa no Cenáculo, com a atitude de Judas tão cruelmente ofensiva para o Coração de Jesus. O traidorjá vendera o seu divino Mestre. Jesus experimenta abatimento e piedade. Tenta ainda salvá-lo. Adverte-o: “Um de vós Me entregará.” (ASC 364s.).