Moçambique: a morte do último dos pioneiros

Tínhamos estado em Milevane no Sábado passado. Nada o fazia prever. Encontrámos um Pe. Luís Pezzotta muito bem disposto, a brincar com todo o grupo. No Domingo à noite a notícia chegou e a todos deixou muito impressionados: o Pe. Luís acabara de falecer, repentinamente, inesperadamente. O seu débil coração de 86 anos não resistira. Dele guardamos os últimos sorrisos, as últimas gargalhadas sonoras. Obrigado, Pe. Luís, pela alegria que nos transmitiu, pelo testemunho de vida que nos deu. Que a sua alma descanse em paz, junto do Pai da Misericórdia e da Bondade.
O Pe. Luís era o último do grupo dos quatro pioneiros que em 1947 começaram a presença dehoniana em Moçambique. Enquanto pôde, não parou, calcorreou Moçambique inteiro, levou o Evangelho a muita gente, construiu igrejas, fundou missões. Era de tal forma frenético que o povo começou a chamar-lhe a pequena perdiz, por nunca estar parado, por querer sempre voar mais alto, não em seu nome ou em seu proveito, mas para bem do povo que sempre serviu com total desprendimento, amor e dedicação.
Diz quem o conheceu que passava os dias com o terço na mão, que a todos incitava a ter devoção à Virgem Maria, à mãe do Céu que nunca esquece qualquer dos seus filhos. Rezava pelo seu povo, pelo povo simples a quem se consagrou e que nunca quis abandonar, nem mesmo quando as forças começaram a faltar e o aconselhavam a voltar à sua Itália, para que morresse entre os seus. A isso respondia que os seus eram as gentes de Moçambique e que para ir para o Céu não era necessário ir para Itália. Quis morrer em Moçambique, quis ser sepultado nesta terra que tanto amou. E foi respeitada religiosamente a sua vontade. Jaz no cemitério dos missionários, bem perto da casa do Noviciado onde passou os últimos anos da sua vida.
O funeral do Pe. Luís Pezzotta realizou-se na manhã de Segunda-Feira, dia 9. Era impossível ir o grupo todo. Fomos os 3 padres, mais a Lurdes, a Sónia e o Rui, em representação de todos os outros.
O fim-de-semana foi de grandes emoções. No Sábado fomos visitar a nossa Missão de Milevane, que neste momento é constituída por duas comunidades: uma do Noviciado e outra que se dedica sobretudo ao acolhimento de grupos, sobretudo de formação e reflexão. Além disso, tem uma machamba enorme, que se encontra semi-cultivada. Fomos todos em cima de um camião, a apanhar pó por todos os lados, mas encantados da vida pelo que íamos presenciando. E o povo, sobretudo as crianças, que se abeiravam da estrada para nos saudar com sorrisos de orelha a orelha.
A manhã de Domingo foi um espanto! Fomos celebrar a uma comunidade aqui do Gurúè – São Carlos Lwanga – e vivemos intensamente a alegria e a festa que aquelas pessoas fazem da celebração. Como o grupo foi praticamente em bloco, a Missa foi celebrada em português, presidida por mim, a pedido do Pe. Ilario. No fim ficámos a participar da festa, feita de canções e danças, ora em lomué, ora em português, ora pela comunidade local, ora pelo nosso grupo. E depois veio toda a malta atrás de nós a dançar e a cantar ao longo de grande parte do percurso para casa.
Os projectos continuam, entretanto, a desenvolver-se a bom ritmo: os computadores do armazém já estão montados e a funcionar, a biblioteca já está toda catalogada manualmente e vamos agora passar à fase da catalogação no computador. O laboratório de Físico-Química está em fase de montagem, há já projectos em desenvolvimento para a machamba, as aulas de Inglês estão a ser um sucesso, a ponto de termos de fechar as inscrições, tantos eram os candidatos e está a ser elaborado um inquérito a toda a população acerca da situação sócio-económico-cultural. Em princípio, ainda esta semana estaremos no terreno, com o inquérito em marcha.
Saudações fraternas. Até um dia destes.

| José Agostinho F. Sousa, scj |

 

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