Que ganho está no poupar?

Os centros comerciais são uma realidade das nossas vidas e uma referência na geografia das grandes cidades. Cada dia multidões de pessoas entram e saem, carregando um número bastante variável e colorido de sacos. Comprar tornou-se um acto tão habitual na nossa sociedade, que talvez já não nos imaginemos sem exercer este nosso direito adquirido e tão apreciado.

Ao falar da responsabilidade social dos consumidores, o papa Francisco, citando a Bento XVI, afirma sem rodeios que “comprar é sempre um acto moral, para além de económico” (LS 206). É uma afirmação valente, que nos abre um imenso campo de reflexão, pelo seu potencial de transformação das nossas vidas.

Esta nossa sociedade oferece-nos muitos e variados produtos, num leque de possibilidades com tendência a alargar-se ad infinitum. Uma tarde de domingo pode ser uma óptima oportunidade para assistir ao desfile de centenas de produtos diferentes, cada um deles reivindicando a nossa atenção de diferentes formas. Curiosamente, é pouca a informação que nos é dada sobre a proveniência, a forma de produção e o caminho percorrido por esses bens, até ocuparem tentadoramente as montras e as prateleiras das lojas e demais estabelecimentos comerciais.

O que procuro ou privilegio, quando vou às compras? É verdade que nem sempre podemos evitá-lo e a vida não nos permite fazê-lo de outra forma, mas alguma vez nos perguntamos por que alguns produtos são tão baratos? Já nos interrogamos pelas condições de trabalho das pessoas que estão na origem desses bens? Alguma vez consideramos o eventual impacto ambiental da sua produção?

É importante desenvolver um discernimento – palavra tão em voga actualmente – que nos leve a comprar de modo mais consciente, responsável e informado. Reduzir o consumo é também fazer melhores compras. É que, como diz o papa Francisco, “quando os hábitos da sociedade afectam os ganhos das empresas, estas vêem-se pressionadas a mudar a produção” (LS 206). De facto, pela forma como compro, posso exercer uma “pressão salutar” (LS 206) sobre quantos não querem reconverter ecologicamente aquilo que me querem vender.

Comprar torna-se assim também uma forma de afirmar a nossa identidade e a nossa visão do mundo, sobretudo do mundo que queremos deixar às gerações futuras. E uma coisa parece certa: o conselho evangélico da pobreza não passa por comprar sempre o mais barato.

José Domingos Ferreira, scj

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