ANO C
1º DOMINGO DA QUARESMA
Tema do 1º Domingo da Quaresma
No início do caminho quaresmal, a liturgia convida-nos a repensar as nossas certezas, as nossas opções, os nossos valores. Tempo de conversão, de renovação, de “metanoia”, a Quaresma é o momento favorável para nos reaproximarmos de Deus. É em Deus – e não noutras propostas, por mais encantadoras que sejam – que está a fonte da vida verdadeira.
A primeira leitura traz-nos uma “confissão de fé” que os israelitas faziam quando apresentavam a Deus as primícias dos frutos da terra. Reconhecendo a ação salvadora e libertadora de Deus nas suas vidas, os crentes israelitas afirmavam a sua fé e a sua inabalável confiança no poder e no amor de Deus; constatando que tudo o que tinham provinha da generosidade e da solicitude de Deus, percebiam que só Deus é fonte de vida em abundância.
O Evangelho apresenta-nos uma catequese sobre as opções de Jesus. Ele recusou sempre as propostas e os valores que punham em causa o projeto de Deus para o mundo e para os homens. Para Jesus, os valores de Deus tiveram sempre primazia sobre os bens materiais, a sede de poder, a embriaguez oferecida pelo êxito fácil. Aos seus discípulos Jesus pede que sigam um caminho semelhante.
A segunda leitura diz-nos que a salvação é-nos dada através de Jesus. Quem acredita em Jesus e abraça a proposta de vida que Ele traz, será salvo. Os que acolhem a proposta de Jesus tornam-se membros de uma família onde “não há diferença entre judeu e grego”, pois “todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que o invocam”.
LEITURA I – Deuteronómio 26,4-10
Moisés falou ao povo, dizendo:
«O sacerdote receberá da tua mão
as primícias dos frutos da terra
e colocá-las-ás diante do altar do Senhor teu Deus.
E diante do Senhor teu Deus, dirás as seguintes palavras:
‘Meu pai era um arameu errante,
que desceu ao Egipto com poucas pessoas,
e aí viveu como estrangeiro
até se tornar uma nação grande, forte e numerosa.
Mas os egípcios maltrataram-nos, oprimiram-nos
e sujeitaram-nos a dura escravidão.
Então invocámos o Senhor Deus dos nossos pais
e o Senhor ouviu a nossa voz,
viu a nossa miséria, o nosso sofrimento
e a opressão que nos dominava.
O Senhor fez-nos sair do Egipto
com mão poderosa e braço estendido,
espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios.
Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra,
uma terra onde corre leite e mel.
E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra
que me destes, Senhor’.
Então colocarás diante do Senhor teu Deus
as primícias dos frutos da terra
e te prostrarás diante do Senhor teu Deus».
CONTEXTO
O Livro do Deuteronómio parece ser o “livro da Lei” ou “livro da Aliança” descoberto no Templo de Jerusalém por volta de 622 a.C., no 18° ano do reinado de Josias (cf. 2 Re 22,3-13), e que serviu de motor à grande reforma religiosa levada a cabo por este rei no sentido de reconduzir o Povo à fé em Javé. Neste livro, os teólogos deuteronomistas – originários do Norte (Israel) mas, entretanto, refugiados no sul (Judá) após as derrotas dos reis do norte frente aos assírios – apresentam os dados fundamentais da sua teologia: há um só Deus, que deve ser adorado por todo o Povo num único local de culto (Jerusalém); esse Deus amou e elegeu Israel e fez com ele uma Aliança eterna; e o Povo de Deus deve ser um único Povo, uma família unida que tem Deus como a sua grande referência (portanto, não têm qualquer sentido as questões históricas que levaram o Povo de Deus à divisão política e religiosa, após a morte do rei Salomão).
Literariamente, o livro apresenta-se como um conjunto de três discursos de Moisés, pronunciados nas planícies de Moab, pouco antes de o Povo libertado do Egito atravessar o Jordão para tomar posse da Terra Prometida (cf. Dt 1,6-4,43; 4,44-28,68; 28,69-30,20). Pressentindo a proximidade da sua morte, Moisés deixa ao Povo uma espécie de “testamento espiritual”: lembra aos hebreus os compromissos assumidos para com Deus e convida-os a renovar a sua Aliança com Javé.
O texto que a liturgia do primeiro domingo da Quaresma nos propõe como primeira leitura faz parte do segundo discurso de Moisés. Integra o chamado “código deuteronómico” (cf. Dt 12,1-26,15), um conjunto de leis e costumes diversos, a que se somam exortações destinadas a convencer o Povo a viver de acordo com as indicações de Deus. Um desses blocos legais refere-se à entrega a Deus das “primícias” (“bikkurim”), os primeiros frutos da terra (cf. Dt 26). Os cananeus costumavam todos os anos, na altura em que colhiam os primeiros frutos da terra, celebrar uma festa em honra de Baal, a divindade da fecundidade e da vegetação, agradecendo-lhe os dons da terra. Os crentes israelitas sabiam que não era a Baal, mas sim a Javé que deviam agradecer os frutos da terra. Por isso, todos os anos, pouco de pois de terem colhido os primeiros frutos da terra, ofereciam-nos a Deus. Com esse gesto, agradeciam a generosidade de Deus e reconheciam que Deus era o dono da natureza e a fonte de toda a fecundidade.
MENSAGEM
Na “festa das primícias”, a entrega a Javé dos primeiros frutos da terra era acompanhada por uma “confissão de fé”, na qual o crente reconhecia a ação salvadora e libertadora de Deus em favor do seu povo.
O “credo” que o israelita fiel proclamava, nesta circunstância, recapitulava a ação de Deus na história do povo. Começava por reconhecer o passado humilde dos antepassados israelitas, pastores nómadas vindos de longe, sem riquezas, sem pátria e sem uma terra própria (“meu pai era um arameu errante” – vers. 5a). Recordava, depois, a experiência dramática do Egito, onde o pequeno grupo dos filhos de Jacob viveu como estrangeiro e conheceu uma vida de sofrimento e de exploração (vers. 5b). Maltratado, oprimido pelos egípcios, sem saída e sem futuro, o povo “clamou” ao Senhor, e pediu-lhe ajuda; e Deus não ficou indiferente ao sofrimento desse povo escravizado: dispôs-se a intervir, preparou e conduziu um projeto libertador, fez tudo para salvar aquele povo condenado à morte (vers. 6-8). Mas, mesmo depois de o povo ter saído da terra da escravidão, Deus continuou a acompanhá-lo: conduziu-o pelo caminho da liberdade, ofereceu-lhe uma terra boa e fecunda (“uma terra onde corre leite e mel” – vers. 9) onde Israel, sob o olhar generosos e bondoso de Deus, encontrou vida em abundância. Aqueles primeiros frutos da terra, trazidos cada ano para serem oferecidos a Javé, evocavam tudo isso. Em conclusão: tudo aquilo que Israel alcançou e que contrasta tão fortemente com um passado de privações e de sofrimentos, é fruto da ação de Deus. Não vem dos méritos ou da força de um povo forte e empreendedor, mas vem da generosidade, da solicitude e do amor de Deus.
Ao enumerar as memórias das intervenções históricas de Deus em favor do seu povo (eleição dos patriarcas, êxodo do Egito, o dom da terra, boa e fecunda onde o povo encontrou morada), o israelita fiel explicava porque é que tinha vindo oferecer a Deus os primeiros frutos da terra: era uma forma de mostrar a sua gratidão a Deus, de reconhecer que tudo o que tinha era um dom de Deus, de celebrar a generosidade de Deus (vers. 10).
A evocação da ação libertadora, salvadora e vivificadora de Deus tinha, ao mesmo tempo, um objetivo pedagógico. Recordando ao povo os dons de Deus, libertava-o da tentação da idolatria; lembrando que todos esses dons eram fruto da generosidade de Deus e não das conquistas humanas, impedia o crente de se instalar na autossuficiência e no egoísmo. Aquela “liturgia” ajudava o crente a ver em Deus a sua grande referência e a reconhecer que só no amor e na ação de Deus encontrava vida em abundância.
INTERPELAÇÕES
- Ao fazer memória da dos “feitos” de Deus em favor do seu povo, o israelita fiel tomava consciência do lugar e do papel de Deus na sua vida. Percebia que Deus era a sua grande referência e que não fazia sentido trilhar caminhos onde Deus não estivesse. Tudo o que tinha e tudo o que era devia-se a Deus, à sua generosidade, à sua solicitude, ao seu amor. Na mesma linha, talvez nos fizesse bem, a nós homens e mulheres do séc. XXI, olharmos mais atentamente para a história da salvação, a fim de redescobrirmos o lugar de Deus nas nossas vidas e na vida da humanidade. Talvez então não nos sentíssemos tentados a colocar no centro da nossa existência “deuses” que não compensam nem nos garantem vida com sentido: os bens materiais, o bem-estar, o poder, o êxito social ou profissional, a ciência ou a técnica, os líderes, as ideologias… Que lugar ocupa Deus nas nossas vidas? Quais são os “deuses” em que apostamos?
- A Bíblia apresenta o pecado como a situação do homem que prescinde de Deus, que ignora as indicações de Deus e se instala no egoísmo e na autossuficiência. Quando o ser humano não tem memória dos gestos salvadores e libertadores de Deus, convence-se de que os êxitos e realizações que a vida lhe proporcionou se devem exclusivamente ao seu esforço e ao seu génio; decide que é capaz por si próprio, sem interferência de Deus, de descobrir os caminhos que lhe proporcionam vida abundante e feliz. Deus passa então a ser, para o homem autossuficiente, um estorvo que o impede de ser livre e de seguir o seu caminho de busca da felicidade e da realização. Onde nos leva um caminho onde Deus não está? Os caminhos que o homem constrói longe de Deus são caminhos onde encontramos mais humanidade, mais alegria, mais harmonia, mais paz, mais amor, mais liberdade, mais respeito pela justiça e pela dignidade do homem?
- Num desenvolvimento que a liturgia deste domingo entendeu não apresentar (cf. Dt 26,12-13), o “catequista” que nos oferece a bela “instrução” sobre as primícias e os dízimos refere-se ao “destino final” dos dons oferecidos ao Senhor: são para ser repartidos com “o levita, o estrangeiro, o órfão e a viúva”, que os “comerão às portas da cidade e ficarão saciados”. Tudo o que recebemos é de Deus e não nosso. Somos apenas administradores dos dons que Deus colocou à disposição de todos os homens. A nossa relação com os bens – mesmo os mais fundamentais – não pode, pois, ser uma relação fechada e egoísta: tudo pertence a Deus, o Pai de todos os homens e deve, portanto, ser partilhado. Como nos situamos face a isto? Os bens que Deus colocou à nossa disposição servem apenas para nosso benefício exclusivo, ou são vistos como dons de Deus para todos?
- O israelita fiel, ao oferecer a Javé os primeiros frutos da terra, queria mostrar a sua gratidão pela bondade de Deus, pela sua solicitude, pelo seu amor. Era um gesto agradecido de quem sabia reconhecer a ação e o cuidado de Deus em favor do seu povo. Ora, todos nós recebemos, a cada passo, uma imensa quantidade de dons que Deus coloca à nossa disposição. Alguns são tão habituais, tão comuns, que nem reparamos neles… Somos gratos a Deus pelos seus dons? Lembramo-nos de dizer e de mostrar a Deus a nossa gratidão por tudo aquilo que Ele nos proporciona?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 90 (91)
Refrão: Estai comigo, Senhor, no meio da adversidade.
Tu que habitas sob a proteção do Altíssimo
e moras à sombra do Omnipotente,
Diz ao Senhor: «Sois o meu refúgio e a minha cidadela:
meu Deus, em Vós confio».
Nenhum mal te acontecerá
nem a desgraça se aproximará da tua tenda,
porque Ele mandará aos seus Anjos
que te guardem em todos os teus caminhos.
Na palma das mãos te levarão,
para que não tropeces em alguma pedra.
Poderás andar sobre víboras e serpentes,
calcar aos pés o leão e o dragão.
Porque em Mim confiou, hei de salvá-lo;
Hei de protegê-lo, pois conheceu o meu nome.
Quando Me invocar, hei de atendê-lo,
estarei com ele na tribulação,
hei de libertá-lo e dar-lhe glória.
LEITURA II – Romanos 10,8-13
Irmãos:
Que diz a Escritura?
«A palavra está perto de ti,
na tua boca e no teu coração».
Esta é a palavra da fé que nós pregamos.
Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor
e se acreditares no teu coração
que Deus O ressuscitou dos mortos,
serás salvo.
Pois com o coração se acredita para obter a justiça
e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação.
Na verdade, a Escritura diz:
«Todo aquele que acreditar no Senhor
não será confundido».
Não há diferença entre judeu e grego:
todos têm o mesmo Senhor,
rico para com todos os que O invocam.
Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo.
CONTEXTO
Paulo escreve aos cristãos da comunidade de Roma quando está prestes a terminar a sua terceira viagem missionária. Prepara-se para retornar à Palestina, onde vai entregar os donativos recolhidos em diversas igrejas do oriente, destinados a ajudar financeiramente os cristãos de Jerusalém. Sente que terminou a sua missão no oriente, pois as igrejas que fundou e acompanhou estão organizadas e já podem caminhar sozinhas.
Dirigindo-se por carta aos cristãos de Roma, Paulo aproveita para estabelecer laços com eles e para lhes apresentar os principais problemas que o ocupavam (entre os quais sobressaía a questão da unidade, um problema bem presente na comunidade cristã de Roma, afetada por alguns problemas de relacionamento entre judeo-cristãos e pagano-cristãos). A Carta aos Romanos serena e lúcida da teologia paulina. Estamos no ano 56 ou 57.
Na primeira parte da Carta (cf. Rm 1,18-11,36), Paulo vai fazer notar aos cristãos divididos que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Embora o pecado seja uma realidade universal, que afeta todos os homens (cf. Rm 1,18-3,20), a “justiça de Deus” dá vida a todos, sem distinção (cf. Rm 3,1-5,11); e é em Jesus Cristo que essa vida se comunica e que transforma o homem (cf. Rm 5,12-8,39). Batizados em Cristo, os cristãos morrem para o pecado e nascem para uma vida nova. Passam a ser conduzidos pelo Espírito e tornam-se filhos de Deus; libertados do pecado e da morte, produzem frutos de santificação e caminham para a Vida eterna. Na segunda parte da carta (cf. Rm 12,1-15,13) Paulo, de uma forma bastante prática fala da forma de viver de acordo com o Evangelho de Jesus.
O texto que a liturgia deste domingo nos propõe como segunda leitura, integra uma reflexão de Paulo sobre o desígnio de Deus a respeito de Israel (Rm 9,1-11,36). O povo que recusou a proposta de Jesus terá perdido o acesso à salvação? O plano salvador de Deus, que incluía Israel, terá falhado? Paulo considera que Deus é fiel e não retirará ao seu povo a sua oferta de salvação. A opção que Israel fez não é irreversível: basta-lhe corrigir a sua opção, aceitar Jesus e a proposta que Ele traz.
MENSAGEM
Paulo tinha aludido, pouco antes, ao orgulho e a autossuficiência dos judeus (cf. Rm 9,30-10,4), que pensavam assegurar a salvação pelas obras que praticavam: se cumprissem as obras da Lei, conquistariam o acesso à salvação. A salvação, segundo esta perspetiva, dependia do homem, do seu esforço, das suas obras, da sua vontade. Paulo não concorda. Ele está convencido de que a salvação não é uma conquista do homem, mas sim um dom de Deus. É Deus que, na sua bondade, “justifica” o homem; é Deus que, de forma totalmente gratuita, sem contrapartidas, oferece ao homem a salvação.
A convicção de que não precisavam de Deus para alcançar a salvação, pois bastava-lhes cumprir as obras da lei, levou os judeus a rejeitar Jesus Cristo e a oferta de salvação que Ele, por mandato do Pai, lhes veio trazer. A proposta de Jesus parecia-lhes absolutamente inecessária. Escondidos atrás das suas certezas e autossuficiência, deram-se ao luxo de a desprezar. Eles não precisavam de Jesus; só precisavam que a Lei lhes mostrasse o que deviam fazer. Os pagãos, ao contrário, com simplicidade e humildade, acolheram a proposta de salvação que Jesus trouxe. Acreditaram em Jesus. Como Paulo diz, “alcançaram a justiça pela fé” (Rm 9,30).
Então, tudo estará perdido para os judeus? A oferta de salvação foi-lhes retirada? Não. Basta-lhes acolher Jesus como “o Senhor” e aceitar a sua condição de ressuscitado (“se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo” – vers. 9) para reencontrar o caminho da salvação. Quem quiser acolher o dom de Deus, deve reconhecer que Cristo veio ao encontro dos homens por mandato do Pai e que a proposta de salvação por Ele apresentada ao mundo tem o selo de Deus (vers. 10).
Todos os que estiverem disponíveis para acolher Jesus e a sua proposta de salvação, independentemente das suas raízes étnicas, da sua cor, das suas diferenças culturais, do seu estatuto social, formarão uma família, um povo único (“não há diferença entre judeu e grego: todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que O invocam” – vers. 12). O que é decisivo é acolher a proposta de salvação que Deus faz através de Jesus e aderir a essa comunidade de irmãos, “justificados” pela bondade e pelo amor de Deus (vers. 13).
INTERPELAÇÕES
- Na perspetiva de Paulo, os judeus cometeram um tremendo erro de cálculo: orgulhosos da sua Lei, pensaram que ela seria suficiente para os orientar no caminho da vida plena. Procuraram cumprir as exigências da Lei de Moisés, sem perceberem que essa religião dos ritos era vazia e estéril, pois não transformava os corações nem os aproximava de Deus. Jesus, cumprindo o projeto do Pai, veio ao encontro dos homens, convidou-os a mudar de vida, anunciou-lhes a bondade paterna e materna de Deus que salva gratuitamente, por puro amor; mas eles recusaram-se a escutar Jesus e não acolheram a sua proposta. Confiando cegamente na Lei, prescindiram de Jesus; prescindindo de Jesus, rejeitaram a salvação que Deus lhes oferecia. O que é que isto nos sugere? A nossa resposta ao Deus que nos oferece a salvação é uma resposta baseada no cumprimento de leis e de ritos externos, ou numa adesão incondicional a Jesus e às suas propostas? Estamos verdadeiramente envolvidos com Jesus, seguimos atrás dele no caminho dos discípulos, vivemos das suas palavras, aprendemos com os seus gestos, aderimos ao seu estilo de vida, abraçamos o projeto do Reino de Deus, deixamos que Ele nos conduza ao encontro de Deus?
- Paulo denuncia a autossuficiência dos seus irmãos judeus, que julgavam garantir, eles próprios, a salvação cumprindo as obras da Lei. A autossuficiência nunca será um caminho que nos leva longe, pelo menos no que diz respeito às realidades de Deus. Fecha-nos em nós próprios, nos nossos ghettos pessoais, e leva-nos a prescindir de Deus e dos nossos irmãos. Vemos todos os dias isso acontecer à nossa volta: os autossuficientes, os “ricos”, na linguagem de Jesus, tornam-se orgulhosos e prepotentes, impõem os seus projetos e a sua vontade, sem terem em conta o bem comum e a justiça; virados para si próprios, vivem indiferentes ao sofrimento dos seus irmãos; instalados no seu egoísmo e nas suas certezas, não estão disponíveis para se deixar desafiar por Deus e para acolher, em cada instante, a novidade e o amor de Deus. Acabam por falhar redondamente o sentido da existência. Estamos bem cientes das “feridas” que a autossuficiência pode causar-nos? Como lidamos com esta “doença”?
- Todos os homens e mulheres que aderem a Jesus e que acolhem a sua proposta de salvação passam a fazer parte de uma única família, sem distinção de qualquer tipo. Não há diferença “entre judeus e gregos”, entre amigos e inimigos, entre ricos e pobres, entre superiores e inferiores: todos têm como pai o mesmo Deus e fazem parte de uma comunidade de irmãos e de irmãs. Essa “família”, unida e fraterna, é chamada a dar testemunho no mundo do amor, da misericórdia, da bondade, da salvação de Deus. É isso que vemos nas nossas comunidades cristãs? Nós, família que nasceu de um “sim” a Jesus, somos uma comunidade que testemunha a comunhão e a fraternidade? Na nossa comunidade cristã há lugar para todos, independentemente das suas “diferenças”, sejam elas quais forem?
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Mateus 4,4b
Refrão 1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
EVANGELHO – Lucas 4,1-13
Naquele tempo,
Jesus, cheio do Espírito Santo,
retirou-Se das margens do Jordão.
Durante quarenta dias,
esteve no deserto, conduzido pelo Espírito,
e foi tentado pelo diabo.
Nesses dias não comeu nada
e, passado esse tempo, sentiu fome.
O diabo disse-lhe:
«Se és Filho de Deus,
manda a esta pedra que se transforme em pão».
Jesus respondeu-lhe:
«Está escrito:
‘Nem só de pão vive o homem’».
O diabo levou-O a um lugar alto
e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra
e disse-Lhe:
«Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos,
porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser.
Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu».
Jesus respondeu-lhe:
«Está escrito:
‘Ao Senhor teu Deus adorarás,
só a Ele prestarás culto’».
Então o demónio levou-O a Jerusalém,
colocou-O sobre o pináculo do Templo
e disse-Lhe:
«Se és Filho de Deus,
atira-te daqui abaixo,
porque está escrito:
‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito,
para que te guardem’;
e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão,
para que não tropeces em alguma pedra’».
Jesus respondeu-lhe:
«Está mandado:
‘Não tentarás o Senhor teu Deus’».
Então o diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação,
retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.
CONTEXTO
Nos Evangelhos Sinópticos, a cena das “tentações de Jesus” está encaixada entre o batismo e o início da pregação do Reino de Deus (cf. Mc 1,12-13; Mt 4,1-11; Lc 4,1-13). Lucas, contudo, faz anteceder a cena das pregações de uma “genealogia” de Jesus (cf. Lc 3,23-38). Se no batismo foi desvelada a identidade de Jesus (“tu és o meu filho muito amado; em ti pus todo o meu agrado” – Lc 3,22), a genealogia mostra que Jesus vinha de uma família especial (a família do rei David), na qual o povo de Deus tinha depositado as suas esperanças de libertação. A figura de Jesus gerava, portanto, muitas expetativas. Iria Ele concretizá-las? A sua vida, as suas opções, corresponderiam àquilo que Deus esperava dele e que a comunidade do Povo de Deus aguardava ansiosamente? Que caminhos iria Ele seguir? Iria privilegiar os seus interesses pessoais, ou o projeto de Deus? O episódio das “tentações de Jesus” responde, desde já, a estas questões.
Trata-se de um episódio real, descrito de forma estritamente histórica, com um “diabo” a disputar a Jesus o centro do palco? Trata-se, fundamentalmente, de uma página de catequese. É muito provável que Jesus, após o seu batismo no rio Jordão, se tenha retirado internado no deserto de Judá e passado alguns dias a meditar sobre a missão que Deus queria confiar-lhe. Nesse tempo de “retiro”, Jesus confrontou-se com uma luta interior, com opções fundamentais, com a definição do seu projeto de vida. É natural também que, mais tarde, Jesus tenha falado com os seus discípulos sobre o que sentiu quando teve de escolher, a fim de que eles percebessem que, diante da proposta do Reino de Deus, também eles tinham de tomar decisões. Esse diálogo deve ter causado uma profunda impressão nos discípulos. O facto de o relato das “tentações de Jesus” ser conhecido desde o início nas comunidades cristãs primitivas mostra isso mesmo.
O episódio é situado “no deserto”. O deserto é, no imaginário judaico, o lugar da “prova”, onde os israelitas experimentaram, por diversas vezes, a tentação do abandono de Deus e do seu projeto de libertação (embora seja, também, o lugar do encontro com Deus, o lugar da descoberta do rosto de Deus, o lugar onde o Povo fez a experiência da sua fragilidade e pequenez e aprendeu a confiar na bondade e no amor de Deus). Será que a história se vai repetir, que Jesus vai ceder à tentação e dizer “não” ao projeto de Deus, como aconteceu com os israelitas?
As “tentações de Jesus” não são contadas da mesma forma por todos os Sinópticos. Marcos limita-se a referir que Jesus “foi tentado”, sem entrar em pormenores; Mateus e Lucas descrevem as “tentações” de Jesus em termos análogos, embora a segunda e a terceira “tentação” apareçam, nos dois Evangelhos, em ordem diferente. Provavelmente Lucas, sempre preocupado em apresentar Jerusalém como um lugar central na história da salvação, arranjou as coisas para que o “desafio teológico” entre Jesus e o diabo tivesse o seu epílogo em Jerusalém.
MENSAGEM
Lucas conta que, depois do seu batismo no rio Jordão, Jesus foi conduzido pelo Espírito para o deserto (vers. 1). Os “quarenta dias” que Jesus passou nesse lugar de “prova” (vers. 2), devem estar em relação com os “quarenta anos” que os hebreus passaram no deserto, depois de terem sido libertados do Egito, e onde tiveram de fazer opções entre Deus e o mal, entre a liberdade e a escravidão. É importante a indicação de que Jesus é conduzido pelo Espírito de Deus, esse Espírito que desceu sobre Ele no momento em que foi batizado: será o mesmo Espírito que o sustentará ao longo da sua missão e que lhe dará a força para fazer escolhas acertadas, na linha do projeto de Deus.
O tempo que passou no deserto, a refletir sobre a missão que o esperava, foi para Jesus um tempo de prova, de decisões, talvez de purificação dos razões que o moviam. A figura do “diabo” corporiza, nesse contexto de escolhas, os caminhos errados que também estão à disposição de Jesus. O cenário é montado à volta de um diálogo em que Jesus e o “diabo” debatem as diversas possibilidades que se apresentam, numa luta dialética feita a partir de citações das escrituras sagradas.
Num primeiro momento desse diálogo, Jesus é desafiado a optar pelos bens materiais, a usar a sua condição divina para satisfazer as suas necessidades mais básicas: “se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão” (vers. 3). A esta “tentação”, Jesus responde que “nem só de pão vive o homem” e que o caminho do Pai não passa pela acumulação egoísta de bens (vers. 4). A resposta de Jesus cita Dt 8,3, sugerindo que o seu alimento – a sua prioridade, o seu interesse fundamental – é a Palavra do Pai, o cumprimento da vontade do Pai.
Num segundo momento desse diálogo, Jesus é convidado a escolher um caminho de poder, de domínio, de prepotência, ao estilo dos grandes da terra (vers. 5-7). No entanto, Jesus está plenamente consciente de que o apetite pelo poder é algo diabólico, que contradiz absolutamente os esquemas de Deus. Citando Dt 6,13, Jesus afirma que, no seu plano de vida, o único absoluto é Deus; o poder que corrompe e escraviza nunca será, para Ele, uma escolha a ter em conta (vers. 8).
O terceiro momento desse diálogo é colocado por Lucas no “pináculo do templo” de Jerusalém, no canto sudoeste do edifício, onde os frequentadores do santuário podiam desfrutar de uma magnífica vista sobre o vale do Cedron (vers. 9). O desafio colocado a Jesus, através da citação do Sl 91,11-12 é o de usar a sua proximidade com Deus para provocar, da parte de Deus, uma exibição de poder que mostre a toda a Jerusalém a dimensão de Jesus (vers. 10-11). Tratar-se-ia de “obrigar” Deus a um gesto espetacular que levasse as multidões a admirar e a aclamar Jesus. Jesus responde a esta proposta citando Dt 6,16, que manda “não tentar” o Senhor Deus (vers. 12): aqui, “tentar” significa “não utilizar os dons de Deus ou a bondade de Deus com um fim egoísta e interesseiro”. Jesus nega-se a provocar “milagres” para legitimar a sua pessoa ou o seu poder junto das multidões.
A questão das opções está definitivamente resolvida, por parte de Jesus? Jesus livrou-se definitivamente dessas “tentações” que lhe sugeriam um caminho diferente do caminho que o Pai o convidava a percorrer? Lucas acha que não. Por isso, acrescenta que o diabo “retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo” (vers. 13). Jesus terá de renovar, a cada passo, a sua opção pelo projeto do Pai.
Fica claro, contudo, qual é o caminho que Jesus, desde o início, se propõe seguir. Ele venceu o combate contra o mal. Não quer viver para acumular bens, dominar sobre pessoas, exibir em seu proveito a grandeza de Deus. Jesus propõe-se servir o projeto de Deus, sem se desviar um milímetro da vontade do Pai.
INTERPELAÇÕES
- Começamos, nestes dias, a percorrer um caminho, o caminho quaresmal. É o caminho que nos conduz à Páscoa, à ressurreição, à vida nova. Ao longo desse caminho seremos convidados a analisar, com lucidez e sentido de responsabilidade, as nossas opções, as nossas prioridades, os nossos valores, o sentido da nossa vida… Este tempo poderá ser um tempo de conversão, de realinhamento, de renovação, de mudança; poderá ser a oportunidade para nos reaproximarmos de Deus e das propostas que Ele nos faz. A Palavra de Deus que escutaremos cada domingo ajudar-nos-á a perceber o sem sentido de algumas das nossas escolhas e a detetar alguns dos equívocos em que navegamos. Aceitamos o desafio de percorrer este caminho? O Evangelho deste domingo refere algumas das “tentações” que Jesus teve de enfrentar e vencer. Estamos dispostos, da nossa parte, a identificar as “tentações” que nos escravizam e nos impedem de viver uma vida mais digna, mais humana, mais repleta de sentido e de esperança? Quais são as “tentações” que, com mais frequência, nos afastam do estilo de vida e do projeto de Jesus?
- Uma das “tentações” com que Jesus teve de se debater foi a dos bens materiais. É uma “tentação” que conhecemos bem, pois temos de lidar com ela a todos os instantes. Apelando à nossa apetência pelo conforto, pelo bem-estar, pela segurança, ela convida-nos a acumular coisas, a priorizar o dinheiro, a fazer dos bens materiais o grande objetivo da nossa vida. É, no entanto, uma “tentação” que pode desvirtuar completamente o sentido da nossa existência: cria dependência, torna-nos escravos dos bens materiais, faz-nos correr atrás de coisas efémeras; fecha-nos à partilha, à solidariedade, à fraternidade; potencia a indiferença face às necessidades dos nossos irmãos; incita-nos a apostar em mecanismos de exploração e de lucro… Qual o lugar e o papel que os bens materiais assumem na nossa vida? A forma como lidamos com os bens materiais é sadia e equilibrada?
- Outra das “tentações” que Jesus teve de enfrentar foi a do poder, da glória, dos triunfos humanos. Jesus considerava que a vontade de subjugar os outros, de deter autoridade ilimitada, de dominar o mundo, é algo de diabólico, que pode fazer o homem perder a sua grande referência – Deus. Está na base do orgulho e da autossuficiência que fecham o homem no seu ghetto pessoal; leva o homem a querer libertar-se do “controle” de Deus e a virar as costas a Deus; desenvolve no homem “tiques” de autoritarismo, de intolerância, de prepotência que causam feridas irreparáveis no mundo; favorece o abuso dos mais fracos, dos mais pequenos, dos que não têm vez nem voz; promove mecanismos de escravidão, de exploração, de crispação social; fomenta guerras, violências, imperialismos; constrói muros de inimizade que separam as pessoas e que as impedem de viver em harmonia… Esta “tentação” é problema para nós? Como é que nós tratamos aqueles com quem partilhamos o caminho da vida: com sobranceria e arrogância, ou com humildade, respeito e amor?
- A terceira das “tentações” que se atravessou no caminho de Jesus foi a de utilizar Deus para obter o reconhecimento, os aplausos, o apreço, a consideração dos homens. Não é uma “tentação” tão incomum como parece à primeira vista. Esta “tentação” pode fazer-nos pensar na utilização da fé para obter benefícios pessoais, para construir uma “carreira” de sucesso, para conquistar reputação, renome ou prestígio; pode fazer-nos pensar na utilização da religião para obter privilégios, títulos ou honrarias; pode fazer-nos pensar nas “exigências” que fazemos a Deus para que Ele nos conceda os favores a que julgamos ter direito… E pode, por outro lado, fazer-nos pensar nas cedências que algumas pessoas estão dispostas a fazer, às vezes à custa da própria dignidade, para obter uns minutos de fama e de notoriedade… O reconhecimento, a fama, os aplausos, os privilégios, serão bens pelos quais vale a pena pagar qualquer preço?
- Nós somos humanos e frágeis. Vivemos mergulhados numa realidade de pecado, que nos condiciona e nos arrasta para opções discutíveis. Será possível vencermos essas “tentações” que continuamente aparecem no caminho da nossa vida? Jesus venceu-as. Ele nunca aceitou que a sua vida fosse conduzida pelo meio de equívocos e de facilitismos. Escolheu, uma e outra e outra vez não se afastar do projeto do Pai. Podemos dizer que não temos a mesma força de Jesus. Pode ser verdade. Mas Ele vai à nossa frente a apontar-nos o caminho e a dizer-nos que é possível dizer “não”, uma e outra e outra vez, às propostas que nos levam por caminhos onde não há vida verdadeira. Estamos dispostos a tentar, uma e outra e outra vez, sem desculpas e sem justificações, seguir o exemplo de Jesus?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 1.º DOMINGO DA QUARESMA
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 1.º Domingo da Quaresma, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PÃO – TENTAÇÃO: PALAVRAS-CHAVE.
O Evangelho fala de PÃO e de TENTAÇÃO. Estas duas palavras aparecem na oração do Pai Nosso: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje… não nos deixeis cair em tentação”. Uma pista para a homilia poderia ser a ligação entre pão e tentação: se não se alimentar com o pão da Palavra, o cristão não terá forças para resistir, quando chegar a prova da tentação. Somos convidados a reler o Pai Nosso à luz do Evangelho deste domingo: dá-nos o teu pão para este dia, ajuda-nos a ultrapassar a tentação!
3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
“Deus, Pai do teu Povo, a Igreja, nós Te damos graças. Pelo Batismo e Confirmação, libertaste-nos das amarras da morte para nos introduzir na nova Terra prometida, a Eucaristia.
Neste início de Quaresma, recomendamos-Te os candidatos ao Batismo que entram na última etapa da sua preparação.
No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pela fé que nos ofereces: confessamos que Jesus é Senhor, acreditamos do fundo do coração que O ressuscitaste de entre os mortos.
Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs que duvidam e por nós mesmos: pelo teu Espírito Santo, sustenta a nossa fé, que a tua Palavra habite nos nossos corações.
No final do Evangelho:
“Deus fiel, nós Te damos graças porque nos enviaste o teu Filho Jesus. Ele convida-nos a segui-l’O nos caminhos da humanidade e a nos comprometermos no caminho da Páscoa.
Nós Te pedimos: enche-nos do teu Espírito, à imagem do teu Filho Jesus, para que possamos progredir na fidelidade à tua Palavra.
4. BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus não está só no deserto, é aí que Ele se entretém com seu Pai e, duas vezes, Lucas precisa que o Espírito Santo acompanha Jesus, que está cheio do Espírito Santo e é por Ele conduzido. O tentador é forte, apanha Jesus nos seus próprios terrenos. Se Ele é Filho de Deus, diz-lhe o demónio, Ele é o criador, a Palavra que tudo criou. Então pode mudar as pedras em pão. Jesus recorda-lhe que o verdadeiro alimento é a Palavra de Deus. Se Jesus é Aquele que veio instaurar um Reino novo, diz-lhe o tentador, então tem necessidade de poder e de glória. Jesus não tomará o poder pela força, menos ainda afastando-Se do seu Pai. O seu Reino é precisamente o de seu Pai que só merece ser adorado. Se Jesus é o Filho de Deus, diz-lhe Satã, pode manifestar a sua divindade através de prodígios que ultrapassam os homens, só os anjos se Lhe podem submeter. Jesus veio revelar o verdadeiro rosto de Deus, cujo único poder é a força do amor. Qualquer outra imagem é uma caricatura, um ídolo. Pedir-lhe que não seja senão amor, é pô-l’O à prova. Com o Espírito Santo, Jesus resiste às tentações. E se o demónio se afasta até ao momento fixado, quando este momento vier, Jesus será ainda o grande vencedor sobre o Maligno.
5. À ESCUTA DA PALAVRA.
Há o diabo, Jesus e, entre os dois, a Palavra de Deus. A cada uma das tentações, Jesus responde com uma citação da Escritura, que reenvia a um episódio da travessia do deserto pelos Hebreus, após a sua saída do Egipto. Relemos a resposta à primeira tentação… O pão corporal é indispensável, mas não é suficiente. Temos necessidade da Palavra de Deus, que é a única a dar sentido e abre uma esperança, para ir até ao fim da vida. Relemos a segunda tentação… Jesus utiliza a sua filiação divina para impor o seu poder sobre todos os reinos da terra, mas não à maneira do poder terrestre. Esta tentação reenvia-nos à verdade da nossa fé em Deus Pai. Relemos a terceira tentação… Colocar Deus à prova é pedir-Lhe sem cessar para nos provar que Ele nos ama. É estar à procura de provas de que Deus Se ocupa de nós. A única resposta está no dom que Deus nos fez no seu Filho bem amado. A fé, a esperança, o amor: a Palavra de Deus, que ilumina toda a nossa vida com Deus e com os nossos irmãos, é o melhor antídoto para todas as tentações!
6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
A Oração Eucarística I para a Reconciliação, com o seu prefácio próprio, retoma os temas principais sugeridos pelos textos do dia.
7. PALAVRA PARA O CAMINHO…
- Jesus não escolhe partir para o deserto. É conduzido pelo Espírito Santo. E aí, é afrontado pelo espírito do mal. Também nós não escolhemos viver no coração deste mundo em que Deus Se tornou desinteressante. Deserto para as nossas vidas de crentes… para a nossa Igreja… com todas as tentações ligadas às nossas faltas: lassidão, desencorajamento, desejo de nos retirarmos de uma Igreja que nos desconcerta e de abandonarmos Deus… Por causa de Jesus sabemos que a travessia do deserto é possível. O seu Espírito acompanha-nos e apoia as nossas escolhas de crentes. “Acredita no teu coração…”, diz-nos Paulo na Carta aos Romanos. A Quaresma, travessia do deserto… A Quaresma, convite a reavivar a nossa esperança!
- Seria interessante refletir durante a semana, em equipa fraterna, sobre as tentações que nos atingem hoje. E, depois de as detetar, encontrar juntos alguns meios para nos ajudar a ultrapassá-las…
- Seguindo as orientações da Diocese concretizadas em cada Paróquia, optar por uma caminhada de solidariedade, com uma intenção concreta.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA
Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org