05º Domingo da Páscoa – Ano B [atualizado]

ANO B

5.º DOMINGO DA PÁSCOA

Tema do 5.º Domingo da Páscoa

A liturgia do quinto Domingo da Páscoa fala-nos de Jesus como a fonte da Vida autêntica. Os discípulos de Jesus, unidos a Ele, bebem d’Ele essa Vida e testemunham-na em gestos concretos de amor. É assim que a proposta de Vida nova de Deus alcança o mundo e a vida dos homens.

No Evangelho Jesus, em contexto de despedida, apresenta-se aos discípulos como “a verdadeira videira” e convida-os a permanecerem ligados a Ele para receberem d’Ele Vida. Jesus (a videira) e os discípulos (os ramos) produzirão frutos bons, os frutos que Deus espera. Enquanto se mantiverem unidos a Jesus, os discípulos serão testemunhas verdadeiras, no meio dos homens, da Vida nova de Deus.

A primeira leitura, a pretexto de nos contar a inserção de Paulo de Tarso na comunidade cristã de Jerusalém, lembra-nos que a experiência cristã é um caminho feito em comunidade: é no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece. A comunidade cristã deve ser uma casa de portas abertas, onde todos têm lugar e onde todos podem fazer, de mãos dadas com os outros irmãos, uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado.

A segunda leitura lembra que na base da vida cristã autêntica está o “acreditar em Jesus” e o amar os irmãos “como Ele mandou”. São esses os “frutos” que Deus espera de todos aqueles que estão unidos a Cristo. Se testemunharmos em gestos concretos o amor de Jesus, estamos unidos a Jesus e a vida de Jesus circula em nós.

 

LEITURA I – Atos dos Apóstolos 9,26-31

Naqueles dias,
Saulo chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos.
Mas todos os temiam, por não acreditarem que fosse discípulo.
Então, Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos Apóstolos
e contou-lhes como Saulo, no caminho,
tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado,
e como em Damasco tinha pregado com firmeza
em nome de Jesus.
A partir desse dia, Saulo ficou com eles em Jerusalém
e falava com firmeza no nome do Senhor.
Conversava e discutia também com os helenistas,
mas estes procuravam dar-lhe a morte.
Ao saberem disto, os irmãos levaram-no para Cesareia
e fizeram-no seguir para Tarso.
Entretanto, a Igreja gozava de paz
por toda a Judeia, Galileia e Samaria,
edificando-se e vivendo no temor do Senhor
e ia crescendo com a assistência do Espírito Santo.

 

CONTEXTO

A secção de At 9,1-30 é dedicada a um acontecimento que marcará a história do cristianismo: a vocação/conversão de Paulo. Foi depois de se encontrar com Jesus ressuscitado que Paulo, convertido à Boa Nova de Jesus, abraçou a missão de levar a Boa Nova da salvação ao encontro de outras culturas e realidades; e o projeto de Jesus “viajou” com Paulo desde as fronteiras do mundo judaico até ao coração do mundo greco-romano.

De acordo com At 9,1 Paulo, pouco depois da morte do diácono Estevão, pôs-se a caminho de Damasco, mandatado pelo Sinédrio, para prender e trazer algemados para Jerusalém os membros da comunidade judaica que tivessem aderido a Jesus; mas, no caminho, viu-se “envolvido por uma luz intensa” e fez a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. Percebeu, então, que estava a perseguir o próprio Jesus. Isso abalou todas as suas certezas e levou-o a questionar o caminho que estava a seguir (cf. At 9,1-9). Entrando em Damasco, Paulo encontrou-se com Ananias, membro da comunidade cristã dessa cidade, que o ajudou a situar as coisas, a esclarecer as dúvidas que tinha e a posicionar-se face a Jesus (cf. At 9,10-19a). Paulo ficou em Damasco, integrado na comunidade cristã, dando testemunho de Jesus (cf. At 9,20-22); mas, ao fim de algum tempo, os judeus da cidade conspiraram para o matar e Paulo teve que fugir (cf. At 9,23-25). Dirigiu-se, então, para Jerusalém, indo apresentar-se à comunidade cristã da cidade.

Pensa-se que a conversão de Paulo terá acontecido por volta do ano 36 e que ele permaneceu em Damasco cerca de três anos. O regresso de Paulo a Jerusalém deve ter acontecido, portanto, por volta do ano 39 (cf. Gal 1,18).

O texto que nos é proposto como primeira leitura neste quinto domingo da Páscoa situa-nos em Jerusalém, logo após o regresso do regresso de Paulo. Inclui, além disso, num versículo final, um breve sumário da vida da Igreja: é um dos tantos sumários típicos de Lucas, através dos quais o autor dos Atos faz um balanço da situação e prepara os temas que vai tratar nas secções seguintes.

 

MENSAGEM

Na sua narração, o autor dos Atos dos Apóstolos apresenta um conjunto de informações históricas sobre a forma como Paulo foi acolhido pela comunidade cristã de Jerusalém, depois da sua fuga de Damasco. Mas percebe-se que Lucas pretende ir um pouco mais além da simples informação histórica: nas entrelinhas, ele deixa aos membros das comunidades cristãs – do seu tempo e de todos os tempos – algumas interrogações e desafios sobre a forma de viver e de testemunhar, em comunidade, a fé em Jesus. Vamos sublinhar algumas dessas interrogações.

  1. A desconfiança da comunidade cristã de Jerusalém em relação a Paulo (“todos o temiam, por não acreditarem que fosse discípulo” – vers. 26) é um dado verosímil e que é, muito provavelmente, histórico. Decorre, naturalmente, daquilo que os cristãos de Jerusalém sabiam do passado de Paulo. Mas, por outro lado, sem ser demasiado direto, Lucas põe as comunidades cristãs de sobreaviso para um “perigo” bem real: o medo do risco, a excessiva prudência, a instalação cómoda nos velhos esquemas de sempre, podem ser obstáculos que não deixam acontecer o “hoje” de Deus. Se a comunidade cristã de Jerusalém tivesse decidido, por medo ou prudência excessiva, fechar as portas a Paulo, teria fechado as portas ao dom de Deus e à novidade do Espírito; e isso teria empobrecido consideravelmente a Igreja de Jesus.
  2. O esforço de Paulo em integrar-se (“chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos” – vers. 26) mostra a importância que ele dava ao viver em comunidade, à partilha da fé com os irmãos. O cristianismo não é apenas um encontro pessoal com Jesus Cristo; mas é também uma experiência de partilha da fé e do amor com os irmãos que aderiram ao mesmo projeto e que são membros da grande família de Jesus. É no diálogo e na partilha comunitária que nos questionamos sobre os limites dos nossos entendimentos pessoais, que nos enriquecemos com a experiência dos outros irmãos, que nos ajudamos mutuamente a vencer as dificuldades, que discernimos os caminhos do Espírito e que purificamos a nossa experiência de fé.
  3. O papel de Barnabé na integração de Paulo é muito significativo (“Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo, no caminho, tinha visto o Senhor” – vers. 27a): ele não só acredita em Paulo, como consegue que o resto da comunidade cristã o acolha. Mostra-nos o papel que cada cristão pode ter na integração comunitária dos irmãos, inclusive daqueles que, pelo seu percurso de vida, foram rotulados e afastados; e mostra, sobretudo, que é tarefa de cada crente questionar a sua comunidade e ajudá-la a descobrir os desafios sempre novos de Deus.
  4. Outro elemento sublinhado por Lucas é o entusiasmo com que Paulo dá testemunho de Jesus e a coragem com que ele enfrenta as dificuldades e oposições resultantes do seu testemunho (vers. 27b-28). Trata-se, aliás, de uma atitude que vai caracterizar toda a vida apostólica de Paulo. O encontro com Jesus, se é verdadeiro, tem de resultar no testemunho do Evangelho. Paulo está consciente de que foi chamado por Jesus, que recebeu de Jesus a missão de anunciar a salvação a todos os homens; por isso, nada nem ninguém será capaz de arrefecer o seu zelo no anúncio do Evangelho. Lucas está a sugerir, com esta “notícia”, que todos aqueles que se encontram com Jesus e aderem à sua proposta devem tornar-se testemunhas credíveis e corajosas do Evangelho.
  5. A pregação cristã suscita, naturalmente, o conflito com os poderes interessados em perpetuar as trevas, a mentira, a opressão. A fidelidade ao Evangelho e a Jesus provoca sempre a oposição de quem teme a luz e a verdade do Evangelho (vers. 29). O caminho do discípulo de Jesus é sempre um caminho marcado pela cruz (não é, no entanto, um caminho de morte, mas de Vida). Convém que os discípulos de Jesus estejam bem conscientes desta realidade e que não se deixem paralisar pelo medo.
  6. O sumário final (vers. 31) recorda um elemento que está sempre presente no horizonte da catequese de Lucas: é o Espírito Santo que conduz a Igreja na sua marcha pela história. É o Espírito que lhe dá estabilidade (“como um edifício”), que lhe alimenta o dinamismo (“caminhava no temor do Senhor”) e que a faz crescer (“ia aumentando”). A certeza da presença e da assistência do Espírito Santo deve fundamentar a nossa esperança.

 

INTERPELAÇÕES

  • A comunidade cristã de Jerusalém colocou algumas reticências ao acolhimento de Paulo. Trata-se de uma “precaução” que podemos compreender, considerando o historial de Paulo. Mas a verdade é que a comunidade cristã não é um condomínio fechado, com direito de admissão reservado; mas é uma casa de portas abertas, onde todos podem entrar, onde todos são acolhidos como irmãos e onde todos podem fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado. Como é a nossa comunidade cristã? É uma comunidade fechada, pouco acolhedora, cheia de preconceitos, criadora de exclusão, ou é uma comunidade aberta, fraterna, solidária, disposta a acolher?

 

  • Paulo, mal chega a Jerusalém, procura imediatamente a comunidade cristã. Já tinha, então, percebido, que a vivência da fé é uma experiência comunitária. É no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece; é na comunidade, unida por laços de amor e de fraternidade, que a nossa vocação se realiza plenamente; é na comunidade e sempre em referência comunitária que celebramos ritualmente a fé. Como é que nós vivemos a fé? Como experiência isolada (“eu cá tenho a minha fé”), ou como experiência comunitária? Consideramos que a comunidade, apesar das tensões e conflitos que possa ter, é a “casa de família” onde nos sentimos bem e onde podemos fazer, de forma privilegiada, a experiência do encontro com o nosso irmão Jesus?
  • Barnabé assume, na comunidade cristã de Jerusalém, o papel de questionar os preconceitos, o fechamento, a atitude defensiva da comunidade em relação a Paulo. Faz-nos pensar no papel que Deus reserva a cada um de nós, no sentido de ajudarmos a nossa comunidade cristã a crescer, a sair de si própria, a viver com mais coerência o seu compromisso com Jesus Cristo e com o Evangelho. Nenhum membro da comunidade é detentor de verdades absolutas; mas todos os membros da comunidade devem sentir-se responsáveis para que a comunidade dê, no meio do mundo, um verdadeiro testemunho de Jesus e do seu projeto de salvação. Somos, nas nossas comunidades cristãs, pessoas envolvidas e comprometidas, que questionam, que propõem caminhos, que colaboram na procura comum da verdade de Deus e do Espírito?
  • O encontro com Jesus ressuscitado no caminho de Damasco foi um momento transformador. A partir desse encontro, Paulo tornou-se o arauto entusiasta e imparável do projeto libertador de Jesus. A perseguição dos judeus, a oposição das autoridades, a indiferença dos não crentes, a incompreensão dos irmãos na fé, os perigos dos caminhos, as incomodidades das viagens, não conseguiram desencorajá-lo e desarmar o seu testemunho. O exemplo de Paulo recorda-nos que ser cristão é dar testemunho de Jesus e do Evangelho. A experiência que fazemos de Jesus e do seu projeto libertador não pode ser calada ou guardada apenas para nós; mas tem de se tornar um anúncio libertador que, através de nós, chega a todos os nossos irmãos. Procuramos assumir, no dia a dia, este papel de “missionários” (“enviados”), de testemunhas da Boa Notícia de Jesus?
  • A Igreja é uma comunidade formada por homens e mulheres e, portanto, marcada pela debilidade e fragilidade; mas é, sobretudo, uma comunidade que marcha pela história assistida, animada e conduzida pelo Espírito Santo. O “caminho” que percorremos como Igreja pode ter avanços e recuos, infidelidades, quedas e vicissitudes várias; mas é um caminho que conduz a Deus, à Vida definitiva à salvação. A presença do Espírito dirigindo a caminhada dá-nos essa garantia. Confiamos na ação do Espírito? Acreditamos que a Igreja, apesar da fragilidade dos seus membros, será sempre “sacramento universal de salvação”, pois é conduzida pelo Espírito de Deus?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 21 (22)

Refrão 1: Eu Vos louvo, Senhor, na assembleia dos justos.

Refrão 2: Eu Vos louvo, Senhor, no meio da multidão.

 

Cumprirei a minha promessa na presença dos vossos fiéis.
Os pobres hão de comer e serão saciados,
louvarão o Senhor os que O procuram:
vivam para sempre os seus corações.

Hão de lembrar-se do Senhor e converter-se a Ele
todos os confins da terra;
e diante d’Ele virão prostrar-se
todas as famílias das nações.

Só a Ele hão de adorar
todos os grandes do mundo,
diante d’Ele se hão de prostrar
todos os que descem ao pó da terra.

Para Ele viverá a minha alma,
Há de servi-l’O a minha descendência.
Falar-se-á do Senhor às gerações vindouras
e a sua justiça será revelada ao povo que há de vir:
«Eis o que fez o Senhor».

 

LEITURA II – 1 João 3,18-24

Meus filhos,
não amemos com palavras e com a língua,
mas com obras e em verdade.
Deste modo saberemos que somos da verdade
e tranquilizaremos o nosso coração diante de Deus;
porque, se o nosso coração nos acusar,
Deus é maior que o nosso coração
e conhece todas as coisas.
Caríssimos, se o coração não nos acusa,
tenhamos confiança diante de Deus
e receberemos d’Ele tudo o que Lhe pedirmos,
porque cumprimos os seus mandamentos
e fazemos o que Lhe é agradável.
É este o seu mandamento:
acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo,
e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou.
Quem observa os seus mandamentos
permanece em Deus e Deus nele.
E sabemos que permanece em nós
pelo Espírito que nos concedeu.

 

CONTEXTO

Já vimos, nos domingos anteriores, que a Primeira Carta de João é um escrito dirigido às Igrejas joânicas da Ásia Menor, destinado a intervir na controvérsia levantada por hereges pré-gnósticos a propósito de pontos fundamentais da teologia cristã. Nesse contexto, o autor da Carta procura fornecer aos cristãos (algo confusos diante das proposições heréticas) uma síntese da vida cristã autêntica.

Uma questão que tem um tratamento desenvolvido na Primeira Carta de João é a questão do amor ao próximo. Os hereges pré-gnósticos afirmavam que o essencial da fé residia na vida de comunhão com Deus; mas, ocupados a olhar para o céu, negligenciavam o amor ao próximo (cf. 1 Jo 2,9). Ora, de acordo com o autor da Primeira Carta de João, o amor ao próximo é uma exigência central da experiência cristã. A essência de Deus é amor; e ninguém pode dizer que está em comunhão com Ele se não se deixou contagiar e embeber pelo amor. Jesus demonstrou isso mesmo ao amar os homens até ao extremo de dar a vida por eles, na cruz; e exigiu que os seus discípulos O seguissem no caminho do amor e do dom da vida aos irmãos (cf. 1 Jo 3,16). Em última análise, é o amor aos irmãos que decide o acesso à Vida: só quem ama alcança a Vida verdadeira e eterna (cf. 1 Jo 3,13-15). A realização plena do homem depende da sua capacidade de amar os irmãos.

O texto que a liturgia deste quinto domingo da Páscoa nos apresenta como segunda leitura pertence a uma secção que poderíamos intitular “viver como filhos de Deus” (3,1-24). Conclui a reflexão sobre o tema do amor aos irmãos, que é apresentado como consequência da filiação divina.

 

MENSAGEM

No versículo que antecede o texto (um versículo que a liturgia deste domingo não apresenta), o autor da Carta coloca aos crentes uma questão muito concreta: “se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele?” (1 Jo 3,17). E, logo de seguida, o nosso “catequista” conclui (e é aqui que começa o nosso texto): o amor aos irmãos não é algo que se manifesta em declarações solenes de boas intenções, mas em gestos concretos de partilha e de serviço. É com atitudes concretas em favor dos irmãos que se revela a autenticidade da vivência cristã e se dá testemunho do projeto salvador de Deus (vers. 18).

Quando, efetivamente, deixamos que o amor conduza a nossa vida, podemos estar seguros de que estamos no caminho da verdade; quando temos o coração aberto ao amor, ao serviço e à partilha, podemos estar tranquilos porque estamos em comunhão com Deus. Na verdade, a nossa consciência pode acusar-nos dos erros passados e reprovar algumas das nossas opções; mas, se amarmos, sabemos que estamos perto de Deus, pois Deus é amor (vers. 19). O amor autêntico liberta-nos de todas as dúvidas e inquietações, pois dá-nos a certeza de que estamos no caminho de Deus; e se Deus “é maior do que o nosso coração e conhece tudo” (vers. 20), nada temos a recear. Viver no amor é viver em Deus e estar entregue à bondade e à misericórdia de Deus.

Com a consciência em paz, e sabendo que Deus nos aceita e nos ama (porque nós aceitamos o amor e vivemos no amor), podemos dirigir-Lhe a nossa oração com a certeza de que Ele nos escuta. Deus atende a oração daquele que cumpre os seus mandamentos (vers. 21-22).

Os dois versículos finais apenas recapitulam e resumem tudo o que atrás ficou dito… A exigência fundamental do caminho cristão é “acreditar em Jesus” e amar os irmãos (vers. 23). “Acreditar” deve ser aqui entendido no sentido de aderir à sua proposta e segui-l’O; ora, seguir Jesus é fazer da vida um dom total de amor aos irmãos. “Acreditar em Jesus” e cumprir o mandamento do amor são a mesma e única questão.

Quem guarda os mandamentos (especialmente o mandamento do amor, que tudo resume) vive em comunhão com Deus e já possui algo da natureza divina (o Espírito). É o Espírito de Deus que dá ao crente a possibilidade de produzir obras de amor (vers. 24).

 

INTERPELAÇÕES

  • O autor da primeira Carta de João define a vida cristã autêntica como “acreditar no Nome” de Jesus Cristo e amar os irmãos “como Jesus nos mandou”. Aliás, parece evidente que uma coisa não “vai” sem a outra. É possível “acreditar” em Jesus e aceitar a marginalização dos “diferentes”, dos que não têm voz nem vez no nosso mundo? É possível “acreditar” em Jesus e não nos sentirmos profundamente comovidos quando encontramos alguém caído e abandonado na berma da estrada (cf. Lc 10,33)? É possível “acreditar” em Jesus sem nos dispormos a servir, com simplicidade e humildade, os nossos irmãos (cf. Jo 13,13-17)? É possível “acreditar” em Jesus e recusar o perdão a quem fez opções erradas, mas busca uma vida nova, um recomeço (cf. Lc 19,8-10)? É possível “acreditar” em Jesus e vivermos fechados na nossa vida cómoda, ignorando a sorte daqueles que têm fome, ou que não conseguem garantir uma vida digna aos seus filhos? A minha adesão a Jesus traduz-se em gestos semelhantes aos que Ele fazia e que levavam Vida e esperança aos pobres, aos doentes, aos abandonados, aos condenados que Ele encontrava pelos caminhos da Galileia e da Judeia? Como é que vivemos o mandamento do amor? Com declarações inconsequentes de boas intenções, ou com ações concretas que dão significado às vidas?
  • Por vezes, apesar do nosso esforço e da nossa vontade em acertar, sentimo-nos indignos e longe de Deus. Como é que sabemos se estamos no caminho certo? Qual é o critério para avaliarmos a força da nossa relação e da nossa proximidade com Deus? A vida de uma árvore vê-se pelos frutos que ela dá… Se realizamos obras de amor, se os nossos gestos de bondade e de solidariedade curam o sofrimento dos nossos irmãos, se a nossa ação torna o mundo um pouco melhor, é porque estamos em comunhão com Deus e a vida de Deus circula em nós. O nosso amor a Deus vê-se nos nossos gestos? Os nossos gestos reproduzem e anunciam o amor e a bondade de Deus na vida daqueles que caminham ao nosso lado?
  • Muitas vezes somos testemunhas de espantosos gestos proféticos realizados por pessoas que fizeram opções religiosas diferentes das nossas ou até por parte de pessoas que assumem uma aparente atitude de indiferença face a Deus… No entanto, não tenhamos dúvidas: onde há amor, aí está Deus. O Espírito de Deus está presente até fora das fronteiras da Igreja e atua no coração de todos os homens de boa vontade. De resto, certos testemunhos de amor e de solidariedade que vemos surgir nos mais variados quadrantes constituem uma poderosa interpelação aos crentes, convidando-os a uma maior fidelidade a Jesus e ao seu projeto. Sou capaz de reconhecer e de agradecer o “toque” de Deus nos gestos de amor, de bondade, de misericórdia que vejo acontecer à minha volta? Deixo-me interpelar pelo exemplo e testemunho daqueles que procuram tornar o mundo mais belo e mais humano, mesmo quando se trata de pessoas que não se consideram membros da minha Igreja ou da minha família cristã?

 

ALELUIA – João 15,4a-5a

Aleluia. Aleluia.

Diz o Senhor:
«Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós;
quem permanece em Mim dá muito fruto».

 

EVANGELHO – João 15,1-8

Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor.
Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto
e limpa todo aquele que dá fruto,
para que dê ainda mais fruto.
Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei.
Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós.
Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo,
se não permanecer na videira,
assim também vós, se não permanecerdes em Mim.
Eu sou a videira, vós sois os ramos.
Se alguém permanece em Mim e Eu nele,
esse dá muito fruto,
porque sem Mim nada podeis fazer.
Se alguém não permanece em Mim,
será lançado fora, como o ramo, e secará.
Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem.
Se permanecerdes em Mim
e as minhas palavras permanecerem em vós,
pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido.
A glória de meu Pai é que deis muito fruto.
Então vos tornareis meus discípulos».

 

CONTEXTO

O Evangelho do quinto domingo da Páscoa situa-nos em Jerusalém, numa noite de quinta-feira, um dia antes da celebração da Páscoa judaica, por volta do ano 30. Jesus está reunido com os seus discípulos à volta de uma mesa. Consciente de que os dirigentes judaicos tinham decidido dar-Lhe a morte e que a cruz estava no seu horizonte próximo, Jesus organizou uma ceia especial de despedida. Queria preparar os seus discípulos para os acontecimentos dramáticos que se avizinhavam. Não queria que a sua morte lançasse os discípulos num desespero sem esperança. Naquela hora, de certeza que algumas perguntas pairavam no ar… Que iria acontecer àquele grupo de discípulos quando Jesus lhes fosse tirado? O projeto do Reino seria viável sem Jesus? Os discípulos conseguiriam, sozinhos no mundo, viver e testemunhar aquilo que tinham aprendido enquanto caminhavam atrás de Jesus? Como é que os discípulos poderiam manter uma ligação a Jesus e continuar a receber d’Ele a Vida de que necessitavam para continuar o caminho?

Nessa noite, Jesus conversou longamente com os discípulos e deu-lhes indicações para o caminho… Lembrou-lhes que deviam ser sempre uma comunidade de serviço (cf. Jo 13,3-17), recomendou-lhes que colocassem no centro de tudo o mandamento do amor (cf. Jo 13,33-35), deixou-lhes a promessa do Espírito (cf. Jo 14,15-6. 25-26; 15,26-27; 16,5-15), transmitiu-lhes a sua paz (cf. Jo 14,27-31), prometeu-lhes que nunca os abandonaria e que não os deixaria órfãos (cf. Jo 14,18-21), pediu-lhes que continuassem unidos a Ele (cf. Jo 15,1-8). Os gestos e as palavras de Jesus, nessa noite, foram o seu “testamento”. No Quarto Evangelho, o “discurso de despedida” de Jesus vai de 13,1 a 17,26.

O texto que a liturgia deste domingo nos propõe integra esse “discurso de despedida”. É designado como a “alegoria da videira e dos ramos”. Diz aos discípulos o que devem fazer para que, pelo tempo fora, se mantenham em comunhão com Jesus.

 

MENSAGEM

A “alegoria da videira e dos ramos” tem profundas conotações véterotestamentárias e assume um significado especial no universo religioso judaico. No Antigo Testamento – e de forma especial na mensagem profética – a “videira” e a “vinha” eram símbolos do Povo de Deus. Israel era apresentado como uma “videira” que Javé arrancou do Egipto, que transplantou para a Terra Prometida e da qual cuidou sempre com amor (cf. Sl 80,9.15); era também apresentado como “a vinha”, que Deus plantou com cepas escolhidas, que Ele cuidou e da qual esperava frutos abundantes, mas que só produziu frutos amargos e impróprios (cf. Is 5,1.7; Jr 2,21; Ez 17,5-10; 19,10-12; Os 10,1). A antiga “videira” ou “vinha” de Javé revelou-se como uma verdadeira desilusão. Israel nunca produziu os frutos que Deus esperava.

Agora, Jesus apresenta-Se como a “verdadeira videira” (vers. 1). A Ele, a “verdadeira videira”, estão ligados os “ramos”. Os “ramos” são, nesta alegoria, os discípulos de Jesus. Esta “verdadeira videira” e estes ramos são, portanto, o novo Povo de Deus. Da ação criadora e vivificadora de Jesus irá nascer o novo Povo de Deus, a comunidade do Reino. Hoje, como ontem, Deus continua a ser o agricultor que cuida da sua vinha.

Da “verdadeira videira” (Jesus) e dos “ramos” (discípulos) a ela ligados vão nascer bons frutos, os frutos que Deus espera ver na sua “vinha”. Esses bons frutos são os mesmos que o próprio Jesus produziu quando andava pelos caminhos da Galileia e da Judeia a anunciar o Reino de Deus, a curar os doentes, a libertar os que viviam prisioneiros, a dar Vida a todos aqueles que estavam privados de Vida. Se algum dos “ramos” não der bons frutos – frutos condizentes com a Vida que lhe é comunicada –, o “agricultor” (Deus) não poderá fazer mais nada senão cortá-lo. Esse “ramo” não está a receber Vida da “videira” ou não está a deixar que essa Vida se traduza nos frutos que Deus espera. Está, portanto, a autoexcluir-se da comunidade de Jesus (vers. 2a). Não pertence a essa “videira”; o seu lugar não é ali. Em contrapartida Deus, o “agricultor” cuidará de todos os “ramos” que dão bons frutos para que eles, através de um processo de limpeza (conversão) nunca terminado, se libertem cada vez mais do egoísmo e deem frutos, cada vez mais abundantes, de amor e de Vida (vers. 2b).

Naturalmente, para que todo este dinamismo de Vida se concretize, os “ramos” devem permanecer ligados à “videira”. Eles não têm vida própria e não podem produzir frutos por si próprios; necessitam da seiva que lhes é comunicada pela “videira”. Por isso, os discípulos têm de “permanecer” em Jesus (vers. 4). O verbo “permanecer” (“ménô”) é uma das palavras-chave do nosso texto (do vers. 4 ao vers. 8, aparece sete vezes). Expressa a confirmação ou renovação de uma atitude já anteriormente assumida. Supõe que o discípulo tenha já aderido anteriormente a Jesus e que essa adesão adquira agora estatuto de solidez, de estabilidade, de constância, de continuidade. É um convite a que o discípulo mantenha a sua adesão a Jesus, a sua identificação com Ele, a sua comunhão com Ele. Se o discípulo mantiver a sua adesão, Jesus, por sua vez, permanece no discípulo – isto é, continuará fielmente a oferecer ao discípulo a sua Vida/Espírito.

Como é que o discípulo se mantém unido a Jesus? O discípulo “permanece” em Jesus se continua a escutar as suas palavras, a acolhê-las no coração, a pautar a sua vida por elas; o discípulo “permanece” em Jesus se continua a “ver” os gestos que Ele fazia e a desenhar, a partir deles, a sua maneira de viver; o discípulo “permanece” em Jesus se não perde Jesus de vista e caminha atrás d’Ele, numa adesão todos os dias renovada. Há, no Quarto Evangelho, uma afirmação de Jesus, feita no “discurso do Pão da Vida”, que pode iluminar o sentido do “permanecer” unido a Jesus: “Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo 6,56). A “carne” de Jesus é a sua vida, o “sangue” de Jesus é a sua entrega por amor até à morte. Assim, “comer a carne e beber o sangue” de Jesus é assimilar a Sua existência, feita serviço e entrega por amor, até ao dom total de si mesmo; é acolher a sua proposta de vida e comprometer-se com uma existência feita entrega a Deus e aos irmãos, até à doação completa da vida por amor. Na eucaristia comemos a carne e bebemos o sangue de Jesus: é a celebração, sempre renovada, da nossa comunhão e do nosso compromisso com Jesus, que se traduz em compromisso com o seu estilo de vida.

É preciso dizer ainda que a união com Jesus não é algo automático, que nos chega no Batismo e que fica para sempre; mas é algo que depende da decisão livre e consciente do discípulo, uma decisão que tem de ser, aliás, continuamente renovada e assumida.

Voltemos a uma das questões que pairava no ar quando Jesus, à mesa da Última Ceia, se despedia da sua comunidade: é possível que os discípulos se mantenham ligados a Jesus e recebam d’Ele Vida, mesmo depois de Ele deixar de caminhar fisicamente no meio deles? É sim. Ele garantiu-lhes, nessa noite, que seria sempre a “verdadeira videira” onde os discípulos (os “ramos”) encontram Vida em abundância. Mas os discípulos têm de permanecer ligados a Jesus; têm de continuar a escutar as suas indicações e de continuar a assumir, em cada passo, o seu estilo de viver e de amar.

 

INTERPELAÇÕES

  • Jesus é “a verdadeira videira”; é n’Ele e nas suas propostas que os homens podem encontrar a Vida. Ele permanece sempre no centro, como nossa referência fundamental, como fonte inesgotável de Vida; e nós dispomo-nos à volta d’Ele, atentos à suas palavras, aos seus gestos, às suas indicações. À nossa volta ecoam, a cada instante, mil e uma outras propostas que nos oferecem acesso rápido ao sucesso, à realização, aos triunfos humanos, à concretização de todos os nossos sonhos e anseios… Mas, quase sempre, essas outras propostas deixam-nos frustrados e insatisfeitos: são efémeras e fúteis e não matam a nossa sede de Vida autêntica. O Evangelho deste domingo, através da alegoria da videira e dos ramos, garante-nos: na nossa busca de uma vida com sentido, é para Cristo que devemos olhar. Temos consciência de que é em Cristo que podemos encontrar uma proposta de Vida autêntica? Ele é, para nós, a verdadeira “árvore da Vida”, ou preferimos trilhar caminhos de autossuficiência e colocamos a nossa confiança e a nossa esperança noutras “árvores”, noutras propostas, noutras sugestões?
  • Hoje Jesus, “a verdadeira videira”, continua a oferecer ao mundo e aos homens os seus frutos; e fá-lo através dos seus discípulos. A missão da comunidade de Jesus é produzir esses mesmos frutos de justiça, de amor, de verdade, de paz, de reconciliação que Ele produzia quando andava pela Galileia a proclamar a Boa Nova do Reino e a curar os que sofriam. Jesus não criou um gueto fechado onde os seus discípulos podem viver tranquilamente sem “incomodarem” os outros homens e mulheres; mas criou uma comunidade viva e dinâmica, que tem como missão testemunhar em gestos concretos o amor e a salvação de Deus. Se ficamos indiferentes diante das injustiças, se não procuramos curar as feridas dos que sofrem, se não abraçamos aqueles que a sociedade abandonou e condenou, se não somos arautos da paz e da reconciliação, se não defendemos a verdade contra todas as formas de mentira e de manipulação, se não lutamos com todas as nossas forças para construir um mundo mais são e mais humano, estamos a trair Jesus e a missão que Ele nos confiou. A Vida de Jesus – essa Vida de que se alimentam os que estão unidos a Ele – transparece nos nossos gestos, nas nossas causas, nas nossas apostas, na nossa vida?
  • No entanto, o discípulo só pode produzir bons frutos se permanecer unido a Jesus. No dia do nosso Batismo, optámos por Jesus e assumimos o compromisso de O seguir no caminho do amor e da entrega; quando celebramos a Eucaristia, acolhemos e assimilamos a vida de Jesus – vida partilhada com os homens, feita entrega e doação total por amor, até à morte. O cristão identifica-se com Jesus, vive em comunhão com Ele, segue-O a cada instante. Nunca interrompe a sua ligação a Jesus. O cristão vive de Cristo, vive com Cristo e vive para Cristo. Reavivamos e alimentamos a cada passo a nossa união a Cristo através da escuta da Palavra, da oração, dos sacramentos?
  • A comunidade cristã é o lugar privilegiado para o encontro com Cristo, “a verdadeira videira” da qual somos os “ramos”. É no âmbito da comunidade que celebramos, experimentamos e acolhemos – no Batismo, na Eucaristia, na Reconciliação – a Vida nova que brota de Cristo. A comunidade cristã é o Corpo de Cristo; e um membro amputado do Corpo é um membro condenado à morte… Por vezes, a comunidade cristã, com as suas misérias, fragilidades e incompreensões, dececiona-nos e magoa-nos; por vezes sentimos que a comunidade segue caminhos onde não nos revemos… Sentimos, então, a tentação de nos afastarmos e de vivermos a nossa relação com Cristo à margem da comunidade. Contudo, não é possível continuar unido a Cristo e a receber vida de Cristo, em rutura com os nossos irmãos na fé. É a mesma Vida de Cristo que nos alimenta a todos e que nos une a todos. Como é que sentimos e vivemos a ligação à comunidade cristã de que fazemos parte?
  • O que é que pode interromper a nossa união com Cristo e tornar-nos ramos secos e estéreis? Tudo aquilo que nos impede de responder positivamente ao desafio de Jesus no sentido do O seguir provoca em nós esterilidade e privação de Vida: o egoísmo, a autossuficiência, o orgulho, a vaidade, a arrogância, a preguiça, o comodismo, a ganância, a instalação, o amor ao dinheiro ou aos aplausos… O que é que, na minha maneira de ser ou no meu estilo de vida constitui obstáculo para que eu permaneça unido a Jesus?
  • A escuta da Palavra de Deus tem um papel decisivo no processo (de conversão) destinado a eliminar tudo aquilo que impede a nossa união com Cristo. Precisamos de escutar a Palavra de Jesus, de a meditar, de confrontar a nossa vida com ela, de olhar para os desafios que ela nos deixa… Então, por contraste, vão tornar-se nítidas as nossas opções erradas, os valores falsos e essas mil e uma pequenas infidelidades que nos impedem de ter acesso pleno à Vida que Jesus oferece. Que espaço é que tem na minha vida a escuta da Palavra de Deus? Ela é, para mim, critério para afinar e redimensionar as minhas opções e apostas?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5.º DOMINGO DE PÁSCOA
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 5.º Domingo de Páscoa, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus…

2. BILHETE DE EVANGELHO.

Como seriam as nossas relações humanas se em cada um dos nossos encontros exclamássemos: “eu não faço senão passar” sem permanecer? Como seria a nossa relação com Deus se na nossa oração não fizéssemos senão passar, sem permanecer? Algumas horas antes da sua morte, Jesus emprega várias vezes o verbo “permanecer”, “morar”. Não esqueçamos que, pela sua incarnação, Ele veio morar no meio dos homens, escutando-os, olhando-os, caminhando diante ou no meio deles, parando para fazer milagres. Ele permaneceu com o seu Pai, rezando-Lhe e fazendo a sua vontade até ao fim. Ele pode, então, pedir-nos para permanecer n’Ele, pondo em prática o seu mandamento do amor e rezando. É uma questão de vida ou de morte, porque, não o esqueçamos, “sem Ele nada podemos fazer”.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.

“Eu sou a vinha e meu Pai o vinhateiro”. Eis outra imagem muito presente no Antigo Testamento. Desta parábola, retivemos muitas vezes as palavras “ameaçadoras”: “Os ramos secos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem”. Mas isso é para quem “não permanece em Jesus”. É o verbo “permanecer” que é o mais importante. Ele aparece mais de dez vezes neste capítulo de João. Trata-se, antes de mais, de “estar com” o Senhor, porque Ele, o primeiro, é “Emanuel – Deus connosco”. Esta presença não é fugitiva. Inscreve-se na duração, na fidelidade. Quando Deus se une à humanidade no seu Filho feito homem, é para sempre. A Ressurreição de Jesus é garante de que este “estar com os homens” não acabará jamais. Se aceitamos permanecer com Jesus, Ele introduz-nos na sua intimidade. Segundo a imagem dos sarmentos, Ele faz correr em nós a seiva da sua própria vida. Então podemos dar frutos que terão o sabor de Jesus. Isso cumpre-se de modo pleno na Eucaristia. Jesus alimenta-nos com o seu corpo e o seu sangue de Ressuscitado. Ele coloca em nós o poder da sua Vida. Esta passa pelo pão e pelo vinho, que vão vivificar cada célula do nosso corpo, isto é, finalmente, cada detalhe da nossa vida, cada uma das relações que criamos com os outros. Tornamo-nos assim seus discípulos. É assim que se constrói e cresce a Vinha do Senhor, o Corpo de Cristo, que é a Igreja.

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

É por vezes difícil… O ato de amor mais difícil de praticar é, sem dúvida, o perdão. Mas perdoar é amar de verdade… Se vivemos uma situação “bloqueada”, em que o perdão é necessário, não será a ocasião de o praticar nesta semana? Não seria um belo fruto da vida de Cristo em nós?

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

 

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