22º Domingo do Tempo Comum – Ano C [atualizado]

ANO C

22.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 22.º Domingo do Tempo Comum

Sobre que valores devemos alicerçar a nossa vida? A soberba, a ambição, a ganância, a arrogância, a obsessão pelas honrarias, as apostas interesseiras, serão bons companheiros de caminho? A Palavra de Deus que nos é servida neste dia convida-nos a optar por valores que nos humanizem, que deem profundidade à nossa vida, que nos abram à fraternidade, que nos tornem testemunhas e arautos do mundo novo sonhado por Deus.

Na primeira leitura, um sábio judeu dos inícios do séc. II a.C. exorta os seus concidadãos a não se deixarem deslumbrar pela arrogante cultura helénica. Sugere-lhes que, fiéis aos valores dos antepassados, rejeitem a soberba e escolham a humildade. Dessa forma, agradarão a Deus e aos homens. A humildade não é a virtude dos fracos; é a opção daqueles que estão apostados em viver uma vida plena de sentido.

O Evangelho faz-nos entrar em casa de um fariseu que tinha convidado Jesus para a “refeição de sábado”. Aos convivas que lutavam pelos “primeiros lugares”, Jesus fala de humildade e de simplicidade. Ao dono da casa, rodeado de amigos unidos pela mesma rede de interesses, Jesus convida a sair fora daquele círculo exclusivo e privilegiado, para abraçar o amor gratuito e desinteressado a todos. Humildade, simplicidade, amor universal, acolhimento misericordioso de todos: segundo Jesus, é a partir desses valores que será possível contruir o Reino de Deus.

Na segunda leitura, um pregador cristão da segunda metade do séc. I convida os crentes a reavivarem a sua opção por Cristo. Afinal, a experiência cristã é uma experiência que nos leva até Deus, que nos insere na família de Deus, que nos faz entrar na Jerusalém celeste, que nos irmana aos “santos” cujos nomes estão inscritos no céu. Como não viver com alegria e entusiasmo esta escolha?

 

LEITURA I – Ben Sira 3,19-21.30-31

Filho, em todas as tuas obras procede com humildade
e serás mais estimado do que o homem generoso.
Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te
e encontrarás graça diante do Senhor.
Porque é grande o poder do Senhor
e os humildes cantam a sua glória.
A desgraça do soberbo não tem cura,
porque a árvore da maldade criou nele raízes.
O coração do sábio compreende as máximas do sábio
e o ouvido atento alegra-se com a sabedoria.

 

CONTEXTO

O Livro de Ben Sira (chamado, na sua versão grega, “Eclesiástico”) é um livro de carácter sapiencial que, como todos os livros sapienciais, tem por objetivo deixar aos aspirantes a “sábios” indicações práticas sobre a arte de bem viver e de ser feliz. O seu autor parece ter sido um tal Jesus Ben Sira, um “sábio” israelita que viveu na primeira metade do séc. II a.C. (cf. Sir 51,30).

A época de Jesus Ben Sira é uma época conturbada para o Povo de Deus. Quando Alexandre da Macedónia morreu, em 323 a.C., o seu império foi dividido por duas famílias: os Ptolomeus e os Selêucidas. Inicialmente, a Palestina ficou nas mãos dos Ptolomeus; e, nos anos de domínio Ptolomeu, o Povo de Deus pôde, em geral, viver na fidelidade à sua fé e aos seus valores ancestrais. Em 198 a.C., contudo, depois da batalha de Pânias, a Palestina passou para o domínio dos Selêucidas (uma família descendente de Seleuco Nicanor, general de Alexandre). Os Selêucidas, sobretudo com Antíoco IV Epifanes, procuraram impor, por vezes pela força, os valores helénicos. Nesse contexto muitos judeus, seduzidos pelo brilho da cultura grega, abandonavam os valores tradicionais e a fé dos pais e assumiam comportamentos mais consentâneos com a “modernidade” e com a pressão exercida pelas autoridades selêucidas. A identidade cultural e religiosa do Povo de Deus estava a ser posta em causa. Jesus Ben Sira, um “sábio” judeu apegado às tradições dos seus antepassados, entendeu desenvolver uma reflexão que ajudasse os seus concidadãos a manterem-se fiéis aos valores tradicionais. No livro que escreveu para esse efeito, Jesus Ben Sira apresenta uma síntese da religião tradicional e da “sabedoria” de Israel e procura demonstrar que é no respeito pela sua fé, pelos seus valores, pela sua identidade que os judeus podem descobrir o caminho seguro para serem um Povo livre e feliz.

O texto que nos é proposto pertence à primeira parte do livro (cf. Sir 1,1-23,38). Aí fala-se da “sabedoria”, criada por Deus e oferecida a todos os homens. Nesta parte, dominam os “ditos” e “provérbios” que ensinam a arte de bem viver e de ser feliz.

 

MENSAGEM

O “sábio” Jesus Ben Sira, dirigindo-se aos seus alunos, assume o papel de um pai que instrui os filhos sobre os valores que devem privilegiar na construção das suas vidas. Nesta “instrução”, em concreto, recomenda-se a humildade.

O homem “sábio” conserva-se sempre humilde. Mesmo que seja altamente apreciado e desempenhe tarefas importantes na sociedade, o homem deverá assumir sempre uma atitude de humildade. O homem que conduz a sua vida de acordo com os preceitos da sabedoria, não procura sobrepor-se aos outros, não pisa ninguém, não trata os outros com arrogância, sabe colocar-se no lugar que lhe corresponde. Essa atitude granjear-lhe-á a consideração, o apreço e o afeto de todos os que o rodeiam. O homem humilde será até mais querido do que o homem generoso.

Além disso, o homem humilde “encontrará graça diante do Senhor”: Deus aprecia os humildes e cumula-os de bênçãos. Só os humildes são capazes de contemplar o poder e a grandeza de Deus sem sentirem Deus como um rival; só os humildes reconhecem que tudo o que têm e são é um dom de Deus; só os humildes se entregam nas mãos de Deus com total confiança; só os humildes são capazes de cantar a glória de Deus. Por isso, Deus ama-os de forma especial.

Nas antípodas do homem humilde está o homem de coração soberbo. Ben Sira não se detém em considerações pormenorizadas sobre os malefícios da soberba. Diz apenas que se trata de uma “doença” que “apanha” o homem, que se enraíza nele e que não tem cura. Na árvore da soberba crescem diversos ramos que produzem maldade: a arrogância, o orgulho, a autossuficiência, a vaidade. Dessa forma a soberba destrói, não apenas a vida do soberbo, mas também a vida daqueles que o rodeiam. É bem provável que, ao referir a soberba como fonte de males, Jesus Ben Sira tenha em mente aqueles arrogantes helenistas – convencidos da superioridade da sua cultura e da sua forma de vida – que procuravam impor os seus valores ao humilde Povo de Deus.

A humildade não é o valor dos fracos, dos vencidos, dos que não têm a coragem de lutar para conquistar o mundo; é o valor dos que compreendem a lógica de Deus e se dispõem a servir e a amar os seus irmãos. De acordo com o pensamento do “sábio” Ben Sira, é aí que reside o segredo da vida e da felicidade.

 

INTERPELAÇÕES

  • Há gente para quem a soberba é uma forma de estar na vida. São pessoas que têm um alto conceito de si próprias e que se julgam superiores aos outros. Tratam os outros com desdém e sobranceria, têm tiques incuráveis de autoritarismo e vaidade, procuram impor aos outros as suas visões pessoais, nunca se enganam e raramente têm dúvidas, gostam de se ouvir falar, esforçam-se por atrair a atenção de todos, fazem “poses” de gente importante, não são capazes de “descer” até ao irmão caído na berma da estrada, não têm tempo a perder com aqueles que estão abaixo do seu nível social, jamais dão o braço a torcer. Talvez dominem o mundo e controlem os centros de poder; mas ajudarão a tornar mais humano o nosso mundo? Talvez sejam temidas e invejadas; mas serão apreciadas por aqueles que com eles se cruzam nos caminhos da vida? E nós, reconhecemo-nos em algum destes itens?
  • Há gente para quem a humildade é uma forma de estar na vida. São pessoas que não têm qualquer pretensão de se apresentar como superiores aos outros e respeitam todos aqueles que com eles se cruzam. Não têm qualquer problema em “sujar as mãos” a levantar do chão os irmãos e as irmãs que encontram caídos nas bermas da estrada da vida. Estão sempre disponíveis para servir, transmitem paz, são capazes de gestos cheios de humanidade e de ternura. Escutam mais do que falam, não se impõem a ninguém, reconhecem humildemente as suas falhas e são capazes de pedir desculpa. Quase sempre vivem ignorados e os seus nomes não aparecem nas crónicas sociais; mas fazem nascer sorrisos por onde passam e tornam o mundo mais luminoso. Deixam uma marca indelével nos corações de todos aqueles que são capazes de reparar no seu serviço, na sua disponibilidade, na sua entrega em favor de todos. Conhecemos alguém assim? Estamos interessados em viver assim?
  • A humildade não deve marcar apenas a relação entre os seres humanos, mas também deve estar presente na atitude do homem face a Deus. De acordo com a catequese de Israel, o homem soberbo prescinde de Deus, coloca-se numa atitude de autossuficiência, descarta as indicações de Deus, deixa-se guiar pelo orgulho e avança por caminhos onde Deus não está; entregue a si próprio, acaba por construir uma história de infelicidade, de dor e de morte. É essa a origem de uma boa fatia do “pecado” que desfeia o mundo. Em contrapartida, o homem humilde reconhece a soberania do Criador, acolhe agradecido as indicações de Deus, confia totalmente em Deus e entrega-se totalmente nas Suas mãos, constrói a sua vida de acordo com as indicações de Deus; seguindo as orientações de Deus, constrói uma história de salvação e de graça, torna-se para os seus irmãos um sinal vivo do amor e da bondade de Deus. É essa a origem de muitas coisas bonitas que trazem esperança ao nosso mundo. Como nos apresentamos diante de Deus? Com soberba, ou com humildade?

 

SALMO REPONSORIAL – Salmo 67 (68)

Refrão:
Na vossa bondade, Senhor,
preparastes uma casa para o pobre.

Os justos alegram-se na presença de Deus,
exultam e transbordam de alegria.
Cantai a Deus, entoai um cântico ao seu nome;
o seu nome é Senhor: exultai na sua presença.

Pai dos órfãos e defensor das viúvas,
é Deus na sua morada santa.
Aos abandonados Deus prepara uma casa,
conduz os cativos à liberdade.

Derramastes, ó Deus, uma chuva de bênçãos,
restaurastes a vossa herança enfraquecida.
A vossa grei estabeleceu-se numa terra
que a vossa bondade, ó Deus, preparara ao oprimido.

 

LEITURA II – Hebreus 12,18-19.22-24a

Irmãos:
Vós não vos aproximastes de uma realidade sensível,
como os israelitas no monte Sinai:
o fogo ardente, a nuvem escura,
as trevas densas ou a tempestade,
o som da trombeta e aquela voz tão retumbante
que os ouvintes suplicaram que não lhes falasse mais.
Vós aproximastes-vos do monte Sião,
da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste,
de muitos milhares de Anjos em reunião festiva,
de uma assembleia de primogénitos inscritos no Céu,
de Deus, juiz do universo,
dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição
e de Jesus, mediador da nova aliança.

 

CONTEXTO

O escrito que a tradição consagrou com o nome “Carta aos Hebreus” parece ser, na sua origem, um “sermão” destinado a ser pronunciado oralmente. Não se sabe quem foi o seu autor. A tradição, sobretudo das igrejas do oriente, atribui-o a Paulo de Tarso; mas as igrejas do ocidente há muito que descartaram a autoria paulina deste texto. É possível, no entanto, que o seu autor tenha sido alguém ligado a Paulo, talvez um discípulo do apóstolo.

No texto não há qualquer indicação que nos permita identificar claramente os destinatários deste escrito. O designativo “aos Hebreus” é muito antigo, mas não fazia parte do texto original. O facto de o texto conter múltiplas citações e tipologias do Antigo Testamento, levou os comentadores antigos a deduzir que os seus destinatários seriam cristãos de origem judaica, que residiam na Palestina e que falavam hebraico; mas isso não é seguro. Na altura em que este escrito apareceu – pouco antes do ano 70 do primeiro século – o Antigo Testamento era já um património comum das comunidades cristãs espalhadas pelo espaço geográfico da bacia mediterrânica. O que parece claro é que o texto se dirige a comunidades cristãs que já existem há algum tempo, mas que vivem em situação difícil, quer devido a razões externas, quer devido a razões internas. São comunidades que perderam o entusiasmo inicial pelo Evangelho de Jesus e que vivem uma fé “morna” e pouco consequente. São também comunidades que lidam com a hostilidade do mundo e que têm de enfrentar desvios doutrinais que ameaçam desvirtuar a sua ortodoxia.

Procurando fazer face a tudo isto, o autor desta reflexão convida os crentes a apreciar o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência, que o Pai enviou ao mundo com a missão de convidar todos os homens a integrar a comunidade do Povo sacerdotal. Uma vez comprometidos com Cristo, os crentes – membros desse Povo sacerdotal – devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor. Ao lembrar aos crentes o seu compromisso com Cristo e com a comunidade do Povo sacerdotal, o autor oferece aos cristãos a base para revitalizarem a sua experiência de fé, enfraquecida pela hostilidade do ambiente, pela acomodação e pela monotonia.

O texto que, neste domingo, nos é proposto como segunda leitura, integra a quarta parte da Carta aos Hebreus (cf. Heb 10,19-12,29). Temos aí uma reflexão sobre a fé perseverante. Depois de lembrar a fé exemplar dos antepassados (cf. Heb 11,1-40) e o exemplo de Cristo (cf. Heb 12,1-13), o pregador pede aos destinatários da Carta que não se deixem adormecer numa religião morna e acomodada, mas se mantenham fiéis à sua vocação cristã (cf. Heb 12,14-29).

 

MENSAGEM

Dirigindo-se aos crentes, o autor desta reflexão procura mostrar-lhes que o caminho cristão é uma experiência feliz e libertadora, que eles devem acolher com entusiasmo e compromisso. Nesse sentido, convida-os a compararem a religião antiga (revelada a Moisés no monte Sinai) e a religião de Jesus.

Na perspetiva do autor da Carta, a experiência religiosa que Israel viveu no Sinai não foi uma experiência motivadora, capaz de os entusiasmar e arrebatar. No Sinai, Deus estava distante, inacessível, escondido; não houve proximidade nem o estabelecimento de uma relação pessoal entre Deus e o povo. A proposta de Deus chegou ao povo através de mandamentos escritos na dureza e na frialdade da pedra. O cenário da revelação do Sinai era um cenário inquietante, de medo e opressão (“o fogo ardente, a nuvem escura, as trevas densas ou a tempestade, o som da trombeta e aquela voz tão retumbante que os ouvintes suplicaram que não lhes falasse mais” – vers. 18-19). O quadro da revelação do Sinai é um quadro terrífico, que não serviu para aproximar os homens de Deus, para os levar a um encontro com Deus alicerçado no amor e na confiança. Compreende-se perfeitamente que esta experiência religiosa não tenha entusiasmado aqueles que a fizeram.

Mas os que se encontraram com Cristo fizeram uma experiência de Deus completamente diferente.  Foi uma experiência que não teve nada de assustador, de terrível, de opressivo. Pelo Batismo, os cristãos acercaram-se de Deus, sentiram a Sua proximidade, entraram em comunhão com Ele, descobriram o Seu amor. Aproximaram-se do “monte Sião”, do lugar da salvação, da cidade do Deus vivo; acederam ao espaço onde reside Deus, o juiz do universo; “tocaram” esse mundo novo onde estão milhares de anjos em reunião festiva; irmanaram-se com muitos outros “santos”, homens e mulheres que escolheram Deus, que atingiram a perfeição e que são co-herdeiros da vida eterna; encontraram-se com Jesus, o mediador da nova aliança, aquele que lhes deu a possibilidade de descobrirem o verdadeiro rosto de Deus e de integrarem a família de Deus. Os que se encontraram com Cristo e que aderiram à proposta de salvação que ele trouxe, chegaram a uma existência luminosa e gratificante de festa, de louvor, de ação de graças, de adoração, de contemplação.

O “pregador” cristão que elaborou esta reflexão não chega a formular a pergunta; mas ela fica a pairar no ar, destinada a todos os crentes: não valerá a pena apostar tudo nesta experiência e vivê-la com entusiasmo?

 

INTERPELAÇÕES

  • Cerca de quarenta anos após a morte de Jesus, os destinatários da Carta aos Hebreus tinham esquecido o seu entusiasmo inicial pelo Evangelho e viviam instalados numa fé pouco exigente, sem chama nem alegria. O cansaço, a monotonia, a preguiça, a desilusão, as crises da vida, o medo dos problemas e das perseguições, tinham sido mais fortes do que a “paixão” por Jesus e pelo seu projeto do Reino de Deus. Trata-se de um quadro que não nos é completamente estranho. Não vivemos também nós, tantas vezes, instalados num cristianismo de fachada, pouco exigente, que não nos compromete nem nos obriga a opções arriscadas? Não nos limitamos, tantas vezes, a um conjunto de práticas religiosas que nos sossegam a consciência, mas que não implicam uma “conversão”, uma transformação que desinstala e que nos obriga a uma efetiva mudança dos nossos valores e das nossas apostas? O autor da Carta aos Hebreus propõe-nos uma redescoberta da beleza da fé, das exigências do nosso batismo, da alegria que brota do encontro com o Evangelho de Jesus. Estamos disponíveis para redescobrir a essência da fé, aquilo que um dia acendeu a nossa paixão por Jesus e pelo seu projeto?
  • O autor da Carta aos Hebreus põe frente a frente a “religião do monte Sinai” e a “religião do monte Sião”, a religião de Moisés e a religião de Jesus, a religião do Deus distante e a religião do Deus próximo, a religião do medo e a religião do amor. Ele desafia-nos a optar definitivamente pela religião de Jesus. Só a religião de Jesus é uma experiência libertadora, festiva, humanizante, capaz de nos encher o coração de paz; só a religião de Jesus nos oferece a experiência gozosa de vivermos como filhos amados de Deus. Mesmo depois de vinte e um séculos de cristianismo, há muita gente que ainda não se encontrou com o Deus próximo, o Deus do amor que Jesus nos veio revelar. Vivem prisioneiros da religião do medo, relacionam-se com Deus através de um intrincado sistema de temores e distâncias, não conseguem compreender que Deus os ame com amor de pai e de mãe. Como é a nossa experiência de Deus? O Deus em que acreditamos e que experimentamos é o Deus de Jesus, o “abbá” que nos ama como filhos muito queridos?

 

ALELUIA – Mateus 11,29ab

Aleluia. Aleluia.

Tomai o meu jugo sobre vós, diz o Senhor,
e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração.

 

EVANGELHO – Lucas 14,1.7-14

Naquele tempo,
Jesus entrou, a um sábado,
em casa de um dos principais fariseus
para tomar uma refeição.
Todos O observavam.
Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares,
Jesus disse-lhes esta parábola:
«Quando fores convidado para um banquete nupcial,
não tomes o primeiro lugar.
Pode acontecer que tenha sido convidado
alguém mais importante que tu;
então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer:
‘Dá o lugar a este’;
e ficarás depois envergonhado,
se tiveres de ocupar o último lugar.
Por isso, quando fores convidado,
vai sentar-te no último lugar;
e quando vier aquele que te convidou, dirá:
‘Amigo, sobe mais para cima’;
ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados.
Quem se exalta será humilhado
e quem se humilha será exaltado».
Jesus disse ainda a quem O tinha convidado:
«Quando ofereceres um almoço ou um jantar,
não convides os teus amigos nem os teus irmãos,
nem os teus parentes nem os teus vizinhos ricos,
não seja que eles por sua vez te convidem
e assim serás retribuído.
Mas quando ofereceres um banquete,
convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos;
e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te:
ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.

 

CONTEXTO

Jesus está a caminho de Jerusalém. Desta vez, Lucas não refere o grupo de discípulos que acompanha Jesus. Refere somente que Jesus entrou, num sábado, “em casa de um dos principais fariseus para tomar uma refeição” (vers. 1). Não se identifica o fariseu que O convidou, nem o lugar geográfico onde ocorreu o episódio. A referida refeição deve ser a refeição solene de sábado, que se tomava por volta do meio-dia, ao voltar da sinagoga. Era frequente convidar-se, para essa refeição, as pessoas que estavam de passagem. Enquanto comiam, o dono da casa e os seus hóspedes costumavam comentar e discutir as leituras que tinham sido lidas durante o ofício sinagogal.

Lucas é o único evangelista que mostra os fariseus tão próximos de Jesus que até o convidam para casa e se sentam com Ele à mesa (cf. Lc 7,36; 11,37). É provável que se trate de uma realidade histórica: apesar das divergências que tinha com os fariseus, Jesus apreciava o “zelo” que eles mostravam pela Lei de Deus.

Os fariseus formavam um dos principais grupos religioso-políticos da sociedade palestina desta época. Dominavam os ofícios sinagogais e marcavam presença em todos os momentos significativos da vida religiosa do seu povo. A sua preocupação fundamental era transmitir a todos o amor pela Lei (a “Tora”), quer escrita, quer oral. Em geral eram gente profundamente religiosa, verdadeiramente empenhada na santificação do Povo de Deus. Acreditavam que o Messias viria libertar Israel quando todo o povo cumprisse a Lei de Deus; e, nesse sentido, procuravam ensinar a Lei e levar a comunidade israelita a cumprir a Lei. Daqui resultava, no entanto, alguma intransigência dos fariseus em relação a todos aqueles que não cumpriam a Lei. Desprezavam os “pecadores” e o “povo da terra” (o “am ha-aretz”), a gente simples que, por causa da ignorância e da vida dura que levava não conseguia cumprir integralmente os preceitos da Lei. Viam-se a si próprios como gente íntegra, superior, santa, uma vez que cumpriam a Lei. Jesus, no entanto, censurava-lhes a intransigência e a rigidez: absolutizando a Lei, demonstravam para com as pessoas – os pecadores, os ignorantes, a gente simples, os doentes – uma gritante falta de amor e de misericórdia.

O “banquete” é, no mundo semita, o espaço do encontro fraterno, onde os convivas partilham do mesmo alimento e estabelecem laços de comunhão, de proximidade, de familiaridade, de irmandade. Jesus gostava de banquetes. Não porque fosse “comilão e bêbedo” (cf. Mt 11,19), mas porque o “banquete” lhe parecia uma imagem bem expressiva do Reino de Deus (cf. Lc 14,15-24). Apontava para o mundo futuro, para esse mundo em que os filhos e filhas de Deus estariam todos sentados à mesa do Pai, numa festa sem fim. Jesus vai utilizar o cenário de um “banquete”, em dia de sábado, em casa de um fariseu importante, para propor mais uma das suas lições sobre o Reino de Deus.

 

MENSAGEM

Antes da refeição de sábado começar em casa daquele “chefe de fariseus”, Jesus curou um homem hidrópico. O gesto de Jesus – que constituía uma grave infração contra as leis do sábado – não deve ter caído bem nos fariseus ali presentes; no entanto, nenhum deles parece ter comentado a ação de Jesus (cf. Lc 14,1-7). Terminado o espetáculo da cura do doente, os convidados correram para a mesa, decididos a tomar de assalto os lugares a que se julgavam com direito (vers. 7).

Na sociedade israelita a hierarquia dos lugares era importante. Antes de mais, porque o lugar que cada um ocupava definia a importância dessa pessoa dentro de um grupo social. Por exemplo, os convidados considerados mais dignos deviam ficar o mais perto possível do dono da casa. Além disso, os lugares mais centrais (mais próximos do dono da casa) eram aqueles onde se comia melhor, onde chegavam rapidamente os melhores bocados de comida. A importância social da pessoa e a sua idade eram critérios importantes na ocupação dos lugares à mesa.

Em geral, não havia o costume de colocar na sala do banquete a indicação do lugar onde cada convidado devia instalar-se. Cada convidado escolhia o lugar que julgava corresponder à sua dignidade e importância. Ora isto provocava muitas vezes, logo à partida, discrepâncias e conflitos. Mas, além disso, havia com frequência convidados especiais – aqueles que o dono da casa tratava com mais consideração – que só se dirigiam para a mesa no último instante, a fim de não ficarem muito tempo à espera do banquete. Se os lugares de honra estivessem ocupados, o dono da casa iria pedir a algum dos convidados menos importantes que cedesse o seu lugar à pessoa de categoria que pretendia honrar. O que tinha de ceder o lugar seria então relegado para um dos lugares ainda vazios, ao fundo da sala, o que era visto como um rebaixamento.

É neste contexto (talvez depois de um espetáculo pouco edificante na “luta” pelos lugares mais dignos) que Jesus se dirigiu aos presentes e lhes contou “uma parábola”: “quando fores convidado para um “banquete” nupcial, não tomes o primeiro lugar (…). Vai sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘amigo, sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados” (vers. 8-10). O “dito” de Jesus não é original. Os sábios de Israel diziam algo semelhante: “não te ponhas no lugar dos grandes. É melhor que te digam ‘sobe para aqui’, do que seres humilhado diante de um superior” (Prov 25,6-7). Ao contar esta “parábola”, a intenção de Jesus não é ensinar aos presentes naquele banquete um “truque barato” para obterem êxito social; mas é propor-lhes a lógica do Reino de Deus. Ora, no Reino de Deus os mais importantes não são aqueles que procuram os lugares de honra e salvaguardam a sua posição na hierarquia social; mas são aqueles que se apresentam com humildade e simplicidade e não se consideram superiores aos outros. Provavelmente a indicação de Jesus faria muito sentido naquela reunião de fariseus, que se consideravam dignos de toda a consideração e desprezavam as outras pessoas (algum tempo depois, já em Jerusalém, Jesus recomendará aos discípulos que tomem cuidado com os doutores da Lei, que “gostam de serem cumprimentados nas praças públicas, dos primeiros lugares nas sinagogas e dos primeiros assentos nos banquetes – Lc 20,46). Jesus conclui a sua “lição” com uma frase forte e desafiante: “quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (vers. 11). Quem vive apenas para concretizar os seus sonhos de grandeza e de glória, falhará redondamente a sua vida; mas quem se apresentar diante dos seus irmãos com humildade e simplicidade, esse será grande aos olhos de Deus e dará sentido pleno à sua existência. Definitivamente, a lógica de Deus é completamente diferente da lógica dos homens.

Quase no final da refeição, Jesus dirigiu-se ao dono da casa e deixou-lhe algumas sugestões sobre as pessoas a quem devia convidar para um banquete. Os fariseus escolhiam cuidadosamente os seus convidados para a mesa. Em geral, evitavam convidar pessoas de nível menos elevado, pois a “comunidade de mesa” vinculava os convivas; e eles não estavam dispostos a estabelecer laços com qualquer um, nomeadamente com gente desclassificada e pecadora. A tradição social que vigorava impunha que se convidasse para a mesa quatro categorias de pessoas: os amigos, os irmãos, os parentes, os vizinhos ricos (vers. 12). O conselho de Jesus subverte completamente esta lista e propõe uma lista de convidados diametralmente oposta à que as convenções sociais sugeriam: “quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos” (vers. 13). A proposta de Jesus parece descabida: seria social e religiosamente incorreto convidar a gente da terra (o “am ha-aretz”) que não cumpria todos os mandamentos da Lei para se sentar à mesa com um fariseu importante; seria inadmissível convidar “os aleijados, os cegos e os coxos” (gente considerada pecadora e maldita, que não era admitida no espaço sagrado do Templo) para um ambiente elevado e “santo” onde se discutia a Lei.

Que pretendia Jesus? Provocar o seu anfitrião? Escandalizar aquela sociedade seleta de gente “santa”? Nada disso. Jesus ter-se-á apercebido, no decorrer da refeição, que o círculo de relações daquele fariseu era restrito e selecionado: girava à volta de um grupo de interesses, de mútuas vantagens e de intercâmbio de favores. Feitas as contas, o pequeno mundo onde o dono da casa se movia revelava uma grande estreiteza de horizontes. Aquele homem necessitava de alargar os horizontes, de ver mais além da lógica interesseira, de se libertar do convencionalismo em que se tinha instalado, de descobrir o sentido da partilha e do amor desinteressado, de experimentar uma maneira mais humana de viver. Foi esse o desafio que Jesus quis deixar-lhe. Não sabemos o impacto que a proposta de Jesus teve na vida daquele homem.

Como cenário de fundo destas duas “lições” de Jesus está a realidade do Reino de Deus. Jesus nunca desistia de o propor, a propósito e a despropósito. Esse Reino é como um “banquete” onde os convidados estão unidos por laços de familiaridade, de irmandade e de comunhão. Para esse “banquete”, todos são convidados, inclusive aqueles que as convenções – sociais, religiosas, baseadas em interesses pessoais ou corporativos – tantas vezes excluem e marginalizam. As relações entre os que aderem ao “banquete” do Reino serão pautadas pela gratuidade e pelo amor desinteressado; e os participantes do “banquete” devem despir-se de qualquer atitude de superioridade, de orgulho, de ambição, para se colocarem numa atitude de humildade, de simplicidade, de serviço.

 

INTERPELAÇÕES

  • Naquela refeição de sábado, “em casa de um dos principais fariseus”, Jesus viu os convidados disputarem os lugares mais honrosos da mesa. Aquela cena pode ser encarada como uma parábola do nosso mundo contemporâneo: somos desafiados, desde muito cedo, a lutar pelos primeiros lugares, a conquistar e a defender o nosso espaço, a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ter sucesso. Tornamo-nos competitivos, para não ficarmos para trás e para correspondermos àquilo que a sociedade espera de nós. Na verdade, a competitividade é um fator fundamental no progresso e no desenvolvimento das sociedades, impulsionando a inovação, a eficiência, a busca por melhores resultados, o avanço civilizacional; mas pode também, quando toma conta de nós, ter efeitos perversos. Torna-nos ambiciosos, agressivos, egoístas, prepotentes, vaidosos; faz-nos querer triunfar a todo o custo, independentemente dos meios que temos de utilizar e das pessoas que temos de pisar; ensina-nos a ver no “outro”, não um irmão, mas um concorrente que ameaça o nosso êxito… Além disso, a competitividade deixa frequentemente abandonados na berma dos caminhos da história os “perdedores”, os “fracassados”, os menos preparados, os que não foram talhados para a luta, para o confronto, para a competição. Como vemos tudo isto? Um mundo alicerçado sobre estes valores é uma inevitabilidade? Sentimo-nos bem num mundo que funciona assim?
  • Jesus considera que a conquista dos primeiros lugares, o sucesso, as glórias humanas, os triunfos, podem não significar a construção de uma vida com sentido. Convencido de que “quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”, Jesus parece considerar que os “primeiros lugares”, os êxitos humanos, as honras e títulos de glória, são valores efémeros, com prazo curto de validade, que não podem servir de suporte à construção de uma vida com sentido. Por isso, Ele convida os seus discípulos a construírem as suas vidas numa lógica de simplicidade e de humildade, sem terem medo dos “últimos lugares”. Para Jesus, o amor gratuito e desinteressado, a preocupação com o bem dos irmãos, o cuidado dos mais frágeis e pequenos, a alegria que brota das coisas simples, a capacidade de olhar o “outro” com um olhar fraterno, a bondade e a misericórdia, são bem mais importantes do que os triunfos e as glórias humanas. O que pensamos da “linha” de Jesus? O que Ele propõe é ingénuo e impraticável, ou é uma forma de tornar o nosso mundo mais humano e mais feliz? À luz da compreensão da vida que Jesus propõe, que sentido é que faz a nossa apetência pelas honras, pelos títulos, pelos lugares de destaque?
  • No final daquela refeição de sábado “em casa de um dos principais fariseus”, Jesus desafiou o seu anfitrião a não ficar refém de um círculo de relações marcado por interesses de classe, por redes de conveniências, por privilégios de castas. Rodearmo-nos apenas daqueles com quem temos afinidade ou com quem partilhamos determinados interesses, construir à nossa volta “muros sanitários” que nos protejam dos “indesejáveis” e dos “diferentes”, pode ser cómodo e conveniente; mas impedir-nos-á, por outro lado, de descobrir uma maneira mais humana e mais misericordiosa de viver. Por isso, Jesus pede àquele fariseu que, quando oferecer um banquete, convide para sua casa os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos: isso fá-lo-á descobrir horizontes novos e bem mais desafiantes. Ganharemos infinitamente mais se abrirmos o coração a todos, do que se nos encerrarmos num pequeno círculo de interesses, de favoritismos e de cumplicidades. Vivemos comodamente instalados num círculo restrito de pessoas com quem partilhamos alguns interesses e afinidades, ou estamos abertos à universalidade, à fraternidade, à comunhão com todos aqueles que caminham ao nosso lado?
  • Naquela refeição de sábado “em casa de um dos principais fariseus”, Jesus foi inconveniente e politicamente incorreto. Denunciou, com ironia aqueles que lutavam pelos primeiros lugares, e atreveu-se a dar conselhos ao anfitrião sobre os convidados que ele devia convidar para sua casa. Quando a refeição terminou, de certeza que alguns dos convidados lamentaram, junto do dono da casa, que aquele rabi galileu que pensava tão “fora da caixa” tivesse estado naquela refeição a estragar o consenso e a harmonia. Na verdade, Jesus nunca se preocupou em dizer coisas agradáveis; preocupou-se em cumprir a missão que o Pai lhe confiou e em propor a todos o Reino de Deus. Foi o que Ele fez nesse sábado em casa do fariseu importante. Nós, discípulos de Jesus, somos testemunhas do Reino de Deus e dos seus valores, mesmo que isso incomode os instalados, os que não querem problemas, os que preferem a “paz podre” e a hipocrisia que reina no mundo? Como vemos e como tratamos aqueles que têm a coragem de propor, contra a corrente, a verdade do Evangelho?
  • Na época de Jesus, a religião do Templo considerava os aleijados, os cegos e os coxos gente indigna, castigada por Deus, que vivia à margem da comunidade da salvação. Apesar disso, Jesus recomenda ao dono da casa onde comeu naquele sábado que, quando der um banquete, os convide para a sua mesa. Para Jesus não há gente indigna, maldita, que deva ficar de fora do banquete do Reino de Deus. A Igreja nascida de Jesus é a comunidade da salvação onde “todos, todos, todos” os filhos e filhas de Deus têm lugar garantido. Os que erraram na vida, os que tropeçaram e caíram uma e outra e outra vez, os que se magoaram e magoaram os outros, os que levam vidas “irregulares” do ponto de vista canónico, são plenamente acolhidos na comunidade de Jesus? Que apoio se procura dar-lhes? Como se procura ajudá-los? Evitamos, criticamos, condenamos os “diferentes”, ou tratamo-los como irmãos, filhos queridos e amados de Deus?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 22.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 22.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. FAZER ECO DA PALAVRA.

Depois da comunhão (a mesa onde os pobres são reis…), poder-se-ia reler, em fundo musical, algumas passagens da liturgia da Palavra. Por exemplo: “cumpre todas as coisas com humildade…”; “vai sentar-te no último lugar…”; “convida aqueles que não têm nada para te retribuir…”

3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:

“Deus criador e mestre do universo, proclamamos a grandeza do teu poder e, ao mesmo tempo, a humildade do teu Filho Jesus. Ele tornou-se pequeno para nascer entre os homens e aceitou a humilhação suprema, a da cruz.

Nós Te pedimos pelas nossas sociedades onde triunfam os dominadores e os poderosos. Que o teu Espírito nos impregne, que Ele nos livre do orgulho”.

No final da segunda leitura:
“Deus vivo, nós Te damos graças por Jesus, o mediador da nova Aliança, que nos introduziu na Jerusalém celeste e na assembleia dos santos e que inscreveu o nosso nome nos céus.

Nós Te confiamos todas as comunidades cristãs desencorajadas pela modéstia dos seus efetivos e pela falta de consideração”.

No final do Evangelho:
“Pai, Tu que nos convidas à mesa de teu Filho, nós Te damos graças porque nos chamas a avançar mais alto e nos elevas pela confiança que nos fazes e a estima que nos concedes, a nós que somos pecadores.

Nós Te recomendamos as nossas irmãs e irmãos que se ocupam das nossas sociedades, preparando-lhes a mesa e dando-lhes a sua dignidade”.

4. BILHETE DE EVANGELHO.

Jesus pode falar de gratuidade porque a sua vinda à terra é um dom gratuito de Deus, é uma graça, este amor gratuito, gracioso de Deus. E Deus não nos ama porque merecemos, mas porque não pode senão amar-nos, pois Ele é Amor. Então, Jesus pede ao homem, criado à imagem de Deus, para amar como Deus ama, isto é, gratuitamente, esperando ser declarado justo na ressurreição dos mortos. Trata-se de uma verdadeira revolução nas relações entre eles: pôr o dom em primeiro lugar e ter em resposta apenas a alegria de ter dado. Jesus vai mesmo ao ponto de declarar felizes aqueles que têm o sentido do gratuito nas suas relações humanas.

5. À ESCUTA DA PALAVRA.

Há muitos “manuais de boas maneiras” para saber como organizar uma festa, uma receção, para que cada convidado se encontre à vontade à mesa, não se sinta ferido na sua honra – ou na sua vaidade! Hoje, Jesus dá-nos indicações de protocolo: “Quando fores convidado para um “banquete” nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante que tu; então, aquele que vos convidou a ambos terá de te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar”. Jesus não quer que soframos uma humilhação! Não vai longe o tempo em que, na Igreja, se dizia: “Para crescer em humildade, é preciso suportar humilhações!” Mas suportar humilhações leva geralmente a ser humilhado, mas não a se tornar humilde! Ora Jesus, precisamente, não quer que sejamos humilhados. Deseja mesmo que sejamos honrados. Ele veio para que cada um ganhe de novo a sua verdadeira dignidade, volte a manter-se de pé. Mas, evidentemente, Jesus não se contenta em nos ensinar como nos comportarmos em sociedade. Ele convida-nos, na realidade, a um exercício de lucidez sobre nós próprios. Todos desejamos dar de nós mesmos uma imagem positiva, valorizadora. Mas o que os outros percebem de mim não corresponde necessariamente ao que gostaria que eles vissem. E eu próprio vejo os outros a partir das minhas próprias impressões e sentimentos. Então, seguindo o meu temperamento, terei, por exemplo, um complexo de inferioridade, pensando ser um eterno compreendido. Desvalorizar-me-ei aos meus próprios olhos. Sentir-me-ei mal na própria pele. Ou terei um complexo de superioridade, seguro do meu valor. Procurarei mostrar-me, fazer-me ver, ocupar os primeiros lugares, com o risco de esmagar os outros e humilhá-los. Isso é da psicologia elementar? Mas Jesus sabe bem que a psicologia é importante. Somente vai mais longe. Convida-nos a juntarmo-nos ao olhar de Deus sobre nós, sobre os outros. Só Ele é capaz de amar cada ser humano como ele é, porque só Ele nos olha unicamente e sempre à luz do seu amor. Colocarmo-nos nesta luz é ainda a melhor maneira de nos amarmos humildemente a nós mesmos para amar os outros em verdade.

6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se escolher a Oração Eucarística II para Assembleias com Crianças.

7. PALAVRA PARA O CAMINHO…

Difícil questão… Com que critérios estabelecemos a lista dos nossos convidados quando preparamos uma refeição festiva? Decididamente, uma vez mais, a lógica de Jesus não é a nossa. Acontece convidarmos para a nossa mesa pobres, estropiados, sem-abrigo, crianças perdidas nas ruas… mais que a nossa família, os amigos, as nossas relações de negócios? Difícil questão, que evitamos talvez tomar demasiado a sério. E se nesta semana a deixássemos ressoar um pouco em nós mesmos?

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org