31° Domingo do Tempo Comum – Ano B [atualizado]

ANO B

31.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 31.º Domingo Comum

A liturgia do 31.º Domingo do Tempo Comum convida-nos a abrir o coração ao amor. O amor liberta-nos dos círculos fechados que nos impedem de crescer e de construir uma vida com sentido; o amor permite-nos viver em comunhão com Deus e com os irmãos que a vida coloca ao nosso lado.

A primeira leitura apresenta-nos o início do “Shema’ Israel”, a grande afirmação de fé que todo o israelita piedoso fazia duas vezes por dia. Lembrava que Deus era o centro fundamental à volta do qual se articulava e construía toda a vida do crente; e convidava o israelita fiel a responder à ação salvadora desse Deus com uma entrega total, uma dedicação completa, um amor sem limites e sem condições.

No Evangelho, Jesus define o princípio que deve orientar a vida e o compromisso dos seus discípulos: o amor. Esse princípio, raiz fundamental da existência cristã, concretiza-se em duas vertentes: como amor a Deus e como amor ao próximo. Quem ama Deus escuta as suas palavras, vive de acordo com as suas indicações, procura concretizar o seu projeto para o mundo e para os homens; e ao mesmo tempo, contagiado por Deus, acolhe e cuida, com solicitude e amor, dos irmãos que encontra no caminho. Essa é, segundo Jesus, a única forma de dar sentido à própria existência.

Na segunda leitura, um catequista cristão fala de Cristo como o sumo-sacerdote perfeito, que ofereceu no altar da cruz o sacrifício da sua própria vida. Com a sua entrega, Cristo cumpriu o plano do Pai e mostrou o seu amor a Deus; apresentando-se diante de Deus com esse dom, tornou-se intercessor dos seus irmãos e mostrou também o seu amor aos homens.

 

LEITURA I – Deuteronómio 6,2-6

Moisés dirigiu-se ao povo, dizendo:
«Temerás o Senhor, teu Deus, todos os dias da tua vida,
cumprindo todas as suas leis e preceitos que hoje te ordeno,
para que tenhas longa vida,
tu, os teus filhos e os teus netos.
Escuta, Israel, e cuida de pôr em prática
o que te vai tornar feliz e multiplicar sem medida
na terra onde corre leite e mel,
segundo a promessa que te fez o Senhor, Deus de teus pais.
Escuta, Israel:
o Senhor nosso Deus é o único Deus.
Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração,
com toda a tua alma e com todas as tuas forças.
As palavras que hoje te prescrevo
ficarão gravadas no teu coração».

 

CONTEXTO

O Livro do Deuteronómio parece ser o “livro da Lei” ou “livro da Aliança” descoberto no Templo de Jerusalém no 18° ano do reinado de Josias (622 a.C.) (cf. 2 Re 22,3-13) e que serviu de motor à grande reforma religiosa levada a cabo por este rei no sentido de reconduzir o Povo à fé em Javé. Neste livro, os teólogos deuteronomistas – originários do Norte (Israel) mas, entretanto, refugiados no sul (Judá) após as derrotas dos reis do norte frente aos assírios – apresentam os dados fundamentais da sua teologia: há um só Deus, que deve ser adorado por todo o Povo num único local de culto (Jerusalém); esse Deus amou e elegeu Israel e fez com ele uma Aliança eterna; e o Povo de Deus deve ser um único Povo, uma família unida que tem Deus como a sua grande referência (portanto, não têm qualquer sentido as questões históricas que levaram o Povo de Deus à divisão política e religiosa, após a morte do rei Salomão).

Literariamente, o livro apresenta-se como um conjunto de três discursos de Moisés, pronunciados nas planícies de Moab, pouco antes de o Povo libertado do Egito atravessar o Jordão para tomar posse da Terra Prometida. Pressentindo a proximidade da sua morte, Moisés deixa ao Povo uma espécie de “testamento espiritual”: lembra aos hebreus os compromissos assumidos para com Deus e convida-os a renovar a sua Aliança com Javé.

O texto que hoje nos é proposto integra o segundo discurso de Moisés (cf. Dt 4,44-28,68). Tanto pelo lugar que ocupa no livro, como pela sua importância, este segundo discurso de Moisés constitui o centro do Livro do Deuteronómio. Em linhas gerais, este discurso apresenta-se em três peças principais: uma introdução (cf. Dt 4,44-11,32), um código legal (cf. Dt 12,1-25,19) e uma conclusão (cf. Dt 26,1-28,68).

A primeira parte da introdução ao segundo discurso de Moisés (cf. Dt 4,44-9,5) oferece-nos uma apresentação do Decálogo (cf. Dt 5,1-33) – a Lei fundamental da Aliança estabelecida entre Deus e Israel, no Horeb – e, na sequência, um conjunto de exortações ao Povo para que viva na fidelidade aos mandamentos (cf. Dt 6,1-9,5). O nosso texto é um extrato dessa exortação.

 

MENSAGEM

A primeira leitura deste trigésimo primeiro domingo comum começa com uma exortação a “temer” o Senhor e a cumprir todas as suas leis e mandamentos (vers. 2-3). A expressão “temer o Senhor” – muito frequente no Antigo Testamento – traduz, por um lado, a reverência e o respeito e, por outro lado, a pronta obediência à vontade divina, a confiança inamovível no Deus que não falha, a humilde renúncia aos próprios critérios, a adesão incondicional à vontade de Deus, a aceitação plena das propostas e dos mandamentos de Deus. Na perspetiva do autor deste texto, o crente ideal (o que “teme o Senhor”), é aquele que está disposto a renunciar à autossuficiência e não aceita procurar a felicidade à margem das propostas de Deus; é aquele que, com total confiança, é capaz de se entregar nas mãos de Deus, de aceitar as suas indicações, de assumir os mandamentos do Senhor como caminho seguro e verdadeiro para chegar à vida em plenitude. Àquele que aceita viver no “temor do Senhor”, o autor promete felicidade abundante “na terra onde corre leite e mel”, isto é, nessa Terra Prometida na qual o Povo se prepara para entrar.

Na segunda parte do nosso texto (vers. 4-6), temos os primeiros versículos do “Shema’ Israel” (assim denominado por começar com as palavras hebraicas “Shema’ Israel” – “Escuta Israel”), a “profissão de fé” ainda hoje recitada duas vezes por dia por todos os judeus piedosos e que, além de Dt 6,4-9, inclui Dt 11,13-21 e Nm 15,37-41. No universo religioso judaico, o verbo “escutar”, aqui usado, define uma ação em três tempos: “ouvir” com os ouvidos, “acolher” no coração, “transformar em ação concreta” aquilo que se ouviu e que se acolheu.

O “Shema’ Israel” começa com a afirmação solene da unicidade de Deus (vers. 4: “o Senhor nosso Deus é o único Deus”). O crente israelita deve ouvir e interiorizar esta realidade e atuar em consequência. Proclamar que Deus é único significa afastar da própria vida qualquer possibilidade de adesão a outros deuses ou a outras propostas de salvação que não venham de Javé. Com esta afirmação, o crente proclama a sua decisão de renunciar à opressão de outros deuses e de escolher a liberdade que Javé oferece.

Ao Deus único, ao Senhor que liberta o seu Povo de todas as escravidões, responde-se com o amor: um amor exclusivo, forte, único, que implica todo o coração, todas as forças, toda a vida do homem (vers. 5: “amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças”). No livro do Deuteronómio Deus aparece como um pai que dá o ser, educa e cuida de Israel, o seu filho (cf. Dt 8,5; 14,1); o Povo deve responder ao amor paternal de Deus com o amor que o filho dedicado e respeitoso que o filho deve ao seu pai.

Esse amor filial do crente por Javé não pode ficar numa simples declaração de boas intenções ou numa emoção fugaz, mas tem de traduzir-se no acolhimento das palavras, das indicações e das propostas do pai. Por isso, o crente israelita deve “gravar no coração” todas as palavras de Deus. Repetirá e testemunhará as palavras de Deus, refletirá sobre elas, guardá-las-á no coração, tê-las-á sempre diante dos olhos, de forma a guiar toda a sua vida por elas. Assim fará prova do seu amor por Deus.

 

INTERPELAÇÕES

  • “Temerás o Senhor, teu Deus, todos os dias da tua vida” – diz Moisés ao Povo que se prepara para entrar na Terra da Promessa. A expressão pode soar mal aos ouvidos dos crentes formados na escola de Jesus, que se habituaram a ver em Deus um Pai bom, que ama cada um dos seus filhos com um amor sem limites. A um Deus que ama como Pai, não se “teme”: aproximamo-nos d’Ele com a confiança de filhos, que se sentem queridos, acolhidos e profundamente amados. “Temer o Senhor” é, na realidade, responder ao amor desse Pai bom com a obediência incondicional, a confiança inamovível, a entrega confiada; é renunciar à própria autossuficiência para se entregar completamente nas mãos de Deus, acolhendo, com a confiança de filhos, as suas indicações, as suas propostas, os seus bons conselhos de Pai. Como é que nos situamos diante de Deus? Caminhamos pela vida carregando o fardo do medo de Deus, ou fazemos caminho sentindo que a ternura do nosso Pai do céu nos liberta, nos consola, nos dá confiança, nos abre em cada passo horizontes de esperança? A nossa resposta ao amor de Deus traduz-se no acolhimento das suas propostas e indicações?
  • “Escuta, Israel: o Senhor nosso Deus é o único Deus”. Esta “profissão de fé” que os crentes israelitas ainda hoje fazem duas vezes por dia, convida-nos a lembrar a centralidade única de Deus nas nossas vidas. Deus “é o único”: é Ele e só Ele que nos dá Vida e que enche de significado a nossa existência. É à volta d’Ele que podemos ancorar o nosso projeto de vida. Provavelmente todos nós, crentes, aceitamos isto… Mas, mesmo assim, podemos viver como “politeístas práticos”, que no dia a dia correm atrás de outros “deuses”, de “deuses” efémeros, nos quais pomos a nossa confiança, a nossa segurança e a nossa esperança: o dinheiro, o poder, o êxito, a posição social, os títulos, as honras, os aplausos e a admiração dos que nos rodeiam… Estamos conscientes de que esses “deuses”, mesmo trazendo algo de útil e de agradável à nossa existência, não podem servir de pedra angular na construção da nossa vida? Estamos conscientes de que algumas realidades que endeusamos poderão escravizar-nos e destruir-nos?
  • “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” – pede Moisés ao Povo de Deus. Como é que deve expressar-se, em termos práticos, esse amor a Deus? É através de declarações solenes e ocas de boas intenções? É através de fórmulas fixas de oração que papagueamos de cor? É através de solenes ritos litúrgicos, que nos enchem os olhos mas não nos tocam o coração? Não deverá antes ser na entrega total nas mãos de Deus, na escuta atenta da sua vontade, no cumprimento dos seus mandamentos e preceitos, no testemunho do amor junto dos nossos irmãos, no compromisso com a construção de um mundo que esteja de acordo com o projeto de Deus?

 

SAMO RESPONSORIAL – Salmo 17

Refrão: Eu Vos amo, Senhor: Vós sois a minha força.

Eu Vos amo, Senhor, minha força,
minha fortaleza, meu refúgio e meu libertador,
meu Deus, auxílio em que ponho a minha confiança,
meu protetor, minha defesa e meu salvador.

Invoquei o Senhor – louvado seja Ele –
e fiquei salvo dos meus inimigos.
Viva o Senhor, bendito seja o meu protetor;
exaltado seja Deus, meu Salvador.

Senhor, eu Vos louvarei entre os povos
e cantarei salmos ao vosso nome.
O Senhor dá ao seu Rei grandes vitórias
e usa de bondade para com o seu Ungido.

 

LEITURA II – Hebreus 7,23-28

Os sacerdotes da antiga aliança
sucederam-se em grande número,
porque a morte os impedia de durar sempre.
Mas Jesus, que permanece eternamente,
possui um sacerdócio eterno.
Por isso pode salvar para sempre
aqueles que por seu intermédio se aproximam de Deus,
porque vive perpetuamente para interceder por eles.
Tal era, na verdade, o sumo sacerdote que nos convinha:
santo, inocente, sem mancha,
separado dos pecadores e elevado acima dos céus,
que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes,
de oferecer cada dia sacrifícios,
primeiro pelos seus próprios pecados,
depois pelos pecados do povo,
porque o fez de uma vez para sempre
quando Se ofereceu a Si mesmo.
A Lei constitui sumos sacerdotes
homens revestidos de fraqueza,
mas a palavra do juramento, posterior à Lei,
estabeleceu o Filho sumo sacerdote perfeito para sempre.

 

CONTEXTO

A Carta aos Hebreus, mais do que uma “carta”, é um sermão de autor desconhecido, que alguns pensam ter sido um discípulo do apóstolo Paulo. Os destinatários desse sermão são cristãos que vivem a sua fé em contexto difícil e que, por isso, deixaram arrefecer o seu entusiasmo e o seu compromisso com Jesus e com o Evangelho. O uso abundante de citações e de figuras do Antigo Testamento poderá indiciar que esses cristãos são de origem judaica; mas isso não é totalmente claro, uma vez que o Antigo Testamento já era, na altura em que a Carta aos Hebreus apareceu, referência para todos os cristãos, quer os de origem judaica, quer os de origem greco-romana.

Recorrendo à linguagem da catequese judaica, o autor da Carta aos Hebreus apresenta Cristo como o sumo-sacerdote fiel e misericordioso que estabelece a ligação entre Deus e os homens. Depois de ter incarnado e caminhado lado a lado com os homens, Jesus “atravessou os céus” e apresentou ao Pai a nossa humanidade, obtendo de Deus o perdão para as nossas falhas e inserindo-nos na família de Deus. Membros de Cristo, fazemos parte do Povo sacerdotal, que é a Igreja. De olhos postos em Cristo, procuramos viver de acordo com as suas indicações e, como Ele, fazemos da vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor.

Referindo-se a Cristo como o sumo-sacerdote que nos dá acesso a Deus, o autor da Carta aos Hebreus coloca-o na linha de Melquisedec (cf. Heb 6,20), um personagem misterioso que se encontra com Abraão depois de este vencer o rei Cadorlaomer e seus aliados. Apresentado como rei e sacerdote de Salem (localidade desconhecida, que o Sl 76,3 identifica com Jerusalém), Melquisedec é “sacerdote do Deus Altíssimo”. Abençoa Abraão e oferece-lhe pão e vinho; e Abraão, o antepassado dos sacerdotes levíticos, inclinar-se-á diante dele e pagar-lhe-á o dízimo (cf. Gn 14,18-20). O Salmo 110, por sua vez, apresenta um rei da casa de David como o continuador do sacerdote Melquisedec (“o Senhor jurou” ao rei “e não voltará atrás: tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec” – Sl 110,4). A partir daqui a figura de Melquisedec adquirirá uma clara conotação messiânica. Após o Exílio na Babilónia, os judeus esperam ver surgir um salvador da descendência de David que reúna, como Melquisedec, o sacerdócio e a realeza.

O autor da Carta aos Hebreus vê Cristo a esta luz. Na sua perspetiva, Jesus exerce um sacerdócio perfeito e eterno, que não se vincula ao sacerdócio de Levi (que é um sacerdócio exercido por homens pecadores, mortais e que se sucedem de geração em geração), mas que realiza o sacerdócio real do Messias davídico, sucessor de Melquisedec.

Na primeira parte do capítulo 7 da Carta, o autor resume a história de Melquisedec e afirma a superioridade do seu sacerdócio sobre o sacerdócio levítico (cf. Heb 7,1-10); na segunda, o autor demonstra que o sacerdócio novo de Cristo (na linha do sacerdócio de Melquisedec) é um sacerdócio perfeito e eterno, que veio substituir o sacerdócio levítico e abolir a antiga Lei (cf. Heb 7,11-28).

 

MENSAGEM

Um dos sinais da superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio levítico é a sua duração eterna. Enquanto os sacerdotes da família de Levi estavam sujeitos à lei da morte e exerciam o sacerdócio apenas durante o tempo que a sua vida durava, Cristo exerce eternamente o seu sacerdócio em favor dos homens. Para o autor da Carta aos Hebreus, a multiplicidade e a alternância são sinónimos de imperfeição. Porque o sacerdócio de Cristo é eterno e a sua intercessão junto de Deus é contínua, ele assegura, de modo definitivo, a salvação dos homens (vers. 23-25). Pela sua intercessão perpétua, Cristo aproxima definitivamente os homens de Deus e integra-os eficazmente na família de Deus.

Mas há mais: os sacerdotes da família de Levi eram homens pecadores, que ofereciam sacrifícios de expiação pelos pecados do povo e pelos seus próprios pecados. Mas Jesus não precisava de oferecer sacrifícios pelos seus próprios pecados; foi tentado, como os homens, mas rejeitou sempre o mal, manteve-se sempre fiel ao projeto do Pai. Ao contrário dos sacerdotes levíticos, Ele é um sumo-sacerdote “santo, inocente, sem mancha, separado dos pecadores e elevado acima dos céus” (vers. 26). A sua santidade e a sua pertença à esfera de Deus tornam plenamente eficaz a sua ação mediadora e salvadora em favor dos homens.

Finalmente, refere-se a superior qualidade do sacrifício oferecido por Cristo, em relação aos sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes levíticos. Os sacerdotes israelitas ofereciam sacrifícios diários de animais pelos seus próprios pecados e pelos pecados do Povo; mas Cristo ofereceu uma única vez o sacrifício da sua própria vida, no altar da cruz. Esse único e superior sacrifício – a sua obediência até à morte, o dom total de si próprio ao serviço do projeto do Pai – deu-lhe acesso total a Deus. Pelo sacrifício de si próprio, Cristo conseguiu-nos crédito ilimitado junto de Deus (vers. 27).

Em jeito de conclusão, o autor destaca, uma vez mais, o contraste entre a ordem imperfeita – que é a ordem da Lei e do sacerdócio levítico – e a ordem perfeita, prometida por Deus e realizada pelo sumo-sacerdote Jesus (vers. 28). Sob o regime da Lei havia sacerdotes cheios de fragilidades e de debilidades, cuja ação sacerdotal não assegurava a salvação; em Jesus temos um sumo-sacerdote eterno e perfeito, que está junto de Deus e que nos obtém a salvação.

 

INTERPELAÇÕES

  • Dirigindo-se a cristãos que vivem num ambiente hostil e que, por isso, se sentem desanimados e desmotivados, o autor da Carta aos Hebreus convida-os a revitalizar o seu compromisso com Cristo. Ele, o sumo-sacerdote eterno que intercede por nós junto de Deus, é fonte inesgotável de Vida e de salvação. Por isso, não podemos fechar-lhe as portas da nossa vida, nem desistir do caminho que Ele nos indica. A recomendação do autor da Carta aos Hebreus continua a fazer sentido vinte séculos depois… O ambiente desfavorável à fé, a crise de valores, o cansaço, a acomodação, talvez mesmo a desilusão que sentimos diante das fragilidades da Igreja, podem levar-nos a negligenciar o nosso compromisso com Cristo e a “guardar na gaveta” os valores do Evangelho. Mas Cristo continua a ser a nossa melhor oportunidade para construirmos uma vida plena de sentido. Estamos conscientes disso? As suas palavras, as suas indicações, o seu evangelho, continuam a ser decisivos na definição da nossa vida, das nossas opções, do nosso caminho?
  • Uma das razões que leva o autor da Carta aos Hebreus a estabelecer a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio levítico prende-se com a “qualidade” do sacrifício que Cristo ofereceu a Deus. Ele não ofereceu, como os sacerdotes do Antigo Testamento, o sangue de animais imolados, mas ofereceu a sua própria vida. Ele pôs a sua vida ao serviço do projeto de Deus e deu tudo, até à última gota de sangue, para que esse projeto se concretizasse. Nós, os crentes, sempre preocupados em agradar a Deus e em render-Lhe o culto que Ele merece, esquecemos, por vezes, o óbvio: mais do que ritos majestosos, manifestações públicas de fé, solenes celebrações, Deus aprecia o dom de nós mesmos. O culto que Ele nos pede, o sacrifício que Ele aprecia e que há de gerar Vida nova para nós e para os que caminham ao nosso lado, é a obediência aos seus projetos, o acolhimento da sua vontade, a entrega completa da nossa vida nas suas mãos. Como é a nossa resposta ao amor de Deus? É uma resposta puramente externa, ou é a oblação a Deus de nós próprios, de tudo o que somos e fazemos?
  • Cristo é, efetivamente, o sumo-sacerdote que está junto do Pai e que intercede continuamente por nós, como repete até ao infinito o autor da Carta aos Hebreus. A consciência desse facto deve encher o nosso coração de paz, de esperança e de confiança: se Cristo intercede por nós, podemos encarar a vida de forma serena, com a consciência de que as nossas debilidades e fragilidades nunca nos afastarão, de forma definitiva, da comunhão com Deus e da vida eterna. Essa certeza é, para nós, fonte de paz, de harmonia e de esperança?

 

ALELUIA – Jo 14,23

Aleluia. Aleluia.

Se alguém Me ama, guardará a minha palavra, diz o Senhor;
meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada.

 

EVANGELHO – Marcos 12,28-34

Naquele tempo,
aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe:
«Qual é o primeiro de todos os mandamentos?»
Jesus respondeu:
«O primeiro é este:
‘Escuta, Israel:
O Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás o Senhor teu Deus
com todo o teu coração, com toda a tua alma,
com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças’.
O segundo é este:
‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’.
Não há nenhum mandamento maior que estes».
Disse-Lhe o escriba:
«Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes:
Deus é único e não há outro além d’Ele.
Amá-l’O com todo o coração,
com toda a inteligência e com todas as forças,
e amar o próximo como a si mesmo,
vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios».
Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente,
Jesus disse-lhe:
«Não estás longe do reino de Deus».
E ninguém mais se atrevia a interrogá-I’O.

 

CONTEXTO

Jesus e os discípulos já estão em Jerusalém. Chegaram há três dias. Durante a noite, têm ficado alojados em Betânia, a pequena povoação situada no lado oriental do Monte das Oliveiras; mas todos os dias descem o monte, entram na cidade de Jerusalém e dirigem-se ao templo.

Esses dias têm sido marcados por duros confrontos entre Jesus e as autoridades religiosas de Jerusalém. Logo no segundo dia Jesus tinha realizado o gesto profético de expulsar do Templo os negociantes e tinha acusado os líderes judaicos de terem feito da “casa de Deus um covil de ladrões” (cf. Mc 11,15-18). Depois disso, tinha contado aos dirigentes judeus a parábola dos vinhateiros homicidas (cf. Mc 12,1-12), acusando-os de se oporem, de forma continuada, à realização do plano salvador de Deus. Os líderes judaicos, convencidos de que Jesus era irrecuperável, tinham tomado decisões drásticas: Ele devia ser preso, julgado, condenado e eliminado. Fariseus, partidários de Herodes (cf. Mc 12,13) e até saduceus (cf. Mc 12,18), procuravam estender armadilhas a Jesus, a fim de O surpreender em afirmações pouco ortodoxas, que pudessem ser usadas em tribunal para conseguir uma condenação. As controvérsias sobre o tributo a César (cf. Mc 12,13-17) e sobre a ressurreição dos mortos (cf. Mc 12,18-27) devem ser situadas e compreendidas neste contexto.

É precisamente neste cenário que aparece um escriba a perguntar a Jesus qual era o maior mandamento da Lei. Ao contrário de Mateus (cf. Mt 22,34-40), Marcos não considera, contudo, que a questão seja posta a Jesus para o embaraçar ou para o pôr à prova. O escriba que coloca a questão parece ser um homem sincero e bem-intencionado, genuinamente preocupado em esclarecer uma questão para a qual ele ainda não tinha encontrado uma resposta convincente.

De facto, a questão do maior mandamento da Lei não era uma questão pacífica e tornou-se, no tempo de Jesus, objeto de debates intermináveis entre os fariseus e os doutores da Lei. A preocupação em atualizar a Lei, de forma a que ela respondesse a todas as questões que a vida do dia a dia punha, tinha levado os doutores da Lei a deduzir um conjunto de 613 preceitos, dos quais 365 (o número dos dias do ano) eram proibições e 248 (o número dos membros do corpo humano, segundo a mentalidade judaica) ações a pôr em prática. Esta “multiplicação” dos preceitos legais lançava, no entanto, a questão da ordenação dos mandamentos: qual era o primeiro, o maior, o mais importante, aquele que devia aparecer à frente de todos os outros? Os “mestres” judaicos mantinham, sobre isto, discussões intermináveis; mas as suas respostas não eram coincidentes. É daqui que parte a pergunta que o escriba traz a Jesus.

 

MENSAGEM

Jesus escuta atentamente a pergunta que o escriba lhe coloca. Percebe que a intenção daquele homem de boa vontade não é polemizar, mas sim esclarecer uma questão que o preocupa; e responde-lhe de forma direta e amistosa. Citando o primeiro versículo do “Shema’ Israel”, a grande afirmação de fé que todo o judeu recitava no início e no final do dia (cf. Dt 6,4-5), Jesus estabelece que o primeiro mandamento é o amor a Deus – um amor que deve ser total, sem divisões, feito de adesão plena aos projetos, à vontade, aos preceitos de Deus (vers. 30: “com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”). Mas Jesus não se detém aí; como se achasse que essa primeira resposta não era suficiente, completa-a com a apresentação de um segundo mandamento: “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (trata-se de uma citação de Lv 19,18). Jesus estabelece que o maior mandamento é o mandamento do amor; e esse mandamento fundamental concretiza-se em duas dimensões que se completam mutuamente – a do amor a Deus e a do amor ao próximo.

A originalidade deste sumário evangélico da Lei não está na ideia de amor a Deus e ao próximo, que são bem conhecidas do Antigo Testamento. A originalidade deste ensinamento está, por um lado, no facto de Jesus os aproximar um do outro, pondo-os em perfeito paralelo; e, por outro, no facto de Jesus simplificar e concentrar toda a revelação de Deus nestes dois mandamentos.

A resposta de Jesus ao escriba não vai no sentido de estabelecer uma hierarquia de mandamentos. Superando o horizonte estreito da pergunta, Jesus refere-se, antes, às opções profundas que o homem deve fazer. Trata-se, na verdade, de encontrar a raiz de todos os mandamentos; e, segundo Jesus, essa raiz é o amor: o amor a Deus e o amor ao próximo. Portanto, o compromisso religioso (que é proposto aos crentes, quer do Antigo, quer do Novo Testamento) resume-se no amor a Deus e no amor ao próximo. Como é que Jesus vê e situa, em concreto, a vivência dessa dupla dimensão?

Jesus nunca se preocupou excessivamente com o cumprimento dos rituais litúrgicos que a religião judaica propunha, nem viveu obcecado com o oferecimento de dons materiais a Deus. Mas, em contrapartida, Jesus vivia numa intimidade muito grande com o Pai. Chamava-lhe “abbá”, “paizinho”. Depois do seu programa diário de anúncio do Reino, retirava-se frequentemente para lugares isolados para falar com Deus. Sentia-se profundamente amado pelo Pai. Para responder ao amor do Pai, Jesus procurava discernir a Sua vontade e cumpri-Ia com fidelidade e amor. “Amar a Deus” é pois, na perspetiva de Jesus, procurar a proximidade do Pai, viver em diálogo com Ele, estar atento aos projetos do Pai e procurar concretizar, na vida do dia a dia, os seus planos, com obediência e disponibilidade.

Mas Jesus sabia também que o cumprimento da vontade do Pai passa por fazer da vida uma entrega de amor aos outros filhos e filhas de Deus, se necessário até ao dom total de si próprio. Amar a Deus implica, portanto, amar e cuidar dos irmãos que caminham connosco. Assim, na perspetiva de Jesus, “amor a Deus” e o “amor aos irmãos” não são dois mandamentos diversos, mas duas faces da mesma moeda. “Amar a Deus” passa por cumprir o seu projeto de amor, que se concretiza na solidariedade, na partilha, no serviço, no dom da própria vida aos irmãos.

Como deve ser interpretada a expressão usada por Jesus para falar do amor aos irmãos (“amarás o teu próximo como a ti mesmo”)? A expressão “como a si mesmo” significa que se deve procurar o bem do irmão com o mesmo interesse que nos leva a procurar o nosso próprio bem. A palavra “próximo” não implica que coloquemos fronteiras ao amor, mas que olhemos com solicitude todos aqueles que se cruzam connosco nos caminhos da vida. Aliás, noutros textos neotestamentários Jesus explica aos seus discípulos que é preciso amar até os próprios inimigos e orar até pelos próprios perseguidores (cf. Mt 5,43-48). Trata-se, pois, de um amor sem limites, sem medida e que não distingue entre bons e maus, amigos e inimigos. O evangelista Lucas, ao contar este mesmo episódio, acrescenta-lhe a história do “bom samaritano”, explicando que esse “amor aos irmãos” pedido por Jesus é incondicional e deve atingir todo o irmão que encontrarmos nos caminhos da vida, mesmo que ele seja um estrangeiro ou um inimigo (cf. Lc 10,25-37).

O escriba concorda plenamente com a resposta de Jesus. Para exprimir a sua aprovação, ele cita alguns passos da Bíblia Hebraica (cf. Dt 4,35 e Is 45,21; Dt 6,5; Lv 19,18; Os 6,6), que repetem, com palavras diversas, o que Jesus acabou de dizer. Diante do comentário inteligente do escriba, Jesus declara-lhe que não está “longe do Reino de Deus” (vers. 34). Este escriba é, sem dúvida, um homem justo, que observa a Lei, que estuda a Escritura e que procura compreender o seu alcance; mas fica no plano do raciocínio e não mostra sinais de pretender dar o passo que lhe falta: acolher Jesus como o Messias enviado por Deus com uma proposta de salvação, tornar-se discípulo, ir atrás de Jesus no caminho do amor a Deus e da entrega da vida aos irmãos. Só quem se torna discípulo de Jesus e o segue está apto a integrar a comunidade do Reino de Deus.

 

INTERPELAÇÕES

  • Dois mil anos de cristianismo significam um longo caminho. Ao longo desse caminho, a comunidade de Jesus – como todas as instituições que caminham pela história – foi acumulando um grande número de coisas: normas, preceitos, costumes, tradições, ritos, doutrinas, explicações, veneráveis opiniões, teorias mais ou menos discutíveis… Algum desse material é muito belo e continua a ajudar a comunidade cristã a caminhar na fidelidade a Jesus; outro é datado, perdeu o prazo de validade e pode tornar-se obstáculo para que os homens e mulheres do séc. XXI possam descobrir Jesus e a sua proposta. O pó que os séculos vão acumulando pode, a dada altura, ocultar-nos o essencial e fazer-nos perder a noção do que é realmente importante. Hoje, em âmbito eclesial, gastamos tempo e energias a discutir certas questões secundárias, puramente acidentais, enquanto deixamos em segundo plano o essencial da proposta de Jesus. As palavras de Jesus que escutamos no evangelho deste domingo poderão ajudar-nos a refazer as nossas prioridades: o essencial é o amor a Deus e o amor aos irmãos. Nisto se resume toda a revelação de Deus e a sua proposta de Vida plena e definitiva para os homens. O que é que consideramos essencial para nos mantermos fiéis e a Jesus e à sua proposta? A nossa avaliação do que é essencial está de acordo com as palavras de Jesus que hoje ouvimos?
  • O que é “amar a Deus”? Olhemos para Jesus… Ele sentia-se profundamente amado por Deus; Deus era o centro da sua vida. Por isso, procurava estar com o Pai, falar com o Pai, conhecer os planos do Pai para o mundo e para os homens. Jesus vivia o seu amor a Deus a partir desta realidade. Para Ele, o amor a Deus concretizava-se na procura de proximidade com o Pai, na escuta do Pai, na obediência incondicional à vontade do Pai, na entrega de toda a sua vida à realização do projeto do Pai. Esta forma de “amar a Deus” pode ser um bom modelo para nós. Deus é para nós, como era para Jesus, um Pai por quem nos sentimos profundamente amados? E esse amor que Deus nos dedica atrai-nos, faz-nos sentir necessidade de arranjar tempo para estar com Ele, para manter um diálogo com Ele? Faz-nos sentir vontade de acolher as indicações de Deus e de viver de acordo com elas? Motiva-nos para acolhermos os projetos de Deus e para nos comprometermos em torná-los realidade no mundo que estamos a construir?
  • O que é “amar os irmãos”? Olhemos outra vez para Jesus… Ele “passou pelo mundo fazendo o bem”. Curava as feridas dos que sofriam, sentava-se à mesa com aqueles que a sociedade e a religião condenavam, tocava os leprosos e devolvia-lhes a consciência da sua dignidade, defendia as mulheres vítimas de leis discriminatórias, saciava a fome das multidões e ensinava-as a partilhar, levava a esperança a todos aqueles cujas vidas estavam em becos sem saída. Nunca discriminou ninguém e morreu pedindo a Deus perdão para os seus assassinos. Os seus gestos testemunhavam a solicitude, a misericórdia de Deus por todos os seus filhos. De acordo com o exemplo e o testemunho de Jesus, o amor aos irmãos passa por cuidarmos de cada homem e de cada mulher com quem nos cruzamos nos nossos caminhos de todos os dias, sem distinção de raça, de nacionalidade, de estatuto social, de religião ou de qualquer outra fronteira real ou imaginária. Como é que vemos e tratamos os irmãos e irmãs que caminham ao nosso lado? Sentimo-nos responsáveis por cada pessoa que sofre, que vive em condições indignas, que é vítima de injustiça, que é deixada para trás, que é maltratada e desrespeitada?
  • Muitos homens e mulheres, ao longo da história, viram no “amor a Deus” e no “amor ao próximo” duas realidades de difícil conciliação. Alguns dos que acentuavam a verticalidade – o “amor a Deus” – fecharam-se numa piedade que fugia do mundo e se refugiava em lugares solitários, de olhos postos na contemplação de Deus, à margem dos problemas e das dores dos homens e das mulheres; outros, que acentuavam a horizontalidade (o “amor ao próximo”) – apostaram tudo na dimensão humana, desvalorizando Deus, ou até mesmo considerando Deus um adversário da liberdade e da realização plena dos seres humanos. O evangelho deste domingo garante que não há qualquer contradição entre as duas realidades. “A glória de Deus é o homem vivo” (Santo Ireneu de Lião); quem mergulha no amor de Deus descobre que a grande preocupação de Deus é o bem dos seus queridos filhos e filhas que peregrinam na terra. A contemplação de Deus alguma vez nos afastou da luta por um mundo mais digno e mais humano para todos os filhos e filhas de Deus? A intervenção social alguma vez nos afastou de Deus ou nos levou a “fechar os ouvidos” às indicações de Deus?
  • Qual é, para nós, o elemento fundamental da nossa experiência de fé? Que lugar ocupa o amor – o amor a Deus e o amor ao próximo – no edifício da nossa vida religiosa? Por vezes não tenderemos a dar demasiada importância a elementos que não têm grande significado (as tradições religiosas que herdamos dos nossos antepassados, a devoção que nos inspira determinada imagem religiosa, as festas com um leve verniz religioso mas que são pretexto para manifestações pouco cristãs, os rituais pomposos e muitas vezes vazios de significado, as questões disciplinares laterais, as honrarias pouco evangélicas, os títulos “religiosos” que nada significam…), esquecendo o essencial, negligenciando o mandamento maior?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 31.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 31.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-Ia pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo. Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa. Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.

Deus nunca se apresenta como concorrente do homem. Seria assim se disséssemos que é preciso amar Deus ou o próximo. Ora, o escriba que encontra Jesus diz “amar Deus de todo o coração ce amar o seu próximo como a si mesmo vale mais que todas as oferendas e sacrifícios”. Para não se ficar longe do reino de Deus, basta, pois, amar Deus e o seu próximo. Foi o testemunho deixado por Jesus: o seu amor pelo Pai levava-o a retirar-se para o monte para rezar, a erguer os olhos para o céu antes de fazer milagres, mas ao mesmo tempo ia ao encontro dos doentes, dos excluídos, dos pecadores, das multidões perdidas como ovelhas sem pastor. E depois, na cruz, vira-se para seu Pai, mas também para o ladrão crucificado ao seu lado, para Maria e João, para os verdugos que não sabiam o que faziam, dizia Ele. E não esqueçamos a palavra de João, que esclarece muito bem o duplo mandamento: aquele que diz “amo a Deus” e não ama o seu próximo é um mentiroso.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.

À primeira vista, o vocabulário não pega! O amor não se impõe com golpes de leis! Porque dizer que o amor a Deus e ao próximo é o maior mandamento? Para os Judeus, a vontade de Deus exprime-se na Lei e tudo é visto a essa luz. A Lei é como que a incarnação da vontade de Deus. Então, Jesus respeita este escriba, que era um profissional da Lei, utilizando a mesma linguagem que ele. Mas começa por “escuta, Israel”. É mais que um mandamento, é a afirmação fundamental da fé em Deus único. Mais ainda, este texto tornou-se a oração que os Judeus fiéis, ainda hoje, dizem três vezes por dia. É tão importante para os Judeus como o “Pai Nosso” para os cristãos. Deve ser, pois, meditada. Amar a Deus com todas as forças, com toda a mente, com toda a nossa força. Um amor verdadeiramente humano, o amor segundo a vontade de Deus. Jesus liga o amor a Deus e o amor ao próximo. O escriba compreendeu: este amor vale mais que todas as oferendas e sacrifícios, porque envolve todo o nosso ser. Ele é a vida.

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE.

Amar com todo o coração. Que valem os nossos “amo-te”? Aproveitemos a interpelação deste domingo para refletir, nesta semana, na sinceridade das nossas palavras e dos nossos sentimentos. Dizer a alguém “amo-te”, é verdadeiramente amá¬lo com todo o seu coração, com todas a sua força, sem falhas?

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

Grupo Dinamizador:
José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
www.dehonianos.org

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