A Missão do Luau – visita dos superiores provinciais | 25/02 – 16/03 | 2010

03 | março | quarta-feira

A Missão do Luau

Hoje foi o primeiro dia passado no Luau. É uma miniatura de Luena. Não é cidade, mas é sede de município. Está próxima da fronteira com o Congo: a 12 quilómetros. Durante a guerra civil a população fugiu para o Congo. Luau ficou por conta dos militares. As aldeias que rodeiam a cidade também ficaram despovoadas. O abandono das casas e dos edifícios públicos durante anos a fio, levou à degradação. Por aqui passava a importante linha férrea que vinha de Lobito, seguia até ao Congo e atravessava toda a África até chegar à África do Sul. Era uma linha férrea muito importante. Teixeira de Sousa foi o grande impulsionador desta linha férrea. A aldeia tomou o seu nome. Hoje é Luau. Próximo da estação ainda está de pé o bairro dos trabalhadores dos caminhos de ferro. A guerra fez morrer este importante meio de transporte. A linha está desmantelada. Todo o material da linha foi roubado. Muito dele é utilizado para fazer as cercas das casas e cabanas. O governo angolano está a reabilitar a linha férrea a partir de Lobito. Só daqui a alguns anos é que tudo estará de novo operacional. Os portugueses que cá viveram dedicavam-se aos serviços de fronteira e ao comércio. A paz trouxe de novo as populações ao Luau e a vida retomou o seu ritmo. Alguns edifícios já estão reabilitados: as duas escolas estatais, casa do governador, a polícia, entre outros. Também alguns privados recuperaram as suas casas. Mas ainda há muito para fazer. O edifício dos CTT está por recuperar, mas as letras ainda são bem visíveis e recordam o tempo em que aqui havia correios… Há também um aeroporto com uma pista de 2 km em terra batida. Terminada a guerra ainda recebeu aviões. A aerogare é um pequeno espaço do tamanho de uma sala de estar das nossas casas. Está tudo abandonado. A erva vai tomando conta do aeroporto. Outra consequência da guerra civil foi a colocação de minas anti-pessoal e anti-tanque nos terrenos em volta do Luau. É uma das zonas muito perigosas do pais, pois fora da cidade ainda há zonas minadas. Luau foi a sede da MAG, uma organização financiada pela Comunidade Europeia que, no pós-guerra-civil trabalhou na desminagem da zona mais próxima do Luau.

Terminada a guerra-civil, as populações que fugiram para o Congo, regressaram a Angola. A organização dos jesuítas JRS trabalhou aqui no apoio aos refugiados que regressavam à pátria.

Foi tudo isto que nós hoje tivemos oportunidade de ver. Visitámos sobretudo as estruturas que hoje servem à missão católica.
Começámos precisamente pelas casas que serviram de sede à JRS. Essas duas casas foram deixadas à missão. Os missionários reabilitaram-nas e deram nova finalidade: numa está a funcionar a biblioteca Leão Dehon, que os voluntários da ALVD instalaram no verão passado; noutra funciona a infor-Dehon que é uma escola de informática dinamizada pelo Ir. David Mieiro. Como era o último dia de aulas, tive a oportunidade de entregar os diplomas aos alunos de uma das turmas do primeiro curso de informática aqui no Luau. Esta iniciativa foi muito válida, pois proporcionou o contacto com as novas tecnologias. Vários dos alunos eram quadros da função pública do Luau.

Visitámos de seguida aquela que será a casa dos missionários. Neste momento os missionários estão a viver numa casa alugada e com espaços muito limitados. A nova casa não é assim tão nova quanto isso. Em tempos foi a casa da missão. Pertenceu aos beneditinos que nos inícios dos anos oitenta tiveram de abandoná-la, pressionados pela guerra. Serviu de quartel, durante a guerra e nestes anos, por falta de manutenção degradou-se muito. O Pe. Joaquim e o Pe. Jorge têm sido os obreiros da reconstrução. Um trabalho muito moroso e difícil, porque os materiais para cá chegarem têm de fazer mais de mil quilómetros em camião, desde Luanda, por estradas muito difíceis de percorrer. Só o aluguer do camião está a custar 8 mil dólares. A obra encaminha-se para o final. Lá para Junho estará uma obra de reconstrução digna de ser vista, voltando o edifício à beleza que teve.

Próximo desta casa da missão, funciona a escola primária. Também foi recuperada, graças ao trabalho e empenho dos missionários. Uma empresa de petróleos financiou toda a obra. A escola está sob a direcção das irmãs Hospitaleiras da Imaculada Conceição. Tem cerca de duzentos alunos nas duas classes iniciais. A escola tem perspectivas para crescer e ser uma grande escola. Ainda no mesmo terreno da missão existem outros pequenos edifícios dispostos num vasto rectângulo que foram construídos pela MAG, para servir de apoio ao trabalho de desminagem. Foram construídos nos terrenos da missão com a condição de que, quando terminasse a desminagem, ficassem para a missão. Agora são estruturas de apoio à missão para encontros ligados à actividade pastoral.

Já depois do almoço celebrámos a eucaristia na igreja do Luau. Recordam-se da campanha “uma telha para a igreja do Luau”? Pois foi para esta igreja que se fez essa campanha. O telhado está recuperado, ou melhor, refeito. Mas ainda há muito trabalho pela frente. Os bancos são provisórios e improvisados. As janelas aguardam a colocação dos alumínios para evitar a entrada de chuva, como aconteceu enquanto celebrávamos. Contudo a igreja já sobressai no cimo de uma enorme praça. A torre e a frente estão recuperadas e pintadas de branco. Desapareceram as marcas dos bombardeamentos. O templo já exibe a sua beleza.

E assim pudemos inteirar-nos do grande trabalho de recuperação de edifícios levado a cabo pelos nossos missionários durante estes cinco anos. É um trabalho notável e digno de todas as menções.

O que sobrou do dia foi ocupado na reunião com a comunidade do Luau onde se partilhou todo o trabalho desenvolvido a nível pastoral e de recuperação das casas e se perspectivou o futuro do trabalho missionário nesta zona. Depois de mais de duas horas de reunião, recitámos as Vésperas e jantámos.

» Zeferino Policarpo, scj

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