Guerrear é contaminar…

A guerra fratricida na Ucrânia tem sugado completamente a nossa atenção. Neste momento, não há outro tema que nos absorva tanto e tão completamente como este. O Covid, que até há pouco tempo se mostrava de forma omnipresente e assustadora, parece ter-se tornado, de repente, numa memória e num acontecimento superado.

Em Portugal, houve ainda quem tentasse entreter-nos com os sismos e erupções em S. Jorge, mas definitivamente é a guerra que preenche o nosso imaginário de cada dia. Mesmo vivendo na outra ponta da Europa, sabemos que o conflito está agora demasiado perto de nós e sentimos cada vez mais as suas consequências na nossa vida.

Curiosamente, até ao momento, ainda não ouvi nada sobre o impacto ecológico desta guerra. Pode ser que seja um defeito meu, mas também não deve ter tido o destaque merecido nos noticiários e jornais diários. Em cada dia ouvimos falar de destruição de cidades e seus territórios envolventes. As imagens na televisão mostram-nos ruas e estradas transformadas em sucatas e ruínas. Vivemos sob a ameaça duma guerra nuclear – o que representaria um cenário apocalíptico de consequências imprevisíveis e duradouras –, mas já se fala em uso de armas químicas. Enfim, tudo aponta para uma desastrosa pegada ecológica nesse país, que já foi ferido pelo incidente de Chernobyl e cujas marcas dolorosas ainda se fazem sentir nos nossos dias. Como as fronteiras de um país são meramente linhas imaginárias e aquilo que acontece lá dentro tem repercussões cá fora, então é de prever que, pelo menos, os países em volta sofram com a degradação do ambiente, que se está a gerar na Ucrânia.

E o que dizer das populações civis? Abundam as imagens de homens e mulheres a chorar a morte dos seus familiares queridos. Sobejam os relatos de homens e mulheres a lamentar a destruição e a perda dos bens de toda uma vida, fruto tantas vezes do trabalho árduo aliado ao sonho de uma vida melhor. Fala-se também em massacres, valas comuns, violações, raptos e outras formas de violência. A isto acresce essa imensa multidão que se viu obrigada a deixar o seu país, sem que essa fosse a sua vontade. Pelo menos, numa situação de paz, não seria… Assim torna-se claro que uma crise ecológica é também uma crise humana e vice-versa, pois «não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental» (LS 139).

Uma guerra deixa feridas que demorarão muito tempo – demasiado tempo – a curar. Mesmo quando termine o conflito, essas marcas perdurarão por muitos anos, sob a forma de ódio, raiva, ressentimento, desejo de vingança…, transmitidas com fidelidade de geração em geração. Mas uma guerra é também um sintoma de uma doença do coração humano. A guerra não é a cura; a guerra é sempre a doença, na sua expressão mais agressiva e cruel.

José Domingos Ferreira, scj

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