Quaresma: tempo aceitável, tempo de conversão

O centro da vida cristã e de toda a celebração litúrgica na Igreja é a Páscoa da Ressurreição. Na eucaristia dominical, nas celebrações feriais, nas solenidades, nas festas, nas memórias dos Santos, nas celebrações dos Sacramentos, celebramos sempre a Morte e Ressurreição do Senhor. Mas a Igreja sempre deu especial realce à celebração anual do Mistério Pascal. Pelo menos desde o século III, essa celebração é precedida pela Quaresma. Orígenes, falecido em 253, já se refere a esse importante tempo de preparação para a Páscoa.

Costumamos chamar à Quaresma “tempo forte”, correndo o risco de supormos que, no ano litúrgico, há “tempos fracos”. Na verdade, toda a vida cristã há de ser uma Quaresma, uma constante conversão ao Evangelho, fruto da escuta e do confronto com a Palavra, da celebração dos Sacramentos e do apelo ao testemunho de uma caridade efetiva. Naturalmente tudo se intensifica no tempo da Quaresma.

O concílio Vaticano II quis dar algumas indicações precisas para este tempo litúrgico. Na Constituição sobre a Sagrada Liturgia (SC 109), indica a dupla índole da Quaresma: para os fiéis, é recordação do Batismo e, consequentemente, convite à conversão, à escuta da Palavra, à oração; para os catecúmenos é tempo depreparação para a Vigília Pascal e para os sacramentos da iniciação cristã, o Batismo, o Crisma e a Eucaristia, que nessa noite receberão.

O número 110 da Sacrossantum concilium especifica os dois modos de viver este tempo: o modo interior e pessoal, válido, mas não exclusivo, para não se cair no individualismo, e o modo exterior e social, com as consequentes obras de conversão e de reconciliação.

A Quaresma é, portanto, mistagogia para os fiéis (ensino através da experiência) e catequese para os catecúmenos. O percurso proposto pelo ciclo A, tradicional na Igreja antiga, e que ainda hoje se pode usar todos os anos, é obrigatório nos lugares onde houver catecúmenos.  Este ciclo foi preparado propositadamente para as propostas mistagógica e catequética.

Na Quaresma escutamos um apelo insistente à conversão e à vida batismal, que culmina na Vigília Pascal com a renovação das promessas do Batismo. Os consagrados, – sacerdotes, religiosos ou leigos – ao renovarem as promessas batismais, redescobrem  o sentido sempre novo da sua vocação e reafirmam a sua decisão de considerar a Deus como o “único necessário“, como único amor da sua vida.

A Igreja recomenda as tradicionais práticas da Oração, do Jejum e da Esmola para vivermos frutuosamente este tempo favorável. O Padre Dehon escreve: “Nosso Senhor ensina-nos os meios para alimentar e fazer crescer em nós o amor: esses meios são a oração, a meditação da Sagrada Escritura, a solidão, o jejum. Eram as ocupações de Nosso Senhor no deserto; era assim que o seu divino Coração se preparava para as tentações que decidira suportar para nosso ensinamento. Estas são também as virtudes que a Igreja nos convida a praticar durante o santo tempo da Quaresma, para crescermos no amor e na fortaleza, para iniciarmos uma vida nova ao celebrarmos os grandes mistérios da Redenção” (ASC 217s.).

Fernando Fonseca, SCJ

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