Quarta-feira de Cinzas

Hoje, Quarta-Feira de Cinzas, entramos mais uma vez no tempo da Quaresma. Para fazer o quê? A resposta é a mesma de sempre: para aprender a amar, simplesmente. Temos quarenta dias para aprontar os nossos corações para contemplar o amor (novo e diferente) de Jesus consumado nos dias da sua Paixão. Temos quarenta dias para acostumar os nossos olhos a contemplar a luz renovadora da Sua ressurreição. Temos quarenta dias para nos afeiçoarmos a uma nova regra de vida assente na liberdade, na vida abundante, no reconhecimento e no acolhimento da fragilidade que a todos nos une, na vocação comum à plenitude.

Quarenta dias: é muito pouco tempo, estamos demasiado afeiçoados! É verdade, somos tentados facilmente à violência e à intransigência, vemos pacificamente o ódio a alastrar, também no nosso coração, ficamos comodamente quietos ante tantos injustos ataques à dignidade da vida humana, receamos a mudança, a novidade, o diferente, o Outro.

Quarenta dias: é muito pouco tempo para aprender a amar, porque o que nos é pedido não vem de nós, mas de Deus e é um projeto para a vida toda.

Neste tempo, acolhemos de forma especial o Evangelho, a Palavra que nos aponta um horizonte maior do que aquele que conseguimos ver sozinhos, que nos convida a uma medida larga e generosa através de alguns gestos simples: jejuar, dar esmolas e rezar. Trata-se de pôr em prática, cada um no segredo da sua vida, a força do amor de Deus, reconciliando-nos, deste modo, com esse projeto de vida que Ele inscreveu no íntimo do nosso ser desde o momento em que sonhou connosco. Assim, a conversão, de que tanto ouviremos falar nestes dias, mais do que despojamento, é um caminho de enriquecimento, pessoal e comunitário, de saciação e inebriamento com a verdade, a beleza e a bondade dos dons que Deus nos concede cada dia para partilharmos uns com os outros.

Abre-se este tempo para cada um de nós. Abra-se cada um de nós a este tempo e à fecundidade que oferece às nossas vidas, aos nossos olhos, aos nossos corações. Continuemos, pois, a aprender a amar.

[Jorge André Magalhães, scj]

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