Quem fechou a torneira?

Um inverno mais quente e solarengo do que muitas primaveras. Uma ausência acentuada de chuva, precisamente na época onde ela costuma ser rainha. Imagens desoladoras de umas quantas barragens com pouca água, deixando à vista de todos um cenário triste e desolador. Um país à sede… A sede, felizmente, ainda não é humana, mas, pelo andar da carruagem, será de prever que se assista ao racionamento da água daqui a algum tempo. Um país em situação de seca…

Este quadro recente e que todos conhecemos bem diz-nos que as alterações climáticas não são conversa fiada, mas também não são um problema longínquo, que nunca chegará ao nosso território (o Covid supostamente também não chegaria…). As alterações climáticas são reais e têm consequências para todos: ninguém ficará imune e, até ao momento, não consta que alguém ande a construir uma arca de Noé, destinada a ser o único lugar seguro no mundo. Não nos devemos esquecer que «a água é um recurso escasso e indispensável, sendo um direito fundamental que condiciona o exercício doutros direitos humanos» (LS 185).

Este cenário perturbador diz-nos também que, se estamos a fazer alguma coisa para mitigar essas alterações, isso não chega e teremos de fazer ainda muito mais. A situação tende a agravar-se e tornar-se-á difícil não imaginar verdadeiras catástrofes também no nosso país, que deixará assim de ser “o paraíso à beira-mar plantado”. Convém recordá-lo mais uma vez: «o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos» (LS 30).

As conquistas do futebol e do futsal são saborosas e enchem-nos de alegria, mas não nos apagam a sede. E desta vez a linguagem não é simbólica nem figurada. «A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos. As fontes de água doce fornecem os sectores sanitários, agro-pecuários e industriais. A disponibilidade de água manteve-se relativamente constante durante muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta sustentável, com graves consequências a curto e longo prazo» (LS 28).

Por isso, é importante estar consciente que «uma maior escassez de água provocará o aumento do custo dos alimentos e de vários produtos que dependem do seu uso. Alguns estudos assinalaram o risco de sofrer uma aguda escassez de água dentro de poucas décadas, se não forem tomadas medidas urgentes. Os impactos ambientais poderiam afectar milhares de milhões de pessoas, sendo previsível que o controle da água por grandes empresas mundiais se transforme numa das principais fontes de conflitos deste século» (LS 31). Esta é uma questão que nos afectará a todos. Não vale enterrar a cabeça na areia…

José Domingos Ferreira, scj

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