Reaprender a adorar…

Na sua mais recente passagem por Portugal, no âmbito da impressionante Jornada Mundial da Juventude, o papa Francisco proferiu vários discursos nas suas aparições públicas. Na verdade, muitos se recordam ainda daquele «todos, todos, todos», que, desde então, tem pairado no nosso espírito como uma interpelação a uma Igreja mais aberta e acolhedora, uma Igreja onde cada pessoa possa descobrir o seu lugar.

Não obstante, queria chamar a atenção para a homilia das Vésperas do dia 02 de Agosto. Deste texto fantástico, que merece uma leitura atenta e pausada de todos nós, queria ressaltar aquilo que o Papa diz sobre a adoração, porque vem avivar uma chama que parecia estar a apagar-se. Eis então as suas palavras: «apenas na adoração, só diante do Senhor, é que recuperamos o gosto e a paixão pela evangelização. E, curiosamente, perdemos a oração de adoração; e todos, sacerdotes, bispos, consagradas, consagrados têm que a recuperar: recuperar aquele permanecer em silêncio diante do Senhor. A Madre Teresa, envolvida em tantas coisas da vida, nunca deixou a adoração, mesmo nos momentos em que a sua fé vacilava, questionando-se se tudo aquilo era verdade ou não».

Lamentando a perda da adoração na vida cristã, o papa Francisco dirige o nosso olhar para a Madre Teresa de Calcutá como modelo de mulher adoradora, no meio dos seus imensos afazeres quotidianos e lacerantes dúvidas interiores. Apontou para a Madre Teresa, mas podia ter apontado para o Padre Dehon, porque também ele intuiu muito bem a importância – e a necessidade – deste «permanecer em silêncio diante do Senhor».

No seu Testamento Espiritual, escrito durante os tristes dias da I Guerra Mundial, deixou-nos o seguinte: «a minha última palavra será para recomendar-vos ainda a adoração diária, a adoração reparadora oficial, que fazemos em nome da Igreja». Noutro lugar, escreveu que a adoração deve ser considerada como «uma missão pública, ao mesmo tempo honrosa e carregada de responsabilidade; missão que, para ser cumprida, tanto exige zelo como pureza e fidelidade» (DE 132).

Os filhos espirituais do Padre Dehon sabem que a adoração faz parte da sua missão, é um autêntico serviço de Igreja (Cst 31) e uma exigência da sua vocação (Cf. Cst 83). Sabem e experimentam em cada dia que este permanecer em silêncio diante do Senhor é uma forma sublime de aprofundar a sua união com Jesus. Sabem e experimentam em cada dia que este permanecer em silêncio diante do Senhor fomenta o gosto e a paixão pela evangelização. Sabem e experimentam em cada dia que este permanecer em silêncio diante do Senhor é imprescindível para que a nossa vida seja realmente uma missa permanente.

No mundo da velocidade furiosa e dos afazeres infindáveis, adorar não é desperdiçar tempo, mas é purificar essa gestão tão impura e idolátrica que fazemos dele…

José Domingos Ferreira, scj

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