Quando olho para trás procurando os alicerces que definam e sustentem a minha vida descubro vários. Para além do dom da família, da terra onde nasci, da igreja que me acolheu, descubro na fraternidade uma bússola que me conduziu ao sacerdócio e à missão em Madagáscar. Já como criança em catequese e sobretudo na adolescência fascinou-me a mensagem de Cristo que anunciava que todos somos irmãos. A passagem de vários missionários dos quatro cantos do mundo pelo seminário Pe. Dehon, em Rio Tinto, sublinhava em mim esta mensagem de um mundo como família.
Assim, a fraternidade vivida numa família de 4 irmãos e muitos primos/as, alargada numa experiência de seminário alegre e enriquecedora, cultivada nas comunidades dehonianos e experimentada numa cultura diferente como em Madagáscar levou-me a querer fazer das palavras de Cristo as minhas: “o meu irmão, minha irmã, minha mãe, são aqueles que procuram a vontade de Deus”.
Jesus disse aos seus discípulos que seriam suas testemunhas depois de três anos a fazer deles um grupo de “irmãos” que buscavam a vontade de Deus. Creio que o grande testemunho missionário que posso dar, por onde quer que passe, é ser fraterno e construir fraternidade com todos.
Dos 14 anos vividos em Madagáscar fico com esta certeza de ter vivido com gentes de quem me senti próximo, pela humanidade que partilhávamos, pelas dificuldades e doenças que atravessávamos, pelos projetos que sonhávamos juntos. Agradeço a todos os que viveram comigo esta missão e que me ajudaram a descobrir tanta riqueza na diferença, tanta beleza na diversidade e tanta fraternidade no serviço de uns aos outros.
“Anteontem” fui missionário em Madagáscar, “ontem” em Esgueira (Aveiro), “hoje” sou-o no Centro de Espiritualidade Betânia, em Duas Igrejas (Paredes) que quer ser lugar de acolhimento. Quero continuar a viver o meu testemunho de Cristo, não sozinho, mas em grupo, em comunidade, em igreja, e quero fazê-lo construindo laços fraternos com aqueles com quem vou trabalhar ou cruzar. Quero hoje inspirar-me em Betânia, aquela localidade perto de Jerusalém, que foi o lugar de uma larga e acolhedora fraternidade e amizade para Jesus.
O Serviço de Apoio às Missões (SAM) é também o lugar onde a fraternidade entre povos se pode realizar de uma maneira muito concreta através da generosidade que tantos grupos manifestam com os missionários dehonianos, sobretudo em Angola, Moçambique e Madagáscar. Como responsável deste serviço espero ajudar cada pessoa que contactamos (animadores, colaboradores e associados) a tornar-se testemunha de Cristo o nosso irmão mais velho.
Cristo fez-se nosso irmão e foi testemunha de Deus.
Possa eu ser vosso irmão para ser testemunha de Cristo
Padre Armando Baptista da Silva, scj