Solenidade do Pentecostes – Ano B [atualizado]

SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Tema da Solenidade de Pentecostes – Missa do Dia

Na Solenidade de Pentecostes a liturgia convida-nos a olhar para o Espírito Santo e a tomar consciência da sua ação na Igreja e no mundo. Fonte inesgotável de Vida, o Espírito, transforma, renova, orienta, anima, fortalece, constrói comunidade, fomenta a unidade, transmite aos discípulos a força de se assumirem como arautos do Evangelho de Jesus.

O Evangelho apresenta-nos a comunidade da Nova Aliança reunida à volta de Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva, recriada, renovada, a partir do dom do Espírito. Fortalecidos pelo Espírito que Jesus ressuscitado lhes transmite, os discípulos podem partir ao encontro do mundo para o transformar e renovar.

Na primeira leitura, o autor dos Atos dos Apóstolos apresenta-nos o Espírito Santo como a Lei Nova que orienta e anima o Povo da Nova Aliança. O Espírito faz com que homens e mulheres de todas as raças e culturas acolham a Boa Nova de Jesus e formem uma comunidade unida e fraterna, que fala a mesma língua, a do amor.

Na segunda leitura, Paulo apresenta o Espírito como fonte de Vida para a comunidade cristã. É o Espírito que concede os dons que enriquecem a comunidade e que fomenta a unidade de todos os membros. Por isso, os dons do Espírito não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos.

 

LEITURA I – Atos dos Apóstolos 2,1-11

Quando chegou o dia de Pentecostes,
os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar.
Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu,
um rumor semelhante a forte rajada de vento,
que encheu toda a casa onde se encontravam.
Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo,
que se iam dividindo,
e poisou uma sobre cada um deles.
Todos ficaram cheios do Espírito Santo
e começaram a falar outras línguas,
conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem.
Residiam em Jerusalém judeus piedosos,
procedentes de todas as nações que há debaixo do céu.
Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se
e ficou muito admirada,
pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua.
Atónitos e maravilhados, diziam:
«Não são todos galileus os que estão a falar?
Então, como é que os ouve cada um de nós
falar na sua própria língua?
Partos, medos, elamitas,
habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia,
do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília,
do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene,
colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos,
cretenses e árabes,
ouvimo-los proclamar nas nossas línguas
as maravilhas de Deus».

 

CONTEXTO

A obra de Lucas abarca dois “tempos” diferentes, duas etapas da “história da salvação”: o “tempo de Jesus” (Evangelho), e o “tempo da Igreja” (Atos dos Apóstolos). O “tempo de Jesus” é o “tempo” em que Jesus estava fisicamente presente no meio dos seus discípulos e andava com eles pelas vilas e aldeias da Palestina a anunciar o Reino de Deus; o “tempo da Igreja” é o tempo em que Jesus já voltou para o Pai e são os discípulos que assumem a missão de dar testemunho da salvação de Deus.

Os Atos dos Apóstolos situam-nos, portanto, no “tempo da Igreja”. O livro apresenta-nos os momentos principais dessa aventura missionária que leva a proposta de Jesus desde Jerusalém até aos confins do mundo (At 1,8). Os discípulos, no entanto, não percorrerão sozinhos este caminho: serão ajudados e orientados pelo Espírito Santo, conforme a promessa de Jesus (cf. At 1,5.8).

O “tempo da Igreja” começa em Jerusalém, logo depois da ressurreição/ascensão de Jesus. De acordo com o plano teológico de Lucas, foi em Jerusalém que a salvação de Deus irrompeu na história dos homens; e será a partir de Jerusalém que essa salvação se vai espalhar pelo mundo inteiro. O “pontapé de saída” nessa aventura que vai levar o Evangelho de Jesus ao encontro do mundo foi dado com a receção, pelos discípulos, do Espírito Santo.

No livro dos Atos, Lucas diz-nos que a comunidade de Jesus se encontrou com o Espírito Santo no dia em que os judeus celebravam a festa judaica do Pentecostes (em hebraico “Shavu’ot”). Essa festa (também chamada “festa das semanas” e “festa das primícias”) ocorria cinquenta dias após a Páscoa e era, antes de mais, uma festa agrícola: terminada a colheita dos cereais, os agricultores dirigiam-se ao Templo, ao som de música de flautas, para entregar a Deus os primeiros frutos da colheita (“bicurim”). Eram acolhidos com cânticos de boas vindas, entravam no templo e entregavam nas mãos dos sacerdotes os cestos com os frutos que tinham trazido. Mais tarde, contudo, a tradição rabínica ligou esta festa à celebração da “aliança” e ao dom da Lei, no Sinai; e, no séc. I, esta dimensão tinha um lugar importante na celebração do Pentecostes.

No que diz respeito ao texto que nos é proposto neste domingo como primeira leitura e que descreve os acontecimentos do dia do Pentecostes, não existem dúvidas de que é uma construção artificial, criada por Lucas com uma clara intenção teológica. Para apresentar a sua catequese, Lucas recorre a imagens, a símbolos, à linguagem poética das metáforas. Temos de descodificar os símbolos para chegarmos à interpelação essencial que a catequese primitiva, pela palavra de Lucas, quis deixar-nos. Uma interpretação literal deste relato seria, portanto, uma boa forma de passarmos ao lado do essencial da mensagem; far-nos-ia reparar na roupagem exterior, no folclore, e ignorar o fundamental. O interesse fundamental de Lucas, o nosso catequista, é apresentar a Igreja como a comunidade que nasce de Jesus, que é assistida pelo Espírito e que é chamada a testemunhar aos homens o projeto libertador do Pai.

 

MENSAGEM

O evangelista João conta que Jesus, no próprio dia em que ressuscitou, apareceu no meio dos discípulos reunidos e, soprando sobre eles, disse-lhes: “recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Este enquadramento responde ao objetivo da catequese do autor do Quarto Evangelho: dizer que o Espírito é um dom que Jesus ressuscitado oferece aos seus, antes de os deixar, a fim de que eles, animados pela força de Deus, possam ir ao encontro do mundo e dar testemunho do Reino.

Contudo Lucas, nos Atos dos Apóstolos, coloca o dom do Espírito no dia do Pentecostes (“quando chegou o dia do Pentecostes” – vers. 1), cinquenta dias depois da Páscoa. Porquê? Estamos diante de um dado histórico, ou de um dado teológico?

Ao situar o dom do Espírito no dia em que a comunidade judaica celebrava a aliança e o dom da Lei, no Sinai, Lucas não está a situar cronologicamente um acontecimento; mas está a sugerir que a comunidade nascida de Jesus é a comunidade da Nova aliança e que o Espírito será a sua Lei. O caminho que essa comunidade vai percorrer não será balizado por uma Lei externa, escrita em tábuas de pedra (como a Lei do Sinai); mas será desenhado pelo Espírito Santo que reside no coração dos discípulos. A comunidade nascida de Jesus e dirigida pelo Espírito é o novo Povo de Deus. Cumpre-se assim a promessa feita por Deus através do profeta Ezequiel: “dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um Espírito novo, arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Dentro de vós porei o meu Espírito, fazendo com que sigais as minhas leis e obedeçais e pratiqueis os meus preceitos” (Ez 36,26-27).

Lucas passa, depois, a narrar a manifestação do Espírito (vers. 2-4). O cenário dessa manifestação é enfeitado com dois símbolos bem expressivos: o “vento de tempestade” e o “fogo”. São os símbolos da revelação de Deus no Sinai, quando Deus propôs ao Povo uma aliança, deu-lhe uma Lei e constituiu-o como Povo de Deus (cf. Ex 19,16.18; Dt 4,36). Estes símbolos evocam a força de Deus que, de forma irresistível, entra na vida do seu Povo, transforma o coração do seu Povo, constitui a comunidade de Deus.

O Espírito (força de Deus, presença ativa de Deus) que desce sobre os discípulos apresenta-se na forma de “língua de fogo”. Porque é que o Espírito é apresentado, pelo autor dos Atos, nessa forma particular? A “língua” evoca a capacidade de comunicar, de estabelecer laços, de construir comunidade. “Falar outras línguas” é criar relações, é superar o gueto, a divisão, o egoísmo, a marginalização. Na velha história da “torre de Babel” (cf. Gn 11,1-9), o orgulho, a ambição desmedida, a autossuficiência, o egoísmo, levaram os homens à separação, ao desentendimento, à confusão das línguas, à incapacidade de comunicar e de colaborar em projetos comuns. Agora chegou um novo tempo: o Espírito que Deus derrama sobre os discípulos, em forma de línguas de fogo, vai inverter a história de Babel e fazer nascer um Povo novo, capaz de comunicar, de dialogar, de viver em comunhão.

É neste enquadramento que devemos entender os efeitos da manifestação do Espírito descritos pelo autor dos Atos dos Apóstolos (cf. At 2,5-13): os discípulos proclamavam o seu anúncio e cada uma das pessoas ali presentes os ouvia falar “na sua própria língua” (vers. 6). O elenco dos povos que, no dia de Pentecostes, escutaram os apóstolos e fizeram essa experiência de comunhão, inclui representantes de todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia, passando por Canaã, pela Ásia Menor, pelo norte de África, até Roma. Embora separados por barreiras de raça, de língua, de cultura, de geografia, todos esses povos vão poder escutar a proclamação “das maravilhas de Deus” (vers. 11). A expressão define o anúncio do Evangelho, fonte de Vida, de amor, de comunhão, de fraternidade e de salvação para todos. Os que se dispuserem a acolher esse anúncio, vão integrar a comunidade da salvação, onde se fala a mesma língua (a do amor). Sem deixarem a sua cultura, as suas diferenças, as suas realidades próprias, todos poderão experimentar essa comunhão que une por laços de família povos bem diferentes.

Essa nova comunidade é a Igreja de Jesus, o Povo da Nova Aliança, a humanidade nova: nascida do anúncio do Evangelho, juntará numa mesma família homens e mulheres de todas as raças e culturas, vivificados pelo Espírito; e o Espírito será, para esta comunidade, fonte perene de união, de amor e de liberdade.

 

INTERPELAÇÕES

  • Hoje, para o bem e para o mal, toda a gente fala da “Igreja” e tem opinião sobre a vida da “Igreja”. O que é a “Igreja”? Qual é a essência, a “alma” dessa realidade a que chamamos “Igreja”? O que é que ela pretende? Qual o seu papel no mundo? Temos, nesta catequese sobre os acontecimentos do dia de Pentecostes, os elementos essenciais para responder a estas questões. Segundo o autor dos Atos, a Igreja é uma comunidade de homens e de mulheres convocados por Jesus, que aderiram a Jesus e à sua Boa Nova; são animados, sustentados e dirigidos pelo Espírito Santo ao longo de todo o caminho que percorrem na história; têm por missão continuar no mundo a obra de Jesus: anunciar o Reino de Deus, lutar contra o mal, curar os que sofrem, testemunhar em palavras e gestos o amor de Deus, levar a todos os cantos da terra a salvação de Deus. Da escuta e do acolhimento da proposta que, em nome de Jesus, a Igreja apresenta ao mundo, resulta a comunidade universal da salvação, que vive no amor e na partilha, apesar das diferenças culturais e étnicas. Sentimo-nos, efetivamente, membros desta família? Identificamo-nos com ela? A “Igreja” de que fazemos parte é uma comunidade de irmãos que se amam, apesar das diferenças? Está reunida por causa de Jesus e à volta de Jesus? Tem consciência de que o Espírito está presente e que a anima? Testemunha, de forma efetiva e coerente, a proposta libertadora que Jesus deixou?
  • O relato do autor dos Atos dos Apóstolos quer claramente afirmar que o Espírito Santo foi o responsável pela mudança de atitude dos discípulos em relação à tarefa que lhes foi confiada por Jesus. Antes do Pentecostes, o grupo dos discípulos estava fechado dentro de quatro paredes, incapaz de superar o medo e de arriscar, sem iniciativa e sem a coragem de dar testemunho; depois do Pentecostes, aparece-nos uma comunidade unida, sem medo, que ultrapassa as suas limitações humanas e testemunha bem alto a sua fé em Jesus ressuscitado. O Espírito clarifica as coisas, varre o medo, abre as portas, limpa as teias de aranha que a passagem do tempo deixa acumular, aponta os caminhos que devem ser percorridos, esbate as diferenças e apresenta ao mundo uma Igreja com um rosto belo, renovado e corajoso. As nossas comunidades cristãs têm consciência do papel do Espírito na construção e na animação da Igreja? Damos suficiente espaço à ação do Espírito, em nós e nas nossas comunidades?
  • A Igreja reúne na sua “casa” gente muito diversa, vinda de realidades culturais, políticas e sociológicas muito diversas. Essa diversidade nunca deve ser vista como um problema, mas sim como uma imensa riqueza. Para se tornar cristão, ninguém deve ser espoliado da própria cultura ou da sua identidade: nem os africanos, nem os europeus, nem os sul-americanos, nem os negros, nem os brancos; mas todos são convidados, com as suas diferenças, a acolher esse projeto libertador de Deus, que faz os homens deixarem de viver de costas voltadas, para viverem no amor. A Igreja de que fazemos parte é esse espaço de liberdade e de fraternidade? Nela todos encontram lugar e são acolhidos com amor e com respeito – mesmo os de outras raças, mesmo aqueles de quem não gostamos, mesmo aqueles que não fazem parte do nosso círculo, mesmo aqueles que a sociedade marginaliza e afasta?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 103 (104)

Refrão 1: Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra.

Refrão 2: Mandai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a terra.

Refrão 3: Aleluia.

 

Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
A terra está cheia das vossas criaturas.

Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se mandais o vosso espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra.

Glória a Deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor.

 

LEITURA II – 1 Coríntios 12,3b-7.12-13

Irmãos:
Ninguém pode dizer: «Jesus é o Senhor»,
a não ser pela ação do Espírito Santo.
De facto, há diversidade de dons espirituais,
mas o Espírito é o mesmo.
Há diversidade de ministérios,
mas o Senhor é o mesmo.
Há diversas operações,
mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
Em cada um se manifestam os dons do Espírito
para o bem comum.
Assim como o corpo é um só e tem muitos membros,
e todos os membros, apesar de numerosos,
constituem um só corpo,
assim também sucede com Cristo.
Na verdade, todos nós
– judeus e gregos, escravos e homens livres –
fomos batizados num só Espírito,
para constituirmos um só Corpo.
E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.

 

CONTEXTO

O trabalho missionário de Paulo de Tarso, em meados do séc. I, levou o cristianismo ao encontro do mundo grego. Paulo, depois de um certo discernimento, tinha concluído que a proposta de Jesus era para todos os povos da terra e não exclusivamente para os judeus. No entanto, o contexto judaico – de onde o cristianismo era originário – e o contexto grego eram realidades culturais e religiosas bastante diferentes. Como é que a proposta cristã se aguentaria quando mergulhasse num mundo que funcionava com dinamismos que lhe eram estranhos? Iria a brilhante cultura grega absorver ou desvirtuar os valores cristãos? Como é que os cristãos de origem grega integrariam a sua fé na realidade cultural em que estavam inseridos? A comunidade cristã de Corinto sentiu toda esta problemática de forma especial. Na Primeira Carta aos Corintos, Paulo aborda diversas questões que lhe foram colocadas pelos cristãos de Corinto e onde, como “pano de fundo”, está a questão do encaixe dos valores cristãos nos valores da cultura grega.

Uma das questões onde esta problemática, de alguma forma, está presente é a questão dos “carismas”. A palavra “carisma” tem a sua origem no campo religioso cristão, especialmente na teologia paulina. Designa dons especiais do Espírito, concedidos a determinado indivíduo – independentemente do posto que ocupa na instituição eclesial – para o bem das pessoas, para as necessidades do mundo e, em particular, para a edificação da Igreja. Nas cartas de Paulo fala-se insistentemente em “carismas” que animavam a vida e o dinamismo das comunidades cristãs.

Alguns cristãos de Corinto, no entanto, influenciados por determinadas experiências religiosas que existiam na religião grega tradicional, entenderam os “carismas” de uma forma bem peculiar. Eles conheciam, por exemplo, os “oráculos”, através dos quais os deuses, servindo-se de intermediários humanos, transmitiam as suas indicações (santuário de Delfos, sacerdotisas de Dodona); conheciam também certos rituais em que os crentes, através do transe, de experiência orgiásticas, de excessos de vários tipos, se “fundiam” com o deus a quem prestavam culto (mistérios de Dionísio, culto de Cibele). Confundiram, portanto, os “carismas” cristãos com algumas dessas práticas pagãs; e, possivelmente, chegaram a fazer uso dos dons carismáticos em ambiente semelhante ao de certas cerimónias religiosas pagãs.

Mais ainda: considerando-se a si próprios “escolhidos de Deus”, alguns destes carismáticos reivindicavam um protagonismo que danificava a comunhão fraterna. Apresentando-se como “iluminados”, mensageiros incontestados das coisas divinas, assumiam atitudes de autoritarismo e de prepotência que não favoreciam a fraternidade; desprezavam os que não tinham sido dotados destes dons, considerando-os como “cristãos de segunda”, limitados a um lugar subalterno no contexto comunitário.

Tudo isto causou natural alarme na comunidade cristã de Corinto. Paulo, informado da situação, entendeu intervir para evitar abusos e mal-entendidos. Na Primeira Carta aos Coríntios, ele corrige, dá conselhos, mostra a incoerência destes comportamentos, incompatíveis com o Evangelho de Jesus. A sua intervenção neste campo aparece nos capítulos 12 a 14 da referida Carta. A nossa segunda leitura deste domingo insere-se neste contexto.

 

MENSAGEM

Paulo procura ajudar os coríntios a enquadrar os “carismas” de forma adequada, não apenas na dimensão da vida pessoal, mas também no contexto comunitário.

A primeira questão que Paulo aborda é a do critério fundamental para ajuizar da validade dos dons carismáticos. Não se pode confundir um “carisma” com certas atitudes que resultam da busca de protagonismo ou da salvaguarda de interesses pessoais. Segundo Paulo, o verdadeiro “carisma”, o que vem do Espírito, é o que leva a confessar que “Jesus é o Senhor” (vers. 3b). Se alguém, nas suas palavras ou nas suas atitudes, nega Jesus ou a sua autoridade sobre o mundo e sobre a história, é evidente que não está a falar ou a agir iluminado pelo Espírito Santo. Não pode haver oposição entre Cristo e o Espírito; qualquer manifestação que ponha em causa o essencial da fé, não vem do Espírito e não resulta de um “carisma” autêntico.

Depois, Paulo enumera os diversos carismas concedidos aos membros da comunidade; mas lembra que, apesar da diversidade de dons espirituais, é o mesmo Espírito que atua em todos; apesar da diversidade de funções, é o mesmo Senhor Jesus que está presente em todos; apesar da diversidade de ações, é o mesmo Deus que age em todos. Todos os carismas, por diversos que sejam, unificam-se no mesmo Deus uno e trino (vers. 4-6). Os “carismas” não dividem nem podem ser usados para dividir a comunidade. Eles unem os membros da comunidade à volta do mesmo Deus, do mesmo Senhor Jesus, do mesmo Espírito, da mesma experiência de fé. Um “carisma” que não é fator de unidade é um “carisma” falso.

Paulo garante também que os dons que o Espírito concede “a cada um” são “para o bem comum”, para benefício de todos (vers. 7). Estes dons não podem, portanto, ser usados para benefício próprio, para a promoção de si próprio, para melhorar a própria posição ou o próprio “ego”; eles são para o bem de toda a comunidade e só fazem sentido enquanto são postos ao serviço da comunidade.

Paulo conclui a sua reflexão aplicando a metáfora do “corpo” à comunidade. Como um “corpo”, a comunidade é formada por diversos membros, cada um com funções diversas; mas todos constituem um único “corpo”. A Igreja, “corpo” de Cristo também é formada por membros muito diversos (vers. 12), cada um deles com a sua função e a sua riqueza; mas todos os membros desse “corpo” foram batizados num único Espírito e todos bebem da mesma vida que lhes vem desse único Espírito (vers. 13). É o mesmo Espírito, fonte de Vida para todo o “corpo” que distribui os seus dons, fomenta a coesão, dinamiza a fraternidade e é o responsável pela unidade dos diversos membros que formam a comunidade.

 

INTERPELAÇÕES

  • Todos aqueles que integram a comunidade cristã são membros de um único “corpo”, o “corpo de Cristo”; todos aqueles que são membros do “corpo de Cristo” vivem e alimentam-se do mesmo Espírito; todos aqueles que se alimentam do mesmo Espírito formam uma família de irmãos e de irmãs, iguais em dignidade. Podem, naturalmente, desempenhar funções diversas, como acontece com os membros de um corpo; mas todos eles são igualmente importantes enquanto membros do “corpo de Cristo”. Tudo isto parece incontestável, à luz da doutrina de Paulo. No entanto encontramos, com alguma frequência, cristãos com uma consciência viva da sua superioridade e da sua situação “à parte” na comunidade (seja em razão da função que desempenham, seja em razão das suas “qualidades” humanas), que gostam de se fazer notar e de afirmar a sua autoridade ou o seu “estatuto”. Às vezes, veem-se atitudes de prepotência e de autoritarismo por parte daqueles que se consideram depositários de dons especiais; por vezes, ficamos com a sensação de que a estrutura eclesial funciona em modelo piramidal, com uma elite que preside e toma as decisões instalada no topo, e um “rebanho” silencioso que obedece instalado na base. Isto faz algum sentido, à luz da doutrina que Paulo expõe? Como entendemos o nosso lugar e o nosso papel na comunidade cristã?
  • Os dons que o Espírito concede, por mais pessoais que sejam, são para servir o bem comum e para reforçar a vivência comunitária. Quem os recebe deve pô-los ao serviço de todos, com humildade e simplicidade. Não faz sentido escondermos os “dons” que recebemos, guardando-os só para nós e deixando que eles fiquem estéreis; também não faz sentido usar os “dons” que recebemos de tal forma que eles se tornem fator de conflitos ou de divisões. Os “dons” que nos foram concedidos são postos ao serviço da comunidade? São fonte de encontro, de comunhão, de partilha, de Vida, para a comunidade de que fazemos parte?
  • O Espírito Santo é uma presença imprescindível no caminho que a Igreja vai percorrendo todos os dias: é Ele que alimenta, que anima, que fortalece, que dá Vida ao Povo de Deus peregrino; é Ele que distribui os dons conforme as necessidades e que, com esses dons, continuamente recria a Igreja; é Ele que conduz a marcha, que indica os caminhos a percorrer, que ajuda a tomar as decisões que se impõem para que a “barca de Pedro” chegue a bom porto. Temos consciência da presença do Espírito, procuramos ouvir a sua voz e perceber as suas indicações?

 

(Em vez desta leitura, pode escolher-se a leitura seguinte: Gálatas 5,16-15)

 

SEQUÊNCIA DO PENTECOSTES

Vinde, ó santo Espírito,
vinde, Amor ardente,
acendei na terra
vossa luz fulgente.

Vinde, Pai dos pobres:
na dor e aflições,
vinde encher de gozo
nossos corações.

Benfeitor supremo
em todo o momento,
habitando em nós
sois o nosso alento.

Descanso na luta
e na paz encanto,
no calor sois brisa,
conforto no pranto.

Luz de santidade,
que no Céu ardeis,
abrasai as almas
dos vossos fiéis.

Sem a vossa força
e favor clemente,
nada há no homem
que seja inocente.

Lavai nossas manchas,
a aridez regai,
sarai os enfermos
e a todos salvai.

Abrandai durezas
para os caminhantes,
animai os tristes,
guiai os errantes.

Vossos sete dons
concedei à alma
do que em Vós confia:

Virtude na vida,
amparo na morte,
no Céu alegria.

 

ALELUIA

Aleluia. Aleluia.

Vinde, Espírito Santo,
enchei os corações dos vossos fiéis
e acendei neles o fogo do vosso amor.

 

EVANGELHO – João 20,19-23

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou,
também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».

 

CONTEXTO

Jesus foi crucificado na manhã de uma sexta-feira – dia da “preparação” da Páscoa – e morreu pelas três horas da tarde desse dia. Já depois de morto, um soldado trespassou-lhe o coração com uma lança; e do coração aberto de Jesus saiu sangue e água (cf. Jo 19,31-37). O evangelista João vê no sangue que sai do lado aberto de Jesus o sinal do seu amor dado até ao extremo (cf. Jo 13,1); e vê na água que sai do coração trespassado de Jesus o sinal do Espírito (cf. Jo 3,5), desse Espírito que Jesus “entregou” aos seus e que é fonte de Vida nova. Da água e do sangue, do batismo e da eucaristia, nascerá a nova comunidade, a comunidade da Nova Aliança. Contudo, os discípulos que tinham subido com Jesus a Jerusalém e que seriam o embrião dessa comunidade da Nova Aliança, desapareceram sem deixar rasto. Estão escondidos, algures na cidade de Jerusalém, paralisados pelo medo. O projeto de Jesus falhou?

No final da tarde dessa sexta-feira, o corpo morto de Jesus foi sepultado à pressa num túmulo novo, situado num horto ao lado do lugar onde se tinha dado a crucificação (cf. Jo 19,38-42). Depois veio o sábado, o último dia da semana, o dia da celebração da Páscoa judaica. Durante todo aquele sábado o túmulo de Jesus continuou cerrado.

A partir daqui a narração de João muda de tempo e de registo. Chegamos ao “primeiro dia da semana”. É o primeiro dia de um tempo novo, o tempo da humanidade nova, nascida da ação criadora e vivificadora de Jesus. “No primeiro dia da semana”, Maria Madalena, a mulher que representa a nova comunidade, vai ao túmulo e vem de lá confusa e desorientada porque o túmulo está vazio (cf. Jo 20,1-2). Logo depois, ainda “no primeiro dia da semana”, Pedro e outro discípulo correm ao túmulo e constatam aquilo que Maria Madalena tinha afirmado: Jesus já não está encerrado no domínio da morte (cf. Jo 20,3-10). A comunidade de Jesus começa a despertar do seu letargo; começa a viver um tempo novo. Mas é preciso mais qualquer coisa para que os discípulos vençam o medo e assumam o seu papel enquanto comunidade da Nova Aliança. O que falta? Ao entardecer do “primeiro dia da semana” (ou seja, ao concluir-se este primeiro dia da nova criação) Jesus encontra-se com toda a comunidade reunida na casa onde se escondiam.

O texto do evangelho que a liturgia da Solenidade do Pentecostes nos apresenta descreve esse encontro entre Jesus ressuscitado e a sua comunidade.

 

MENSAGEM

João começa por descrever a situação em que estavam os discípulos antes de Jesus lhes aparecer: o “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo”, traduzem a insegurança e o desamparo que eles sentem diante desse mundo hostil que condenou Jesus à morte.

Mas de repente o próprio Jesus apresenta-se “no meio deles” (vers. 19b). O crucificado está vivo; a morte não o derrotou. Os discípulos já não estão órfãos, abandonados à hostilidade do mundo. Ao colocar-se “no meio deles”, Jesus ressuscitado assume-Se como ponto de referência, fator de unidade, fonte de Vida, videira à volta da qual se enxertam os ramos (cf. Jo 15,5). A comunidade está centrada em Jesus, apenas em Jesus. Ele é o centro onde todos vão beber a água que dá a Vida eterna.

A esta comunidade que se reúne à sua volta, Jesus transmite duplamente a paz (vers. 19 e 21). Não é apenas o tradicional cumprimento hebraico (“shalom”); significa, para além disso, que Jesus venceu tudo aquilo que assustava os discípulos: a morte, a opressão, a mentira, a violência, a hostilidade do mundo. Doravante os discípulos de Jesus não têm qualquer razão para viverem paralisados pelo medo. Estão em paz.

Depois (vers. 20a), Jesus mostra aos discípulos as mãos com a marca dos pregos e o lado que foi trespassado pela lança do soldado. Nesses “sinais” está, antes de mais, a prova da sua vitória sobre a morte e a maldade dos homens; mas também está a marca da sua entrega até à morte por obediência ao Pai e por amor aos homens. Neles está impressa, por assim dizer, a “identidade” de Jesus: é nesses sinais de amor e de doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses “sinais” indica a permanência do amor de Jesus: Ele será sempre o Messias que salva e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.

A esta “apresentação” de Jesus, os discípulos respondem com a alegria (vers. 20b): eles estão alegres porque Jesus está vivo; mas também estão alegres porque sabem que começou um tempo novo, o tempo em que a morte já não assusta, o tempo do Homem Novo, do Homem livre, do Homem que se encontrou com a Vida definitiva.

Em seguida, Jesus convoca os discípulos para a missão (vers. 21). Que missão? Precisamente a mesma que o Pai Lhe confiou a Ele: realizar no mundo a obra de Deus. Os discípulos concretizarão esta missão sempre em ligação com Jesus: eles são ramos ligados à videira/Jesus, pois só assim darão fruto (cf. Jo 15,1-8).

Para que os discípulos possam concretizar a missão, Jesus realiza um gesto inesperado, mas bem significativo: “soprou” sobre eles (vers. 22). O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus). Com o “sopro” de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a Vida nova, o Espírito Santo, que fará deles Homens Novos e que os capacitará para viverem como testemunhas do Ressuscitado. Trata-se, em boa verdade, de uma nova Criação. Da atividade de Jesus, do seu testemunho, do seu amor, do seu dom nasceu uma nova humanidade, capaz de amar até ao extremo, de dar a vida, de realizar a obra de Deus.

Poucas horas antes de morrer, naquela inesquecível ceia de despedida que fez com os discípulos na quinta-feira santa, Jesus tinha-lhes prometido que eles não ficariam sozinhos e que ia dar-lhes o Espírito Santo. Chamara-lhe, então, o “Espírito da Verdade”, o “Paráclito” (Jo 14,16.25; 15,26; 16,13); e garantira que esse Espírito ficaria sempre com eles (cf. Jo 14,16), lhes ensinaria tudo e lhes recordaria tudo o que o próprio Jesus lhes tinha dito (cf. Jo 14,26), os guiaria para a Verdade completa, lhes daria a conhecer tudo o que havia de vir (cf. 16,13). Agora, depois de ressuscitado, logo que se encontrou com os discípulos, Jesus cumpriu a sua promessa.

Animada pelo Espírito recebido de Jesus, a comunidade da Nova Aliança poderá agora começar a percorrer o seu caminho pela história. O “sopro” de Vida que Jesus transmitiu aos seus discípulos recriá-los-á a cada passo, revitalizá-los-á e dar-lhes-á a coragem para serem testemunhas do Evangelho até aos confins da terra.

 

INTERPELAÇÕES

  • Nos relatos pascais aparece sempre, em pano de fundo, a convicção profunda de que a comunidade dos discípulos nunca estará sozinha, abandonada à sua sorte: Jesus ressuscitado, Aquele que venceu a morte, a injustiça, o egoísmo, o pecado, acompanhá-la-á em cada passo do seu caminho histórico. É verdade que os discípulos de Jesus não vivem num mundo à parte, onde a fragilidade e a debilidade dos humanos não os tocam. Como os outros homens e mulheres, eles experimentam o sofrimento, o desalento, a frustração, o desânimo; têm medo quando o mundo escolhe caminhos de guerra e de violência; sofrem quando são atingidos pela injustiça, pela opressão, pelo ódio do mundo; conhecem a perseguição, a incompreensão e a morte… Mas, apesar de tudo isso, não se deixam vencer pelo pessimismo e pelo desespero pois sabem que Jesus vai “no meio deles”, oferecendo-lhes a sua paz e apontando-lhes o horizonte da Vida definitiva. É com esta certeza que caminhamos e que enfrentamos as tempestades da vida? Os outros homens e mulheres que partilham o caminho connosco descobrem Jesus, vivo e ressuscitado, através do testemunho de esperança que damos?
  • O Espírito Santo é o grande dom que Jesus ressuscitado faz à comunidade dos discípulos. Ele é o sopro de Vida que nos recria e que nos transforma, a cada instante, em pessoas novas. Sem o Espírito, seremos barro inerte e não imagem viva de Deus; sem o Espírito, ficaremos paralisados pelos nossos medos e pelos nossos comodismos, incapazes de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem o Espírito, ficaremos instalados no ceticismo e na desilusão, sem a audácia profética que transforma o mundo; sem o Espírito, esconder-nos-emos atrás de leis, de rituais, de doutrinas, e não passaremos de funcionários medíocres de uma religião sem alma e sem amor; sem o Espírito recairemos continuamente nos esquemas velhos e nos hábitos velhos, incapazes de nos deixarmos questionar pelos desafios sempre novos de Deus; sem o Espírito, ficaremos cada vez mais fechados dentro das paredes dos nossos templos, incapazes de ir ao encontro do mundo e de lhe levar a proposta de Jesus… Sem o Espírito, nunca teremos a coragem para continuar no mundo a obra de Jesus. No entanto, o Espírito só atua em nós se estivermos disponíveis para o acolher. Ele não se impõe nem desrespeita a nossa liberdade. Estamos disponíveis para acolher o Espírito? O nosso coração está aberto aos desafios que o Espírito constantemente nos lança?
  • São bem sugestivos os nomes com que Jesus, na última ceia, designa o Espírito prometido: “Espírito da Verdade” e “Paráclito”. Ele é “Espírito da Verdade” porque nos traz, a cada passo a Verdade de Deus, uma Verdade que o mundo precisa escutar e que os discípulos de Jesus devem testemunhar sem tibiezas; Ele é “Paráclito” (“aquele que consola ou conforta”; “aquele que encoraja”; “aquele que intercede”; “aquele que defende”) porque nos dá a força e a coragem para enfrentar as tempestades e as incompreensões do mundo. Não caminhamos “sem rede” e sem rumo, entregues à nossa sorte, tropeçando a cada passo na obscuridade e na incerteza; caminhamos com o Espírito que nos aponta a Verdade, que nos mostra o caminho, que nos encoraja e fortalece a cada passo. Confiamos no Espírito da Verdade que Jesus nos deixou e deixamo-nos guiar por Ele? Sentimo-nos confiantes e serenos no caminho, certos de que o Paráclito nos defenderá e nos dará a força para vencer a maldade e a morte?
  • A ação do Espírito Santo não se circunscreve às fronteiras institucionais da Igreja. Ele está presente nos corações de todos os homens e mulheres de boa vontade, crentes ou não crentes, que se dispõem a lutar por um mundo mais belo, mais justo e mais humano. Podemos perceber a presença e a ação do Espírito em tantos e tantos gestos de bondade, de amor, de partilha, de serviço, de perdão, de cuidado, de acolhimento que vão acontecendo por todo o lado e são sementes de um mundo novo. A contemplação desses gestos, sinais vivos do Espírito, deve ser, para nós, fonte de alegria e de esperança. Temos reparado nos sinais de vida nova que vão brotando por todo o lado e que sinalizam a presença e a ação do Espírito no mundo? Sentimo-nos gratos a Deus por tudo o que Ele vai fazendo no mundo, mesmo quando a sua ação se concretiza através de homens e mulheres que têm uma posição diferente da nossa quanto à fé ou quanto à forma de encarar a vida?

 

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DO PENTECOSTES

(adaptadas, em parte, de “Signes d’aujourd’hui”)

 

1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo do Pentecostes, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…

 

2. EVIDENCIAR OS CARISMAS.

O Pentecostes é a festa do nascimento da Igreja. Seria, pois, importante fazer uma liturgia em que aos variados carismas pudessem aparecer. Seria necessário pensar em fazer-se apelo aos talentos de leitores, de salmista, de músico, de diretor do canto, de decorador, etc… Importa que a assembleia apareça como una e diversa.

 

3. NÃO OMITIR A SEQUÊNCIA.

Não omitir a sequência de Pentecostes depois da segunda leitura e antes da aclamação ao Evangelho. Pode ser lida por duas pessoas (com um fundo musical) ou, melhor ainda, cantada.

 

4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

 

No final da primeira leitura:

Bendito sejas, Deus de luz e de vida, sopro criador e fogo de amor. Nós Te louvamos pelo dom do teu Espírito, que chama todos os povos da terra a proclamar, cada um na sua língua, as maravilhas da tua bondade.

Nós Te pedimos por todos os membros do teu Povo: torna-nos recetivos às múltiplas linguagens dos nossos irmãos e confiantes no teu espírito de unidade.

 

No final da segunda leitura:

Nós Te bendizemos, Pai, pelo novo corpo do teu Filho, que é a Igreja, e nós Te damos graças por nos teres permitido ser os seus membros, cada um na sua parte e na diversidade das funções confiadas.

Nós Te pedimos, Espírito Santo, Tu que ages em nós para o bem de todos: nós acolhemos o teu sopro; manifesta em nós a tua presença.

 

No final do Evangelho:

Nós Te damos graças, Pai, pela maravilha realizada por Jesus ressuscitado, porque Ele deu nova força aos seus apóstolos, tirando-os do medo e da paralisia, comunicando-lhes o sopro da sua ressurreição.

Nós Te suplicamos: que a tua Paz esteja connosco, por Jesus, vencedor de todas as formas de morte, e pelo teu Espírito, que é perdão e santificação.

 

5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se escolher a Oração Eucarística III, que contém uma oração própria para o Pentecostes e que evoca o Espírito…

 

6. PALAVRA PARA O CAMINHO.

Tempestade! Fogo! Portas arrombadas! O Pentecostes é a irrupção do Espírito Santo na vida dos discípulos que vão deixar-se transformar em todas as dimensões do seu ser. O Pentecostes continua! Mas não estamos muitas vezes, face a este Espírito Santo, como diante de uma ameaça nuclear? Ousamos, enfim, deixar-nos irradiar por Ele sem qualquer proteção?

 

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA

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José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo Freire, António Monteiro
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