angola: ecos de uma visita

Introdução

Há muito tempo que, na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, se fala da fundação de uma missão em Angola.
Na Província Portuguesa, esta ideia vem já dos anos 1990, mas a guerra civil em Angola, por um lado, e o empenhamento da Província em Madagáscar, por outro, impediram a sua concretização, apesar de ela figurar sempre nos programas provinciais. O projecto tem vindo a ser também debatida também nas Províncias SCJ de Moçambique e da Itália e, mais recentemente, dos Camarões.
Os recentes acontecimentos político-militares em Angola, com a morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi e a implementação do processo de paz, que é geralmente encarado como verdadeiramente consistente e definitivo, vem dar um novo carácter de oportunidade ao projecto de presença dehoniana em Angola. Com a chegada da paz, novos horizontes se rasgam para o martirizado povo angolano. É também um sinal dos tempos, que apela para a nossa colaboração.
Assim, de 06 a 21 de Agosto de 2002, o Pe. Onorio Matti, Superior Provincial de Moçambique e o Pe. José Ornelas Carvalho, Superior Provincial de Portugal, estiveram em Angola, com o objectivo de recolher informações e realizar contactos com os responsáveis da Igreja angolana, de modo a apresentar um projecto concreto aos Capítulos das nossas Províncias, que sobre ele se devem pronunciar.
As dificuldades de comunicações limitaram a visita às dioceses de Luanda e Luena, mas, ainda assim, foi uma experiência muito enriquecedora para nós e útil para os objectivos que nos tínhamos proposto.
Em todo o lado encontrámos um acolhimento muito fraterno e encorajador, de uma Igreja com muitas carências, mas também com enorme vitalidade, com sinais muito promissores de desenvolvimento e aberta à colaboração e solidariedade de outras igrejas, num intercâmbio fraterno que a todos enriquece.
Para além do acolhimento caloroso dos bispos das dioceses visitadas, contámos com o simpático e utilíssimo apoio de religiosos/as ali presentes, particularmente os padre espiritanos e as irmãs de Jesus Maria e José, que foram nossos guias, não só nas deslocações, mas também na compreensão da realidade local. Que o Senhor lhes pague este serviço amigo e abençoe o seu trabalho.

 

Luanda
Luanda tem uma população estimada entre 3,5 e 4 milhões de habitantes, o que corresponde a cerca de um terço da população do país. A periferia da cidade cresceu muito e de forma desordenada, particularmente durante os últimos anos, com o afluxo de muita gente do interior, que fugia da guerra. Aqui as carências sociais são imensas, em todos os domínios: saúde, educação, sanidade básica, pobreza, embora tudo se encontre numa situação de repensamento e reestruturação.
Uma breve visita a estes subúrbios é suficiente para se dar conta das enormes dimensões deste drama humano, bem como to tempo que levará a dar condições mínimas de dignidade a estas pessoas. E, no entanto, é também claro o futuro de Angola passará, em larga medida, pela solução destes problemas e pela participação destas populações na vida nacional.
De acordo com o arcebispo de Luanda, D. Damião Franklin e seu auxiliar, D. Anastácio, a grande prioridade pastoral da arquidiocese encontra-se precisamente nestes bairros da periferia, com paróquias de centenas de milhares de habitantes que, apesar do seu dinamismo e do empenhamento dos agentes pastorais, clérigos, religiosos e leigos, sentem as maiores dificuldades para oferecer uma assistência religiosa que sirva de referência às pessoas, particularmente aos jovens, na sua maioria oriundo do interior, e que se sentem perdidos na grande metrópole.
É nestes ambientes que nos foram feitas as propostas para uma possível colaboração futura. É realmente um enorme campo, aberto às mais diversas iniciativas, tanto de carácter pastoral, como de natureza social e de ajuda ao desenvolvimento, particularmente das camadas mais jovens e que carece de trabalhadores generosos, dispostos a fazer a opção evangélica pelos mais pobres e a trilhar fraternamente, com eles, o caminho da dignificação e da fé.

Luena
Luena (Lwena), antiga cidade de Luso, é a capital da província do Moxico, no planalto central, a uma altitude de cerca de 1.300 metros. Com a guerra, a cidade ficou isolada, por via terrestre e acessível apenas por via aérea, o que torna a vida muito cara. Esta situação deve, porém, evoluir rapidamente, pois já há projectos para reconstruir as pontes destruídas.
Moxico foi a província onde teve início a guerra civil, onde se travaram muitos dos mais duros combates e também onde teve fim a guerra, com a morte de Jonas Savimbi (sepultado em Luena) e onde começou o processo de paz, cujos acordos foram assinados na cidade, a 4 de Abril de 2002.
Durante a guerra, apenas se podia circular na cidade e num raio de cerca de 8 a 20 quilómetros, conforme o evoluir das hostilidades. Estas zonas foram meta de concentração de refugiados, que foram construindo bairros nas imediações, com todas as carências que se podem imaginar, subsistindo apenas graças aos programas de ajuda humanitária.
Nos últimos anos, ambos os contendores procuraram minar os campos em redor das cidades inimigas, como forma de obrigar os adversários à rendição. A desminagem é uma tarefa prioritária para garantir o regresso à actividade económica.
A ajuda alimentar constitui, neste momento, um dado prioritário. É o pão da reconciliação, sem o qual, o processo de paz pode ser posto em causa, nos grandes campos de aquartelamento dos militares e nos campos de refugiados. E, nesta província, mesmo às portas da cidade, a dramática realidade está bem patente, nos numerosos campos para civis e nos 4 acampamentos para militares da UNITA.
A diocese tem cerca de 200.000 Km2, mais de 2 vezes a superfície de Portugal, embora a população seja avaliada em cerca de 500.000 habitantes. O pessoal missionário é constituído por 11 padres, dos quais 3 diocesanos e 10 religiosas.
A nossa visita coincidiu também com a passagem da imagem da Senhora de Fátima peregrina, que está a passar por todas as dioceses, como acção de agradecimento pela paz. O bispo referiu-nos tudo isto como sinal de esperança para a diocese e como sinal também para a nossa decisão.
Com a guerra, foram encerradas todas as missões fora da cidade, com excepção da de Moxico Velho, assistida, quando possível, pelo beneditino Pe. Estêvão. Agora, pode-se circular livremente, desde que as estradas o permitam.
Foram feitos os primeiros contactos com as missões ao longo do caminho de ferro, até Luau, na fronteira do Congo, a cerca de 360 km de Luena. As comunidades sobreviveram e esperam contactos com um padre, mas a diocese não tem quem enviar.
Para sul, até uma dis
tâncias 500 e 600 km, atingindo a fronteira da Zâmbia e da província de Menongue, havia muitas outras missões, com as quais não foi ainda possível contactar. Chegaram alguns catequistas a pedir que o bispo enviasse um padre, "pelo menos para nos confessar um pouco…". A grande urgência da diocese está precisamen-te nestas missões encerradas.
O bispo ficou muito esperançado na vinda de dehonianos, que enriqueceriam a diocese com outro instituto religioso e o ajudariam a reabrir alguma(s) das missões encerradas, a começar pelas do norte. Sensibilizou-nos e emocionou-nos profundamente esta diocese, com o seu bispo, na sua pobreza cheia de esperança e de generosidade. Mais do que uma vez dissemos um ao outro que gostaríamos de voltar para trabalhar nesta igreja.

Luena é o exemplo do que acontece com algumas dioceses do interior de Angola, que foram especialmente atingidas pela guerra e estão numa situação de grande carência de pessoal missionário, para reabrir as missões encerradas há 20 e 30 anos, onde as comunidades cristãs continuam vivas, graças à sua fé, sustentada pelo zelo de inúmeros catequista, muitos dos quais pagaram com a vida a sua dedicação ao evangelho. Estão particularmente nesta situação as dioceses da Lunda Norte e Menongue, a norte e a sul de Luena respectivamente.

Informações Gerais
Geografia

Angola situa-se na costa ocidental da África a sul das duas repúblicas do Congo, a norte da Namíbia e a ocidente da Zâmbia. Tem uma área total de 1.246.700 km2, e 1600 Km de costa atlântica.

População

Avaliada em 10 milhões de habitantes
0-14 anos: 43.31%
15-64 anos: 53.98%
mais de 65 anos: 2.71%
Mortalidade infantil
193,72 mortos/1,000 natos vivos
Esperança de vida
38,59 anos

Principais religiões

Religiões Tradicionais: 47%
Católicos: 38%
Protestantes: 15%

biblioteca naturais e economia

Angola é um país rico em biblioteca naturais. O petróleo abunda em Cabinda e na zona costeira do norte. Os diamantes são explorados particularmente nas províncias da Lunda Norte e Lunda Sul. Além disso, a maior parte do território apresenta excelentes condições para a agricultura. Hoje, devido a decénios de guerra e à desorganização das estruturas governamentais, o país é contado entre os mais pobres do planeta. As estradas não funcionam, grande parte dos campos encontra-se minada e a fome grassa entre a população. Com a instauração da paz, abrem-se novos espaços à esperança da reconstrução.

 

Pe. José Ornelas Carvalho, SCJ

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