ESPÍRITO DEHONIANO

Leão Dehon – MEDITAÇÃO PARA O NATALNascimento de Nosso Senhor

“Anuncio-vos uma grande alegria, nasceu-vos hoje um Salvador” (Lc 2,10). Alegrámo-nos pelo amor de Deus por nós, amor infinito que foi testemunhado pela criação e pela incarnação. A alegria dilata o coração. Os nossos corações iam com alegria ao encontro do amor de Deus mais intenso. Mas eis um novo motivo de alegria para nós e um novo título para Deus ao nosso amor: Nosso Senhor manifestou-nos, em Belém, este Coração amante que Ele tinha assumido na incarnação: “Eis uma nova e grande alegria, um Salvador nasceu para vós”.

Nosso Senhor no estábulo manifesta-nos o seu Coração

Sim, o Salvador nasceu. Ele nasceu por nós, para nos abrir o Céu, nossa pátria, da qual nós tínhamos sido banidos em punição dos nossos pecados. Mas para que a gratidão nos leve a amar mais o nosso Redentor, consideremos um pouco as circunstâncias nas quais o Coração de Jesus quis manifestar-se a nós.

Primeiro, Ele veio de Nazaré até Belém unindo-se ao ato de obediência dos seus pais e sofrendo com eles a fadiga e as intempéries. Mas Belém vai, porventura, acolhê-lo como uma cidade acolhe um rei? Não, Ele é, juntamente com os seus, desprezado, injuriado, rejeitado: “veio para o que era seu, mas os seus não o acolheram” (Jo 1,11). Mesmo a hospedaria, que teria sido muito penosa para Maria, não se abre para os receber: “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). É preciso, portanto, procurar algum abrigo fora dos muros. Eles avançam na escuridão, giram, tornam a girar, procuram alguém: finalmente recebem uma gruta cavada num rochedo abaixo da cidade. Era uma escavação feita em forma de caverna que servia de abrigo para os animais. Maria pede para entrar lá. José hesita. Mas Maria tem, sem dúvida, uma luz sobrenatural para se deter nesta escolha. Ela sente que este estábulo é o palácio onde o Filho Eterno de Deus quer vir ao mundo, onde o Coração infinitamente amante de Jesus quer manifestar-se.

Eh! Que terão dito os anjos ao verem entrar a Mãe de Deus nesta gruta para aí dar à luz o Rei dos reis? Eles devem ter-se admirado, não conhecendo ainda todos os desígnios do Coração de Jesus.

Entretanto, Maria coloca-se em oração. De repente, ela vê uma grande luz, o seu coração estremece de uma alegria celeste. Ela baixa os olhos. Ó Céus! Que é que ela vê? Ela vê no chão um Menino tão belo, tão amável que encanta; mas ele treme, chora, estende as mãos para a sua Mãe, para lhe mostrar que quer que ela o tome nos seus braços. Ela chama José, ele entra e prostra-se no chão, chora de alegria. Maria leva sobre o seu coração e aos seus lábios este Menino querido, e assim se cumpre o primeiro abraço de Deus com o homem na paz e na reconciliação. Depois Maria reclina no presépio este querido Menino revestido com faixas.

Ah! Nós gostaríamos de aqui ver toda a terra vir adorar o seu Rei e dar graças ao seu Redentor. Mas não, ninguém está pronto para responder ao seu apelo. “Ele está no mundo e o mundo não o conhece”. Os anjos virão, sozinhos, adorar o seu Soberano Mestre. Vêm em grande número e cantam com alegria: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens de boa vontade” (Lc 2,14).

Sim, glória e amor a Deus que enviou o seu Verbo para se fazer pobre, para suportar os sofrimentos e os desprezos, para expiar as nossas avidezes e nos obrigar a amar. Amor e gratidão ao divino amor que obrigou um Deus a fazer-se Menino pobre, humilde, a levar uma vida difícil para mostrar aos homens o afeto que lhes trazia e para ganhar o seu amor!

Verdadeiramente nós vemos no estábulo um Deus que é a própria sabedoria, transportado por amor pelos homens por assim dizer até à loucura.

Jesus Menino convida-nos à confiança

Escutemos agora os apelos deste divino Menino à confiança: «Eu sou, diz, a flor dos campos e o lírio dos vales» (Cant). Ele chama-se a flor dos campos porque é acessível a todos (Card. Hugues). As flores dos jardins estão reservadas e fechadas entre os muros; não é permitido colhê-las, e nem sequer vê-las, a todos. As flores dos campos, pelo contrário, estão expostas aos olhares de todos. É assim que Jesus quer estar à nossa disposição.

Entremos, portanto, na gruta, a porta está aberta; não há guardas. Jesus escolheu esta gruta aberta para palácio e Ele aí está sob a forma de um menino para atrair a ele com confiança todos os que se apresentem. A gruta está toda aberta, sem guardas e sem portas, de modo que cada um pode aí entrar à sua vontade em qualquer tempo, para ver este Rei Menino, falar-lhe e mesmo abraçá-lo, se o ama e o deseja.

Entrai, portanto, na gruta; vede sobre este presépio, sobre este pouco de palha, este terno Menino que chora. Vede como é belo, vede a luz que ele espalha, o amor que inspira, os olhos lançam setas de fogo nos corações; o próprio estábulo, o próprio presépio, tudo vos grita para irdes com confiança ter com aquele que vos ama tanto. Ide com amor confiante ter com este Deus que desceu dos céus, se fez Menino, se fez pobre para vos mostrar o amor que vos traz e ganhar o vosso coração pelos sofrimentos que o seu suporta por vós.

Vede, por sua vez, os anjos que vos convidam à confiança. Aproximai-vos sem medo. É um Deus de paz, é o Emanuel, é a paz em pessoa (Miq).  Deus que em Cristo reconciliava o mundo consigo (2 Cor 5,19). Aqui Deus já não é um juiz irritado, é um pai, um mesmo irmão e um amigo. Aproximai-vos em paz e com confiança. O Coração de Deus é-vos aberto no Coração de Jesus.

Dediquemos uma doce confiança ao Coração de Jesus Menino

Esta confiança na bondade de Jesus Menino deve tornar-se para nós a confiança no Coração de Jesus. Todos os mistérios permanecem no Coração de Jesus. Ele apresenta-nos o próprio céu e, particularmente na santa Eucaristia, as amabilidades, a simplicidade e os sacrifícios do seu nascimento. Ele pede-nos a mesma confiança que pediu a Maria e a José. É sob esta condição que a nossa oblação lhe agradará.

Durante o tempo do ano litúrgico consagrado ao mistério da santa Infância, vamos com confiança ter com o divino Menino a Belém. Parece que ele nos estende os braços. A comunhão no mistério de Belém é uma união de confiança e de amor. O Coração de Jesus Menino parece que nos grita para que vamos ter com Ele com confiança. Que aqueles que têm particularmente necessidade desta confiança se detenham de preferência neste mistério. Será sempre fácil dar o seu coração com tanta simplicidade e tanto amor. O Coração de Jesus Menino não quer que nós tenhamos medo dele. Para nós, ele só tem graças e bondades (Tit 2,11). “O Salvador é muito amável e bom” (Tit 3,4).

Eu uno-me à piedosa e humilde adoração dos pastores de Belém. Eu dedico uma doce confiança ao Coração do divino Menino. A sua doçura e a sua amabilidade cativaram o meu coração.

in Leão Dehon, Coroas de Amor, 211-214

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