GRÃO DE TRIGO

COMPADECE-TE TAMBÉM DE TI MESMO… José Domingos, scj

Vivemos tempos difíceis e perturbadores! O nosso mundo sangra de dor e de sofrimento em muitos lugares. A cada hora que passa somos inundados com vozes, olhares e silêncios que reclamam um pouco da nossa compaixão. São pessoas vítimas da guerra, da fome e da sede, do tráfico humano, de inúmeras formas de abuso, mas também da falta de afeto e de uma palavra amiga…

A compaixão, que significa “sofrer com”, é um sentimento que nos aproxima de quem está a sofrer. Sentir compaixão por alguém é não ser indiferente à sua dor; é reconhecer que todos estamos no mesmo barco; é sentir ternura por quem dela mais precisa. A compaixão é uma força poderosa que liberta de emoções tóxicas, como o ódio ou o ressentimento, e nos situa num nível existencial mais saudável.

Estamos mais habituados a ouvir falar de compaixão para com os outros, mas é também muito importante aprender a sentir compaixão por si mesmo, particularmente quando os anos vão avançando e se começa a sentir a falta daquelas forças que dantes nos faziam superar todas as adversidades. A compaixão por si mesmo não se confunde com egoísmo, mas é a aceitação pacífica das nossas limitações e vulnerabilidades, sem acumular azedume nem tristeza.

Esta compaixão por si mesmo traduz-se em atitudes concretas, que lhe dão o seu verdadeiro sabor. Em primeiro lugar, ela expressa-se em sentimentos incondicionais de aceitação e de amabilidade por si próprio perante acontecimentos e circunstâncias difíceis. Quem é amável consigo mesmo não se culpabiliza de forma injustificada. Quem é amável consigo mesmo consegue adotar uma perspetiva objetiva perante aquilo que está a viver. Quem é amável consigo responde com compreensão às dificuldades e ao fracasso, substituindo a dureza da autocrítica pela consolação paciente.

Em segundo lugar, a compaixão por si mesmo ajuda-nos a crescer na consciência da pertença a uma humanidade comum. Isto significa que podemos ver as nossas experiências pessoais como parte de uma experiência humana de maior amplitude. A nossa tentação é pensar que o sofrimento só nos toca a nós e, portanto, decidimos afastar-nos dos outros. Pelo contrário, a compaixão ajuda-nos a ver “a dor e o fracasso como próprio de uma humanidade partilhada, com a qual nos sentimos estreitamente conectados e identificados” (E. Pallarés).

Finalmente, esta compaixão remete-nos para uma atitude de aceitação e de desapego perante as experiências difíceis, sem nos agarrarmos ao nosso sofrimento e aos pensamentos negativos. O caminho passa por prestar atenção total à experiência presente, evitando ao máximo julgar o que aconteceu. Por outras palavras, trata-se de aprender a aceitar a experiência presente, tanto a dor como o prazer, sem se identificar excessivamente com ela.

Em suma, esta compaixão por si mesmo não está dependente da forma favorável ou não como nos vemos a nós próprios. No entanto, ela torna-se mais intensa e necessária quando as circunstâncias nos fazem sentir diminuídos na nossa perceção de competência ou valor.

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