Nossa Senhora Medianeira de todas as Graças

(Próprio da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus – Dehonianos)

 
           
Em 1921, Bento XVI, a pedido do Cardeal Mercier, concedeu à Bélgica o ofício e a missa da Bem-aventurada Virgem Maria “Medianeira de todas as graças”, a celebrar no dia 31 de Maio. Depois, a Sé Apostólica concedeu o mesmo ofício e missa a numerosas dioceses e congregações religiosas. Daí que a memória da Bem-aventurada Maria Medianeira se tenha tornado quase universal. A Virgem Maria é Medianeira de graça, porque foi associada a Cristo na aquisição da graça maior, a Redenção, isto é, a salvação, a vida divina e a glória eterna (cf. LG 61).
 
 
Lectio
 
 
Primeira leitura: Ester 8,3-8.16-17
 
Ester voltou de novo à presença do rei e falou-lhe. Prostrada a seus pés a chorar, suplicava-lhe que impedisse o efeito das maldades de Haman, o agagita, e a realização dos seus planos contra os judeus. 4O rei estendeu o ceptro de ouro a Ester, que se pôs de pé diante dele 5e lhe disse: «Se ao rei parecer bom e justo, e se encontrei favor, e for agradável aos seus olhos, que se revoguem por escrito as cartas que Haman, filho de Hamedata, o agagita, propôs e redigiu para exterminar os judeus de todas as províncias do rei. 6Como poderia eu ver a desgraça que espera o meu povo, e como poderia assistir ao extermínio da minha gente?» 7O rei Assuero respondeu à rainha Ester e ao judeu Mardoqueu: «Eu dei a Ester a casa de Haman, e esse homem foi enforcado por levantar a mão contra os judeus. 8Escrevei, portanto, vós mesmos, em favor dos judeus, como bem vos parecer, em nome do rei, e selai as cartas com o selo real, porque toda a ordem escrita em nome do rei e selada com o seu selo é irrevogável.» 16Houve para os judeus felicidade, alegria, luz e cantos de triunfo. 17Em cada província, em cada cidade, onde quer que chegasse o édito real, houve entre os judeus gozo, banquetes e regozijo. E muitos de entre os povos do país fizeram-se judeus, tal era o temor que estes lhes inspiravam.
 
Ester, vendo-se em perigo de morte, juntamente com o seu povo, busca refúgio em Deus. Sabe que Israel é o povo eleito e a herança de Deus. Sabe que o Senhor fez promessas gratuitas aos patriarcas e que sempre as cumpriu com fidelidade. E pede a Deus que lhe conceda palavras oportunas e adequadas para enfrentar Assuero, de modo que o seu ódio contra os judeus se vire contra Amã e contra os persas. A oração da rainha, como escutamos no nosso texto, foi acolhida por Deus, que a salvou a ela e ao seu povo.
 
Evangelho: João 2, 1-11
 
Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. 2Jesus e os seus discípulos também foram convidados para a boda. 3Como viesse a faltar o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: «Não têm vinho!» 4Jesus respondeu-lhe: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora.» 5Sua mãe disse aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser!» 6Ora, havia ali seis vasilhas de pedra preparadas para os ritos de purificação dos judeus, com capacidade de duas ou três medidas cada uma. 7Disse-lhes Jesus: «Enchei as vasilhas de água.» 8Eles encheram-nas até cima. Então ordenou-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa.» 9E eles assim fizeram. O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era – se bem que o soubessem os serventes que tinham tirado a água; chamou o noivo 10e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!» 11Assim, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos, com o qual manifestou a sua glória, e os discípulos creram nele.
 
Maria e Jesus, com os seus discípulos, participam nestas bodas, em Caná. E falta o vinho. O fato é verosímil, se tivermos em conta que a festa de bodas, nesses tempos, durava oito dias. A família ficou naturalmente embaraçada. É então que Maria intervém. A resposta de Jesus é desconcertante, quase escandalosa. Esta resposta só se compreende se pensarmos que, ao iniciar a vida pública, muda a relação Maria/Jesus. A partir daí, Jesus quer atuar unicamente determinado pela vontade do Pai, não admitindo ingerências, nem sequer da parte da Mãe. Maria/Mãe reaparecerá apenas junto da cruz. A nova relação clarifica-se exatamente em Caná, no começo da missão de Jesus. Maria pede ajuda a Jesus, com plena confiança e esperança. Por isso recomenda aos servos que façam o que Jesus disser. E Jesus acaba por dar o primeiro sinal da sua glória. O episódio de Caná é cristológico. Só em segundo lugar é mariológico. Se, quando ainda não chegara a sua hora, Jesus faz um milagre a pedido de Maria, quanto mais eficaz será o seu poder de intervenção quando essa hora chegar!
 
 
Meditatio
 
O concílio Vaticano II explicou amplamente o papel de Maria no mistério de Cristo e da Igreja. Expôs também cuidadosamente o sentido e a força da “mediação” da Bem-aventurada Virgem Maria: “A função materna de Maria em relação aos homens em nada obscura ou diminui a única mediação de Cristo, mas revela a sua eficácia. Porque toda a influência da Bem-aventurada Virgem em favor dos homens não nasce de verdadeira necessidade, mas do beneplácito de Deus, e brota da superabundância dos méritos de Cristo, fundamenta-se sobre a sua mediação, depende absolutamente dela e nela atinge toda a sua eficácia; não impede minimamente a união imediata dos crentes com Cristo, mas facilita-a” (LG 60). Em 1971, a Sagrada Congregação para o Culto divino aprovou a missa com o título de “Bem-aventurada Virgem Maria Mãe e medianeira de graça”. Esta missa, em fiel sintonia com a doutrina do Concílio Vaticano II, comemora simultaneamente a função materna e o papel de medianeira da Bem-aventurada Virgem. Atualmente esta missa é celebrada em muitas dioceses e congregações religiosas, também na dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos, a 8 de Maio. A Liturgia celebra, em primeiro lugar, a Cristo “verdadeiro Deus e verdadeiro homem, único mediador… sempre vivo a interceder por nós”. Mas também honra a Bem-av
enturada Virgem Maria, mãe e mediadora de graça, porque o Pai, “segundo o admirável desígnio do seu amor”, a constituiu mãe e colaboradora do Redentor. A Virgem Maria é mãe de graça, porque trouxe no seu “seio puríssimo” Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e nos deu o próprio “Autor da graça”. A Virgem Maria é medianeira de graça, pois foi associada a Cristo para nos dar a graça maior, a redenção, isto é, a salvação, a vida divina e a glória eterna. A sua “mediação” é “providência de amor”, “de intercessão e de perdão, de proteção e de graça, de reconciliação e de paz. (cf. Missal Romano, Missas da Bem-aventurada Virgem Maria).
“Maria, Mãe de Jesus, está intimamente associada à vida e obra redentora de seu Filho. Mãe da Igreja, por sua intercessão maternal, está presente junto daqueles que, empenhados numa missão apostólica, trabalham para a regeneração dos homens (cf. LG 65). (Cst 85).
 
Oratio
 
Nós vos damos graças, Pai santo, por Cristo Nosso Senhor. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Ele é o único mediador entre Deus e os homens, sempre vivo a interceder por nós. No mistério da vossa benevolência, quisestes que Maria, mãe e associada ao Redentor, continuasse na Igreja a sua missão materna: de intercessão e de perdão, de proteção e de graça, de reconciliação e de paz. Esta providência de amor tem o seu fundamente na única mediação de Cristo, donde haure a sua eficácia; e o povo fiel recorre confiante à Virgem Maria, nos perigos e dificuldades da vida, e incessantemente a invoca como mãe de misericórdia e dispensadora da graça. Por isso, vos louvamos e bendizemos hoje e sempre. Ámen. (cf. Prefácio da Missa).
 
 
Contemplatio
 
Foi o próprio Jesus quem nos deu Maria por Mãe. Ela tem por missão conduzir-nos ao seu Coração, ao seu amor. A ternura que ela tem por nós ultrapassa a das mães mais amorosas. Acolhe sempre com bondade aqueles que vão ter com ela. Ela apresenta incessantemente ao seu Filho as almas e os corações dos seus fiéis servidores. Jesus ama aqueles que ela ama. Como Ele é o mediador entre o seu Pai e os homens, Maria é a mediadora entre os homens e Ele. Para isso, deu-lhe todo o poder sobre o seu Coração. Dispõe dele como uma mãe pode dispor do coração do melhor dos filhos. Dirijamo-nos, portanto, à Virgem Imaculada, peçamos-lhe a devoção ao Sagrado Coração e havemos de obtê-la. Jesus é a verdade e a vida, mas comunica-nos a vida espiritual pelo Espírito de verdade e de amor. Maria é a esposa do Espírito Santo. Ela coopera a este duplo título de Mãe do Sagrado Coração e de Esposa do Espírito Santo nas operações da graça. Ela é a porta do céu, porque é a distribuidora das graças, que a Ele conduzem: Mãe da divina graça!(Leão Dehon, OSP 3, p. 604).
 
Actio
 
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
“Mãe de misericórdia e medianeira da graça,
rogai por nós”.
 
 
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Nossa Senhora Medianeira de todas as Graças (8 Maio)
 

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