Diário da V Peregrinação a Fátima de Bicicleta

“Uma da manhã, hey. Lá vão duas da manhã, hey… Já são três da manhã…” E para quem contou as horas, sabia bem, o que vinha depois: 160 Km de pedal, em cima de um selim, neste primeiro dia… Mas antes de os percorrer, e depois do encontro no Seminário Missionário Pe. Dehon, pelas 4 da manhã dos 15 ciclistas e o casal maravilha que nos daria assistência mais um ano, fomos regados com a muita água benzida, saída do hissope pelas mãos do Pe. Domingos, no final da Oração da Manhã.

Luzes, luzinhas, coletes refletores, modas tunning nas rodas, e até faróis que pareciam vindos de camião, foram dos muitos apetrechos ligados para assinalar a nossa viagem, neste primeiro trajeto noturno que nos levou do Seminário até ao início da N109, para a paragem do pequeno-almoço. Relatório: um pedal mal afinado na nova aquisição, de roda 29, do Sérgio.

Croissants morfados e energéticos reabastecidos, toca a seguir viagem com a meta S. Jacinto. E se a ideia do passeio de Ferry podia ser muito agradável, mais dolorosos foram os 24 km de retas que tivemos de trilhar, mas lá chegamos para o cafezinho matinal e para a aprendizagem do que fazer aos selins quando a Próstata nos der trabalho (observar foto)… Desistir é que nunca…

De Costa Nova a Mira, na fantástica ciclovia que percorre a margem da Ria de Aveiro, o trajeto foi tranquilo e sem incidentes (fora uns músculos cansados e uns ligamentos a precisar de WD40, eu que o diga…) Ai a vontade que tive de saltar para dentro do carro de apoio e atirar a bicicleta ao mar, mas depois a gente pensa, ter de aturar o Sérgio e o Manuel?! Naaaadaa disso. Toca a cantar: “E o penta, xau! Penta, xau! Penta, xau, xau, xau…” juntamente com o maestro Rui, e a seguir caminho, com o cheiro a rabo-de-bacalhau que motiva o Armindo a pressionar toda a gente ao longo das retas de Mira e Tocha, até chegar ao “Oliveiras”, onde paramos para almoçar todos os anos. Cá para mim, a fome era menor do que a dor nos músculos, mas depois de “Voltaren” tomado, gelo nos joelhos, 15 minutos deitado na erva, já estou pronto para seguir viagem… Dizia eu até me sentar no selim… E todos os outros, dizendo ou não dizendo, mostravam nas posições esquisitas a sentar. Deviam ser pregos iguais àquele que furou o pneu do Pe. Loureiro (salvo seja, diga-se da bicicleta dele), e como não sou de calúnias digo apenas que as suspeitas recaíram sobre o Pe. Domingos. Teorias dos não agentes, sim porque este ano tínhamos dois Polícias de Segurança Pública e o ex. chefe Armindo, dois Sacerdotes e para além dos outros ciclistas ainda tínhamos um benfiquista amuado… Pronto Manuel, não cantamos mais: “Eu quero o Porto Bicampeão…” Tranquilo… E no próximo ano, as camisolas serão verdes e brancas em homenagem à demissão do Bruno de Carvalho… Isto é, se…

Pé direito, pé esquerdo, coxa direita, coxa esquerda, nádega direita, nádega esquerda, braço direito, braço esquerdo… Todos os músculos se ressentiam ao longo das próximas retas, e o ritmo ia brando, a moral entremeada entre a dor muscular e o receio da subida da Serra da Boa Viagem, mas nem por isso ela nos derrotou e por isso, depois de feita, a parte mais difícil seria segurar os travões ao descer para a Figueira da Foz… Tudo isto seria simples, se o bólide desmotorizado do Sérgio não tivesse tido um furo, e não houvesse câmara-de-ar de substituição, ainda por cima, numa ponte, com vento de Espanha (ou outro qualquer que não era agradável) e ao lado de uma ETAR… É que ninguém merece… Mas tudo se resolve quando se tem um Carvalho na equipa de apoio. Toca a despachar a coisa e a seguir viagem para a Marinha das Ondas onde nos refastelaríamos numa cama…

E este rabo custou a roer… Mas lá chegamos ao Paraíso, que apesar da simplicidade do albergue, tinha camas sem rodas, água quente sem “Gold Nutrition”, Eucaristia para inválidos, um churrasco misto sem percurso posterior e ainda uma caixa de primeiros socorros bem apetrechada com pomadas, anti-inflamatórios e até “Hallibut” para os rabinhos… Entre outras coisas… Mas a maior maravilha que este paraíso tinha era a possibilidade de nos podermos permitir ao sono reparador que tanto desejávamos e necessitávamos, não é verdade Norberto?

Depois de roncos que ninguém ouviu e outros que foram ouvidos mas não foram dados, acordamos cheios de energia para os restantes 60 km até Fátima. Os manos de Amarante sempre frescos, o Joel na roda de quem quer que estivesse pela dianteira com o Albino à cola, o Duarte a caminhar para o desconhecido que lhe valeu ganhos com perdas (de peso) fizemos uns míseros 4 km até ao café da manhã com pastel de nata, servidos pela dona Porcina, que é a nossa mamã nestes dias de caminhada, e que por isso lhe imaginamos o trabalho.

E lá vão os ditos cujos nadegueiros para cima do selim outra vez… Mais cinco minutos para os acamar e outros tantos para os esquecer… Seguimos pelos vales e montes do Barracão, com a Bênção do S. Pedro, que este ano parecia o Pe. Domingos com o hissope na mão. Sem tréguas da chuva lá subimos as montanhas e descemos os montes, sem incidentes com telemóveis e chegamos ao topo da Senhora do Monte para o pão com chouriço… Energias são necessárias e os meios não se discutem…

E lá estava por fim a última etapa, a esperança da camisola amarela (que neste caso era azul e branca, para mal dos pecados do Manuel), a pedalada final, mas que só para o Mário é que parecia uma prova de Sprint. Olha eu a subir os muitos quilómetros até Santa Catarina, com muita sofreguidão e este tipo parecia o “Cândido Barbosa” nas provas de montanha. Após paragem para o último quilómetro até Fátima, seguimos todos juntos, sem o brilho do sol mas com a alegria de quem tinha cumprido, mais um ano, o objetivo deste grupo.

Posto isto, com os corpos gelados, o Santuário foi o destino, dedicando a Maria as graças pela companhia nesta viagem e pedindo à Santíssima Trindade a força para sermos mensageiros do amor do Coração de Cristo, a exemplo do Pe. Dehon. Somos Ex. Alunos mas não somos Ex. Dehonianos. A marca do Pe. Dehon está nos nossos esforços e a prova disso é o Nelson, que para além de todo o trabalho da organização desta Peregrinação de duas rodas, tem sempre aquele trabalho pouco reconhecido de estar sempre atento, garantindo que nunca ninguém fica para trás. Que passa ao lado de cada um de nós a perguntar como estamos, que eterniza nas fotos estas experiências, parando, acelerando, deixando-se para trás… E no fim, ainda fica com as recomendações de como deve ser no próximo ano, ou do que corre menos bem. Às vezes falta-nos esta palavra: OBRIGADO Nélson. Não é por nada… É por tudo!

À esposa do Armindo que dedica, dias a fio, os seus esforços para nos trazer aquele almoço tão especial com que sempre nos brinda. Sempre sobre a alçada do Chef Armindo, que de nada se esquece, e do que se podia ter esquecido, improvisa.

Ao Provincial e àqueles outros que não se esquecem da nossa presença na Família Dehoniana, agradecemos a estima, mas mais ainda “Queremos o Porto Bicampeão…”

Depois do Encontro no Centro Pastoral Paulo VI, onde revemos toda a Família, rezamos e lanchamos preparando o regresso. E a nossa viagem terminou de autocarro, com muita animação. Desde coros angelicais, anedotas conventuais e ainda sonecas que tais… E mais não digo. Para quem lá esteve sabe do que falo.

Até à VI Peregrinação dos Debiclahonianos…

 

 

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