«Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida?» (Mc 8,36)
Desde que aterrámos em Angola na passada sexta-feira, dia 10 de março, dei comigo a pensar o modo como Deus ama este povo! A viagem de avião foi bastante tranquila enquanto cruzávamos África. Ao sair do aeroporto e a caminho de casa, já de noite, ficam as primeiras impressões: que gigante contraste com a realidade portuguesa. Senti e continuo a acreditar que é necessário fazer um esforço para cruzar este ‘abismo real’ e perceber o como Deus ama este povo.
O dia de sábado deu para conhecer um pouco melhor a Casa Padre Dehon, onde se encontram agora os aspirantes e Postulantes a estudar filosofia (14) e um jovem religioso a fazer os seus estudos de teologia. Vi uma casa polivalente, aberta a diferentes grupos que aqui se reuniram durante o dia, como também a visitantes que procuravam a loja de produtos religiosos. Fiquei impressionado com o Cristo da capela da comunidade. Made in Angola, Jesus Cristo figura-se com este povo e, de rosto sereno e braços abertos, entrega-se a Deus Pai.
Domingo pela manhã, às 6h00, saímos com o Pe. Superior Distrital Benvindo numa verdadeira aventura ao encontro de centenas de fiéis reunidos para celebrar a Eucaristia. As estradas em redor da nossa casa em Viana são praticamente todas em terra, com enormes buracos e centenas de transeuntes, motas e carros que circulam em todas as direções. Para alguém recém-chegado como eu, isto é um autêntico caos e, por isso, admiro bastante quem consiga mover-se entre avenidas e ruelas. Os confrades e a população em geral têm muito receio das chuvas, pois as vias tornam-se canais de água, dificulta ou impossibilita a passagem de carro e pessoas, para não falar das moradias e lojas que ficam num estado deplorável. Contudo, valeu bem a pena o esforço para chegar ao Centro Pastoral Santa Maria Mãe de Deus e à comunidade de Santa Verónica. Está em construção neste primeiro uma futura “igreja-basílica”! São lugares de muita alegria quando tudo à volta aparenta gasto, sem vida. Dei-me de caras com um povo lutador, verdadeiramente resiliente e forçado a amar sem medidas. O acolhimento foi tão caloroso que fiquei com a impressão de ser algum indivíduo importante, coisa que só se entende passando por aqui. Os cânticos, os gestos, os sinais, as procissões, tudo foi de uma pura e eterna felicidade. Toda a gente quer viver por, com e em Cristo. Tanto é assim que por toda a parte há igrejas que, mesmo não sendo católicas, procuram dar a conhecer Cristo a seu jeito. Na simplicidade do coração nasce Angola e a evangelização é a resposta de Deus que sai ao seu encontro no quotidiano.
Na segunda feira fomos celebrar Eucaristia às irmãs que acolheram os primeiros missionários dehonianos em Angola. Lá se encontra uma enorme escola, com cerca de 1.400 alunos de todas as idades e um hospital com muita qualidade e fama na região. Depois do jantar, foi recebido no Postulantado um dos jovens que inicia assim os primeiros passos na nossa Família Religiosa. Rezámos também pelas vocações dehonianas e para que Deus continue a chamar mais jovens ao sacerdócio, tão querido e desejado por todos os leigos. Numa de muitas conversas que vou tendo nestes dias, percebi o cuidado que as comunidades têm pelos sacerdotes e como desejam poder celebrar diariamente a Eucaristia perto de suas casas. Não sendo possível, reúnem-se para rezar o Rosário e meditar as leituras do dia, um verdadeiro testemunho de fé.
Despeço-me deixando aqui o meu profundo respeito por este povo e continuo na tarefa de pensar em como Deus os ama. De Angola, com amor.
J. Amaro Pestana, scj