Mensagem Final da Reunião dos Superiores Maiores da Europa

Reunião dos Superiores Maiores da Europa Delegados

Albino | 48 de Março de 2013

O Coração de Cristo no futuro da Europa

Mensagem Final

 

1. Os 35 confrades Dehonianos reunidos em Albino (Bergamo, Itália), de 4 a 8 de Março de 2013, em representação das Províncias e Entidades da Europa, saúdam todos os religiosos da Congregação dispersos pelo mundo: Graça e paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus! 

2. Reunimo-­‐nos para refletir sobre a nossa presença na Europa, guiados por duas perguntas: o continente europeu ainda precisa de nós? Que futuro tem a devoção ao Coração de Jesus? Prosseguindo o caminho iniciado em Roma (2008 -­‐ 2009), Madeira (2009), Salamanca (2010), Roma (2010), Neustadt (2011), Clairefontaine (2011) e Asten (2012) sobre temas como a formação, a formação inicial e permanente, a pastoral juvenil e vocacional, a secularização e o envelhecimento, fomos solicitados, por um lado, pela oportunidade de aprofundar a nossa espiritualidade e, por outro, a fazê-­‐lo na ocorrência do cinquentenário do Concilio Vaticano II. Por isso, as reflexões sobre a nossa espiritualidade desenvolveram-­‐se em paralelo com a memória dos dois Papas do Concílio: João XXIII e Paulo VI.

3. A reunião decorreu no Ano da Fé, querido por Bento XVI. Conhecemos por experiência direta a gravidade dos problemas na transmissão da fé nas regiões da antiga cristandade e da urgência da Nova Evangelização. Todos os nossos esforços seriam inúteis sem a nossa pertença cordial à Igreja de Cristo. Sabemos também que a força da unificação institucional do continente está hoje em risco, devido aos perigos dos novos nacionalismos e populismos que poderão tornar inválido o caminho querido pelos povos e pela Igreja nos últimos sessenta anos. Parece-­‐nos urgente cumprir a sugestão de J. Delors: Dar uma alma à Europa.

4. Neste contexto advertimos a oportunidade e a necessidade de reforçar os nossos laços. Como já fizeram os Dehonianos na América Latina, na Ásia e na África, verificamos que o futuro exige de nós uma colaboração maior e uma ligação sistemática. Não podemos continuar a atuar como se não tivéssemos uma identidade Dehoniana europeia, como se não tivéssemos a responsabilidade de manter vivo no nosso continente o carisma e o património espiritual que o Padre Dehon nos transmitiu. A exigência que nos diz respeito não se limita às obras e às iniciativas pastorais, mas atinge a pertinência e o significado da nossa espiritualidade, hoje. Nas nossas realidades locais as modalidades com que se vive a devoção ao Coração de Jesus e as tradições dehonianas são muito diferentes. Mas também é verdade que alguns desafios são para todos.

5. Não fugimos ao esforço de nos questionarmos sobre o núcleo espiritual mais profundo da nossa experiência religiosa: a espiritualidade e a devoção ao Coração de Jesus. Estamos conscientes de que, sobretudo no Ocidente, elas foram radicalmente postas em questão. Graças às conferências e aos debates destes dias parece-­‐nos poder afirmar que as nossas Igrejas e os nossos povos continuam a precisar delas. Se a devoção é o conjunto de formas antropológicas por meio das quais se realiza a integração recíproca da fé e das obras, da teologia e da moral, e se a espiritualidade é o dom de viver em referência ao Coração do Salvador como interpretação global do mistério cristão, acreditamos poder reconhecer-­‐nos uma missão: contribuir para a reconfiguração do cristianismo na Europa contemporânea. A nossa espiritualidade que não tem um proprium de obras específicas plasma-­‐se à volta da capacidade de adaptação antropológica de Deus (a humanidade do Filho), que permita a Deus ser Deus também num ambiente, como o europeu, que afirma, não sem excessos e limites, a autonomia do humano. Como se dizia em Clairefontaine a laicidade pode ser um ambiente favorável para o anúncio evangélico.

6. Ajudou-­‐nos muito a devoção do Papa João XXIII. Nascida em contexto popular, aperfeiçoada no percurso formativo, ela passou das muitas devoções à devoção que alimentou a dimensão litúrgica, a redescoberta da Sagrada Escritura e a ação pastoral. A teologia estética de Paulo VI mostrou-­‐nos como as artes têm sempre uma força especial na identificação dos traços caraterísticos do nosso tempo e na denúncia dos seus limites. O fim da evidência sociológica e cultural de Deus vê como urgente a aliança entre o sacerdote e o artista, entre a afirmação de Deus e o desejo de transcendência.

7. Não chegámos a compreender toda a profundidade teológica e espiritual do património Dehoniano. Para além das expressões ligadas ao tempo e à vida da Igreja no século XIX, a experiência espiritual de Deus, que carateriza a vivência Dehoniana mostra que a humanidade do Filho é quanto nos basta para repropor a fé. Pela devoção e pela espiritualidade sabemos que não podemos limitar a teologia ao aspecto intelectual e que devemos realçar a dimensão afectiva e sensível do acreditar. Recordámos as muitas experiências tradicionais da devoção ao Coração de Jesus. Reconhecemos a oportunidade de confirmar e aprofundar algumas. De modo particular, a opção por viver a espiritualidade oblativa em comunidade, a adoração como assimilação e prolongamento da dimensão eucarística, a lectio divina e o contacto frequente com a Sagrada Escritura, a urgência de encontrar novas linguagens e novas práticas para dizer uma fé que se alimenta no Lado aberto e no Coração trespassado de Jesus.

8. Na devoção ao Coração de Jesus e na espiritualidade encontramos o sentido do mistério e o sentido da história. O empenhamento social nasce, não como simples consequência da teologia ou da espiritualidade, mas manifesta o modo de habitar o mundo, o estilo específico de vida que fez de Dehon um dos primeiros a advertir o poder da revolução moderna e dos seus desenvolvimentos. Foi este empenhamento em favor das novas pobrezas na Europa que procurámos ler e analisar nos debates em grupos e na assembleia. As palavras mais caras à nossa tradição são expressões orantes que Dehon recolheu do próprio Jesus em oração. Adveniat Regnum Tuum é a pregação fundamental de Jesus, aquele espa&c
cedil;o de vida que se abre como dom gratuito na invocação. O Sint Unum é a exortação à concórdia e a advertência contra a divisão, portanto a dimensão relacional, mas é também invisível comunhão trinitária que habita a ferialidade quotidiana. O Fiat e o Ecce Venio mostram como Jesus realizava toda a vontade santa de Deus. Ao pronunciar aquelas orações colocamo-­‐nos da parte do Pai a quem unicamente pertence prometer ao mundo a salvação. Por isso, tornam-­‐se fonte de confiança inesgotável.

9. A oração litúrgica, a adoração e a eucaristia acompanharam os nossos passos e os que as nossas Províncias e Entidades serão chamadas a dar no futuro.

 

 

plugins premium WordPress