Superiores Maiores SCJ da Europa: Mensagem final

Encontro dos Superiores Maiores SCJ da Europa 

MENSAGEM FINAL

 

1. Nós, os 30 delegados e superiores maiores das províncias e entidades da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) na Europa, estivemos reunidos em Cracóvia de 17 a 21 de março de 2014, para refletir sobre o ministério da misericórdia, tendo em vista o próximo Capítulo geral, que terá como tema «misericordiosos em comunidade com os pobres». Este encontro insere-se na continuidade de outros realizados nos últimos seis anos sobre outros temas pertinentes para a nossa presença dehoniana na Europa.

 

2. Iniciámos os nossos trabalhos com uma peregrinação a Auschwitz-Birkenau e aos santuários de João Paulo II e da Divina Misericórdia da Irmã Faustina em Cracóvia. Este primeiro dia de oração e meditação, de silêncio fecundo e de anúncio profético foi para nós uma espécie de passagem de um lugar de anti-misericórdia (Auschwitz) a um apelo à misericórdia (Cracóvia). Sentimos a urgência de continuar a fazer memória destes dramáticos acontecimentos de Auschwitz, através da denúncia de novas atrocidades que continuam hoje em várias partes do mundo e do anúncio permanente do perdão e da conversão, da compaixão e da confiança, da misericórdia e da esperança, testemunhando o verdadeiro rosto do Coração de Deus.

 

3. A partir destas fortes experiências vividas pessoalmente como dehonianos, procurámos encontrar, em grupos e em assembleia plenária, as repercussões concretas para a nossa espiritualidade:

  • estar significativamente presentes a todos os níveis nos mundos da dor e do sofrimento, da solidão e da exclusão, das angústias e das dificuldades;
  • ser pessoas de misericórdia e de perdão, à luz da contemplação do coração trespassado de Cristo na Cruz;
  • viver a misericórdia e a confiança em atitude de oblação, como nova maneira de exprimir a espiritualidade do Sagrado Coração;
  • ser pessoas de memória, a partir da Eucaristia e da adoração, olhando com todo o nosso coração as situações dramáticas dos nossos contemporâneos;
  • acolher a diversidade nas nossas comunidades como uma verdadeira riqueza para melhor viver a fraternidade em comunhão;
  • ler a história e os seus acontecimentos segundo o olhar do Coração de Cristo;
  • encontrar respostas claras de misericórdia aos desafios e necessidades das mulheres e dos homens de hoje;
  • redescobrir a essência da nossa espiritualidade e sua incarnação nas situações concretas do mundo em que vivemos.

 

4. No final do primeiro dia do nosso encontro, o padre Lorenzo Prezzi fez-nos refletir sobre as consequências para a nossa congregação, segundo alguns elementos do novo estilo do Papa Francisco e o conceito de misericórdia na exortação apostólica «Evangelli gaudium»:

  • concretizar processos que sejam um verdadeiro caminho de Igreja;
  • inventar novas palavras que comuniquem a fé hoje;
  • mudar o centro de gravidade da Igreja, que já não é eurocêntrico;
  • fazer o anúncio da mensagem cristã sempre a partir do Evangelho;
  • dar atenção ao social como parte integrante do Evangelho;
  • considerar a reforma da Igreja como exigência de conversão pastoral.

Estes pontos de referência e os novos gestos e atitudes do Papa Francisco, assim como a sua insistência na ternura e na misericórdia, ajudar-nos-ão certamente a redescobrir a nossa espiritualidade do Coração de Jesus sobre o amor e a reparação, o coração do homem e o coração de Deus, o reino nas pessoas e na sociedade.

 

5. O terceiro dia começou com a apresentação do tema do próximo Capítulo geral. O padre Heiner Wilmer traçou-nos, em grandes linhas, o caminho já percorrido: a resposta das províncias a algumas questões sobre os projetos e desafios, os problemas e perspetivas; o trabalho da comissão preparatória sobre a escolha do tema e a elaboração de um questionário que comprometa todos os confrades, comunidades e entidades da congregação; o programa previsto para as três semanas de realização do capítulo. A comunidade estará no centro da reflexão, numa dinâmica de encarnação, de misericórdia e de reparação, de «sint unum» e de missão, saindo do coração da comunidade para ir às periferias, ir ao povo e com o povo. Quatro desafios estão presentes nesta intenção de ir às raízes da nossa espiritualidade: a vocação; a formação inicial e permanente à comunidade, à internacionalidade e à interculturalidade; o voto de pobreza a exemplo de Cristo em solidariedade; a boa utilização dos bens através da caixa comum e do autofinanciamento.

 

6. De seguida, e depois de um trabalho em grupos, a assembleia apresentou alguns pontos concretos como propostas para o próximo Capítulo geral, que se realizará a meio do Ano da Vida Consagrada:

  • aprofundar a identidade, a renovação e a inculturação da nossa vocação e da nossa espiritualidade dehoniana;
  • considerar e promover as nossas comunidades, desde a formação inicial, como autênticos «sint unum», lugares de diálogo e de partilha, de misericórdia e de perdão;
  • tomar a sério a internacionalidade e a interculturalidade como dimensões essenciais das nossas comunidades, mesmo se há dificuldades em realizar estes dinamismos;
  • acompanhar o processo de constituição e de formação das comunidades internacionais a partir de projetos concretos;
  • acompanhar os leigos que querem partilhar a nossa espiritualidade, no que diz respeito à cooperação, à formação, à partilha de vida e à missão;
  • ir no sentido de cada entidade manter o espírito de partir em missão para outro lugar, com pelo menos 10% dos seus membros;
  • refletir sobre as alternativas pastorais para aqueles que não estão ligados à pastoral das paróquias e das dioceses;
  • continuar e ver a oportunidade de se deixar as grandes estruturas, escolhendo-se casas mais pequenas;
  • decidir e pôr em prática a escolha de uma língua comum para a congregação, deixando também a possibilidade de uma segunda língua;
  • tomar muito a sério o individualismo, em todas as suas expressões, como um cancro que mata a comunidade, a fraternidade e a colaboração em projetos comuns de missão.

 

7. Agradecendo o caloroso aco
lhimento dos nossos confrades polacos, partimos desta «Domus Mater» em Cracóvia com o desejo de continuar a promover a misericórdia em nós mesmos, nas nossas comunidades e entidades, no nosso ministério pastoral, junto dos leigos dehonianos com quem partilhamos a nossa espiritualidade e com todos aqueles que procuramos atingir com o coração. Como nos pedem o Papa Francisco e o Padre Dehon, procuramos ser Igreja em saída, ir ao povo e com o povo. Para isso é preciso sair das nossas sacristias e cadeiras onde estamos comodamente instalados, levando com amor, esperança e misericórdia o Coração de Jesus às pessoas e à sociedade de hoje, sobretudo àqueles que estão nas periferias da vida e do mundo.

Cracóvia, 20 de março de 2014, início da primavera

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